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por Júlio Xavier

Bônus:
como escolher a fonte ideal.
Eu me chamo Júlio, sou servidor da Justiça
Federal e trabalho há 10 anos com análise
de processos. Como podem imaginar, nesse
tempo já li provavelmente dezenas de
milhares de petições.

Uma coisa que percebi com o passar do


tempo foi que quanto mais clara, bem
formatada e agradável de se ler era a
petição, mais fácil era alcançar uma
decisão rápida e adequada ao caso. Havia
uma clara correlação.

Sabe aquela sensação de que às vezes sua


Júlio Xavier petição parece não ter sido lida? Esse é um
problema complexo e multifatorial que
responsável pelo incomoda a maioria dos advogados. Boa
@tipografiajuridica parte das causas que contribuem para esse
fenômeno está de fato fora do seu controle.
Uma, porém – de fundamental importância
para obtenção e retenção da atenção do juiz
– só depende de você.

O nome é tipografia.
.

https://www.tipografiajuridica.com.br/
instagram @tipografiajuridica

Protegida por direitos autorais ©tipografiajuridica


Tipografia
“Tipografia é a aparência da linguagem”
— Ellen Lupton

A tipografia abrange aspectos de layout e formatação de texto que,


quando aplicados tecnicamente, contribuem para uma experiência de
leitura agradável e fluida, auxiliando no foco e facilitando a
retenção desse valioso ativo que é a atenção do magistrado que
analisará o seu pedido.

Por isso eu passei o último ano estudando a fundo o assunto. Comprei


todos os livros possíveis e os dissequei, até chegar a algumas máximas
fundamentais para a composição de uma boa petição.

E faz diferença mesmo?

Na escola você era o aluno da letra feia ou bonita? Lembra quando o


professor dava notas diferentes para respostas iguais (ainda que de
maneira não proposital), sendo que a letra feia sempre recebia uma
avaliação pior? Então...

Por isso desenvolvi esse e-book, de fácil compreensão e aplicação,


baseado nas dicas e consultorias gratuitas que ofereço todo dia no meu
instagram @tipografiajuridica.

Participem também do meu canal no telegram, onde disponibilizo


modelos de documentos, dicas de tipografia e insights sobre carreira
jurídica e mentalidade: tudo 100% gratuito.

Aproveitem! E se ainda houver dúvidas basta escrever na caixinha do


instagram, aberta todos os dias, vinte e quatro horas, há mais de 100
dias ininterruptos.

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ERRO 01
Usar fontes monoespaçadas
Não transforme sua petição num tratado de direito

Fontes monoespaçadas como a courier new, tão famosa no meio


jurídico, consomem até 40% mais de espaço da folha do que uma fonte
proporcional. Isso acontece porque cada um dos seus caracteres ocupa
o mesmo espaço horizontal. Veja:

Calibri
Lili �nha uma linda blusa lilás e vivia alegre
11pt
Lili tinha uma linda blusa lilás e vivia alegre
Courier New
11pt

Agora imaginem isso numa petição de 20 páginas! Vocês querem


mesmo apresentar uma petição com o mesmo conteúdo, mas com
8 folhas a mais para o Juiz ler? Tem certeza?! No final do e-book darei
sugestões de fontes legíveis e adequadas para suas petições.

Dica bônus: evite também fontes caligráficas ou inapropriadas como


a comic sans, a não ser que você queira que sua petição se pareça com
uma história em quadrinhos.

Dos fatos
justiça
n º
lei
ex c e l e n t í s s i m o

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ERRO 02
Sublinhar a petição
Um crime contra a tecnologia

Como assim, você tá dizendo que não devo sublinhar minha petição?
Nunca?

Isso mesmo. O sublinhado surgiu com as antigas máquinas de escrever


e virou um hábito comum entre advogados para destaque de partes
consideradas importantes da petição. Na verdade, até alguns juízes
e ministros o utilizam de forma indiscriminada.

Acontece que máquinas de escrever não tinham qualquer outro modo


de destaque. Não havia tipos em itálico, negrito ou versalete, por
exemplo. Não existiam tamanhos variados de fontes, só uma. Era a
única forma possível de destaque. O sublinhado, portanto, é uma
ferramenta produto da limitação, da escassez, e é a pior forma
de destaque possível.

Não acredita em mim?

Bom, autores de livros querem destacar trechos importantes.


Publicitários, jornalistas e designers também. Você já viu o sublinhado
sendo usado em algum trabalho oficial sério como jornal, revista,
outdoor ou campanha publicitária? A resposta é não. E sabe por quê?

Porque eles são produzidos por designers e tipógrafos profissionais


que sabem que o sublinhado, ao invés de colaborar, prejudica a
legibilidade do projeto, ao adicionar ruído e poluição desnecessários.

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Felizmente os processadores de texto digitais que já estão por aí há
décadas trouxeram a solução: é possível inserir tipos itálicos, negritos
ou versaletes com um clique, o que é mais que suficiente para destacar
o trecho desejado.

E jamais some destaques, use um por vez: itálico para destaques sutis e
negrito para destaques mais enfáticos. Versaletes podem ser usados
para nomes de autor e réus além de siglas, dando esse efeito bacana de
“mini maiúsculas”.

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ERRO 03
Entrelinhamento excessivo
Por que 1,5 ABNT?

A gente passa 5 anos de faculdade escrevendo trabalhos em arial ou


times 12pt com espaçamento entrelinhas 1,5 e de repente se convence
– quase que numa autolavagem cerebral – que existe uma lei que
obriga o uso desse padrão, que por sua vez deverá ser obedecido pelo
resto dos tempos.

