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São Paulo
2018
CAROLINE FRANCISCO DE SOUSA
São Paulo
2018
Dedico este trabalho a Deus e minha família,
Cida, Orlando e Fernanda.
AGRADECIMENTOS
Agradeço à minha mãe, meu pai e minha irmã que ao longo desses treze anos me
Ao meu eterno professor, Edison Ferreira, por todos os ensinamentos e apoio desde o
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 12
1 BAGATELLE DE HERMANN NEULING: CONTEXTUALIZAÇÃO ............................... 13
1.1 Métodos e Obras de Hermann Neuling ....................................................................... 16
2 NOTE GROUPING ............................................................................................................... 22
2.1 Arsis e Thesis ............................................................................................................... 23
2.2 Barra de Compasso ...................................................................................................... 24
2.3 Anacruse ...................................................................................................................... 25
2.4 Teoria Fundamental ..................................................................................................... 26
2.5 Padrões Naturais e Artificiais ...................................................................................... 27
2.6 Aplicação e Uso do Note Grouping ............................................................................ 28
CONCLUSÃO .......................................................................................................................... 44
REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 45
PARTITURAS ......................................................................................................................... 46
SITES ....................................................................................................................................... 46
ANEXO .................................................................................................................................... 47
LISTA DE FIGURAS
Figura 5 - Hermann Neuling: 18 estudos especiais para trompa grave (capa) ......................... 17
Figura 6 – Hermann Neuling: 15 estudos especiais para trompa aguda (capa) ........................ 18
Figura 11 - Escrita/grafia musical indicando acentuação na primeira nota de cada grupo ...... 25
Este trabalho tem como objetivo sugerir possibilidades de interpretação para a parte da
trompa na obra Bagatelle para Trompa e Piano do compositor Hermann Neuling. A escolha
dessa obra ocorreu por sua relevância no repertório para trompa, sendo uma das peças mais
tocadas e requisitadas em recitais e audições para trompa grave no mundo. Como ferramenta
interpretativa, será feita a sugestão interpretativa por meio da aplicação do conceito
interpretativo Note Grouping, metodologia criada por James Thurmond e apresentada em seu
livro Note Grouping: A Method for Achieving Expression And Style in Musical Performance.
This work aims to suggest possibilities of interpretation for the part of the horn in the
work Bagatelle for Horn and Piano of the composer Hermann Neuling. The choice of this
work occurred because of its relevance in the repertoire for French horn, being one of the
most played and requested pieces in recitals and auditions for low horn in the world. As an
interpretive tool, the analysis will be applied through the application of the interpretive
concept, Note Grouping, methodology created by James Thurmond and presented in his book
Note Grouping: A Method for Achieving Expression and Style in Musical Performance.
INTRODUÇÃO
No ano de 1924 foram abertas audições para vaga de trompa grave na Staatsoper Unter
den Linden. Neuling conseguiu a vaga – onde tocou com o compositor e trompista Bernhard
Krol – permanecendo no posto até se aposentar, em 1961. Enquanto ocupava o cargo de
trompista, o famoso maestro russo Serge Koussevitzky (1874-1951) aproximou-se de
Hermann Neuling para persuadi-lo a integrar a Orquestra Sinfônica de Boston, no entanto a
esposa de Neuling não concordou. Em Berlim, Neuling ensinou no Hochschule für Musik
Hanns Eisler, além de viajar diversas vezes com a Berliner Philharmoniker para diversos
países.
Na Figura 2 pode-se ver outra foto rara de Hermann Neuling tocando trompa, enviada
por correspondência privada por sua filha Brunhilde Leonore Neuling.
Entre 1933 e 1965 Hermann Neuling foi convidado regularmente para tocar no The
Bayreuth Festival, apresentando-se ao lado dos principais trompistas da Alemanha e com
muitos maestros famosos, dentre os quais Wilhelm Furtwängler, Herbert von Karajan e
Rudolf Kempe.
Após a sua aposentadoria da Staatsoper Unter den Linden, Hermann foi convidado a
ensinar no Izmir’s Conservatory, a terceira maior cidade da Turquia. Lecionou na escola de
1963 a 1966, pois acreditava que o Mar Egeu somado aos longos verões secos e quentes
seriam benéficos à sua saúde. No entanto, a saúde debilitada fez com que ele retornasse à
Alemanha, onde faleceu em 1967.
16
Neuling compunha durante o dia para manter-se ocupado antes das performances da
ópera noturna. Nesse período, compôs métodos e estudos que seriam publicados e utilizados
no mundo todo. Note a Figura 3.
Além da obra Bagatelle, compôs 30 estudos para trompa grave em 2 volumes (Figura
4), 18 estudos especiais para trompa grave (Figura 5), 15 estudos especiais para trompa aguda
(Figura 6), método de lições elementares em 2 volumes (Figura7), Quartetos para trompa
(Figura 8) e Trios para Trompa (Figura 9).
