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Caro aluno

Ao elaborar o seu material inovador, completo e moderno, o Hexag considerou como principal diferencial sua exclusiva metodologia em pe-
ríodo integral, com aulas e Estudo Orientado (E.O.), e seu plantão de dúvidas personalizado. O material didático é composto por 6 cadernos
de aula e 107 livros, totalizando uma coleção com 113 exemplares. O conteúdo dos livros é organizado por aulas temáticas. Cada assunto
contém uma rica teoria que contempla, de forma objetiva e transversal, as reais necessidades dos alunos, dispensando qualquer tipo de
material alternativo complementar. Para melhorar a aprendizagem, as aulas possuem seções específicas com determinadas finalidades. A
seguir, apresentamos cada seção:

incidência do tema nas principais provas vivenciando

De forma simples, resumida e dinâmica, essa seção foi desenvol- Um dos grandes problemas do conhecimento acadêmico é o seu
vida para sinalizar os assuntos mais abordados no Enem e nos distanciamento da realidade cotidiana, o que dificulta a compreensão
principais vestibulares voltados para o curso de Medicina em todo de determinados conceitos e impede o aprofundamento nos temas
o território nacional. para além da superficial memorização de fórmulas ou regras. Para
evitar bloqueios na aprendizagem dos conteúdos, foi desenvolvida
a seção “Vivenciando“. Como o próprio nome já aponta, há uma
preocupação em levar aos nossos alunos a clareza das relações entre
aquilo que eles aprendem e aquilo com que eles têm contato em
teoria seu dia a dia.

Todo o desenvolvimento dos conteúdos teóricos de cada coleção


tem como principal objetivo apoiar o aluno na resolução das ques-
tões propostas. Os textos dos livros são de fácil compreensão, com-
pletos e organizados. Além disso, contam com imagens ilustrativas aplicação do conteúdo
que complementam as explicações dadas em sala de aula. Qua-
dros, mapas e organogramas, em cores nítidas, também são usados Essa seção foi desenvolvida com foco nas disciplinas que fazem
e compõem um conjunto abrangente de informações para o aluno parte das Ciências da Natureza e da Matemática. Nos compilados,
que vai se dedicar à rotina intensa de estudos. deparamos-nos com modelos de exercícios resolvidos e comenta-
dos, fazendo com que aquilo que pareça abstrato e de difícil com-
preensão torne-se mais acessível e de bom entendimento aos olhos
do aluno. Por meio dessas resoluções, é possível rever, a qualquer
momento, as explicações dadas em sala de aula.
multimídia
No decorrer das teorias apresentadas, oferecemos uma cuidadosa
seleção de conteúdos multimídia para complementar o repertório
do aluno, apresentada em boxes para facilitar a compreensão, com áreas de conhecimento do Enem
indicação de vídeos, sites, filmes, músicas, livros, etc. Tudo isso é en-
contrado em subcategorias que facilitam o aprofundamento nos Sabendo que o Enem tem o objetivo de avaliar o desempenho ao
temas estudados – há obras de arte, poemas, imagens, artigos e até fim da escolaridade básica, organizamos essa seção para que o
sugestões de aplicativos que facilitam os estudos, com conteúdos aluno conheça as diversas habilidades e competências abordadas
essenciais para ampliar as habilidades de análise e reflexão crítica, na prova. Os livros da “Coleção Vestibulares de Medicina” contêm,
em uma seleção realizada com finos critérios para apurar ainda mais a cada aula, algumas dessas habilidades. No compilado “Áreas de
o conhecimento do nosso aluno. Conhecimento do Enem” há modelos de exercícios que não são
apenas resolvidos, mas também analisados de maneira expositiva
e descritos passo a passo à luz das habilidades estudadas no dia.
Esse recurso constrói para o estudante um roteiro para ajudá-lo a
apurar as questões na prática, a identificá-las na prova e a resolvê-
conexão entre disciplinas -las com tranquilidade.

Atento às constantes mudanças dos grandes vestibulares, é ela-


borada, a cada aula e sempre que possível, uma seção que trata
de interdisciplinaridade. As questões dos vestibulares atuais não
exigem mais dos candidatos apenas o puro conhecimento dos diagrama de ideias
conteúdos de cada área, de cada disciplina.
Cada pessoa tem sua própria forma de aprendizado. Por isso, cria-
Atualmente há muitas perguntas interdisciplinares que abrangem
mos para os nossos alunos o máximo de recursos para orientá-los
conteúdos de diferentes áreas em uma mesma questão, como Bio-
em suas trajetórias. Um deles é o ”Diagrama de Ideias”, para aque-
logia e Química, História e Geografia, Biologia e Matemática, entre
les que aprendem visualmente os conteúdos e processos por meio
outras. Nesse espaço, o aluno inicia o contato com essa realidade
de esquemas cognitivos, mapas mentais e fluxogramas.
por meio de explicações que relacionam a aula do dia com aulas
de outras disciplinas e conteúdos de outros livros, sempre utilizan- Além disso, esse compilado é um resumo de todo o conteúdo
do temas da atualidade. Assim, o aluno consegue entender que da aula. Por meio dele, pode-se fazer uma rápida consulta aos
cada disciplina não existe de forma isolada, mas faz parte de uma principais conteúdos ensinados no dia, o que facilita a organiza-
grande engrenagem no mundo em que ele vive. ção dos estudos e até a resolução dos exercícios.

Herlan Fellini

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Direitos desta edição: Hexag Sistema de Ensino, São Paulo, 2020
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Autores
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Vinicius Gruppo Hilário

Diretor-geral
Herlan Fellini

Diretor editorial
Pedro Tadeu Vader Batista

Coordenador-geral
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Responsabilidade editorial, programação visual, revisão e pesquisa iconográfica


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Editoração eletrônica
Arthur Tahan Miguel Torres
Matheus Franco da Silveira
Raphael de Souza Motta
Raphael Campos Silva

Projeto gráfico e capa


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Imagens
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Shutterstock (https://www.shutterstock.com)

ISBN: 978-65-88825-00-6

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SUMÁRIO
GEOGRAFIA
MEIO AMBIENTE, FORMAÇÃO E REGIONALIZAÇÃO DO BRASIL
E SISTEMAS AGRÁRIOS
Aulas 17 e 18: Domínios morfoclimáticos II 6
Aulas 19 e 20: Problemas ambientais do Brasil 20
Aulas 21 e 22: Protocolos e conferências para o meio ambiente 35
Aulas 23 e 24: Regionalização do espaço brasileiro 48
Aulas 25 e 26: Sistemas agrários 59

REGIÕES SOCIOECONÔMICAS MUNDIAIS


Aulas 17 e 18: Antiga ordem mundial 72
Aulas 19 e 20: Nova ordem mundial 82
Aulas 21 e 22: Globalização e blocos econômicos 87
Aulas 23 e 24: Comércio internacional 104
Aulas 25 e 26: Regiões socioeconômicas mundiais I: América anglo-saxônica 114

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Competência 1 – Construir significados para os números naturais, inteiros, racionais e reais.
H1 Reconhecer, no contexto social, diferentes significados e representações dos números e operações – naturais, inteiros, racionais ou reais.
H2 Identificar padrões numéricos ou princípios de contagem.
H3 Resolver situação-problema envolvendo conhecimentos numéricos.
H4 Avaliar a razoabilidade de um resultado numérico na construção de argumentos sobre afirmações quantitativas.
H5 Avaliar propostas de intervenção na realidade utilizando conhecimentos numéricos.
Competência 2 – Utilizar o conhecimento geométrico para realizar a leitura e a representação da realidade e agir sobre ela.
H6 Interpretar a localização e a movimentação de pessoas/objetos no espaço tridimensional e sua representação no espaço bidimensional.
H7 Identificar características de figuras planas ou espaciais.
H8 Resolver situação-problema que envolva conhecimentos geométricos de espaço e forma.
H9 Utilizar conhecimentos geométricos de espaço e forma na seleção de argumentos propostos como solução de problemas do cotidiano.
Competência 3 – Construir noções de grandezas e medidas para a compreensão da realidade e a solução de problemas do cotidiano.
H10 Identificar relações entre grandezas e unidades de medida.
H11 Utilizar a noção de escalas na leitura de representação de situação do cotidiano.
H12 Resolver situação-problema que envolva medidas de grandezas.
H13 Avaliar o resultado de uma medição na construção de um argumento consistente.
H14 Avaliar proposta de intervenção na realidade utilizando conhecimentos geométricos relacionados a grandezas e medidas.
Competência 4 – Construir noções de variação de grandezas para a compreensão da realidade e a solução de problemas do cotidiano.
H15 Identificar a relação de dependência entre grandezas.
H16 Resolver situação-problema envolvendo a variação de grandezas, direta ou inversamente proporcionais.
H17 Analisar informações envolvendo a variação de grandezas como recurso para a construção de argumentação.
H18 Avaliar propostas de intervenção na realidade envolvendo variação de grandezas.
Competência 5 – Modelar e resolver problemas que envolvem variáveis socioeconômicas ou técnico-científicas, usando representações
algébricas.
H19 Identificar representações algébricas que expressem a relação entre grandezas.
H20 Interpretar gráfico cartesiano que represente relações entre grandezas.
H21 Resolver situação-problema cuja modelagem envolva conhecimentos algébricos.
H22 Utilizar conhecimentos algébricos/geométricos como recurso para a construção de argumentação.
H23 Avaliar propostas de intervenção na realidade utilizando conhecimentos algébricos.
Competência 6 – Interpretar informações de natureza científica e social obtidas da leitura de gráficos e tabelas, realizando previsão de
tendência, extrapolação, interpolação e interpretação.
H24 Utilizar informações expressas em gráficos ou tabelas para fazer inferências.
H25 Resolver problema com dados apresentados em tabelas ou gráficos.
H26 Analisar informações expressas em gráficos ou tabelas como recurso para a construção de argumentos.
Competência 7 – Compreender o caráter aleatório e não determinístico dos fenômenos naturais e sociais e utilizar instrumentos ade-
quados para medidas, determinação de amostras e cálculos de probabilidade para interpretar informações de variáveis apresentadas em
uma distribuição estatística.
Calcular medidas de tendência central ou de dispersão de um conjunto de dados expressos em uma tabela de frequências de dados agrupados
H27
(não em classes) ou em gráficos.
H28 Resolver situação-problema que envolva conhecimentos de estatística e probabilidade.
H29 Utilizar conhecimentos de estatística e probabilidade como recurso para a construção de argumentação.
H30 Avaliar propostas de intervenção na realidade utilizando conhecimentos de estatística e probabilidade.

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MEIO AMBIENTE, FORMAÇÃO E REGIONALIZAÇÃO DO
BRASIL E SISTEMAS AGRÁRIOS: Incidência do tema
nas principais provas

Os impactos ambientais rurais e urbanos são As alterações ambientais são tratadas nos
frequentemente abordados. Além dos conhe- enunciados a partir de tabelas, gráficos ou ma-
cimentos científicos, o exame também busca, pas que mostram dados da poluição. O exame
geralmente, um posicionamento crítico. também apresenta, com frequência, textos
acerca de tratados internacionais.

Temas como o problema da geração e o As aulas deste caderno devem ser analisadas Nos últimos anos, as questões ambientais
aumento global do consumo de energia cos- e estudadas para a prova da UNIFESP. Por foram destaque, com destaque para as princi-
tumam aparecer em questões que abordam apresentar questões mais elaboradas nas pais convenções ambientais e reivindicações.
danos ambientais, consciência produtiva e grandes áreas da Matemática, a prova É importante atentar-se à interferência de
responsabilidade ambiental. pode exigir do candidato conceitos mais interesses econômicos na aceitação ou
específicos. refutação dos protocolos.

Aborda bastante o tema acerca dos domínios Exige uma visão integrada na abordagem da A nova ética ambiental considera que Como são recorrentes, nesse vestibular, os pro-
morfoclimáticos vinculando-o com a questão natureza e do mundo social. É importante os elementos fundamentais são bens da tocolos e conferências para o meio ambiente,
ambiental. Por isso, é importante conhecer as também ter uma visão global da realidade natureza e de caráter universal que não torna-se importante relacioná-los aos aspectos
principais características de cada domínio e e saber identificar as diferenças regionais. A podem ser apropriados pelas soberanias econômicos que os envolvem.
seus principais problemas ambientais, tais interpretação de gráficos, mapas e tabelas é nacionais. Assim, espera-se uma abordagem
como as queimadas na Amazô- fundamental. crítica e irreverente da questão
nia e no cerrado. ambiental.

UFMG

Possui questões que trabalham um olhar Esse vestibular costuma observar se o candi- A Faculdade de Ciências Médicas apresenta
crítico e pedem um conhecimento acerca dato está ou não antenado com os problemas uma prova com poucas questões, porém abor-
das causas e consequências dos problemas causados pelos seres humanos ao meio dando vários temas da matemática dentro
ambientais. ambiente e como isso é refletido na sociedade. delas. O aluno deve estudar detidamente as
Assim, torna-se importante saber diferenciar aulas deste livro para alcançar um resultado
os protocolos ambientais. satisfatório.

Os problemas socioambientais levantam Todos os temas deste livro e seus principais As questões com a temática do meio ambien-
diversas posições no cenário mundial, como a conceitos são recorrentes nesse vestibular. te são bem objetivas, apresentando conceitos
indiferença, as justificativas banais e a busca básicos e textos de referência.
por alternativas de enfrentamento desses
conflitos. Portanto, é importante ter atenção
às suas principais causas e
consequências.

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AULAS DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS II
17 E 18
COMPETÊNCIA: 6 HABILIDADES: 26 e 29

“A estrutura das paisagens brasileiras comporta um esque-


ma regional em que participam algumas poucas grandes comportamento do vegetal, fenologia e/ou formulário
parcelas, relativamente homogêneas do ponto de vista fisio- do crescimento e espécies dominantes. Na Europa, a
gráfico e ecológico. Acrescenta-se a esses estoques básicos classificação se baseia, frequente e, por vezes, inteira-
uma grande variedade de feições fisiográficas e ecológicas, mente, na atenção em relação à composição florística
correspondentes às áreas de contato e de transição entre as (espécie) sozinha, sem referência explícita ao clima, ao
áreas nucleares dos domínios morfoclimáticos e fitogeográfi- crescimento de fenologia ou outras formas. Na forma
cos de maior expressão regional. É certamente esse mosaico da América, os níveis hierárquicos, da forma mais geral
de domínios paisagísticos e ecológicos, somado às feições à mais específica, são os seguintes: sistema, classe, sub-
das faixas de contato e de transição, que constitui nosso uni- classe, grupo, formação, aliança, associação.
verso paisagístico em termos de potencialidade global.”
Os vegetais necessitam de quantidades de água ou
(AZIZ AB’SABER) umidade variáveis. Dessa forma, pode se classificar
Como pudemos observar na leitura da aula anterior, a com- três tipos de vegetação quanto à umidade:
binação de elementos naturais como vegetação, relevo, cli- ƒ Vegetação hidrófila: adaptada à grande umi-
ma, solos e rede hidrográfica e, em menor grau, o substrato
dade. As raízes desses vegetais são pequenas e
geológico, resulta em uma enorme diversidade de paisagens
as suas folhas, grandes, para facilitar a evapo-
denominadas domínios morfoclimáticos. Lembramos de que
transpiração, além de possuírem caules bastante
esses domínios, hoje, estão bastante antropizados, huma-
nizados e que o professor Aziz Ab’Saber precisou resgatar desenvolvidos. Exemplo: bananeira.
o passado dessas paisagens, quando a configuração ainda ƒ Vegetação xerófila: adaptada à aridez. Pos-
estava pouco alterada, se comparada com a atualidade. sui raízes compridas, aprofundando-se bas-
tante no solo para buscar água. Apresenta
folhas pequenas e, muitas vezes, cobertas de
ceras, para diminuir a evaporação (perda de
água). Possuem também folhas em forma de
espinhos para diminuir a evaporação. Exem-
plo: caatinga.

“SE CORRER, BICHO TROPEÇA, SE FICAR VAI PASSAR FOME” ƒ Vegetação tropófila: adaptada a variações de
umidade, segundo as estações secas ou chuvo-
Os problemas mais comuns que afetam os domínios na-
turais, hoje, no Brasil são: o desmatamento na Amazônia, sas. As plantas são de características caducifólias
a destruição da drenagem fluvial do pantanal, a desertifi- (plantas que perdem as folhas em estações secas
cação do interior da região Nordeste, os escorregamentos ou frias). Exemplo: cerrado.
nas serras do Mar e da Mantiqueira, bem como o desflores-
tamento dos últimos resquícios de mata Atlântica.

Grande parte do trabalho sobre a classificação vege- 1. FORMAÇÕES ARBUSTIVAS


tativa provém de ecologistas europeus e norte-ameri- São formações em que predominam os arbustos, porém,
canos, que possuem diferentes abordagens. Na Améri- são constantes a presença de árvores e áreas abertas for-
ca do Norte, os tipos de vegetação são baseados em radas por gramíneas. Normalmente, se apresentam como
uma combinações dos seguintes critérios: clima padrão, arbustivas as savanas, o cerrado, a caatinga e as forma-
ções litorâneas.

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1.1. Domínio das depressões anuais muito elevadas e constantes. Os atributos
interplanálticas e intermontanas que dão similitude às regiões semiáridas são sempre
semiáridas do Nordeste de origem climática, hídrica e fitogeográfica: baixos
níveis de umidade, escassez de chuvas anuais, irreg-
ularidade no ritmo das precipitações ao longo dos
anos; prolongados períodos de carência hídrica; solos
problemáticos tanto do ponto de vista físico quanto
do geoquímico (solos parcialmente salinos, solos car-
bonáticos) e ausência de rios perenes, sobretudo no
que se refere às drenagens autóctones.

A rigidez climática é conferida, principalmente, pela irregula-


ridade na distribuição de chuvas, no tempo e no espaço. De
clima semiárido, com médias pluviométricas inferiores aos 700
A CAATINGA É DOMINADA POR ÁRVORES BAIXAS E ARBUSTOS, COM DESTAQUE mm ao ano, a caatinga se diversifica por suas manifestações,
PARA AS CACTÁCEAS, E É PREDOMINANTE NAS ÁREAS DO SEMIÁRIDO NORDESTINO.
conforme o relevo, os solos e a menor escassez de chuvas. Há a
Entre a floresta Amazônica e a mata Atlântica, encontra- mata seca (formada especialmente de cactos, bromélias e ve-
mos as caatingas do Nordeste brasileiro, cuja palavra, em getação herbácea, como na Paraíba), a arbustiva e, até mesmo,
tupi, significa “mata branca”. Sua extensão é de cerca 800 a arbórea. A maior parte das plantas são xerófilas, com folhas
mil km2, equivalente a 11% do território nacional. Como os pequenas. São adaptadas à semiaridez, pois apresenta um re-
demais biomas brasileiros, a caatinga também sofre com a vestimento (tecido ou uma película de cera) que não permite
intervenção humana. a perda de muita água pela evapotranspiração. Também são
deciduais (caducifoliadas), pois suas folhas caem totalmente
O relevo da caatinga apresenta duas formações: os planal- nas secas, diminuindo, assim, o metabolismo das plantas, que
tos e as grandes depressões. As depressões interplanálticas aguentam mais tempo sem água. Outras plantas apresentam
foram reduzidas a verdadeiras planícies de erosão, devido à suas folhas na forma de espinhos. Por outro lado, algumas
grande extensão dos pediplanos (processo que leva, em regi- espécies do estrato arbóreo, como o juazeiro e o umbuzeiro,
ões de clima árido a semiárido, ao desenvolvimento de áreas possuem raízes longas que buscam água em lençóis freáti-
aplainadas, ou então superfícies de aplainamento) e, relativa- cos e conseguem manter suas folhas verdejantes o ano todo.
mente mais recente, ao processo de pediplanação sertaneja Os solos desse bioma são ricos em sais minerais, mas pobres
moderna. O relevo dessa região varia ente 200 a 900 metros em húmus, problema comum de lugares com climas áridos e
de altitude. O planalto da Borborema é uma formação que semiáridos, com ressalva para pequenas manchas férteis nas
varia em média entre 650 e 1000 metros. Em alguns pontos, fronteiras do Rio Grande do Norte e Ceará, do Piauí e Per-
como o pico de Jabre, na Paraíba, chega a 1197 metros e nambuco e nas margens do rio São Francisco. Na maior parte,
o pico do Papagaio, em Pernambuco, a 1260 metros. Esse os solos são rasos e pedregosos em virtude do intemperismo
planalto é uma grande barreira para as nuvens carregadas físico. Nas chapadas, como a de Araripe, entre os Estados do
de umidade que vêm do oceano Atlântico em direção ao in- Ceará e Pernambuco, ocorrem chuvas orográficas que facili-
terior. Quando essas nuvens encontram este “paredão”, elas tam o cultivo do solo. Essas áreas mais úmidas, verdadeiros
se condensam, provocando chuvas nas regiões mais baixas oásis sertanejos, são os brejos, onde há maior concentração
do lado voltado para o oceano. As nuvens não conseguem ul- humana; duas grandes cidades com essas características são
trapassar o planalto da Borborema. Isto dificulta a ocorrência Juazeiro do Norte e Crato, ambas no vale do Cariri (Ceará).
de chuvas do lado oeste, que é marcado pela seca. Este lado
seco é o que faz parte do bioma caatinga. “Não existe melhor termômetro para delimitar o Nord-
este seco do que os extremos da própria vegetação da
Na América do Sul, existem três grandes áreas semiári- caatinga. Até onde vão os diferentes fácies de caatinga
das: a região Guajira, na Venezuela e na Colômbia; a di- de modo relativamente contínuo, estaremos na presença
agonal seca do Cone Sul, que envolve muitas nuanças de ambientes semiáridos. O mapa da vegetação é mais
de aridez ao longo da Argentina, Chile e Equador; e, por útil para definir os confins do domínio climático regional
fim, o nordeste seco do Brasil, província fitogeográfica do que qualquer outro tipo de abordagem por mais ra-
das caatingas, onde dominam temperaturas médias cional que pareça.

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Regularmente, nas notícias sobre o sertão, sobretudo
(...) Todos os rios do Nordeste, em algum tempo do ano, pela televisão, vemos imagens de solos rachados e de
chegam ao mar. Essa é uma das maiores originalidades plantas secas pela falta de água. Todavia, essas imagens
dos sistemas hidrográfico e hidrológico regionais. Ao podem ser exageradas; as plantas da caatinga estão mui-
contrário de outras regiões semiáridas do mundo, em to bem adaptadas aos períodos de seca. Talvez a perda
que rios e bacias hidrográficas conseguem ir para de- das folhas deem a falsa impressão de estarem mortas
pressões fechadas, os cursos d’água nordestinos, apesar ou “sofrendo” com a falta de chuvas. Além disso, essa
de serem intermitentes periódicos, chegam ao Atlântico vegetação tem uma variedade significativa de espécies,
pelas mais diversas trajetórias. Daí resulta a inexistên- como as angiospermas e as plantas que produzem flores.
cia de sinalização excessiva ou prejudicial no domínio Algumas de suas árvores se destacam pelo valor da ma-
dos sertões. Encontram-se, aqui e ali, manchas de solos deira, pela beleza intrínseca ou pelos frutos comestíveis,
ligeiramente salinizados, riachos curtos designados “sal- saborosos e nutritivos: o juá e o umbu, dos juazeiro e
gados”, porém o conjunto de tais áreas é extremamente umbuzeiro, respectivamente. E mesmo plantas cactáceas
pequeno. Apenas nos baixos rios do Rio Grande do Norte (de cactos), como o mandacaru e a palma, usadas como
ocorrem planícies de nível de base, com salinização mais forragem para o gado.
forte, em uma área bastante quente e de luminosidade
Embora tenha uma grande importância para as condi-
ampla, que corresponde à velhos estuários assoreados.
ções naturais da região do Nordeste brasileiro, a caa-
De forma inteligente, ali foram estabelecidas as maiores tinga vem sendo desmatada, sobretudo ao longo dos
salinas brasileiras, das quais provêm a maior parte da últimos anos. Entre as áreas mais degradadas, cabe des-
produção de sal do país. taque para o espaço nos territórios do Alagoas, Ceará,
Bahia e Pernambuco.

Ao contrário do senso comum, a caatinga não é um


bioma homogêneo, apresentando uma diversidade
de paisagens. Contudo, é importante ressaltar que
as transições entre as paisagens que compõem a
caatinga ocorrem de forma gradativa. É necessário
também considerar a existência de enclaves de out-
ras fisionomias vegetais dentro do bioma, resultantes
de ciclos de retração e expansão associados a mu-
danças climáticas ocorridas em passado geológico
recente (quaternário), o que influenciou a dispersão
A hidrologia regional do Nordeste seco é infinita e
e o confinamento de algumas espécies vegetais que
totalmente dependente do ritmo climático sazonal, compõem as paisagens atuais. Na literatura existem
dominante no espaço fisiográfico dos sertões. Ao con- diversas classificações de tipologias de caatinga que
trário do que acontece em todas as áreas úmidas do variam desde classificações puramente biológicas,
Brasil – onde os rios sobrevivem aos períodos de es- onde as espécies vegetais são o principal critério de
tiagem, devido à grande carga de água economizada diferenciação, até classificações geossistêmicas, onde
a relação da vegetação com o ambiente abiótico
nos lençóis subsuperficiais – no Nordeste seco, o lençol
(solo, relevo, hidrologia, entre outros) é o principal fa-
se afunda e se resseca e os rios passam a alimentar tor para a diferenciação.
o lençol. Todos eles secam desde suas cabeceiras até
CLASSIFICAÇÕES DE SUBGRUPOS DE CAATINGA E FORMAÇÕES
perto da costa. Os rios extravasaram, os rios desapa- ASSOCIADAS SEGUNDO CAVALCANTI (2014).

receram, a drenagem “cortou”. Nessas circunstâncias,


Nome Descrição
o povo descobriu um modo de utilizar o leito arenoso,
que possui água por baixo das areias de seu leito seco, Dominada por elementos len-
hosos (árvores e arbustos). A
capaz de fornecer água para fins domésticos e dar
flora não é influenciada por
suporte para culturas de vazantes. A cena de garotos corpos hídricos. Pode ser subdi-
tangendo jegues carregados de pipotes d’água retira- Caatinga vidida em caatinga lenhosa ab-
das de poços cavados no leito dos rios tornou-se uma erta, caso as copas das árvores
tradição simbólica ao longo das ribeiras secas.” não se toquem, ou fechada,
caso as copas das árvores se
(AZIZ AB’SABER)
toquem ou entrelacem.

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o problema é intensificado, além de tornar os solos mais ex-
Nome Descrição postos e, por isso, altamente propensos a erosões e outros
Vegetação dominada por el-
problemas ambientais, como a salinização.
ementos herbáceos, com pre- Em resposta a essa problemática, o Ministério do Meio Am-
Caatinga gramí-
sença de indivíduos lenhosos biente elaborou um planejamento para combater o desma-
neo-lenhosa (árvore ou arbustos) esparsos
tamento local por meio da criação do PPCaatinga (Plano
ou em agrupamentos isolados.
de Ação para a Prevenção e Controle do Desmatamento
Vegetação com a presença de
palmeiras e elementos lenho-
na Caatinga). O objetivo é a criação de um planejamento
Caatinga-parque que vise reduzir a degradação crescente da vegetação e
sos da caatinga distribuídos
ao longo de um corpo hídrico. que leve em consideração as particularidades fitogeográ-
Vegetação que cresce sobre os ficas da caatinga. Além disso, estão sendo elaboradas ini-
Caatinga lajedos (afloramentos rocho- ciativas para reflorestamento, recuperação dos solos e das
rupestre sos), normalmente dominada bacias hidrográficas da região, principalmente o semiárido
por bromeliáceas e cactáceas. do chamado “polígono das secas”.
Vegetação que ocorre nas
Formação proximidades de corpos hídri-
higrófila cos e apresenta flora cosmo-
polita ou introduzida.

A vegetação desse domínio natural possui um alto poder


calorífico, sendo bastante adequada para a utilização como
lenha. Essa característica, associada à grande necessidade
energética de uma região que sofre com a falta de inves-
timentos e da presença do Estado, é a principal causa do
desmatamento da caatinga. Estima-se que 30% da ener-
gia utilizada pelas indústrias locais advenham dessa práti-
ca de extração da lenha da vegetação do semiárido.
CAATINGA
Se considerarmos apenas o Estado de Pernambuco, de acor-
Há uma determinação ingênua e passível de refutação no
do com dados do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Am-
relacionamento entre a pobreza da região nordestina e o
biente e dos Recursos Naturais Renováveis), cerca de 260 mil
clima semiárido, como se ele fosse o responsável pelas ma-
caminhões com lenha advinda da caatinga são transporta-
zelas sociais daquela região. Diz-se que a região possui um
dos para atender à demanda energética da região. Ainda se-
gundo o órgão, existe certo mito em pensar que a população solo “pobre”, “ruim” para a agricultura. Primeiramente,
de baixa renda e os pequenos agricultores são os respon- não existe um solo “bom” ou “ruim”, qualidades atribu-
sáveis principais pelo desmatamento em questão. Trata-se ídas ao solo por nós mesmos de acordo com os interes-
de um problema energético associado à atuação ineficaz do ses que qualificam essa formação pedológica. Os solos do
Estado, tanto na permissão de atividades desse tipo quanto Nordeste são “ruins” para a produção agropecuária que
na não fiscalização adequada de práticas ilícitas. necessitam de muita água e sais minerais. No entanto, são
“ótimos” para cultivo de espécies frutíferas, fibras, óleos
Os efeitos do desmatamento da caatinga são diversos, em vegetais e ceras. O grande problema do Nordeste é a falta
razão da importância da vegetação para a região que ocu- de interesse do Estado de intervir com políticas públicas
pa. Além disso, existem indícios ainda não comprovados de que beneficiem a maior parte da população. Desde o início
que a caatinga possa ser mais eficiente na absorção de gás do século XIX, fala-se em erradicação da seca no Nordes-
carbônico na atmosfera do que as florestas tropicais, haja te mediante projetos de irrigação. Destaquemos a Sude-
vista que essas últimas produzem uma quantidade de CO2 ne (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste),
mais ou menos equivalente ao que absorvem. criada em 1959 e ligada diretamente ao governo federal.
Outra consequência do desmatamento da caatinga é a de- Projetos de irrigação com as águas do rio São Francisco e
sertificação. Sabe-se que, nas regiões de clima mais quente de prospecção de água no lençol freático, construção de
e com pouca precipitação, o que se verifica em algumas das açudes e abertura de poços levantaram recursos significa-
áreas ocupadas por esse bioma, a tendência de desertificação tivos. Contudo, tais políticas beneficiaram apenas as pro-
é alta em virtude da desidratação dos solos ocasionada pelo priedades consideradas produtivas, deixando à margem a
elevado índice de evaporação. Com a remoção da vegetação, maior parte da população.

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1.2. Domínio do cerrado
O homem no caminho das águas
“Vou lhe falar. Lhe falo do sertão. Do que não sei. Um gran-
O perfil longitudinal dos rios que drenam vastas ex- de sertão! Não sei. Ninguém ainda sabe. Só umas raríssi-
tensões de colinas sertanejas é extremamente raso e mas pessoas – e essas poucas veredas, veredazinhas.”
tangente ao chamado perfil de equilíbrio, sobretudo
GUIMARÃES ROSA. GRANDE SERTÃO: VEREDAS.
no Ceará e no Rio Grande do Norte. Disso resulta que
as grandes chuvas, extensivas a imensas áreas dos Associada ao clima tropical típico, no Brasil central, está
sertões secos, podem provocar aumento excessivo a formação vegetal chamada de cerrado. Embora sua área
do volume d’água dos rios de longo ou médio curso, core (nuclear) esteja localizada nos Estados de Goiás e Mato
pressionando os setores do baixo vale por meio de Grosso, essa formação vegetal estende-se de forma contí-
transbordamentos catastróficos. As pequenas bacias nua ou em “manchas ”para os Estados de São Paulo, Mi-
torrenciais saídas dos bordos das chapadas, da cimei- nas Gerais, Tocantins, Bahia, Maranhão, Roraima e Amapá.
ra dos maciços antigos e dos brejos de todos os tipos Estima-se que a área nuclear do domínio do cerrado tenha,
são alimenta das por precipitações que acrescentam aproximadamente, 1,5 milhão de km2. Se adicionadas às
importantes volumes d’água aos já engordados rios áreas periféricas encravadas em outros domínios vizinhos e
sertanejos, que recém-voltaram a crescer. nas faixas de transição, a área poderá chegar a 1,8 milhão ou
Os caminhos da água no interior da planície são 2 milhões de km2. No entanto, mesmo com a presença de so-
complexos. Atingem primeiro os canais rasos e los de baixa qualidade agrícola, o cerrado vem sofrendo muito
interligados, existentes nas várzeas, embora im- com a ação antrópica. Sua devastação está diretamente rela-
perceptíveis durante a estiagem. Ocorre depois a cionada com a expansão da pecuária e da agricultura da soja.
generalização da inundação, a partir das águas dos
canais trançados. Ao chegarem às terras aluviais e
hidromórficas do leito maior dos rios, as inundações
afetam plantações e habitações rurais dispersas,
vilarejos de fundo de vale, bairros de população
carente das cidades de médio ou pequeno porte.
Os mais afetados são integrantes das parcelas mais
pobres da população, instalados em sítios inadequados
nos arredores das cidades sertanejas, localizadas nos
eixos dos grandes vales. Este fato foi bem documenta-
O solo é constituído por dois extratos: o inferior, composto
do pelas ocorrências calamitosas do período de grande
por gramíneas, e o superior, composto por pequenas árvo-
chuvas no último mês de abril, que afetaram mais de
res e arbustos retorcidos, plantas resistentes ao fogo. Parte
meio milhão de nordestinos, do Rio Grande do Norte
do ciclo natural do cerrado, o fogo, limpa os restos de ga-
ao Maranhão. Evidenciou-se mais uma vez a seriedade
das questões relativas à projeção espacial da sociedade
lhos, folhas secas do solo e algumas gramíneas, deixando
de estrutura subdesenvolvida. As populações mais car- o solo acessível para uma nova rodada de germinação na
entes, à míngua de melhor local para viver, utilizam os estação chuvosa – principalmente das herbáceas. Esse fe-
espaços ribeirinhos, de alto risco e inadequados. É exat- nômeno possibilita uma variedade em sua fauna que, no
amente o caso dos espaços físicos e sociais que foram entanto, vem sendo utilizada de maneira intensa e extensa,
castigados pelos efeitos das inundações recentes dos como um método mais barato de manejo e desmatamen-
baixos vales de rios nordestinos. to, por criadores de gado e monocultores.
Tenta-se há algum tempo melhorar o sistema de pre-
visão das secas.
Conhece-se bem o ritmo anual das águas dos rios in-
termitentes e sazonais.
Agora, é preciso melhorar o sistema de previsão
das inundações e tentar reordenar a ocupação dos
espaços rurais e urbanos em subáreas de fundo de
planícies aluviais.
AZIZ AB’SABER. SERTÕES E SERTANEJOS: UMA
GEOGRAFIA HUMANA SOFRIDA.
NO CERRADO, BIOMA PREDOMINANTE NA REGIÃO CENTRO-OESTE, DESTACAM-
SE DOIS ESTRATOS: O FORMADO POR PEQUENAS ÁRVORES RETORCIDAS E
ARBUSTOS; E O COMPOSTO DE UMA VEGETAÇÃO RASTEIRA (HERBÁCEAS).

10
O fogo que traz vida e o fogo que devasta As veredas são subsistemas do bioma cerrado, que
podem ser entendidos como áreas pantanosas, forma-
O fogo no cerrado pode ter início por fatores naturais. do geralmente por caminhos mal delimitados de água
Isso ocorre através de descargas elétricas, combustão em solos hidromórficos, com presença da palmeira bu-
espontânea, atrito entre rochas e até atrito do pelo de riti. Elas se constituem em importante subsistema do
alguns animais com a mata seca. cerrado, possuindo, além do significado ecológico, um
Esse fogo originado por fatores naturais é responsável papel socioeconômico e estético-paisagístico que lhe
pela distinção vegetal do cerrado. Segundo pesqui- confere importância regional, principalmente quanto
sas, o aspecto retorcido de suas árvores e arbustos ao aspecto de constituírem refúgios fauno-florísticos
é consequência da ocorrência do fogo, fazendo com e por ser ambientes de nascedouros das fontes hídri-
que suas gemas de rebrota ocorram lateralmente. As cas do planalto central brasileiro, abastecendo as três
cascas espessas dos troncos funcionam como um me- principais bacias hidrográficas do Brasil.
canismo de defesa das árvores às queimadas.
O fogo contribui para a germinação de sementes, pois
algumas necessitam de um choque térmico para que
seja efetuada a quebra de sua dormência vegetativa,
principalmente as que são impermeáveis. A rápida
elevação da temperatura causa fissuras na semente,
favorecendo a penetração de água e iniciando o pro-
cesso de germinação.
O cerrado apresenta um rápido poder de recuperação,
em curto período rebrota após o fogo e atrai diversos Funcionam como um filtro, regulando o fluxo de água,
animais herbívoros em busca de forragem nova. Al- sedimentos e nutrientes, entre outros terrenos mais
gumas espécies, como o anu, o carcará e a seriema, altos da bacia hidrológica e o ecossistema aquático.
seguem as queimadas, e se alimentam de insetos e Podem ainda servir de refúgio para a fauna, numa
répteis atingidos pelo fogo. área de ocupação agrícola e pecuária muito inten-
sa, porém, a preservação das veredas se impõe, so-
bretudo, pelo fato de que o equilíbrio dos mananciais
d’água depende diretamente disto. Essa regulagem
determina sua contribuição para o curso d’água, cuja
área saturada se expande ou contrai, dependendo
das condições da umidade depositada, ou seja, das
precipitações e da capacidade de retenção e escoa-
mento do solo. As veredas também podem ser consid-
eradas feições geomorfológicas, porque elas somente
ocorrem ao longo de vales pouco profundos, com
baixa energia hidráulica e que alcançam dezenas de
quilômetros, interligados aos sistemas de drenagem
regionais do Centro e de parte do Sudeste brasileiros.
QUEIMADA NO CERRADO
Guimarães Rosa, em sua obra Grande sertão: veredas,
faz uma das melhores descrições perceptivas do am-
biente das veredas:
A vegetação do cerrado não tem uma fisionomia única
em toda a sua extensão. É bastante diversificada, apre- [...] Saem dos mesmos brejos – buritizais enormes. Por
sentando desde formas campestres bem abertas até for- lá, sucuri geme. Cada sucuriú do grosso: voa corpo no
mas relativamente densas, florestais. Divide-se em: cer- veado e se enrosca nele, abofa – trinta palmos! Tudo
radão, onde predomina o estrato arbóreo; o cerrado no em volta, é um barro colador, que segura até casco de
sentido restrito, com árvores dispersas; o campo cerrado, mula, arranca ferradura por ferradura. Com medo de
com arbustos isolados em meio à vegetação herbácea; e mãe-cobra, se vê muito bicho retardar ponderado, paz
o campo sujo e o campo limpo, onde aparecem apenas a de hora de poder água beber, esses escondidos atrás
biomassa herbácea, com gramíneas e pequenos arbustos.

11
de touceiras de buritirama. Mas o sassafrás dá mato, Tipos de relevo na
guardando o poço; o que cheira um bom perfume. área nuclear dos cerrados
Jacaré grita, uma, duas, três vezes, rouco roncado. Jac-
aré choca – olhalhão, crespido do lamal, feio mirado “A imagem, geralmente obtida, de que a área dos cer-
na gente. Eh, ele sabe se engordar. Nas lagoas aonde rados seria constituída apenas por enormes chapadões,
nem um de asas não pousa, por causa de fome de posicionados como divisores entre as bacias do Prata e
jacaré e de piranha serrafina. Ou outra – lagoa que do Amazonas, não é totalmente verdadeira. Certamente,
nem abre o olho, de tanto junco. Daí longe em longe, trata-se do domínio morfoclimático brasileiro, onde
os brejos vão virando rios. ocorre a maior extensividade de formas homogêneas
Buritizal vem com eles, buriti se segue, segue. Para relativas de todo o planalto brasileiro. Planaltos sedi-
trocar de bacia o senhor sobe por ladeiras de bei- mentares cedem lugar – quase sem solução de continui-
ra-de-mesa, entra de bruto na chapada, chapadão dade – a outros de estruturas mais complexas, nivela-
que não se desenvolve mais. [...]. dos por velhos aplainamentos de cimeira, formando o
grande planalto Central, com altitudes médias de 600
a 1100 metros.”
O cerrado arbóreo-arbustivo se caracteriza pela presença de
árvores, geralmente tortuosas e espaçadas, com troncos de (AZIZ AB’ SABER)
cortiça espessa (suber). O clima tropical típico apresenta uma
estação seca, em média, de três a cinco meses de duração.
Apesar desse aspecto xeromórfico, que lembra regiões semi-
O cerrado é considerado por muitos como um importante
áridas, não há escassez de água nos cerrados, mesmo nas
berço das águas do Brasil, tão importante para a disponi-
estações mais secas. As plantas desse bioma têm raízes pro-
bilidade dos recursos hídricos no País quanto a Amazônia.
fundas, chegam a 15 metros de profundidade e alcançam
O principal motivo dessa consideração é o fato de esse
camadas de solo sempre úmidas. Com isso, mesmo na es-
domínio morfoclimático concentrar uma área que abriga
tação seca, a árvore dispõe de algum abastecimento hídrico.
No período de estiagem, o solo de fato perde umidade na nascentes de importantes rios, beneficiando oito entre as
parte superficial, entre (1,5 metro a 2 metros de penetração). doze grandes bacias hidrográficas brasileiras.

Os pontos mais elevados do cerrado estão na cadeia que Essa configuração natural rendeu ao cerrado o título de “cai-
passa por Goiás em direção sudeste-nordeste. O pico Alto xa-d’água” do Brasil, pois os seus domínios florestais seriam
da Serra dos Pireneus, com 1385 metros de altitude, a responsáveis por abastecer a maior parte dos rios e recursos
chapada dos Veadeiros, com 1250 metros e outros pontos hídricos do País, incluindo aí importantes áreas de abaste-
com elevações consideradas, que se estendem em direção cimento. As águas do cerrado abastecem a agricultura e a
noroeste; a serra do Jerônimo e outras serras menores, atividade industrial de boa parte do território brasileiro.
com altitudes entre 500 e 800 metros. O relevo é um tanto A vegetação do cerrado também auxilia na captação das
acidentado, com poucas áreas planas. Outra formação é
águas das chuvas para o abastecimento de três importan-
constituída por aflorações e rochas calcárias, com fendas,
tes aquíferos, com destaque para o aquífero Guarani, um
grutas e cavernas em diferentes tamanhos.
dos maiores do mundo em extensão e também em volume.
Alguns dos mais importantes rios brasileiros possuem boa
parte de suas nascentes na região do cerrado. O rio São
Francisco é um deles. Isso permite intuir que as áreas desse
bioma são grandes fornecedoras de recursos hídricos para
outras localidades. Até mesmo para a bacia Amazônia: o rio
Xingu, um dos muitos afluentes do Amazonas, advém de
nascentes do cerrado, o que também acontece com a maior
parte da bacia Tocantins-Araguaia e com as bacias do Para-
naíba, do Atlântico Leste e Atlântico Leste Ocidental.
multimídia: vídeo A bacia Platina, por sua vez, é também resultante de águas
FONTE: YOUTUBE que surgem no cerrado, que abriga o início das bacias do
Biomas brasileiros: documentário Paraná e do Paraguai. Essas bacias juntam-se e formam a
produzido pelo Centro... rede de drenagem em questão, que envolve o rio da Prata,
um dos mais importantes da América do Sul.

12
Boa parte dessa configuração estratégica do domínio
morfoclimático do cerrado está na sua posição e no re- 2. FORMAÇÕES HERBÁCEAS
levo. As formas de relevo, sobretudo nas zonas planál- Localizados em climas temperados, recebem diferentes
ticas, contribuem para o surgimento de nascentes de denominações dependendo da região do Planeta: prada-
rios, que rapidamente se deslocam para outras áreas, rias, na América do Norte; estepes, na Rússia; e pampa,
ao mesmo tempo em que possuem um grande poten- na América do Sul. Suas paisagens apresentam pequenas
cial hidrelétrico. plantas, sobretudo campos de gramíneas com alturas va-
riadas, com algumas poucas árvores que crescem nas mar-
Os solos são naturalmente pobres em matéria orgâni-
gens dos rios.
ca. De acordo com a sazonalidade do clima, um longo
período de estiagem torna mais lenta a decomposição
do húmus, cujas características químicas dão conta de
bastante acidez. O que se deve, em boa parte, aos al-
tos níveis de alumínio ionizado. O processo mediante o
qual um átomo ou uma molécula de Aø3+ perde ou ga-
nha elétrons para desenvolver íons, tornando-o vene-
noso à maioria das plantas agrícolas que não suportam
as elevadas quantidades desse composto. Níveis eleva-
dos de íons de ferro (Fe) e de manganês (Mn) também
contribuem para essa toxidez. A correção do pH pela
calagem – aplicação de calcário, preferencialmente o multimídia: música
calcário dolomítico, carbonato de cálcio e magnésio e
FONTE: YOUTUBE
adubação, com macro e micronutrientes – pode tor-
- O Cio da Terra – MPB 4
nar o solo fértil e produtivo para a cultura de grãos
ou de frutíferas. Em parte dos cerrados, o solo pode
apresentar concreções ferruginosas, formando cama-
das conhecidas como lateritas, de grande concentra- 2.1. Domínio das pradarias mistas do
ção de óxidos de ferro e alumínio. A laterita impede a Rio Grande do Sul (campos sulinos)
penetração da água de chuva ou das raízes, evitando Também conhecido por pampa e campanha gaúcha, é
ou dificultando o desenvolvimento de uma vegetação na verdade prolongamentos dos pampas argentino e
mais exuberante e da própria agricultura. Em camadas uruguaio. Trata-se de uma extensa área com predomínio
lateríticas espessas e contínuas, há contornos vegetais de terras baixas, nas quais sobressaem colinas ou ondu-
mais pobres e mais abertos. lações do terreno designado coxilhas. Apresenta vegeta-
O cerrado foi declarado patrimônio natural da humanida- ção herbácea composta, principalmente, por gramíneas,
de em dezembro de 2001 pela Organização das Nações formando uma imensa pastagem. É o tipo de vegetação
Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco). mais antigo da região e é provável que seja área rema-
nescente de um clima semiárido que existia na região dos
pampas em tempos pretéritos.

multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE
Intérpretes do Brasil: os vários Brasis, por
Aziz Ab’Saber
PAMPA GAÚCHO

13
É uma região de drenagem perene, porém, menos densa e
volumosa se comparada a drenagem do planalto basáltico 3. FORMAÇÕES COMPLEXAS
do sul do Brasil. Seus rios possuem pouco volume d’água e São as que apresentam estratos herbáceos, arbustivos e
participam de sub-bacias hidrográficas pouco densas. arbóreos, sem predominância de nenhum deles.
Esse domínio abrange terrenos sedimentares de diferen-
tes idades, com terrenos basálticos e pequenos setores de 3.1. Pantanal
áreas metamórficas inseridas na província geológica que
O pantanal é uma formação complexa localizada na extensa
corresponde ao escudo uruguaio-sul-rio-grandense (serras
planície inundável da bacia do rio Paraguai, no Mato Grosso
de sudeste).
e no Mato Grosso do Sul. Essa vegetação estende-se para
além do território brasileiro até o chaco paraguaio. Com a se-
paração da antiga Gondwana e o soerguimento dos Andes,
formou-se a depressão do pantanal, que deu origem à bacia
do rio Paraguai. No período de cheia dos rios, grande parte
da depressão é inundada, à exceção de 20% dela que nunca
é atingida, notadamente porque está localizada em áreas
mais elevadas. Esse fenômeno propicia o aparecimento em
mosaico de formações vegetais dos tipos floresta, campo e
cerrado. Na região pantaneira, existem duas estações cli-
COXILHA DE CANELA, RIO GRANDE DO SUL máticas bem definidas: uma chuvosa e outra seca – clima
As coxilhas aparecem nas planícies do Rio Grande do Sul, tropical típico. Caracteriza-se, também, por classes vegetais
onde a pecuária e a rizicultura (arroz) são atividades pre- das quais 20% a 50% dos indivíduos do estrato arbóreo
dominantes, o que comprometeu bastante esse domínio. superior perdem as folhas na estação seca.
Também relevantes são os campos do sul do Mato Grosso
do Sul, na região de Ponta Porã, conhecidos por campos de
vacaria, surgidos da ação antrópica. Há também campos Zona costeira
naturais, onde se desenvolve a pecuária: regiões amazôni- Os principais biomas do litoral estão ligados aos de
cas do alto rio Negro e ilha de Marajó e em Roraima. solos arenosos e salinos bastante danificados pelo
As maiores ameaças nos campos brasileiros ocorrem em homem: os manguezais e os biomas psamófilos.
função da pecuária extensiva, que tem levado à formação Em virtude da grande extensão de nosso litoral, os
de areais, onde a vegetação retirada não retorna e os solos ecossistemas que se repetem ao longo da costa apre-
perdem toda fertilidade, lembrando fisionomicamente um sentam espécies diferentes graças à diversidade de
deserto, como o areal São João, no interior do Rio Grande características climáticas e geológicas existentes. Es-
do Sul. quematicamente, pode-se dividir o litoral brasileiro e
seus principais ecossistemas costeiros em:
ƒ litoral amazônico – estende-se da foz do rio Oia-
poque ao rio Parnaíba e caracteriza-se por mangue-
zais e matas de várzeas de maré;
ƒ litoral nordestino – começa no delta do Parnaíba
e vai até o Recôncavo Baiano, onde há mangues,
recifes, dunas, restingas e matas;
ƒ litoral do Sudeste – vai do Recôncavo Baiano a
multimídia: livros São Paulo, área bastante povoada e fortemente in-
dustrializada. O litoral de São Paulo é marcado pela
Os domínios de natureza do Brasil: presença da serra do Mar, e o ecossistema mais im-
potencialidades paisagísticas portante é o das matas de restinga, além de mangues.
- Aziz Nacib Ab’Saber
ƒ litoral sul – estende-se do Paraná ao arroio Chuí,
O professor e geógrafo Aziz Ab’Sáber foi um no Rio Grande do Sul, trecho que se caracteriza pe-
dos pesquisadores brasileiros mais dedicados los banhados no litoral gaúcho e pelos mangues no
à compreensão espacial e territorial do país. Paraná e em Santa Catarina.

