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Competência profissional autopercebida por treinadores desportivos


universitários brasileiros

Article · November 2013

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Miraíra Noal Manfroi Ema Maria Egerland


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William Das Neves Salles Vinicius Zeilmann Brasil


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COMPETÊNCIA PROFISSIONAL
AUTOPERCEBIDA POR TREINADORES DESPORTIVOS
UNIVERSITÁRIOS BRASILEIROS

Miraíra Noal Manfroi / CDS-UFSC - CEFID-UDESC


Ema Maria Egerland / FURB
William das Neves Salles / CDS-UFSC
Vinícius Zeilmann Brasil / CDS-UFSC
mira_nm@hotmail.com

ոո Palavras-chave: Competência profissional, Treinadores, Desporto universitário.

INTRODUÇÃO

Os conhecimentos construídos e o repertório de experiências acumula-


das em uma área específica de atuação determinam, em parte, as capacidades e
habilidades para se desempenhar uma função laboral, o que tem sido denomi-
nado de competência profissional (BATISTA; GRAÇA; MATOS, 2008).
No âmbito da intervenção do treinador esportivo, a competência pro-
fissional faz referência o domínio de conceitos e procedimentos que contem-
plem aspectos da aptidão física, fundamentos técnicos, princípios táticos e,
ainda, habilidades e atitudes para auxiliar na formação humana de seus atletas

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(EGERLAND; NASCIMENTO; BOTH, 2009). De fato, o treinador esportivo
competente possui o conhecimento e capacidade de saber quando, como, em
que contexto e o propósito de utilizar suas habilidades e capacidades, além dis-
so, possuir a capacidade de transferir a competência para diferentes contextos
e situações distintas (ROSADO, 2000; SIMÃO, 1998).
Considerando que o sucesso profissional do treinador desportivo re-
laciona-se à utilização adequada de competências e à confiança manifesta a
respeito das mesmas, o presente estudo teve como objetivo identificar a auto-
percepção de competência profissional de treinadores desportivos universitá-
rios brasileiros.

MÉTODOS

O presente estudo caracterizou-se como descritivo. A população-alvo


foi composta por treinadores desportivos participantes dos Jogos Universitá-
rios Brasileiros (JUBs) de 2010, atuantes em modalidades coletivas e indivi-
duais. A amostra consistiu em 92 treinadores desportivos, de ambos os sexos,
que consentiram em participar da investigação mediante a concordância com
um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Considerando-se as regiões
brasileiras, a amostra dos treinadores foi composta por 5,43% da região Norte,
28,21% da região Nordeste, 13,40% da região Centro-Oeste, 22,73% da região
Sudeste e 30,23% da região Sul.
Os instrumentos de coleta de dados utilizados foram um questionário
sociodemográfico especialmente elaborado para esta investigação, além da
Escala de Autopercepção de Competência Profissional (EAPC) de treinado-
res esportivos (SIMÃO, 1998). A EAPC é composta por 40 questões, sendo 39
questões fechadas (do tipo Likert, com uma escala de avaliação de 1 a 5 pon-
tos), e uma questão aberta.
As informações coletadas a partir das respostas dos treinadores referen-
tes às 39 questões fechadas da EAPC foram inseridas em planilha do programa
Microsoft Excel for Windows (versão 2010), sendo posteriormente organizadas
em tabela mediante a aplicação de recursos estatísticos descritivos (frequência
simples e percentual).

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O projeto de pesquisa foi apreciado e aprovado pelo Comitê de Ética
de Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de Santa Catarina
(Processo nº 337/08), além de ser autorizado pela Confederação Brasileira do
Desporto Universitário (CBDU) e pela Federação Catarinense do Desporto
Universitário (FCDU).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados apresentados na Tabela 1 dizem respeito às 39 questões


fechadas da EAPC. Na avaliação geral da competência profissional percebida,
houve predominância de domínio dos conhecimentos e habilidades profissio-
nais, bem como de seus indicadores (83,7%).

Tabela 1 - Competência profissional percebida de treinadores universitários participantes


dos JUBs.