17
Fonte: <https://www.stretta-music.com/en/hermann-30-spezial-etueden-nr-104900.html>
Fonte: <http://poperepair.com/neuling-hermann-18-low-horn-studies/>
18
Figura 6 – Hermann Neuling: 15 estudos especiais para trompa aguda (capa)
Fonte: <http://poperepair.com/neuling-hermann-15-high-horn-studies/>
Fonte:<https://www.zvab.com/servlet/BookDetailsPL?bi=21635106587&searchurl=hl%3Don
%26tn%3Dgrosse%2Bf%2Bund%26sortby%3D20%26an%3Dneuling>
19
Figura 8 - Hermann Neuling: Quartetos para trompa (capa)
Fonte: <https://www.music-station.eu/neuling-hermann-jagd-quartett-ueber-deutsche-202130.html>
Fonte: <https://shop.musikhaus-laimer.at/Trios-Neuling-Hermann-BLECHPRESSE6006-385797.html>
20
Bagatelle para Trompa Grave e Piano de Hermann Neuling, é uma das obras mais
famosas e conhecidas para trompa grave no mundo. Foi publicada em 1956 pela Editora Pro
Musica Verlag Leipzig e permaneceu indisponível e desconhecida na Alemanha Ocidental até
novembro 1984, quando Manfred Klier1 sugerir seu uso como o solo requerido para trompa
grave na audição realizada pela Berliner Philharmoniker. A essa época, a partitura
encontrava-se esgotada, razão pela qual uma fotocópia da parte original de trompa de
Manfred Klier foi preparada e enviada aos candidatos, resultando o tempo de preparação da
peça em uma única semana, sem a parte de piano ou qualquer ideia de como a peça poderia
realmente soar.
Após sua utilização como o solo estabelecido para a audição realizada pela Berliner
Philharmoniker (1984), Bagatelle se tornou a peça padrão requisitada em audições para
trompa grave na Alemanha, Europa e posteriormente em diversas orquestras no mundo todo.2
Um dos grandes desafios musicais desta obra está na interpretação. Para fins de
audição/prova, o rigor no tempo e a uniformidade das notas em termos de dinâmica, tom e
1
Manfred Klier (1935- 2015). Trompista, pianista de jazz, compositor e arranjador de música popular. Atuou na
Orquestra Sinfônica Alemã (Berlim) e na Orquestra Filarmônica de Berlim. Foi membro regular do Bayreuth
Festival de 1968 até 1990.
2
Disponível em: https://www.berliner-philharmoniker.de/en/academy/application-and-vacancies/. Acesso em
27/09/2017.
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articulação são cruciais, criando o efeito de uma marcha bastante disciplinada. Musicalmente,
a peça transmite a sensação de contradição, pois se quer tocar com rubatos românticos, mas
não se pode, por conta de sua rigidez rítmica.
Esclarece-se que até hoje não foram encontrados registros de peças de igual importância
para trompa grave em audições pelo mundo. Dessa forma, justifica-se a importância em se
apresentar uma ferramenta de interpretação aplicada a essa obra.
2 NOTE GROUPING
A metodologia usa como base dois termos originados do drama grego, chamados Arsis
e Thesis. O livro exemplifica, com base na definição do dicionário Grove (2001), que Arsis é
o tempo durante o qual o pé é levantado ao se dar um passo e Thesis é o tempo que o pé
permanece no chão.
Posto isso, pode-se classificar Arsis como o tempo forte e nota curta e Thesis como
tempo fraco e nota longa. De acordo com Thurmond, a Arsis é quem cria a sensação de
movimento e a impulsão na música, por isso é necessário que seja tocada devidamente.
Porém, a maioria dos músicos, quando tocam, dão importância para a Thesis, criando uma
música sem direcionamento, que pode até soar bem tecnicamente, no entanto sem
expressividade alguma.
O primeiro exemplo prático da teoria Note Grouping menciona que “a base desta teoria
é que a Arsis ou nota fraca do motivo ou compasso é mais expressiva musicalmente que a
Thesis, e acentuando a Arsis ligeiramente, a interpretação pode resultar mais agradável e
musical”. (THURMOND, 1999, p.16). Observe a Figura 10.
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Antes da barra compasso, que surgiu em meados de 1.600, as divisões nas partituras
eram sinalizadas pelo repouso do final das semifrases e frases. Ou seja, até aquela época
nenhuma linha vertical separava as linhas melódicas, o que facilitava tocar ou cantar a ideia
musical ou frase, e não o compasso. Ao enfatizar erroneamente o compasso, gera-se uma
acentuação exagerada do primeiro tempo do compasso (Thesis), simplesmente por ela ser a
primeira dentro do compasso, que é a origem da interpretação musical inexpressiva.
Outro fator que contribui para prática de acentuar embaixo é o método desenvolvido
para escrita/grafia musical das notas. Este tipo de impressão na partitura contribui para
acentuar o início de cada batida, incentivando o músico a ideia de que essa nota tética é
importante. Conforme apontado na Figura 11, essa forma de escrita está exemplificada no
primeiro pentagrama. No segundo pentagrama, é dado o exemplo de como o músico deve
imaginar a grafia musical na hora de tocar.