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VIVENCIANDO

Um bom passeio para observar e estudar alguns biomas é a Praça do Relógio na Cidade Universitária. A Praça do
Relógio foi construída em 1971 e reinaugurada em setembro de 1997, depois de uma reforma. A praça foi reurban-
izada de acordo com um projeto paisagístico elaborado por professores da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e
do Instituto de Biociências. Esse projeto criou, nos 176 mil metros quadrados do local (equivalente a 18 quarteirões
urbanos), os seis ecossistemas vegetais predominantes no Estado de São Paulo. Num dos lados da praça, junto à
Avenida Professor Luciano Gualberto, por exemplo, foram plantadas 4 mil mudas de 60 espécies típicas da mata
Atlântica, como jatobá, jequitibá, pau-brasil e cedro-rosa. Ao longo da praça distribuem-se ainda espécies vegetais
da mata araucária, restinga, campo rupestre, cerrado e mata semidecídua. Painéis explicativos expostos em vários
locais dão mais informações sobre os ecossistemas.

PRAÇA DO RELÓGIO - CAMPUS BUTANTÃ

Região conhecida mundialmente por sua beleza faunís-


tica, vem sofrendo com a ocupação humana. Poluentes
3.2. Manguezais
despejados por mineradoras que atuam nas áreas mais Numa superfície perto de 20 mil km2, a costa brasileira ofe-
altas, ao seu redor, são drenados pelos rios e levados para rece uma estreita faixa de floresta, o manguezal ou mangue.
o pantanal. A pecuária e a monocultura instaladas na re- É composto por um pequeno número de espécies arbóreas,
gião também destroem esse paraíso em razão do uso in- desenvolvendo no encontro de águas doces e salgadas, so-
discriminado de agrotóxicos que poluem as águas. Mais bretudo nos estuários, baías e na foz dos rios. Trata-se de
recentemente, com a construção da ferrovia que deve ligar ambiente com bom abastecimento de nutrientes sob os so-
o Centro-Oeste brasileiro à Argentina, o fluxo de pessoas los lodosos, que compõe uma textura de raízes e material
e mercadorias aumentará, intensificando as trocas comer- vegetal parcialmente decomposto chamado turfa. As árvores
ciais do Mercosul. do manguezal apresentam raízes aéreas (pneumatóforas),
que, além da fixação, cumprem a função de respiração; são
também plantas halófilas, isto é, tolerantes ao sal.

VISTA ÁREA DO COMPLEXO DO PANTANAL MAGUEZAL, NO DETALHE AS RAÍZES AÉREAS (PNEUMATÓFICAS)

15
Essa formação vegetal é importantíssima para a reprodu-
ção da fauna marinha, porque muitos tipos de peixe litorâ-
neo dependem, em sua fase jovem, das fontes alimentares
do manguezal.

VIA MANGUE, EM RECIFE - MANGUEZAL PRESSIONADO PELA URBANIZAÇÃO

Biomas psamófilos

ÁREA DE OCORRÊNCIA DOS MANGUEZAIS


DUNAS DE AREIA EM JALAPÃO, TOCANTINS

Nas dunas, praias e restingas, de solo salgado (halófi-


lo) e arenoso, desenvolve-se uma vegetação herbácea
e arbustiva. As restingas são cordões arenosos, de for-
mação recente, originados por correntes do mar para-
lelas à costa. Podem ter formas variadas, como barras
e planícies; ambas são montes de areia formados pelo
multimídia: livros vento nas praias.
A escassez de água e de nutrientes torna difícil a
Era verde? Ecossistemas brasileiros adaptação de plantas e animais nesses ambientes.
ameaçados - Zysman Neiman Aranhas, lagartos e rãs são os seus habitantes mais
Tema constante na mídia e grande objetivo de comuns. Entre as espécies vegetais destacam-se o
estudos acadêmicos (principalmente a partir capim-da-praia, o capim-da-areia e a salsa-da-praia.
do fim do século XX), a questão ambiental
vem sensibilizando toda a sociedade.

Por encontrarmos uma parcela significativa da população


3.3. Vegetações de transição
brasileira vivendo na porção litorânea (cerca de 35%), há
um intenso processo de urbanização que vem destruindo
3.3.1. Mata dos cocais
os manguezais. Para a construção de casas, ruas, prédios Encontra-se entre a floresta equatorial, a caatinga e o cer-
e indústrias, aterram-se áreas de mangue e sufoca-se o rado, estendendo-se por uma área de clima tropical que
ecossistema. Basta observar as orlas marítimas densa- passa pelos Estados do Maranhão, Piauí, parte do Ceará e
mente urbanizadas, como Santos, Rio de Janeiro, Salvador, no Rio Grande do Norte. É conhecida como mata de transi-
Natal, Recife, entre outras cidades. No Recife, surgiu um ção por estar na área de contato entre formações vegetais
movimento cultural nos anos 1990 – o mangue beat –, distintas, contendo a “mistura” das características dessas
cujo objetivo foi chamar a atenção para a destruição desse formações. Composta por coqueiros, babaçus, oiticicas,
ambiente natural em decorrência do desenfreado processo carnaúbas e palmeiras – destes dois últimos, faz-se bas-
de urbanização daquela metrópole nordestina. tante uso industrial.

16
O babaçu é uma palmeira que nasce, em princípio, no ƒ Matas galerias ou matas ciliares – as matas gale-
Maranhão e no norte do Tocantins, do qual se aprovei- rias aparecem, em especial, ao longo dos rios da região
tam os coquinhos para a produção de óleos comestíveis, de cerrado e da caatinga. Localizado às margens dos
chocolates, lubrificantes e até mesmo combustíveis (bio- rios, o solo é permanentemente úmido, criando condi-
energia); as folhas, para manufatura de cestas, chapéus ções para o desenvolvimento dessa mata, composta,
etc. Mas seu elemento mais valioso, por enquanto, são as comumente, por espécies da mata tropical atlântica.
amêndoas, usadas na indústria de sabão, óleo, margarina
e de alguns outros produtos químicos.
Os finais de tarde em Lago do Junco, cidade distante
A carnaúba é um coqueiro muito comum no Ceará e no 300 quilômetros de São Luis (MA), são marcados por
Piauí, bem como é conhecida como árvore-providência, pois um ritual que se repete há décadas: grupos de mulheres
todas as suas partes são aproveitadas. Das folhas se extrai adentram as matas entoando cantos e versos para que-
a famosa cera de carnaúba, usada na produção de isolantes brar coco-babaçu. Nas mãos, ferramentas e, nas costas,
e lubrificantes, graxa, batom etc.; o tronco é empregado na o cofo, um cesto de palha. Muita mulheres da região
construção de habitações; o fruto e o palmito nos servem de passam boa parte da vida enfiadas no mato. A maioria
alimentos, assim como as raízes, utilizadas como base para das famílias rurais de Lago do Junco chegou lá nos anos
remédios; as sementes, torradas e moídas, servem à prepa- 1940. Migraram para a mata dos cocais, bioma onde
ração de bebida. A larga produção de cana-de-açúcar no os babaçuais são abundantes, para ganhar a vida. Até
período colonial devastou parcela significativa dessa mata. o final dos anos 1980, o comércio de babaçu obedeceu
ao “quebra-metade”. João Valdeci Viana Lima, presi-
dente da Cooperativa dos Produtores do Lago do Junco
(Coopalj), conta que, ao permitir a entrada nas terras, o
fazendeiro exigia metade da colheita. Em 1989, o quilo-
grama da amêndoa custava o equivalente a R$ 0,04.
Atualmente, o mesmo volume custa R$ 2,50 e o quilo-
grama do óleo, 3,15 euros. Por ano, as mulheres coletam
cerca de 700 toneladas de amêndoas. A cooperativa
compra, processa, extrai o óleo e exporta. No Maranhão,
BABAÇUAIS o babaçu ainda é o único sustento de muitas famílias
que vivem no campo – um trabalho de subsistência co-
mandado pelas quebradeiras de coco.

multimídia: música
FONTE: YOUTUBE
- Purificar o Subaé – Maria Bethânia

3.4. Outras áreas de transição


ƒ Mata seca – na área de transição entre a Amazônia e
o cerrado, a floresta apresenta manchas de vegetação
comum ao bioma do cerrado; essas manchas contor-
nam porções desse tipo de florestas.
ƒ Floresta de folhas secas – área de transição entre o
multimídia: sites
cerrado e a caatinga, apresenta uma vegetação mais rica www.arvoresbrasil.com.br
que a caatinga e um clima mais seco que o do cerrado.

17
LIMITES DAS MATAS CILIARES (COMO PODE SER PEDIDO EM PROVA).

CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS

A vida na superfície da Terra está inserida em um amplo contexto de relações de troca e fluxo de energia, compondo
sistemas abertos e hierarquizados que, em seu conjunto, denominamos biosfera. Esta se relaciona com a hidrosfera, com
a litosfera e com a atmosfera, que variam de acordo com os períodos e com o espaço, em níveis de associação ou de
organização estabelecidos por relações de competição, predação e cooperação, como observamos nas redes alimen-
tares em que as plantas são alimentos para muitos animais, mas precisam de muitos deles para cumprir seu ciclo de
vida. Esses processos são objetos de estudo das Ciências Biológicas. No entanto, nesse contexto também se inserem as
relações sociais que, além de participarem do processo de troca de energia, participam ativamente das transformações
dos sistemas naturais ao longo dos períodos. A Ciência Geográfica estuda a vida na superfície do planeta também na
escala do bioma e como a evolução desses biomas ao longo da história proporcionaram transformações no espaço.

ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM

Habilidades
26 Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana com a paisagem.
29 Reconhecer a função dos recursos naturais na produção do espaço geográfico, relacionando-os com as mudanças
provocadas pelas ações humanas.

18
A influência exercida pelo ambiente natural sobre o comportamento das sociedades humanas, promoveu estudos
sociológicos, geográficos e históricos nas últimas décadas que consideram as variáveis ambientais em suas análises.
O crescimento populacional, adicionado ao modelo capitalista de sociedade e à divisão do trabalho que se con-
centrou no terceiro setor da economia, trouxe uma apropriação excessiva dos territórios, explorando áreas antes
ambientalmente preservadas e gerando problemas ambientais. É possível, no entanto, que se promova a apropriação
de territórios de forma consciente, conhecendo o meio físico, seus elementos e processos associados para, assim,
decisões voltadas ao planejamento urbano e ambiental serem menos prejudiciais ao meio natural.

Modelo
(ENEm) A FLORESTA AMAZÔNICA, COM TODA A SUA IMENSIDÃO, NÃO VAI ESTAR AÍ PARA SEMPRE. FOI PRECISO ALCANÇAR TODA ESSA TAXA DE DESMATAMEN-
TO DE QUASE 20 MIL QUILÔMETROS QUADRADOS AO ANO, NA ÚLTIMA DÉCADA DO SÉCULO XX, PARA QUE UMA PEQUENA PARCELA DE BRASILEIROS SE DESSE
CONTA DE QUE O MAIOR PATRIMÔNIO NATURAL DO PAÍS ESTÁ SENDO TORRADO.

AB’SABER, A. AMAZÔNIA: DO DISCURSO À PRÁXIS. SÃO PAULO: EDUSP, 1996.


UM PROCESSO ECONÔMICO QUE TEM CONTRIBUÍDO NA ATUALIDADE PARA ACELERAR O PROBLEMA AMBIENTAL DESCRITO É:
a) expansão do projeto Grande Carajás, com incentivos à chegada de novas empresas mineradoras.
b) difusão do cultivo da soja com a implantação de monoculturas mecanizadas.
c) construção da rodovia Transamazônica, com o objetivo de interligar a região Norte ao restante do País.
d) criação de áreas extrativistas do látex das seringueiras para os chamados povos da floresta.
e) ampliação do polo industrial da Zona Franca de Manaus, visando atrair empresas nacionais e estrangeiras.

Análise expositiva - Habilidades 26 e 29: A floresta Amazônica é a maior formação original de floresta tropi-
B cal úmida contínua no planeta. Sua localização expõe grandes extensões de terra em contato com áreas de cerrado,
onde a expansão agropecuária (arco de desmatamento) exerce forte pressão sobre a floresta. Principalmente lavouras
mecanizadas de cultivo de soja.
Alternativa B

19
AULAS PROBLEMAS AMBIENTAIS DO BRASIL
19 E 20
COMPETÊNCIA: 6 HABILIDADE: 28

1. INTRODUÇÃO 2. POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA


O meio ambiente humano costuma ser dividido em meio
cultural, constituído pelos produtos da atividade humana:
edifícios, agricultura, instituições políticas e sociais, indus-
triais etc.; e meio natural, o lugar dos seres vivos e das
coisas. Denomina-se meio natural, a natureza original, a
primeira natureza. A natureza humanizada, o meio
cultural, é denominada segunda natureza.
O conjunto dos elementos que constituem o meio ambi-
ente humano – naturais e culturais – é fundamental à vida,
cuja qualidade depende da melhor ou pior situação desses
elementos. A questão ambiental, portanto, diz respeito à
qualidade de vida dos grupos humanos. Com a modern-
ASPECTO DA POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA NA CIDADE DE SÃO PAULO
ização – industrialização e urbanização –, o meio cultural
passa a predominar sobre o natural, que se transforma e A poluição do ar é causada pela presença de partículas em
acaba por depender cada vez mais da ação humana, das suspensão e de gases tóxicos, como dióxido e monóxido
modificações impostas pela sociedade. A natureza human- de carbono, dióxido de enxofre, óxidos de nitrogênio, entre
iza-se, deixa de ser uma primeira natureza para se transfor- outros. Os principais agentes poluidores são as indústrias,
mar em segunda natureza. os veículos automotores (automóveis, caminhões, ônibus),
as usinas termelétricas, a queima de matas e, em menor
O Brasil é um dos poucos países que ainda mantém áreas
escala, o aquecimento doméstico a carvão ou lenha. Al-
extensas onde predomina o meio natural, bem como uma
guns tipos de indústria poluem mais a atmosfera: refinaria
variadíssima biodiversidade. Uma dessas áreas – de longe
de petróleo, fábricas de cimento e de produtos químicos,
a mais importante em extensão territorial e biodiversidade
usinas termelétricas, siderúrgicas e metalúrgicas.
total – é a Amazônia, embora venha ocorrendo há anos
um processo acelerado de devastação florestal e de criação Essa poluição forma sobre as cidades uma espécie de ne-
de uma segunda natureza. blina, que torna o ar mais escuro e limita a visão do hori-
zonte. O ar poluído penetra nos pulmões e causa ou agra-
Poluição e deterioração do meio ambiente caracterizam-se va várias doenças, especialmente do sistema respiratório,
pela degradação de elementos fundamentais para uma como bronquite crônica, asma e até câncer pulmonar.
boa qualidade de vida: ar contaminado por gases nociv-
os, rios cheios de lixo e resíduos industriais, cuja água é
imprópria para consumo, barulho excessivo nas cidades, 2.1. Efeito estufa
moradias sem as mínimas condições de higiene, alimentos Efeito estufa é um fenômeno natural de aquecimento térmico
contaminados por produtos tóxicos. da Terra. É imprescindível para manter a temperatura do Pla-
neta em condições ideais de sobrevivência. Sem ele, a Terra
A modernização da sociedade brasileira ocasionou uma
seria muito fria, dificultando o desenvolvimento das espécies.
série de impactos sociais negativos: concentração na dis-
tribuição da renda nacional; situação precária da maioria O efeito estufa acontece da seguinte forma: ao atingirem a
da população; multiplicação de favelas e outras moradias Terra, os raios provenientes do Sol têm dois destinos. Parte
rudimentares nos grandes centros urbanos, entre outros, deles é absorvida e transformada em calor, mantendo o
são consequências ambientais decorrentes do processo de Planeta quente, enquanto outra parte é refletida e direcio-
modernização do Brasil. nada para o espaço, como radiação infravermelha. Cerca

20
de 35% da radiação é refletida de volta para o espaço, tufões, ciclones, secas, extinção de espécies, destruição de
enquanto os outros 65% ficam retidos na superfície do ecossistemas e ondas de calor.
Planeta, em razão da ação refletora de uma camada de
Seguindo a hipótese do aquecimento pela via antropogêni-
gases terrestres, os gases estufa. Eles agem como isolantes
ca, a Organização das Nações Unidas (ONU) convocou
por absorver uma parte da energia irradiada e são capazes
vários países a assinarem um tratado, em 1997, durante a
de reter o calor do Sol na atmosfera, formando uma espé-
realização da ECO-92, no Rio de Janeiro, denominado Pro-
cie de cobertor em torno do Planeta e impedindo que ele
tocolo de Kyoto. Este protocolo determinou que os países
escape de volta para o espaço.
industrializados diminuíssem, entre 2008 a 2012, suas
Nas últimas décadas, contudo, a concentração natural emissões de gases poluentes a um nível 5,2% menor que a
desses gases isolantes vem aumentando demasiadamente média de 1990. Os Estados Unidos, país que mais contribui
pela ação do homem, em razão da queima de combustíveis para esses danos ambientais e, portanto, maior poluente do
fósseis, do desmatamento e da ação das indústrias, o que Planeta, não ratificaram o documento. O aquecimento global
faz aumentar também a poluição do ar. também foi tema recorrente no evento Rio+20, em 2012.
Uma estufa é um lugar úmido, abafado, semelhante a uma O Brasil está em quarto lugar no ranking dos países que mais
sauna, usado para cultivar plantas em desenvolvimento emitem gases de efeito estufa na atmosfera. A maior con-
que precisam de calor e umidade. Os gases do efeito estufa tribuição brasileira, cerca de 80% de nossas emissões, deve-
(GEE), misturados à atmosfera, comportam-se como uma se aos desmatamentos da Amazônia e da mata Atlântica.
estufa, retendo calor solar próximo à superfície terrestre.
2.2. Inversão térmica
Trata-se de um fenômeno atmosférico muito comum
nos grandes centros urbanos industrializados, sobretudo
naqueles localizados em áreas cercadas por serras ou mon-
tanhas. Esse processo ocorre quando o ar frio (mais denso) é
impedido de circular por uma camada de ar quente (menos
denso), provocando uma alteração na temperatura. Outro
agravante da inversão térmica é a retenção da camada de
ar fria nas regiões próximas à superfície terrestre, com uma
grande concentração de poluentes. A dispersão desses
poluentes fica extremamente prejudicada, formando uma
camada acinzentada, oriunda dos gases emitidos pelas in-
dústrias, pelos automóveis e outros emissores.
Esse fenômeno intensifica-se durante o inverno, época em
que, em virtude da perda de calor, o ar próximo à superfície
fica mais frio que o da camada superior, influenciando di-
2.1.1. Gases do efeito estufa (GEE) retamente na sua movimentação. Como durante o inverno
o índice pluviométrico (chuvas) também é menor, há mais
Os principais gases que provocam esse fenômeno são:
dificuldade ainda para a dispersão dos gases poluentes.
ƒ dióxido de carbono (CO2);
É importante ressaltar que a inversão térmica é um fenôme-
ƒ óxido nitroso (N2O); e no natural. É registrada em áreas rurais e com baixo grau
ƒ metano (CH4). de industrialização. No entanto, sua intensificação e seus
efeitos nocivos devem-se ao lançamento de poluentes na
A questão a respeito do aquecimento global mostra-se como
atmosfera, o que é muito comum nas grandes cidades.
arena de intenso debate. Uma parte dos cientistas acredita
que o aquecimento do Planeta possui dinâmica natural, ba- Doenças respiratórias, irritação nos olhos e intoxicações
seada nos ciclos de aquecimento e resfriamento; outra parte são algumas das consequências da concentração de polu-
aposta no fator antropogênica. Estes últimos argumentam entes na camada de ar próxima ao solo. Entre as possíveis
que o efeito estufa causa um superaquecimento, provocan- medidas para minimizar os danos gerados pela inversão
do consequências desastrosas, como o derretimento de parte térmica estão a utilização de biocombustíveis, fiscalização
das calotas polares, mudanças climáticas, elevação do nível de indústrias, redução das queimadas e políticas ambien-
dos oceanos, maior incidência de fenômenos, como furacões, tais mais eficazes.

21
cado pelo aumento do gás carbônico na atmosfera, o as-
faltamento de ruas e avenidas, as massas de concreto e a
ausência de vegetação.
Os grandes edifícios (“plantados” na parte central das ci-
dades) limitam a ação dos ventos e provocam a formação
de verdadeiras “ilhas de calor”. O asfaltamento do solo
urbano dificulta a infiltração das águas das chuvas e
contribui para a ocorrência de enchentes nas épocas de
fortes precipitações.

FENÔMENO DA INVERSÃO TÉRMICA

O aumento dos índices de pluviosidade decorre, sobretu-


do, da grande quantidade de partículas sólidas de poeira
na atmosfera da cidade. Elas funcionam como núcleos de
multimídia: vídeo condensação do vapor de água atmosférico: o vapor passa
FONTE: YOUTUBE para o estado líquido e forma gotas ao se aglutinar em
A Lei da Água: Novo Código Florestal torno das micropartículas, caindo em seguida sob a forma
O filme mostra a importância das florestas para de chuva.
a conservação dos recursos hídricos no Brasil,
e problematiza o impacto do Novo Código 2.4. Chuva ácida
Florestal, aprovado pelo Congresso em 2012, Uma consequência séria da poluição do ar são as chuvas
nesse ecossistema e na vida dos brasileiros. ácidas, que corroem edifícios – por isso, também denomi-
nadas “câncer de mármore” –, carros, monumentos, além
de matar vegetações. São chuvas com poluentes ácidos ou
2.3. Clima urbano: ilhas de calor corrosivos produzidos por reações químicas na atmosfera,
em função da mistura de diversos tipos de gases com a água
Outra alteração ambiental que a industrialização acarreta
existente no ar, originando chuvas com pH mais ácido.
nos centros urbanos é a formação de um microclima es-
pecífico nessa área, denominado clima urbano. O clima de
uma área não depende apenas de condições locais, mas de 2.4.1. Formação de chuva ácida
fatores planetários – massas de ar, circulação atmosférica, Não apenas os habitantes e o meio ambiente das áreas
insolação –, que são os mais importantes para as condições industrializadas ou com grande número de veículos sofrem
climáticas. Todavia, os fatores locais – maior ou menor quan- com as chuvas ácidas. Elas ocorrem também em regiões
tidade de água, de vegetação, de gás carbônico no ar etc. distantes, pois os ventos podem carregar as nuvens poluí-
–, também influenciam o clima, embora sua importância das para longe, onde ocasionam estragos na agricultura,
restrinja-se a áreas pequenas. Por isso, o nome microclima inutilizando colheitas, empobrecendo os solos e até mes-
para designar climas de áreas restritas de algumas cidades. mo matando grande quantidade de peixes nos rios.
De modo geral, as cidades industrializadas são mais quentes
As metrópoles brasileiras são mais poluídas que outras
e mais chuvosas que as áreas rurais vizinhas.
grandes cidades, como Boston (EUA) e Amsterdã (Holan-
A elevação das médias térmicas dos centros urbanos da), por uma série de motivos: falta de zoneamento rígido
ocorre por diversos fatores, tais como o efeito estufa provo- que determine áreas periféricas – nas quais não há ventos

22
que soprem em direção à cidade – para a instalação de in-
dústrias; carência de bons sistemas de transporte coletivo,
o que leva as pessoas a usarem os próprios carros diaria-
mente para o trabalho; falta de controle sobre a emissão
de gases por chaminés e escapamentos de veículos.

PROFETA ISAÍAS, FEITO POR ALEIJADINHO (1730-1814) DANIFICADO


PELA POLUIÇÃO DO AR (CHUVA ÁCIDA), EM CONGONHAS DO CAMPO/MG

É bom ressaltar que medidas paliativas desse tipo, muito


comuns no Brasil, comprovam a incapacidade do poder pú-
blico de equacionar o problema. É preciso investir de fato
numa solução duradoura que não imponha sacrifícios inú-
teis à maioria da população, como a construção de melho-
res sistemas de transporte públicos, principalmente metrôs.

Somente nos anos 1990, estabeleceram-se limites para 2.5. Carência de áreas verdes
essas emissões, com programas de instalação de catali- Um dos problemas ambientais das grandes e das médias
sadores nos carros novos e filtros especiais em chaminés cidades brasileiras é a carência de áreas verdes, de reser-
de fábricas. Em cidades como São Paulo, adotou-se um vas florestais, parques e praças com muitas árvores. Essa
sistema de rodízio de veículos de placas estipuladas, que carência agrava ainda mais a poluição do ar e torna mais
não podem circular em um dia da semana, algo que se restritas as opções de lazer da população, pois tais áreas
pensou inicialmente para o inverno, quando a poluição do são, em geral, locais de recreação, de esportes, de passeios
ar é mais intensa por causa das poucas chuvas e das in- ou de descanso.
versões térmicas, e acabou permanecendo durante todo o
ano. Mas isso obteve um resultado medíocre no trânsito, Estabeleceu-se internacionalmente que são necessári-
que prossegue lento e engarrafado. os no mínimo 16 m2 de área verde por habitante, pro-
porção respeitada em cidades europeias como Londres,
Estocolmo, Copenhague e Viena. Mas no Brasil, isso
é raro: em São Paulo, existem apenas 4,5 m2 de área
verde por habitante.

multimídia: livros
O ambiente urbano –
Francisco Capuano Scarlato
Organizada em três partes, esta obra apresen-
ta ao leitor uma visão abrangente do assunto,
questionando a urbanização e analisando as
do processo de ocupação intensa das áreas VISTA AÉREA DO PARQUE DO IBIRAPUERA, EM SÃO PAULO (2014)
urbanas. Avalia os efeitos da concentração de
indústrias e de veículos na cidade e discute
o grave problema do armazenamento e pro-
3. LIXO E ESGOTO
cessamento do lixo, um dos grandes desafios O lixo produzido nas cidades, cuja coleta é gerenciada
da sociedade de consumo. pela administração local, é classificado como resíduos
sólidos urbanos (RSU). O Brasil produz perto de 150 mil

23
toneladas de lixo por dia (77% de origem residencial). De Protocolo de Kyoto. O projeto pioneiro no Brasil de uti-
acordo com a Abrepe (Associação Brasileira de Empre- lização do biogás como crédito de carbono é o Centro
sas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais), 60,5% dos de Tratamento de Resíduos de Nova Iguaçu, no Estado
municípios brasileiros estão acumulando seus resíduos do Rio de Janeiro.
sólidos de forma inapropriada.
Na maior parte do País, o lixo é enviado para lixões, áreas
onde o lixo simplesmente é empilhado sem cuidados com a
separação de produtos orgânicos e inorgânicos, ou, ainda,
com a reciclagem e o tratamento dos resíduos que podem
contaminar solos, rios e aquíferos. Os locais em que o lixo
recebe uma cobertura com terra são chamados de aterros
controlados, técnica que não acaba com a contaminação,
e apenas inibe o mau cheiro e a proliferação de insetos e
animais vetores de doenças.

Os aterros sanitários têm custo elevado e prazo de uti-


lização, em média, entre 20 e 30 anos. A logística en-
volvida no transporte do lixo para áreas afastadas dos
centros urbanos é um dos componentes mais complexos
de resolver, ainda mais no trânsito congestionado das
grandes cidades. Outra opção dispendiosa do ponto de
multimídia: vídeo vista financeiro é a incineração do lixo, opção muito uti-
lizada em países como Japão e Austrália. As instalações
FONTE: YOUTUBE
modernas de combustão de lixo são projetadas para
Lixo Extraordinário (2010) destruir o lixo e recuperar a energia para produção de
O filme mostra a vida difícil de pessoas que vapor e eletricidade.
vivem literalmente no lixo e que dependem dele
Em 2010, o governo brasileiro instituiu a Lei Nacional dos
para a sobrevivência. O artista Vik Muniz, que
Resíduos Sólidos, que estipulou que, até 2014, todos os
nasceu na classe média baixa paulistana e hoje
municípios deveriam adotar uma destinação correta para
é um dos maiores expoentes das artes visuais
seus resíduos, substituindo todos os lixões por aterros
no mundo, trabalha com colagens e montagens
sanitários. As prefeituras precisam apresentar seus proje-
de materiais diversos para formar retratos.
tos para que o governo federal ofereça parte dos recursos
necessários para a sua implementação. Infelizmente, o Bra-
Os sistemas mais adequados para a destinação do lixo sil não conta com um maior suporte institucional para a
são os aterros sanitários, construídos em locais distantes coleta seletiva do lixo, que representa a coleta de materiais
de mananciais e áreas residenciais. Sua estrutura básica é passíveis de serem reutilizados, reciclados ou recuperados,
constituída por materiais impermeabilizantes, como o PVC, como papéis, plásticos, metais, vidros, entre outros.
para que o chorume – líquido formado pela decomposição Cabe às cooperativas independentes ou ligadas ao pod-
do lixo – não infiltre no subsolo, podendo até mesmo ser er público realizar essa separação do lixo antes de ele ser
reaproveitado pelo sistema de compostagem para pro- enviado para os aterros, ou ao bom senso da população
dução de adubos e fertilizantes naturais. realizar essa separação. Isso sem falar em milhares de pes-
Outra vantagem dos aterros sanitários é a do aproveita- soas que, em condições de subemprego, realizam a árdua
mento dos gases provenientes da decomposição do lixo tarefa de separar os resíduos que podem ser revendidos,
orgânico, dos quais o principal é o metano, classificado como o papelão e o alumínio. A reciclagem e a reutilização
como um dos gases do efeito estufa mais produzido. de materiais que poderiam acumular em lixões, rios e cór-
O biogás é uma fonte de energia renovável e faz parte regos, auxilia ainda na economia de energia usada para a
dos mecanismos de desenvolvimento limpo previstos no transformação das matérias-primas.

24
Os esgotos urbanos geralmente são despejados em rios que que os fabricam, além do reúso de material orgânico que
cortam a cidade, poluindo-os intensamente e transforman- sirva de matéria-prima para adubos ou para biodigestores.
do-os, muitas vezes, em rios fétidos e “mortos” (sem peixes).
Existem também as usinas de reciclagem do lixo, que sepa-
É ainda muito raro no Brasil – salvo para alguns tipos de ram os materiais recicláveis e os enviam para as indústrias
indústria, como a do alumínio, do vidro e do papel, bem correspondentes e transformam o lixo orgânico em adu-
como em algumas poucas cidades – o reaproveitamento bos, por meio de um processo denominado compostagem.
ou a reciclagem do lixo. Isso é possível – e já muito comum Os resíduos não reaproveitados devem ser queimados (em
nos países desenvolvidos –, após a coleta seletiva dos resí- usinas de incineração) ou comprimidos e colocados em
duos. No tocante à reciclagem do alumínio, cabe destacar aterros sanitários, o que evita a proliferação de doenças.
que o Brasil ocupa uma posição de liderança mundial, cuja
reciclagem é quase total. Mas isso ainda é muito pouco,
embora melhor que antes – e na verdade só ocorre com
esse material porque gera lucros. É necessário ampliar essa
reciclagem para praticamente todo o lixo.
De forma resumida, esse processo começa com a sepa-
ração do lixo – papéis, material orgânico, vidros, plásticos,
metais etc. – e a reutilização do material – latas de alumí-
nio, vidro, papéis e papelão – pelas respectivas indústrias CAETETUBA – COOPERATIVA DE RECICLAGEM DE LIXO EM ATIBAIA/SP (2014)

25
4. ABASTECIMENTO DE ÁGUA POTÁVEL 5. PROBLEMAS ECOLÓGICOS
Por fim, um grande problema ambiental e sanitário em DO AMBIENTE RURAL
constante agravamento nos grandes centros urbanos do
País é o abastecimento de água potável. Mesmo no campo, há problemas ambientais, especial-
mente nas áreas que passam por processo de modern-
A rede de água para abastecimento urbano no Brasil ain-
ização agrária – mecanização, uso contínuo de adubos
da é insuficiente para a crescente população das médias
químicos e agrotóxicos (inseticidas, pesticidas, herbicidas,
e grandes cidades. Uma parcela da população, especial-
desfolhantes etc.).
mente a das periferias e bairros pobres, sempre fica à mar-
gem da rede de água tratada. Esse quadro piora com a A primeira alteração ecológica ocasionada pela agricultu-
contaminação das nascentes que abastecem as cidades, ra é a derrubada da vegetação original da área, não raro
graças à expansão da área construída até os mananciais porque atrapalham a ação dos tratores e demais máquinas
ou as represas, com desmatamento e poluição por resídu- agrícolas. Além de exterminar a fauna dependente da veg-
os, a água torna-se cada vez mais difícil e menos saudável etação, o desmatamento deixa trabalhadores e o gado sem
nas grandes cidades. sombra para se abrigar do sol quente nos dias de verão.

Distribuição do consumo de água no Brasil O uso intenso de agrotóxicos na agricultura e na pecuária


para combater pragas que reduzem as colheitas ou a
produtividade do gado tem consequências negativas. Es-
ses produtos químicos agem eficazmente durante algum
tempo; a longo prazo, acabam por multiplicar as pragas,
uma vez que eliminam micro-organismos benéficos às
plantas, predadores naturais das pragas. Com o tempo,
insetos e pragas nocivos ao cultivo ou ao gado passam
por um processo de seleção natural – a expansão das
variedades provoca mutações genéticas – e adquirem
imunidade em relação ao produto químico utilizado. Nas
regiões de climas quentes (equatoriais e tropicais), o forte
Brasil – domicílios sem rede de esgotos e abastecimento de água calor e umidade elevada favorecem a proliferação de mi-
Domicílios
Domicílios
Domicílios Domicílios cro-organismos e insetos.
Total de sem esgoto
sem água sem sem coleta
domicílios ou fossa
encanada eletricidade do lixo
séptica

9,4 milhões 16,1 7,5


53,1 1,4 milhão
(17,9% milhões milhões
milhões (2,6%)
do total) (30,3%) (14%)

APLICAÇÃO DE AGROTÓXICOS EM PLANTAÇÃO DE TOMATE,


EM PRESIDENTE OLEGÁRIO/MG (2014)

Para tentar conter essas pragas, são utilizados outros


tipos de produto químico em maior quantidade, mas o
resultado é a repetição do mesmo ciclo. Resultado: con-
taminação dos alimentos produzidos pela agropecuária
– verduras, frutas, cereais, leite –, que apresentam resídu-
multimídia: música os de inseticidas e outros produtos químicos nocivos à
FONTE: YOUTUBE saúde – mercúrio, fosfatos. Mesmo as carnes bovina e
- As Forças da Natureza (samba, 1977) – de frango contêm, muitas vezes, resíduos de hormônios e
João Nogueira e Paulo César Pinheiro outros remédios fornecidos ao animal para que ele cresça
mais rapidamente e não contraia doenças.

26
O uso excessivo de adubos químicos provoca ainda al- boa parte dos micro-organismos e minhocas, tão impor-
terações ambientais negativas. Com as chuvas, boa parte tantes para a fertilidade do solo. Por isso, a produtividade
deles é carregada até os rios, poluindo-os; outras vezes, a agrícola da terra no Brasil, de maneira geral, é quase sem-
água pluvial infiltra-se no subsolo, levando até os lençóis pre inferior à dos Estados Unidos ou da Europa, mesmo
de água subterrâneos elementos como cobre, nitratos, fosf- utilizando técnicas de cultivo idênticas.
atos etc., que comprometem a qualidade da água usada
De acordo com o Instituto Brasileiro de Defesa do
para o abastecimento humano.
Consumidor (IBDC), grande parte dos alimentos cul-
tivados no Brasil viola as regulamentações nacionais.
Desde 2008, o País é o campeão mundial de uso de
agrotóxicos. Um relatório da Anvisa de 2010 indicou
que o produto mais contaminado era o pimentão, com
90% das amostras comprometidas. Outros produtos
que indicaram elevados índices em suas respectivas
amostras foram o morango (63%), o pepino (58%), a
alface (55%) e a cenoura (50%). Beterraba, abacaxi,
couve e mamão estavam contaminados em 30% das
amostras. Além disso, a pesquisa indicou que muitos
deles apresentavam contaminação por substâncias não
multimídia: vídeo autorizadas pelo governo. Ainda segundo o IBDC, desde
FONTE: YOUTUBE 2007, quando o Ministério da Saúde do Brasil começou
Crude: the real price of oil a manter uma série de registros mais recentes, o núme-
ro de casos relatados de intoxicação humana causada
A história começa há quase 40 anos, mas o cine-
por agrotóxicos mais que dobrou – de 2178, naquele
asta Joe Berlinger se deu conta de que “deveria
ano, passou para 4537, em 2013. O número anual de
fazer algo” quando viu os habitantes da Amazô-
mortes ligadas ao envenenamento por esses produtos
nia equatoriana comendo atum enlatado porque
subiu de 132 para 206. Especialistas em saúde pública
o pescado dos rios estava muito contaminado.
dizem que as cifras reais são maiores, porque o acom-
Seu documentário, intitulado Crude (tanto pode
significar petróleo quanto cruel), é a última arma panhamento continua sendo incompleto.
na guerra de relações públicas que no Equador A contaminação do solo regularmente acaba con-
cerca o processo judicial no qual a companhia taminando os mananciais hídricos subterrâneos, por
de petróleo Chevron é acusada de derramar 70 infiltração até o lençol freático. E carregadas pela chu-
bilhões de litros de líquidos tóxicos, deixar 916 va as substâncias tóxicas chegam até os rios e lagos,
fossos com dejetos e queimar milhões de metros continuando ali a exercer seus impactos perniciosos à
cúbicos de gases contaminantes. saúde humana e à biodiversidade. Tal contaminação,
além da danosidade que representa ao meio ambi-
ente, constitui um evento de difícil reparação, pois,
Apesar disso, despreza-se o uso de adubos orgânicos –
dependendo da extensão do dano, sua descontami-
excrementos, restos de vegetais etc. –, melhores e menos
nação ensejaria um processo de reconstituição com-
poluidores. Os adubos químicos são fabricados com pro-
plexo e muito dispendioso.
dutos derivados do petróleo e de substâncias importadas.
Na realidade, a agropecuária brasileira de maneira geral Os rios, no meio rural, não são poluídos apenas pelo ex-
não está adaptada às condições naturais do País, ela segue cesso de adubos químicos e agrotóxicos, mas também
um modelo importado da Europa ou dos Estados Unidos, por indústrias lá instaladas ou em pequenas cidades. As
onde reinam condições naturais diversas daquelas de uma usinas de açúcar e destilarias de álcool estão entre os
área tropical. maiores poluidores dos cursos de água, onde lançam
Há problemas na agricultura moderna dos países tem- resíduos, sobretudo o vinhoto, que poderiam ser trans-
perados que se tornam mais graves aqui. É o caso dos formados em adubos orgânicos. Indústrias de papel e
agrotóxicos e dos adubos químicos. Técnicas que dão celulose, localizadas em povoados rurais ou pequenas
certo naqueles países fracassam nos trópicos. O excesso cidades, graças à proximidade da matéria-prima (a ma-
de adubos químicos e de agrotóxicos, além de poluir as deira), poluem bastante os rios pelos detritos que neles
águas subterrâneas e os rios vizinhos, acaba por eliminar são despejados.

27
2. Mato Grosso, Pará e Rondônia são os campeões em des-
5.1. Atual ocupação da Amazônia matamentos anuais, seguidos pelo Maranhão, que produz
desmatamentos maiores que o imenso Estado do Amazo-
nas. Isso quer dizer que as taxas anuais de desmatamentos
são maiores nas bordas da Amazônia brasileira, tanto a
leste (Pará e Maranhão) quanto, principalmente, a sudeste
(Rondônia e Mato Grosso), por onde as atividades agro-
pecuárias e madeireiras iniciam sua expansão.
Outro elemento a assinalar é o de muitos casos de parques
ou reservas florestais – sem esquecer sequer territórios
indígenas demarcados – que não escapam das imensas
queimadas ou dos cortes de árvores pelas madeireiras.
São áreas enormes de difícil fiscalização, pelo número in-
suficiente de fiscais e guardas florestais mal equipados.
Houve, e há ainda, certa conivência ou corrupção de autori-
dades locais, inclusive chefes indígenas e de fiscais. Finge-
se não enxergar os desmatamentos ou, como ocorreu
em alguns casos denunciados, participa-se desse pro-
Um dos mais graves problemas ecológicos que vêm ocor-
cesso de destruição do bioma como beneficiário.
rendo no Brasil ultimamente refere-se à devastação da flo-
resta Amazônica, com inúmeras consequências negativas: É difícil calcular com exatidão a extensão da floresta Ama-
zônica já derrubada para o aproveitamento de madeira ou
ƒ Inundação de partes da mata e expulsão de indígenas
plantação de capim para a pecuária extensiva. Alguns au-
e de populações ribeirinhas, em virtude da construção
tores estimam em apenas 10% ou 12% da biomassa origi-
de hidrelétricas, que formam gigantescas represas no
nal; outros chegam a 30%, mas calcula-se que, a cada ano,
relevo aplainado.
ocorra um desmatamento de, no mínimo, 11 mil km2, ou 1,1
ƒ Perda de biodiversidade e extinção de certas espécies milhão de hectares. A tabela a seguir mostra os dados de
animais, como jacaré, tracajá, e inúmeros peixes e veg- desmatamento total na Amazônia brasileira e por Estado.
etais, como mogno e pau-rosa.
Essa ocupação tem sido feita geralmente por grandes em-
ƒ Expulsão de indígenas e posseiros. presas, nacionais ou estrangeiras, que aproveitam os incen-
ƒ Aumento da quantidade de gás carbônico na atmos- tivos fiscais concedidos pelo governo. Às vezes, a compra
fera provocado por grandes queimadas. da terra é puramente especulativa – a empresa não está
interessada em aproveitá-la de modo produtivo, mas em
ƒ Empobrecimento dos solos pela exposição direta à
esperar sua valorização com a construção de estradas ou
erosão pluvial.
cidades, com uma possível descoberta de minérios ou até
ƒ Alterações climáticas. mesmo porque o preço da terra, em geral e a longo prazo,
Com base nos dados do Instituto Nacional de Pesqui- supera a inflação.
sas Espaciais (Inpe), que, desde 1977, monitora as
queimadas na Amazônia por meio de imagens en-
viadas do espaço por alguns satélites, cabe destacar
dois fatos:
1. Os desmatamentos anuais em toda a Amazônia brasile-
ira são extremamente volumosos: de aproximadamente
11 mil km2 até mais de 26 mil km2, o que significa uma
área equivalente ao Estado de Sergipe (21,9 mil km2) ou
ao dobro do território da Jamaica (10,9 mil km2). Esses
desmatamentos intensificaram-se nas décadas de 1970 e
1980, tornaram-se um pouco menores na década de 1990
e subiram novamente neste novo século, tendo atingido o
multimídia: sites
ponto alto em 2004, um dos mais catastróficos anos para www.ibama.gov.br/
a floresta Amazônica, com uma multiplicação das queima- www.mma.gov.br/
das e demais formas de desmatamento.

28
VIVENCIANDO

No dia a dia, desde o despertar até o adormecer, cada ação individual tem efeitos sobre o ambiente. Somos seres
humanos multidimensionais e desempenhamos vários papéis. Cada um dos papéis que exercemos na vida diária –
como educadores, trabalhadores, contribuintes, lideres etc. – oferece oportunidades para a ação ecológica. A vida
cotidiana é pródiga em oportunidades de ação consciente. Cada um pode, a cada momento, dar sua contribuição
pessoal para reduzir a pressão sobre a natureza: na vida pessoal, por meio dos hábitos alimentares, da educação dos
filhos, dos hábitos de consumo, das práticas frugais, vivendo conforme os princípios da simplicidade voluntária, da
austeridade feliz e do conforto essencial.

fluvial de barcos com carga (mercadorias) em um trecho


5.2. Poluição do pantanal de 3,4 mil km, de Cáceres, no Mato Grosso, a Nueva
A área de 220 mil km2 que abrange o oeste do Mato Gros- Palmira, próxima a Montevidéu, no Uruguai. O trecho
so do Sul e um pequeno trecho no sudoeste do Mato Gros- brasileiro tem cerca de 1,2 mil km. Já iniciada e com
so, banhado pela bacia do rio Paraguai é conhecida como obras atrasadas por embargos de natureza ambiental,
pantanal mato-grossense. É uma paisagem natural muito essa hidrovia barateia o custo dos transportes entre
rica e complexa, que lembra ora aspectos da Amazônia, ora os países fundadores do Mercosul – Brasil, Argentina,
do cerrado e até da caatinga – com plantas xerófitas – ou Uruguai e Paraguai. O deslocamento de cargas por
da mata das araucárias – como a erva-mate. navegação é bem mais econômico do que por rodovias.
Trata-se de uma área de planície aluvial, que na época das No entanto, existem sérios problemas ambientais que
chuvas fica em parte inundada pelas enchentes dos rios serão – alguns dos quais já estão sendo – ocasionados
que a banham – existem lá terras altas além das planícies por essa obra de dragagem (retirada de sedimentos)
alagáveis. A fauna local é considerada a mais rica e variada do rio Paraguai e retificação dos trechos mais sinuosos
de todo o continente americano; a própria ONU conside- para viabilizar a navegação de grandes barcos.
rou o pantanal um dos maiores patrimônios ecológicos da Será preciso dobrar ou até triplicar, em certos trechos, a
humanidade. Mas a destruição de sua fauna tem sido in- profundidade do rio, para que os barcos não encalhem
tensa nos últimos anos: jacarés mortos para exportar sua na época das secas, bem como construir canais largos e
pele; garças caçadas para que suas penas possam enfeitar profundos em outros trechos, para permitir a passagem
chapéus femininos; lontras, ariranhas e outras espécies de barcaças carregadas de grãos, minérios e outros pro-
animais em desaparecimento pela agricultura com agrotó- dutos. Isso tudo, argumentam especialistas, terá impactos
xicos, e a construção de algumas rodovias que, como sem- ambientais negativos, como a redução da área atual do
pre, aceleram o desmatamento de suas margens e facilitam pantanal e o desaparecimento de inúmeras espécies de
a ocupação desordenada desse espaço. animais e vegetais.
Essas obras devem aumentar o fluxo da água do rio, sua
5.2.1. Brasil – pantanal mato-grossense
vazão e velocidade, com redução da quantidade de água
estocada nas áreas alagadas, que constituem o habitat ou
refúgio para a rica fauna e flora locais. Pode ocorrer tam-
bém considerável empobrecimento da biodiversidade dessa
região e prejuízos para as comunidades tradicionais do pan-
tanal, que vivem da pesca, e para o turismo ecológico, que
gera cerca de 15 mil empregos diretos e indiretos na região.
Isso tudo provocou forte reação contrária de organizações
Outra questão polêmica a respeito do pantanal é a hi- ambientalistas nacionais e internacionais e fez com que o
drovia Paraguai–Paraná, projetada para a navegação Banco Mundial, que deveria financiar essa obra, reconsid-

29
erasse e desistisse do empreendimento. Mas os países do
Mercosul continuam com as obras de dragagem, de modo
mais lento e menos profundas, argumentando que elas não Cáceres
vão modificar tanto e quanto se previa, ou seja, não vão BOLÍVIA
BRASIL
ocasionar todo o impacto ambiental negativo apregoado.
Corumbá

PARAGUAI
Impactos sobre o
ecossistema pantanal
ƒ Pecuária extensiva: competição com a fauna nati-
Assunção
va; desequilíbrios. ARGENTINA

ƒ Pesca e caça predatórias: redução dos estoques


pesqueiros; desequilíbrios; risco de extinção de
Santa Fé
espécies animais (jacarés e outras). URUGUAI

ƒ Garimpo de ouro e pedras preciosas: erosão, as- Nueva Palmira


soreamento e contaminação dos cursos de água Buenos Aires
nas cabeceiras dos rios que formam a bacia do rio
HIDROVIA PARAGUAI–PARANÁ
Paraguai, com impactos diretos no pantanal.

