Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Lúcio Izidro
Jane Felipe
Introdução
Quando se fala em pedofilia na contemporaneidade, a pri-
meira ideia é que se trata de algo errado do ponto de vista social e,
sobretudo, numa perspectiva jurídica. O senso comum indica, a
partir dos agentes atípicos da moral, que o predicativo/adjetivo é
pejorativo. Todavia, nos seus primórdios, a expressão não tinha
tal significado social; portanto, pode-se dizer que ser pedófilo nem
sempre foi um ponto fora da curva dos comportamentos que de-
mandavam alguma acuidade num juízo maniqueísta.
Ainda há uma enorme confusão em descrever pedofilia
como crime, o que na verdade não é. Aliás, esta categoria científi-
ca é típica da psiquiatria, chegando ao universo jurídico como
comportamento que pode gerar alguns crimes previstos no capí-
tulo dos crimes contra a liberdade sexual, no Código Penal brasi-
leiro e, bem assim, na legislação penal especial (a exemplo do
Estatuto da Criança e do Adolescente1), como será detalhado mais
adiante.
O presente trabalho visa lançar algumas questões para uma
compreensão sobre a problemática que orbita o tema, na qual se
verificam controvertidas discussões nas mais variadas esferas do
conhecimento. Daí a importância de entendermos os conceitos
1
Lei Federal 8.069/90, comumente denominada de ECA.
23
IZIDRO, L.; FELIPE, J. • O que precisamos saber sobre pedofilia e pedofilização:
aspectos médicos, jurídicos e culturais
2
Disponível em: <http://.estacio.br/instituto da palavra/palavras.asp#PPP>.
Acesso em: 4 nov. 2017.
3
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio. Disponível em:
<https://dicionariodoaurelio.com/pedofilia>. Acesso em: 4 nov. 2017.
4
Disponível em: <https://www.priberam.pt/dlpo/podólatra>. Acesso em: 4 nov. 2017.
24
A discussão da pedofilia no campo da Educação
25
IZIDRO, L.; FELIPE, J. • O que precisamos saber sobre pedofilia e pedofilização:
aspectos médicos, jurídicos e culturais
26
A discussão da pedofilia no campo da Educação
6
Cf. Lei Federal 12.015 de 2009: Art. 3º O Decreto-Lei nº 2.848, de 1940, Códi-
go Penal, passa a vigorar acrescido dos seguintes arts. 217-A, 218-A, 218-B,
234-A, 234-B, e 234-C: “Estupro de vulnerável – Art. 217-A. Ter conjunção
carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos. […]”.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2-10/2009/
Lei/L12015.htm#art3>. Acesso em: 5 nov. 2017.
27
IZIDRO, L.; FELIPE, J. • O que precisamos saber sobre pedofilia e pedofilização:
aspectos médicos, jurídicos e culturais
7
A expressão “menor de 14 anos” é adotada pelo Código Penal brasileiro. Opor-
tuno salientar que o Estatuto da Criança e Adolescente define criança a partir
do nascimento até os 12 anos. Portanto, a partir dos 12 anos e 1 dia até os 18
anos o destinatário da norma é definido como adolescente.
8
A expressão jurídica era utilizada para definir a idade em que se considerava o
menor protegido, ou seja, do nascimento até o dia do aniversário. Dito de outra
forma, caso o ato sexual fosse mantido no dia seguinte ao aniversário, o menor
já não se enquadrava na proteção legal.
9
A jurisprudência à época solidificou o seguinte entendimento: se a vítima, ain-
da que menor de 14 ano, tivesse uma prática sexual considerada “desregrada”,
aparentando uma idade superior à protegida pela norma, poderia levar o agres-
sor ao engano (por considerar a vítima mais velha). Desse modo os juízes pode-
riam não condenar o agressor.
28
A discussão da pedofilia no campo da Educação
10
Cf. Lei Federal 12.015, de 2009: “Estupro. Art. 213. Constranger alguém,
mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou praticar ou
permitir que com ela se pratique outro ato libidinoso. [...]”. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm>.
Acesso em: 5 nov. 2017.