25
2.3 Anacruse
Mathis Lussy3 (1903) afirma que o fator que gera o sentimento e a musicalidade na
interpretação é a anacruse. A partir disto, traça um paralelo com o nosso mecanismo de
respiração, colocando que existem dois momentos: inspiração e expiração. A inspiração pode
ser vista como um momento de ação e a expiração como repouso. O primeiro simboliza a
anacruse e o segundo o tempo forte. O autor explica em seu tratado L’Anacrouse dans la
Musique Moderne que a primeira coisa que acontece ao se vir ao mundo é a inspiração, tomar
ar, e a última é expirar, o último suspiro, o supremo repouso. Através destas relações com a
respiração, Lussy acredita que esta é a chave da origem dos ritmos binários e ternários.
Quando a pessoa esta acordada e em movimento, a respiração é em ritmo binário, como
mostra a Figura 13.4
3
Mathis Lussy (1828-1910). Musicólogo suíço-francês, famoso pelos seus tratados, entre eles, Histoire de la
notation musicale (1882) e Traité de I’expression musicale (1873), entre outros. Foi professor de música em
Paris, onde recebeu o prêmio da academia de Paris junto de Ernest David.
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O primeiro é chamado de Padrão Natural por ter divisões naturais, ou seja, ritmos
simples binários e ternários, que são unidos da seguinte forma: Thesis-Arsis (T-A). Já os
Padrões Artificiais compreendem os ritmos compostos binários e ternários – notas pontuadas
– e são classificadas da seguinte forma: Thesis-Arsis-Arsis (T-A-A). Para divisões com mais
de três notas, a primeira é Thesis e as notas restantes Arsis.
Figuras 18 e 19.
Seção 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Compassos 1-13 14-27 28-41 42-57 57-64 65-74 75-86 86-92 93-111
A-) Seção 1
A seção 1 vai dos compassos 1 a 13, e para esta seção indica-se o modelo Arsis/Thesis
indicado na Figura 25.
B-) Seção 2
C-) Seção 3
D-) Seção 4
E-) Seção 5
F-) Seção 6
G-) Seção 7
A seção 7, que vai dos compassos 75 a 86, deve seguir o modelo Thesis/Arsis indicado
na Figura 31.
H-) Seção 8
I-) Seção 9
Para a seção 9 (compassos 93 a 111) deve-se orientar pelo modelo mostrado na Figura
33.
CONCLUSÃO
O presente trabalho teve como proposta expor os benefícios que o interprete obterá
fazendo uso da metodologia Note Grouping, não somente nesse repertório em específico
analisado, mas em todas performances e estudos, independentemente do instrumento que toca,
alcançando assim, interpretações mais interessantes para o ouvinte.
Apresentar esta metodologia teve como finalidade uma possível contribuição para o
músico acerca da expressividade musical, contudo sem a pretensão de encerrar o assunto, uma
vez que existem diversas sugestões de interpretações musicais com uso do Note Grouping e
também outras ferramentas com o mesmo intuito, que podem ser experimentadas, a fim de
auxiliar o músico em aprimorar sua performance.
Este estudo apontou que o conceito de agrupar as notas, sempre levando em consideração
que a Arsis é a criadora dos impulsos, e sendo levemente acentuada, cria maior expressão e
musicalidade em todas as frases musicais. Não se pode olvidar que é necessário um tempo de
maturação para internalizar o conceito de James Thurmond, já que é um processo que pode levar
alguns meses, tendo em vista que durante toda vida de estudos o músico pode ter criado o hábito
de acentuar ou dar ênfase às notas erradas, no caso, às Thesis. Depois dessa fase de
compreensão, acabam-se tornando naturais as ênfases e intenções dadas ao Arsis (anacruse) e,
como consequência, no repouso do Thesis (tético) da nota ou tempo seguinte.
Vale ressaltar que no final do livro, Thurmond também evidencia trechos musicais e
gravações disponibilizadas via Youtube ou CDs, grandes intérpretes empregando o Note Grouping
em suas performances. Elucida-se que, mesmo intérpretes que não tenham conhecimento da
metodologia em si, realizam grandes performances de música erudita chamando a atenção dos
ouvintes, exatamente por impulsionar as frases nas Arsis, gerando a musicalidade que todos nós
ouvimos, mas não sabemos como recriar.
REFERÊNCIAS
LIMA, Sonia Albano. Uma metodologia de interpretação musical. São Paulo: Musa, 2005.
LUSSY, Mathis. Traité de L’expression musicale (Lussy, Mathis). Paris: Hengel, 1874.
SADIE, Stanley (2 Ed.). The New Grove Dictionary of Music and Musicians. London:
McMillan, 2001.)
THURMOND, James Morgan. Note Grouping: A Method for Achieving Expression and Style
in Musical Performance. Del Ray Beach: Meredith Music Publications, 2000.
THURMOND, James Morgan. Note Grouping: A Method for Achieving Expression and Style
in Musical Performance.Meredith Music Publications, 2000. Trad. Gustavo Nápoli.
Dissertação de Mestrado. Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 1999.
THURMOND, J. M. Note Grouping. A method for achieving expression and style. In:
Musical Performance. Galesville: Meredith Music Publications, 1991.
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PARTITURAS
SITES
ANEXO