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Tolkien
escritor, poeta, filólogo e professor
universitário britânico (1892-1973)
John Ronald Reuel Tolkien,[1] CBE,[2] FRSL, conhecido internacionalmente por J. R. R. Tolkien
(Bloemfontein, 3 de janeiro de 1892 — Bournemouth, 2 de setembro de 1973),[3] foi um
escritor, professor universitário e filólogo britânico, nascido na atual África do Sul, que
recebeu o título de doutor em Letras e Filologia pela Universidade de Liège e Dublin, em
1954,[4][5] e autor das obras como O Hobbit, O Senhor dos Anéis e O Silmarillion.[6] Em 28 de
março de 1972, Tolkien foi nomeado Comendador da Ordem do Império Britânico pela
Rainha Elizabeth II.
J. R. R. Tolkien
Tolkien aos 24 anos no seu uniforme militar, quando serviu ao Exército Britânico na Primeira Guerra
Mundial em 1916.
Bournemouth, Inglaterra
Nacionalidade britânico
O Silmarillion
O Hobbit
Serviço militar
Patente Tenente
As suas obras foram traduzidas para mais de cinquenta idiomas, vendendo mais de 200
milhões de cópias e influenciando continuadamente gerações e gerações.[12] Em 2008, The
Times listou Tolkien como o sexto entre os maiores escritores Britânicos desde 1945.[13] Em
2009, a revista Forbes listou as 13 celebridades mortas que mais lucraram no respectivo
ano. Tolkien alcançou a quinta posição, com ganhos estimados em 50 milhões de
dólares.[14]
Biografia
A família Tolkien
Recuando no passado até onde se pode, a maioria dos parentes paternos de Tolkien eram
artesãos. A família teve origem na Saxônia (Alemanha), mas viveu na Inglaterra desde o
século XVII, tornando-se "rápida e intensamente inglesa (mas não britânica)".[15]
Aos três anos parte, com a sua mãe, Mabel Suffield, dona de casa, e com o seu irmão, Hilary
Arthur Reuel Tolkien, para a Inglaterra, onde pretendiam passar apenas uma temporada,
devido a questões de saúde de Mabel e dos seus filhos, mas, devido à morte de seu pai, eles
ali permaneceram por toda a vida. O pai, Arthur Tolkien, um bancário que trabalhava para o
Bank of Africa, contraiu febre reumática e morreu em 1896 no Estado Livre de Orange, antes
de poder juntar-se à família, e foi enterrado na África. Em 1900 a situação financeira da
família complicou-se. Mabel Suffield fazia parte da Igreja Anglicana, e quando decidiu tornar-
se católica, a sua família cortou a ajuda financeira que lhe dava, e assim ela morreu, por
diabetes, sem tratamento na época. Tolkien, que considerava esse fato um sacrifício da mãe
em nome da fé,[16] converteu-se ao Catolicismo, religião na qual permaneceu até o fim da
vida, tornando-se um católico fervoroso.
Tolkien e seu irmão foram entregues então aos cuidados do Padre oratoriano Francis Xavier
Morgan C.O., que Tolkien mais tarde descreveu como um segundo Pai, e aquele que lhe
ensinara o significado da caridade e do perdão.
Conheceu Edith Bratt em 1908, quando ele e seu irmão Hilary foram alojados no mesmo
local que a jovem, três anos mais velha, e os dois começam a namorar às escondidas.
Entretanto, o seu tutor, o Padre Francis Morgan, descobriu a situação e, acreditando que este
relacionamento fosse prejudicar a educação do rapaz, proibiu-o de vê-la até que
completasse vinte e um anos, quando Tolkien alcançaria a maioridade. Na noite do seu
vigésimo primeiro aniversário, Tolkien escreveu a Edith, e convenceu-a a casar-se com ele,
apesar de ela já estar comprometida, e também a converteu ao catolicismo. Juntos eles
tiveram quatro filhos: John Francis Reuel Tolkien (1917–2003), Michael Hilary Reuel Tolkien
(1920-1984), Christopher John Reuel Tolkien (1924-2020) e Priscilla Anne Reuel Tolkien
(1929-).
