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Ju l io C e z a b M elatti
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ram para estimular e ampliar a produção etnológica no Brasil.
Não podemos nos esquecer, por outro lado, que a contribuição
de pesquisadores estrangeiros continuou; alguns se fizeram
notar pela mera realização de seus projetos particulares; mas
outros mostram sua presença com uma maior vinculação com
instituições brasileiras e/ou pela formação de pesquisadores
brasileiros em suas instituições de origem.
Mas, no que diz respeito, especificamente, à Etnologia
das populações indígenas, não se pode atribuir seu atual desen
volvimento, exclusivamente, a uma influência direta dos
cursos de pós-graduação. Afinal de contas, das setenta disser
tações de Mestrado apresentadas no Museu Nacional até o
presente ano, apenas cinco — ou seja, uns sete por cento —
se referem a indígenas. Das vinte e oito defendidas na Uni
versidade de Brasília, somente seis — portanto, uma porcen
tagem um pouco maior, de vinte e um por cento. Não tenho
as percentagens dos outros cursos. Mesmo no que se refere a
teses realizadas em universidades estrangeiras, nesse período,
por alunos brasileiros, a percentagem parece ser pequena, pois
apenas três se referem a grupos tribais (GOMES, 1977;
MATTA, 1976; RAMOS, 1972). De qualquer modo, a Etnologia
Indígena deve ter se beneficiado, indiretamente, com a criação
da pós-graduação, pois vêm concorrendo para melhorar o
nível dos cursos de graduação, bem como estimulando a pu
blicação de traduções de textos importantes para orientar o
estudo de sociedades tribais (sobretudo na década dos Setanta,
ao contrário da década dos Sessenta, que foi um período de
tradução de manuais).
A época da criação do primeiro curso moderno de pós-
-graduação em Antropologia foi, também, a da devassa no
antigo SPI e conseqüente criação da FUNAI, quando inúmeras
denúncias apareceram no noticiário dos jornais. A partir de
então, os problemas indígenas passaram a freqüentar as pá
ginas da imprensa de maneira mais assídua. Tenho a im
pressão de que isso, em parte, se deve ao menor controle da
censura sobre o noticiário referente aos temas indígenas do
que ao concernente a outros problemas sociais, talvez consi
derados menos inócuos. Sem dúvida, essa atenção da imprensa
contribuiu para a formação de um público mais alerta para
os temas referentes aos índios, culminando com a criação de
entidades não-governamentais de apoio aos índios — hoje em
número de, pelo menos dezesseis em todo o Brasil — e com a
mobilização dos próprios indígenas e ainda com o interesse
pelo estudo de grupos indígenas por parte de pesquisadores
ligados a disciplinas não antropológicas.
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De qualquer modo, a quantidade de pesquisas de caráter
etnológico, ou de interesse para a Etnologia, é bastante ex
pressiva. Consultando uma lista de autorizações de pesquisa
elaborada na Divisão de Estudos e Pesquisas, na FUNAI, co
brindo os anos de 1974 a 1980, foi possível identificar oitenta
e seis projetos, dos quais sessenta e nove desenvolvidos por
pesquisadores brasileiros (ou radicados no Brasil) — uns
oitenta por cento — e dezessete por estrangeiros — vinte por
cento — , para falar apenas daquelas que ainda não chega
ram a um resultado acabado (indicadas, daqui por diante,
com a abreviação and., isto é, “ em andamento” ).
Esses números nos mostram que a situação de hoje é
muito diferente daquela de uns vinte anos atrás, quando os
etnólogos que se dedicavam aos índios, para não dizer todos
os antropólogos interessados no Brasil, constituíam um pe
queno grupo em que todos se conheciam. Hoje é possível iden
tificar vários grupos de pesquisadores, uns mais e outros
menos definidos. Esses grupos se reúnem em torno de deter
minada linha temática, orientação teórica ou de ação, deter
minada área, mas raramente em torno de determinada insti
tuição. De fato, é muito difícil classificar os grupos de pesqui
sadores por instituições, pois é comum encontrarmos casos de
etnólogos que se integram num projeto, formal ou tácitamen
te, numa instituição, mas utilizam os dados obtidos para re
dação de uma dissertação ou tese que apresentam em outra,
ou, então, que se transferem de uma instituição para outra,
levando consigo seus interesses e projetos.