Domina Não domina


Dimensões e indicadores
n % n %
Conhecimentos profissionais        
Gestão e legislação do desporto 58 63,0 34 37,0
Biomecânica do desporto 80 87,0 12 13,0
Aspectos psicossocioculturais do desporto 84 91,3 8 8,7
Teoria e metodologia do treinamento desportivo 89 96,7 3 3,3
Percepção geral sobre conhecimentos profissionais 79 85,9 13 14,1
Habilidades profissionais        
Planejamento e gestão desportiva 84 91,3 8 8,7
Avaliação do desporto 79 85,9 13 14,1
Comunicação e integração no desporto 82 89,1 10 10,9
Autorreflexão e atualização profissional no desporto 80 87,0 12 13,0
Percepção geral sobre habilidades profissionais 81 88,0 11 12,0
Percepção geral sobre competência profissional 77 83,7 15 16,3

Quando analisada a dimensão dos conhecimentos profissionais,


constatou-se elevada percepção de domínio, especialmente nos indicado-
res de teoria e metodologia do treinamento esportivo (96,7%) e dos aspectos

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psicossocioculturais do desporto (91,3%). A exceção observada foi no indica-
dor gestão e legislação do desporto, em que apenas 63% dos treinadores inves-
tigados se consideraram competentes.
Relativo à dimensão das habilidades profissionais, o indicador de plane-
jamento e gestão esportiva (91,3%) foi o que apresentou a maior percepção de
domínio pelos treinadores. Por outro lado, a avaliação do desporto (85,9%) foi o
indicador que revelou o menor índice de domínio percebido pelos treinadores.
De modo geral, os resultados corroboram os achados de Egerland, Nas-
cimento e Both (2009). Ao investigarem treinadores esportivos do estado de
Santa Catarina, os referidos autores verificaram elevado nível de competên-
cia percebida dos profissionais tanto nas dimensões conhecimentos como nas
habilidades profissionais. Estes indicativos foram igualmente encontrados em
estudos com professores de Educação Física (NASCIMENTO; GRAÇA, 2008),
treinadores esportivos portugueses (SIMÃO, 1998) e estudantes de Educação
Física (VIEIRA; VIEIRA; FERNANDES, 2006).
A dimensão “conhecimento” caracteriza-se pelo saber conceitual, fun-
damentalmente obtido em instituições de ensino formais. No que concerne à
dimensão dos conhecimentos profissionais, o domínio das teorias e metodolo-
gias do treinamento esportivo parece influenciar no modo como os treinado-
res estruturam as sessões de treinamento. Machado e Fernandes Filho (2001),
por exemplo, salientam que o domínio desses conhecimentos está associado
à capacidade do treinador em estabelecer metas de trabalho, bem como de
avaliar a efetividade do trabalho realizado.
Sobre o indicador aspectos psicossocioculturais do desporto, Simão
(1998) afirma que os treinadores devem possuir competências que transcen-
dam a preparação física e técnica dos atletas, preparando-os para a vida em sua
dimensão humana, por meio da orientação sobre atitudes, normas e valores
que favoreçam o bom convívio, o respeito, a autoestima e a autonomia.
Por outro lado, a percepção de domínio do indicador gestão e legislação
do esporte parece ser a grande lacuna existente na formação dos treinadores
esportivos. Com efeito, a trajetória esportiva, desde o período de atleta até
a entrada na carreira profissional, está predominantemente voltada à prática
esportiva e não aos conhecimentos do contexto onde estas se desenvolvem
(NASCIMENTO; GRAÇA, 1998, SIMÃO, 1998).

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A dimensão “habilidades” corresponde ao saber de natureza processual
ou tácita, ainda pouco investigada no contexto da formação de professores. A
habilidade para orientar o treino esportivo não pode ser identificada apenas
como comportamento ou conhecimento prático involuntário inferior, mas sim
como saber contextualizado, gerado pelos próprios treinadores, a partir da re-
flexão de sua ação pedagógica. A prática cotidiana propicia aos treinadores a
elaboração de rotinas de ação ou repertórios de atuação importantes, contudo,
os mesmos necessitam ser refletidos e examinados cientificamente, para que se
transformem em habilidades processuais válidas.
No que diz respeito à dimensão das habilidades profissionais de
planejamento e gestão esportiva, Nascimento e Graça (1998) afirmam que o
estabelecimento prévio das ações do treinador e a gestão das atividades, bem
como dos recursos utilizados pelo mesmo, são fundamentais para o êxito
profissional. Estas habilidades originam-se do fazer prático do treinador, que
constrói ao longo de sua carreira um repertório variado de experiências (a
partir das situações-problema enfrentadas cotidianamente) que o possibilita
transferirem estas habilidades para diferentes contextos (SIMÃO, 1998).
Em contrapartida, a habilidade de avaliação no desporto, apesar de
ser considerada essencial para o desempenho do treinador esportivo, ainda
se apresenta como elemento que necessita receber maior ênfase na formação
destes profissionais, pois a capacidade de observar o desempenho dos atletas
em suas distintas dimensões auxilia no planejamento e alcance das metas pro-
postas (NASCIMENTO, 1999).
Conforme Marques (2000), dentre as competências exigidas do treina-
dor, destaca-se o domínio de habilidades práticas, conhecimentos científicos,
capacidades de reflexão e tomadas de decisão. Segundo Nascimento (1999),
estas competências se desenvolvem mediante uma série de experiências, inte-
resses, necessidades e demandas dos treinadores no decorrer de sua trajetória
pessoal e profissional.