Tolkien era um pai dedicado. Essa característica mostrava-se bastante clara nos livros,
muitas vezes escritos para os seus filhos, como Roverandom, escrito quando um deles
perdeu um cachorrinho de brinquedo na praia. Além disso, Tolkien mandava todos os anos
cartas do Papai Noel quando os filhos eram mais jovens. Havia mais e mais personagens a
cada ano, como o Urso Polar, o ajudante do Papai Noel, o Boneco de Neve, Ilbereth (um
nome semelhante ao da rainha Elbereth, a Valië), sua secretária, e vários outros personagens
menores. A maioria deles contava como estavam as coisas no Pólo Norte. Mestre Gil de
Ham foi também uma história contada para entreter os filhos.
A infância de Tolkien teve duas realidades distintas: a vida rural em Sarehole, ao sul de
Birmingham, lugar que inspirou o famoso Shire (Condado), e o período urbano, na escura
Birmingham, onde iniciou os seus estudos. Nesta frase, Tolkien fala sobre Sarehole: "a
ancestral Sarehole há muito que se foi, engolida pelas estradas e por novas construções.
Mas era muito bonita, na época em que vivi lá...".[17]
Ainda criança, mudou-se para King's Heat, numa casa próxima de uma linha de trem. Foi aí
que ele começou a desenvolver uma imaginação linguística, motivada pelos estranhos
nomes das estações do percurso, tais como Nantyglo, Perhiwceiber e Seghenydd. Sua
infância foi muito marcada pelos contos de fadas, que estimularam sua imaginação para o
Faërie, o Belo Reino, como ele se referia ao mundo dos seres fantásticos.[17]
Em 1900, a sua mãe abraçou a religião católica, fato que o influenciou profundamente,
mesmo sem a menção direta de Deus na sua obra (Tolkien representa Deus por Eru, o qual
cria todo o Universo e os seres que lá habitam). Tolkien disse que os mitos não-cristãos
guardavam em si elementos do Grande Mito, o Evangelho, que refletiam o Mundo Primário,
isto é, o mundo real, fato este que não vai contra a Igreja Católica.
A sua mãe Mabel mostrou-lhes, a ele e ao seu irmão, os contos de fadas em línguas como o
latim e o grego. Desde a morte da mãe, quando os irmãos passaram aos cuidados de
Francis Morgan, o rapaz dedicou-se aos estudos demonstrando grande talento linguístico.
Estudou grego, latim, línguas antigas e modernas, como o finlandês, que serviu de base para
criação do idioma élfico quenya e o galês, base para o outro idioma élfico, o Sindarin. Em
1905 os órfãos mudaram-se para a casa de uma tia em Birmingham. Em 1908 deu início à
carreira acadêmica, ingressando no Exeter College, da Universidade de Oxford.
Em 1914, ano em que começou a Primeira Guerra Mundial, Tolkien ficou noivo de Edith Bratt.
No ano seguinte, recebeu, com honras, o diploma de licenciatura em Literatura em Língua
Inglesa. A graduação e os méritos não o libertaram da convocatória militar e, em 1916,
depois de casar-se com Edith Bratt, foi chamado para a guerra. Tolkien sobreviveu à Batalha
do Somme (província de Soma), uma mal-sucedida incursão na França e Bélgica, onde
morreram mais de 500 mil combatentes. Em 1917, nasceu o seu primeiro filho, John Francis
Reuel Tolkien (mais tarde o padre católico John Tolkien) e no ano seguinte, depois de
contrair tifo, J. R. R. Tolkien foi enviado de volta a Inglaterra. Foi neste período que iniciou o
Livro dos Contos Perdidos, que mais tarde se converteu em O Silmarillion, em 1919, quando
ele retornou a Oxford.
Mas foi só em 1925, depois do nascimento de seus filhos Michael Hilary Reuel Tolkien e
Christopher John Reuel Tolkien, que Tolkien publicou seu primeiro livro, com E. V. Gordon: Sir
Gawain & the Green Knight, baseado em lendas do folclore inglês. A sua filha mais nova,
Priscilla Anne Reuel Tolkien, nasceria cinco anos mais tarde.