É possível, de qualquer modo, classificar as instituições
segundo a amplitude da área geográfica em que incidem seus
projetos. Temos, assim, instituições de âmbito nacional, como
o Museu Nacional, a USP, a UnB, a UNICAMP ou mesmo o
CNRC (Centro Nacional de Referência Cultural) e o Museu
do índio. Outras são de âmbito regional, como o Museu Goeldi,
cujos projetos incidem sobretudo no Pará e no Amapá. E há
aquelas de âmbito estadual, como a UFBa, a UFPr, a UFSC etc.
Convém notar que, além dessas instituições, a maioria delas
mantidas pelo Governo, há também ordens religiosas que
fazem pesquisas nas áreas onde desenvolvem trabalho missio
nário, como os Salesianos (Museu Dom Bosco, em Campo
Grande, MS) e os Jesuítas (Instituto Anchietano de Pesquisas,
em São Leopoldo, RS).
Na distribuição das pesquisas dessas duas últimas déca
das em algumas linhas temáticas, que farei a seguir, tentarei,
sempre que possível, identificar grupos de pesquisadores.
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1 — Organização social e -política
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os Borôro (ALBISETTI «fe VENTURELLI, 1962), e, mais recen
temente, com os Xavânte (GIACCARIA & HEIDE, 1972).
Alguns pesquisadores indiretamente ligados ao projeto
Harvard-Museu Nacional realizaram suas pesquisas no Xingu,
estudando os Suyá (SEEGER, 1974), que são também Jê, e os
Txikâo (MENGET, s.d.), que são Karíb. Outros pesquisado
res também desenvolveram, recentemente, estudos nesta área
sobre os Jurúna (OLIVEIRA, 1970), Kalapálo (BASSO, 1973),
Awetí (ZARUR, 1975) Kamayurá (JUNQUEIRA, 1975), Mei-
náku (GREGOR, 1977), Yawalapití (VIVEIROS DE CASTRO,
1977). Este ultimo pesquisador, juntamente com Seeger e
Matta, tem chamado a atenção para o fato de o estudo dos Jê
ter mostrado a importância de um outro enfoque para as
sociedades indígenas do Brasil Central, centrado na noção de
pessoa, distinto da orientação inglesa desenvolvida, sobretudo,
nos estudos africanos, com que se havia iniciado o projeto
Harvard-Museu Nacional. Algumas comunicações sobre esse
tema foram reunidos no Boletim do Museu Nacional, m.s.,
Antropologia, n.° 32, 1979. Enfim, o grupo, cada vez maior,
que se iniciou a partir desse projeto tem, através desses anos,
modificado sua orientação teórica, bem como ampliado a área
geográfica de seu interesse.
O projeto Harvard-Museu Nacional também incluía uma
pesquisa entre os Nambiquaras, por Cecil Cook, que não
chegou a se completar. Mas P. David Price, que tinha con
tato com os participantes do projeto, realizou-a, elaborando
uma tese apresentada à Universidade de Chicago (PRICE,
1972). Outra pesquisa realizada na região foi sobre um grupo
Pakaá Nova (MASON, 1969).
Na região vizinha, mais ao norte, no médio Madeira, foi
desenvolvida uma pesquisa sobre os Parintintín (KRACKE,
1978) e está em andamento outra sobre os Múra Pirahân
(Adélia Engrácia de OLIVEIRA, and.). Há outra em anda
mento sobre os Suruí e Cinta Larga (Carmem JUNQUEIRA
e Betty LAFER, and.), nos altos afluentes do médio Madeira.
Uma área que vem suscitando muito interesse nos últi
mos anos é a dos Yanoâma. Para citar apenas aquelas reali
zadas do lado brasileiro da fronteira, temos a de Hans BE-
CHER (1960), a de Alcida RAMOS (1972), a de Judith SHA
PIRO (1972) e a de Bruce ALBERT (and.), além das infor
mações presentes no depoimento tomado por BIOCCA (1965).