CONCLUSÃO

O presente estudo possibilitou investigar a percepção de domínio de


competências profissionais de treinadores esportivos universitários. De modo

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geral, os aspectos relacionados ao contexto do treino foram aqueles que mais
se destacaram nas respostas.
Os treinadores se perceberam com maior domínio nas habilidades do
que nos conhecimentos profissionais, afirmando dominar os conhecimentos
de teoria e metodologia do treinamento esportivo e as habilidades de plane-
jamento e gestão esportiva. A gestão e legislação do desporto, por outro lado,
foi o indicador de menor domínio percebido entre os treinadores investigados.
Em síntese, os treinadores universitários brasileiros revelaram elevada
autopercepção de competência, além de expressarem a importância dos as-
petos relacionados ao contexto do treinamento desportivo e qualificarem as
atitudes e valores necessários à construção do caráter do ser humano.
Considerando-se a carência de estudos centrados em identificar as com-
petências necessárias à atividade profissional de treinadores desportivos, fica
evidente a necessidade de ampliar e incentivar a realização de novas pesquisas,
a fim de contribuir para a formação desses profissionais e para a qualificação
do desporto nacional.

REFERÊNCIAS

BATISTA, P., GRAÇA, A., MATOS, Z. Termos e características associadas à compe-


tência. Estudo comparativo de profissionais do desporto que exercem a sua activida-
de profissional em diferentes contextos de prática desportiva. Revista Portuguesa de
Ciências do Desporto, Porto, v. 8, n. 3, p. 377-395, 2008.

EGERLAND, E., NASCIMENTO, J., BOTH, J. As competências profissionais de treina-


dores esportivos catarinenses. Motriz, Rio Claro, v. 15, n. 4, p. 890-899, out./dez., 2009.

MACHADO, J., FERNANDES FILHO, J. Caracterização dos critérios de seleção utili-


zados para a formação de equipes esportivas: análise preliminar no contexto de espor-
tes coletivos e individuais. Fitness & Performance, Rio de Janeiro, v. 1, n. 0, p. 1-16,
set./dez. 2001.

MARQUES, A. As profissões do corpo: o treinador. Treinamento Desportivo, v. 5, n.


1, p. 4-8, jun. 2000.

NASCIMENTO, J. As competências específicas do profissional de Educação Física e


Desportos: um estudo Delphi. Horizonte: Revista de Educação Física e Desporto, Lis-
boa, v. 15, n. 1, p. 1-12, 1999.

R. Min. Educ. Fís., Viçosa, Edição Especial, n. 9, p. 996-1002, 2013 1001


NASCIMENTO, J., GRAÇA, A. A evolução da percepção de competência profissional
de professores de Educação Física ao longo da carreira docente. In: CONGRESSO DE
EDUCAÇÃO FÍSICA E CIÊNCIAS DO DESPORTO DOS PAÍSES DE LÍNGUA POR-
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ROSADO, A. Um perfil de competências do treinador desportivo. In: SARMENTO,


P.; ROSADO, A.; RODRIGUES, J. Formação de treinadores desportivos. Rio Maior:
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VIEIRA, L. F., VIEIRA, J. L. L., FERNANDES, R. Competência profissional percebida:


um estudo com estudantes de educação física em formação inicial. Revista da Educa-
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1002 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, Edição Especial, n. 9, p. 996-1002, 2013

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