29
IZIDRO, L.; FELIPE, J. • O que precisamos saber sobre pedofilia e pedofilização:
aspectos médicos, jurídicos e culturais
30
A discussão da pedofilia no campo da Educação
11
<https://www.ceert.org.br/noticias/crianca-adolescente/12347/50-criancas-
por-dia-sofreram-violencia-sexual-em-2015-no-brasil>.
12
BRANDÃO, Cláudio. Tipicidade penal: dos elementos da dogmática ao giro
conceitual do método entimemático. Coimbra: Almedina. 2012, p. 26-27, in
verbis: “A dogmática penal é sustentada através de três grandes pilares: a teoria
da pena, a teoria do crime e a teoria da lei penal. A teoria do crime, entretanto,
é a que mais se desenvolveu com vistas a conferir cientificidade ao direito
penal. [...] A teoria do crime confere cientificidade para o direito penal porque
ela representa um método. Com efeito, caberá à teoria do crime construir um
arcabouço conceitual para que a ação seja convertida em delito; portanto, ao
31
IZIDRO, L.; FELIPE, J. • O que precisamos saber sobre pedofilia e pedofilização:
aspectos médicos, jurídicos e culturais
elementos são exigidos13 14: primeiro, que seja o fato típico; se-
gundo, que seja ilícito; terceiro, que haja culpabilidade15.
Para fins de esclarecer com maior propriedade o argumen-
32
A discussão da pedofilia no campo da Educação
16
CAPEZ, Fernando. Curso..., op. cit., 2004, p. 108; MASSON, Cleber Rogé-
rio. Direito..., op. cit., 2011, p. 209.
17
BRASIL. Altera dispositivos do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de
1940 – Código Penal, e dá outras providências. Presidência da República:
Art. 13: O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputá-
vel a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o
resultado não teria ocorrido. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/Decreto-Lei/Del2848compilado.htm>. Acesso em: 5 nov. 2017.
18
CAPEZ, Fernando. Curso..., op. cit., 2004, p. 108; MASSON, Cleber Rogé-
rio. Direito..., op. cit., 2011, p. 213.
19
Filia-se, neste trabalho, a doutrina que entende ser a culpabilidade um dos
elementos do crime, adotando assim o critério tripartite.
20
Implica dizer que só há punibilidade se presente estiver a culpabilidade. Cf.
CAPEZ, Fernando. Curso…, op. cit., p. 280.
33
IZIDRO, L.; FELIPE, J. • O que precisamos saber sobre pedofilia e pedofilização:
aspectos médicos, jurídicos e culturais
21
Cf. Código Penal brasileiro de 1940: Inimputáveis. Art. 26 É isento de pena o
agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retar-
dado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o
caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984). Disponível em: <https://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del2848compilado.htm>. Acesso
em: 5 nov. 2017.
22
Cf. CAPEZ, Fernando. Curso…, op. cit., p. 289ss.
23
Cf. Código Penal brasileiro de 1940: Das Medidas de segurança. Art. 97 Se o
agente for inimputável, o juiz determinará sua internação (art. 26). Se, toda-
via, o fato previsto como crime for punível com detenção, poderá o juiz sub-
metê-lo a tratamento ambulatorial. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984). Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-
Lei/Del2848compilado.htm>. Acesso em: 5 nov. 2017; CAPEZ, Fernando.
Curso..., op. cit., 2004, p. 400ss.
34
A discussão da pedofilia no campo da Educação
24
BRASIL. DEC 99.710/1990 (Decreto do Executivo) de 11/21/1990. Presi-
dência da República: Art. 17. Os Estados Partes reconhecem a função impor-
tante desempenhada pelos meios de comunicação e zelarão para que a criança
tenha acesso a informações e materiais procedentes de diversas fontes nacio-
nais e internacionais, especialmente informações e materiais que visem a pro-
mover seu bem-estar social, espiritual e moral e sua saúde física e mental. Para
tanto, os Estados Partes:
a) incentivarão os meios de comunicação a difundir informações e materiais de
interesse social e cultural para a criança, de acordo com o espírito do artigo 29;
b) promoverão a cooperação internacional na produção, no intercâmbio e na
divulgação dessas informações e desses materiais procedentes de diversas fon-
tes culturais, nacionais e internacionais;
c) incentivarão a produção e a difusão de livros para crianças;
d) incentivarão os meios de comunicação no sentido de, particularmente, con-
siderar as necessidades linguísticas da criança que pertença a um grupo mino-
ritário ou que seja indígena;
e) promoverão a elaboração de diretrizes apropriadas a fim de proteger a
criança contra toda informação e material prejudiciais ao seu bem-estar,
tendo em conta as disposições dos artigos 13 e 18.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/
D99710.htm>. Acesso em: 5 nov. 2017.