Tolkien e as sociedades
Tolkien foi muito ligado a sociedades. Nas que participou, a literatura era o tema
fundamental, algo que o ajudou na criação de suas obras, pois nestas sociedades encontrou
seu primeiro público e encorajadores.
Em sua juventude, a sua primeira sociedade foi a T.C.B.S. (Tea Club, Barrowian Society),
formada por Tolkien e três amigos. Não era dedicada apenas a literatura, mas ela estava
presente. A Primeira Guerra Mundial dissolveu o grupo, matando Rob Gilson, e algum tempo
depois G. B. Smith. Os dois restantes, Christopher Wiseman (inspiração para o nome do
terceiro filho de Tolkien) e Tolkien, foram amigos até o fim da vida de Wiseman.
G. B. Smith, pouco depois da morte de Rob Gilson, disse que "a morte pode nos tornar
repugnantes e indefesos como indivíduos, mas não pode acabar com os quatro imortais!".[18]
Anos depois, fundada por Tolkien, The Coalbiters se dedicava à literatura nórdica, muito
apreciada por Tolkien, que incluía Beowulf e o Kalevala, por exemplo. Chamavam-se de
Kolbitars, ou, "homens que chegam tão perto do fogo no inverno que mordem carvão", o que
originou no nome Coalbiters (mordedores de carvão). Entre seus membros estavam R. M.
Dawkins, C. T. Onions, G. E. K. Braunholz, John Fraser, Nevill Coghill, John Bryson, George
Gordon, Bruce McFarlane e C. S. Lewis, autor das As Crônicas de Nárnia.
Outro grupo de que participava era chamado The Inklings, também dedicado à literatura, que
se reunia no pub The Eagle and Child (em português A Águia e a Criança) que os integrantes
chamavam O Pássaro e o Bebê (The Bird and Baby em inglês). Os Inklings incluíam C. S.
Lewis e seu irmão H. W. Lewis, Charles Williams, Owen Barfield e Hugo Dyson.
Cristão convicto e católico apostólico romano, Tolkien foi amigo íntimo de C.S. Lewis, autor
de “As Crônicas de Nárnia”, ambos membros do grupo de literatura The Inklings.[19] Juntos
planejaram, na década de 1940, escrever um livro sobre a língua, que seria publicado na
década seguinte. O livro, que se chamaria "Linguagem e Natureza Humana", no entanto,
nunca chegou a ser publicado.[20]
Tolkien e Lewis foram grandes amigos durante décadas, até que a amizade se desgastou em
razão de diversos motivos. Na época da morte de Lewis (em 1963) eles já não se falavam
por quase dez anos. A amizade entre os dois escritores foi explorada no livro O Dom da
Amizade: Tolkien e C. S. Lewis.[21] A publicação de O Senhor dos Anéis foi muito incentivada
por Lewis, que aliás foi um dos primeiros a ouvir a história, juntamente com Christopher
Tolkien. Tolkien jamais deixou de admirar Lewis como amigo, embora não gostasse da
maioria de seus livros, em especial As Crônicas de Nárnia, que entendia como sendo
alegórico e infantil demais.[22][23]
A ideia de seu primeiro grande sucesso, O Hobbit, surgiu em 1928, enquanto Tolkien
examinava documentos de alunos que queriam ingressar na Universidade e Tolkien contou
que "um dos alunos deixou uma das páginas em branco – possivelmente a melhor coisa que
poderia ocorrer a um examinador – e eu escrevi nela: Numa toca no chão vivia um hobbit, não
sabia e não sei por quê".[24]
Foi a partir desta frase que ele começou a escrever O Hobbit, somente dois anos depois,
mas o abandonou a meio.
Casa de Tolkien, na Nothmoor Road 20, Oxford. Lugar onde escreveu O Hobbit e O Senhor dos Anéis.