ƒ Turismo desordenado e predatório: desequilíbrios;


estresse e morte de aves provocados pelo fogos
causadores de revoadas, por plásticos e garrafas
descartados e ingeridos pelos animais.

ƒ Aproveitamento dos cerrados: manejo agrícola in-


adequado de lavouras que resulta em erosão dos
solos e aumentam significativamente o sedimen-
to de vários rios que deságuam no pantanal; con-
taminação dos rios com biocidas e fertilizantes.

ƒ Plantio de cana-de-açúcar e instalação de usinas


de açúcar e de álcool no entorno da planície do
pantanal: prejuízos à preservação ambiental; risco
de contaminação de rios que correm do planalto TRANSPORTE DE CARGAS PELA HIDROVIA PARAGUAI–PARANÁ, MS (2014)

para o pantanal e do aquífero para o pantanal,


como também do aquífero Guarani – em protesto 5.3. Poluição no litoral
contra um projeto do governo do Estado de Mato A poluição do litoral é outro problema ambiental sério no
Grosso do Sul, que permitia a instalação de novas Brasil. Um dos maiores poluentes dos oceanos é o petróleo,
usinas de álcool e açúcar na região. O ambientalis- oriundo de vazamentos provocados por acidentes com
ta Francisco Ancelmo Gomes de Barros, conhecido navios petroleiros ou com oleodutos litorâneos – inúmeros
como Francelmo, morreu em 13 de novembro de deles já ocorreram no Brasil, especialmente em São Se-
2005 depois de atear fogo ao próprio corpo. bastião e Bertioga (SP). Cerca de 60% do petróleo que o
A grande quantidade de água do pantanal origina-se Brasil consome passam pelo terminal marítimo da Petro-
de outras fontes e regiões: das chuvas e dos rios que bras, localizado em São Sebastião. Quando ocorre algum
nele deságuam, principalmente da bacia do Alto Para- acidente ou vazamento de petróleo em direção ao mar, sur-
guai. Por isso a necessidade de uma política global de
gem nas praias vizinhas peixes mortos e manchas de óleo
recuperação e preservação dos recursos hídricos que
que escurecem a areia, a chamada “maré negra”.
o abastecem. Além disso, indústrias químicas localizadas no litoral
ATLAS DO MEIO AMBIENTE DO BRASIL. BRASÍLIA: TERRA VIVA – costumam jogar seus detritos no mar, alguns extrema-
SERVIÇO DE PRODUÇÃO DE INFORMAÇÃO. 1994, P. 93. ADAPTADO. mente nocivos e causadores de grande mortandade da
fauna marinha.

30
Litoral brasileiro O ser humano é talvez a única das espécies vivas que tem
a capacidade de afetar todo o ambiente da Terra, como
as observações recentes têm mostrado com superabun-
dância de evidências e seus atos; da mesma maneira
sinérgica e cumulativa, têm efeitos em múltiplas esferas.
Há muitos séculos, quando a população era pequena,
o impacto da atividade humana foi na maior parte das
vezes absorvido pela natureza, mas essa capacidade de
neutralização já foi ultrapassada, e hoje a Terra dá sinais
nítidos de esgotamento. O Brasil, riquíssimo em recursos
naturais e dono de uma natureza exuberante, não é ex-
ceção nesse estilo de vida insustentável, e todos os seus
VAZAMENTO DE PETRÓLEO NA BACIA DE CAMPOS, RJ (2011) biomas estão ameaçados por um longo elenco de agres-
sões que se combinam e produzem efeitos multiplicados.
Basta lembrar que a maioria da população do País, bem
como a maioria de suas metrópoles, concentra-se no lito-
ral ou em áreas relativamente próximas. Dos 17 Estados
banhados pelo mar, 14 têm suas capitais no litoral. Isso
implica uma ocupação humana da orla marítima que
degrada recursos: lançamento de lixo e esgotos no mar,
derramamento de petróleo, resíduos industriais, destruição
de vegetação litorânea – mangues, coqueirais, matas de
restinga – e de ilhas ou recifes de coral.

5.4. Combinação de multimídia: livros


ameaças ambientais
São importantes conceitos introdutórios no estudo da proble- Geomorfologia Ambiente e Planejamento –
mática ambiental os de sinergia e acumulação. Por definição, Jurandyr Luciano Sanches Ross
sinergia é o efeito ou força ou ação resultante da conjunção Enfoca a Geomorfologia entendida como
simultânea de dois ou mais fatores, de forma que o resultado disciplina que estuda o relevo sua geometria,
é superior à ação dos fatores, individualmente, sob as mes- gênese, dinâmica e idade. Com vistas ao pla-
mas condições. Em outro passo, são cumulativos os impactos nejamento ambiental, estuda a cartografia
ou efeitos capazes de ensejarem alteração significativa na di- geomorfológica e a análise do relevo. Traça
nâmica ambiental a partir da acumulação de impactos locais. também um histórico dos avanços da disci-
A natureza é um sistema todo integrado, em que cada um plina e descreve as propostas brasileiras e
de seus elos desempenha um papel específico no equilíbrio estrangeiras de aplicação da Geomorfologia.
ecológico geral, que pode ser muito abrangente ou bas- Obra pioneira no Brasil, escrita com criativi-
tante limitado, conforme a espécie. Isso significa que a dade e clareza. Recomendada para alunos e
supressão ou declínio de uma certa espécie vai, inevitavel- professores nas áreas de Geologia, Geogra-
mente, afetar outras que dela dependiam em termos de fia, Agronomia, Ecologia, Engenharia Flores-
alimentação, reprodução, proteção ou outro fator. Algumas tal, entre outras.
espécies têm funções restritas e o efeito do seu desaparec-
imento é pequeno; não obstante, ele existe.
Outras, porém, exercem influência sobre várias espécies
e o seu desaparecimento desencadeia uma cascata de
eventos que pode levar à desestruturação de todo um
ecossistema e ao seu colapso final. Dessa interatividade
inerente ao funcionamento da natureza, decorre que
muitas ameaças ambientais, senão todas, não ficam lim-
itadas à sua origem, mas se interpenetram, interagem,
acumulam e se reforçam mutuamente, produzindo efeitos
que podem ser imprevisíveis, incontroláveis, de vasta es-
cala e longa duração, e às vezes irreversíveis.

31
CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS

Um dos objetivos essenciais da educação ambiental é permitir que os alunos identifiquem os problemas relacionados
à presença antrópica no ambiente, tornando-os aptos para buscarem as soluções mais adequadas para os impactos
da sociedade contemporânea no meio natural. Para obter uma visão mais abrangente e completa dos problemas e
das alternativas de solução que a educação ambiental (EA) exige, faz-se necessário a inserção da interdisciplinari-
dade na prática pedagógica. O enfoque interdisciplinar preconiza a ação conjunta das diversas disciplinas em torno
de temas específicos. Porém, na maior parte das escolas de ensino fundamental e médio, o meio ambiente é estuda-
do de forma dividida. A organização do conhecimento acontece através das disciplinas que abordam os elementos
de forma parcial, resultando numa concepção fragmentada de mundo, o que dificulta a formulação de uma proposta
geral de ensino, resultando numa mera repetição de conteúdos. A visão interdisciplinar pode oferecer opções mais
adequadas e eficazes. Um bom exemplo é insistir na eficácia do meio como estratégia de aprendizagem. Educar para
o meio significa ver a natureza com um novo olhar.

ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM

Habilidade

28 Relacionar o uso das tecnologias com os impactos socioambientais em diferentes contextos histórico-geográficos.

Há uma espécie de consenso entre muitos ambientalistas, quando o assunto é a questão da degradação ambien-
tal, de que a ciência e tecnologia podem ser grandes mitigadores, restauradoras e até mesmo salvadoras de todos
os nossos problemas. Podemos, por exemplo, analisar a questão do aquecimento global antrópico, cuja principal
causa é a queima de combustível fóssil, emitida por indústrias e automóveis. Neste caso, é muito difundida que a
substituição por meios de produção menos poluentes e a produção de carros elétricos, por exemplo, podem trazer a
miraculosa solução para esta questão socioambiental. No entanto, há algumas reflexões que devemos fazer, antes
de aceitar esse discurso. Ciência e tecnologia são, simultaneamente, parte do problema e parte da solução, ou seja,
são criadoras de risco, mas também são indispensáveis à detecção e ao alívio de seus efeitos nocivos. Ou seja, ciência
e tecnologia assumem um papel ambíguo na crise ambiental, pois, por um lado, elas podem multiplicar os impactos
sobre o ambiente através da exploração econômica e agravar a situação da degradação e, por outro, ela pode pro-
mover e legitimar a divulgação de conhecimentos científicos, de modo a reduzir esses problemas ambientais. Ciência
e tecnologia, portanto, assumem, dessa forma, uma posição de não neutralidade, uma vez que elas encontram-se
relacionadas a valores e interesses dominantes em uma determinada sociedade, servindo tanto para a mitigação de
problemas ou destruição do ambiente.

32
Modelo
(Enem) A irrigação da agricultura é responsável pelo consumo de mais de 2/3 de toda a água retirada dos rios,
lagos e lençóis freáticos do mundo. Mesmo no Brasil, onde achamos que temos muita água, os agricultores que
tentam produzir alimentos também enfrentam secas periódicas e uma competição crescente por água.
MARAFON, G.J; ET AL. O DESENCANTO DA TERRA: PRODUÇÃO DE ALIMENTOS, AMBIENTE E SOCIEDADE. RIO DE JANEIRO: GARAMOND, 2011.

No Brasil, as técnicas de irrigação utilizadas na agricultura produziram impactos socioambientais como:


a) redução do custo de produção.
b) agravamento da poluição hídrica.
c) compactação do material do solo.
d) aceleração da fertilização natural.
e) redirecionamento dos cursos fluviais.

Análise expositiva - Habilidade 28: O uso intensivo da água em alguns rios e a modificação de seus cursos
E em alguns casos provocam impactos socioambientais como a redução da biodiversidade fluvial, a modificação da
vegetação do entorno (matas ciliares) e até a escassez de água para o consumo humano.
Observação: trata-se de uma questão polêmica, no que se refere à formulação e ao gabarito. O gabarito oficial é
[E], embora vários professores que fizeram a resolução tenham questionado a validade e optado pela [B]. O texto
trata do uso intensivo da água para a agricultura através da irrigação. O impacto da irrigação em si está na retirada,
por vezes, excessiva de volume de água, mas pouco interfere na qualidade da água; portanto, não causa “polui-
ção”, “contaminação”, que é causada por fertilizantes, agrotóxicos etc., o que torna a alternativa [B] incorreta ou,
pelo menos, incompleta. Deve-se levar em consideração que a “análise do texto é fundamental na resolução das
questões do Enem”.
A alternativa [E] foi definida como “mais correta”, uma vez que está mais vinculada ao texto; o autor usou “redi-
recionamento dos cursos fluviais” para referir-se à retirada em excesso de água de rios, represamentos (para uso
agrícola ou até para a piscicultura), construção de pequenos canais artificiais, o que costuma ocorrer no Brasil em
relação a rios até de pequeno porte. O problema é que a expressão é exagerada, pois nenhum rio é “redirecionado
por inteiro”. Portanto, para a questão ser totalmente correta, teria que ser modificada para “redirecionamento de
parte da água dos cursos fluviais“. Embora polêmica, merece reflexão.
Alternativa E

33
DIAGRAMA DE IDEIAS

PROBLEMAS AMBIENTAIS
DO BRASIL

PROBLEMAS
ATMOSFÉRICOS

INVERSÃO TÉRMICA CLIMA URBANO EFEITO ESTUFA

• CHUVA ÁCIDA
• ILHAS DE CALOR

PROBLEMAS AMBIENTAIS
NAS CIDADES

CARÊNCIA DE POLUIÇÃO DOS


LIXO E ESGOTO
ÁREAS VERDES MANANCIAIS

34
AULAS PROTOCOLOS E CONFERÊNCIAS
21 E 22 PARA O MEIO AMBIENTE
COMPETÊNCIA: 6 HABILIDADE: 30

1. A QUESTÃO AMBIENTAL A consciência e as ideias ecológicas difundidas e sistemati-


camente discutidas datam da década de 1970, quando
O processo de industrialização provocou sérios proble- grupos não restringiam suas discussões apenas às questões
mas ambientais que geram indignação na sociedade ambientais. Eram e são tratados também aspectos soci-
civil. Em busca de qualidade de vida e de formas de ais e culturais, opções desenvolvimentistas vinculadas ao
convívio harmoniosas com a natureza, desenvolvem-se capitalismo internacional, bem como suas implicações e
estudos e críticas ao modelo de produção e consequen- questões locais.
te degradação ambiental. O conjunto da sociedade – expresso pelas ONG, pelos
movimentos sociais e pela opinião pública, que exercem
pressão nos meios de comunicação de massa – tem agido
junto aos governos e às instâncias parlamentares e insti-
tucionais, para que proponham, adotem e façam cumprir
as leis e assinem tratados e acordos internacionais relativos
às políticas de educação ambiental e de preservação do
meio ambiente.
Alguns fatos importantes, em diferentes décadas, contribuíram
para o surgimento e fortalecimento da educação ambiental,
HÁ MUITO TEMPO, AS INDÚSTRIAS SÃO RESPONSÁVEIS PELA POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA.
bem como para a difusão da consciência ambiental.

2.1. Conferência de
Estocolmo (1972)
A Conferência de Estocolmo, organizada pela ONU, teve
como objetivo promover a discussão da relação entre
desenvolvimento e meio ambiente; a partir de então nasce
o conceito de ecodesenvolvimento.
Essa foi, basicamente, a primeira grande reunião organi-
zada para tentar preservar o meio ambiente e controlar
o consumo desordenado de bens naturais pelos países.
multimídia: vídeo Essa conferência é considerada o grande marco do movi-
FONTE: YOUTUBE
mento ecológico, haja vista que reuniu, pela primeira vez,
países industrializados e em desenvolvimento para dis-
A Lei da Água - Filme Completo
cutir problemas relativos ao meio ambiente.
A Conferência de Estocolmo Sobre o Meio Ambiente Humano

2. PROTOCOLOS INTERNACIONAIS
inaugurou o conflito diplomático entre os países desenvolvidos
– responsáveis pela maior parte da poluição global e dispostos
a atrair a participação dos demais países na busca de soluções
PARA O MEIO AMBIENTE conjuntas – e os países em desenvolvimento – desinteressa-
Um dos resultados da “explosão” da tão discutida con- dos em adotar medidas que poderiam limitar seu potencial
sciência ecológica por parte das sociedades tem fomenta- de desenvolvimento econômico e despreocupados com prob-
do a formação de mais organizações não governamentais lemas ambientais. Em virtude desse impasse, o encontro na
com o objetivo de preservar a natureza. capital sueca foi marcado pela disputa entre os países que

35
defendiam a ideia do “desenvolvimento zero”, e os países que
apoiavam a ideia do “desenvolvimento a qualquer custo”. Na Conferência de Estocolmo, o homem era o foco
central na relação com o ambiente, pois dele se apro-
Os países desenvolvidos estavam preocupados com os
priava para se desenvolver.
efeitos da devastação ambiental sobre a Terra, propondo
um programa internacional voltado para a conservação
dos recursos naturais e energéticos do planeta, pregando
que medidas preventivas teriam que ser encontradas ime-
diatamente, para que se evitasse um grande desastre num
futuro próximo. Por outro lado, os países em desenvolvi-
mento argumentavam que se encontravam assoberbados
pela miséria, com graves problemas de moradia, sanea-
mento básico, atacados por doenças infecciosas e que ne- “O homem é, ao mesmo tempo, obra e construtor do
cessitavam desenvolver-se economicamente. meio ambiente que o cerca, o qual lhe dá sustento
material e lhe oferece oportunidade para desenvolv-
Assim, as propostas apresentadas foram imediatamente er-se intelectual, moral, social e espiritualmente. Em
contestadas pelos países mais pobres que buscavam con- larga e tortuosa evolução da raça humana neste pla-
stituir uma base econômica calcada principalmente na
neta, chegou-se a uma etapa em que, graças à rápida
industrialização, e a Conferência ficou definitivamente
aceleração da ciência e da tecnologia, o homem ad-
marcada pela disputa entre o “desenvolvimento zero” e
quiriu o poder de transformar, de inúmeras maneiras e
o “desenvolvimento a qualquer custo”.
em uma escala sem precedentes, tudo que o cerca. Os
Embora não tenha sido possível atingir um acordo que esta- dois aspectos do meio ambiente humano, o natural e
belecesse metas concretas a serem cumpridas pelos países, o artificial, são essenciais para o bem-estar do homem
durante a Conferência foi concebido um importante docu- e para o gozo dos direitos humanos fundamentais, in-
mento político chamado Declaração da Conferência das clusive o direito à vida mesma.” (Texto transcrito da
Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano (em inglês, Declaração de Estocolmo de 1972)
Declaration of the United Nations Conference on the Human
Environment), adotado em 6 de junho de 1972. Trata-se do
primeiro documento do direito internacional a reconhecer o O governo brasileiro, na Conferência de 1972, liderou o
direito humano a um meio ambiente de qualidade, que é bloco de países em desenvolvimento que tinham posição
aquele que permite ao homem viver com dignidade. de resistência ao reconhecimento da importância da prob-
Além disso, a Conferência teve um papel inegável em in- lemática ambiental (sob o argumento de que a principal
serir a problemática ambiental entre as prioridades dos poluição era a miséria) e que se negavam a reconhecer o
governos dos países, e na conscientização da população, problema da explosão demográfica. A posição do Brasil –
pois, pela primeira vez, o mundo dirigiu sua atenção para na época sob o governo militar – era a de “Desenvolver
os problemas do crescimento da população absoluta glob- primeiro e pagar os custos da poluição mais tarde“, como
al, da poluição atmosférica e da intensa exploração dos declarou o ministro Costa Cavalcanti, na ocasião.
recursos nativos.

multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE
Lixo extraordinário - documentário

36
A visão na época era a de que os problemas ambientais
eram originados da pobreza, que era a principal fonte de
2.3. Conferência Intergovernamental
poluição, e que dispor de mais alimentos, habitação, as- em Educação Ambiental (1977)
sistência médica, emprego e condições sanitárias tinha Foi um dos eventos mais importantes para a educação
mais prioridade do que reduzir a poluição da atmosfera. ambiental em âmbito mundial, realizado na cidade de
Ou seja, o desenvolvimento não poderia ser sacrificado Tibilisi, na Georgia, e que estabeleceu os critérios para
por considerações ambientais, dado que essa preocupação montagem dos programas de educação ambiental, ou
poderia prejudicar as exportações dos países em desen- seja, o processo educativo deveria ser orientado para a res-
volvimento e subdesenvolvidos. olução dos problemas concretos do meio ambiente, através
de enfoques interdisciplinares e de participação ativa e re-
sponsável de cada indivíduo e da coletividade.
2.2. Secretaria Especial do
Meio Ambiente (1973) Baseado na Conferência de Tbilisi, são
finalidades da Educação Ambiental:
Em 1973, foi criada a Secretaria Especial do Meio Ambi-
ente (Sema). Na época, o Brasil vivia a fase do ”milagre 1. Promover a compreensão da existência e da im-
econômico”, com grandes obras e empreendimentos fo- portância da interdependência econômica, social,
política e ecológica.
mentadas pelo governo federal, e falar em reduzir o cresci-
mento e seus consequentes impactos não agradou a dele- 2. Proporcionar a todas as pessoas a possibilidade
gação brasileira em Estocolmo. Inclusive, um dos membros de adquirir os conhecimentos, o sentido dos va-
brasileiros que participava da Conferência chegou a dizer lores, o interesse ativo e as atitudes necessárias
que “se os países ricos não quisessem as indústrias por para protegerem e melhorarem o meio ambiente.
causa da poluição, todas elas poderiam se transferir para 3. Induzir novas formas de conduta, nos indivíduos e
o Brasil“. na sociedade, a respeito do meio ambiente.
Essa e outras declarações de autoridades nacionais ger- Objetivos de Tbilisi:
aram enormes repercussões na opinião pública, e para
a) Consciência: ajudar os grupos sociais e os in-
tentar contornar os efeitos negativos da posição oficial do
divíduos a adquirirem consciência do meio ambi-
governo brasileiro na Conferência de Estocolmo, o presi-
ente global e ajudar-lhes a sensibilizarem-se por
dente Emílio Garrastazu Médici determinou que algo fosse essas questões.
feito. Assim, o então secretário-geral do Ministério do In-
b) Conhecimento: ajudar os grupos e os indivíduos
terior, Henrique Brandão Cavalcanti, foi designado para a
a adquirirem diversidade de experiências e com-
elaboração do decreto que instituiria a primeira entidade
preensão fundamental do meio ambiente e dos
nacional na defesa ambiental, a Sema.
problemas anexos.
A Sema desenvolveu diversas ações e projetos que consol- c) Comportamento: ajudar os grupos sociais e os
idaram uma sólida base para a construção da consciência indivíduos a comprometerem-se com uma série
ambiental na sociedade brasileira. Anos mais tarde, esse de valores, e a sentirem interesse e preocupação
trabalho pioneiro foi base para o surgimento do Ibama e pelo meio ambiente, motivando-os de tal modo
do Ministério do Meio Ambiente. que possam participar ativamente da melhoria e
da proteção do meio ambiente.
O início da década de 1980 representou um marco
histórico da criação das unidades de conservação. Nesse d) Habilidades: ajudar os grupos sociais e os indivídu-
período, a partir dos esforços da Sema, foram criados 3,2 os a adquirirem as habilidades necessárias para
milhões de hectares em unidades de conservação. determinar e resolver os problemas ambientais.
e) Participação: proporcionar aos grupos sociais e
Até então, todas as unidades de conservação eram cria-
aos indivíduos a possibilidade de participarem ati-
das pelo Instituto Brasileiro do Desenvolvimento Florestal
vamente nas tarefas que têm por objetivo resolver
(IBDF). Os esforços de criação de unidades de conservação
os problemas ambientais.
do IBDF e da Sema aglutinaram-se ao serem fundidos, em
janeiro de 1989, com a criação do Ibama. Princípios básicos de Tbilisi:
A partir da lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000, foi esta- a) Considerar o meio ambiente em sua totalidade,
belecido o Sistema Nacional de Unidades de Conservação ou seja, em seus aspectos naturais e criados pelo
da Natureza (Snuc).

37
homem (tecnológico e social, econômico, político,
2.4. Relatório da Comissão
histórico-cultural, moral e estético). de Brundtland (1987)
b) Constituir um processo contínuo e permanente, Sob a coordenação da então primeira-ministra da Noruega,
começando pelo pré-escolar e continuando através doutora Harlem Brundtland, a comissão originou um doc-
de todas as fases do ensino formal e não formal. umento intitulado “Our Common Future” (Nosso Futuro
Comum), que ficou conhecido como Relatório Brundtland.
c) Aplicar em enfoque interdisciplinar, aproveitando o Com a sua publicação, houve a disseminação de um con-
conteúdo específico de cada disciplina, de modo que ceito que vinha sendo refinado desde os anos de 1970: o
se adquira uma perspectiva global e equilibrada. de desenvolvimento sustentável. O relatório indicou
d) Examinar as principais questões ambientais, do que a pobreza dos países do terceiro mundo e o consum-
ponto de vista local, regional, nacional e inter- ismo extremo dos países do primeiro mundo eram causas
nacional, de modo que os educandos se identi- fundamentais que impediam um desenvolvimento igualitário
fiquem com as condições ambientais de outras e, como consequência, produziam sérias crises ambientais. O
regiões geográficas. relatório ainda sugeria à Assembleia Geral da ONU a neces-
sidade da realização de uma nova conferência internacional
e) Concentrar-se nas situações ambientais atuais, para análise dos fortes impactos sofridos pelo meio ambiente
tendo em conta também a perspectiva histórica. nos anos anteriores, como destruição da camada de ozônio,
f) Insistir no valor e na necessidade da cooperação perda da biodiversidade, chuvas ácidas e ocorrências de
local, nacional e internacional para prevenir e re- vários desastres ecológicos de responsabilidades industriais.
solver os problemas ambientais. A postura relativamente neutra do relatório fez com que ele
fosse bem aceito pela comunidade internacional, tanto pelos
g) Considerar, de maneira explícita, os aspectos países industrializados como pelos países em desenvolvimen-
ambientais nos planos de desenvolvimento e de to. O documento, diferentemente de trabalhos anteriores,
crescimento. não atribuía culpa ao crescimento e à industrialização pela
h) Ajudar a descobrir os sintomas e as causas reais degradação da natureza, mas sugeria o estabelecimento de
dos problemas ambientais. limites para controle da degradação ambiental e estimulava a
superação da pobreza através de desenvolvimento.
i) Destacar a complexidade dos problemas ambien-
tais e, em consequências, a necessidade de desen- Segue abaixo um pequeno trecho do relatório para que se
volver o senso crítico e as habilidades necessárias compreenda o tom das ideias que deram origem às práti-
para resolver tais problemas. cas de desenvolvimento sustentável, atualmente desen-
volvidas em todo o mundo:
j) Utilizar diversos ambientes educativos e uma am-
pla gama de métodos para comunicar e adquirir “Muitos de nós vivemos além dos recursos ecológicos, por
conhecimentos sobre o meio ambiente, acen-
exemplo, em nossos padrões de consumo de energia. No
tuando devidamente as atividades práticas e as
mínimo, o desenvolvimento sustentável não deve pôr em
risco os sistemas naturais que sustentam a vida na Terra:
experiências pessoais.
a atmosfera, as águas, os solos e os seres vivos. Na sua
essência, o desenvolvimento sustentável é um processo de
Na conferência de Tbilisi – recomendação 3 – são estabele- mudança no qual a exploração dos recursos, o direciona-
cidas as diretrizes da Educação Ambiental, em que se pode mento dos investimentos, a orientação do desenvolvimen-
notar que não é como a alfabetização, pois não possui um to tecnológico e a mudança institucional estão em harmo-
marco inicial. Corresponde a atitudes ambientais, uma mo- nia e reforçam o atual e futuro potencial para satisfazer as
bilização constante e generalizada da população. Aparece aspirações e necessidades humanas.”
também o importante papel das escolas, desde os primeiros
anos até a formação de profissionais especializados.
No Brasil, a influência de Tbilisi se fez presente na Lei nº
6.938, de 1981, que dispõe sobre a Política Nacional do
Meio Ambiente, suas finalidades e mecanismos de formu-
lação e execução. A lei se refere, em um de seus princípios,
à educação ambiental em todos os níveis de ensino, inclu-
sive à educação da comunidade, a fim de capacitá-la para O CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL FOI CONSAGRADO EM 1987,
a participação ativa na defesa do meio ambiente. COM O LANÇAMENTO DO RELATÓRIO QUE LEVOU O NOME DA PRIMEIRA-MINISTRA.

38
O relatório Brundtland trazia ainda dados sobre o aqueci- países, revisado várias vezes em anos seguintes. É impor-
mento global e a destruição da camada de ozônio, temáticas tante evidenciar que o Protocolo de Montreal propôs mu-
que também eram bastante novas para o momento de seu danças tecnológicas, sem interferir no modelo econômico de
lançamento. Por fim, colocava uma série de metas a serem muitos países, e isso faz dele um protocolo bem-sucedido.
seguidas por nações de todo o mundo para evitar o avanço É destacável também que o uso de etiquetas nos produtos
das destruições ambientais e o desequilíbrio climático. Foi a que não usam mais CFC tem se tornado uma forma de mar-
primeira tentativa, já que, até a atualidade, as nações ain- keting, para mobilizar consumidores para uma compra mais
da não conseguiram criar um consenso sobre como agir em ecológica, ou seja, menos degradante.
conjunto em prol do desenvolvimento sustentável.
O Protocolo de Montreal sobre Substâncias que Destro-
em a Camada de Ozônio é um acordo internacional, cri-
2.5. Protocolo de Montreal (1987) ado no âmbito da Convenção de Viena para a Proteção
Na cidade de Montreal, no Canadá, foi firmado o protocolo da Camada de Ozônio de 1985 – oportunidade em
que trata da diminuição das substâncias que empobrecem que os países comprometeram-se a trocar informações,
a camada de ozônio. É um tratado internacional em que estudar e proteger a camada de ozônio, ao qual o
os países signatários comprometem-se a substituir as sub- Brasil aderiu pelo decreto 99.280, de 6 de junho de 1990,
stâncias que demonstrarem ser responsáveis pela destruição comprometendo-se a eliminar completamente o CFC
do ozônio, a partir de 16 de setembro de 1987, entrando (clorofluorcarbono) até 2010.
em vigor em 1° de janeiro de 1989. Teve adesão de 150
EVOLUÇÃO DO BURACO ANTÁRTICO Maior concentração de O3
Na Antártida, onde o problema é mais grave, em toda primavera
o O3 se reduz a zero, deixando um buraco
1979 1987 2006 2011

MENOS GASES NOCIVOS MAIS CAMADA DE OZÔNIO


Concentração de gases nocivos Mudança de espessura da camada de ozônio (em %)
ou ozônio na estratosfera, em
Total
ppt (partes por trilhão) 3

2.000 0
Observações
-3
Estimativa
ESTUDO DA ONU
1960 1980 2000 2020 2040 2080 2100
Neste ano, um
relatório da ONU Antártida
1.000
afirmou que a camada
60
de ozônio em altitudes
Protocolo 40
de Montreal maiores mostra sinais
de recuperação. Fora 20
(1987)
dos polos, ela deve 0

0 voltar ao normal -20


antes de 2050 -40
1960 2000 2040 2080 1960 1980 2000 2040 2080 2100

Constam do Protocolo cinco acordos firmados. Durante consumo de CFC até 2000 – até então o acordo previa
dois anos, o documento esteve aberto às assinaturas pelos a redução em 50% apenas. Nessa reunião, também foi
países e recebeu a adesão de 46 governos, que se com- criado o Fundo Multilateral para a Implementação do
prometeram a reduzir em 50% a produção e o consumo Protocolo de Montreal, para custear a implementação
de CFC até o ano 2000 e o abandono total da produção do Protocolo pelas partes. Em 1992, em Copenhague,
e do consumo de halons (substâncias produzidas artificial- na Dinamarca, ficou acordado o banimento total da
mente, compostas por bromo, cloro, flúor e carbono, larga- produção e utilização dos HCFC até 2030, que vinham
mente utilizados em extintores) até 1992. sendo utilizados como substitutos dos CFC. A meta do
Até 1999, o Protocolo de Montreal havia passado por banimento dos CFC foi antecipada para 1996. Houve
cinco revisões e recebido algumas emendas. Em 1990, um acordo também para o congelamento da produção e
na reunião em Londres, capital da Inglaterra, foi aceita consumo dos brometos de metila até 1995. Em 1997, em
a Emenda de Londres, mediante a qual as partes con- Montreal, uma nova emenda previa esse banimento de
cordaram em abandonar totalmente a produção e o brometo de metila pelos países industrializados, até 2005, e

39
pelos países em desenvolvimento, até 2015. Como os CFC superaquecimento de um dos quatro reatores da Usina de
continuaram em uso, instituiu-se uma licença para fins de Chernobyl, na Ucrânia, que resultou na explosão do reator
exportação e importação da substância. com o consequente lançamento de gases radioativos na
Um resultado das reuniões sobre o Protocolo também atmosfera, promovendo efeitos fatais para a população
foi a criação do Dia Internacional de Proteção à Camada nas proximidades.
de Ozônio, em 16 de setembro, aprovado por resolução Diante desse cenário quase apocalíptico dos anos 1980 e
da Assembleia Geral das Nações Unidas, em 1995. como sugeria o Relatório de Brundtland, foi realizada, em
1992, na cidade do Rio de Janeiro, uma nova conferência
sobre o meio ambiente. Conhecida como Cúpula da Terra,
Conferência do Rio de Janeiro, Cimeira do Verão ou Eco-
92, reuniu 178 representantes de Estados e diversas ONG,
no período entre 3 e 14 de junho, abordando uma imen-
sa variedade de aspectos da questão “meio ambiente e
desenvolvimento” em sua dimensão global. Da Conferên-
cia do Rio foram produzidos alguns documentos não vin-
Países que ratificaram o Protocolo de Montreal (em outubro de 1998) culantes importantes como: a Agenda 21, que estabeleceu
a importância de cada país em se comprometer e a refletir,
No Brasil, a primeira ação para combater as substâncias
global e localmente, sobre a forma de todos os setores da
destruidoras da camada de ozônio, SDO, antes mesmo da
sociedade cooperarem nos estudos de soluções para os
ratificação do Protocolo, foi a publicação da portaria 1, de
problemas socioambientais; a Declaração de Princípios so-
10 de agosto de 1988, pela então Secretaria Nacional de
bre as Florestas, que resultou do fracasso na negociação de
Vigilância Sanitária, mais tarde substituída pela Anvisa.
uma convenção sobre exploração, proteção e desenvolvi-
Essa portaria regulamentou as embalagens de aerossóis
mento sustentado de florestas; e a Declaração de Princípios
livres de CFC. Naquele mesmo ano, o Ministério da Saúde
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, ou Declaração
proibiu o uso de CFC em produtos cosméticos, de higiene
do Rio, que estabeleceu uma nova e justa parceria global
e em perfumes.
por meio de novos níveis de cooperação entre os Estados.
Em 1991, depois de ratificado o Protocolo, foi criado o GTO Além desses documentos oficiais, também foram produz-
– Grupo de Trabalho do Ozônio, que estabeleceu diretriz- idas: a Carta da Terra; a Convenção sobre Diversidade
es para eliminação dos CFC e criou o PBCO – Programa Biológica; a Convenção das Nações Unidas de Combate
Brasileiro para Eliminação da Produção e Consumo das à Desertificação; e a Convenção-Quadro das Nações Uni-
Substâncias que Destroem a Camada de Ozônio, em 1994. das sobre a Mudança do Clima, tratando das mudanças
climáticas globais.
Em 1995, foi aprovada a Resolução Conama 13, que
priorizou a conversão tecnológica industrial na elimi- Com efeito, esses documentos delimitaram as políti-
nação dos CFC. Mais tarde, a resolução foi revogada e cas essenciais para alcançar o modelo de desenvolvi-
outra, a 267/00, proibiu definitivamente o uso de CFC mento sustentável que viabilizasse as necessidades
em novos produtos. Ainda em 1995, foi criado o Prozon dos países em desenvolvimento e reconhecesse os
– Comitê Executivo Interministerial para a Proteção da limites do desenvolvimento sem prejudicar as ger-
Camada de Ozônio. ações futuras. Os documentos se tornaram paradig-
Para banir de vez o uso de CFC no Brasil, em 2002 foi mas para os processos decisórios na área ambiental
criado o Plano Nacional para Eliminação de CFC. Desde e, como dito, para a elaboração e implementação de
então, o uso de CFC no Brasil caiu de 10 mil toneladas, em políticas públicas nos diversos países.
1995, para 480 toneladas, em 2006, o que representa uma
redução de cerca de 90%.

2.6. Eco-92
Depois da Conferência de Estocolmo, o mundo presenciou
catástrofes ambientais sem precedentes, como a liberação
de gases tóxicos com a explosão de uma fábrica da Union
Carbide, na Índia, que matou em torno de 20 mil pessoas
e outras 200 mil ficaram feridas pela contaminação, e o A ECO-92 FOI UMA CONVENÇÃO SOBRE MUDANÇAS CLIMÁTICAS.

40
Agenda 21 No caso do Brasil, fala-se da Agenda 21 brasileira, que
objetiva ratificar e especificar os compromissos assi-
A Agenda 21 é um programa articulado de ações, nados durante as conferências internacionais realiza-
resultante de diversos encontros promovidos pela das pela ONU. Ela foi elaborada entre os anos de 1996
Organização das Nações Unidas com o tema “meio e 2002 e implementada a partir de 2003.
ambiente e suas relações com o desenvolvimento”.
O seu desenvolvimento partiu dos seguintes princípios:
Trata-se da medida mais ampla já adotada para tentar
executar a tarefa de promover um desenvolvimento Gestão dos recursos naturais
sustentável em todo o mundo, ou seja, uma forma Desenvolvimento de uma agricultura sustentável
de desenvolvimento que vise à extração dos recursos
Incentivo à concepção de cidades sustentáveis
da natureza para garantir o sustento do mundo atual
sem prejudicar as gerações futuras. Construção de infraestruturas com vistas à integração
regional
Oficialmente, a Agenda 21 é um documento que
Redução das desigualdades sociais
foi elaborado durante a Eco-92 – Conferência das
Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desen- Potencialização da ciência e tecnologia voltadas para
volvimento –, realizada no ano de 1992, na cidade do a sustentabilidade
Rio de Janeiro. Esse documento é o resultado de um
Não obstante, um dos principais méritos da Agenda
compromisso firmado pelas nações para desenvolv-
21 brasileira foi ter se construído, em grande parte,
er suas economias sem prejudicar o meio ambiente,
com base nas Agendas 21 locais. Isso representou
com mais de 2500 recomendações práticas para a uma maior participação da população nas esferas
execução de tal objetivo.
decisórias, em uma perspectiva de “baixo para cima”,
Nesse sentido, cada país deve elaborar, manter e at- ou seja, do povo para as esferas administrativas, tendo
ualizar sua própria Agenda 21 para garantir as bas- como princípio o planejamento participativo. O resultado
es da sustentabilidade em seus territórios. A Agenda principal foi os seis princípios anteriormente enumerados.
21 local é específica ao contexto em que cada país
Embora existam outros termos e acordos internacio-
se insere, o que evita, por exemplo, que um país, nais com o objetivo de promover metas de controle da
econômica e estruturalmente mais frágil, sucumba poluição e da degradação da natureza, a Agenda 21 é,
aos interesses de potências econômicas do mundo sem dúvida, o mais importante documento nesse sen-
desenvolvido. A ideia é que, em consonância com a tido. Por esse motivo, ela serve de guia de como o Bra-
realidade das diferentes populações, o meio ambi- sil deverá se desenvolver nos próximos tempos, com
ente não seja submetido às práticas predatórias da vistas a garantir a integração territorial, a diminuição
exploração econômica. das desigualdades sociais e a promoção de um mod-
elo econômico que garanta uma relação de harmonia
com o meio ambiente e os recursos naturais.

multimídia: música
FONTE: YOUTUBE
As forças da natureza (samba, 1977) –
João Nogueira e Paulo César Pinheiro

41
Para calcular dívidas e créditos dos envolvidos, em 2000 en-
2.7. Protocolo de Kyoto (1997) trou em funcionamento o mercado de créditos de carbono,
No Japão, em dezembro de 1997, ocorreu na cidade de que funciona da seguinte forma: 1 tonelada de CO2 reduzida
Kyoto, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças ou retirada da atmosfera equivale a 1 crédito de carbono,
Climáticas. Nela foi elaborado o Protocolo de Kyoto, com o unidade emitida pelo Conselho Executivo do MDL, denomi-
objetivo básico de reduzir a emissão de gases e, automati- nada redução certificada de emissão (RCE) ou certificados de
camente, diminuir o efeito estufa. Nessa conferência, ficou emissões reduzidas (CER). Esses créditos de carbono podem
definido que os países industrializados estariam obrigados ser negociados no mercado mundial. As nações que não
conseguirem ou não desejarem reduzir suas emissões pode-
a subtrair o volume de gases, no mínimo 5%, em relação à
rão comprar os CER de países em desenvolvimento, a fim de
década de 1990, entre os anos de 2008 e 2012.
quitarem suas obrigações.
As metas propostas de redução de gases não foram as-
sumidas por muitos países, dentre eles os Estados Unidos, 2.7.2. O posicionamento em
responsável por 24% da emissão do total mundial. Até o relação ao Protocolo de Kyoto
ano de 2005, as metas de redução não foram cumpridas
No contexto do aquecimento global, é preciso contar com
pelos países industrializados. a participação de todos os países, notadamente daqueles
Emissões de dióxido de carbono (CO2) e ratificações do protocolo de Kyoto, 2009 que mais contribuem para emissão de gases e que não nec-
Emissões de CO2, 2007
(em milhões de toneladas) Máximo
essariamente aderem às metas propostas de redução. Em
Estados U. 5 696,7
5 697

1 587
536
China
UE (27)
Rússia
5 606,5
3 983,0
1 587,2
face desses contratempos, o posicionamento de grandes
Índia 1 249,7

nações industrializadas em relação à efetivação do Proto-


110 Japão 1 212,7
30
10
Somente os valores superiores a 1 milhão de toneladas
estão representados

(em toneladas por habitante) Máximo


colo de Kyoto foi o seguinte:
0 1,5 4,3 10 50 Qatar 48,3
Baren 27,0

ƒ Estados Unidos: um dos países que mais emite gases po-


EAU 25,9
Kuwait 25,7
Luxemburgo 23,6

ausência
de informação
luentes, com cerca de 25% do total expelido no mundo, e
que não se comprometeram com as metas de redução pro-
Protocolo de Kyoto em 5 de fevereiro de 2009
postas do Protocolo de Kyoto. Seus líderes justificaram que
Fonte: Agência de Energia Internacional, Key World Energy Statistics 2008,
www.ela.org: Convenção Quadro das Nações Unidas
sobre Alterações Climáticas (CCNUCC), http//ccc.int
países que estão engajados a limitar
ou diminuir suas emissões de CO2
Estados que
não ratificaram tal decisão embargaria o crescimento econômico do país.
ƒ Brasil: francamente a favor do Protocolo, não aprova a
displicência dos Estados Unidos em relação a essa questão.
2.7.1. O comércio de carbono ƒ União Europeia: constituída por quinze países que
O mercado de créditos de carbono foi estabelecido pelo se posicionaram a favor da aplicação efetiva das metas
Protocolo de Kyoto, que previu a redução dos gases res- propostas pelo Protocolo de Kyoto e reprovaram as ar-
ponsáveis pelo efeito estufa pelos países desenvolvidos. ticulações estadunidenses.
Entre os principais vilões do efeito estufa está o dióxido de ƒ Rússia: em franco declínio desde 1991, quando deixou
carbono – CO2, gás carbônico –, que vem sendo lançado de ser uma potência mundial e ocupava o terceiro lugar
na atmosfera principalmente pela queima de combustíveis em emissão, o país apelou para o desmoronamento de sua
fósseis em indústrias e motores à explosão. economia, razão suficiente para não estipular metas de re-
dução – sem crescimento, não houve aumento de emissão.
O aumento da concentração desse gás na atmosfera é re-
sponsável por problemas ambientais, como o efeito estufa. ƒ China: mesmo ocupando a segunda posição em
Portanto, os países em desenvolvimento deveriam reduzir, emissão de gases poluentes do mundo, sua condição
de modo certificado, suas emissões de CO2. de nação subdesenvolvida lhe dá o direito de não cum-
prir as metas de redução estipulada pelo protocolo,
fato que indignou os delegados dos EUA.
ƒ Japão: quarta posição em emissão de gás estufa, o
Japão é mediador nas negociações entre os países. Re-
centemente, seu apoio foi disputado entre EUA e UE.
ƒ Austrália: mostra-se favorável ao Protocolo, mas,
para sua inserção efetiva e submissão às propos-
tas, exige que os EUA integrem-se ao grupo de
adeptos às reduções.

42
Mapa do Protocolo de Kyoto, em 2005 A Rio+20 teve três momentos: a III Reunião do Comitê
Preparatório, em que representantes governamentais re-
uniram-se para negociar os documentos a serem adotados
na Conferência; numa segunda etapa, entre os dias 16 e
19 de junho, ocorreram os Diálogos para o Desenvolvi-
mento Sustentável, um espaço aberto à sociedade civil
para discussão de temas inerentes a Rio+20; e de 20 a 22
de junho, a Rio+20 propriamente dita, com a presença de
chefes de Estado e de governo dos países-membros das
VERDE: PAÍSES QUE RATIFICARAM O PROTOCOLO; AMARELO: PAÍSES QUE Nações Unidas.
RATIFICARAM, MAS AINDA NÃO CUMPRIRAM O PROTOCOLO;
AZUL: PAÍSES QUE NÃO RATIFICARAM O PROTOCOLO; E CINZA: PAÍSES Para muitos especialistas, a Rio+20 foi uma oportuni-
QUE NÃO ASSUMIRAM NENHUMA POSIÇÃO NO PROTOCOLO.
dade histórica para discutir e desenvolver ideias, com o
objetivo de promover um futuro mais sustentável, com
mais postos de trabalho, fontes de energia limpa, mais
2.8. Rio+10 (2002) e Rio+20 (2012) segurança, enfim, um padrão de vida decente para todos
Em agosto e setembro de 2002, realizou-se em Joanesbur- os cidadãos. Segundo Brice Lalonde, coordenador exec-
go, África do Sul, o Encontro da Terra, também denomina- utivo da Conferência das Nações Unidas sobre Desen-
do Rio+10, cuja finalidade foi avaliar as decisões tomadas volvimento Sustentável, “a Rio+20 foi um dos maiores
na Conferência do Rio, em 1992. encontros mundiais sobre o desenvolvimento sustentável
Anos depois, entre os dias 13 e 22 de junho de 2012, foi do nosso tempo”.
realizada no Rio de Janeiro a Conferência das Nações Unidas
sobre Desenvolvimento Sustentável, Cnuds, conhecida tam-
bém como Rio+20, com o objetivo de discutir a renovação
do compromisso político com o desenvolvimento sustentável.

A Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimen- multimídia: vídeo


to Sustentável, Rio+20, ocorreu entre os dias 13 e 22 de
junho de 2012, no Rio de Janeiro. A Rio+20 marcou vinte FONTE: YOUTUBE
anos da realização da Conferência das Nações Unidas so- Crude (EUA, 2009, direção: Joe Berlinger)
bre Meio Ambiente e Desenvolvimento, conhecida como
A história começa há quase 40 anos, mas o cine-
Eco 92 ou Rio-92, que contou com representantes de 190
asta Joe Berlinger se deu conta de que “deveria
países e teve o objetivo de refletir e ratificar o comprom-
fazer algo” quando viu os habitantes da Amazô-
isso político com o desenvolvimento sustentável. Nela se
nia equatoriana comendo atum enlatado porque
discutiram questões de caráter social, como redução da
o pescado dos rios estava muito contaminado.
pobreza e a importância da promoção da justiça social das
Seu documentário, intitulado Crude (tanto pode
questões relativas à proteção do meio ambiente em um
significar petróleo quanto cruel), é a última arma
planeta cada vez mais habitado.
na guerra de relações públicas que no Equador
cerca o processo judicial no qual a companhia
de petróleo Chevron é acusada de derramar 70
bilhões de litros de líquidos tóxicos, deixar 916
fossos com dejetos e queimar milhões de metros
cúbicos de gases contaminantes.
CHARGE CRITICANDO A RIO+20 E O ALTO ÍNDICE DE DESMATAMENTO NO MUNDO.

43
VIVENCIANDO

No dia a dia, desde o despertar até o adormecer, cada ação individual tem efeitos sobre o ambiente. Somos seres
humanos multidimensionais e desempenhamos vários papéis. Cada um dos papéis que exercemos na vida diária –
como educadores, trabalhadores, contribuintes, lideres etc. – oferece oportunidades para a ação ecológica. A vida
cotidiana é pródiga em oportunidades de ação consciente. Cada um pode, a cada momento, dar sua contribuição
pessoal para reduzir a pressão sobre a natureza: na vida pessoal, por meio dos hábitos alimentares, da educação dos
filhos, dos hábitos de consumo, das práticas frugais, vivendo conforme os princípios da simplicidade voluntária, da
austeridade feliz, do conforto essencial.