Na região vizinha do norte do Pará, temos uma tese apre
sentada à Universidade de Colúmbia sobre os Wayâna (LA-
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POINTE, 1970) e outra sobre o Waiwái na Universidade de
Copenhaguen (FOCK, 1963).
Na região do rio Negro, Peter SILVERWOOD-COPE,
atualmente trabalhando na UnB, continua a pesquisa com
os Makú do lado brasileiro, após ter feito tese de doutoramento
em Cambridge sobre os Makú do lado colombiano (1972).
Também sobre os Makú, do lado brasileiro, há a pesquisa de
Howard REID (1979).
Perto da fronteira com o Peru, em tributários do rio Ja
varí, Delvair Montagner Melatti e eu temos em andamento
uma pesquisa com índios Marúbo.
É digno de nota registrar um outro estudo comparativo
que se realizou no período em questão. Trata-se do estudo da
organização social dos atuais grupos Tupi, de Roque Laraia,
apresentado como tese de doutoramento na USP (LARAIA,
1972), baseado em dados colhidos por ele entre os Suruí, Asu-
riní (Akuáwa), Kmayurá e Kaapór. Este, juntamente com o
citado trabalho sobre os Parintintín (KRACKE, 1978), dois
sobre os Mundurukú (MURPHY, 1972 e MURPHY e MURPHY,
1974), o retorno aos Mundurukú por um aluno de Robert
Murphy (Steve Brian BURKALTER, and.) e um trabalho em
andamento sobre os Tenetehára (Laís CARDIA, and.) são
os poucos trabalhos referentes à organização social dos grupos
Tupi realizados nos últimos anos.
Aliás, os trabalhos do casal Murphy e de Laís Cardia se
dispõem numa nova linha temática que começa a se desen
volver dentro dos estudos da organização social: aqueles que
se preocupam em discutir a hierarquia homem/mulher nas
sociedades tribais. Incluem-se na mesma temática a citada
pesquisa a se iniciar entre os Kreen Akarôre (SCHWARTZ-
MAN, and.), uma sobre os Xavânte (Helena Fanny RICARDO,
and.) e uma que Virgínia Valadão pretende realizar sobre
uma líder Tembé; as duas últimas estão ligadas à UNICAMP.
Enfim, com elação ao tema organização social e política,
as áreas que receberam mais atenção foram a dos cerrados do
Centro-Oeste e o Sudeste Amazônico, inclusive o alto Xingu.
Naquelas regiões em que as formas tradicionais de organização
social já não mais vigoram, como o Brasil Sul, o Leste, o Nor
deste, trabalhos desse gênero constituem exceção. Dentre as
áreas menos estudadas, no que se refere a este tema, está o
Sudoeste Amazônico, sobretudo a bacia do Javari, Rondônia e
as áreas vizinhas deste. O Acre, que se inclui nessa região,
talvez não mais ofereça exemplos de organização tradicional.
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2 — Mitologia e ritual
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se refere a essa região, a coleção de mitos publicada por dois
índios Desâna (UMÚSIN PANLÕN KUMU & TOLAMÃN
KENHÍRI, 1980). Há, ainda, os trabalhos sobre os Erikpátsa
(PEREIRA, 1973), Irântxe (PEREIRA, 1974) e Nambiquaras
(PEREIRA, 1976). Em andamento existe um trabalho sobre
os Asuriní (Anton LUKESCK & Carlos LUKESCH, and.) e a
respeito da cosmologia Marúbio (Delvair MONTAGNER ME-
LATTI, and.). Nota-se uma certa preferência dos pesquisado
res missionários pela coleta de mitos (ALBISETTI & VEN-
TURELLI, GIACCARIA & HEIDE, LUKESCH e PEREIRA).