A saga do hobbit Bilbo – um ser baixo, pacato, de pés peludos e grandes, que se aventura na
Terra Média ao lado do mago Gandalf e mais treze anões – teve tanto sucesso que Tolkien
foi sondado para novas aventuras. Tolkien oferece O Silmarillion, que ele considerava a sua
principal obra, pese embora o fato de que, mesmo hoje, não seja a mais conhecida. Stanley
Unwin preferiu não arriscar e não publicou a obra. Mesmo depois da recusa, Tolkien
concordou em continuar a saga dos hobbits e começa a dar forma a uma nova obra, que lhe
consumiu doze anos de trabalho desde os primeiros rascunhos até a sua conclusão, mas
que o tornaria um dos mais conceituados escritores de todos os tempos: O Senhor dos
Anéis.
O elo para a nova aventura surge no Anel que Bilbo rouba de Gollum em O Hobbit. Os
primeiros rascunhos da obra datam de 1937, mas devido ao seu perfeccionismo, que o
impelia a ter de fazer vários rascunhos para cada uma de suas obras, foi somente em 1949
que O Senhor dos Anéis foi para as mãos de sua editora. Durante este longo tempo, Tolkien
também escreveu Leaf by Niggle em que o autor se manifesta de forma autobiográfica,
projetando-se em Niggle, com suas dúvidas sobre o trabalho que estava escrevendo, "O
Senhor dos Anéis", e sua relevância. Em princípio o texto foi recusado, pois a ideia de Tolkien
era lançar dois volumes, sendo eles "O Silmarillion" e "O Senhor dos Anéis", já que ele os
considerava interdependentes e indivisíveis. Entretanto o editor da Collins, uma outra editora,
havia gostado da ideia e começou a encorajar Tolkien a publicar os livros pela editora
Collins. Depois de grande atraso na publicação, Tolkien perde a paciência e desiste do
acordo. Posteriormente, após algumas conversas com Rayner Unwin (já adulto e trabalhando
na empresa do pai, Rayner foi um dos que recebiam os rascunhos de "O Senhor dos Anéis"
de Tolkien ao longo de sua composição), a decisão da Allen & Unwin foi reconsiderada e, em
1954, foram publicados os dois primeiros volumes, A Sociedade do Anel e As Duas Torres. Em
1955, foi publicado o terceiro e último volume, O Retorno do Rei. A ideia original era lançar a
obra toda num único volume, mas para baixar os custos de impressão, foi dividida em três
volumes.
Esse livro consolidava então o que Tolkien chamava de "Mundo Secundário", com novas
normas, novos povos, uma realidade à parte: Arda, o cenário de uma das maiores obras
literárias de todos os tempos. "Arda" é a Terra, povoada por seres fantásticos, como os valar,
os maiar, e os mais conhecidos, hobbits, elfos, anões, trolls, orcs e cercada de mistérios e
magia.
Exímio linguista
Alfabeto rúnico criado por Tolkien, chamado Angerthas ou Cirth
Tolkien era um homem apaixonado por idiomas. Quando criança se encantava com nomes
galeses que via nos caminhões de carvão. Com suas primas aprendeu rapidamente uma
língua artificial e bem simples criadas pelas garotas, chamada Animálico, com base nos
nomes de animais. Juntos criaram outra língua, uma mistura de vários outros idiomas.
Chamava-se Nevbosh, traduzido como Novo Disparate. Mais tarde criou o Naffarin, mais
complexa e baseada na língua de seu tutor padre Francis Morgan: o espanhol.
Desde criança já tinha conhecimentos de línguas clássicas como grego e o latim, e mais
tarde com o espanhol. Sempre achou o italiano muito elegante e, é claro, o inglês e o anglo-
saxão o fascinavam. O francês não o cativava tanto, apesar de ser (como ainda é) aclamada
como uma belíssima língua. Quando se deparou com a língua finlandesa ele se encantou, e
usou a sua gramática, juntamente com a galesa, como base para as línguas que mais tarde
apareceriam em seus livros, pois são línguas de gramática complexa e vasto vocabulário.
Línguas que seriam estudadas a fundo por muitos de seus fãs: o quenya, cujo exemplo
máximo é expressado pelo poema Namárië, e o Sindarin, este último baseado no galês, as
Línguas Élficas, todas movidas pelo som bonito (eufonia) e pela estética, como o "Repicar
dos sinos" dizia ele.