2.9. Acordo de Paris


O Acordo criou outros dispositivos:
Acordo de Paris é um tratado no âmbito da Con-
venção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do ƒ Reconheceu a necessidade de que a meta seja
Clima (Unfccc, sigla em inglês), que rege medidas de re- atingida o quanto antes.
dução de emissão de dióxido de carbono, a partir de 2020. ƒ Reconheceu que países emergentes terão mais
O acordo foi negociado durante a COP-21, em Paris, e foi dificuldade.
aprovado em 12 de dezembro de 2015. O líder da con-
ferência, Laurent Fabius, ministro das Relações Exteriores ƒ Estabeleceu a obrigatoriedade do registro das
da França, disse que esse plano “ambicioso e equilibrado“ emissões pelos países.
foi um “ponto de virada histórica“ na meta de reduzir o ƒ Obriga que cada país defina suas metas de
aquecimento global. emissão dentro das suas capacidades, mas estim-
O objetivo da convenção é assegurar que o aumento da ula que sejam ambiciosas; elas devem ser redefin-
temperatura média global fique abaixo de 2 °C acima idas e ampliadas a cada 5 anos pelo menos, sendo
dos níveis pré-industriais e prosseguir com os esforços incentivadas antecipações.
para limitar o aumento da temperatura a até 1,5 °C ƒ Os países concordaram em cumprir as metas que
acima dos níveis pré-industriais, reconhecendo que isso vai estabelecerem individualmente.
reduzir significativamente os riscos e impactos das alter-
ƒ Os países concordaram em criar planos de longo
ações climáticas. Além disso, o acordo prevê aumentar a
prazo.
capacidade de adaptação aos impactos adversos das alter-
ações climáticas e promover a resiliência do clima e o baixo ƒ Os países ficam autorizados a contabilizar re-
desenvolvimento de emissões de gases do efeito estufa, de duções de emissão fora de seus territórios, des-
maneira que não ameace a produção de alimentos. Tam- de que derivadas do comércio de carbono legal-
bém está previsto criar fluxos financeiros consistentes na mente constituído.
direção de promover baixas emissões de gases de efeito ƒ Reconheceu a possibilidade de cooperação inter-
estufa e o desenvolvimento resistente ao clima. nacional para que as metas sejam mais ambicio-
sas e estabeleceu mecanismos para auxiliar nos
processos de mitigação e adaptação.
ƒ Os países devem aprofundar suas ações para
implementar o desenvolvimento sustentável e
Partes manejar melhor os impactos do aquecimento.
Signatários
Partes também cobertas ƒ Os países desenvolvidos devem auxiliar os emer-
pela ratificação da UE
Signatários também cober-
gentes em seus planos e estratégias de mitigação
tos pela ratificação da UE

44
os países, na qual os ricos, os maiores emissores, deveriam se
e adaptação e devem continuar assumindo a lid- empenhar ainda mais na ajuda aos mais pobres.
erança na mobilização de financiamento climático,
Na prática, o Acordo tem fracassado em produzir incentivos
numa progressão além dos esforços anteriores.
adequados para uma redução das emissões, não penalizou
ƒ Os países reconheceram a importância de abord- o descumprimento das metas, não modificou em profundi-
agens não mercadológicas integradas, holísticas e dade mecanismos de redução que já se revelaram pouco
equilibradas para ajudar na implementação de suas eficientes e os gases estufa continuam elevando seus níveis
contribuições nacionalmente determinadas, no con- na atmosfera. A euforia inicial parece ter em parte se dissi-
texto do desenvolvimento sustentável e da errad- pado, especialmente pela percepção de que suas metas são
icação da pobreza, de forma coordenada e eficaz. insuficientes e pela emergência de governos populistas que
ƒ Os países reconheceram que ações de adaptação negam a ciência e não priorizam o ambiente. Teme-se tam-
devem seguir uma abordagem sensível a gênero, bém que a prometida defecção dos Estados Unidos tenha
participativa e plenamente transparente, levando um impacto nefasto sobre a implementação do Acordo e a
em consideração grupos vulneráveis, comunidades coordenação internacional dos esforços.
e ecossistemas. Essa abordagem deve ser guiada
pela melhor ciência disponível e, conforme apro-
priado, pelo conhecimento tradicional, pelo conhe-
cimento dos povos indígenas e pelos sistemas de
conhecimento local.
ƒ Os países se comprometeram a compartilhar con-
hecimento, tecnologias, práticas, experiências e
lições aprendidas.
O Acordo estabeleceu uma meta global, mas não tem força
de lei para impor metas específicas de cortes nas emissões,
dependendo da iniciativa voluntária de cada país.
multimídia: sites
Outras conferências foram realizadas posteriormente para www.ibama.gov.br/
delinear com mais clareza os mecanismos de mitigação e www.mma.gov.br/
adaptação, a participação de cada membro e os meios de
financiamento e apoio, mas a diversidade das condições de
cada país é grande, as negociações têm se caracterizado pelas
polêmicas e dificuldades e pouco se avançou em termos de
ampliar as metas estabelecidas por cada país. Alguns países,
como Rússia, Irã e Iraque, ainda não ratificaram o Acordo.

multimídia: livros
CHEFES DA DELEGAÇÃO DA COP-21, PARIS O ambiente urbano –
Francisco Capuano Scarlato
Na COP-24, realizada na Polônia em dezembro de 2018, os
países chegaram a um consenso sobre regras práticas para im- Organizada em três partes, esta obra apresen-
plementar concretamente as metas do Acordo, especialmente ta ao leitor uma visão abrangente do assunto,
na forma de técnicas científicas de medição, registro e comu- questionando a urbanização e analisando as
nicação das emissões, enfatizando a necessidade de transpar- do processo de ocupação intensa das áreas
ência, mas embora tenha sido considerado um importante urbanas. Avalia os efeitos da concentração de
avanço, a Conferência não tratou em detalhe de aspectos im- indústrias e de veículos na cidade e discute
portantes, não agradou a todos e gerou críticas. As nações mais o grave problema do armazenamento e pro-
pobres e vulneráveis pretendiam uma maior clareza, no que cessamento do lixo, um dos grandes desafios
diz respeito ao financiamento para melhorar as suas infraestru- da sociedade de consumo.
turas e uma abordagem mais justa das desigualdades entre

45
CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS

Um dos objetivos essências da educação ambiental é permitir que os alunos identifiquem os problemas relacionados
à presença antrópica no ambiente, tornando-os aptos para buscarem as soluções mais adequadas aos impactos
da sociedade contemporânea no meio natural. Para obter uma visão mais abrangente e completa dos problemas
e das alternativas de solução que a educação ambiental exige, faz-se necessário a inserção da interdisciplinaridade
na prática pedagógica. O enfoque interdisciplinar preconiza a ação conjunta das diversas disciplinas em torno de
temas específicos. Porém, na maior parte das escolas de ensino fundamental e médio, o meio ambiente é estudado
de forma dividida. A organização do conhecimento acontece através das disciplinas que abordam os elementos de
forma parcial, resultando numa concepção parcial de mundo, contexto que dificulta a formulação de uma proposta
geral de ensino, resultando numa mera repetição de conteúdos. A visão interdisciplinar pode oferecer opções mais
adequadas e eficazes. Um bom exemplo é insistir na eficácia do meio como estratégia de aprendizagem. Educar para
o meio significa ver a natureza com um novo olhar.

ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM

Habilidade

30 Avaliar as relações de preservação e degradação da vida no planeta nas diferentes escalas.

A preocupação com questões ligadas à natureza não é algo recente na história da humanidade. Até o início do século
XX, predominava uma concepção de que os recursos naturais seriam suficientes para atender a todas as demandas
da humanidade, sem haver necessidade de o homem zelar pela natureza e, principalmente, sem ter de mudar seus
padrões de consumo e de produção de bens. Mais recentemente, surgiu uma nova concepção ambiental de que
os problemas atuais são globais e que suas soluções também devem ser encontradas em conjunto com todos os
países. A gênese das normas internacionais de proteção ao meio ambiente justificou-se na interdependência que
caracteriza o sistema internacional: a negligência e a defeituosa política de determinado Estado podem gerar danos
que tendem a repercutir sobre outros Estados ou até mesmo sobre o inteiro conjunto. A partir do momento em que o
mundo passou a presenciar catástrofes e problemas ambientais, alguns organismos internacionais passaram a exigir
uma mudança de postura mundial. Nesse sentido, a ONU ganhou destaque marcante quando, em 1972, organizou
a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente Humano, em Estocolmo, na Suécia. Foi a partir dessa con-
ferência que o mundo passou a tratar, de forma diferente, os problemas ambientais.

46
Modelo
(Enem) Segundo a Conferência de Quioto, os países centrais industrializados, responsáveis históricos pela poluição,
deveriam alcançar a meta de redução de 5,2% do total de emissões segundo níveis de 1990. O nó da questão é o
enorme custo desse processo, demandando mudanças radicais nas indústrias para que se adaptem rapidamente aos
limites de emissão estabelecidos e adotem tecnologias energéticas limpas. A comercialização internacional de crédi-
tos de sequestro ou de redução de gases causadores do efeito estufa foi a solução encontrada para reduzir o custo
global do processo. Países ou empresas que conseguirem reduzir as emissões abaixo de suas metas poderão vender
este crédito para outro país ou empresa que não consiga.
BECKER. B. AMAZÔNIA: GEOPOLÍTICA NA VIRADA DO II MILÊNIO. RIO DE JANEIRO: GARAMOND, 2009.

As posições contrárias à estratégia de compensação presente no texto relacionam-se à ideia de que ela promove:
a) retração nos atuais níveis de consumo.
b) surgimento de conflitos de caráter diplomático.
c) diminuição dos lucros na produção de energia.
d) desigualdade na distribuição do impacto ecológico.
e) decréscimo dos índices de desenvolvimento econômico.

Análise expositiva - Habilidade 30: A questão do aquecimento global apresenta disparidades quanto às
D responsabilidades e às desigualdades relacionadas aos impactos ambientais e socioeconômicos. O Protocolo de
Quioto é um acordo internacional para redução de emissões de gases de efeito estufa. A princípio, é obrigatório
para os países desenvolvidos, principais responsáveis históricos pelo aquecimento global. Os países emergentes
e subdesenvolvidos podem fazer reduções voluntárias. O acordo vale até 2020. Caso um país desenvolvido não
consiga reduzir suas emissões, poderá financiar projetos sustentáveis em outros países como compensação, o
crédito de carbono.
Alternativa D

DIAGRAMA DE IDEIAS

CONFERÊNCIA
RIO+10 RIO+20 DAS PARTES
(COP)

CONFERÊNCIAS PROTOCOLO
RIO 92
INTERNACIONAIS DE KYOTO

POLÊMICA DO
CONFERÊNCIA
AGENDA 21 CRESCIMENTO
DE ESTOCOLMO
ZERO

47
AULAS REGIONALIZAÇÃO DO ESPAÇO BRASILEIRO
23 E 24
COMPETÊNCIAS: 2e4 HABILIDADES: 6 e 19

1. DO MEIO NATURAL AO MEIO A periodização das relações entre sociedade e natureza


que utilizaremos para explicar como a Geografia descreve
TÉCNICO-CIENTÍFICO-INFORMACIONAL o mundo moderno foi criada pelo geógrafo Milton Santos,
um dos mais populares geógrafos brasileiros e um dos que
A partir deste ponto de vista, quando quisermos definir mais influenciou a reformulação dessa ciência, iniciada na
qualquer pedaço do território, devemos levar em conta a década de 1970, no Brasil e no mundo. Milton Santos ficou
interdependência e a inseparabilidade entre a materialida- famoso, principalmente, por conseguir sistematizar uma
de, que inclui a natureza, e o seu uso, que inclui a ação nova abordagem da Geografia ao colocar como centro da
humana, isto é, o trabalho e a política. análise a produção do espaço como um sistema técnico,
(MILTON SANTOS)
com todas as questões políticas, sociais, culturais e econô-
micas envolvidas no processo.
Uma interpretação geográfica da realidade brasileira ex-
ige compreender o modo pelo qual o espaço geográfico
brasileiro está hoje organizado não só pela localização e
distribuição de seus objetos técnicos ou objetos naturais
humanizados, mas também pelas ações sociais que lhes
dão sentido, pelas dinâmicas contemporâneas ligadas às
necessidades das novas técnicas, carregadas de conteúdo
científico e informacional que permeiam nosso território.
O estudo e o conhecimento do território brasileiro começam
multimídia: vídeo necessariamente por uma periodização histórica, para com-
preender suas transformações do ponto de vista da materi-
FONTE: YOUTUBE
alidade visível, isto é, aquilo que vemos efetivamente, bem
Entrevista com Milton Santos como das ações sociais, ou seja, aquilo que determina o
que vemos, que constituem em diferentes momentos do
desenvolvimento das técnicas que modelaram e modelam
1.1. A organização do espaço o espaço.
brasileiro, segundo Milton Santos Para Milton Santos, essa periodização se mostra da se-
guinte forma:
“(...) Assim, ao longo da história da organização do terri-
tório brasileiro, três grandes momentos poderiam, grosso
modo, ser identificados: os meios “naturais”, os meios téc-
nicos e o meio técnico-científico-informacional. Por inter-
médio de suas técnicas diversas no tempo e nos lugares,
a sociedade foi construindo uma história dos usos do ter-
ritório nacional.”

1.2. O meio natural


O meio natural não é necessariamente o intocado, mas sim
o meio que, mesmo tendo sido transformado pelo trabalho
PROFESSOR MILTON SANTOS humano, ainda é caracterizado pelo predomínio da ordem

48
natural na organização dos objetos, da vida, da produção
e até da cultura. grandes rios, são amontoados de utensílios feitos de
pedra ou ossos, esqueletos de seres pré-históricos e
Esse meio natural generalizado era utilizado pelo ser hu-
moluscos que sofreram uma fossilização química, já
mano sem grandes transformações. As técnicas e o tra-
que a chuva deforma as estruturas dos moluscos e
balho se integravam às dádivas da natureza, com a qual se
dos ossos, difundindo o cálcio em toda a estrutura e
relacionavam em outra mediação.
petrificando os detritos e ossadas ali existentes. São
As transformações impostas às coisas naturais já eram comuns em todo o litoral do Atlântico, sendo mais
técnicas, entre as quais a domesticação de plantas e an- raros no Pacífico, mas notando-se exemplares até no
imais. norte da Europa.
Como as técnicas não se impunham ao meio natural, as No Brasil, os sambaquis são distribuídos por toda a
sociedades tendiam a apresentar uma temporalidade mais costa e também no baixo Amazonas e no Xingu. Hoje,
cíclica do que a de transformação e ruptura, que carac- os sítios mais importantes estão localizados no litoral
teriza a modernidade. Assim, se as técnicas eram desen- sul do Estado de Santa Catarina. As cidades de La-
volvidas de acordo com as condições naturais, e com re-
guna e Jaguaruna abrigam 42 sambaquis dos mais
speito a elas, e se tais condições eram, em geral, fixas, o
diversos tamanhos e alturas, destacando-se entre eles
desenvolvimento técnico tendia a uma acomodação com
o Garopaba do Sul e o Jaboticabeira, em Jaguaruna;
a lógica do meio e não à ruptura com esta.
e os Figueirinha I e II, mais precisamente na praia de
Assim, podemos dizer que, antes da presença humana, Nova Camboriú, também em Jaguaruna.
não podemos falar em meio natural, pois foi o homem
Dentre os utensílios encontrados nos sambaquis
que atribuiu valor e definiu o que é natural, ou seja, não
brasileiros, muitos são feitos em rocha, como os que-
há meio geográfico sem a presença humana.
bra-cocos, facas, machados de diabásio semipolido,
O que chamamos de meio natural no Brasil se refere ao raspadores e pontas. Os anzóis, furadores, pontas de
período em que o território foi habitado por grupos hu- flechas e arpões encontrados são feitos de ossos.
manos de coletores e caçadores, que viviam nas florestas,
As explicações possíveis quanto à finalidade dos sambaquis
nas caatingas e nos campos.
são diversas. Para alguns pesquisadores, eles seriam
Esses grupos deixavam poucos vestígios, como depósitos depósitos dos restos de alimentos, de carcaças e os-
de ostras conhecidos como sambaquis. A figura a seguir sadas de animais, servindo também, não se sabe por
mostra o sambaqui de Cananeia, localizado na ilha do que, como abrigo de sepulturas de humanos. Não
Cardoso, em Cananeia, litoral de São Paulo. É um dos mais eram utilizados como moradias. Contudo, outros es-
antigos do Brasil, com cerca de 8 mil anos. tudiosos defendem que os sambaquis serviam como
habitações temporárias, o que explicaria a presença
de sepulturas. Servia também, nessa versão, como de-
pósito de materiais.
Mesmo não havendo um consenso sobre a sua fina-
lidade, os sambaquis são uma importante fonte de
estudos. Pesquisando seu conteúdo, pode-se saber so-
bre a vida dos primeiros povoados do atual território
brasileiro, como sua alimentação, seus conhecimentos
técnicos, a fauna e a flora da época etc. Os excremen-
SAMBAQUI, CANAL DE ARARAPIRA – CANANEIA tos humanos fossilizados podem nos informar, por
exemplo, sobre as doenças que aqueles homens e
mulheres tinham.
Entenda melhor
Apesar de serem patrimônio da União, verdadeiros
Sambaquis são depósitos construídos pelo homem,
formados por materiais orgânicos e calcários (de ori- crimes ambientais destruíram parte dos sambaquis
gem marinha, terrestre ou de água salobra) que, em- brasileiros, como construções irregulares em áreas
pilhados ao longo do tempo, vêm sofrendo a ação do protegidas e a extração de cal pelas indústrias, prin-
intemperismo. Erguidos em baías, praias ou na foz de cipalmente da construção civil.

49
À medida que os animais e plantas eram domesticados, es- nas, o aproveitamento da energia calorífica do carvão min-
ses povos criavam caminhos para vencer distâncias e apri- eral e sua transformação em energia mecânica para fazer
morar um pouco mais a ocupação do território. Entretanto, funcionar as máquinas representaram um grande avanço
ainda prevaleciam as forças da natureza, condicionando e nas técnicas empregadas para a fabricação de mercadorias
direcionando as ações humanas. Esses agrupamentos hu- e, consequentemente, no aumento da produção.
manos são os ancestrais de um grande número de etnias
Nessa nova fase, o ser humano começa a construir um
que se formaram em nosso território, vivendo de forma
meio técnico, já que os espaços tiveram de ser transfor-
tribal, desenvolvendo técnicas de cultivo e navegando os
mados técnica, cultural e socialmente para atender às de-
rios que cortavam florestas e cerrados. Os tupis eram os
mandas desse modo de produção que estava surgindo. Se
agrupamentos mais numerosos, vivendo no litoral e nas
as máquinas, tornaram possíveis, essas e outras transfor-
florestas Atlântica e Amazônica. Outros grandes grupos
mações espaciais, quanto mais as máquinas automáticas
eram o jês e os cariris, ocupando os cerrados e a caatinga,
se desenvolviam, mais o processo de geração de um novo
respectivamente. Esses assentamentos indígenas viviam no
meio era intensificado.
ritmo do tempo lento da natureza, que proporcionava a
satisfação das necessidades de sobrevivência dessas tribos. Diferente do meio natural, no qual existiam técnicas que se
submetiam às condições naturais, agora, com essas novas
máquinas e suas necessidades, vemos começar a se con-
1.3. O meio técnico figurar um meio cada vez mais voltado para a realização da
Estamos, porém, reservando a apelação de meio técnico lógica técnica, e não mais natural.
à fase posterior à invenção e ao uso das máquinas, já que
No Brasil, o isolamento regional foi a marca preponderante
estas, unidas ao solo, dão uma nova dimensão à respec-
da organização do território nesse período. Segundo Mil-
tiva geografia. Assim, a máquina seria um recorte teórico
ton Santos:
derivado do entendimento de que seu surgimento alterou
significativamente as relações entre sociedade e natureza, “(...) a invenção e difusão das máquinas e a elaboração de
proporcionando – com a territorialização em formas de formas de organização mais complexas permitiram outros
estradas de ferro, rodovias, fábricas etc. – uma nova con- usos do território. Novas geografias desenharam-se, sobre-
figuração geográfica no mundo. E a consonância com a tudo a partir da utilização de prolongamentos não apenas
natureza rompida dá a luz a um novo meio, o meio técnico. do corpo do homem, mas do próprio território, constituin-
(MILTON SANTOS) do verdadeiras próteses. O período técnico testemunha a
emergência do espaço mecanizado.”
Milton Santos enfatiza que a relação do homem com a
natureza é sempre mediada pela técnica. E, seguindo tal No fim do século XIX e início dos anos de 1930, a mecaniza-
raciocínio, para qualquer ato humano, em um determina- ção do território brasileiro se intensificou com a construção
do meio, já teríamos que chamá-lo de meio técnico. Desse de estradas de ferro e o desenvolvimento da navegação a
modo, construções de abrigos feitos com materiais encon- vapor. Esses sistemas de transporte imprimiram velocidade
trados na natureza e pouco modificados seriam, sem dú- no escoamento dos produtos, permitindo uma acumulação
vida, frutos de sistemas técnicos. Porém, nessas condições mais rápida de capital. Associado aos transportes, o desen-
de vida é presente uma ligação harmônica entre homem volvimento das comunicações, como o telégrafo, marcou o
e meio; e que mesmo este meio sendo produto de cer- início de um processo de integração nacional.
tas modificações, estas, por contrapartida, não seriam tão Nesse período, observou-se uma mudança significativa do
agressivas, a ponto mesmo de ainda podermos chamá-lo ponto de vista demográfico: o aumento do crescimento
de meio natural. Haveria, assim, nestes espaços ou meios vegetativo, resultado da intensificação da urbanização e da
a presença de sistemas técnicos sem objetos técnicos. Já o industrialização. Esse aumento implicou uma melhor estru-
meio técnico conteria objetos resultantes não só de pro- turação sanitária das cidades e também no êxodo rural,
cessos estritamente culturais, mas também de objetos pu- não só fruto da atração exercida pelo trabalho industrial
ramente técnicos. nas cidades, mas também em função de estruturas agrárias
A partir disto, podemos entender que transição do meio arcaicas onde prevalecia o latifúndio.
natural para o meio técnico começa apenas com a Rev- É também nesse momento o início da formação da chama-
olução Industrial, que ocorreu na Europa em meados do da “Região Concentrada” (Sul, Sudeste e parte do Cen-
século XVIII. A expansão do comércio internacional e o au- tro-Oeste), quando o vigor e a diversidade da indústria
mento da riqueza permitiram o financiamento do progresso paulista transformou São Paulo numa metrópole e aumen-
técnico e a instalação de indústrias. A invenção de máqui- tou sua integração com outras regiões do País.

50
Se, no início desse período técnico no Brasil, a produção manifestações geográficas decorrentes dos novos progres-
foi basicamente escoada por ferrovias, nos anos de 1940 e sos, não é mais de meio técnico que se trata. Estamos diante
1950, as rodovias se firmaram como matriz do transporte da produção de algo novo, a que estamos chamando de meio
pela integração dos mercados nacionais. A própria con- técnico-científico-informacional.“
strução de Brasília consolidou essa tendência, pois tornou ADAPTADO DE: SANTOS, MILTON. A NATUREZA DO
ESPAÇO. SÃO PAULO: HUCITEC, 1999.
indispensável o estabelecimento de uma rede de estradas
para garantir a afirmação do Estado no conjunto do ter- No Brasil, esse período tem início na década de 1970 e mar-
ritório e possibilitar a expansão do consumo do que se pro- ca uma nova etapa no desenvolvimento e no aparelhamento
duzia na área mais industrializada. do território brasileiro. Os complexos industriais foram ampli-
ados e novos foram instalados em outra regiões para satis-
fazer os interesses das empresas, agora globais.
Os novos aparatos técnicos nos sistemas de transporte
(rodovias, aeroportos) e telecomunicações (cabos de fibra
óptica, satélites) garantiram maior fluidez do território, que
passou a ser organizado em redes por onde escoam os
fluxos de pessoas, informações, mercadorias e capitais, al-
cançando pontos mais distantes e expandindo horizontal-
mente as relações capitalistas de produção.

multimídia: livros A ciência potencializou a técnica ao tratá-la como um


fim em si próprio; inaugurando, assim, a tecnologia.
O Brasil, território e sociedade no início do sé- Essa, por sua vez, é esparramada estrategicamente ao
culo XXI - Milton Santos e Maria Laura Silveira território azeitando ainda mais a tríade de produção,
circulação e consumo de mercadorias. Todavia, o alar-
Este livro atende a dois objetivos centrais: gamento das fronteiras visando uma mais-valia de nível
oferecer uma visão globalizada da realidade global não poderia vir senão acompanhadas de alguma
nacional e fazê-lo através de um dos seus as- espécie de controle. Controle tanto na sincronização da
pectos mais integradores: o território. produção e circulação de mercadorias em fábricas dis-
tantes de suas sedes, quanto na garantia do consumo
dessas. De maneira que tão logo que o meio técni-
co-científico se assentou já foi prontamente adicionado
de um mundo de redes comunicacionais sob a forma de
1.4. O meio técnico-científico- cabos submarinos, satélites e antenas, forjando o que
informacional hoje temos como a “cara geográfica” do processo de
globalização: o meio técnico-científico-informacional.
O terceiro período começa logo depois da Segunda Guerra e CARLOS FRANCISCO GERENCSEZ GERALDINO
marca também o início de uma nova era dentro do percurso
capitalista. O meio técnico-científico-informacional representa
a atual etapa na qual se encontra o sistema capitalista de pro-
dução, estando relacionado, sobretudo, à Terceira Revolução
Industrial, que, não por acaso, passou a ser reconhecida como
Revolução Científica-Informacional. Nesse momento, ocorreu
uma profunda interação entre técnica e ciência, guiadas pelo
funcionamento do mercado, que, graças aos avanços tecno-
lógicos, expande-se e consolida o processo de globalização.
“[...] Essa união entre técnica e ciência vai se dar sob o poder
do mercado. E o mercado, graças exatamente à ciência e à
técnica, torna-se um mercado global. Neste período, os obje-
tos técnicos tendem a ser ao mesmo tempo técnicos e infor-
multimídia: música
macionais, já que, graças à extrema intencionalidade de sua FONTE: YOUTUBE
produção e de sua localização, eles já surgem como informa- - Samba-enredo da Império Serrano –
ção; e, na verdade, a energia principal de seu funcionamento Aquarela brasileira
é também a informação. Já hoje, quando nos referimos às

51
Os sistemas de telecomunicações garantem os Também se observou a aplicação do capital nas atividades
fluxos de informação do território agrícolas, estabelecendo um novo ritmo à produção, mais
acelerado. As invenções técnicas e organizações criam um
novo tempo e um novo uso da terra. Desde a correção
química do solo até a geração de sementes mais produtivas,
inúmeras técnicas vêm sendo empregadas na produção em
grande escala e voltadas, sobretudo, para a exportação.
Nos anos seguintes, intensificou-se a descentralização
industrial, de serviços e comércio, de modo que algumas
áreas do país foram incorporadas ao processo de mod-
ernização. Isso ocorreu com mais ênfase nas áreas com
notável desenvolvimento tecnológico.
Rede de microondas numérica
Rede de microondas analógica
A descentralização da produção foi estimulada por meio de
Rede de microondas numérica TD
Rede de microondas intraestado
incentivos governamentais, o que originou, nos anos 2000,
Equação de microondas
Rede de fibras ópticas
a “guerra dos lugares”, em que Estados e municípios, para
Rede de fibras ópticas intraestado
Estação de fibras ópticas
atrair empresas, ofereceram isenções fiscais, doação de ter-
Rede backbone internet principal
Rede backbone internet secundária
renos, entre outros benefícios.
0 500 km
Fonte: INGEO
Estação de recepção de satélite
A indústria, então, tornou-se mais complexa, e passou a ser
instalada em áreas específicas do interior de São Paulo e

CURIOSIDADES
nas regiões Sul, Nordeste e Centro-Oeste. Mas a área que
concentra essa atividade ainda é a Região Concentrada.
É preciso ressaltar ainda que a exportação torna-se uma
Um exemplo de como as técnicas e as ciências es-
alternativa para um país que apresenta um mercado con-
tão constantemente se interagindo e propiciando a
sumidor com baixo poder aquisitivo, tendo em vista que
expansão do capital pode ser visto na recente ação
industrialização favoreceu as grandes empresas e não
promovida pelo Facebook em levar o acesso à internet
resolveu o problema das populações cada vez mais em-
a comunidades afastadas por meio do uso dos drones,
pobrecidas. Verifica-se, portanto, que houve introdução da
veículos aéreos não tripulados.
tecnologia em todos os setores da economia, mas isso não
garantiu a ampliação do número de empregos nem a mel-
horia das condições de trabalho.

2. REGIONALIZAÇÕES DO BRASIL
O que significa regionalizar?
DRONES: EXEMPLOS DO PODER DE TRANSFORMAÇÃO
DO MEIO TÉCNICO-CIENTÍFICO-INFORMACIONAL
Regionalizar significa dividir em regiões determinadas
áreas através de características semelhantes ou dif-
Portanto, além de serem técnicos, os objetos também erentes e delimitá-las. Cada região se diferencia das
carregam em si a informação e trabalham a partir outras por ter algumas características próprias e não é
dela, o que justifica o nome do atual período de trans- apenas a localização geográfica que pode influenciar
formação do meio geográfico. na forma de organização do espaço. Há vários tipos
de critérios que podem ser levados em consideração
para que seja feita a regionalização, entre eles temos
Por outro lado, cresceram as desigualdades sociais pela
os critérios: econômicos, políticos, sociais, culturais,
desvalorização do trabalho e as desigualdades regionais.
naturais, históricos e muitos outros.
O desenvolvimento capitalista, desigual e combinado, na
constituição do meio técnico-científico-informacional apro-
fundou essas desigualdades ao integrar espaços horizon- A seguir, apresentaremos as três principais regionalizações:
talmente muito distantes, rompendo as identidades locais a Macrorregião, o Complexo Regional e o Meio
pela padronização dos modos de vida. Técnico-Científico-Informacional.

52
Essa divisão político-administrativa tem o objetivo de juntar
os Estados com maior semelhança com a finalidade de faci-
litar sua administração e criação de políticas públicas do go-
verno federal que estimulem o desenvolvimento na região.
Podemos citar como exemplo os Estados que compõem a
região Norte que têm as mesmas características: baixa den-
sidade demográfica, floresta amazônica, clima equatorial e o
extrativismo como principal atividade econômica.

multimídia: livros
A natureza do espaço:
técnica e tempo, razão e emoção
Esta obra interdisciplinar oferece um trata-
mento pioneiro às relações entre a técnica e
o espaço e entre o espaço e o tempo, bases
para a construção de um sistema de concei-
tos coerentemente formulado, objetivando
definir o espaço geográfico e seu papel ativo
na dinâmica social. multimídia: sites
www.geografiaparatodos.com.br
www.ibge.gov.br
2.1. Macrorregião (IBGE)
A divisão por macrorregião foi organizada pelo IBGE (Insti-
tuto Brasileiro de Geografia e Estatística) e é adotada como 2.2. Regiões Geoeconômicas
oficial do Brasil. Nessa divisão é estabelecida uma divisão Como vimos, a primeira divisão oficial do Brasil em regiões
político-administrativa em 5 regiões: foi criada pelo IBGE, em 1969. Mas, antes disso, em 1967,
ƒ Norte: Acre, Amazonas, Roraima, Rondônia, Amapá, o geógrafo brasileiro Pedro Pinchas Geiger já havia propos-
Pará e Tocantins; to uma outra divisão regional do País em três complexos
geoeconômicos. Ele considerou aspectos econômicos, com
ƒ Nordeste: Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do
base nas atividades predominantes e também as diferentes
Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia;
maneiras de ocupação, produção e organização do território
ƒ Centro-Oeste: Mato Grosso, Goiás e Mato Grosso do Sul; brasileiro. Nessa proposta de divisão regional, não é levado
ƒ Sudeste: Espírito Santo, Rio de Janeiro, Minas Gerais em consideração os limites de fronteiras dos Estados. Como
e São Paulo; podemos observar no mapa a seguir, o norte de Minas Gerais
e do Espírito Santo são inseridos na região Nordeste. O sul
ƒ Sul: Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul; do Mato Grosso e de Tocantins são inseridos no Centro-Sul.
Divisão geoeconômica

53
Para o autor, a economia independe dos limites dos terri- ƒ Região Concentrada
tórios estaduais, portanto, o que pesa são as relações in-
Essa região é a mais povoada e onde se concentra a maior
ter-regionais e o papel que cada região exerce na dinâmica
população, os maiores investimentos de capitais realizados
econômica nacional. São eles:
por empresas multinacionais, alto desenvolvimento científico,
ƒ Complexo Regional da Amazônia maiores indústrias, principais portos, aeroportos, shopping
Compreende todos os Estados da região Norte (com exceção centers etc.
do extremo sul de Tocantins), o oeste do Maranhão e pratica- Com base nas análises sobre o meio técnico-científico-
mente todo o Mato Grosso. Apesar de sua dimensão, possui -informacional apresentadas anteriormente, o geógrafo
o menor número de habitantes do País. Em muitos pontos Milton Santos fez uma proposta de regionalização do
da região acontecem os chamados “vazios demográficos”. A Brasil, na qual recorre aos limites dos Estados. Nessa
maioria da população está localizada nas duas principais ca-
proposta, destaca-se a Região Concentrada, que englo-
pitais, Manaus e Belém. Na economia, há o predomínio do ex-
ba os Estados das regiões Sul e Sudeste, exatamente
trativismo (animal, vegetal e mineral). Destacam-se também o
onde há maior concentração da produção industrial.
polo petroquímico da Petrobras e a Zona Franca de Manaus,
que fabrica a maior parte dos produtos eletrônicos do País.
ƒ Complexo Regional Centro-Sul Brasil: meio técnico-científico-informacional
O complexo Centro-Sul junta as regiões Sul e Sudeste, con- e as regiões
centrando a maior população, o parque industrial e os cen-
tros tecnológicos, a agricultura modernizada, predomínio
do relevo de planalto e de uma variação climática: tropical
típico, tropical de altitude e subtropical.
ƒ Complexo Regional Nordeste
Inclui todo o Nordeste da divisão oficial (com exceção do oeste
do Maranhão) e o norte de Minas Gerais, onde se localiza o
vale do Jequitinhonha. Historicamente, é a mais antiga do Bra-
sil. É também a mais pobre das regiões, com números elevados
de mortalidade infantil, analfabetismo, fome e subnutrição.

2.3. Meio Técnico-Científico-


Informacional
Essa divisão foi criada em 1999 pelo geógrafo Milton Santos
e o critério estabelecido foi o da divisão do meio técnico-cien-
Amazônia Concentrada Centro-Oeste

tífico-informacional, que trata da diferença do grau de mo-


dernização, informação e das finanças no território brasileiro.
Essa divisão estabelece quatro regiões ou os “quatro Brasis”:
Amazônia, Nordeste, Centro-Oeste e Região Concentrada.
ƒ Amazônia
Região com baixa densidade técnica e demográfica, cuja
principal atividade é extrativa.
ƒ Nordeste
Historicamente, uma região formada pelas plantations e
agricultura pouco mecanizada.
ƒ Centro-Oeste
Região da agricultura modernizada altamente mecanizada.
multimídia: música
Uma mudança nessa região em relação à divisão oficial é FONTE: YOUTUBE
que coloca o Estado de Tocantins (oficialmente da região - Veveco, panelas e canelas – Beto Guedes
Norte) na região Centro-Oeste.

54
O IBGE e as regionalizações oficiais
A partir da década de 1930, a produção científica tor- regionalização institucional do País, na tentativa de su-
nou-se mais significativa, e surgiu a necessidade de perar o conceito de região natural e privilegiar aspectos
melhor administrar o País, que crescia em virtude da históricos e socioeconômicos, sem deixar de considerar os
ampliação das atividades industriais. Assim, foi cri- trabalhos e pesquisas anteriormente elaborados.
ado o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística A partir dessa, outras regionalizações foram criadas até
(IBGE), em 1938, órgão do Governo Federal que esta- chegar à atual, utilizada com finalidades administrativas,
beleceu uma divisão regional considerada a primeira educacionais e por instituições privadas.

Evolução das regiões brasileiras

1940 1950 Terr. do


Terr. do
Rio Branco
Amapá

AM AM
MA MA
NORTE PA CE
RN NORTE PA CE
RN
NORDESTE PB
NORDESTE PB
PI PE PI PE
Terr. do AL Terr. do AL
Acre SE Acre Terr. do SE
BA Guaporé BA

MT
GO ESTE MT
GO
LESTE
CENTRO CENTRO-OESTE
MG MG
ES ES

SP RJ SP RJ
DF DF
PR PR
SUL SUL
SC SC

RS RS

1970 Terr. do
1990
Terr. do
Rio Branco RR
Amapá AP

AM AM
MA MA
NORTE PA CE
RN NORTE PA CE
RN
NORDESTE PB
NORDESTE PB
PI PE PI PE
AC AL AC AL
TO
Terr. de SE RO SE
Rondônia BA BA
MT
GO
MT
DF CENTRO-OESTE DF
CENTRO-OESTE SUDESTE GO
MG MG
ES ES
MS SUDESTE
SP RJ SP RJ
GB
PR PR
SUL SUL
SC SC

RS RS

FONTE: IBGE. ATLAS GEOGRÁFICO ESCOLAR. 2. ED. RIO DE JANEIRO: IBGE, 2004.

Nessas regionalizações, pode-se observar a dinâmica da Amapá (1988) e de Roraima (1988) foram elevados à
constituição dos Estados brasileiros, o período em que categoria de Estado, o que lhes concedeu maior au-
eles foram criados, incorporação das terras que com- tonomia. Nesse mesmo período, outros Estados foram
põem o Estado do Acre; a disputa pelas terras do Amapá; criados.
e a organização das fronteiras do sul, após a guerra do Em 1977, Mato Grosso foi dividido, originando os Es-
Paraguai (1864-1870). Os outros Estados foram organi- tados de Mato Grosso do Sul, com capital em Campo
zados com base no processo de colonização, desde as Grande, e de Mato Grosso, com capital em Cuiabá.
capitanias hereditárias, ou incorporadas por causa da
Em 1988, o Estado de Goiás foi dividido, formando os
expansão das atividades econômicas.
Estados do Tocantins, com capital em Palmas, e de Goiás,
Entre as décadas de 1960 e 1990, o governo federal com capital em Goiânia.
estabeleceu uma nova organização administrativa. FONTE: IBGE. ATLAS GEOGRÁFICO ESCOLAR. RIO DE JANEIRO:
Os territórios do Acre (1962), de Rondônia (1981), do IBGE, 2013, 6 ED.

55
CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS

História e geografia, abordadas de forma integrada, até mesmo devido a sua proximidade e aos temas transversais
que estão nas duas áreas, auxiliam no processo do conhecimento.

ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM

Habilidades
6 Identificar diferentes representações gráficas e cartográficas dos espaços geográficos.
19 Reconhecer as transformações técnicas e tecnológicas que determinam as várias formas de uso e apropriação dos espaços.
A Divisão Regional do Brasil em mesorregiões, partindo de determinações mais amplas em nível conjuntural, buscou
identificar áreas individualizadas em cada uma das Unidades Federadas, tomadas como universo de análise e definiu
as mesorregiões com base nas seguintes dimensões: o processo social como determinante, o quadro natural como
condicionante e a rede de comunicação e de lugares como elemento da articulação espacial. Esta habilidade chama
a atenção para a importância da confecção de mapas e, para esta aula, as diversas formas de regionalizar o Brasil
produziram mapas cujas propostas ampliaram as análises sobre a formação do território.
Os seres humanos estão sempre utilizando o meio em que vivem, sobretudo os elementos disponíveis na natureza,
seja no seu consumo direto, seja para a sua transformação em mercadorias ou produtos manufaturados. Para isso, ele
utiliza as diferentes técnicas, que envolvem as formas e os instrumentos utilizados para melhor produzir e transformar
o espaço geográfico.

56
Desse modo, se a utilização das técnicas é uma questão fundamental para a transformação do espaço, a forma
como tais técnicas evoluem e modificam-se ao longo do tempo também produz consequências diretas nas estruturas
espaciais que envolvem as sociedades. Por esse motivo, estabelece-se uma periodização do meio desde a sua grada-
tiva transformação pelas atividades humanas, indo desde o meio natural, passando pelo meio técnico e finalmente
alcançando o meio técnico-científico-informacional.

Modelo
(Enem) O intercâmbio de ideias, informações e culturas, através dos meios de comunicação, imprimem mudanças
profundas no espaço geográfico e na construção da vida social, na medida em que transformam os padrões culturais
e os sistemas de consumo e de produção, podendo ser responsáveis pelo desenvolvimento de uma região.
HAESBAERT, R. GLOBALIZAÇÃO E FRAGMENTAÇÃO DO MUNDO CONTEMPORÂNEO. RIO DE JANEIRO: EDUFF, 1998.
Muitos meios de comunicação, frutos de experiências e da evolução científica acumuladas, foram inventados ou aper-
feiçoados durante o século XX e provocaram mudanças radicais nos modos de vida, como por exemplo,
a) a diferenciação regional da identidade social por meio de hábitos de consumo.
b) o maior fortalecimento de informações, hábitos e técnicas locais.
c) a universalização do acesso a computadores e a Internet em todos os países.
d) a melhor distribuição de renda entre os países do sul favorecendo o acesso a produtos originários da Europa.
e) a criação de novas referências culturais para a identidade social por meio da disseminação das redes de fast-food.

Análise expositiva - Habilidade 6 e 19: As sociedades urbanas gradativamente se articulam em redes,


E em uma sistemática simples e eficiente de se comunicar e relacionar. As redes respondem pelas principais
parcerias e outras formas de associação pelas facilidades inerentes de suas características, mostrando no-
vas referências culturais e de identidade.
Este exercício permite demonstrar como as técnicas e as tecnologias, disseminadas principalmente depois
dos anos de 1950, produziram transformações que vão além das mudanças nos espaços geográficos,
abrangendo, também, os padrões culturais das sociedades.
Alternativa E

57
DIAGRAMA DE IDEIAS

ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO REGIONALIZAÇÃO


SEGUNDO MILTON SANTOS DO BRASIL

MEIO NATURAL IBGE

• TEMPO DA NATUREZA
• GRUPOS CAÇADORES
E COLETORES

MEIO TÉCNICO REGIÕES


GEOECONÔMICAS
• REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
• ARQUIPÉLAGOS
ECONÔMICOS

MEIO TÉCNICO-
REGIONALIZAÇÃO
CIENTÍFICO -
TÉCNICO-CIENTÍFICAIN-
INFORMACIONAL
FORMACIONAL
• TÉCNICA E CIÊNCIA
• REVOLUÇÃO
TECNOLÓGICA

58
AULAS SISTEMAS AGRÁRIOS
25 E 26
COMPETÊNCIA: 6 HABILIDADE: 28

Poema do milho dades. Quando as técnicas agrícolas permitiam a existência


de um excedente da produção, ocorriam as primeiras tro-
Cheiro de terra, cheiro de mato.
cas comerciais. Desse modo, a vida urbana era determina-
Terra molhada depois da noite chuvada, relampeada.
da pelas atividades rurais, ou seja, pelo campo.
Tempo mudado, dando sinais. Observatório... Calendário...
Astronomia do lavrador, que planta com fé religiosa, No entanto, com o advento da industrialização e da mod-
sozinho, silencioso. ernidade, essa determinação foi gradativamente sendo al-
Cava e planta. Gestos pretéritos, imemoriais. terada. As cidades vão ganhando autonomia econômica e
Liturgia milenária, ritual de paz. dependendo cada vez menos do campo, que, por sua vez, via
Em qualquer parte da Terra um homem estará sempre crescer sua dependência das cidades. As práticas agrícolas,
plantando. mais modernas, mecanizaram-se e passaram a depender das
Recomeçando o mundo. Recriando a vida. indústrias para o seu desenvolvimento técnico.
(CORA CORALINA) Após as três revoluções industriais, a prática da agricultura

1. HISTÓRIA DA AGRICULTURA fundamenta-se, atualmente, em procedimentos sofistica-


dos e complexos, que atribuem uma nova característica
Possivelmente, a atividade agrícola exista há mais de 12 para o espaço geográfico, denominado como meio técni-
mil anos, desde o período neolítico, sendo um dos proces- co-científico-informacional. Hoje, existem técnicas avança-
sos constitutivos das primeiras civilizações, uma vez que to- das em manejo dos solos, máquinas e colheitadeiras que
dos os agrupamentos humanos já encontrados praticavam realizam o trabalho de dezenas ou até centenas de tra-
algum tipo de manejo e cultivo dos solos. balhadores em uma velocidade maior, além de avanços
propiciados pelo desenvolvimento da biotecnologia. Isso
A humanidade era, inicialmente, nômade. A partir do
significa que as práticas agrícolas cada vez mais se subor-
desenvolvimento das técnicas de cultivo agrícola, quando
dinam à ciência e à produção de conhecimento.
o homem percebeu que algumas sementes, quando plan-
tadas, germinavam e que animais poderiam ser domestica-

APRENDA MAIS
dos, foi ocorrendo um lento processo de sedentarização, ao
mesmo tempo em que surgiam novas técnicas fomentadas
pelo uso e apropriação do meio natural. Nascia a agricultu-
A domesticação de plantas teve seu início na ação
ra e, com ela, o desenvolvimento das primeiras civilizações.
dos homens primitivos, os quais, inicialmente, eram
considerados seres ignorantes e indolentes, mas que,
recentemente, em virtude de estudos arqueológicos,
passaram a ser considerados como “profissionais pri-
mitivos”. Essa alteração na denominação dos ances-
trais ocorreu por causa de uma série de considerações,
como o grande número de ferramentas desenvolvi-
das, o número de espécies coletadas, além do amplo
conhecimento em relação ao ciclo de vida das plan-
tas, o florescimento, a frutificação e a colheita. Para
PINTURA RUPESTRE DO PERÍODO NEOLÍTICO, REPRESENTANDO se ter uma ideia, a coleta das espécies, de maneira
O COTIDIANO NA TERRA, NO PARQUE NACIONAL DA SERRA DA geral, não era realizada de qualquer maneira, e sim
CAPIVARA, EM SÃO RAIMUNDO NONATO, PIAUÍ
seguindo alguns critérios, como facilidade de coleta
Assim, observamos que a agricultura foi uma atividade (sementes que apresentavam tamanhos maiores,
fundamental para a constituição e manutenção das socie-

59
mais grãos por espiga e inflorescência mais compac- entre outros. Esse segmento da economia é um dos
ta) e de transporte (facilidade de debulha, consideran- elementos que compõem o produto interno bruto
do a disponibilidade para o estoque). Provavelmente, (PIB) de um determinado lugar.
a coleta intensa de espécies, seguida por um manejo
Essa atividade é exercida há milhares de anos, sen-
elementar, pode ter resultado na modificação de algu-
do de fundamental importância para a sobrevivência
mas populações, sugerindo, inclusive, que a domesti-
humana, pois é através dela que se obtém alimento.
cação tenha precedido o cultivo.
O desenvolvimento de técnicas proporcionou (e ain-
É importante destacar que os termos “domesti- da proporciona) muitas transformações na estrutura
cação“ e “cultivo“ não são sinônimos, já que a do- da agropecuária, o que se evidencia ao analisarmos
mesticação envolve mudança na resposta genética, a evolução dos métodos de cultivo e de criação de
transformando formas silvestres em domesticadas, animais ao longo dos anos.
enquanto o cultivo relaciona-se intimamente com
a atividade humana de plantio e colheita, tanto na
forma silvestre quanto na domesticada. Além dis-
so, a domesticação nem sempre evolui em relações
agrícolas. Existem diversos fatores que tentam ex- CULTIVO DE TRIGO NO PARANÁ, BRASIL
plicar o que levou os caçadores-coletores a mudar
o seu estilo de vida e, definitivamente, dar início
à domesticação das espécies. Entre eles, estão as
mudanças climáticas ocorridas no final do período
pleistoceno, as quais forçaram não somente a con-
centração de homens e animais em oásis, como tam-
bém a existência de sincronia durante as mudanças
climáticas e culturais e a evolução gradual, irregular
e independente em diferentes ambientes.
SERENO, MARIA JANE CRUZ DE MELO; WIETHÖLTER, PAULA;
TERRA, TATIANA DE FREITAS.
DOMESTICAÇÃO DE PLANTAS: A SÍNDROME QUE DEU CERTO.
multimídia: vídeo
Mas é importante salientar que não só as técnicas moder- FONTE: YOUTUBE
nas agem sobre o meio rural. Podemos dizer que os difer- Terra e Sustentabilidade - documentário completo
entes tipos de avanço coexistem no espaço rural. Existem
sistemas agrícolas modernos, ao mesmo tempo em que
existem formas de cultivos tradicionais, como a agricultura
orgânica, a itinerante e a de jardinagem. 2. AGROSSISTEMAS
A importância da agricultura é indiscutível, pois é a partir Agrossistemas ou sistemas agrários são tipos ou modos
dela que se produzem os alimentos que sustentam a repro- de produção agropecuária em que se observa diversos ti-
dução da vida humana e os produtos primários utilizados pos de cultivo ou criação que são praticados, quais são as
pelas indústrias, pelo comércio e pelo setor de serviços, tor- técnicas utilizadas e como é a relação da agricultura ou
nando-se a base para a manutenção da economia mundial. pecuária com o espaço geográfico. Os sistemas agrícolas e
a produção pecuária podem ser classificados como inten-
sivos ou extensivos.
Agropecuária
Essa noção está ligada ao grau de capitalização e ao índice
A agropecuária equivale ao conjunto das atividades
de produtividade, independentemente da área cultivada ou
primárias, estando diretamente associada ao cultivo
de criação. O sistema agrário de um país está ligado direta-
de plantas (agricultura) e à criação de animais (pecuá- mente à sua distribuição de terras. Em alguns países onde
ria), para o consumo humano ou para o fornecimento houve uma reforma agrária “eficiente“, a base da agricultu-
de matérias-primas na fabricação de roupas, me- ra é a familiar, gerando riquezas para um número maior de
dicamentos, biocombustíveis, produtos de beleza, pessoas. Em países com maior desenvolvimento econômico,
há um melhor uso de tecnologias possibilitando uma maior