No que tange aos ritos, que quase sempre são examinados
em conexão com os mitos, as mesmas duas áreas foram as
privilegiadas pelos pesquisadores. Na região Centro-Oeste, te
mos trabalhos sobre os Krahó (CARNEIRO DA CUNHA, 1978;
MELATTI, 1978), sobre os Kayapó (VIDAL, 1977; Gustaaf
VERSWIJVER, and.), sobre os Borôro (BLOEMER ,1980; Re
nate VIERTLER, and.), sobre os Karajá (Odilon de SOUSA
FILHO, and.) e sobre as corridas de toras em suas várias ma
nifestações, do Nordeste antigo à atual região Centro-Oeste
(STALE, 1969). Na área do Xingu, há um trabalho sobre o
Kuarúp entre os Kamayurá (AGOSTINHO DA SILVA, 1974a).
Em outras áreas, há um trabalho sobre os Mundurukú (MUR
PHY, 1958), nos inícios do período em questão, e uma pes
quisa em andamento, sobre os rituais de puberdade, de guerra
e de morte entre os Yanoâma (Bruce Albert, and.).
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os Apalai (Fernando da Costa NOVAES, and.), outro sobre
os Kayaoó (POSEY, 1979) e ainda outro sobre os Yanoáma
(TAYLOR, 1974). Quanto à flora, além de um trabalho que
abrange vários grupos (Claude DUMENIL, and.), há outros
mais específicos sobre os índios do Xingu (Margareth EMME
RICH, and.), os Borôro (HARTMANN, 1967), os índios dos
cerrados de Roraima (Edileusa SETTE SILVA & outros, and.).
No que tange a recursos alimentares de caráter agrícola, há
pesquisas sobre os Kayapó (Eric CRAVERO, and.), uma pre
vista para ser realizada por Hamilton Santos, aluno de Agro
nomia da UnB, entre os Krahó, uma outra sobre o fumo, o
guaraná e o mate, respectivamente entre os Guajajára, os
Mawé e os Kaingáng (Anthony HENNMAN, and.). No que
tange aos recursos alimentares de origem animal, está se
realizando uma pesquisa no Uaupés (Janet CHERNELA,
and.) sobre a relação entre alta densidade demográfica e um
sistema de pesca intensiva que parece se ter reorientado para
o estudo da organização social dos Wanâna. Ainda sobre eco
logia alimentar, há um trabalho sobre os Nambiquaras e Pa-
resí (Elenoe SETZ, and.). Com respeito às plantas medicinais,
há três pesquisadores interessados nos Kaiwá (Wilson GAR
CIA, and.; Maria Fátima ROBERTO, and. e Joana SILVA,
and.), um da USP e duas da UNICAMP, talvez realizando o
mesmo trabalho. Há ainda um trabalho sobre medicina entre
os Suruí de Rondônia (Carlos COIMBRA JR. & Everaldo
ALVAREZ, and.), mas não sei se trata de plantas medicinais.
Também não tenho informações sobre o trabalho sobre
adaptação ecológica desenvolvido entre os Bakairí (Debra
PICCHI, and.). Convém notar que o projeto Harvard-Museu
Nacional também incluiu uma pesquisa sobre as relações dos
Kayapó com o ambiente (BAMARGER TURNER, 1967).
261
vários especialistas de áreas não antropológicas engajados
nessas pesauisas (CRAVERO; COIBRA & ALVAREZ; DU-
MENIL; EMMERICH; NOVAES; SETZ; Hamilton SANTOS;
Edileuza SILVA & outros).
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habitações e aldeias, um deles de caráter prático e realizado
por um não-etnólogo, em Rondônia, sobre os Pakaá Nóva,
Karitiâna, Cintas Largas, Suruí, Arara (Paulo Barbosa MA
GALHÃES, and.) com ajuda de alguns colaboradores. Outro,
também sobre os Pakaá Nóva, por um pesquisador da UNI
CAMP (Omar Landi SANTOS and.); e ainda um terceiro sobre
o Xingu, pelo Museu do índio (Cristina SÁ & outros, and.).
Há algumas pesquisas sobre cestaria dos índios do Xingu
e do Brasil em geral (Berta RIBEIRO, 1979 e 1980), dos Ka-
rajá (Edna de MELO, and.).