Foi baseado nestas línguas que Tolkien começou a desenvolver o seu mundo. Para ele,
primeiro vinha a palavra, depois a história. A composição para ele não era um passatempo
(como foi 'acusado' na época), mas um trabalho filológico. Ele criou um mundo onde suas
línguas pudessem ser faladas, e lendas para rodeá-las.
Criou várias outras línguas (como o Khûzdul e o Valarin), mas nenhuma tão elaborada
quanto as duas élficas. Também desenvolveu alguns sistemas de escrita, as Angerthas (ou
runas) e as Tengwar. Acreditava que uma língua bonita devia ter também um alfabeto
elegante.
Além do inglês, Tolkien conhecia cerca de dezesseis outros idiomas (à excepção dos criados
por ele mesmo) que eram os seguintes: grego antigo, latim, gótico, islandês antigo, sueco,
norueguês, dinamarquês, anglo-saxão, médio inglês, alemão, neerlandês, francês, espanhol,
italiano, galês e finlandês.
Quando O Hobbit foi traduzido para o islandês, Tolkien ficou encantado, porque, além de esta
ser uma de suas línguas favoritas, ele achava que o livro combinaria muito com ela. Muitos
nomes, como Gandalf, foram retirados do antigo islandês.[27] Na época, o próprio Tolkien se
ofereceu para fazer a tradução, ou ao menos supervisioná-la, quando sua obra foi publicada
na Islândia pela primeira vez na língua local.
Aversão à tecnologia
O Um Anel
Se por um lado Tolkien exerceu grande influência na era da informática, por outro, isso bate
de frente com a visão nostálgica e radical do autor. Ele sempre foi avesso a trens,
automóveis, televisão e comida congelada, à indústria em si. Tolkien acreditava que essa
dominação e controle que a tecnologia moderna exerce sobre o Homem, mesmo que usadas
para o bem, "trazem sofrimento à criação" (referindo-se ao seu Mundo Secundário). Este
ponto de vista foi criado devido a sua experiência como veterano da Primeira Guerra Mundial
e pai de rapazes que lutaram na Segunda Guerra Mundial, e ele não alimentava mais a ilusão
do papel benéfico e salvador do desenvolvimento das tecnologias. Talvez, com esse
pensamento, ele venha a colocar o problema da tecnologia no coração de O Senhor dos
Anéis. O Um Anel é o instrumento máximo do poder. Poder esse que até Gandalf preferiu não
arriscar, deixando o fardo para Frodo. E cabe ao pequeno hobbit o dilema da saga: ter o
poder não é possuir o Um Anel, e sim destruí-lo. Frodo deve então renunciar ao poder porque
ele corrompe. Só assim ele será capaz de destruir Sauron.
Ao longo de toda a vida, especialmente a partir de 1957, em várias oportunidades, Tolkien foi
abordado por empresários e produtores de filmes. Porém, o professor de Oxford sempre se
manteve contrário a adaptações de suas obras, até que, por pressão do seu editor e pela
necessidade de dinheiro na época, acabou vendendo os direitos autorais de O Hobbit e O
Senhor dos Anéis em 1969 para a United Artists.[28]
Além de O Hobbit e O Senhor dos Anéis, foram publicados Sir Gawain and the Green Knight
(1925), Mestre Gil de Ham (1949), As Aventuras de Tom Bombadil (1963), Smith of Wootton
Major (1967) e Sobre Histórias de Fadas (1965). O escritor então se aposenta e junto de sua
mulher se muda para Bournemouth. Com a morte de sua esposa em 19 de novembro de
1971, após 55 anos de casamento, Tolkien refugiou-se na solidão, em um apartamento na
Universidade de Oxford. Numa carta ao seu filho Christopher, Tolkien escreveu sobre a sua
esposa Edith Bratt, dizendo que "o cabelo dela era preto e sedoso, a pele clara, os olhos mais