60
produtividade através de subsídios. Em outros países, a agri- água e pastagem. A produção é geralmente muito baixa e
cultura é basicamente de subsistência, sem uso de tecnolo- é destinada à manutenção das famílias (subsistência) e o
gias e baixa produtividade. pequeno excedente é comercializado.
No Brasil, constam os dois sistemas agrários. Há regiões Na agricultura extensiva são usados os elementos dispos-
com um maior uso de tecnologias e, consequentemente, tos na natureza sem a inserção de tecnologias, com técni-
uma maior produtividade em relação a outras. Não houve cas rudimentares ou tradicionais na produção; por isso,
uma eficiente reforma agrária e, portanto, a concentração a sua produtividade é baixa. A produção depende unica-
de terras é a maior problemático do espaço rural brasileiro. mente da fertilidade natural do solo, podendo ser encon-
Os grandes latifúndios são responsáveis principalmente trada tanto em pequenas como em grandes propriedades
pela produção de monoculturas e os pequenos produtores e, neste caso, por não usar insumos, é necessário ocupar
são responsáveis por quase 70% da produção de alimen- áreas maiores de cultivo para se obter maior produtividade.
tos no Brasil.

multimídia: sites A AGRICULTURA EXTENSIVA É BASTANTE DIFUNDIDA EM DIVERSOS PAÍSES DA AMÉRICA


LATINA, ÁFRICA E ÁSIA.

www.agricultura.gov.br/

2.1. Sistema extensivo


O sistema agropecuário extensivo é classificado pela
sua forma tradicional no cultivo e na criação de gado.
A pecuária de sistema extensivo, por exemplo, consiste na
criação do gado no pasto, geralmente sem grandes inves-
timentos e com a ocupação de grandes áreas, podendo
ser realizada tanto em grandes latifúndios quanto em
pequenas áreas familiares. É a criação do gado solto, com ROÇA DE FEIJÃO NA COMUNIDADE DE PEDRO CUBAS, EM IPORANGA, SP
certa liberdade, considerado ideal para o corte. A principal
vantagem da pecuária extensiva é a baixa necessidade de
investimentos, embora ainda existam gastos com reposição
2.2. Sistema intensivo
mineral e suplementação, a depender do tipo de animal Esse sistema é praticado, principalmente, em regiões
que está sendo criado. Já as desvantagens consistem na desenvolvidas – altamente mecanizado, adequação do
necessidade de ocupação de grandes áreas – o que pode solo para determinado plantio, beneficiamento de se-
gerar problemas ambientais –, a disponibilidade de pasto e mentes, utilização de fertilizantes, implementos agrícolas,
a carência que a alimentação do gado nesse tipo de criação confinamento do rebanho, entre outros elementos que
possui. A pecuária extensiva costuma ser mais largamente contribuem para intensificar a produtividade e a lucrativ-
praticada em países ou regiões de baixo avanço econômi- idade dos proprietários. Exige pouca mão de obra e mui-
co e também em áreas de expansão agrícola. Outra forma to aparato tecnológico. Na agricultura intensiva, é usado
de pecuária extensiva é o pastoreio nômade, bem mais ru- em todas as etapas da produção um grande número de
dimentar que a anterior, na qual os animais são levados insumos e a aplicação de muita tecnologia. Faz parte da
a percorrer caminhos em busca de lugares que ofereçam agricultura intensiva, a mecanização (tratores, colheitadeiras,

61
plantadeiras, implementos etc.) aliada ao uso de insumos,
que são aplicados na preparação do solo, além de sementes É um processo que prepara a terra para o cultivo de
selecionadas que são imunes a pragas e adequadas ao tipo subsistência, e torna o terreno fértil durante dois a três
de clima, herbicidas, inseticidas, entre outros. Para o desen- anos e, em alguns casos, pode chegar até o limite de
volvimento de todas as etapas, existe o acompanhamento seis anos. Passado o período de fertilidade do terre-
de um técnico (um agrônomo ou um técnico agrícola). Esse no, este é abandonado e o agricultor se desloca em
sistema de produção agrícola é denominado agricultura migração buscando um novo terreno onde colocará
moderna ou comercial; seus produtos têm como destino em prática processo semelhante. Na agricultura itiner-
a exportação. ante, não se utilizam as técnicas corretas de manuse-
amento, tais como adubar, construir trechos de água
Na pecuária moderna, a criação dos animais vem a partir
e ter em conta a ação das chuvas e/ou da falta delas.
de cuidados com a genética, análise das vantagens da
criação de uma determinada raça, utilização de medica- A não utilização dessas técnicas de agricultura provoca
mentos, além do acompanhamento de um veterinário. um maior cansaço do terreno e, ao queimar a vege-
Nesse sistema de criação, a área pastoril é de pastagens tação característica, o agricultor prejudica a atividade
de qualidade e com elevado índice de produtividade. dos micro-organismos presentes no solo e diminui sua
fertilidade por conta da redução dos nutrientes.
O aumento fugaz de produtividade, observado nos
solos onde se procedem as queimadas, deve-se ao
aumento de nitrogênio na constituição do terreno,
mas, passados alguns meses, este nitrogênio é leva-
do pela água das chuvas, e o que fica para trás é
um solo muito mais pobre e enfraquecido. Se por um
lado muitos autores defendem que a característica
GADO NELORE ZAN SENDO REFRESCADO EM UMA FAZENDA DE GUARARAPES, SP extremamente rudimentar desta técnica agrícola
leva ao rápido esgotamento do solo, por outro lado,
vários especialistas defendem que a coivara está as-
sociada à conservação dos ecossistemas florestais.
Durante o período de pousio (descanso do terra), em
torno de 10 a 20 anos, naturalmente ocorre a germi-
nação de floresta secundária no terreno abandonado,
e o terreno volta a ser produtivo outra vez, sendo
novamente utilizado para o cultivo. É normalmente
CRIAÇÃO DE GADO NO SISTEMA INTENSIVO, EM PRESIDENTE PRUDENTE-SP
aplicada em áreas de agricultura descapitalizada em
que o agricultor não é o proprietário do terreno, mas
apenas um ocupante temporário de terrenos devo-
Agricultura itinerante ou coivara lutos ou particulares, ou também por comunidades
É um método agrícola tradicional que consiste em tradicionais, como indígenas, caiçaras, quilombolas,
derrubar trechos das florestas e, depois, atear fogo ribeirinhos, entre outros.
aos resíduos do corte, processo que vulgarmente é
chamado de “queimada”. A plantação, portanto, in-
clui o corte, a derrubada e a queima da floresta na-
tiva, em que o fogo desempenha papel fundamental.
Há, então, a plantação intercalada de várias culturas
(rotação de culturas), como milho, mandioca e feijão,
para melhorar a fertilidade do solo e, de certa forma, O fato de não existirem recursos humanos e técnicos sufi-
controlar as pragas. O derrube e corte do mato são cientes para explorar terrenos de grandes dimensões leva
feitos em solos cobertos com floresta densa, e os ma- quase sempre que a agricultura itinerante seja praticada
teriais resultantes do abate são depois aproveitados em pequenas e médias propriedades, geralmente próxi-
para lenha, vedações e construção, sendo os desper- mas à residência do agricultor (embora também seja pos-
dícios queimados antes das sementeiras. sível encontrar, ocasionalmente, agricultura itinerante em
grandes latifúndios).

62
O baixo nível tecnológico desta forma de agricultura impli-
ca o uso de métodos tradicionais transmitidos oralmente, Terraceamento ou curva de nível?
de geração em geração. O terraceamento é uma técnica agrícola de plantio
elaborada para a contenção de erosões causadas
2.2.1. Plantations pelo escoamento da água em áreas de vertentes. Essa
técnica é aplicada ao parcelar uma área inclinada em
São grandes propriedades rurais monocultoras, ou seja, várias rampas, como terraços. Com isso, as águas das
cultivam uma única cultura com produção destinada à ex- chuvas, ao escoarem superficialmente, perdem sua
portação. As plantations são herança do período colonial força, removendo menos sedimentos do solo e cau-
de vários países das Américas, África e Ásia, quando eram sando menos impactos sobre ele.
responsáveis pela produção de produtos tropicais muito Além de evitar a erosão e ampliar as áreas de cultivo,
apreciados na Europa. Nas plantations, a mão de obra era o terraceamento também é importante no sentido de
escrava e explorava negros trazidos da África. aumentar o aproveitamento da água, pois, dependen-
do do tipo de terraço aplicado, as águas das chuvas
são armazenadas ou retidas, podendo ser reaproveit-
adas ou direcionadas para outros lugares.
Apesar de todas essas vantagens, o terraceamento
apresenta alguns problemas, entre eles o alto custo de
sua aplicação, que exige um estudo detalhado prévio.
Assim, é preciso compreender o tipo de solo e suas
características, além de dimensionar corretamente os
níveis dos terraços conforme a área e a declividade
do terreno, pois, caso contrário, em vez de se evitar
erosões, pode-se agravá-las.
A técnica do terraceamento é dividida em dois tipos,
TRABALHADORES COLHENDO CANA
conforme a sua função e utilidade: o terraço de arma-
zenamento e o de drenagem.
2.3. Agricultura de jardinagem Os terraços de armazenamento são os mais construí-
Também conhecida como rizicultura inundada (plantio de dos para a elaboração de canais que provoquem
arroz), é uma agricultura tradicional em vários países da a infiltração da água no terreno. Sua aplicação é
Ásia, embora com técnicas mais ou menos aprimoradas recomendada em solos que apresentem um relativo
nível de porosidade, ou seja, onde a água se infiltra
(irrigação e adubação), cuidados bastante especiais em
com maior facilidade.
relação ao vegetais e aos solos e boa produtividade por
hectare, com mão de obra abundante e técnicas de ter- É importante compreender que, ao contrário do que
muitos pensam, terraceamento não é sinônimo de
raceamento para evitar a erosão laminar.
cultivo em curvas de nível. Apesar de semelhantes,
As áreas cultivadas são minifúndios e o trabalho é manual essas técnicas diferenciam-se pelo fato de essa última
e bastante minucioso (por isso, o nome jardinagem); a pro- ser aplicada em terrenos já acidentados, onde o plan-
tio acompanha os desníveis naturais do terreno, en-
dução é comercializada com a população.
quanto no terraceamento tais desníveis são artificiais.

CULTIVO EM CURVAS DE NÍVEL

CULTIVO EM TERRACEAMENTO
AGRICULTURA DE JARDINAGEM NA ÍNDIA

63
o uso extensivo de tecnologia no plantio, na irrigação e na
colheita, assim como no gerenciamento de produção.
Esse ciclo de inovações se iniciou com os avanços
tecnológicos do pós-guerra, embora a expressão
“revolução verde“ só tenha surgido na década de
1970. Desde essa época, pesquisadores de países
industrializados prometem, através de um con-
junto de técnicas, aumentar estrondosamente as
multimídia: livros produtividades agrícolas e resolver o problema da
fome nos países em desenvolvimento. Mas, contra-
O campo no século XXI: território de vida, ditoriamente, além de não resolver o problema da
de luta e de construção da justiça social – fome, aumentou a concentração fundiária e a de-
Ariovaldo Umbelino Oliveira pendência de sementes modificadas; alterou signif-
icativamente a cultura dos pequenos proprietários;
“O campo no século XXI“ mostra a impor-
promoveu a devastação de florestas; contaminou o
tância do campo na vida política de uma na-
solo e as águas; e gerou problemas de saúde para
ção. Um movimento que não cessaria no dia
agricultores e consumidores.
em que realizasse a sonhada reforma agrária.
A terra é mais do que terra, é símbolo que A eliminação total da fome através apenas do aumento da
se liga visceralmente à vida, é propriamente oferta de alimentos é impossível, pois de que adianta ter
o lugar histórico dessas lutas, sucessoras das oferta e um amplo estoque, se a maioria das pessoas que
mais primitivas lutas dos índios, dos negros passam fome possui renda muito baixa ou não possuem
e dos camponeses que, na sofrida busca do renda; além do mais, os alimentos precisariam ser ofereci-
próprio chão, foram descobrindo as outras dos a preços muito baixos ou gratuitamente.
dimensões do seu combate. A revolução verde favoreceu o aumento da produção, mas,
por outro lado, provocou uma aceleração da desigualdade
2.4. Revolução verde fundiária. As grandes propriedades rurais possuíam recur-
sos financeiros para se modernizar e acompanhar as novas
A expressão “revolução verde“ foi criada em 1966, em uma
técnicas e tecnologias; já as pequenas propriedades en-
conferência em Washington, para conceituar a difusão de
contravam-se excluídas do processo de modernização, em
tecnologias agrícolas de altíssimo nível que permitissem um
razão da falta de apoio financeiro e técnico.
aumento considerável na produção, sobretudo em países
menos desenvolvidos. O objetivo principal era o aumento de
oferta de alimentos para combater a fome. Acreditava-se que,
se a produção de alimentos produzisse um grande excedente,
seria possível amenizar o problema da fome no mundo.

QUÍMICA EMPREGADA NO DESENVOLVIMENTO DOS TRANSGÊNICOS

Muitas vezes, ocorre com esses pequenos proprietários a


expropriação, quando o produtor encontra-se endividado.
Para sanar suas dívidas, é obrigado a vender sua proprie-
dade; às vezes, são os latifundiários que fazem a compra,
aumentando ainda mais seu latifúndio.
Na visão ambiental, o desenvolvimento da agropecuária
tem provocado, ao longo das últimas décadas, profundas
alterações no meio ambiente, como o empobrecimento
O modelo se baseia na intensiva utilização de sementes ge- e a perda de toneladas de solo, poluição, surgimento de
neticamente alteradas (particularmente sementes híbridas), erosões, poluição dos mananciais provocada por agrotóx-
insumos industriais (fertilizantes e agrotóxicos), mecanização, ico, criação de novas áreas de cultivo com derrubadas da
produção em massa de produtos homogêneos e diminuição cobertura vegetal natural e uma série de graves problemas
do custo de manejo. Também é creditado à revolução verde ecológicos decorrente da prática da agricultura moderna.

64
Tipologia de degradação Opções de intervenção
dos ecossistemas
Tipo 1 - Uso de técinicas muito de- Reabilitar caso seja economicamente veável;
gradantes ou terras muito degradadas abrandar onde métodos de prod. são mais degradantes

Tipo 2 - Técnicas moderadas ou Introduzir medidas para abrandar degradação


terras moderadamente degradadas

Tipo 3 - Terreno estável, leve Intervenções preventivas


ou moderadamente degradado

Tipo 4 - Terreno em recuperação Reforçar condições de implantação


do manejo sustentável da terra

Tipo 4:
Terreno em recuperação Áreas ainda não utilizadas

10%
18%

Tipo 3: 2% Água
Terreno estável, leve
ou moderadamente
degradado
36%

25%

Tipo 1:
Uso de técnicas muito degradantes
8% ou terras muito degradadas

Tipo 2:
Técnicas moderadas ou terras
moderadamente degradadas
GRÁFICO COM OS DIFERENTES TIPOS DE DEGRADAÇÃO DOS ECOSSISTEMAS

2.4.1. Agrobusiness 2.5. Agrossistemas alternativos


Agrobusiness (do inglês, “negócios agrícolas“), que na Representa uma forma de produção ecologicamente corre-
prática significa agroindústrias, é o termo utilizado para ta para amenizar os problemas sociais e ambientais. Nesse
denominar a fusão da produção primária da agricultura e sistema, busca-se a eliminação de agrotóxico. Atualmente,
pecuária com a indústria, onde ocorre o processamento ou o produto orgânico tem conseguido um valor mais eleva-
industrialização dos produtos oriundos da agropecuária. do graças à sua qualidade, pois são mais saudáveis, não há
São exemplos de agroindústria (agrobusiness): laticínio, adição de substâncias químicas, pois o combate às pragas
frigorífico, indústria têxtil, entre outras. e os fertilizantes são feitos com controle biológico, ou seja,
agentes que não são prejudiciais ao organismo e à natureza.
A produção alternativa pratica a policultura (cultivo
de várias culturas), jamais a monocultura (cultivo de
uma única cultura). O objetivo é produzir alimentos
saudáveis e equilíbrio ambiental, diminuição do êxodo
COLHEITA DE SOJA rural e do desemprego.

65
Características principais ƒ Agricultura ecológica

ƒ Não utiliza métodos que possam contaminar o solo Vantagens


ou degradá-lo. Os métodos agrícolas utilizados bus-
ƒ Produção de alimentos sem contaminação quími-
cam conservar as características e potenciais naturais
ca. Portanto, são mais saudáveis.
do solo.
ƒ Visa o equilíbrio ecológico na agricultura, respeitan- ƒ Sabor mais natural dos alimentos (em compara-
do, assim, o meio ambiente. ção com os produzidos de forma convencional).

ƒ Produção de frutas, legumes, grãos e outros gêneros ƒ Preservação do solo, dos ecossistemas e dos recur-
agrícolas sem nenhuma contaminação química. Por- sos naturais, ou seja, respeito ao meio ambiente.
tanto, os produtos são naturais.
Desvantagens
ƒ Práticas como queimadas não são empregadas
nos processos agrícolas. ƒ Preços dos produtos agrícolas são mais elevados
em comparação aos produzidos pela agricultura
ƒ Pouca ou nenhuma mecanização.
convencional.
ƒ Uso de mão de obra especializada.
ƒ A produção é em escala menor do que a convencio-
ƒ Não realiza desmatamentos para geração ou am-
nal, não suprindo a demanda mundial por alimentos.
pliação de áreas agricultáveis.
ƒ Áreas de produção próximas às áreas de consumo.
Este fator possibilita menor uso de meios de trans-
portes e, por consequência, a redução da poluição
do ar.
ƒ Uso de fertilizantes naturais.
ƒ Uso de métodos naturais de controle de pragas.
ƒ Uso racional de recursos naturais (água, por exem-
plo), evitando, assim, o desperdício.

Exemplos
ƒ Agricultura orgânica
ƒ Agricultura biodinâmica multimídia: música
ƒ Agricultura biológica FONTE: YOUTUBE
Noites do sertão – Milton Nascimento
ƒ Agricultura natural

66
CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS

Considerando a inter-relação nos processos que envolvem os sistemas agrícolas, fica evidente a participação de áreas
biológicas, exatas e humanas, tanto básicas como profissionalizantes. Na área biológica, há necessidade de se co-
nhecer os sistemas de produção vegetal, os fatores de rendimento e as anomalias bióticas a abióticas, com ênfase na
diagnose, taxonomia e biologia dos agentes bióticos que impedem a expressão do rendimento das culturas agrícolas.
É fundamental a visão ecológica, para que o ambiente seja respeitado; deve-se entender a ação dos defensivos nos
organismos não alvos e seu comportamento no solo, água e atmosfera e o destino correto de embalagens vazias,
incluindo sua descontaminação e reciclagem. Assim como a visão toxicológica, para que o ser humano – sujeito à
exposição dos defensivos durante o preparo da calda e sua aplicação ou no consumo dos alimentos com resíduos;
deve-se entender o significado de período de carência ou intervalo de segurança, LMR (limite máximo de resíduo) e
intervalo de reentrada, além de noções de seguranças e antídotos.

ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM

Habilidade
28 Relacionar o uso das tecnologias com os impactos socioambientais em diferentes contextos histórico-geográficos.
O desenvolvimento das inovações tecnológicas na agricultura, inserido no contexto mais amplo da chamada mod-
ernização agrícola, afetou a sociedade como um todo, considerando que as mudanças das práticas tradicionais para
uma nova base técnica com atividades cada vez mais modernas se desdobram em consequências que acarretaram
mudanças não apenas para o espaço agrário, mas ainda para outros setores, no caso as socioambientais, direta-
mente relacionadas às populações urbanas e rurais.
As mudanças nas técnicas de produção instauradas desde a base do sistema agrícola, com a entrada de insumos
químicos, sementes selecionadas, técnicas de plantio até a outra ponta do sistema, onde alcança o espaço urbano
industrial com o produto já industrializado, proporcionaram maior produtividade do solo e, sobretudo, maiores ren-
dimentos, sob pressão dos mercados urbanos. A partir da intrínseca relação, cada vez mais intensa, entre agricultura
e indústria instaurada por este novo modelo agrícola e do acelerado processo de expansão industrial, aumenta a
preocupação com os danos causados ao meio ambiente, o que leva o governo a retomar o emprego de ações dire-
cionadas à ampliação da política ambiental. Contudo, tal estratégia destinada a alavancar a política ambiental surge
em uma posição de subordinação a serviço das necessidades do desenvolvimento econômico capitalista, fato central
e preponderante das políticas públicas. Na sua estrutura e nas suas estratégias, a política ambiental abarca o conceito
de gestão, utilizado para incluir, além da gestão pública do meio ambiente, ações desenvolvidas por empresas e in-
stituições não governamentais, para administrar suas atividades dentro do princípio de proteção do bem ambiental,
responsabilidade essa não apenas do governo, mas sim de toda sociedade.

67
Modelo
(Enem)

Na imagem, visualizam-se um método de cultivo e as transformações provocadas no espaço geográfico. O objetivo


imediato da técnica agrícola utilizada é:
a) controlar a erosão laminar.
b) preservar as nascentes fluviais.
c) diminuir a contaminação química.
d) incentivar a produção transgênica.
e) implantar a mecanização intensiva.

Análise expositiva - Habilidade 28: O método de cultivo visualizado na imagem é o de terraceamento


A ou curvas de nível. Essa prática dificulta a erosão laminar pela água das chuvas ou da irrigação, já que é
retirada a declividade do terreno a partir dos terraços (degraus) feitos no relevo irregular.
A questão aborda aspectos sobre o sistema de plantio em patamares ou em curvas de nível, e a imagem
permite observar uma técnica de cultivo denominada de patamares (terraços). Esta técnica tem a finali-
dade de diminuir o escoamento superficial (erosão laminar). O processo se dá pela quebra da declividade
acentuada nas encostas das serras, favorecendo, assim, uma maior infiltração da água. Podemos citar como
exemplo, o sistema agrícola de jardinagem encontrado no sudeste asiático.
Alternativa A

68
DIAGRAMA DE IDEIAS

AGROSSISTEMAS

EXTENSIVO INTENSIVO
(EX: FAMILIAR) (EX: AGRONEGÓCIO)

PROBLEMAS
SOCIOAMBIENTAIS

EROSÃO POLUIÇÃO DESIGUALDADE REDUÇÃO DAS


DO SOLO DOS RIOS FUNDIÁRIA MATAS E FLORESTAS

69
REGIÕES SOCIOECONÔMICAS MUNDIAIS: Incidência
do tema nas principais provas

O exame é interdisciplinar e tem como foco A prova sempre apresenta temas muito atuais,
principal promover reflexões sobre a sociedade, ou seja, a base de formulação das questões
a sua interação com o espaço e a visão crítica quase sempre está ligada à atualidade e a
sobre as ações da humanidade. A maior parte textos especializados em economia e política,
das questões aborda temas como globalização como da globalização na atualidade e suas
e comércio internacional. consequências para os Estados.

É importante destacar que essa é uma prova A estrutura das questões é semelhante às A VUNESP apresentou inúmeras questões
altamente contextualizada, que cobra muitos questões do Enem, principalmente por sua de funções nas suas últimas provas, tanto na
temas atuais e de destaque na imprensa, com distribuição de tópicos e disciplinas. Por- primeira quanto na segunda fase.
textos científicos de autores famosos que tanto, ambas as provas contam com muitas
tiveram algum destaque recente. questões de interpretação e compreensão
de textos.

Esse vestibular preza por questões com enun- Essa prova costuma apresentar questões de Para resolver as questões dessa prova, é A prova aborda a globalização com ênfase
ciados pequenos, de fácil interpretação e que política econômica, globalização e geopolítica. fundamental saber relacionar os avanços em algumas de suas consequências, como a
buscam por temas bem atuais da Geografia, tecnológicos após a Segunda Guerra Mundial integração cultural mundial, a expansão das
como as consequências da crise econômica e a série de modificações que eles causaram empresas multinacionais e a organização dos
dos EUA, em 2007-2008. nas relações econômicas e de trabalho. países em blocos econômicos.

UFMG

As questões tratam de temas relacionados à A prova costuma contar com um núcleo de te- A Faculdade de Ciências Médicas apresenta
regionalização do espaço mundial. Portanto, mas frequentemente cobrados pelo vestibular, uma prova com poucas questões, porém abor-
é extremamente importante possuir conheci- como globalização e geografia regional. dando vários temas da matemática dentro
mentos sobre as diferentes lógicas territoriais delas. O aluno deve estudar detidamente as
e da diversidade teórico-conceitual. aulas deste livro para alcançar um resultado
satisfatório.

Para resolver as questões dessa prova, é No que se refere à geografia econômica, é Esse exame busca avaliar, principalmente, a
fundamental estar ciente sobre assuntos da necessário compreender aspectos ligados habilidade de leitura de textos de gêneros
atualidade, como as mudanças territoriais re- à globalização, em que se destacam a con- variados, relacionando-os às suas condições
centes, além de conhecer importantes marcos teinerização das mercadorias, as fases da de produção.
históricos, como o fim da Guerra Fria. industrialização, as medidas econômicas e os
fluxos de informação.

71
AULAS ANTIGA ORDEM MUNDIAL
17 E 18
COMPETÊNCIAS: 2e3 HABILIDADES: 7 e 14

1. A ORDEM BIPOLAR DA GUERRA FRIA


“Gerações inteiras se criaram à sombra de batalhas nucleares globais que, acreditava-se firmemente, podiam estourar a
qualquer momento, e devastar a humanidade. Na verdade, mesmo os que não acreditavam que qualquer um dos lados
pretendia atacar o outro achavam difícil não ser pessimista (...). A peculiaridade da Guerra Fria era a de que, em termos
objetivos, não existia perigo iminente de guerra mundial. Mais que isso: apesar da retórica apocalíptica de ambos os lados,
mas sobretudo do lado americano, os governos das duas superpotências aceitaram a distribuição global de forças no fim da
Segunda Guerra Mundial, que equivalia a um equilíbrio de poder desigual mas não contestado em sua essência.”
ERIC HOBSBAWM. ERA DOS EXTREMOS.

O mundo bipolar (1948-1991)

Após a Primeira Guerra Mundial, os países arrasados esfor- a guerra, a União Soviética havia incorporado grande parte
çaram-se para se reconstruir. A Alemanha, tida como pivô da Europa oriental à sua órbita de influência geopolítica.
do conflito, mergulhou numa profunda crise econômica e À medida que as tropas de Stalin expulsava as de Hitler,
social. Assim, criaram-se condições favoráveis para a as- substituíam-nas pelas suas. Observou-se a partir de então
censão do nazismo: grave crise econômica, revanchismo, o surgimento de uma nova potência capaz de fazer frente
especialmente contra a França pelas humilhações impostas aos EUA. Preocupados com o avanço da União Soviética
pelo Tratado de Versalhes, nacionalismo e racismo. na Europa, os EUA iniciou imediatamente um processo de
Adolf Hitler tomou o poder, em 1933, com um discurso revitalização da porção ocidental europeia.
que convenceu o povo alemão. Após constituir o Terceiro O ano de 1947 é considerado o ano de início da Guerra
Reich, partiu para a conquista do “espaço vital”, lançando Fria, quando os EUA elaboraram estratégias como a Dou-
a Alemanha num projeto expansionista. trina Truman e o Plano Marshall. O pressuposto geo-
Tem início a Segunda Guerra Mundial, onde EUA e União político fundamental da Doutrina Truman era impedir a ex-
Soviética lutaram lado a lado contra a Alemanha de Hitler. pansão do socialismo. Possui esse nome pois o idealizador
Entretanto, sabe-se que essa união foi circunstancial e que da doutrina foi o então presidente dos EUA, Harry Truman.
perduraria apenas enquanto houvesse um inimigo comum Sua ideia era conter o expansionismo da URSS, fazendo
aos dois países. E de fato, foi o que aconteceu. Terminada alianças com outros países para isolá-la.

72
Complementando a Doutrina Truman, o secretário de Estado internacional para resolver problemas econômicos sociais,
estadunidense, George C. Marshall, idealizou um plano de culturais e humanitários.
ajuda econômica para acelerar a recuperação dos países da
Sediada em Nova Iorque, a ONU substituiu a Liga das Na-
Europa ocidental: o Plano Marshall. Esse plano, ao consoli-
ções, criada após a Primeira Guerra Mundial. Fazem parte
dar as economias capitalistas da Europa ocidental, além de
da ONU organismos especializados tais como a Organiza-
frear a influência comunista, ainda tinha como objetivo re-
ção Mundial da Saúde (OMS), a Organização Internacio-
cuperar mercados para produtos e capitais estadunidenses.
nal do Trabalho (OIT), o Fundo das Nações Unidas para a
O mundo da Guerra Fria foi marcado pela bipolarização infância (Unicef), o Banco Mundial e o Fundo Monetário
de poder entre Estados Unidos e União Soviética, que bus- Internacional (FMI).
caram expandir suas respectivas zonas de influência. O

© Mario Savoia/Shutterstock
mundo foi dividido em blocos geopolíticos e ideológicos:
o bloco ocidental designava os países capitalistas alinha-
dos aos Estados Unidos, e o bloco oriental tornou-se si-
nônimo de países socialistas, ou de economia planificada,
alinhados à União Soviética. Foi o chamado conflito Leste
× Oeste, marcado pelo antagonismo geopolítico militar e
ideológico-propagandístico entre os blocos liderados pelas
duas superpotências.

Comecon
SEDE DA ONU, EM NOVA IORQUE, NOS EUA
Em 1951, foi elaborado o Plano Colombo, uma orga-
nização realizada por países do sudeste asiático, com O órgão de maior poder da ONU é o Conselho de Segu-
intenções de reestruturação social. Os estadunidens- rança, que tem a função de manter a paz, regular a posse
es realizaram alguns investimentos para estimular a de armamentos, empreender ações militares, ou autorizá-
economia do subcontinente, mas o volume de capital -las, e resolver controvérsias entre os países. Formado por
investido foi muito menor ao destacado para o Plano delegados de quinze países membros, dos quais cinco são
Marshall, porém bem menos ambicioso, para estimular permanentes (EUA, Reino Unido, França, Rússia e China), e
o desenvolvimento de países do sul e sudeste da Ásia. dez são eleitos a cada dois anos. Concentra-se o poder da
Em resposta ao plano econômico estadunidense, a entidade sobretudo nas mãos dos membros permanentes,
União Soviética propôs-se a ajudar também seus países que têm o poder de veto. Assim, as principais potências
aliados, com a criação do Comecon (Conselho para As- acabam tendo controle das decisões sobre a paz mundial.
sistência Econômica Mútua). O Comecon foi proposto Em diversas situações, a ONU tem defendido os interesses
como maneira de impedir os países-satélites da União dessas grandes potências, impondo sanções econômicas
Soviética de demonstrar interesse no Plano Marshall, e ou embargos, como no caso da Líbia, em 1992, e do
não abandonarem a esfera de influência de Moscou. Iraque, de 1990 a 2003.
Durante a Guerra Fria, a ONU, na prática, ficou paralisada.
Os países socialistas procuraram formar alianças econômi- Nesse período, todas as decisões que tomava contrariavam
cas, políticas e militares, constituindo, entre outros organis- os interesses norte-americanos ou soviéticos. A superpo-
mos, o Pacto de Varsóvia, organização militar comandada tência que se sentia prejudicada vetava qualquer resolução
pela URSS, formada em 1955 e extinta em 1991. Os países tomada pela entidade.
capitalistas, sob o comando dos Estados Unidos, reuniram
seus aliados na Organização do Tratado do Atlântico Norte 1.2. Momentos de tensão
(Otan), criada em 1949 para defender a Europa ocidental e principais eventos
da ameaça soviética.
Como sabemos, a história desse período ficou selada sob
um padrão único pela situação internacional dominante
1.1. A ONU e a tentativa de reordenação até a queda da URSS. Mal terminava a Segunda Guerra
Formada em 1945, a Organização das Nações Unidas Mundial e a humanidade logo mergulhava no que muitos
(ONU) foi criada com o objetivo de preservar a paz e a historiadores chamaram de a “Terceira Guerra Mundial”,
segurança no mundo, além de promover a cooperação embora uma guerra muito peculiar.

73
Estrategicamente, o sistema bipolar enfatizava a capaci-
dade militar, materializada nas reservas nucleares. A posse
de arsenais capazes de destruir o mundo tornou-se uma
marca das superpotências.
Vários foram os momentos de tensão durante a Guerra
Fria. A seguir, destacaremos os seguintes eventos:

1.3. A divisão da Alemanha


e o bloqueio de Berlim
Os países vencedores da Segunda Guerra impuseram pe-
sadas sanções à Alemanha, dentre as quais a divisão da MURO DE BERLIM E PORTÃO DE BRANDEMBURGO, AO FUNDO (1961)
Alemanha em quatro áreas administrativas (pelo acordo
de Potsdan), cada uma chefiada por um dos vencedores –
Estados Unidos, França, Reino Unido e União Soviética – e
1.4. Corridas armamentista e espacial
duas zonas de influência – capitalista e socialista. A capital, Terminada a guerra, as duas potências vencedoras dispu-
Berlim, enquanto a sede do Conselho de Controle Aliado, nham de uma enorme variedade de armas, muitas delas
foi igualmente dividida em quatro setores, apesar da cida- desenvolvidas durante o conflito, outras obtidas dos cien-
de estar situada bem no interior da zona soviética. tistas alemães e japoneses. Além das armas convencio-
nais, também haviam sido desenvolvidas novas gerações
de armas, como as químicas e as biológicas.
O maior destaque ficou com uma nova arma não con-
vencional, mais poderosa já testada até então: bomba
atômica. Só os Estados Unidos tinham essa tecnologia,
o que aumentava em muito seu poderio bélico e sua su-
perioridade militar estratégica em relação aos soviéticos.
Alemanha e Berlim
Zonas de Ocupação Pós-2ª Guerra Mundial A União Soviética iniciou então seu programa de pes-
quisas para também produzir tais bombas, o que con-
seguiu em 1949. Mas logo a seguir, os Estados Unidos
testavam a primeira bomba de hidrogênio, centena de
Em 1948, numa tentativa de controlar a inflação galopante vezes mais poderosa. A União Soviética levaria até 1953
da Alemanha, os Estados Unidos, a França e o Reino Unido para desenvolver a sua versão desta arma, dando início
criaram uma “trizona” entre suas zonas de influência, para a uma nova geração de ogivas nucleares menores, mais
fazer valer nestes territórios o marco alemão. Josef Stalin, leves e mais poderosas.
então líder da URSS, reprovou a ideia e como resposta pro-
curou reunificar Berlim sob sua influência. Desse modo, em Essa corrida ao armamento era movida pelo receio recí-
23 de junho de 1948, Stalin instituiu o bloqueio de Berlim, proco de que o inimigo passasse a frente na produção de
onde todas as rotas terrestres foram fechadas pelas tropas armas, provocando um desequilíbrio no cenário internacio-
soviéticas, privando a cidade de alimentos e combustíveis, nal. Se um deles tivesse mais armas, seria capaz de destruir
numa violação dos acordos da Conferência de Ialta. o outro.

O muro foi construído de fato na madrugada de 13 de A corrida atingiu proporções tais que, já na década de
agosto de 1961 e tinha 66,5 km de gradeamento metálico, 1960, os Estados Unidos e a URSS tinham armas suficiente
muitas torres de observação, redes metálicas eletrificadas para vencer e destruir qualquer outro país do mundo. Uma
com alarme e cães de guarda. Este muro era patrulhado quantidade tal de armas nucleares foi construída, que per-
por militares da Alemanha Oriental socialista com ordens mitiria a qualquer uma das duas superpotências, sobreviver
de atirar para matar os que tentassem escapar, o que pro- a um ataque nuclear maciço do adversário, e a seguir, utili-
vocou a morte de muitas pessoas, além dos feridos e apri- zando apenas uma fração do que restasse do seu arsenal,
sionados nas diversas tentativas de fuga para o ocidente pudesse destruir o mundo. Esta capacidade de sobreviver a
capitalista, além de separar, até sua queda, dezenas de mi- um primeiro ataque nuclear, para a seguir retaliar o inimi-
lhares de famílias berlinenses que ficaram divididas e sem go com um segundo ataque nuclear devastador, produziu
nenhum contato. medo suficiente nos líderes destes dois países para impedir

74
uma guerra nuclear, sintetizado em conceitos como “des- investida contra os cubanos. Por outro lado, no plano estra-
truição mútua assegurada“ ou “equilíbrio do terror”. tégico global, isto representava uma resposta à instalação
de mísseis Júpiter II pelos estadunidenses na cidade de Es-
Além do campo bélico, as duas superpotências tam-
mirna, Turquia, que poderiam ser usadas para bombardear
bém disputavam primeiro lugar nos avanços da ex-
todas as grandes cidades da União Soviética.
ploração do espaço sideral, dando início no que se
convencionou chamar de corrida espacial. A tensão Em 26 de outubro, a União Soviética disse que retiraria
sentida pelas pessoas com relação às duas superpo- seus mísseis de Cuba, se Washington se comprometesse
tências acentuou-se com o início da corrida armamen- a não invadir Cuba e a retirar os mísseis balísticos da Tur-
tista, cujo “vencedor” seria a potência que produzisse quia. A pressão e a tensão foram tamanhas que em 28
mais armas e mais tecnologia bélica. Em contraponto, de outubro, Kennedy foi obrigado a ceder aos pedidos, e
a corrida espacial trouxe grandes inovações tecnológi- concordou em retirar os mísseis da Turquia e não atacar
cas e proporcionou um grande avanço nas telecomu- Cuba. Assim, Nikita Kruschev retirou os mísseis nucleares
nicações e na informática. soviéticos da ilha.

1.5. Macartismo
O macartismo, criado pelo senador estadunidense Joseph
McCarthy nos anos 1950, culminou na criação do Comitê
de Investigação de Atividades Antiamericanas do Senado
dos Estados Unidos, isto é, toda e qualquer atividade pró-
-comunismo estava terminantemente proibida e qualquer
um que as estimulasse estaria sujeito à prisão ou extradi-
ção. Inúmeros artistas e produtores de filmes ou de progra-
mas de televisão que criticavam o governo estadunidense
foram acusados de comunistas. Foi criada a Lista Negra
de Hollywood contendo os nomes de pessoas do meio
multimídia: vídeo
artístico acusados de atividades antiamericanas. A era do FONTE: YOUTUBE
macartismo acabou por extirpar do meio artístico norte- Treze dias que abalaram o mundo
-americano a maior parte dos produtores progressistas ou É um drama americano, dirigido por Roger
simpatizantes da esquerda. Donaldson, com roteiro baseado no livro
homônimo de Robert F. Kennedy e relata a
1.6. A crise dos mísseis crise dos mísseis de Cuba. Em outubro de
Cuba sofreu uma revolução em 1959, que retirou o 1962 um avião U-2, que fazia vigilância de
ditador pró-estadunidense Fulgêncio Batista do poder, rotina, tira fotos aéreas que revelam que a
e instaurou a ditadura de Fidel Castro. A instauração União Soviética está em processo de colocar
de um regime socialista preocupou a Casa Branca que uma plataforma de lançamento de armas
ainda em 1959 tentou depor o novo governo, apoian- nucleares em Cuba. Estas armas terão a
do membros ligados ao antigo regime e iniciando um capacidade de destruir em minutos a maior
embargo econômico à ilha. Com o bloqueio do comér- parte do leste e sul dos Estados Unidos
cio de petróleo e grãos, Cuba passa a adquirir esses quando ficarem operacionais. O presidente
produtos da URSS a baixos custos. Em 1961, a CIA John F. Kennedy (Bruce Greenwood) e seus
chegou a organizar o desembarque de grupos de opo- assessores têm de pôr um plano de ação
sição armados que deporiam Fidel Castro na operação contra os soviéticos.
da invasão da Baía dos Porcos, que foi um fracasso
completo. Diante desta situação o novo regime cuba-
no acaba se aproximando da URSS, que oferece pro- 1.7. Guerra do Vietnã
teção militar.
A guerra do Vietnã foi um dos maiores confrontos mili-
Em 1962, a União Soviética foi flagrada construindo 40 tares envolvendo capitalistas e socialistas no período da
silos nucleares em Cuba. De acordo com o primeiro-minis- Guerra Fria. Opôs o Vietnã do Norte e guerrilheiros pró-
tro da URSS, Nikita Kruschev, a medida era puramente de- -comunistas do Vietnã do Sul contra o governo pró-capi-
fensiva, para evitar que os Estados Unidos tentassem nova talista do Vietnã do Sul e os Estados Unidos.

75
Após a Convenção de Genebra (1954), o Vietnã, recém- incessantemente. Contando com o conhecimento do
-independente da França, seria dividido em duas zonas de território, os vietnamitas do norte conseguiram vencer
influência e estas zonas seriam desmilitarizadas e mantidas os Estados Unidos, o que é visto como uma das mais
cada uma sob um dos regimes (capitalismo e socialismo). vergonhosas derrotas militares dos Estados Unidos. Em
O ano de 1957 foi a data estipulada para a realização de 1975, os Estados Unidos e o Vietnã do Norte assinaram
um plebiscito, decidindo sobre a reunificação ou não do os Acordos de Paz de Paris, onde os Estados Unidos re-
país e se a reunificação acontecesse, qual seria o sistema conheceram a unificação do Vietnã sob o regime comu-
de governo estabelecido. nista de Ho Chi Minh.
Contudo, se a reunificação ocorresse, seria um problema A derrota dos Estados Unidos evidenciou o fracasso
para o governo do Vietnã do Sul, alinhado com os Esta- da política estadunidense na Ásia e acarretou a re-
dos Unidos, tendo em vista que o líder do norte, Ho Chi formulação, no Governo Nixon, da política externa
Minh, era muito benquisto entre a população por ser de- no Oriente.
fensor popular e herói de guerra. O governo do Vietnã do
Sul decidiu proibir o plebiscito de ocorrer em seu território,
pois queria manter o alinhamento com os estadunidenses.
Como o Vietnã do Norte queria a reunificação, iniciaram
uma guerra contra o Sul.

Vietnão do Norte

Paralelo 17° Norte multimídia: vídeo


(1955 - 1976) FONTE: YOUTUBE
Boa Noite, e Boa Sorte
Boa Noite, e Boa Sorte é um filme de 2005, do
Vietnão do Sul gênero drama, dirigido por George Clooney
e com roteiro escrito por Clooney e Grant
Heslov, que conta a história de Edward R.
Morrow, um âncora de televisão que entra em
confronto com o senador Joseph McCarthy
ao expôr as táticas e mentiras usadas por
ele em sua caça aos supostos comunistas.
Inicia-se, então, um grande confronto público
O Vietnã do Norte contou com o apoio da Frente de Li- que trará consequências à recém-implantada
beração Nacional, ou vietcongs, um grupo de rebeldes televisão nos Estados Unidos.
no Vietnã do Sul. No ano de 1965 os Estados Unidos en-
traram na guerra ao lado do Vietnã do Sul, com o objetivo
de manter o governo capitalista no Vietnã, e temendo a
ideia do “efeito dominó” no qual, ao verem um país que se 1.8. Guerra da Coreia
libertou do capitalismo preferindo o socialismo, outros pa-
O único grande confronto militar que envolveu batalhas
íses poderiam seguir o exemplo, como foi o caso de Cuba.
envolvendo forças militares estadunidenses e soviéticas foi
Até 1965, a guerra estava favorável ao Vietnã do Norte, a guerra da Coreia. A península da Coreia foi dividida em
mas quando os Estados Unidos se lançaram ao ataque 1945, pelo paralelo 38º N, em duas zonas de influência:
contra o Vietnã do Norte, tudo parecia indicar que seria uma ao norte, a República Popular da Coreia, ocupada pela
um grande massacre dos vietnamitas, e uma fácil vitó- União Soviética, e uma porção ao sul do paralelo 38º N,
ria ocidental. Mas os vietnamitas do norte viram nessa ocupada pelas tropas estadunidenses e que permaneceu
guerra uma extensão da guerra de independência que capitalista com apoio das nações ocidentais, passando a
haviam acabado de vencer contra a França, e lutaram ser conhecida como República da Coreia.

76
Em 1950, os líderes da Coreia do Norte, incentivada pela resses políticos e econômicos dos Estados Unidos foram
vitória do socialismo na China um ano antes, recebeu removidos do poder.
apoio da URSS para tentar reunificar a Coreia sob o co-
mando de um governo socialista, invadiu e ocupou a capi-
tal sul-coreana, Seul, desencadeando um conflito armado.
Os Estados Unidos solicitaram ao Conselho de Segurança
das Nações Unidas, a formação de uma força multinacio-
nal para defender a Coreia do Sul. Na ocasião a URSS se
recusou a participar da reunião do Conselho de Segurança
das Nações Unidas em que esta medida foi discutida, e os
Estados Unidos conseguiram legitimar a primeira grande
batalha militar da Guerra Fria contra o bloco soviético.
A CHARGE DO CARTUNISTA LATUF REPRESENTA O QUE FICOU CONHECIDA NOS
ANOS DE 1970 E 1980 COMO OPERAÇÃO CONDOR (TAMBÉM CONHECIDA
COMO CARCARÁ, NO BRASIL), UMA ALIANÇA POLÍTICO-MILITAR ENTRE OS
China
VÁRIOS REGIMES MILITARES DA AMÉRICA DO SUL (BRASIL, ARGENTINA,
Coreia do Norte
CHILE, BOLÍVIA, PARAGUAI E URUGUAI) COM A CIA DOS ESTADOS UNIDOS
E QUE TINHA COMO OBJETIVO COORDENAR A REPRESSÃO A OPOSITORES DESSAS
DITADURAS, ELIMINAR LÍDERES DE ESQUERDA INSTALADOS NOS PAÍSES.
Pyongyang
Paralelo 38º

Seul Em 1961, o presidente Kennedy criou a Aliança para o Pro-


gresso, para abrandar as tensões sociais e auxiliar no desen-
Coreia do Sul volvimento econômico das nações latino-americanas, além
de conter o avanço comunista no continente americano. Este
programa ofereceu ajuda técnica e econômica a vários paí-
ses. Com isto pretendia-se afastar a possibilidade das nações
As tropas estadunidenses fizeram a resistência no sul, re-
da América latina alinharem-se com o bloco soviético. Mas,
conquistando a cidade e partindo em uma investida contra
o norte. A China, sentindo-se ameaçada pela aproximação como programa não alcançou os resultados esperados, foi
das forças ocidentais, enviou reforços, fazendo da Coreia extinto em 1969 pelo presidente Richard Nixon.
um grande campo de batalha. A seguir, apresentamos alguns dos golpes de Estado ocor-
Apenas quando a União Soviética já havia testado sua pri- ridos na América latina neste período:
meira bomba de hidrogênio é que um armistício foi assina- ƒ Guatemala (1954): Jacobo Arbenz Guzmán, presi-
do em Panmunjon em julho de 1953. Esse acordo manteve dente reformista eleito, foi deposto pelo primeiro golpe
a península da Coreia dividida em dois Estados soberanos, de Estado promovido pela CIA na América latina.
praticamente como antes do início da guerra, com mudan-
ƒ Brasil (1964): João Goulart foi deposto por uma re-
ças mínimas na linha de fronteira. Essa divisão da Coreia
volta militar e exilou-se no Uruguai.
em dois países se mantém até hoje.
ƒ Chile (1973): em 11 de setembro, uma rebelião mi-
1.9. América latina, África e Ásia litar liderada por Augusto Pinochet e apoiada pelos
Estados Unidos depôs o presidente Salvador Allende.
Durante a Guerra Fria, a propaganda e os esforços anti-
comunistas dos Estados Unidos também foram sentidos A Guerra Fria também contribuiu para o fim dos impérios
na América latina. De 1946 a 1984, os Estados Unidos coloniais na África e na Ásia. Cada uma das superpotências
mantiveram no Panamá a Escola das Américas, um órgão via na descolonização uma oportunidade de ampliar suas
que tinha como finalidade formar lideranças militares pró- influências políticas e econômicas. O surgimento de novos
-Estados Unidos. Vários ditadores latino-americanos foram países que, ao lado das nações latino-americanas, formaram
alunos desta instituição, entre eles o ditador do Panamá o bloco de países do Terceiro Mundo, que esteve sob influ-
Manuel Noriega. A partir de 1954, os serviços de inteli- ência dos países capitalistas desenvolvidos (Primeiro Mundo)
gência estadunidenses participaram de golpes de Estado ou de países socialistas (Segundo Mundo). A dependência
contra governos latino-americanos, pois após a revolução deste bloco será responsável pela concentração de renda
cubana, o receio de que o comunismo se espalhasse pelas nos países ricos e pelo crescente endividamento externo dos
Américas cresceu muito. Governos simpáticos ao comunis- países subdesenvolvidos, apresentando sérios problemas de
mo ou democraticamente eleitos, mas contrários aos inte- saúde, educação, desnutrição, entre outros.