Quanto à cerâmica, há uma em dèsenvolvimento sobre os
Waurá (COELHO, and.). As bonecas Karaiá são objeto de,
pelo menos, dois estudos (Günther HARTMANN, G., 1973 e
FÉNELON COSTA, 1978). Aliás, um deles, o de Maria Heloisa
Fénelon Costa, não se refere apenas a bonecas, mas a outras
formas de expressão artística e aos artistas que as mantém.
A cozinha indígena é focalizada em dois trabalhos, um
mais geral, de NUNES PEREIRA (1974) e outro sobre os
Wayâna, quase todo redigido por SCHOEPF (1979).
O uso do arco e da flecha foi obieto de um estudo geral
de HEATH, um arquiteto inglês, juntamenté com CHIARA,
antropólogo que pertenceu ao quadro do Museu Paulista
(1977). Já o curare usado no norte e nordeste da Amazônia
recebeu uma especial atenção de VELLARD (1965).
A plumaria, aue foi tratada de modo cuidadoso, no caso
dos Kaapór, por RIBEIRO & RIBEIRO (1957), parece que,
atualmente, só é obieto de uma pesquisa, desta vez com os
Borôro (FERRARO DORTA, 1978).
A pintura corporal também não tem receMdo muita aten
ção, podendo-se citar apenas os trabalhos de Regina MÜLLER
sobre os Xavânte (1976) e em andamento sobre os Asuríni;
e, ainda, sobre os Kadiwéu e Yawalapití (Sandra WELLING
TON, and.). O mesmo se pode dizer de estudos sobre lingua
gem corporal, havendo um em andamento sobre os Xavânte
(Virgina VALADÂO, and.).
Um tema que tem tomado impulso nos últimos anos é o
da música indígena. Recentemente foi publicado um trabalho
geral, fruto de muitos anos de pesquisa de gabinete (CAMÊU,
1977). Quanto a trabalhos realizados no campo, temos aqueles
sobre os Xavânte (AYTAI, 1976), os Kamayurá (BASTOS,
1978), os Kayabí (Elizabeth LINS, and.), os Suyá (Anthony
SEEGER, and.), os Nambiquaras (Thomas AVERY & Kristen
AVERY, and.; também estudados por AYTAI).
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5 — Contato interétnico
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tadas nesta última instituição, não tanto na relativa aos Tu
kúna (OLIVEIRA FILHO, 1977), porém mais naquela sobre
as relações entre os Guarani e os Kaingâng (PIRES, 1975),
dentro do contexto do contato com os civilizados; noutra, re
ferente aos Bakairí (BARROS, 1977); bem como na referente
aos Kaxinawá (AQUINO, 1977). Tenho a impressão de que
esses trabalhos foram, de certo modo, facilitados pela exis
tência de disciplinas ligadas à Antropologia Cognitiva, então
oferecidas na UnB, pois, sem dúvida, as distinções étnicas não
deixam de estar relacionadas a sistemas de classificação. As
pesquisas para dissertação mais recentes desenvolvidas na
mesma instituição, ainda que orientadas segundo a noção de
fricção interétnica, não parecem dar tanto peso à identidade
étnica, ainda que não a ignorem. Trata-se daquelas sobre a
escola entre Galibí e Karipúna (Eneida de ASSIS, and.), os
índios do rio Negro (Ana Gita de OLIVEIRA, and.) e os Pu-
kobyê (Maria Helena BARATA, and.). A última, por sua vez,
parece se valer do “ social drama” para compreender a situa
ção estudada. O Museu Nacional continuou a manter a tra
dição das pesquisas de contato interétnico, como o atestam
aquelas sobre os Apinayé (José Reginaldo Santos GONÇALVES,
and.), os Txukahamâi (Vanessa LEA, and.), os Xokó Karirí
(Vera CAVALHEIROS, and.), os Kaingâng do Rio Grande do
Sul (Ligia SIMONIAN, and.).