brilhantes do que os que vocês viram, e sabia cantar... e dançar. Mas a história estragou-se, e
eu fiquei para trás, e não posso suplicar perante o inexorável Mandos".[29]
No texto, Tolkien decide que no epitáfio de Edith estaria escrito "Lúthien", nome de uma
personagem de O Silmarillion inspirada na esposa de Tolkien, como afirma o trecho da
mesma carta: "é breve e simples [o epitáfio], a não ser por Lúthien, que tem para mim mais
significado do que uma imensidão de palavras, pois ela era (e sabia que era) a minha Lúthien
[...] Nunca chamei Edith de Lúthien, mas foi ela a fonte da história que, a seu tempo, se
tornou parte de O Silmarillion."[30]
Lúthien era elfa, imortal, mas se apaixona por um mortal, Beren. Ela então desiste da sua
imortalidade. Ambos enfrentam muito para ficar juntos e, quando ele morre, Lúthien vai até
os Palácios de Mandos, o guardião das Casas dos Mortos. Beren a aguardava nos Palácios,
e ela canta diante de Mandos que, então, se comove, a única vez em toda sua existência, e
permite que ambos voltem, como mortais. E assim foi. No túmulo, abaixo do nome Edith
Tolkien está escrito Lúthien, que, nas histórias, é a mais bela das elfas, a mais bela dos Filhos
de Ilúvatar. A história dos dois está contada na Balada de Leithian.
O obituário escrito no jornal The Sunday Times dizia: "Dois de Setembro de 1973, Londres. J.
R. R. Tolkien, linguista, estudioso e autor de sucesso, faleceu hoje em Bournemouth. Ele tinha
oitenta e um anos...."
Após a sua morte, o seu filho Christopher editou e publicou O Silmarillion em 1977, além de
nos anos 80 e anos 90 lançar a série The History Of Middle-Earth, uma gigantesca coletânea
dividida em doze volumes, e Unfinished Tales of Númenor and Middle-Earth. Os Filhos de Hurin
(ou Os Filhos de Húrin ou Narn i hîn Húrin), lançado em 2007, é seu livro mais recentemente
publicado, também baseados em manuscritos do autor J. R. R. Tolkien, seu pai.
Em 1992, ano em que Tolkien completaria 100 anos, duas árvores foram plantadas em seu
tributo em Oxford pela Tolkien Society e pela Mythopoeic Society, grupos de leitores e
estudiosos de sua obra. Essas duas árvores fazem alusão às Duas Árvores de Valinor, que
davam luz a Valinor nos Dias Antigos.[carece de fontes
?
]
Legado
Apesar de ter dado início em 1937 com O Hobbit, o livro infantojuvenil, foi somente após o
lançamento da trilogia de "O Senhor dos Anéis" (1954-1955) que Tolkien passou a ser
conceituado por milhões de fãs. Em 1996, uma pesquisa feita pela livraria londrina
Waterstone's, que conta com mais de 200 lojas em toda Grã-Bretanha, em parceria com o
canal de televisão Channel 4, elegeu O Senhor dos Anéis como o melhor livro do século e O
Hobbit entre os vinte melhores.[31] Uma outra pesquisa mais recente, datada de 2003, feita
pela BBC, perguntando às pessoas qual o livro favorito delas, "O Senhor dos Anéis" ficou em
primeiro, e "O Hobbit" em vigésimo quinto.[32] Foram vendidos mais de 50 milhões de
exemplares em vários países, traduzido para 34 idiomas, juntamente com legiões de fãs que
se dedicam a ler e estudar a obra do autor.
O mundo artístico também foi muito influenciado por Tolkien. O cinema (principalmente a
trilogia "O Senhor dos Anéis"), a música, o RPG (liderado pelo D&D), os desenhos animados, a
literatura, as histórias em quadrinhos, os jogos de computador e até mesmo a Internet, com
milhares de websites dedicados a sua obra sofreram inúmeras influências do escritor
freqüentemente aclamado como o maior autor do século XX em pesquisas de opinião.
[carece de fontes
?