77
1.10. Fim da Guerra Fria
Ainda que os países socialistas tenham conseguido progre-
dir na área social e na área econômica, com planos de in-
dustrialização e aumento da produção, não alcançaram as
transformações demandadas pelo avanço tecnológico dos
países capitalistas. A URSS, por exemplo, atingiu um grande
crescimento econômico e chegou a ser uma grande potên-
cia, porém diversos fatores contribuíram para a dissolução
e queda do socialismo em diversos países, como a falta de
QUEDA DO MURO DE BERLIM
concorrência, (que acarretou baixa produtividade, provocan-
do atraso tecnológico e dificultando a participação da URSS
na economia mundial), o controle centralizado do Estado, a
corrupção, os privilégios das classes dirigentes e os limites
impostos às liberdades individuais.
A Guerra Fria se manteve até 1989, com a queda do muro
de Berlim. Nos dois anos seguintes, o Pacto de Varsóvia,
que ordenava o espaço geopolítico da Europa oriental foi
dissolvido. Desenrolou-se, paralelamente, a reunificação ale-
mã, onde a RFA incorporou a RDA. Com a fragmentação
da URSS, formou-se, a partir de 1991, a Comunidade dos
Estados Independentes (CEI), que reuniu 13 estados inde- multimídia: vídeo
pendentes, inclusive a Federação Russa (Rússia). FONTE: YOUTUBE

A partir deste processo, outras nações do leste europeu Adeus Lenin


também abandonaram o regime socialista, adotando a Comunista ferrenha enfarta e entra em coma ao
propriedade privada e a economia de mercado, voltada ver o filho em protesto contra o regime. Quando
para a produção e venda de mercadorias. Na Iugoslávia, ela acorda, um ano depois, o Muro de Berlim foi
fragmentada em sete nações, e em alguns 40 países, ori- derrubado, mas seu filho luta para fingir que nada
ginados dessa fragmentação, o processo não foi pacífico, mudou, temendo que o choque lhe seja fatal.
ocorrendo guerras e conflitos.

CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS

O estudo das relações internacionais está hoje em evidência devido às


profundas transformações que vêm marcando o sistema internacional,
seja em decorrência do fim do conflito bipolar, seja como resultado da
aceleração dos fenômenos da transnacionalização/globalização e da
fragmentação sociocultural. Assim, abrem-se novos campos de estudo,
inauguram-se novos projetos de pesquisa e o movimento de importação
de teorias e problemas de outras ciências sociais se intensifica. Questões
como a crise das estruturas de autoridade baseadas no Estado-nação, o
questionamento da hegemonia do paradigma realista e a tendência a
uma maior interdisciplinaridade permeiam os estudos de história, geo-
grafia e ciências políticas.

78
ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM

Habilidades
7 Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações.

As relações do poder entre as nações são fundamentais para se entender a reordenação geopolítica no período
pós-Segunda Guerra. Esta habilidade pede que o candidato entenda a organização do mundo com base na bipolar-
idade entre EUA e União Soviética.

14 Comparar diferentes pontos de vista presentes em textos analíticos e interpretativos sobre situação ou fatos de na-
tureza histórico-geográfica acerca das instituições sociais, políticas e econômicas.

O Enem sempre buscou saber em suas questões se o candidato faz uma correta interpretação dos textos. Alguns gêne-
ros textuais abordam relações de causa e consequência. Um leitor habilidoso busca reconhecer esses eventos e separa-
-los. Em se tratando deste tema, “Antiga ordem mundial”, trechos de notícias, e excertos são utilizados com frequência.
É fundamental que o aluno observe todos os dados que o texto fornece: ano de publicação, título, autor etc. Também é
importante ressaltar que, tanto a habilidade 7 quanto a 14, são também pré-requisitos para as aulas 5 e 6.

Modelo 1
(Enem) Do ponto de vista geopolítico, a Guerra Fria dividiu a Europa em dois blocos. Essa divisão propiciou a for-
mação de alianças antagônicas de caráter militar, como a Otan, que aglutinava os países do bloco ocidental, e o Pacto
de Varsóvia, que concentrava os do bloco oriental. É importante destacar que, na formação da Otan, estão presentes,
além dos países do oeste europeu, os EUA e o Canadá. Essa divisão histórica atingiu igualmente os âmbitos político
e econômico que se refletia pela opção entre os modelos capitalista e socialista.
Essa divisão europeia ficou conhecida como:
a) Cortina de Ferro.
b) Muro de Berlim.
c) União Europeia.
d) Convenção de Ramsar.
e) Conferência de Estocolmo.

Análise expositiva 1 - Habilidade 7: Esse exercício propõe o que a habilidade 7 deseja ver: se o aluno
A pode identificar sobre como as relações de poder produziram uma Europa segmentada no período pós-
-guerra e como essas relações de poder estruturam a dinâmica do espaço.
A expressão Cortina de Ferro foi muito utilizada no período da Guerra Fria para designar uma linha imaginária que
se estendia de norte a sul pela Europa, separando os países ocidentais dos países orientais. Os países ocidentais re-
feriam-se aos países orientais como ditaduras comunistas, “atrás” da cortina. O termo originou-se de uma palestra
proferida pelo primeiro ministro inglês Winston Churchill, nos Estados Unidos em 1946.
Alternativa A

79
Modelo 2
(Enem) O papel da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) alterou-se desde sua origem em 1949. A Otan é
uma aliança militar que se funda sobre um tratado de segurança coletiva, o qual, por sua vez, indica a criação de uma
organização internacional com o objetivo de manter a democracia, a paz e a segurança dos seus integrantes. No começo
dos anos de 1990, em função dos conflitos nos Bálcãs, a Otan declarou que a instabilidade na Europa central afetava
diretamente a segurança dos seus membros. Foi então iniciada a primeira operação militar fora do território dos países-
-membros. Desde então ela expandiu sua área de interesse para África, Oriente Médio e Ásia.
BERTAZZO, J. ATUAÇÃO DA OTAN NO PÓS-GUERRA FRIA: IMPLICAÇÕES PARA A SEGURANÇA NACIONAL E PARA
A ONU. CONTEXTO INTERNACIONAL, RIO DE JANEIRO, JAN.-JUN. 2010 (ADAPTADO).

Os objetivos dessa organização, nos diferentes períodos descritos, são, respectivamente:


a) financiar a indústria bélica e garantir atuação global.
b) conter a expansão socialista e realizar ataques preventivos.
c) combater a ameaça soviética e promover auxílio humanitário.
d) minimizar a influência estadunidense e apoiar organismos multilaterais.
e) reconstruir o continente devastado e assegurar estabilidade geopolítica.

Análise expositiva 2 - Habilidade 14: Um exercício típico do Enem, com um texto que, além de auxiliar o
B aluno na resolução, também informa sobre fatos. Há uma diferença entre interpretar o texto e compreender o
texto, e isto é muito importante neste tipo de exercício do Enem. Interpretar o texto é ir buscar aquilo que está
na superfície do texto. Compreender o texto é algo que está além do texto.
Como mencionado corretamente na alternativa [B], a Otan foi criada no contexto da guerra fria com o obje-
tivo de conter o expansionismo socialista, o que é referenciado na primeira metade do texto, e atualmente,
a organização reforça os interesses geopolíticos das potências ocidentais, indicação da segunda metade do
texto. Estão incorretas as alternativas: [A], porque as referências da alternativa não correspondem aos ob-
jetivos da Otan; [C], porque a promoção de auxílio humanitário não corresponde ao objetivo atual da Otan;
[D], porque a Otan ampliava a influência estadunidense nos anos de Guerra Fria; [E], porque o objetivo da
Otan não era reconstruir a Europa devastada pela Segunda Guerra.
Alternativa B

80
DIAGRAMA DE IDEIAS

CRISE DO SOCIALISMO SOVIÉTICO


VS
EUA URSS DESINTEGRAÇÃO DA IUGOSLÁVIA

GUERRA FRIA

QUEDA DOS REGIMES PRÓ-MOSCOU

GUERRA DO GOLFO

PAÍSES CENTRAIS

ORDEM
NOVA DIT
MULTIPOLAR

PAÍSES
PERIFÉRICOS

81
AULAS NOVA ORDEM MUNDIAL
19 E 20
COMPETÊNCIA: 3 HABILIDADE: 9

1. NOVA ORDEM MUNDIAL er econômico do que bélico. Na economia, o grande fato


novo é o aprofundamento do processo de globalização e a
“O fim da Guerra Fria implicou o fim do sistema soviético? formação de blocos econômicos supranacionais.
Os dois fenômenos são historicamente separáveis, embo-
ra obviamente ligados. O socialismo do tipo soviético se
Nova Ordem Mundial tripolar
pretendia uma alternativa global para o sistema mundial
capitalista. Como o capitalismo não desmoronou, nem pa- RÚSSIA
EUROPA
receu que ia desmoronar [...], as perspectivas do socialismo NORTE EUA
CHINA
JAPÃO
como alternativa global dependiam de sua capacidade de SUL OCEANO
ÁFRICA PACÍFICO
competir com a economia mundial capitalista, reformada
ÁREA DE INFLUÊNCIA
após a Grande Depressão e a Segunda Guerra Mundial, e DOS EU A
AMÉRICA
LATINA
OCEANO
transformada pela revolução pós-industrial nas comunica- N
PACÍFICO

OCEANO OCEANO OCEANIA


O L ÍNDICO
ções e na tecnologia da informação na década de 1970.” S
ATLÂNTICO

ÁREA DE INFLUÊNCIA
0 4 664 km DA UNIÃO EUROPEIA ÁREA DE INFLUÊNCIA
ERIC HOBSBAWM. ERA DOS EXTREMOS. DE CHINA E JAPÃO

A nova ordem mundial assinala um período de fortes im- No mapa acima, podemos visualizar as áreas de influência
pactos promovidos pela modernidade posterior à Guerra política dos principais atores econômicos mundiais. Vale lem-
Fria, mas também serve para demarcar os momentos de brar, porém, que a área de influência dos EUA pode se estender
ruptura com os períodos precedentes, especialmente no para além da divisão estabelecida, uma vez que sua política
que tange à alteração nas formas de organizar as relações externa, muitas vezes, atua nas mais diversas áreas do mundo,
internacionais. Com o fim da Guerra Fria e o retrocesso do com destaque para algumas regiões do Oriente Médio.
socialismo nas décadas finais do século XX, a correlação Entre os grandes acontecimentos desse período, podemos
de forças internacionais foi modificada. Esse estágio, corre- destacar:
spondente ao capitalismo financeiro globalizado, a hege-
ƒ crise do socialismo soviético na segunda metade dos
monia mundial ficou a cargo dos países que apresentaram
anos 1980;
maior concentração de capitais, melhores desempenhos
econômicos, com elevada produtividade e competitividade ƒ queda do muro de Berlim (1989);
e domínio técnico e militar. Nações como EUA, Alemanha ƒ queda dos regimes pró-Moscou do leste europeu;
e Japão passam a almejar mais força, influência e poder,
fazendo parte de organizações multipolares e formando ƒ desintegração da Iugoslávia (1991);
blocos econômicos. ƒ guerra do Golfo (1991); e
Assim, estabeleceu-se uma nova ordem mundial, também ƒ dissolução da União Soviética (1991).
chamada de multipolar. Porém, consolidaram-se somente
três grandes polos de poder, liderados pelos principais cen-
tros capitalistas mundiais: os países da Europa, o Japão e 2. NOVA ORDEM MULTIPOLAR
os EUA. Logo, é mais apropriada a denominação nova or-
No mundo multipolar pós-Guerra Fria, o poder é medido
dem mundial tripolar.
muito mais pela capacidade econômica, como a disponib-
A nova ordem apresenta basicamente duas facetas, uma ilidade de capitais, avanços tecnológicos, qualificação de
geopolítica e outra econômica. Na geopolítica, a grande mão de obra, nível de produtividade e índices de compet-
mudança foi o fim da Guerra Fria e, consequentemente, da itividade. Esses são os novos padrões de poder e influên-
bipolarização de poder entre as duas superpotências, EUA cia no mundo, que explicam a emergência do Japão e da
e URSS. Isso fez com que se abrisse espaço para um mundo Alemanha à posição de grandes potências e, ao mesmo
multipolar onde as potências se impõem mais por seu pod- tempo, a decadência da Rússia.

82
Assim, os países mais poderosos do mundo atual- Oceania, a Austrália e a Nova Zelândia se incluem no clube
mente são os EUA, o Japão e a Alemanha, com des- dos ricos. Assim, pode-se observar que a divisão “Norte ×
taque para o primeiro que cresceu ininterruptamente Sul” não significa que todos os países desenvolvidos en-
durante todos os anos da década de 90, reforçando contram-se no Hemisfério Norte e que todos os países sub-
sua hegemonia. desenvolvidos encontram-se no Hemisfério Sul.

2.1. Vitória do capitalismo?


Na opinião de muitas pessoas, a nova ordem mundial é
a vitória do capitalismo e da democracia. Mesmo que se
aceite a “vitória” do capitalismo, é discutível afirmar que
ele é melhor que o socialismo, como muitos se apressam
em afirmar.
É fato que o capitalismo é um sistema muito mais dinâmi-
co, produtivo e competitivo. Não se pode esquecer, porém,
que os países subdesenvolvidos, onde vivem quatro quin-
tos da humanidade, são, com exceção de Cuba, Coreia do multimídia: vídeo
Norte e Vietnã, todos capitalistas. Há uma série de prob-
FONTE: YOUTUBE
lemas no mundo, muitos deles criados pelo próprio sistema
Jogos de poder
capitalista, que, ao invés de serem solucionados, estão se
agravando cada vez mais, como a concentração de renda, O político estadunidense Charlie Wilson
o aumento da pobreza, do desemprego etc. negocia uma aliança entre paquistaneses,
Um dos problemas mais graves da atualidade é o apro- egípcios, israelenses e o governo estadunidense
fundamento das desigualdades sociais, o alargamento do de forma que os Estados Unidos financiem
abismo entre ricos e pobres, seja entre indivíduos, regiões uma resistência que possa impedir o avanço
ou nações. É cada vez maior o fosso que separa os países soviético no Afeganistão.
desenvolvidos dos países subdesenvolvidos, os ricos dos
pobres. Esse é o chamado conflito Norte × Sul, que é de
natureza fundamentalmente econômica, diferente, portan- IDH
to, do extinto conflito Leste × Oeste, de natureza essencial-
Entre as formas de classificar os países, o IDH (Índice
mente geopolítica.
de Desenvolvimento Humano) é uma medida compar-
ativa usada para classificar os países pelo seu grau de
3. DIVISÃO NORTE E SUL “desenvolvimento humano” e para ajudar a classificar
os países como desenvolvidos (desenvolvimento huma-
no muito alto), em desenvolvimento (desenvolvimento
humano médio e alto) e subdesenvolvidos (desenvolvi-
mento humano baixo). A estatística é composta a partir
de dados de expectativa de vida ao nascer, educação
© Wikimedia Commons

e PIB per capita (como um indicador do padrão de


vida) recolhidos em nível nacional. Cada ano, os países
membros da ONU são classificados de acordo com es-
sas medidas. O IDH também é usado por organizações
locais ou empresas para medir o desenvolvimento de
Os aspectos socioeconômicos são uma das formas utiliza-
entidades subnacionais como Estados, cidades, aldeias
das atualmente para a regionalização do planeta, embora
etc. O índice foi desenvolvido em 1990 e vem sendo
seja uma maneira bastante genérica e muitas vezes sim-
usado desde 1993 pelo Programa das Nações Unidas
plificadora. Por ela, divide-se o mundo em países desen-
para o Desenvolvimento (PNUD) no seu relatório anual.
volvidos, designados como países do Norte, e subdesen-
volvidos, do Sul. Na América, a linha divisória é a fronteira
dos EUA com o México; a Europa é separada da África pelo Os países do globo podem ser classificados como centro e
Mediterrâneo; na Ásia, o Japão é o país mais desenvolvido, periferia do sistema capitalista mundial. Dessa forma, fica
porém os Tigres Asiáticos são economias emergentes; e, na mais claro que todos os países considerados fazem parte

83
de um mesmo modelo econômico mundial, tendo sempre exportam produtos industrializados. A maioria desses países
um papel de destaque em funcionamento. faz parte de um grupo identificado na categoria de países re-
centemente industrializados (NIC, sigla em inglês para new
3.1. Países centrais industrialized country), justamente por serem países que se
industrializaram recentemente. Este é o caso do Brasil, México,
O centro da economia mundial é formado, principalmente, Argentina e Chile, na América latina, e dos Tigres Asiáticos.
por um grupo de países nos quais estão localizadas as se-
des das grandes empresas globais, as maiores indústrias,
os grandes bancos, as mais importantes bolsas de valores, 4. NOVA DIVISÃO
tornando-os mais poderosos economicamente.
É evidente que a concentração de riqueza acaba benefi-
INTERNACIONAL DO TRABALHO
ciando a população como um todo, que tem empregos Os países centrais, periféricos e semiperiféricos encon-
melhores e salários mais altos, juntamente com governos tram-se estabelecidos em três grupos na nova divisão
que arrecadam mais impostos; portanto, tem maiores internacional do trabalho: os industrializados centrais, os
possibilidades de investir em saúde, educação, moradia, industrializados semiperiféricos e as economias semiper-
lazer, transporte, energia etc. Destacam-se, entre os países iféricas, predominantemente agroexportadoras.
centrais: Estados Unidos, Canadá, Japão, Austrália, Nova Os países industrializados centrais iniciaram sua indus-
Zelândia e a maioria dos integrantes da União Europeia. trialização ainda no século XIX, formando uma indústria
nacional e consolidando um mercado interno. O grupo das
3.2. Países periféricos sete nações mais industrializadas (Estados Unidos, Japão,
Os países da periferia do sistema capitalista mundial man- Alemanha, França, Itália, Reino Unido e Canadá) é conhe-
têm uma economia agroexportadora baseada na mão de cido como G7.
obra barata, no latifúndio e na concentração de renda. A Os países industrializados semiperiféricos formam um
maior parte dos problemas desses povos se originou de grupo muito diversificado, e a maior parte tem pouca por-
intervenções externas, como a colonização pelos países eu- centagem de participação nas exportações de produtos
ropeus ou as disputas da Guerra Fria entre os EUA e URSS. manufaturados. Além das áreas centrais da Europa, outros
Nos dois casos, as tentativas das potências mundiais de países europeus, como Polônia, Espanha, Portugal e Grécia,
manter o domínio econômico e político sobre os países af- ou ex-colônias europeias, como Austrália, Nova Zelândia e
ricanos, latino-americanos e asiáticos tiveram como conse- África do Sul, funcionam como espaços de produção indus-
quência a formação de economias dependentes e sistemas trial anexos dos países centrais.
políticos autoritários e elitistas.
Os países de fraca industrialização, ou periféricos, con-
stituem-se de parte dos países asiáticos, parte dos lati-
3.3. Países semiperiféricos no-americanos e a maioria dos africanos. Contando com
Nessa classificação, surge ainda um terceiro grupo de paí- pouca industrialização e tendo por base uma economia
ses, os semiperiféricos, constituindo um estágio intermedi- agroexportadora, participam marginalmente do mercado
ário entre os países centrais e os periféricos propriamente mundial, fornecendo principalmente produtos primários.
ditos. Os países semiperiféricos, a exemplos dos periféricos,
têm grandes desvantagens em relação aos países centrais, 4.1. “Guerra ao terror”
tanto em termos de trocas comerciais como de distribuição
mundial dos investimentos financeiros. No entanto, a semi- Como vimos, após o final da Guerra Fria, os Estados Unidos
periferia consegue se manter num patamar intermediário se viram isolados na supremacia bélica do mundo. Apesar
de riqueza e bem-estar, sem cair na miserabilidade gene- de a Rússia ter herdado a maior parte do arsenal nuclear
ralizada da periferia. Tal posição é garantida porque esses da União Soviética, o país mergulhou em uma profunda
países conseguem reproduzir com a periferia o que sofrem crise ao longo dos anos 1990 e início dos anos 2000, o que
com relação ao centro do sistema. não permitiu que o país mantivesse a conservação de seu
arsenal, dado o custo para tal manutenção e conservação.
Países semiperiféricos, geralmente, são aqueles que conse-
guiram se industrializar durante o século XX, não tendo mais Em face disso, os Estados Unidos precisavam de um novo
uma economia agroexportadora. É verdade que essa indus- inimigo para justificar os seus estrondosos investimentos em
trialização foi feita pelas multinacionais em busca de mão de armamentos e tecnologia bélica. Em 2001, entretanto, um
obra barata, porém isso lhes dá a possibilidade de ter certa novo inimigo surgiu com os atentados de 11 de setembro,
vantagem econômica sobre os países periféricos, para os quais atribuídos à organização terrorista Al-Qaeda.

84
multimídia: livros
A TRAGÉDIA DE 11 DE SETEMBRO VITIMOU CENTENAS DE PESSOAS,
MAS MOTIVOU OS EUA A GASTAREM AINDA MAIS COM ARMAS.
Novas Geopolíticas – José William Vesentini

Com isso, sob o comando do então presidente George W. Neste livro, Vasentini comenta as novas
Bush, os Estados Unidos iniciaram o que ficou conhecida geopolíticas que surgiram a partir do final
como guerra ao terror, em que foram gastos centenas de dos anos 1980 e explica como se dará a
bilhões de dólares. Primeiramente, os gastos se direciona- disputa pela hegemonia mundial no novo
ram à invasão do Afeganistão, em 2001, sob a alegação século.
de que o regime Talibã que governava o país daria supor-
te para a Al-Qaeda. Em segundo, com a perseguição dos
líderes dessa organização terrorista, com destaque para
Osama bin Laden, que foi encontrado e morto em maio de
2011, no Paquistão.

CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS

O estudo das relações internacionais está hoje em evidência de-


vido às profundas transformações que vêm marcando o sistema
internacional, seja em decorrência do fim do conflito bipolar,
seja como resultado da aceleração dos fenômenos da trans-
nacionalização/globalização e da fragmentação sociocultural.
Assim, abrem-se novos campos de estudo, inauguram-se novos
projetos de pesquisa e o movimento de importação de teorias
e problemas de outras ciências sociais se intensifica. Questões
como a crise das estruturas de autoridade baseadas no Estado-
-nação, o questionamento da hegemonia do paradigma realista
e a tendência a uma maior interdisciplinaridade permeiam os
estudos de história, geografia e ciências políticas.

85
ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM

Habilidade

9 Comparar o significado histórico-geográfico das organizações políticas e socioeconômicas em escala local, regional
ou mundial.

Esta habilidade chama a atenção para como as organizações políticas e socioeconômicas refletem diferentes padrões de desen-
volvimento e história, em suas diversas escalas, que têm sido fomentados desde o fim da Guerra Fria bem como a fragmentação
inerente provocada pela globalização. Esta habilidade também pode ser consultada para uma boa leitura da aula anterior.

Modelo
(Enem) O mundo entrou na era do globalismo. Todos estão sendo desafiados pelos dilemas e horizontes que se abrem
com a formação da sociedade global. Um processo de amplas proporções envolvendo nações e nacionalidades, re-
gimes políticos e projetos nacionais, grupos e classes sociais, economias e sociedades, culturas e civilizações.
IANNI. O. A ERA DO GLOBALISMO. RIO DE JANEIRO: CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA, 1997.
No texto, é feita referência a um momento do desenvolvimento do capitalismo. A expansão do sistema capitalista de
produção nesse momento está fundamentada na:
a) difusão de práticas mercantilistas.
b) propagação dos meios de comunicação.
c) ampliação dos protecionismos alfandegários.
d) manutenção do papel controlador dos Estados.
e) conservação das partilhas imperialistas europeias.

Análise expositiva - Habilidade 9: Um exercício bem interessante se levarmos em conta sua capacidade
B de reflexão. O texto do professor Otavio Ianni mostra quais são as características do atual momento do
desenvolvimento capitalista e a questão pede para que o aluno lembre do quanto a evolução e propagação
dos suportes de informação e comunicação foi decisiva para a formação dessa sociedade global a que o
texto faz referência.
Como mencionado corretamente na alternativa [B], a atual fase do capitalismo (quarta fase) denominada
informacional, constrói-se por meio das tecnologias de informações, alavancando a propagação dos meios
de comunicação. Estão incorretas as alternativas: [A] e [E], porque o mercantilismo e o imperialismo eu-
ropeu são características das duas primeiras fases do capitalismo; [C] e [D], porque o protecionismo e o
controle do Estado são eliminados com o neoliberalismo, doutrina econômica que sustenta a globalização.
Alternativa B

86
AULAS GLOBALIZAÇÃO E BLOCOS ECÔNOMICOS
21 E 22
COMPETÊNCIAS: 2e6 HABILIDADES: 8 e 18

1. A GLOBALIZAÇÃO É travada uma “guerra” nas bolsas de valores, de merca-


dorias e de futuros em todos os mercados do mundo e em
“A perversidade sistêmica que está na raiz dessa evolução todos os setores imagináveis.
negativa da humanidade tem relação com a adesão desen- Há um lado mais visível e mais antigo da globalização, que
freada aos comportamentos competitivos que anualmente é a invasão de mercadorias em todos os países. Com o
caracterizam as ações hegemônicas. Todas essas mazelas aumento dos fluxos comerciais no mundo, produtos são
são direta ou indiretamente imputáveis ao presente pro- levados e trazidos por enormes navios, trens, caminhões e
cesso de globalização.” aviões que circulam por uma moderna e intrincada rede de
MILTON SANTOS, POR UMA OUTRA GLOBALIZAÇÃO – DO transportes, espalhadas por enormes extensões da superfí-
PENSAMENTO ÚNICO À CONSCIÊNCIA UNIVERSAL
cie terrestre. Há, dessa forma, uma globalização do consumo,
O atual processo de globalização nada mais é do que a com a intensificação do comércio, que, na verdade, é resultante
mais recente fase da expansão capitalista. Pode-se afirmar da globalização da produção. Com o resultado de tudo isso,
que a globalização ora em curso está para o atual período aprofundou-se o processo de mundialização da produção, que
técnico-científico do capitalismo assim como o colonialis- vem ocorrendo desde a Segunda Guerra Mundial. Houve uma
mo esteve para sua etapa comercial, ou o imperialismo transnacionalização da economia, ou seja, a expansão dos
para o final da fase industrial e início da financeira. conglomerados multinacionais pelo mundo todo; filiais foram
Trata-se de uma expansão que visa aumentar os mercados montadas em vários países, inclusive nos subdesenvolvidos.
e, portanto, os lucros, que é o que de fato move os capitais,
produtivos ou especulativos, na arena do mercado. Essa
expansão pode dispensar a invasão de tropas, a ocupação
1.1. As transnacionais
territorial e pode abrir mão, enfim, da guerra. Segundo as Nações Unidas, as empresas multinacionais
“são sociedades que possuem ou controlam meios de
© Sheila Fitzgerald/Shutterstock

produção ou serviços fora do país onde estão estabeleci-


das”. Hoje, no entanto, toma-se consciência de que a pa-
lavra transnacional expressa melhor a ideia de que essas
empresas não pertencem a várias nações (multinacionais),
mas sim que atuam além das fronteiras de seus países de
origem. Sua estrutura caracteriza-se por uma forte centra-
lização das decisões em sua matriz em relação com suas
filiais espalhadas pelo mundo. Mais de 90% dessas cor-
porações têm sede em países desenvolvidos, sendo que
das 200 maiores, 62 são japonesas; 53, americanas; 23,
alemãs e 19, francesas.
AS IMPORTAÇÕES E EXPORTAÇÕES SÃO SINAIS DO AUMENTO DOS FLUXOS COMERCIAIS.
Na segunda metade do século XX, essas megaempresas
A invasão agora é muito mais silenciosa, sutil e eficaz. Tra- tornaram-se a maior força do capitalismo, montando fábri-
ta-se de uma invasão high-tech de mercadorias, capitais, cas em várias partes do mundo e remetendo o lucro para
serviços, informações e pessoas. As novas armas são a agi- os países de origem. Graças ao seu caráter global e ao fan-
lidade e a eficiência das comunicações e o controle de da- tástico desenvolvimento das tecnologias de comunicação
dos e informações obtidos através de satélites de comuni- e transporte, muitos de seus produtos não têm uma nacio-
cação – da informática – dos telefones fixos e móveis, dos nalidade definida. Um carro, por exemplo, pode ser pro-
boeings e airbus, dos supernavios petroleiros e graneleiros jetado nos Estados Unidos, ter peças do Japão, ter sido
e dos trens de alta velocidade. fabricado no Brasil e ser vendido no México.

87
As grandes empresas tornam-se tão importantes econo- Com o avanço da globalização, surgiu o mito de que o
micamente quanto alguns países. No relatório do Desen- Estado desapareceria em favor da liberdade de ação das
volvimento Humano realizado pela ONU, das 100 maiores empresas e que as fronteiras nacionais estariam se tor-
fortunas do mundo, cinquenta pertencem às megaempre- nando irrelevantes.
sas. O valor total das ações da gigante Microsoft é quase o Embora hajam pressões internacionais sobre os go-
dobro do PIB da Argentina. vernos dos países, ainda são eles que estabelecem as
A presença das transnacionais na economia mundial regras que facilitam ou restringem o fluxo de capitais
como protagonistas da globalização tem servido para e produtos, a liberdade de migração de pessoas, bem
aumentar a dependência dos países periféricos em re- como a aceitação ou não das regras sugeridas pelos
lação aos países centrais. Sua estrutura permite que as organismos internacionais.
tarefas de comando, decisão e pesquisa localizem-se
Em outras palavras, pode-se dizer que houve um relativo
nos países de origem, e as atividades de produção,
enfraquecimento do poder dos Estados, mas não há indí-
que, muitas vezes, poluem a natureza, situem-se em
cios de que eles vão desaparecer ou de que a soberania
países periféricos, onde o controle da legislação am-
será substituída pelas regras de um mercado global.
biental é incipiente. Devido ao seu porte gigantesco
e ao seu grande volume de capital, podem competir
vantajosamente com as empresas locais, impondo 1.2.2. Nunca houve uma integração
condições ao governo desses países, onde são instala-
das suas filiais, para a obtenção de diversas vantagens econômica de âmbito global
como isenção fiscal, buscando mão de obra barata e
À época em que vigorou o liberalismo (fim do século
matérias-primas locais.
XIX e início do XX), grande parte da Ásia e a quase
totalidade da África eram compostas por colônias do
imperialismo europeu. Todavia, indiretamente, elas
estavam ligadas ao capitalismo global, embora as po-
tências mantivessem relações econômicas entre si e
trocassem mercadorias. O atual processo de globali-
zação intensificou, de forma jamais vista, a integração
econômica, porém, não pode ser considerada inédita
na história do capitalismo.

1.2.3. A globalização não beneficia


multimídia: vídeo igualmente todos os países
FONTE: YOUTUBE Hoje sabe-se que, além dos países mais ricos, nações
Encontro com Milton Santos: como Índia e China também se beneficiaram com a
O mundo global visto... globalização, ampliando as exportações de bens e
serviços. Até mesmo o Brasil acumulou um grande
estoque de divisas, sobretudo com a exportação de
commodities e a projeção internacional de grandes
empresas nacionais.
1.2. Aspectos discutidos Porém, quando se olha para o mundo de modo geral, ve-
sobre a globalização rifica-se que vastas regiões da África, da Ásia e da Amé-
rica Central não se beneficiaram como aqueles países. A
1.2.1. O fim das soberanias nacionais economia dessas regiões ainda é pouco desenvolvida, de
base predominantemente agrária, oscilando muito em fun-
Entende-se por soberania nacional o poder dos Estados de ção dos preços das matérias-primas e dos alimentos. Além
tomar decisões e se fazer em respeitar por meio de seus disso, a rapidez das inovações do mundo globalizado au-
governos, exercendo sua independência em relação aos menta a dependência tecnológica e financeira das nações
outros países. mais pobres.

88
1.2.4. Os trabalhadores dos países ricos A China é um bom exemplo disso, pois é um país onde a
abertura econômica criou um grupo de empresários milio-
também são prejudicados pela globalização
nários que convivem com milhões de camponeses de baixo
Trabalhadores dos Estados Unidos, do Japão e da Europa, poder aquisitivo e de pessoas que deixaram a zona rural
consideradas regiões ricas, também têm receio do desem- para viver nas cidades.
prego. Muitos sindicatos de trabalhadores dessas regiões
Os defensores da globalização argumentam que a integra-
já declararam guerra à globalização, pois temem que os
ção amplia a riqueza global, e é isso o que importa para o
postos de trabalho sejam transferidos para países emer-
crescimento do país. Segundo essa visão, não faz diferença
gentes. Afinal, essas nações oferecem diversas vantagens
se as desigualdades sociais e a pobreza continuam a existir.
às empresas transnacionais dos países ricos: baixos custos
de mão de obra, leis ambientais menos rígidas, legislação
trabalhista favorável etc. 1.2.6. No capitalismo, a interferência do Estado
na economia é prejudicial e deve ser evitada

© American Spirit/Shutterstock
A realidade tem mostrado que, sem a mediação dos go-
vernos, as forças de mercado (a livre-iniciativa econômica
de empresas e pessoas) podem gerar crises e ampliar as
distorções sociais. Há diversos exemplos históricos, como a
crise de 1929, que resultou na quebra da bolsa de valores
de Nova Iorque, e crises financeiras internacionais, como a
iniciada no segundo semestre de 2008, que demonstram
como os governos foram obrigados a intervir amplamente
na economia para evitar a falência das grandes empresas.
O capitalismo dos países europeus destacou-se pelos be-
1.2.5. Aumento das desigualdades nefícios sociais que o Estado garantiu aos trabalhadores.
e a pobreza no mundo Trata-se do chamado welfare state (estado de bem-estar
É preciso ter cuidado ao fazer essa afirmação, pois as re- social), muito combatido pelo neoliberalismo, que propicia
alidades variam bastante dependendo da região. Além aos trabalhadores garantias como seguro-desemprego, as-
disso, há certa confusão entre as expressões pobreza e sistência médica e jornada de trabalho reduzida.
desigualdade social. Em muitos países, houve ganhos para
as populações de baixa renda, mas, em contrapartida, a 1.2.7. A globalização tende a tornar
desigualdade aumentou.
o mundo plano, extinguindo as
diferenças entre o Norte e o Sul
Duas décadas de rápido avanço das forças da globaliza-
ção ainda não ajudaram os países menos desenvolvidos
do Sul a entrar no “clube dos ricos” do Norte. É verdade
que houve maior crescimento econômico em muitos países
considerados emergentes, mas suas condições sociais ain-
da são precárias.

multimídia: livros 1.3. Os movimentos antiglobalização


Desde a falência dos regimes socialistas, que vigoraram
Por uma Outra Globalização – Milton Santos até os anos 1990, os movimentos anticapitalistas to-
Nesta obra, o geógrafo Milton Santos defende a maram rumos diferenciados. Muitos ativistas concentra-
ideia de que é preciso uma nova interpretação ram-se em aspectos como a cultura e o meio ambiente,
do mundo contemporâneo, uma análise multi- julgando não haver uma alternativa viável à economia
disciplinar, que tenha condições de destacar a de mercado. Outros defendem o socialismo em bases di-
ideologia na produção da história, além de mos- ferentes daquelas adotadas pela antiga União Soviética.
trar os limites do seu discurso frente à realidade Há também os que propõem governos centralizados e
vivida pela maioria dos países do mundo. nacionalistas, porém capazes de conviver com a iniciativa
privada. De qualquer maneira, a globalização consolidou

89
novas formas de ativismo compatíveis com o aumento da
interdependência econômica entre os países.

multimídia: livros
A condição pós-moderna – David Harvey 1.6. O Fórum Social Mundial
Neste livro, Jean-François Lyotard, o mais ec- Principal reunião de movimentos antiglobalização, o Fórum
lético dos filósofos de 1968, expõe os pres- Social Mundial (FSM) surgiu em Porto Alegre, em 2001. Seu
supostos que anunciava a transformação objetivo central era estabelecer um espaço de oposição ao
radical na maneira como o saber é produzido, Fórum Econômico Mundial de Davos (Suíça), em que os
distribuído e legitimado nas áreas mais avan- líderes dos países capitalistas costumam debater os rumos
çadas do capitalismo contemporâneo. da economia internacional.
Desde então, o FSM tem realizado atividades anualmente.
Além de Porto Alegre, o fórum já foi sediado em Belém,
Mumbai (Índia), Nairóbi (Quênia), além de outras cidades,
1.4. Problemas globais, de forma descentralizada.
ativismo internacional Não há uma agenda consensual entre os participantes do
Nas últimas décadas, surgiram questões transnacionais, Fórum Social Mundial. As principais críticas e sugestões
ou seja, que ultrapassam as fronteiras dos Estados nacio- que normalmente são debatidas no evento coincidem com
nais. Isso é muito evidente na área ambiental. O aqueci- as propostas e demandas dos movimentos antiglobaliza-
mento do planeta, a destruição da camada de ozônio e ção que ocorrem em todo o mundo.
a poluição atmosférica, por exemplo, são problemas que Essas propostas giram em torno da necessidade de romper
não distinguem fronteiras, podendo originar-se em um com o programa econômico neoliberal, da proposta de al-
país e afetar países vizinhos ou até mesmo distantes. Pro- ternativas às políticas ambientais vigentes e do combate às
blemas como esses contribuíram para o aparecimento de atividades econômicas geradoras do aquecimento global
uma “opinião pública transnacional” e de movimentos da defesa das minorias étnicas, da diversidade cultural e
sociais que não se restringem a um único país. sexual, do controle sobre a ciência (nanotecnologia, trans-
gênicos etc.), da liberdade de migrações internacionais e
1.5. A batalha de Seattle do afrouxamento das políticas restritivas dos países desen-
volvidos da quebra de patentes de remédios do software
O que deveria ter sido o lançamento da Rodada do Milê-
livre da economia solidária e do apoio às causas feministas.
nio (as negociações de mais de cem países associados à
Organização Mundial do Comércio) para reduzir o prote- Os ativistas costumam aproveitar reuniões e fóruns de
cionismo comercial no mundo foi, na verdade, uma batalha debate econômico, como o de Davos, para realizar gran-
nas ruas de Seattle, Washington (Estados Unidos). Cerca de des manifestações de rua e obter visibilidade na mídia
50 mil manifestantes, em novembro de 1999, ocuparam internacional, chamando a atenção da opinião pública
os arredores das instalações onde ocorreria o encontro da para sua causa.
OMC e impediram sua realização. A intenção era manifes-
tar-se contra a política neoliberal, uma das causadoras da 1.7. O papel das organizações
degradação ambiental. O episódio teve um simbolismo
bem especial: em vez de coroar uma década de avanço da
não governamentais
globalização e das reformas econômicas neoliberais, mar- As organizações não governamentais são entidades da
cou o início de um consistente ativismo antiglobalização. sociedade civil sem fins lucrativos que atuam em setores

90
de interesse público e social. Podem ser financiadas por volve em escala mundial, ocorre também em escala regional.
recursos de seus associados, por contribuições privadas ou Aprofunda-se a integração de blocos de países, busca-se a
do setor público. Nos anos 1940 e 1950, as ONG criavam retirada das barreiras que dificultam os fluxos de mercado-
projetos humanitários e filantrópicos, exercendo um papel rias, capitais, informações, indivíduos e estabelecem-se acor-
consultivo em várias agências e fundações da Organização dos que resultam em mercados comuns, uniões aduaneiras
das Nações Unidas (ONU). Essas entidades tiveram um no- ou simplesmente em zonas de livre-comércio.
tável crescimento e maior politização com o avanço da glo-
balização. Suas finalidades tornaram-se as mais diversas,
como a proteção do meio ambiente, a defesa dos direitos Formas de integração econômica:
humanos, a luta por melhores condições sociais, o apoio
ƒ zona de livre-comércio: o objetivo é a
a refugiados de guerra e o antitabagismo. As ONG parti-
eliminação ou redução de taxas alfande-
cipam ativamente de eventos antiglobalização e marcam
gárias entre os países;
presença nos principais fóruns de debates internacionais.
Um aspecto interessante, inerente aos movimentos anti- ƒ união aduaneira: propõe, além dos bene-
globalização, é o fato de eles se servirem justamente dos fícios da área de livre-comércio, a criação
meios desenvolvidos pela economia global quando a cri- de regras comuns de comércio com países
ticam – em especial a mídia e as redes de informação da exteriores ao bloco e a abertura de merca-
internet. Isso, é claro, não invalida os conteúdos dessas crí- dos internos;
ticas. Muitas vezes, porém, eles são apoiados por empresas ƒ mercado comum: além das vantagens
e governos, além de personalidades do meio artístico que das fases anteriores, libera também o fluxo
querem atrelar à sua imagem uma aura de ativismo social, comercial, de capitais, de mão de obra e de
o que pode comprometer a independência de suas ações. serviços entre os países do bloco;
ƒ união monetária: inclui, também, a coor-
2. OS BLOCOS ECONÔMICOS denação de políticas econômicas e de defe-
A globalização afeta o mundo de forma bastante desigual, sa e a utilização de moeda única.
pois alguns lugares, regiões e países estão mais integrados
do que outros. Assim, ao mesmo tempo em que ela se desen-

Principais blocos econômicos

900 0 180 km

PROJEÇÃO DE ROBINSON

Mercado Comum do Sul - Comunidade Andina União Europeia - UE Comunidade para o


Mercosul Desenvolvimento da
África A ustral - SADC
Mercado Comum Centro- Acordo de Livre Comércio da Comunidade dosEstados
Americano - MCCA América do Norte - NAF TA Independentes - CEI

FONTE: ATLAS ESCOLAR. IBGE:2014

91
2.1. União Europeia acordos que visam à integração dos países-membros e
de políticas e leis em diversas áreas – como a ambiental,
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, países pequenos, de desenvolvimento industrial e de infraestrutura e, ainda,
como Países Baixos (Holanda), Bélgica e Luxemburgo, a modernização dos transportes e telecomunicações etc.
diante das dificuldades econômicas impostas pela guerra, – facilitando a integração e a livre-circulação de bens e
sentiam-se incapazes de se reerguerem sozinhos, e, por pessoas. O Parlamento Europeu, com sede em Estrasburgo,
isso, uniram-se, criando, em 1944, o Benelux (Bélgica, na França, é o principal órgão da política da União Euro-
Holanda e Luxemburgo), com o intuito de estabelecer van- peia, composto por deputados eleitos diretamente pela
tagens fiscais e aduaneiras entre eles e visando, em última população, sendo o número de representantes baseado na
instância, ao aumento do comércio entre si. proporcionalidade populacional. Assim, a Alemanha, o país
Em 1950, diante das restrições impostas pelo consumo re- mais populoso, é o que elege o maior número de deputa-
duzido de países europeus individualmente, foi traçado o dos. A comissão Europeia é o órgão executivo da organiza-
Plano Schuman, que propunha a criação de um mercado ção, contando com um presidente e dois vice-presidentes,
comum, unificando e centralizando a produção de aço e além de outros representantes, todos submetidos à apro-
carvão da Alemanha e da França com a perspectiva de abrir vação do Parlamento Europeu. O período de mandato da
esse acordo para outras nações europeias. Em 1951, pelo Comissão é quinquenal.
Tratado de Paris foi criada a Ceca (Comunidade Euro- As relações diplomáticas e os tratados internacionais fa-
peia do Carvão e do Aço), formada pela Alemanha, zem parte da pauta comum à União Europeia. Nos últi-
França, Itália e os países membros da Benelux. mos anos, intensificou-se a posição da comunidade sobre
a possibilidade de uma defesa e política externa comuns.
O sucesso do Benelux e da Ceca fez com que esses
Essa proposição, que já constava no Tratado de Maastricht,
embriões de zonas de livre-comércio se expandissem
tem alguns percalços para a sua implementação em virtu-
e se transformassem no Mercado Comum Europeu, de de a segurança europeia estar muito ligada à Otan, a
ou Comunidade Econômica Europeia (CCE), atra- força supranacional que também conta com participação
vés do Tratado de Roma, de 1957, incorporando mais dos Estados Unidos e do Canadá. Uma unidade de defesa
três países europeus (França, Alemanha e Itália), com europeia independente poderá ser concretizada, mas de
objetivo de eliminar tarifas alfandegárias e promo- maneira nenhuma será de oposição à Otan.
ver a livre-circulação de mercadorias entre os países
Em relação à livre-circulação de pessoas prevista a partir de
membros. Além disso, a formação do Mercado Comum
Maastricht, somente em 2000 foi permitida, não havendo
Europeu também tinha como objetivo recolocar a Eu-
mais barreiras entre eles, exceção feita ao Reino Unido e
ropa ocidental em condições de competir econômica
à Irlanda. Dessa forma, um estrangeiro que tem acesso a
e tecnologicamente com os Estados Unidos e a União
algum país da UE pode deslocar-se sem problemas pelos
Soviética.
demais. Isso vale também para os europeus que podem ir
Em 1991, foi assinado o Tratado de Maastricht, que en- trabalhar e morar em qualquer uma das 23 nações que as-
trou em vigor em 1993, mudando o nome da CCE para sinaram o Tratado de Nice, em 2000, pelo qual se efetivou
União Europeia (UE) ou “Europa dos 15”. Os países-mem- a livre-circulação.
bros são: Alemanha, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Holanda,
França, Itália, Reino Unido, Irlanda, Luxemburgo, Espanha,
Grécia, Portugal, Suécia, Finlândia.
O tratado estabeleceu a adoção de uma moeda única pe-
los membros da UE, o euro, que passou a ser moeda cor-
rente em 1º de janeiro de 2002, substituindo as moedas
nacionais, como o franco francês, o marco alemão etc. Em
2004, a União Europeia passou a contar com 25 países.
Também previu a unificação das taxas de juro e uma polí-
tica monetária comum.
Não aderiram ao euro o Reino Unido, a Suécia e a Dina- multimídia: música
marca. Um grande passo para a unificação da moeda foi a
criação do Banco Central Europeu, em 1998, que propõe - Globalização (O Delírio do Dragão) –
políticas comuns de combate à inflação e de controle or- Tribo de Jah
çamentário e fiscal. O Tratado de Maastricht resultou em

92
Países membros da União Europeia

União Europeia - UE
Alemanha Hungria
Áustria Irlanda
Bélgica Itália
Bulgária Letônia
Chipre Lituânia
Dinamarca Luxemburgo
Eslováquia Malta
Eslovênia Polônia
Espanha Portugal
Estônia Reino Unido
1800 0 360 km Finlândia República Checa
PROJEÇÃO DE ROBINSON França Romênia
Grécia Suécia
Holanda

FONTE: ATLAS ESCOLAR. IBGE: 2014

A coesão da União Europeia tem se mostrado forte o sufi-


ciente para permitir que outros países europeus passem a
Brexit - Concretizado em 2020
integrá-la. Em 1º de julho de 2013, o número de países subiu
para 28 com a entrada da Croácia. Em muitos dos países A saída do Reino Unido da União Europeia (UE)
do leste europeu, ainda há a tentativa de se reestruturar em tem sido um objetivo político perseguido por vários
indivíduos, grupos de interesse e partidos políticos,
virtude do fim do socialismo e a sua entrada na União Euro-
desde 1973, quando o Reino Unido ingressou na Co-
peia é essencial para as suas economias. Nesse sentido, há
munidade Econômica Europeia (CEE), a precursora da
tendência de fortes investimentos das nações mais indus- UE. A saída da União é um direito dos Estados-mem-
trializadas do bloco, gerando emprego e incrementando o bros, segundo o Tratado da União Europeia.
crescimento econômico. A estrutura econômica desses novos
Num referendo em 23 de junho de 2016, os britâni-
países-membros da UE é totalmente diferente do resto do
cos foram perguntados se o Reino Unido deveria
bloco. Neles encontramos grandes disparidades, com ilhas permanecer ou deixar a União Europeia. A maioria –
de modernidade em áreas onde predominam setores arcai- 52% contra 48% – decidiu que o país deveria deixar
cos como a indústria de base e a agricultura. o bloco. Mas a saída não aconteceu de imediato, foi
Esse tipo de integração econômica já ocorreu no passado, agendada para o dia 29 de março de 2019.
quando os países ibéricos (Portugal e Espanha) e a Grécia, O referendo foi apenas o começo de um processo.
naquele momento com grande disparidade no desenvolvi- Desde então, negociações foram feitas entre o Reino
mento econômico em relação aos demais integrantes, passa- Unido e os outros países da União Europeia.
ram a ser membros da UE, em 1986 e 1981, respectivamente. As discussões se centraram nos termos desse “divór-
cio”, que definiriam como seria essa saída do Reino
Unido, não no que ocorreria após essa “separação”.
A proposta apresentada por May é conhecida como
“acordo de retirada”.
A primeira-ministra, Teresa May, apresentou ao Par-
lamento britânico planos que definiriam as regras
para a saída, mas eles foram rejeitados três vezes.
O rascunho desse acordo de retirada do Reino Unido
da União Europeia inclui:

ƒ O valor que o Reino Unido deverá pagar à União


multimídia: música Europeia por quebrar o contrato de parceria: cer-
ca de 39 bilhões de libras (R$ 191 bilhões).
- Pela Internet – Gilberto Gil

93
ƒ O que vai acontecer com cidadãos britânicos entre o Reino Unido e a União Europeia, uma “rede
que moram em outros países europeus e com os de segurança” – chamada de backstop – passaria a
europeus que moram no Reino Unido: cidadãos vigorar automaticamente.
europeus que já estejam no Reino Unido an- Assim, a Irlanda do Norte continuaria alinhada com
tes do Brexit e do fim do período de transição algumas das normas do mercado único da União
poderão manter os atuais direitos de residência Europeia – algo que gera descontentamento em
parte dos membros do Partido Conservador e do
e acesso a serviços públicos (o mesmo vale para
Partido Unionista Democrático.
britânicos que moram em países da UE).