Alguns trabalhos referentes ao contato, ultimamente de
senvolvidos, privilegiam uma abordagem econômica. Seria o
caso de uma tese sobre os Terênia de São Paulo (Edgard de
Assis, CARVALHO, 1979) e de outra sobre os Guajajára (GO
MES, 1977). Já os desenvolvidos no âmbito da UFBa tempe
ram a abordagem econômica com uma orientação ecológica,
como as teses sobre os Pataxó (Maria Rosário de CARVALHO,
1977) e sobre os Tuxá (NASSER, 1975). Dos pesquisadores
estrangeiros, é ASPELIN (1975) quem sublinha aspectos eco
nômicos do contato, em sua tese sobre um grupo Nambiquara.
As pesquisas a respeito da situação dos índios que vivem
em cidades têm início com o trabalho desenvolvido entre os
Terêna, numa pesquisa de campo que também serviu de exer
cício para a turma de alunos do primeiro curso de especiali
zação do Museu Nacional (CARDOSO DE OLIVEIRA, 1968).
Recentemente uma dissertação de Mestrado na UnB (PEN
TEADO, 1980) propôs-se reexaminar a situação dos Terêna
citadinos, quase vinte anos após aquela pesquisa, acrescen
tando, também, o caso de um grupo boliviano de origem indí
gena radicado em Corumbá. Está em seus inícios uma pesqui
sa sobre os imigrantes indígenas de Manaus e outras cidades
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amazônicas, sob a direção de Roberto Cardoso de Oliveira e
que inclui pesquisas sobre os Apurinân (Marcos Lazarin),
Tukáno (Leonardo Figoli) e Mawé (Jorge Romano).
Algumas pesquisas têm tomado como foco a escola entre
os indios, como a referente aos Karipúna e Galibí (ASSIS,
and.), já citada, a referente aos indios de Santa Catarina (Sil
vio Coelho dos SANTOS, s.d.) e aquela concernente à educa
ção bilíngüe dos Karajá e Xavânte, uma tese da área de Edu
cação (TSUPAL, 1978).
Ligados, ou não, ao exame da atividade escolar, estão
aqueles trabalhos decorrentes de uma crescente preocupação
com a atividade missionária. Um deles examina a ação jesuí
tica no século XVI (BAÊTA NEVES, 1978); outro, a situação
dos índios do Tumucumaque (CORTEZ DE SOUZA, 1977);
ambos foram dissertações de Mestrado do Museu Nacional.
Por outro lado, Cláudia Meneses desenvolve, com o patrocínio
do Museu do índio, um programa de pesquisas sobre o traba
lho missionário entre os Xavânte (Clarice da MOTA & outros,
and.) e entre os Irântxe, Erikpátsa e Paresí (Sonia Coqueiro
GARCEZ & outros, and.). Há uma pesquisa em desenvolvi
mento na UnB referente à ação missionária no rio Negro
(Ana Gita de OLIVEIRA, and.).
Com relação à política indigenista, temos os trabalhos
sobre a região de Rondônia (GRAJEVE, 1976) e sobre o Xingu
(Ellen FISCHER, and.). Há, também, trabalhos sobre a his
tória dessas reações em todo o Brasil: no século XVI e parte
do seguinte (THOMAS, 1968), no século X IX (MOREIRA
NETO, 1971) sobre a situação atual (DAVIS, 1978) e um tra
balho mais geral (HEMMING, 1978).
Nos trabalhos sobre contato interétnico se nota uma
nítida predominância dos pesquisadores brasileiros, ou radica
dos no Brasil, sobre os estrangeiros, que mostram uma visível
preferência pelo estudo das sociedades tribais menos afetadas
nas suas tradições. No que tange aos pesquisadores norte-ame
ricanos, os estudos de contato interétnico parecem estar muito
ligados à figura de Charles Wagley, que estimula esse tipo de
pesquisa nas universidades em que se instala: primeiro em
Colúmbia (MURPHY, 1960) e depois na Flórida (Judith LI-
SANSKI, and.). O já citado projeto de Daniel GROSS (and.)
também envolve os problemas de contato. Poucos, também,
são os ingleses interessados no contato, ocorrendo-me apenas
uma pesquisa sobre os índios do Acre (Anthony GROSS, and.).