25
Segundo a Classificação Internacional de Doenças (CID-10), da Organização
Mundial de Saúde (OMS), o item F65.4 define a pedofilia como: o foco para-
fílico da Pedofilia envolve atividade sexual com uma criança pré-púbere. Dis-
ponível em: <http://cid10.bancodesaude.com.br/cid-10-f/f654/pedofilia>.
Acesso em: 5 nov. 2017.
35
IZIDRO, L.; FELIPE, J. • O que precisamos saber sobre pedofilia e pedofilização:
aspectos médicos, jurídicos e culturais
26
BRASIL. Código Penal e suas alterações legislativas. Presidência da Repúbli-
ca. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/
Del2848compilado.htm>. Acesso em: 5 nov. 2017.
27
BRASIL. Decreto 3.773, de 2008. Presidência da República. Disponível em:
<http://www.mp.go.gov.br/portalweb/hp/7/docs/projeto_lei_3773_08.pdf>.
Acesso em: 5 nov. 2017.
36
A discussão da pedofilia no campo da Educação
28
BRASIL. Lei Federal 11. 829 de 2008. Presidência da República. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/
L11829.htm>. Acesso em: 5 nov. 2017.
37
IZIDRO, L.; FELIPE, J. • O que precisamos saber sobre pedofilia e pedofilização:
aspectos médicos, jurídicos e culturais
38
A discussão da pedofilia no campo da Educação
Referências
BRANDÃO, Cláudio. Introdução ao direito penal: análise do sistema
penal à luz do princípio da legalidade. Rio de Janeiro: Forense, 2002.
BRANDÃO, Cláudio. Tipicidade penal: dos elementos da dogmática
ao giro conceitual do método entimemático. Coimbra: Almedina. 2012.
BRASIL. Altera dispositivos do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro
de 1940 Código Penal, e dá outras providências. Presidência da Repú-
blica: Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-
Lei/Del2848compilado.htm>. Acesso em: 5 nov. 2017.
BRASIL. DEC 99.710/1990 (Decreto do Executivo) de 11/21/1990.
Presidência da República. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/decreto/1990-1994/D99710.htm. Acesso em: 5 nov. 2017.
BRASIL. Lei Federal 8.069, de 1990. Presidência da República. Dispo-
nível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069.htm>.
Acesso em: 12/11/2017.
BRASIL. Lei Federal 12.015, de 2009. Presidência da República: Art.
3º O Decreto-Lei nº 2.848, de 1940, Código Penal, passa a vigorar acres-
cido dos seguintes arts. 217-A, 218-A, 218-B, 234-A, 234-B, e 234-C. Dis-
ponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2-10/
2009/Lei/L12015.htm#art3>. Acesso em: 5 nov. 2017.
BRASIL. Lei Federal 12.015, de 2009. Presidência da República. Dis-
ponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/
Del2848compilado.htm>. Acesso em: 5 nov. 2017.
BRASIL. Decreto 3.773, de 2008. Presidência da República. Disponí-
vel em: <http://www.mp.go.gov.br/por talweb/hp/7/docs/
projeto_lei_3773_08.pdf>. Acesso em: 5 nov. 2017.
BRASIL. Lei Federal 11.829, de 2008. Presidência da República. Dis-
ponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/
2008/Lei/L11829.htm>. Acesso em: 5 nov. 2017.
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal: parte geral, vol. I (arts. 1º
a 120). 7. ed. rev. e atual. de acordo com as leis 10.741/2003 (Estatuto
do Idoso), 10.763/2003 e 10.826/2003. São Paulo: Saraiva, 2004.
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE DOENÇAS (CID-10).
Disponível em: <http://cid10.bancodesaude.com.br/cid-10-f/f654/pe-
dofilia>. Acesso em: 5 nov. 2017.
39
IZIDRO, L.; FELIPE, J. • O que precisamos saber sobre pedofilia e pedofilização:
aspectos médicos, jurídicos e culturais
40