ƒ Sugere uma forma de evitar o retorno a uma


fronteira fechada entre a Irlanda do Norte (que é
parte da Grã-Bretanha) e a República da Irlanda
2.2. Nafta
(que é um país independente que faz parte da Diante do sucesso da União Europeia e da aceleração dos
União Europeia). níveis de troca em âmbito mundial, em 1993, foi ratifica-
do um acordo de livre-comércio, o Nafta (North America
Um período de transição foi proposto para permitir Free Trade Agreement), que une o comércio regional dos
que Reino Unido e União Europeia formulem um três países da América do Norte – Estado Unidos, Canadá
acordo de comércio e para permitir que empresas e México – formando um megabloco capaz de concorrer
se organizem.
com a fortalecida UE.
Isso significa que, se o “acordo de retirada” rece-
besse sinal verde, não haveria qualquer mudança na Países membros do Nafta
situação atual até o dia 31 de dezembro de 2020.
NAFTA
Estados Unidos da América
Outro documento bem mais curto foi elaborado México
Canadá

com uma previsão de como será o futuro relaciona-


mento entre Reino Unido e União Europeia. Trata-se
de uma declaração política. Mas nenhum lado pre-
1800 0 360 km

PROJEÇÃO DE ROBINSON

cisará se fiar exatamente no que prevê esse docu-


mento – é apenas um conjunto de intenções para as
futuras negociações. FONTE: ATLAS ESCOLAR. IBGE: 2014

O futuro da fronteira entre a Irlanda do Norte, que é Os desníveis das economias desses integrantes do Nafta
parte do Reino Unido, e da República da Irlanda, mem- são significativos. A economia norte-americana é a mais
bro da União Europeia, é um dos pontos mais delica- poderosa do mundo; o Canadá, embora ocupe lugar de
dos das tentativas de acordo para viabilizar o Brexit. destaque no ranking do IDH – e apresente uma economia
O governo britânico teme que a restituição de pon-
diversificada e desenvolvida, depende muito dos investi-
tos de checagens de passaportes e mercadorias na
mentos e do capital estadunidenses. Os ricos e industria-
divisa entre os dois países – a chamada “fronteira
lizados Estados Unidos e Canadá abriram suas fronteiras
dura” – traga à tona antigas tensões entre irlande-
econômicas para o México, uma economia emergente,
ses e norte-irlandeses.
anos-luz aquém da estadunidense e canadense, porém um
mercado consumidor cativo dos dois países. Por mais es-
O acordo de paz de 1998 pôs fim a três décadas tranho que pareça, a explicação para a presença mexicana
de conflito entre nacionalistas, que queriam a in- nesse bloco econômico é simples: além de mercado ativo,
tegração com a Irlanda, e unionistas, que queriam o México é grande produtor de petróleo, fonte de energia
continuar fazendo parte do Reino Unido. O acordo vital para as duas economias, e fornece mão de obra barata
contempla a ausência de barreiras físicas. e abundante para a qualificada economia estadunidense.
Embora Londres e Bruxelas tenham concordado Acordos comerciais têm incentivado investimentos estadu-
em não fixar uma fronteira “dura” após o Brexit, o nidenses em território mexicano. Essa ação visa à geração
grande obstáculo foi definir os termos dessa divisão.
de empregos para tentar barrar o intenso fluxo migratório
Conforme a proposta apresentada anteriormente
ilegal mexicano e facilitar a instalação de unidades fabris
por May, se não houvesse qualquer tipo de acordo
estadunidenses do outro lado da fronteira, com a finali-
dade de obter produções a custos menores, que serão to-

94
talmente absorvidas pelo mercado dos Estados Unidos. O Funcionava apenas como centro de discussões dos países par-
modelo de livre-comércio do Nafta permitiu ao México, nos ticipantes e, posteriormente, foi considerada um bloco econô-
últimos dez anos, fechar 44 acordos bilaterais de comércio mico com maior ascensão, com números de crescimento que,
e de cooperação econômica com países de todos os con- em alguns casos, ultrapassaram os números esperados para
tinentes. Esse fato foi responsável por triplicar as expor- crescimento das grandes potências mundiais. A Apec nasceu
tações mexicanas no período, não se consideramos suas em 1989, na Austrália, durante o fórum, mas apenas foi ofi-
relações com a economia estadunidense e canadense, já cializada como um bloco em 1993, na Conferência de Seattle.
que essas integram o Nafta.
É importante citar que um dos pontos estratégicos dessa
Desde o início da década de 1990, os Estados Unidos, parceria foi a aproximação da economia estadunidense
tradicionais defensores do multilateralismo, adotaram a com os países do Pacífico.
estratégia de “liberalização competitiva”. Isso significa
De fato, a intenção primordial dos blocos econômicos é cres-
dar prioridade aos acordos bilaterais e regionais. O Chile
cer em conjunto para cada país ajudar o outro. No caso da
tentava fechar um acordo de livre-comércio com os EUA
Apec, essa ajuda se deu com a redução de taxas e barreiras
desde o início da década de 1990, quando foi convidado
alfandegárias da área asiática do Pacífico. Essa redução (ex-
a integrar o Nafta como membro associado. Este status
tinção de taxas em alguns casos) acarreta em um crescimen-
garante ao país sul-americano vantagens, como redução
to econômico dos países daquela região e também promove
de impostos para comercialização de mercadorias com os
facilidades para quem exporta ou importa produtos para a
demais membros da Nafta. Acordos comerciais fechados
área. Os três pilares de atuação do bloco são: cooperação
em janeiro de 2004 permitiram que 87% das exportações
econômica e técnica; liberação comercial e de investimentos;
chilenas tivessem acesso livre e imediato ao gigantesco
e facilitação dos negócios entre os participantes do bloco.
mercado estadunidense e, por consequência, ao Nafta. Em
contrapartida, o Chile aceitou a estrutura do Nafta, garan- Além de medidas comerciais e econômicas, algumas ações
tindo dar aos EUA amplo acesso a serviços e obedecer às visando o desenvolvimento humano dos países que com-
regras rigorosas de propriedade intelectual. põem o grupo já foram tomadas. Exemplo disso são os
projetos para prevenção e redução dos casos de doenças
O grande desejo estadunidense é o de ampliar o comércio
como aids, além de projetos contra terrorismo e corrupção.
regional das Américas, integrando-o em um megabloco, a
Alca (Área de Livre-Comércio das Américas), que abrangeria A Apec é formada por um grupo de países em fase de cres-
todos os países americanos, com exceção de Cuba. Se for cimento econômico e isso é um dos fatores que contribuem
implementada, os países-membros comercializarão entre si para os bons resultados do bloco. Os países participam de
com preferências tarifárias, tendendo a reduzi-las a zero no mais da metade do PIB mundial e tendem a crescer, pois
comércio intrabloco e facilitando o fluxo de bens e capitais. o desenvolvimento deles está baseado no conhecimen-
to. Esse crescimento se dá em áreas como informática e
Diferentemente da União Europeia, o Nafta não cria um
tecnologia, setores que aceleram e elevam o crescimento
conjunto de corpos governamentais supranacionais, nem
econômico de países com essas vertentes.
cria um corpo de leis que seja superior à lei nacional. O
Nafta é um tratado sob as leis internacionais. Sob as leis É composto pelos 10 países banhados pelo oceano Pacífico:
dos Estados Unidos, ela é classificada melhor como um Austrália, Brunei, Canadá, Indonésia, Japão, Malásia, Nova
acordo congressional-executivo do que um tratado, refle- Zelândia, Filipinas, Cingapura, Coreia do Sul, Tailândia, Es-
tindo um sentido peculiar do termo “tratado” na lei cons- tados Unidos, China, Hong Kong (China), Taiwan (Formosa),
titucional dos Estados Unidos, que não é seguida pela lei México, Papua-Nova Guiné, Chile, Peru, Vietnã e Rússia.
internacional ou pelas leis de outros Estados.
Apec

2.3. Apec PIB (em milhões de US$) 17.538.130

População 2.552,6 bilhões


Em 1993, surgiu a Cooperação da Ásia e do Pacífico, um
bloco econômico regional, com o intuito de criar uma zona Renda per capita (em US$) 7.037
de livre-comércio entre os países que a compõem. 21 [Austrália, Brunei, Canadá, Indonésia, Japão,
membros
de países

Malásia, Nova Zelândia, Filipinas, Cingapura,


Número

As negociações para a criação do bloco começaram em um Coreia do Sul, Tailândia, Estados Unidos, China,
fórum de conversação entre os países-membros da Asean (As- Hong Kong (China), Taiwan (Formosa), México,
sociação das Nações do Sudeste Asiático) e seis países par- Papua-Nova Guiné, Chile, Peru, Vietnã e Rússia]
ceiros econômicos da região do Pacífico, como EUA e Japão. FONTE: BANCO MUNDIAL

95
Países-membros da Apec

Cooperação Econômica
Ásia- Pacífi co - APEC
Austrália
Brunei
Canadá
Chile
China
Cingapura
Coréia do Sul
Estados Unidos da América
Filipinas
Indonésia
Japão
México
Malásia
Nova Zelândia
Papua Nova Guiné
Peru
Rússia
Tailândia
Vietnã

900 0 180 km

PROJEÇÃO DE ROBINSON

FONTE: ATLAS ESCOLAR. IBGE: 2014

2.4. Asean
A Associação das Nações do Sudeste Asiático foi criada em 1967 para fortalecer o desenvolvimento e a estabilidade
dos países da região, área onde se desenvolvia a Guerra do Vietnã. A Asean é formada por Brunei, Mianmar, Camboja,
Filipinas, Indonésia, Laos, Malásia, Cingapura, Tailândia e Vietnã. Segundo o Banco Mundial, em 2004 esses países
cresceram 5,7%, e, junto com a China, que cresceu 9,0%, formam o motor econômico do Planeta. Os líderes respei-
taram o princípio da Asean de não interferir em assuntos internos e evitaram falar dos conflitos do sudeste asiático,
apesar de reconhecerem que sem estabilidade política não há desenvolvimento econômico.

Países-membros do Asean

ASEAN
Brunei
Camboja
Cingapura
Filipinas
Indonésia
Laos
Malásia
Mianmar
Tailândia
Vietnã

1800 0 360 km

PROJEÇÃO DE ROBINSON

FONTE: ATLAS ESCOLAR. IBGE: 2014

96
Nessa associação regional de países, encontra-se parte das uma realidade econômica de dimensões continentais: uma
nações conhecidas como tigres asiáticos – países capita- área total de mais de 11 milhões de km2; um PIB acumula-
listas que tiveram um grande desenvolvimento econômico do de mais de 1 trilhão de dólares, o que o coloca entre as
nas décadas de 1970 e 1980. São eles: Cingapura, Malá- quatro maiores economias do mundo, logo após o Nafta, a
sia, Filipinas, Tailândia e Indonésia (Taiwan e Coreia do Sul União Europeia e o Japão.
fazem parte dos tigres asiáticos, porém não pertencem à
As origens do Mercosul remontam à crise das economias
Asean). Eles abriram suas portas para o capital de vanta-
argentina e brasileira de meados da década de 1980, quan-
gens fiscais aos investidores industriais e financeiros que
do estas nações encontravam-se altamente endividadas,
lá se instalassem, além de mão de obra barata e abun-
estagnadas e com dificuldades de atrair capitais produtivos
dante. Em pouco tempo, as economias dos tigres asiáti-
internacionais, correndo o risco de ver o sucateamento de
cos firmaram-se como grandes exportadores de produtos
seus parques industriais, principalmente na questão da re-
manufaturados, principalmente têxteis, eletroeletrônicos e
novação tecnológica e, assim, perder competitividade nas
componentes para a indústria de informática.
exportações. Nesse quadro, os dois países iniciaram políticas
Asean de abertura e aproximação econômica e comercial com o
objetivo de juntar forças em um mercado internacional alta-
PIB (em milhões de US$) 545.505 mente concorrido. A incorporação do Uruguai e do Paraguai
ampliou a possibilidade de cooperação econômica, embora
População 528,9 milhões a sustentação dessa relação estivesse com Brasil e Argenti-
na, as economias mais fortes do bloco.
Renda per capita (em US$) 1.074
O Mercosul apoia-se em uma verdadeira “espinha dor-
10 [Indonésia, Malásia, Filipi- sal” representada pela bacia do Prata, que drena esses
membros
de países
Número

nas, Cingapura, Tailândia, Bru- quatro países. Os rios Paraguai, Paraná e Uruguai têm
nei, Vietnã, Mianmar, Laos e sido aproveitados economicamente pelos países que
Camboja] os banham e têm promovido um fluxo de trocas de
mercadorias transportadas por essas vias fluviais. Pelo
FONTE: BANCO MUNDIAL
chamado “eixo do Mercosul” – que une por terra as
cidades de Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro
para alcançar Montevidéu e Buenos Aires – trafega-
ram, em 2003, cerca de 24 milhões de toneladas de
carga. O “eixo Paraná–Pa raguai” foi responsável pelo
transporte, em suas hidrovias, de cerca de 16 milhões
de toneladas de carga em 2003. O “eixo Bolívia–
Brasil” tem como elemento central o gasoduto que
abastece de combustível natural as principais cidades
brasileiras e que poderá, no futuro, alimentar também
outras cidades do Mercosul.
multimídia: livros
Revista Caros Amigos
A Caros Amigos é uma revista brasileira de in-
formação-política, economia e cultura – com
periodicidade mensal.

2.5. Mercosul
O Mercosul, ou Mercado Comum do Sul, foi criado em
1991, através do Tratado de Assunção, formado por Brasil, multimídia: música
Argentina, Uruguai e Paraguai. Esse bloco econômico tem
por objetivo principal o estabelecimento de um mercado
- Disneylândia – Titãs
comum entre os países que o compõem. O Mercosul é hoje

97
3. CHINA
Em 1997, a pujante e capitalista Hong Kong, até então pos-
sessão do Reino Unido, foi reincorporada à China, fazendo
com que a economia chinesa pulasse da oitava para a séti-
ma posição entre as maiores do mundo. Os ventos liberali-
zantes na economia sopraram no território chinês, permitin-
do grandes investimentos estrangeiros na década de 1990,
apesar de ser uma economia socialista. O grande diferencial
chinês na composição de custos industriais repousa no uso
intensivo de sua mão de obra barata, garantindo, assim,
maior flexibilidade na composição dos preços.
China
A união comercial desses cinco países prevê a instauração
de uma política de alíquotas para importação comum de
não membros, ou seja, a união alfandegária que se ba-
seia na TEC (Tarifa Externa Comum) e a isenção de tarifas
alfandegárias entre os países-membros. Este último item
não está totalmente implementado, pois temeu-se que a
isenção total de tarifas pudesse prejudicar alguns setores 1800 0 360 km

industriais tidos como prioritários para os países sul-ame-


PROJEÇÃO DE ROBINSON

ricanos que manifestarem interesse em integrar o bloco. FONTE: ATLAS ESCOLAR. IBGE: 2014
Chile e Bolívia assinaram tratados e tornaram-se membros
A China é hoje um ator primordial na dinâmica economia
associados ao Mercosul em 1996.
mundial, em virtude de seu crescimento econômico sur-
Em 2006, a Venezuela entrou para o bloco, mas esse epi- preendente e do mercado consumidor em potencial, com
sódio foi alvo de controvérsias. Por um lado, sua entrada seu 1,3 bilhão de habitantes. Mesmo sendo um país sob
aqueceria economicamente o mercado regional, mas, no regime comunista, nas duas últimas décadas vem sofrendo
plano político, poderia gerar conflitos, principalmente entre uma forte modernização em seu parque industrial, atrain-
o governo da época (Hugo Chávez) e o governo paraguaio do fortes investimentos dos países ricos, oferecendo uma
(em especial, o senado). mão de obra abundante e barata, o que a inseriu no mer-
Em 2016, os membros do bloco decidiram suspender a Ve- cado global.
nezuela, pois o país não cumpriu as obrigações assumidas Suas atividades estão concentradas nas manufaturas, con-
quando se incorporou ao bloco. Entre os acordos que a seguindo produzi-las com custos muito mais baixos dos
Venezuela não aderiu estão o Protocolo de Assunção, de que os japoneses, estadunidenses e europeus. Sua entrada,
promoção à proteção dos direitos humanos, e o acordo so- em 2001, na Organização Mundial do Comércio fez com
bre residência, que permite a um cidadão de qualquer país que se adaptasse, progressivamente, ao Sistema Interna-
do bloco viver em outro. cional de Comércio, obedecendo aos seus critérios, como
não poder sobretaxar produtos e, dessa forma, a China
passou a suprimir taxas alfandegárias sobre a importação
de aço e, em 2005, adequou seu sistema financeiro bancá-
rio às regras internacionais.
A China consegue manter-se politicamente fechada, ape-
sar de ter promovido a abertura econômica parcial, o que
permitiu a entrada maciça de capitais estrangeiros. Áreas
previamente definidas passaram a receber investimentos
diretos e firmaram-se importantes polos industriais volta-
dos para a exportação. A partir de 1997, com a incorpora-
multimídia: música ção da antiga possessão inglesa de Hong Kong, encravada
em território chinês, um dos pontos nevrálgicos em termos
- Samba do Approach – Zeca Baleiro financeiros do mundo, a economia chinesa consagrou-se
como a sétima economia do globo.

98
3.1. Rodada do milênio uma produção mais competitiva à custa de menor proteção
aos trabalhadores e destruição do meio ambiente. Sugeriram
A Conferência Ministerial da Organização Mundial do que padrões mínimos de garantias trabalhistas e de preser-
Comércio (OMC), realizada em Seattle (2000), não con- vação ambiental fossem adotados, o que foi veementemente
seguiu atingir o consenso para lançar a “Rodada do Milê- rejeitado pelo grupo dos países em desenvolvimento.
nio” da OMC, que negociaria medidas multilaterais para No ano de 2001, em Doha, no Qatar, voltou-se a discutir a
aprofundar a liberalização comercial em nível mundial. liberalização total do comércio mundial, que ficou conheci-
O cerne do impasse foi a oposição de interesses entre pa- da como a Rodada de Doha, onde se propôs o avanço das
íses desenvolvidos e em desenvolvimento. Como forma de negociações que se estenderam até 2005. Nesse encontro,
estimular seu próprio desenvolvimento, os países mais po- os estadunidenses reconheceram os problemas que as bar-
bres, em geral produtores de matérias-primas e produtos reiras protecionistas dos países ricos criam para as nações
agrícolas, reclamaram uma maior abertura comercial dos em desenvolvimento.
países desenvolvidos às importações. As barreiras protecio-
nistas dos ricos funcionam, na prática, como sérios entra-
ves ao desenvolvimentos dos pobres.
Por outro lado, os países desenvolvidos, em especial os Esta-
dos Unidos e os membros da União Europeia, lançam mão
de uma política injusta de subsídios na área agrícola, prote-
gendo os seus produtores ineficientes, que, de outra forma,
não poderiam competir com os produtos oriundos de países
com menor custo de produção e que não aplicam subsídios.
O que é pior, graças à política de subsídios, os produtos
agrícolas dos países desenvolvidos, mesmo tendo um custo
maior, vão competir em condições desiguais com os produ-
tos dos países em desenvolvimento em outros mercados.
multimídia: música
Os países desenvolvidos, tendo os Estados Unidos à frente, - Kid Vinil – Zeca Baleiro
acusaram, por sua vez, os países em desenvolvimento de ter

Países-membros da OMC

Membros Membros representados pela UE Observadores Não-membros

EXTRAÍDO EM: PT.WIKIPEDIA.ORG. ACESSO EM: 03 DEZ. 2014.

99
Em 2003, o Brasil liderou a criação de um bloco de países vimentos sociais, normalmente integrados no movimento
em desenvolvimento que ficou conhecido como G-20. O antiglobalização, que o acusam de decidir uma grande par-
objetivo do G-20 é lutar na OMC pelo fim dos subsídios te das políticas globais, sociais e ecologicamente destruti-
agrícolas que as nações ricas concedem aos seus produto- vas, sem qualquer legitimidade nem transparência.
res rurais. Trata-se de uma briga de “gente grande”, pois,
Os trabalhos do grupo evoluíram muito ao longo dos anos,
principalmente, a UE dá grandes subsídios aos agricultores.
levando em consideração novas necessidades e eventos
Em julho de 2004, em Genebra, na Suíça, finalmente ti-
políticos. Esse fórum, que originalmente girava em torno
veram algum avanço as discussões que aconteceram em
do ajuste das políticas econômicas de curto prazo entre os
Doha. Nesse encontro, Estado Unidos, UE, Austrália, Índia
países participantes, adotou uma perspectiva mais geral e
e Brasil negociaram à parte um esboço de acordo sobre
estrutural, acrescentando à sua ordem do dia um grande
as regras do comércio agrícola. Embora sem data para
número de questões políticas e sociais, particularmente na
entrar em vigor, há o entendimento sobre o possível fim
área do desenvolvimento sustentável e da saúde em escala
dos subsídios agrícolas, quer na produção, quer na expor-
mundial. O caráter informal do grupo permitiu-lhe evoluir
tação. Considerada uma vitória para os países pobres, a
sem deixar de ser eficiente e adequado às necessidades.
contrapartida foi a inclusão desses nas negociações sobre
a redução nas barreiras alfandegárias sobre os produtos
industrializados das nações ricas.

3.2. Grupo dos Sete (G-7)


Em 1975, Alemanha, Estado Unidos, Reino Unido, França,
Japão e Itália se reuniram para discutir problemas globais
de ordem político-econômica que pudessem trazer dese-
quilíbrios regionais ou mesmo mundiais. No ano seguinte,
o Canadá também participou das discussões, tendo o gru-
po sido chamado de Grupo dos Sete, ou G-7.
multimídia: música
O G-7 é um grupo internacional que reúne os sete países
mais industrializados e desenvolvidos economicamente do - Parabolicamará – Gilberto Gil
mundo. É muito criticado por um grande número de mo-

Países-membros do G-7

100
Em 1997, a Rússia (observadora desde os anos de 1990) foi convidada a oficializar sua participação. A primeira cúpula a oito
membros ocorreu no ano seguinte. Em 2006, os chefes de Estado e de governo decidiram convidar a Rússia a exercer a presi-
dência do G-8 e a sediar pela primeira vez a reunião de cúpula, levando em consideração importantes mudanças econômicas e
democráticas ocorridas nesse país nos últimos anos, além do arsenal bélico que possui. A União Europeia também ocupa uma
posição de observadora nas reuniões do G7, onde é representada pelo presidente da Comissão Europeia e ainda pelo chefe
de Estado e de governo do país que estiver exercendo a presidência da União. Em 2014, a Rússia se envolveu em problemas
relacionados à Ucrânia, o que resultou em sua exclusão do quadro do G-8, retornando à condição inicial de G-7.

ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM

Habilidades
Analisar a ação dos Estados Nacionais no que se refere à dinâmica dos fluxos populacionais e no enfrentamento de
8 problemas de ordem econômico-social.

Na última década, as transformações globais produziram desafios que, vistos em seu conjunto, recolocaram a questão
do papel do Estado no centro do debate político. Vivemos agora uma nova fase, em que o poder do Estado parece
crescer em decorrência da necessidade de gerar rápidas respostas para o desequilíbrio macroeconômico que vem
afetando o mundo todo. Programas de emergência governamentais, que custaram trilhões de dólares, foram aplica-
dos para salvar bancos e empresas de grande porte, a fim de evitar a recessão. Mesmo antes da crise, nos EUA e no
Reino Unido os gastos públicos e o aumento da regulamentação elevaram a participação do Estado na economia. Os
novos desafios trazidos pela globalização, o crescimento do desemprego, a volatilidade dos mercados, a emergência
de novas potências econômicas, como a China, o aparecimento de algumas das maiores companhias multinacionais
e de fundos soberanos estatais vieram reforçar a percepção de que o Estado passou definitivamente a assumir um
papel ampliado. Outros fatores contribuem para esse fato. O envelhecimento da população trará aumento de gastos
e de regulamentação. Custos com segurança, pela ameaça de terrorismo e pela expansão do crime organizado,
também deverão crescer significativamente.

18 Analisar diferentes processos de produção e circulação de riquezas e suas implicações sócioespaciais.

Atualmente, quando se fala em processo de produção e circulação de riquezas, devemos lembrar o papel importante
que as empresas transnacionais imprimem nas relações sociais e no espaço. Ao longo dos últimos 25 anos, ficou evi-
dente a maciça proliferação de empresas internacionais. Se em 1970, havia cerca de 7.000 empresas internacionais
com controle acionário, atualmente esse número saltou para 38.000, sendo que 90% delas possuem como sede nos
países ricos e industrializados e controlam mais de 207.000 filiais estrangeiras. Desde o início de 1990, as vendas
globais destas filiais têm superando as exportações comerciais como principal veículo de fornecimento de bens e
serviços aos mercados estrangeiros. Aliás, neste período, cerca de 70 a 80 % do comércio mundial era controlado e
realizado por empresas internacionais.

101
Modelo
(Enem) O governo de Cingapura, que vem enfrentando reclamações de residentes que precisam competir com es-
trangeiros por emprego, endureceu as regras para que empresas contratem funcionários de outros países para
posições de nível médio. A partir de janeiro de 2012, um estrangeiro precisa ganhar 3 000 dólares cingapurianos (2
493 dólares americanos) ou mais por mês antes de se qualificar para um visto de trabalho que lhe permitirá trabalhar
em Cingapura.
CINGAPURA ENDURECE REGRAS PARA CONTRATAÇÃO DE ESTRANGEIROS. DISPONÍVEL EM: WWW.ESTADAO.COM.BR. ACESSO EM: 17 AGO. 2011 (ADAPTADO).
AS MEDIDAS ADOTADAS PELO GOVERNO DE CINGAPURA OBJETIVAM FAVORECER A
a) inserção da mão de obra local no mercado de trabalho.
b) participação de população imigrante no setor terciário.
c) ação das empresas estatais na economia nacional.
d) expansão dos trabalhadores estrangeiros no setor primário.
e) captação de recursos financeiros internacionais.

Análise expositiva - Habilidades 8 e 18: Este é um belíssimo exemplo de exercício que mostra como a
A ação do Estado interfere na problemática social e econômica. Singapura é um país extremamente pequeno,
sem recursos naturais e sem espaço para a agricultura, mas com uma economia que não para de crescer,
especialmente por ser uma plataforma de exportação – modelo de desenvolvimento que colocou Singapura
no patamar dos países emergentes.
Como mencionado corretamente na alternativa A, a medida indicada no texto é restritiva aos estrangeiros,
o que irá favorecer a contratação de nativos.
Alternativa A

102
DIAGRAMA DE IDEIAS

GLOBALIZAÇÃO

FIM DAS
TRANSNACIONAIS
SOBERANIAS NACIONAIS?

BLOCOS
ECONÔMICOS

FASES

ZONA DE UNIÃO MERCADO UNIÃO


LIVRE COMÉRCIO ADUANEIRA COMUM MONETÁRIA

103
AULAS COMÉRCIO INTERNACIONAL
23 E 24
COMPETÊNCIAS: 2e4 HABILIDADES: 7 e 18

1. A GLOBALIZAÇÃO E O Existe diferença entre comércio exterior e


COMÉRCIO INTERNACIONAL comércio internacional?
O comércio exterior é caracterizado pelas atividades
Após a Segunda Guerra Mundial, o capitalismo iniciou
de compra e venda de mercadorias e serviços de um
uma nova fase que se caracterizou pelo “surto” de em- país ou empresa que operam sob uma legislação na-
presas multinacionais no mundo, sobretudo as estaduni- cional. É como um país organiza leis, políticas, normas
denses, europeias e japonesas. Ao mesmo tempo em que e regulamentos com relação as operações de impor-
contribuíram para o processo de globalização, interligando tação e exportação. Já o comércio internacional tra-
países e continentes, tais empresas eram também resulta- ta das relações entre os países em suas transações
comerciais, além de intercâmbio político e cultural.
do desse processo.
Hoje, o mundo está interligado, globalizado. Em face dis- O fluxo de mercadorias em âmbito internacional ocorre
so, há uma grande quantidade de relações comerciais en- majoritariamente por meio do transporte marítimo, que
tre os países, que geram exportação e importação. Todos movimenta cerca de 75% do volume de cargas no mundo.
os dias acontecem inúmeros desses negócios e as mer- Esse meio de transporte tem seu uso difundido no processo
cadorias vendidas ou compradas transitam em diferentes de exportação e importação, graças à sua elevada capaci-
rotas do Planeta. dade de carga que nenhum outro tem, além do baixo custo
Principais fluxos comerciais por tonelada transportada. Em média, um navio cargueiro
pode transportar cerca de 100 mil toneladas.
O transporte aéreo vem ganhando cada vez mais espaço
nas transações comerciais nacionais e internacionais,
crescimento esse que se deve principalmente à dinâmica
desse tipo de transporte, a rapidez, muito adequado ao
transporte de produtos perecíveis e urgentes. Há, atual-
mente, aviões cargueiros com capacidade de carga de até
100 toneladas, sem contar que o tempo gasto na viagem
é relativamente pequeno. O trajeto entre Brasil e Estados
Unidos é feito em menos de 12 horas.

O incremento do comércio internacional ocorreu em razão


de três fatores: dispersão das empresas multinacionais; de-
senvolvimento dos meios de transportes – rodoviário, fer-
roviário, hidroviário, aeroviário e, principalmente, marítimo;
e nova divisão internacional do trabalho. Esses fatores fa-
voreceram a mobilidade das matérias-primas, de produtos multimídia: música
– bens de consumo, gêneros agrícolas, recursos minerais,
entre muitos outros – e as formas de exploração e utiliza- Sobradinho – Sá e Guarabira
ção da força de trabalho em toda a face da Terra.

104
Essas informações conduzem à reflexão de que o processo 1.1.2. Teoria da vantagem absoluta
de globalização está, assim como o capitalismo esteve desde
sua constituição, diretamente ligado aos meios de transportes, É uma teoria proposta por Adam Smith, em sua obra
que permitiram a mobilidade de mercadorias e de pessoas, Riqueza das Nações (1776), que afirma que uma nação
ligando nações, levando informações, conforto, novidades etc. só exportará um produto, caso ela consiga produzi-lo por
1500 - 1840
um custo baixo. Com isso, cada país deveria focar na pro-
Velocidade das carruagens e dos
barcos a vela: 16km/h
dução de produtos que fossem mais vantajosos de acordo
com os custos e modo de produção. Nisso, a nação de-
veria considerar seus recursos naturais, clima, localização
e competência dos trabalhadores. Quando o país foca na
produção e exportação do que tem vantagem absoluta, ele
cria condições para importar mercadorias das nações que
1850 - 1930 também têm vantagens absolutas. Essa teoria foi criticada
Velocidade das locomotivas
a vapor: 100km/h; barcos a vapor: 57 km/h porque nem sempre um país teria um produto que garan-
tisse vantagem absoluta sobre ele.

Anos 1950
Aviões a propulsão: 480-640 km/h
1.1.3. Teoria das vantagens comparativas
Para resolver o problema da teoria da vantagem absoluta,
Anos 1960
Jatos de passageiros: 800-1100 km/h David Ricardo criou a Teoria das Vantagens Comparativas,
em 1817. Essa teoria apoia a ideia de que também existem
condições de comércio internacional para países que não tem
1.1.1. Teorias do comércio internacional vantagens absolutas, a partir do momento em que eles dire-
Existem diversas teorias que envolvem o comércio interna- cionam os trabalhadores a produzirem produtos que conten-
cional e entendê-las é fundamental para conhecer como ham maiores vantagens ou menores vantagens comparativas.
ele funciona. As teorias clássicas chegaram na segunda
metade do século XVIII com a necessidade de explicar as 1.1.4. Teoria da demanda recíproca
trocas internacionais entre os países. Elas surgiram no perí-
odo mercantilista, no momento em que os países intensifi- Já a teoria da demanda recíproca surge com John Stuart
caram suas trocas comerciais livres, chamadas de liberalis- Mill para complementar as teorias anteriores e determina
mo econômico. A sua relação com o comércio internacional a relação quantitativa de trocas internacionais entre países,
era de que diversos países tinham necessidade econômicas verificando as possibilidades e limites de trocas, onde have-
e precisam supri-las através de produtos e serviços que po- ria maior ou menor interesse dos países de comercialização
diam ser encontradas em outras partes do mundo. Autores no mercado internacional.
como Adam Smith, David Ricardo e John Stuart Mill são
alguns dos que merecem destaque sobre o tema. 1.1.5. Teorias modernas do comércio internacional
As teorias modernas trazem uma explicação do comércio
internacional por meio do custo comparativo de opor-
tunidades, que são diferentes entre um país e outro, visto
que são consideradas os fatores de produção: natureza,
trabalho e capital. A Escola de Upsala da Suécia é uma
das responsáveis pela criação de teorias modernas, uma
delas é a Teoria das Proporções dos Fatores, proposta pelos
economistas Eli Filip Heckscher e Bertil Ohlin. Mesmo sen-
do controversa, é considerada uma das mais influentes. Ela
está apoiada na ideia de que os países estabelecem a troca
de mercadorias, pois não podem comercializar os fatores
multimídia: vídeo de produção (natureza, trabalho e capital), ou seja, um país
onde o trabalho é escasso, importa bens que necessitam
FONTE: YOUTUBE
desse fator de produção de forma mais intensa e exporta
Caminhos da Reportagem -
mercadorias que utilizam capital, que é o seu maior fator.
O Brasil que Exporta - 1ª parte
Porter trouxe uma crítica à teoria e propôs a Teoria da Vantagem

105
Competitiva das nações que procurou explicar o motivo Os acordos internacionais são de tal modo importantes, que
de algumas nações serem sedes de empresas bem suce- suas criações podem se dar com o objetivo de controlar a
didas mundialmente. De acordo com ele, nesse mercado venda de um único produto, como é o caso da Organização
são as empresas que competem no mercado internacional dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), responsável por
e não as nações. Estas são responsáveis por trazerem um controlar a produção e venda do “ouro-negro”.
estímulo à inovação e a competitividade, sendo a base do O mundo capitalista é cercado de acordos que tratam de diver-
comércio internacional. sos tipos de temas e questões, principalmente a partir de 1990.
Diante do número de acordos existentes, os que mais se de-
1.2. Acordos internacionais stacam são os relacionados à economia e ao comércio interna-
cional, impulsionados pelo crescente processo de globalização.
As relações comerciais entre os países ocorrem há cente-
nas de anos, e ganharam um caráter particular sob o ca- Os tratados e acordos internacionais variam conforme o grau
pitalismo. Nenhuma região é autossuficiente em todos os de relacionamento diplomático entre os países e o caráter
setores que possa suprir suas necessidades e proporcionar de complexidade, ou seja, desde assuntos mais polêmicos
desenvolvimento econômico. e estruturais até questões simples e de fácil entendimento.

Sendo assim, é comum e necessária a comercialização Um dos exemplos de acordos comerciais é a criação de
internacional de recursos naturais, alimentos, fontes en- blocos econômicos com características de Zona de Livre
ergéticas, tecnologia etc. Comércio. Ao ingressar em um bloco com essas carac-
terísticas, uma nação compromete-se a reduzir em curto
Para facilitar e regulamentar essas relações, sobretudo ou médio prazo suas taxas alfandegárias sobre todo tipo
numa economia globalizada, que exige dinamização de fluxos comercias entre os componentes.
das relações comerciais e sociais, intensificando o
fluxo de mercadorias e serviços, foram criados vári- Caso o grupo de países queira estreitar os laços comerciais
os acordos internacionais, com destaque para o es- entre eles, avançam para uma próxima etapa, denomina-
tabelecimento dos blocos econômicos. Esses grupos da de união aduaneira, que consiste em retirar as tarifas
discutem medidas para reduzir e/ou eliminar tarifas tributárias entre os integrantes do bloco e de adotar uma
tarifa alfandegária comum para a entrada de produtos ori-
alfandegárias, promovendo a ampliação das relações
undos de outros centros comercias.
comerciais entre os países-membros.
Quando há a utilização de todos os aspectos apre-
Alguns grupos internacionais realizam encontros para
sentados, incluindo a livre circulação de pessoas, cap-
discutir a situação econômica global e firmarem acordos,
itais e serviços, o bloco transforma-se em outra cat-
como o G-8 – formado pelos países mais industrializados
egoria de acordo, conhecida como mercado comum.
e poderosos do mundo: Grã-Bretanha, Itália, Canadá, Esta-
Se, além disso, esse grupo de países implantar uma
dos Unidos, França, Alemanha, Rússia e Japão – e o G-20
moeda de circulação dentro do bloco, novamente há
– formado pela União Europeia mais os chefes dos Bancos
uma alteração para a condição de união econômica
Centrais e ministros das Finanças das maiores economias e monetária, nível máximo que atualmente pode ser
do mundo. Além dos acordos comerciais, algumas organi- concebido como bloco internacional.
zações internacionais discutem assuntos de ordem política,
Primeira fase:
por exemplo, a Organização dos Estados Americanos, OEA, Zona de Livre Comércio tem Livre Comércio

que objetiva garantir a estabilidade política, a paz e a se-


Segunda fase: Livre Comércio
gurança no continente. União Aduaneira tem
Política Comercial Uniforme

Livre Comércio
Terceira fase: tem
Mercado Comum Política Comercial Uniforme
Livre Movimento de Fatores de Produção

Livre Comércio
Quarta fase: tem Política Comercial Uniforme
União Econômica
Livre Movimento de Fatores de Produção
Harmonização de algumas políticas

Livre Comércio
Quinta fase: tem Política Comercial Uniforme
Integração Econômica Total
Livre Movimento de Fatores de Produção
Harmonização de todas as políticas

SEDE DA OEA, EM WASHINGTON, NOS EUA ESQUEMA DAS FASES E CARACTERÍSTICAS DOS BLOCOS ECONÔMICOS

106
1.2.1. OMC comercial e promover ações de cooperação mundial.
Apesar de, em muitos casos, as decisões atenderem
A Organização Mundial do Comércio, OMC (em inglês: às dinâmicas internacionais de poder, a existência de
WTO, World Trade Organization) é um mecanismo interna- um regime de regulação do comércio é extremamente
cional fundado em 1995 em substituição ao antigo GATT, importante para países como o Brasil, que fazem uso
Acordo Geral de Tarifas e Comércio, que havia sido criado desse espaço para fazer valer seus direitos.
em 1947. Seu atual presidente é o brasileiro Roberto Aze-
vedo, cuja eleição, em 2013, foi considerada uma vitória Do ponto de vista organizacional, a OMC é estruturada
dos países subdesenvolvidos dentro do órgão. por um conselho geral, por conferências ministeriais, por
um secretariado e alguns outros espaços decisórios. O con-
A OMC tem como seu principal objetivo promover a liberal- selho geral analisa as políticas comerciais e administra as
ização do comércio mundial, diminuindo ou extinguindo as disputas entre os diferentes Estados. As conferências min-
barreiras comerciais e alfandegárias para facilitar as trocas isteriais, instância maior dentro do órgão, reúnem a cada
econômicas em âmbito internacional. Os acordos envolvem o dois anos todos os países-membros para decisões superi-
comércio de mercadorias, serviços e propriedades intelectuais. ores referentes a tratados multilaterais. O secretariado tem
A sede da OMC é em Genebra, que atualmente conta com a função de prestar auxílios administrativos e burocráticos.
156 países-membros, com destaque para a Rússia, que A OMC é muito criticada por diversas frentes em virtude
só ingressou como membro signatário no ano de 2012, de falhar, várias vezes, na promoção do desenvolvimento
em razão da crise econômica que atingiu o país nos anos do comércio mundial, além de coibir de forma desigual as
pós-Guerra Fria. ações de protecionismo por parte dos países. A entidade é
A OMC tem várias funções, dentre as quais o papel frequentemente acusada de beneficiar somente os países
de administrar e regular acordos internacionais, pro- desenvolvidos, legitimando as barreiras alfandegárias le-
mover a ampliação de negociações, fiscalizar e julgar vantadas por essas nações e taxando politicamente os
denúncias referentes à conduta dos países no âmbito países periféricos que tentam agir da mesma forma.

107
Apesar disso, no final de 2013, a OMC conseguiu um
importante avanço rumo à liberalização do comércio finalmente tomavam as rédeas das finanças mundiais,
em todo o mundo. Foi assinado um acordo histórico em manobra que se recusaram a executar por pelo menos
uma conferência na cidade de Bali, na Indonésia, que en- cerca de 25 anos, devido a princípios da política externa
volve a facilitação de acordos aduaneiros entre todos os do país, que advogava o não envolvimento em questões
países-membros, incluindo Cuba. O acordo foi considerado político-econômicas sensíveis às nações europeias.
pelo seu presidente e por muitos como o primeiro grande O primeiro passo para tal hegemonia estava na
ato da OMC no sentido de cumprir os objetivos pelos quais transformação do dólar como moeda forte do setor
fora criada. financeiro mundial e fator de referência para as moe-
das dos outros 44 signatários de Bretton Woods. Isso
1.2.2. FMI equivale dizer que todas as outras moedas passariam
O Fundo Monetário Internacional é uma organização su- a estar ligadas ao dólar, originalmente variando em
pranacional, criada em 1944 pela Conferência de Bretton uma margem de no máximo 1% (positivamente ou
Woods, nos Estados Unidos. Seu objetivo é controlar as negativamente). Para dar sustento essa força dólar em
finanças e a economia internacional, de forma a evitar pro- escala mundial, a moeda estaria ligada ao ouro a 35
blemas econômicos, tais como a crise de 1929 ou qualquer dólares, o que permitia ao portador de dólares (em te-
outro tipo de instabilidade financeira. Sua sede encontra-se oria; na prática, pouco funcional) transformar as notas
atualmente na cidade de Nova Iorque. de dólares que qualquer cidadão carregasse no bolso,
em qualquer parte do mundo, no seu equivalente em
ouro, de acordo com o estipulado em Bretton Woods.
Evidentemente, tal conta seria impossível de se sus-
tentar, mesmo com uma emissão de moeda extrema-
mente controlada (como aconteceu na realidade),
servindo todo conceito mais como uma propaganda
de consolidação do dólar em escala mundial.
CONFERÊNCIA DE BRETTON WOODS, NOS ESTADOS UNIDOS, EM 1944 O acordo ainda previa a não menos importante criação
de instituições financeiras mundiais que se encarregari-
Atualmente, o FMI possui 188 países-membros, cada qual
am de dar o sustento necessário ao modelo que estava
responsável por depositar quantias em dinheiro para o fun-
sendo criado, que seriam: Banco Internacional para Re-
do, de modo que aqueles que mais contribuem e detêm
construção e Desenvolvimento, mais tarde renomeado
mais capital são os que, posteriormente, poderão contrair
para Banco Mundial, que funciona até hoje como uma
os maiores empréstimos e também contar com um maior
espécie de agência de crédito tamanho família, des-
poder de decisão nas votações internas. No momento, os
tinada a fornecer capitais para políticas e projetos de
Estados Unidos detêm a maior cota, responsável por mais
desenvolvimento no mundo todo. Além desta seria cria-
de 25% dos votos totais da organização, fato que gera
do o FMI (Fundo Monetário Internacional), uma espécie
muitas críticas ao funcionamento do FMI.
de "caixinha" de todos os países, que poderiam fazer
movimentações de dinheiro do caso necessitassem de
Acordo de Bretton Woods, ou ainda Acordos de
injeção de capitais em sua economia, respeitando, cla-
Bretton Woods, é o nome com que ficou conhecida
ro, alguns preceitos de disciplina fiscal a serem ditados
uma série de disposições acertadas por cerca de 45 pelos dirigentes do fundo.
países aliados em julho de 1944, na mesma cidade
estadunidense que deu nome ao acordo, no Estado Tal sistema duraria quase vinte anos, até que nos anos
de New Hampshire, no Hotel Mount Washington. 1970 o governo estadunidense fosse forçado a abrir
O objetivo de tal concerto de nações era definir os mão de alguns preceitos de Bretton Woods.
parâmetros que iriam reger a economia mundial após
a Segunda Guerra Mundial. Quando um país se encontra em dificuldades econômi-
O sistema financeiro que surgiria de Bretton Woods cas ou necessita de recursos para adotar algum tipo de
seria amplamente favorável aos Estados Unidos, que política estrutural ou social, ele pode recorrer ao FMI e
dali em diante teria o controle de fato de boa parte da requisitar um empréstimo. Ao fazê-lo, o país deve adotar
economia mundial bem como de todo o seu sistema uma série de ações recomendada pelo fundo monetário,
de distribuição de capitais. Os Estados Unidos regularmente relacionadas ao corte de gastos da máqui-
na pública ou à adoção de medidas neoliberais.