]
John Ronald Reuel Tolkien foi membro da direção do New English Dictionary (1918-1920),
professor de Língua Inglesa na Universidade de Leeds, na cátedra Rawlinson & Bosworth,
posto ligado à Faculdade Pembroke (em Oxford) (1920-1925), professor de anglo-saxão
(inglês arcaico) em Oxford (1925-1945) e professor de Língua e Literatura Inglesa em Merton
(1945-1959), o que caracteriza um jeito próprio de lidar com os livros e a mitologia sempre
presente em seus livros.
Mesmo com o sucesso de "O Senhor dos Anéis", Tolkien só se tornou uma celebridade por
volta da década de 1960, especialmente nos campi das universidades.[33]
Estes fãs tiveram a mesma importância que os trekkers em Star Trek, os "star warriors" em
Star Wars e os "excers" em Arquivo X para tornar a obra de Tolkien conhecida. Desde os
encontros da primeira sociedade Tolkien, que se comunicava através de frases em cartazes
no metro de Nova York,[carece de fontes
?
] a tolkienmania só cresceu e continua a influenciar muita gente. No auge da contracultura, a
obra era considerada uma espécie de bíblia da Sociedade Alternativa.[carece de fontes
?
] Com autocolantes como "Frodo Vive" e "Gandalf para Presidente", os fãs se reuniam para
celebrar Tolkien. O público nessa época era composto, quase sempre, por geeks da
computação e hippies.[34]
Talvez até para o universo de Harry Potter de J. K. Rowling, tenha servido de base, apesar de
Rowling gostar muito da obra tolkieniana, ter declarado:
— J.K.Rowling[35]
Além disso, o autor David Colbert escreveu em seu livro "O Mundo Mágico do Senhor dos
Anéis":
— D. Colbert
Em 1974, Gary Gygax e Dave Anderson arranjaram uma maneira de interagir com esta
realidade e criaram o Role-Playing Game (RPG) Dungeons & Dragons, um jogo de
personificações com temas fantásticos, inspirados na Terra-Média de Tolkien.[36] Com o RPG
foi possível se aventurar no universo de orcs, anões, elfos, dragões e até hobbits, os Halflings
do D&D,[37] que mantêm muitas características dos hobbits com leves alterações. O RPG
serviu de estímulo para o público explorar e conhecer novos mundos. A própria Terra-Média
chegou a ter seu RPG, o MERP (Middle-Earth Role Playing), em 1982.[38]
Na década de 1970, um hacker fã de Tolkien deu uma ajuda ao programador do arcaico RPG
Adventure. O jogo foi transformado, ganhou o nome de Zork e virou hit entre os usuários da
Arpanet (embrião da Internet) devido a referências ao mundo de Tolkien.[carece de fontes
?
]
Nos primórdios da rede, essas realidades virtuais ganharam uma versão em texto,
batizadas de MUD (Multi-User Dungeon/Dimension, que em português soa algo como
"Dimensão Multiusuários"). Hoje, graças aos avanços da tecnologia, os MUD caíram em
desuso e o que é sucesso são jogos multiplayer como EverQuest, Última Online, Asheron’s
Call, Warcraft e Kingdom Under Fire.[carece de fontes
?
]
Todos têm em comum cenários fantásticos e referências às obras de Tolkien. A Internet
teve papel importante na propagação dos trabalhos do autor. Através dela foi possível reunir
fãs do mundo inteiro, que demonstram sua admiração e discutem a política, sociedade, as
línguas, a biologia e a história da Terra-Média. Há milhares de sites dedicados aos trabalhos
de Tolkien que trazem ensaios, poemas, fan-fictions (contos de ficção escritos por fãs),
sátiras, críticas, notícias, grupos de estudos, de discussão, fóruns e humor.
Ao contrário dos "trekkers" e dos "star warriors", que aprovam e incentivam as sequências
das obras originais em livros, filmes, seriados, produtos e histórias em quadrinhos, os fãs de
Tolkien preferem manter seu próprio ponto de vista sobre a obra. Com uma visão muito
pessoal e particular da saga de Frodo, os fãs não se arriscam a tocar na Terra-Média. E esse
é um dos motivos que impediram uma proliferação ainda maior do legado do autor. A única
exceção talvez seja o livro The Black Book of Arda, escrito por duas jovens russas no início
dos anos 90, que recontavam os acontecimentos de O Silmarillion, só que do ponto de vista
dos vilões.