Os trabalhos sobre contato desenvolvidos na Itália se apóiam
em relações dos pesquisadores com missionários: um, sobre
os Yanoâma, tem caráter psicológico (PONZO, 1967) e outro,
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sobre os Xavânte, tem orientação aculturativa (GUARIGLIA,
1973).
Uma outra categoria de estudos sobre contato examina
as relações entre diferentes grupos tribais, um tipo de pes
quisa em que Eduardo Galvão (1979) foi pioneiro, com seus
artigos sobre a área do rio Negro e a do alto Xingu. Sobre
esta última área, está em andamento um projeto liderado por
Anthony Seeger, do Museu Nacional, que toma os Suyá como
foco de uma rede intertribal de que participam os Kayabí (Mi
guel CARDOSO, and.), os Waurá (Marco Antonio MELLO,
and.), os Txukahamâi (LEA, and.). Por sua vez, a USP tem
uma pesquisa em andamento na fronteira Amapá/Pará sobre
as relações dos Oyampí com os Wayâna e os Aparai (Domini
que GALLOIS, and.). Alcida Ramos (1980) reuniu num volu
me, Hierarquia e Simbiose, alguns artigos sobre relações in-
tertribais: entre os Makú e os Tukâno, entre os Yanoâma e os
Mayongông e entre os Kaingâng e os Guarani, textos em que
contou com a colaboração de Peter Silverwood.-Cope, Maria
Ligia Moura Pires, Ana Gita de Oliveira e o índio Mayongâng
João Koch.
Recentemente, em algumas pesquisas que parecem ter por
objeto, também, relações intertribais, tem aparecido o termo
“etno-história”. Nessa linha, que ainda não sei caracterizar,
estão se realizando pesquisas entre os Terêna (Beatriz BUS-
CHINELLI, and.), os índios de Minas Gerais (Sonia MARCA-
TO, and.), alto Xingu (Nobue MYAZAKI, and.). Não sei se
também podem ser incluídos nessa orientação os trabalhos
desenvolvidos entre os Kawahíb (Miguel MENENDEZ, and.)
e os Kaapór Virginia VALADAO, and.), da USP e da UNI
CAMP, respectivamente, além daquele sobre os Mundurukú
(José Sávio LEOPOLDI, and.), em Oxford.
6 — Antropologia da Ação
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de Oliveira Filho para os Tukúna e um grupo de alunos de
pós-graduação da USP para os grupos indígenas que têm como
pólo de articulação a cidade de Marabá (Xikrín, Gaviões, Su-
ruí), além dos Krahó. O que caracteriza esses projetos é o
trabalho em comum com os indígenas; em outras palavras,
os etnólogos não se limitam a oferecer soluções aos índios,
mas procuram formulá-las por intermédio da discussão direta
com eles e se esforçam por sua realização com ajuda deles.
Esses projetos, de um modo geral, visam à demarcação das
terras tribais, bem como à reconquista da autonomia tribal,
quanto ao planejamento, o gerenciamento e utilização da pro
dução da reserva indígena. Há resumos de alguns desses pro
jetos num pequeno volume da FUNAI (1975); sobre sua expe
riência no Projeto Tukúna, João Pacheco de Oliveira Filho
publicou um artigo no Boletim do Museu Nacional, m.s., An
tropologia, n.° 34,1979; e sobre a situação dos Yanoâma existe
um volume do International Work Group for Indigenous
Ajjairs (ARC/IWGIA/SI, 1979).
Acredito que trabalham numa mesma orientação vários
dos antropólogos da FUNAI, no exercício de suas funções, nos
seus trabalhos de delimitação das áreas indígenas.
Os Cursos de Indigenismo, criados para a formação de
chefes de Postos, ministrados pela FUNAI com a colaboração
de etnólogos da UnB, têm contribuído, apesar de seu caráter
sumário e esporádico, para a formação de uma nova menta
lidade entre os funcionários indigenistas e, sem dúvida, para
que vários deles comecem a se preocupar com os efeitos de
seus atos e omissões na direção dos postos e a se disporem a
uma tentativa de trabalhar em comum com os membros dos
grupos indígenas junto aos quais desempenham suas funções.
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