108
Essas medidas postas como condição pelo FMI para a ajuda cos internacionais, apontado pelos defensores da política
financeira são conhecidas como políticas de austeridade e econômica neoliberal como o principal organismo interna-
são tomadas para reduzir o deficit público com o aumento cional responsável pela difusão e predomínio do sistema
de juros, controle do consumo, redução dos investimentos neoliberal em todo o mundo a partir da segunda metade
sociais pelo Estado, demissões em massa do funcionários do século XX.
públicos e implantação de rápidas medidas de privatização.
Além de atuar com auxílios financeiros pontuais e tem- 1.2.4. GATT
porários, o FMI também tem a função de expandir o crédito GATT é a sigla correspondente a General Agreement on
equilibrado em nível internacional, promover a estabilidade Tariffs and Trade (em português, Acordo Geral de Tarifas e
intercambial de divisas, diminuir os desequilíbrios nas bal- Comércio), referente a uma série de acordos de comércio
anças comerciais entre países, entre outras questões finan- internacional destinados a promover a redução de ob-
ceiras e monetárias. stáculos às trocas entre as nações, em particular as tarifas e
taxas aduaneiras entre os membros signatários do acordo.
Sua sede, até sua substituição pela OMC (Organização
Mundial do Comércio), em 1995, localizava-se em Gen-
ebra, na Suíça, dividindo-se em certos órgãos intercomu-
nicáveis, sendo os principais o Secretariado, o Conselho de
Representantes e uma Assembleia anual.
O GATT é na verdade o resultado do insucesso das con-
versações entre os países para formar a Organização In-
ternacional de Comércio (a futura OMC, que surgiria só
em 1995); tal insucesso é em grande parte creditado aos
Estados Unidos, cujos líderes não tinham interesse em
multimídia: sites criar um instituto que inibisse de algum modo o enorme
e importante fluxo comercial internacional que ajudava
www.investexportbrasil.gov.br/ a economia estadunidense a obter resultados positivos
constantes. A Organização Internacional de Comércio de-
veria ser o terceiro pilar da administração da economia e
1.2.3. Críticas ao FMI comércio mundiais, funcionando em conjunto com o FMI e
Embora existam muitos defensores do FMI, no mercado o Banco Mundial.
financeiro, muitas críticas são feitas a ele. A principal delas O GATT foi então planejado para atuar no lugar da na-
é o próprio funcionamento da instituição, que confere mais timorta organização, e mesmo assim, temporariamente,
poder aos países em melhores condições financeiras, os enquanto os países não chegavam a um acordo sob a con-
países desenvolvidos. stituição e funcionamento da OIC. O primeiro dos acordos
Além disso, há acusações de que o FMI teria sido criado foi estabelecido em 1947, em Genebra, no âmbito da re-
para administrar e expandir os interesses do capitalismo união das Nações Unidas por um total de 23 países, entre
dos EUA, visto que muitas nações em dificuldades tor- eles o Brasil, que foi também um dos membros fundadores
nam-se “reféns” das exigências impostas pelo fundo que, do acordo. A partir desta inicial, foram ocorrendo outras
por extensão, apregoa medidas que interessam mais ple- séries periódicas de acordos para uniformizar as normas
namente os capitalistas estadunidenses. do comércio internacional, séries estas que receberiam
o nome de “rodadas“. São consideradas as mais impor-
Outras críticas ao fundo giram em torno de sua suposta
tantes a Rodada Kennedy (1964-1967); a Rodada Tóquio
ineficiência para gerir e controlar crises econômicas inter-
(1973-1979) e a Rodada Uruguai (1986-1993). Esta foi a
nacionais, principalmente a partir dos anos 1970. Além dis-
última das rodadas, e considerada a mais importante de
so, muitos economistas questionam a forma como o FMI
todas, assinada por 117 países e organizada para reduzir
procede com suas medidas de condicionalidade, obrigando
os entraves ao comércio mundial, tornando o sistema mais
países a adotarem mais controle orçamentário quando o
independente com as sucessivas reduções das pautas ad-
ideal, na visão de muitos, seria o investimento em estrutu-
uaneiras. Sua importância reside também no fato de, pela
ras de bem-estar social.
primeira vez em tais séries de conversações, surgirem te-
Embora existam essas e outras críticas, o FMI continua mas como a situação dos produtos agrícolas e serviços em
sendo um dos principais atores econômicos e geopolíti-

109
geral incluídos nos debates. de todo tamanho, e suas respectivas peças de reposição,
e aviões.
Durante o tempo em que vigorou, apesar de ser um organ-
ismo provisório, contribuiu bastante para que as normas Em 1960, os produtos industrializados e semimanufatura-
que regulam o comércio internacional se ajustassem ao dos correspondiam a apenas 5% do total das exportações
crescimento astronômico do comércio e a agilidade das do País; em 2005, esse tipo de produção já representa-
operações financeiras. Estima-se que as tarifas mundiais va 60% de todo comércio exterior do Brasil e indicava os
aplicadas às mercadorias industriais tenham diminuído de avanços econômicos provocados pela modernização do
40% em 1947 para 5% em 1993, devido às conversações setor industrial.
estabelecidas ao longo das diversas rodadas.
De acordo com o rendimento do ano, o percentual sofre
variações que pode ser de 55% a 65%, por exemplo; no
1.3. O Brasil no mercado internacional ano que cresce a venda de aviões, esses dados elevam-se.
O Brasil conseguiu mudar de forma significativa seu comér- Em contrapartida, se houver crescimento da produção e da
cio exterior, fato ocorrido nas últimas décadas. Até os anos exportação agrícola, como no caso da soja, ocorre também
1960, a produção do País estava restrita à exportação de crescimento no percentual de produtos primários.
produtos primários, como o café – no início do século XX, Os parceiros comerciais do Brasil são muitos, com destaque
responsável por 70% de toda exportação – e, posterior- para a União Europeia – Alemanha, Itália, França, Espanha
mente, de outros produtos – cacau, algodão, fumo, açúcar, e Holanda –, Estados Unidos, Argentina, Japão, Paraguai,
madeiras, carnes, minérios, notadamente ferro e manganês. Uruguai, México, Chile, China, Taiwan, Coreia do Sul e
Hoje, com a economia mais complexa e diversificada, as Arábia Saudita.
exportações ganharam produtos industrializados e pro- Outra evidência da mudança econômica e industrial bra-
cessados (semimanufaturados), calçados, suco de laranja, sileira são os tipos de exportação. No passado, eram ba-
tecidos, combustíveis, bebidas, alimentos industrializa- sicamente produtos manufaturados; hoje, esse contexto
dos, caldeiras, armamentos, produtos químicos, veículos mudou. Cerca de 40% das importação são de matéria-pri-
ma – combustíveis, minérios, trigo, carne, bebidas, artigos
de informática, telefonia, máquinas, motores, material
elétrico, produtos químicos, insumos agrícolas, automóveis,
tratores, peças, eletroeletrônico etc.
Os principais exportadores de produtos para o Brasil são
Estados Unidos, União Europeia – Alemanha, Itália, Es-
panha e França –, Argentina, Arábia Saudita, Japão, Vene-
zuela, México, Uruguai, Chile, China, Coreia do Sul, Kuwait
e Nigéria.
multimídia: livros
Comércio exterior: interesses do Brasil –
Marcelo de Paiva Abreu
A política econômica externa é condicionante
crucial para o desempenho econômico do Bra-
sil nos próximos anos. A conjugação de abertu-
ra de mercados para produtos brasileiros, com
a redução das barreiras às importações brasi-
leiras, configuraria cenário que poderia ser im-
portante para ajudar o processo de reencontro
da trajetória de crescimento econômico signifi-
cativo e sustentado. Os ensaios aqui reunidos
tratam de temas da política comercial brasileira
relevantes neste processo. O ensaio inicial ana-
lisa a abertura de 1988-1993 e sua temporária
reversão a partir de 1995.

110
CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS

O número de atividades profissionais que envolvem as relações comerciais entre países e empresas com fortes
vertentes internacionais, assim como a capacidade de desenvolver projetos de internacionalização nessa área, são
amplos e diversificados e, no caso do Brasil, estão em ampla expansão. O florescimento da área de comércio exterior
se deu praticamente nos últimos quinze anos com o aumento do grau de internacionalização da economia brasileira
via privatizações, da dependência do capital externo, decorrente da falta de poupança doméstica, maior intensidade
do processo de globalização e interdependência e de formação de blocos econômicos. A maior permeabilidade dos
assuntos externos ou internacionais na atividade corrente de atores governamentais e das empresas exerceu um
impacto positivo sobre o fomento e o funcionamento de certas instituições-chaves para o progresso dos estudos de
comércio exterior.

ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM

Habilidades
7 Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações.

18 Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações socioespaciais.

As transformações econômicas mundiais ocorridas nas últimas décadas, sobretudo no pós-Segunda Guerra Mundial,
são fundamentais para entendermos as dinâmicas de poder estabelecidas pelo grande capital e, também, pelas
grandes corporações transnacionais.
Com o crescimento expressivo da atuação do capital em nível mundial, chegou-se a questionar o papel do Estado,
isto é, o Estado seria de fato um agente importante neste processo ou atuaria como um impeditivo para a livre cir-
culação do capital, uma vez que poderia criar regras ou leis que inviabilizariam a livre circulação do capital. Segundo
este raciocínio, as transnacionais estariam comandando a dinâmica econômica mundial em detrimento dos Estados.
O surgimento dos blocos econômicos coincide com a mudança exercida pelo Estado. Em um primeiro momento, a ideia
dos blocos econômicos era de diminuir a influência do Estado na economia e comércio mundiais, mas a formação destas
organizações supranacionais fez com que o Estado passasse a garantir a paz e o crescimento em períodos de grave crise
econômica. Assim, a iniciativa de maior sucesso até hoje foi a experiência vivida pelos europeus.

111
Modelo
(Enem 2017) México, Colômbia, Peru e Chile decidiram seguir um caminho mais curto para a integração regional. Os
quatro países, em meados de 2012, criaram a Aliança do Pacífico e eliminaram, em 2013, as tarifas aduaneiras de 90%
do total de produtos comercializados entre suas fronteiras.
OLIVEIRA, E. ALIANÇA DO PACÍFICO SE FORTALECE E MERCOSUL FICA À SUA SOMBRA. O GLOBO, 24 FEV. 2013 (ADAPTADO).
O acordo descrito no texto teve como objetivo econômico para os países-membros:
a) promover a livre circulação de trabalhadores.
b) fomentar a competitividade no mercado externo.
c) restringir investimentos de empresas multinacionais.
d) adotar medidas cambiais para subsidiar o setor agrícola.
e) reduzir a fiscalização alfandegária para incentivar o consumo.

Análise expositiva - Habilidades 7 e 18: A Aliança do Pacífico é um bloco econômico, criado em 2012,
B com o objetivo de fortalecer a economia dos países membros por meio da integração, com vistas a enfren-
tar a expansão do Mercosul e as importações asiáticas na América do Sul e, portanto, fomentar a competi-
tividade de seus integrantes no mercado externo.
Alternativa B

112
DIAGRAMA DE IDEIAS

RODADA URUGUAI
GATT
(1986-1994)

RODADA
OMC
DOHA

G7

BLOCOS
GLOBALIZAÇÃO
ECONÔMICOS

TRANSNACIONAIS PROTECIONISMO

113
AULAS REGIÕES SOCIOECONÔMICAS MUNDIAIS I:
25 E 26 AMÉRICA ANGLO-SAXÔNICA
COMPETÊNCIAS: 2e3 HABILIDADES: 7 e 14

1. AMÉRICA ANGLO-SAXÔNICA
A América anglo-saxônica designa o conjunto de países da
América que têm como idioma oficial o inglês, ao contrário
da América latina, constituída pelos países que possuem
línguas oficiais que não são de origem latina: português,
francês e espanhol. O termo “anglo-saxões” refere-se aos
habitantes da Inglaterra após a vitória dos saxões (ger-
mânicos) sobre os bretões (habitantes de uma região na
França). A maioria dos anglo-saxões é considerada branca, multimídia: livros
descendentes de caucasianos.
O Faroeste (1860-1890) – Claude Fohlen
Os países da América anglo-saxônica abrangem uma área apro-
ximada de 19 milhões de km2 e mantêm laços históricos e cul- Um trem atravessa uma floresta de sequoias
turais com o Reino Unido em virtude da colonização britânica. em algum ponto das Montanhas Rochosas sob
os olhares hostis de índios sioux e coiotes. Solta
Localizados na América do Norte, América Central e Améri-
muita fumaça e leva em seus vagões víveres, fer-
ca do Sul, há controvérsias sobre os países que compõem a
ramentas e um bando de homens rudes dispostos
América anglo-saxônica, visto que alguns estudiosos con-
a matar e morrer por um quinhão desse vasto El-
sideram somente as nações cujas economias são as mais
dorado imaginário que era o Oeste americano vir-
desenvolvidas das Américas: Estados Unidos e Canadá.
gem, no século passado – dura quimera que qua-
América anglo-saxônica: político (2007) se eliminou por completo os povos autóctones do
país e deixou muita cruz de madeira na margem
dos caminhos. Essa é a história que Claude Fohlen
EUA conta em O Faroeste (1860-1890), assentada em
sólidas bases historiográficas. O estudo de Fohlen
acompanha o movimento do dinheiro sendo su-
Canadá
cessivamente gerado e exaurido nas atividades
pioneiras do Oeste – a mineração, a criação de
Estados Unidos
gado, a agricultura, o comércio, os transportes. A
par disso, apresenta também um registro da saga
humana que esse processo econômico explorató-
rio e aventureiro suscitou, por meio da descrição
de suas principais personagens – o cowboy, o co-
FONTE: <HTTP://PT.WIKIPEDIA.ORG>. lono, o índio, o soldado da cavalaria, o mineiro, a
1.1. Aspectos físicos dançarina de saloon, o charlatão ambulante, os
bandoleiros famosos e sua contrafação, os vigilan-
1.1.1. Relevo tes implacáveis que lhes punham sem pestanejar
Observando um mapa físico da América anglo-saxônica, laços de grossas cordas em torno dos pescoços, o
percebe-se que o relevo, de oeste para leste, apresenta novo rico que mandou arrancar da parede de um
nítida semelhança com o da América latina: litoral muito teatro um quadro ‘desse tal de Shakespeare que
recortado no oeste, com planícies costeiras bastante es- nunca fez nada pelo Colorado’, pondo um retrato
treitas. O retalhamento do litoral deve-se à erosão glacial seu no lugar...
provocada pelo degelo nas áreas frias.

114
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MAPA FÍSICO DA AMÉRICA ANGLO-SAXÔNICA MOSTRA UMA CORDILHEIRA BASTANTE ELEVADA, COM CUMES SEPARADOS POR VALES PROFUNDOS.

As montanhas Rochosas ocupam os territórios do Canadá 1.1.2. Clima


e dos Estados Unidos, formando uma linha de picos que se
estendem de sudoeste a noroeste, desde os quentes pla-
naltos mexicanos até as áreas geladas do Alasca.
Como os Andes da América do Sul, as Rochosas são ca-
deias da era Terciária, jovens, portanto, bastante elevadas;
por essa razão, suas formas pontiagudas são cobertas de
neves. As altitudes dos picos oscilam de 4 mil metros a Polar Subtropical

pouco mais de 6 mil metros: McKinley (6,1 mil metros); Lo- Frio de montanha Desértico
Temperado Semiárido
gan (6 mil metros); Whitney (4,4 mil metros), entre outros. Frio Mediterrâneo

Mais para o interior, do golfo do México ao oceano Glacial


Ártico, estendem-se longas as longas planícies costeiras A totalidade da América anglo-saxônica situa-se ao norte
que acompanham o contorno do oceano Atlântico. No do trópico de Câncer, onde o clima temperado, predomi-
Norte, os lagos são muito numerosos, caracterizando as nante na região, é responsável por temperaturas médias
planícies lacustres do Canadá; no Centro aparecem as pla- anuais inferiores a 20 ºC. Em zonas frias, no extremo Norte
nícies dos Grandes Lagos, no Sul merece destaque a pla- do continente, o clima polar caracteriza-se por temperatu-
nície fluvial do Mississipi que corresponde às regiões mais ras médias anuais baixíssimas.
férteis dos dois países. Além da latitude, o relevo também influencia o clima da
Tal como na América latina, já nas proximidades do Atlân- América anglo-saxônica. As temperaturas diminuem nas
tico encontram-se planaltos que são bastante antigos, por partes mais altas, e as planícies centrais formam verdadei-
isso são baixos e desgastados. Esse relevo modesto é resul- ro corredor para os ventos gelados do Norte. Ao mesmo
tado de intensa erosão, que atua há muito tempo sobre as tempo, as altas montanhas do Oeste bloqueiam a passa-
rochas formadas nos primeiros períodos da Terra. São: no gem dos ventos do Pacífico, permitindo, na parte de trás
Canadá, o planalto do Labrador, e, mais ao sul, nos Estados das montanhas, a formação de desertos, como é o caso do
Unidos, os montes Apalaches. As altitudes nessa região são deserto de Gila, no sudoeste dos Estados Unidos.
pouco expressivas; oscilam entre mil e dois mil metros, em As correntes marítimas também influenciam fortemente
média. O ponto culminante dos Apalaches é o monte Mit- as condições climáticas regionais. As duas principais são:
chell (2.037 mil m). a corrente da Califórnia, bastante fria, que banha a costa

115
oeste, acentuando ainda mais as características de clima As áreas desérticas, onde a pluviosidade é mínima, são do-
temperado dessa área da América anglo-saxônica; e a cor- minadas por vegetação xerófila arbustiva e herbácea. No
rente do Golfo, bastante aquecida, que banha a costa leste sudeste dos Estados Unidos aparecem florestas tropicais.
e faz com que a península da Flórida e áreas próximas te-
nham clima tropical e subtropical. 1.1.4. Hidrografia
1.1.3. Vegetação da América anglo-saxônica

Tundra

Floresta de coníferas

Floresta temperada

Pradaria

Formações de regiões semiáridas

RIO MISSISSIPI, NOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA (2013)


Floresta pluvial tropical e subtropical

A vegetação obedece às condições impostas principalmen- A América anglo-saxônica possui uma enorme região la-
te pelo clima. Por isso, próximo ao oceano Glacial Ártico custre no nordeste, na fronteira dos Estados Unidos com o
aparece a tundra canadense, que apenas durante o verão Canadá − na chamada região dos Grandes Lagos. Como
liberta-se do gelo e da neve, mostrando musgos – em áre- verdadeiros lagos interiores, os lagos Superior, Michigan,
as geladas e úmidas – e liquens floridos – em áreas gela- Erie e Ontário, em meio a muitos outros menores, ocupam
das e secas. Mais ao sul, na região fria do Canadá, aparece uma área tão vasta quanto a do Estado brasileiro de São
a floresta canadense, constituída principalmente de conífe- Paulo. Ligam-se ao oceano Atlântico pelo rio São Lourenço.
ras, que se estende do Pacífico à região dos Grandes Lagos. No que se refere à extensão, merecem destaque na Améri-
Nas proximidades dos Grandes Lagos e cobrindo os Apa- ca anglo-saxônica, além do rio São Lourenço, o Mississipi,
laches, o planalto do Labrador e as montanhas Rochosas, o Missouri, o Mackenzie, o Hudson – que passa pela cidade
surge a floresta temperada, na qual as coníferas associam- de Nova Iorque –, o Colúmbia, o Colorado, o Grande –
-se a espécies que perdem as folhas durante o inverno – nos limites dos Estados Unidos com o México –, o Yukon,
carvalho, álamo, faia, bordo etc. o Athabasca, o Nelson e o Albany. Cerca de um terço do
território dos Estados Unidos é drenado pela bacia dos rios
Junto ao oceano Pacífico, nos Estados Unidos, destaca-se a Mississipi-Missouri que, situada a oeste dos Apalaches e a
floresta da Califórnia, famosa por suas árvores com mais de leste das Rochosas, ocupa o centro do país de norte a sul.
mil anos de idade, entre as quais sobressaem as sequoias,
consideradas as mais altas árvores da Terra. Nas planícies
centrais aparecem as pradarias, vasto tapete de vegetação 1.2. Estados Unidos da América
rasteira, constituído principalmente por formações herbáceas.
1.2.1. Ocupação territorial
Antes da chegada dos colonizadores europeus, a porção
norte do território americano era habitada por diferentes
grupos étnicos: inuítes (esquimós), na-dene e cree, ao nor-
te; shoshoni, sioux e iroqueses, ao centro; e apaches, ao sul.
Contudo, a partir do século XVI, muitos europeus, entre eles
espanhóis, ingleses, holandeses e franceses, disputaram essa
parte do globo onde fundaram os primeiros povoados.
Em 1565, os espanhóis foram os primeiros a chegar, dando
origem ao primeiro povoado no atual Estado da Flórida, no
multimídia: letra e música sudeste do país. Quatro décadas depois, os ingleses domina-
riam a costa atlântica dessa parte do continente americano.
- Americanos – Caetano Veloso Em 1608, os franceses ocuparam a parte da costa leste do
atual Canadá e depois o vale do rio São Lourenço. Em meados

116
do século XVIII, Quebec e Montreal, as duas principais cidades comerciais entre seus participantes.
francesas da América, foram conquistadas pelos ingleses, que Como vimos, a formação dos Estados Unidos ocorreu com
passaram a administrar esses territórios. a independência das 13 colônias. Porém, no início do século
Com a formação das 13 colônias inglesas na América do XIX, conflitos, tratados e acordos de compra de territórios le-
Norte, a imigração inglesa tornou-se mais intensa. De 1690 varam a fronteira estadunidense a avançar até a região das
a 1775, o número de europeus que viviam nas colônias an- Montanhas Rochosas e, em 1848, após a guerra com o Méxi-
glo-saxônicas da América do Norte saltou de 250 mil para 2,5 co, chegar até o oceano Pacífico, quando foram incorporados
milhões. Ao contrário das colonizações espanhola e portugue- os estados do Texas, do Arizona, de Nevada, de Utah e da
sa, que se ocuparam apenas da exploração das terras recém- Califórnia, período conhecido como Marcha para Oeste.
-conhecidas, os colonos britânicos estabelecidos nas colônias A expansão territorial foi acompanhada de dois fatores im-
do norte, chegaram com o objetivo de fixar residência. portantes: a vinda de imigrantes em massa, e para atrair
esses imigrantes, foi instituída a chamada Homestead
Act (Lei da Propriedade Rural), onde as terras eram ven-
Canadá
Massachusetts didas a preços baixíssimos, em contrapartida, o colono
New
Hampshire deveria permanecer por no mínimo 5 anos. Além disso, o
governo incentivou a construção de ferrovias que ligaram a
Nova 1 costa leste ao Pacífico, propiciando, dessa forma, a expan-
York
2 Rhode são econômica do país.
Island
Pensilvânia
3 Connecticut
A partir de 1823, a política de expansão territorial foi mar-
Territorios 4 New Jersey
Indígenas cada pelo estabelecimento da Doutrina Monroe pelo
Delaware
Virgínia Maryland
governo estadunidense. O lema “América para os ame-
ricanos” enfatizava a contraposição ao domínio europeu
es
ch

Carolina do Oceâno
na América latina. Contudo, o que os EUA buscavam era
la

Norte Altlântico
pa
Ap

Carolina do
efetivar sua influência no restante do continente america-
1 Boston
Sul
5 2 Nova York no, o que conseguiram com a política externa do Big Stick
Geórgia 3 Filadélfia
4 Baltimore (grande bastão) no governo do presidente Theodore Roo-
5 Charleston
0 (km) 500
sevelt (1858-1919). Era permitido aos Estados Unidos o
0 (mi) 300

“direito” de invadir países vizinhos e neles intervir politi-


MAPA DAS 13 COLÔNIAS INGLESAS NA AMÉRICA DO NORTE (1690 A 1775) camente para “manter a ordem”, evitando assim decisões
contrárias ao governo daquele país.
Nesse modelo de colonização foram estabelecidas colô-
nias de povoamento, nas quais os ingleses promoveram
o desenvolvimento de um mercado interno, mediante a
construção de estaleiros navais, casas comerciais, bancos,
oficinas manufatureiras e, posteriormente, indústrias.
No entanto, nas colônias do sul foi introduzido um sistema
de exploração colonial fundamentado na monocultura em
latifúndios voltada para o mercado externo. Nesse caso, a
necessidade de mão de obra foi, em grande parte, suprida
pelo tráfico negreiro.
O aumento dos impostos pela Inglaterra deflagrou inúme-
multimídia: vídeo
ras revoltas e manifestações, fatos que levaram os colonos
americanos a declararem a independência das Treze Co- FONTE: YOUTUBE
lônias da América, em 1776, e a dar origem aos Estados O Regresso
Unidos da América.
O filme mostra a relação dos americanos com
No Canadá, entretanto, o processo de conquista da auto- a famosa marcha para o oeste e sua relação de
nomia foi mais lento. Ocorreu em 1931, por meio de um exploração das novas terras e, principalmente, o
tratado com a Inglaterra. Atualmente, esse país integra choque violento com a cultura e o povo indíge-
a Comunidade Britânica das Nações (Commonwe- na que habitava às terras ao oeste.
alth), criada em 1926, com o objetivo de abolir as tarifas

117
A população dos Estados Unidos é composta basicamente
de descendentes de europeus que emigraram em diferentes
épocas a partir do século XVI. Somam-se a eles os descen-
dentes de africanos vindos na época da escravidão, asiáticos
e uma minoria de ameríndios. Atualmente destaca-se a co-
munidade de latino-americanos que vem crescendo signi-
ficativamente no país. Todos esses povos são responsáveis
pela formação de uma nação que ocupa 50 estados: 48
contíguos mais o Alasca, na porção noroeste do continente,
e o arquipélago do Havaí, no oceano Pacífico.
O padrão de vida nos Estados Unidos é bastante elevado,
porém, não se caracteriza pela homogeneidade; existem
O “BIG STICK” NO MAR DO CARIBE grandes diferenças sociais. Milhares de pessoas prove-
nientes das nações subdesenvolvidas imigram para o país
No final do século XIX, o imperialismo estadunidense con- em busca de melhores condições de vida.
tava com a ocupação dos territórios das Filipinas, no sudes-
te asiático, e de Cuba, no mar do Caribe, ambos em poder 1.2.2. A expansão dos Estados Unidos
da Espanha. Daí em diante, a influência política e econômi-
ca desse país expandiu-se por quase todo o Planeta.
A participação dos Estados Unidos nas duas grandes guer-
ras foi decisiva graças à sua superioridade militar. Após a
Segunda Guerra Mundial, estabeleceu-se uma nova ordem
política mundial, na qual os Estados Unidos tornaram-se a
grande potência do Ocidente capitalista e da recém-criada
Organização do Tratado Atlântico Norte (Otan), em opo-
sição ao bloco de países socialistas liderados pela então
União Soviética.
O clima de tensão entre as capitais Washington e Moscou
e a ameaça de uma guerra nuclear fizeram aumentar a cor-
rida espacial e armamentista, empreendida principalmente
pelos dois países. Essa fase só teve fim com o enfraqueci-
mento do império soviético e a queda do Muro de Berlim,
no fim da década de 1980.
Desde então, os Estados Unidos têm assumido o papel de na-
ção hegemônica que influencia a geopolítica mundial, inter-
vindo diretamente em países como o Iraque e o Afeganistão.
A atual ação imperialista estadunidense não se resume,
entretanto, às intervenções militares. A política econômica
do país, intermediada pelo governo e por órgãos que atu-
am internacionalmente, como o Banco Mundial e o Fundo multimídia: vídeo
Monetário Internacional (FMI), sediados nos Estados Uni-
dos, tem sido acusada de prejudicar o desenvolvimento FONTE: YOUTUBE
de outras nações, seja pela elevada cobrança de juros das Lincoln (2012)
dívidas contraídas, seja pela imposição de leis de mercado
O filme narra o contexto da elaboração da
que beneficiam empresas estadunidenses.
Emenda XIII, que acabava com a escravidão
Entre os anos de 1812 a 1850, a população dos Estados no território do país. Com isso, temos um fil-
Unidos aumentou de 7,5 para 23 milhões e seu território me que reflete sobre a relação escravagista do
cresceu de 4,36 milhões para 7,7 milhões de quilômetros país, que demarca o início da luta do negro
quadrados. Contudo, quem mais sofreu com essa expan- contra sua segregação.
são foi a população nativa, que foi drasticamente reduzida.

118
1.3. Aspectos econômicos ta, somente 2%. Mas nem por isso, sem importância; é o
maior exportador de gêneros alimentícios processados e
1.3.1. Agricultura in natura.
Os Estados Unidos ocupam atualmente a condição de A concentração da atividade agropecuária no território
maior potência econômica, política e militar do mundo. estadunidense está majoritariamente nas Grandes Pla-
Face disto, apresenta um elevado nível tecnológico na nícies. Nelas estão estabelecidos os cinturões agrícolas,
agricultura: máquinas, fertilizantes, agrotóxicos, irrigação e conhecidos como belts, que são áreas especializadas em
todo tipo de biotecnologia disponível. um único produto, como o wheat belt (cinturão do tri-
O setor agropecuário estadunidense destaca-se pela intensa go), corn belt (cinturão do milho), coton belt (cinturão do
mecanização aliada a fatores naturais – extensão territorial e algodão), bem como as maiores concentrações de cria-
condições climáticas – que lhe permitem ser um dos maiores dores de suínos e bovinos. Naquelas proximidades e no
exportadores de produtos agrícolas do mundo. nordeste do país há também o cinturão verde hortifruti-
granjeiro e pecuária intensiva destinada à produção de
Mesmo com uma elevada produtividade, a participação
leite (dairy belt).
da agricultura na composição do PIB nacional é modes-
Os cinturões agropecuários

Principais fatores que favorecem a concentração agro- de cabeças, atrás somente da Índia – maior produtora de
pecuária nas Grandes Planícies: grandes áreas com solos bovinos do mundo, embora não seja utilizada para fins co-
férteis, relevo plano, predominância do clima subtropical e merciais por motivos religiosos. Além disso, o país possui
temperado favoráveis para a produção agrícola, completa também grandes rebanhos suínos, com aproximadamente
rede de transporte, hidrovias e ferrovias que notavelmente 55 milhões de cabeças, e ovinos, com 38 milhões de cabe-
dinamizam a distribuição da produção. ças. Galinhas e outros aviários são criados nos estados do
Apesar da enorme concentração agropecuária, nas Gran- centro-sul e do sul do país. A indústria pecuária produz mais
des Planícies há importantes áreas produtoras – península alimentos do que o necessário para atender à demanda na-
da Flórida –, que se destacam na produção de cítricos. No cional. Embora a prática da criação de gado espalhe-se por
sul do estado da Califórnia, os principais cultivos são de todo país, essa indústria está concentrada no sudoeste e no
uva, maçã, pêssego e laranja. centro-norte do país. As regiões central e ocidental dos Esta-
Em suma, o setor agropecuário dos Estados Unidos é bas- dos Unidos também possuem grandes rebanhos. O estado
tante desenvolvido e consegue os melhores índices de pro- do Texas tem o maior rebanho de gado do país ao lado de
dutividade do mundo. Montana, Colorado, Califórnia e Nevada.
Nas últimas décadas, a indústria pecuária estadunidense
1.3.2. Pecuária tem sofrido com problemas de estiagem, o que fez com que
Os EUA têm o segundo maior rebanho de gado bovino o rebanho de gado diminuísse gradualmente. Em razão do
comercial do mundo, com aproximadamente 103 milhões alto consumo de carne bovina no país, os Estados Unidos

119
passaram a importar carne e gado do Canadá – Alberta e
Ontário –, para tentar minimizar o problema da diminuição
populacional dos rebanhos de gado estadunidense.

CAMPUS DA APPLE, EM CUPERTINO, CALIFÓRNIA, ESTADOS UNIDOS (2013)

Para dar condições de desenvolvimento à indústria, é fun-


damental o emprego de recursos energéticos e minerais.
REBANHO BOVINO NO ESTADO DO TEXAS, ESTADOS UNIDOS (2013)
Nos Estados Unidos há diversidade e abundância de gran-
des de jazidas, como ferro e carvão; no entanto, também
1.3.3. Indústria há dependência em relação ao petróleo, cujas reservas,
bem como a de outros minerais, vêm diminuindo, o que faz
O espaço geográfico estadunidense é bastante diversifi- dos EUA o maior importador de minerais do mundo.
cado assim como suas atividades econômicas industrial e
rural. Na industrial, o fluxo corresponde a 27% da produ- Na região nordeste encontram-se as indústrias mais an-
ção mundial. Grande parte de mercadorias e capitais que tigas, denominadas manufacturing belt (cinturão das ma-
circula no mundo é oriunda desse país, o que comprova nufaturas). A área correspondente à produção industrial e
sua potência comercial. manufatureira e compreende a indústria têxtil, eletrônica e
automobilística, cuja atuação vem perdendo espaço para
Das 100 maiores empresas do mundo, 36 são norte-ame- novos núcleos industriais na costa oeste e sul do país, cha-
ricanas. Desenvolvem um grande volume de capitais anu- mada sun belt (cinturão do sol), que tem como principais
almente com uma receita tão alta que, somados os PIB atividades produtivas a indústria aeroespacial, militar, ro-
(produto interno bruto) de muitos países, o resultado será bótica e informática.
inferior ao dessas empresas. Trata-se de gigantescos gru-
pos empresariais, que correspondem ao estágio tecnológi-
co do setor industrial e que anualmente investem milhões
1.4. A importância econômica
em pesquisas para o desenvolvimento de novas mercado- dos Estados Unidos no
rias e materiais. mundo contemporâneo
Atualmente, os Estados Unidos são a maior potência eco-
nômica do planeta. Em 2015, o produto interno bruto (PIB)
do país foi de 18 trilhões de dólares, cerca de nove vezes
mais que o do Brasil sua moeda, o dólar, é usada como
referência por diversas nações; algumas das quais usam-na
como moeda oficial.
Na agricultura, o país é grande produtor de soja, trigo, ba-
tata, milho, algodão e feijão. Na pecuária, está entre os
maiores produtores de carnes de frango, porco e boi e, na
mineração, o destaque fica para a produção de petróleo,
carvão mineral, gás natural, fosfato, cobre, entre outros.
multimídia: vídeo
Para atingir esse extraordinário desenvolvimento, o go-
FONTE: YOUTUBE verno estadunidense realizou grandes investimentos nas
E o vento levou, de Victor Fleming, 1938 áreas de educação – como as universidades e institutos
O drama épico da Guerra Civil mostra a vida da de pesquisa de ponta; de infraestrutura – construção de
bela petulante do sul, Scarlett O’Hara. Começan- ferrovias, autoestradas e usinas de geração de energia
do pela expansão de uma plantação extensa, o elétrica; de economia – créditos com juros acessíveis aos
filme traça sua sobrevivência na trágica história empreendedores, entre outras medidas. O domínio dos
do sul durante a Guerra Civil e Reconstrução. Estados Unidos sobre as demais economias mundiais cres-
ceu principalmente graças ao desenvolvimento do país nos

120
setores industrial e de serviços. A produção em série e em investimentos nas forças armadas, favorecidos pelas políticas
grande escala, iniciada por Henry Ford no início do século adotadas no período da Guerra Fria, quando se tornou imi-
XX, impulsionou o desenvolvimento tecnológico do setor nente a ameaça constante de eclosão de uma guerra nuclear.
industrial, com destaque para as áreas de equipamentos
No decorrer das décadas, percebe-se claramente o po-
de transportes, máquinas, metalurgia, alimentos, petroquí-
der bélico americano nas guerras: do Golfo (1991), do
mica, aparelhos eletrônicos, componentes de informática e
Afeganistão (2001) e do Iraque (2003). Os estaduniden-
de gráfica, entre outros.
ses investem 3% do PNB (produto nacional bruto) em
A expansão capitalista das empresas estadunidenses é poderio militar, que correspondem a 25% de todo gas-
notável nas indústrias que dominam grande parte do mer- to com defesa no mundo, além de um contingente de
cado mundial de automóveis (Ford e General Motors), de 1,5 milhão de militares que representam 1% da população
petróleo e derivados (Exxon e Mobil Oil) e dos setores de economicamente ativa do país (PEA).
informática (IBM e Microsoft).
Toda essa hegemonia, no entanto, pode entrar em de-
Contudo, no fim da primeira década do século XXI, a maior clínio segundo alguns estudiosos, provocado, princi-
economia do planeta vivenciou sua maior crise econômica palmente, pela queda do PNB – entre 1960 e 2003 –,
desde a quebra da bolsa de valores em 1929. Originada graças à ameaça da concorrência com o Japão, tigres
no setor imobiliário e financeiro, espalhou-se para todas as asiáticos e Alemanha. A absorção de produtos importados
áreas da economia estadunidense e mundial. por parte dos estadunidenses vem deixando saldos negati-
vos em sua balança comercial.
1.4.1. EUA – influência cultural,
econômica e política 1.5. Aspectos populacionais
Graças ao seu fortalecimento econômico, os EUA exercem O país é o terceiro mais populoso do mundo, superado ape-
um grande poder sobre os organismos financeiros inter- nas pela China (1,3 bilhão) e a Índia (1,2 bilhão). A popula-
nacionais, forçando a abertura da economia de países em ção estadunidense é de aproximadamente 321,3 milhões de
desenvolvimento e subdesenvolvidos. No entanto, adota habitantes (2015), distribuídos em um dos maiores países do
medidas e políticas protecionistas em relação à entrada de mundo, que ocupa uma área de 9,37 milhões de km².
produtos estrangeiros em seu país, mediante taxas alfan-
degárias, além de exercer um forte poder de manipulação
sobre o mercado internacional.
Os estadunidenses difundem sua cultura através de veículos
de comunicação de massa – canais de TV, seriados, músicas
e, principalmente, o cinema, que vende uma imagem e um
modelo a ser seguido e dita ao mundo o que se deve vestir,
comer, comprar, assistir, ouvir. É o caso das multinacionais
que alteram os hábitos alimentares com os fast food.
NOVA IORQUE É O MAIOR CENTRO URBANO DOS ESTADOS UNIDOS.

MC DONALD’S, NA ÍNDIA

O Nafta e a Alca são, sem dúvida, estratégias econô-


micas dos EUA. Como principal nação das Américas,
exerce uma política externa agressiva em relação aos
demais países, e favorável aos seus próprios interesses.
multimídia: sites
Os EUA também se destacam como grande potência militar. http://www.nysm.nysed.gov/
Desde o final da Segunda Guerra foram realizados elevados

121
Etnicamente, a população dos Estados Unidos é constitu- por “neocanadenses” de origem europeia, como os ale-
ída por alemães, irlandeses, ingleses, italianos, escandina- mães, instalados nas províncias de Alberta, Colúmbia Bri-
vos, poloneses, franceses, hispânicos, africanos e asiáticos. tânica e Ontário. Há também algumas minorias – asiáticos,
Os estadunidenses gozam, de um modo geral de um alto pa- negros, indianos e esquimós. A densidade demográfica do
drão de vida, como demonstram os seus indicadores sociais. país é baixíssima, de aproximadamente 3,5 hab/km2. Essa
É importante deixar claro que esses indicadores são apenas densidade média, no entanto, não ocorre em todo territó-
médias nacionais, e oscilam de acordo com a origem étnica rio: nas áreas ao norte, onde o clima é muito frio, há exten-
da população. Minorias como negros (12,85 %) e indígenas sas áreas desabitadas.
(0,97%) passaram por um novo processo de discriminação
social e econômica, configurando indicadores sociais inferio- Densidade populacional do Canadá
res se comparado com a população branca (79,96%).

DENSIDADE DEMOGRÁFICA DOS ESTADOS UNIDOS (2013)

1.6. Canadá
1.6.1. Aspectos populacionais
A população do Canadá é composta por uma porcentagem
muito elevada de descendentes dos grupos que formaram
o país: britânicos e franceses. O grupo britânico (45%) é
descendente de escoceses, habitam principalmente a Nova
Escócia e Príncipe Eduardo, cujo crescimento deve-se, em
parte, à assimilação de outros grupos.
O grupo francês (29%) está assentado em sua maioria na
província de Quebec. Vinte e três por cento são compostos

122
Segundo dados de julho de 2015, a população do Canadá 48% do território –, o Canadá é grande produtor de papel,
soma mais de 35 milhões de habitantes. Na primeira meta- celulose e madeira. Abriga indústrias desse segmento de
de do século XX, apesar da alta mortalidade causada pelas forma sustentável e exporta a maioria da produção para
duas grandes guerras mundiais, o crescimento populacional os Estados Unidos. O governo local incentiva programas de
sofreu uma ligeira elevação, já que no período intensificou-se reflorestamento, garantindo, assim, matéria-prima para a
a imigração de asiáticos para a colonização da parte ociden- continuidade das atividades vinculadas à madeira. A agro-
tal do país. Logo após a Segunda Guerra Mundial, devido pecuária, por sua vez, é dotada de alto desenvolvimento
ao aumento da imigração e ao grande aumento da taxa de tecnológico e altamente mecanizada. A produção de cere-
natalidade (baby boom), o crescimento da população se deu al, sobretudo de trigo, responde por mais da metade das
em taxas recordes, que chegaram a igualar as de países sub- exportações desse segmento econômico.
desenvolvidos, como o México, por exemplo. O setor industrial é bastante diversificado e desenvolvido.
Entretanto, a partir da década de 1960, a taxa de fecundida- Os principais polos localizam-se nas cidades com maior
de apresentou forte retração. Nesse momento as restrições contingente populacional: Toronto, Montreal, Vancou-
a imigrantes asiáticos foram suspensas e o Canadá começou ver, Ottawa, Edmonton e Quebec. Esses centros urbanos
a implantar uma bem-sucedida política que tem entre suas abrigam indústrias de papel, metalurgia, química, petro-
principais características a seleção profissional, priorizando química, mineradoras, telecomunicações, aeroespacial,
técnicos, comerciantes capacitados, executivos e trabalhado- informática, têxtil, alimentícia, entre outras.
res que complementam a mão de obra nativa. Essa política Desde 1994, o país, juntamente com Estados Unidos e Mé-
teve como resultado taxas de crescimento superiores à mé- xico, integra o Nafta (Acordo de Livre-Comércio da Améri-
dia dos países desenvolvidos. De 1946 a 2006, a população ca do Norte). Esse bloco fortaleceu ainda mais as relações
do Canadá saltou de 12,3 para 32,6 milhões. comerciais entre canadenses e estadunidenses, visto que
a economia do Canadá está totalmente vinculada à dos
Aproximadamente 81% da população canadense habitam
Estados Unidos, que são os principais investidores e impor-
núcleos urbanos à exceção de Edmonton e Saint John’s (N.
tadores de seus produtos – aproximadamente 80% das
Brunswick). A totalidade das cidades com mais de 200 mil
exportações canadenses são destinadas aos EUA.
habitantes estão a mais de 50 km da fronteira com os Es-
tados Unidos. As zonas costeiras das províncias atlânticas, a
oeste de Quebec, e o vale do rio Saint John’s, têm a maior
densidade populacional. O escudo Canadense só é povoado
nos vales meridionais e ao sul de Ontário. Os territórios de
Yukon e do noroeste abrigam pequenas cidades que, soma-
das, não ultrapassam os 100 mil habitantes.
Fatores como renda elevada, alta escolaridade e expec-
tativa de via mantêm o Canadá entre os países de alto
VISTA DO COMPLEXO DA BOMBARDIER, SETOR DE DOWNSVIEW PARK,
desenvolvimento humano, com IDH de 0,980 (2011). EM TORONTO, CANADÁ (2013)

1.7. Aspectos econômicos


O Canadá, cuja moeda oficial é o dólar canadense, tem
1.8. A questão Quebec
registrado um crescimento médio do produto interno bruto
(PIB) de 1% ao ano. Em 2015 alcançou a quantia de 1,57
trilhão de dólares e passou a ocupar o 11º lugar no ranking
mundial. A composição do PIB nacional é a seguinte: agro-
pecuária 1,6%, indústria 28,9%, serviços 70,5%.
A riqueza mineral do solo canadense é a principal respon-
sável pelo desenvolvimento econômico do país. É o maior
produtor mundial de urânio e potássio, segundo maior
produtor de níquel e cobalto e o terceiro maior produtor MAPA DE QUEBEC
mundial de platina e titânio, além de zinco, cobre, ouro, Cerca de 80% da população do Quebec é composta por
minério de ferro, prata, diamantes, entre outros. descendente de franceses, em contraste com as outras pro-
Com extensas áreas de floresta boreal – aproximadamente víncias do país, cujos habitantes são em sua maioria descen-

123
dentes de ingleses ou escoceses. A forte influência francesa, grande parte do apoio junto a população, prova disso é o
que data dos primórdios da colonização do Canadá, torna a resultado da última eleição parlamentar no Canadá (em
província sensivelmente diferente do resto do país. O francês 2011), na qual o Bloc Québécois – o partido francófono
é o único idioma oficial da província. A população de Quebec separatista – sofreu uma grande derrota, obtendo apenas
é em sua maioria católica, ao contrário do resto do país que três das 308 cadeiras em disputa na Câmara dos Comuns
é majoritariamente os protestante. Outra característica fran- (equivalente à Câmara dos Deputados no Brasil). Hoje em
cesa do Quebec é a arquitetura das cidades. dia, o Canadá deixou de ser um país cindido entre uma
Os franceses que iniciaram a colonização da região, an- maioria de origem anglo-saxã e uma minoria francófona e
teriormente conhecida como Nova França, estavam inte- se assemelha mais a um país de perfil multicultural, dada a
ressados no comércio de peles de animais, seja pela caça, ativa presença de imigrantes e seus descendentes, em que
seja pelos contatos comerciais com nativos indígenas da são faladas mais de 60 línguas, por cerca de 70 grupos
região. Quebec significa “estreito” em algonquino, nome étnicos diferentes.
que se refere ao trecho estreito do rio São Lourenço, na re-
Quebec possui vastos recursos naturais – entre eles, inúme-
gião onde fica atualmente a cidade de Quebec. A partir da
ros rios e lagos, muitas florestas. Atualmente, Quebec é o
década de 1950, um movimento nacionalista começou a
crescer em Quebec, culminando com a realização de duas maior produtor de energia do Canadá; a maior parte dessa
votações, em 1980 e em 1995, pela separação do Quebec energia é gerada em hidrelétricas e em usinas nucleares. A
do Canadá. Em ambas as votações, a maioria da população província produz cerca de 26% dos produtos industriais e
da província votou contra a secessão. Atualmente, ainda agropecuários do Canadá: alimentos, madeira e derivados,
que o sentimento nacionalista seja forte entre a população aviões, químicos e roupas.
francófona, o projeto de independência do Quebec, perdeu

CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS

A formação dos EUA como nação está relacionada fundamentalmente a forma de ocupação do território (ocupação
inglesa), que apresentou características distintas nas colônias do norte e do sul. Fatos históricos, associados a concei-
tos geográficos mostram como a transformação dos territórios se dão no tempo e no espaço.

ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM

Habilidades
7 Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações.

Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos analíticos e interpretativos, sobre situação ou fatos de
14 natureza histórico-geográfica acerca das instituições sociais, políticas e econômicas.

124
Uma pergunta razoável que se pode fazer em termos geopolíticos é saber que ações do governo norte-americano
realmente importam e dizem respeito ao restante do mundo. Sendo os Estados Unidos a única potência militar e
econômica em escala mundial, é evidente que suas ações e decisões na área do comércio internacional e a mobi-
lização e atuação de suas forças militares mundo afora são temas que afetam os interesses dos demais países. A
soberania nacional aqui deve ser entendida como a capacidade de uma sociedade exercer o poder dentro de um
território delimitado e reconhecido internacionalmente. Uma vez eliminado esse traço distintivo da soberania, que
é a capacidade de controle de seu território, qualquer outra noção de poder local ou nacional se esvai, restando
apenas o poder global transnacional e antidemocrático representado por esses próprios globalistas, como sendo a
única fonte legítima e reconhecida de poder.

Modelo
(Enem) A primeira Guerra do Golfo, genuinamente apoiada pelas Nações Unidas e pela comunidade internacional, assim
como a reação imediata ao Onze de Setembro, demonstravam a força da posição dos Estados Unidos na era pós-soviética.
HOBSBAWM, E. GLOBALIZAÇÃO, DEMOCRACIA E TERRORISMO. SÃO PAULO: CIA. DAS LETRAS, 2007.

Um aspecto que explica a força dos Estados Unidos apontada pelo texto, reside no(a)
a) poder de suas bases militares espalhadas ao redor do mundo.
b) alinhamento geopolítico da Rússia em relação aos EUA.
c) política de expansionismo territorial exercida sobre Cuba.
d) aliança estratégica com países produtores de petróleo como Kuwait e Irã.
e) incorporação da China à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).

Análise expositiva - Habilidades 7 e 14: A força da hegemonia estadunidense nos cenários interna-
A cionais que se seguiram após a Guerra Fria se sustenta, dentre outros fatores pelo seu poderio bélico,
demonstrado pela extensão de suas bases militares pelo planeta. As alternativas incorretas são: [B], porque
Rússia e EUA não têm alinhamento geopolítico; [C], porque não ocorreu avanços territoriais sobre Cuba;
[D], porque não há alianças entre EUA e Irã; [E], porque a China não faz parte da OTAN.
Alternativa A

125
DIAGRAMA DE IDEIAS

E.U.A AMÉRICA ANGLO-SAXÔNICA CANADÁ

OCUPAÇÃO OCUPAÇÃO
TERRITORIAL TERRITORIAL

• HOMESTEAD ACT • INGLESES FR.


• MARCHA P/ OESTE
• DOUTRINA MONROE

ASPECTOS ASPECTOS
SOCIOECONÔMICOS SOCIOECONÔMICOS

AGRICULTURA
BELTS
PIB ELEVADO
PECUÁRIA SUDESTE
E CENTRO-OESTE

INDÚSTRIA INDÚSTRIA

• DIVERSIFICADA • DIVERSIFICADA
• MODERNA • MODERNA
• MANUFACTURING BELTS

DEMOGRAFIA DEMOGRAFIA

• 3° MAIS POPULOSO • DENSIDADE DEMOGRÁFI-


• MAIORIA BRANCA CA: 3,92 HABITANTE/KM2
• TAXA DE CRESCIMENTO POPU- • IDH: ELEVADO
LACIONAL: 0,78% AO ANO • EXPECTATIVA DE VIDA: 79,8 ANOS
• EXPECTATIVA DE VIDA: 78,8 ANOS

126

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