A influência de Tolkien também pode ser percebida nas mais diversas formas de artes.
Pintores como John Howe, Roger Garland, Ted Nasmith, Alan Lee, Tim Kirk e os irmãos
Hildebrandt entre outros figuram em enciclopédias ilustradas e centenas de galerias de
imagens na Internet. Eles retratam de forma fantástica várias passagens e personagens dos
livros.[carece de fontes
?
]
História em quadrinhos
Tolkien também marcou presença nas histórias em quadrinhos. Há influência dele em Bone,
de Jeff Smith,[39] e na mega-série Elfquest,[40] que já tem mais de vinte anos de publicação e
conta a história de um mundo recheado de elfos.
Música
?
] , além da banda sueca Za Frûmi’s (que compôs uma música com uma versão modificada
do idioma orc), Rush, Jethro Tull e outras, são creditadas como de alguma forma associadas
às obras de Tolkien.[41]
Cinema e televisão
Em 1978, o animador britânico Ralph Bakshi (o mesmo de Super Mouse e Gato Felix)
adaptou "O Senhor dos Anéis" para o cinema num longa-metragem de animação de duas
horas.[carece de fontes
?
] Outras duas obras de Tolkien viraram longas animados para a TV inglesa: O Hobbit (em
1977)[carece de fontes
?
]
e O Retorno do Rei (1980),[carece de fontes
?
] ambas criadas para especiais de TV e dirigidas por Jules Bass, o mesmo produtor de
Thundercats e Silverhawks e co-diretor do longa metragem Rudolph, a rena do Nariz
Vermelho.
O desenho animado Caverna do Dragão e o filme Dungeons & Dragons foram baseados no
RPG D&D, e por isso também pode-se dizer que foram influenciados pela obra de Tolkien.[36]
?
]
Em 2011, foi anunciado que uma versão cinematográfica do livro Mirkwood: A Novel About
JRR Tolkien, que narra de forma fácil a vida do autor, seria produzido e lançado em
2012.[42][43]
Peter Jackson, um antigo fã de Tolkien, dirigiu três filmes da saga, produzidos
simultaneamente (divididos do mesmo modo que os livros, lançados em 2001, 2002 e 2003),
que lhe renderam 17 Óscares, 4 ao primeiro, 2 ao segundo e 11 concedidos ao terceiro,
igualando-o aos recordes de Titanic e Ben-Hur. Em 2012, Peter Jackson lançou o filme O
Hobbit: Uma Jornada Inesperada, que é a primeira de três partes em que a história original
ficou dividida. Em 2013, é lançada a segunda parte: O Hobbit: A Desolação de Smaug, e em
2014 é lançada a terceira é ultima parte: O Hobbit: A Batalha dos cinco exércitos.
Em 1936, Tolkien publicou alguns trabalhos numa revista escolar em Oxfordshire, Abingdon
Chronicle. Em 2016 foram redescobertos o «The Story of Kullervo» e dois poemas de "The
Shadow Man" e "Noel".
O The Shadow Man, faz alusão a um homem solitário que viveu sob a sobra da Lua,
enquanto o outro, Noel, menciona o senhor da neve.[44]
Obras
Romances
Romances publicados
Título em
Ano Título original Título no Brasil Notas
Portugal
O Regresso
1955 The Return of the King O Retorno do Rei
do Rei
Ferreiro de Bosque
1967 Smith of Wootton Major — .
Grande
Publicações póstumas
Traduções de Sir Gawain and the Green Knight, Pearl e Sir Orfeo (1975)
On Fairy-Stories (1947)
Index (2002)
Notas
1. Entre os anos de 1854 e 1902, a província sul-africana do Estado Livre era a República do
Estado Livre de Orange, uma república independente boêr. Posteriormente, entre os anos
de 1900 e 1910, a então república transforma-se na colônia britânica do Rio Orange. A
partir de 1910 a 1961, a região passa a integrar a União Sul-Africana, que é transformada
na atual República da África do Sul em 1961.
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Ligações externas
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