Não há. Vocês não serão presos por um fiscal da ABNT. Esse
espaçamento – e todo o restante – é mera convenção, um uniforme
adotado pelas universidades para padronização de trabalhos
acadêmicos. Só isso. E cá entre nós, dá para se vestir bem melhor do
que usando uniforme, né?

Acha que eu to viajando? Me mostre um bom trabalho tipográfico de


texto com espaçamento 1,5 (livros, jornais, revistas – até acadêmicas –
que eu mudo minha opnião).

Aliás, atenção: o STJ usa espaçamento simples para suas decisões.


O manual de redação da presidência da república sugere igualmente o
uso de espaçamento simples. O STF usa um espaçamento aproximado
de 1,1 e o parágrafo padrão do Word, esse processador de texto
maravilhoso usa apenas 1,08.

Mas então Júlio, o que eu faço agora?

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Simples: se você não quer que sua petição se pareça com um TCC,
utilize entre 1,05 e 1,25 na ferramenta “múltiplos” e adote a máxima:
linhas distantes o suficiente de modo que seja possível distingui-las
com clareza, mas próximas o suficiente para que haja coesão e
sensação de unicidade no parágrafo. Como esses que escrevo.

Entrelinhas largas deixam o texto com uma aparência frouxa.


Qualquer espaçamento múltiplo acima de 1,25 é excessivo para um
corpo de texto padrão.

E como se não bastasse, essa prática nociva (usar entrelinhamento


largo) aumenta a sua petição em muitas e muitas páginas. Se estamos
lutando por atenção, cada espaço conta. Reduzir o documento sem
sacrificar qualidade – ao contrário, melhorando-a – é a única coisa
certa a se fazer.

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ERRO 04
Recuos de primeira linha e
espaçamento entre parágrafos
Ou um outro outro

Recuos de primeira linha tem apenas uma função na tipografia:


informar ao leitor que um novo parágrafo se inicia. Pegue qualquer
livro ao seu lado e notará que, entre parágrafos, essa é a única marca.
Sem ela seria impossível deduzir tal fato.

O recuo não é uma ferramenta estilística para ornamentar o texto. Ele


deve ter apenas o espaço suficiente para destacar a primeira frase de
um parágrafo do restante do texto alinhado à esquerda. 0,75 a 1,25 de
recuo é mais que suficiente. Acima disso não só é desnecessário, como
uma má prática tipográfica.

Recuos de 2,5cm ou mais – tão comuns em petições – não são recuos,


mas verdadeiros abismos.

alô

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Isso sem contar que é mais um fator roubando espaço valioso da
petição, parágrafo a parágrafo, tornando-a mais longa ao final. Eu
já reformatei petições que reduziram à metade, com ganho de
legibilidade.

E atenção: espaçamentos entre parágrafos tem a mesma finalidade do


recuo de primeira linha. Usar os dois corresponde ao que chamamos
no direito de bis in idem.

Escolha um. Recuos dão um ar mais tradicional, enquanto o


espaçamento entre parágrafos sem recuo dá um ar mais moderno,
como o desse e-book.

Não acredita em mim? Veja os livros, jornais e revistas. Veja as decisões


do STF e STJ. Veja a própria ABNT.

É sempre um ou outro.

Mas calma, eu sei que isso pode ser demais. É muita informação de uma
vez só pra absorver. O meio termo que encontrei para os meus
seguidores e consulentes foi o seguinte: se quiser manter o recuo com
espaçamento, use um recuo sutil – como já sugerido – e um
espaçamento igualmente sutil, de apenas 4 a 6pt. Com o tempo, ficando
mais confortável, suprima completamente o espaçamento.

Você sabia dessa?

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ERRO 05
Citações em itálico
Isso non ecziste

Aí é demais Julio. Será que eu não faço nada certo? Calma, jovem.
Tudo se resolve com um botão. Selecione o texto e retire o itálico.

O itálico é uma ferramenta de destaque, também usada para


expressões e palavras de origem, como o inglês e o tão popular entre
advogados latim. Títulos de livros e obras também devem ser
mencionados em itálico.

Mas citação nunca.

Seja ela no corpo do texto – caso em que deverá vir entre aspas – seja
ela em bloco, sem aspas, o itálico não deve ser utilizado. A tipografia é
uma linguagem universal e não há qualquer registro desse uso. Vamos
fazer uma citação correta?

Júlio, em seu e-book os 7 erros tipográficos que comprometem sua


petição e como resolvê-los, defende que “entrelinhas largas deixam o
texto com uma aparência frouxa”. (O itálico aqui é apenas uma
reprodução exata, já que o texto original possui esse grifo). Mais
adiante, esclarece ainda o seguinte sobre recuos:

Recuos de primeira linha tem apenas uma função na �pografia: informar ao


leitor que um novo parágrafo se inicia. Pegue qualquer livro ao seu lado e
notará que, entre parágrafos, essa é a única marca. Sem ela seria impossível
deduzir tal fato.

O recuo não é uma ferramenta es�lís�ca para ornamentar o texto. Ele deve
ter apenas o espaço suficiente para destacar a primeira frase de um
parágrafo do restante do texto alinhado à esquerda. 0,75 a 1,25 de recuo
é mais que suficiente. Acima disso é desnecessário e pode ser até
considerado um erro �pográfico.
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De novo, os destaques em itálico são os mesmos do original. Não há
aspas nem itálico. As marcas da citação são o recuo e a fonte menor
e isso basta.

Menos de 3 linhas, cite no corpo do texto. Mais de 3 linhas, utilize


o bloco.

Ah, e nada de escrever paragráfos inteiros em itálico, ou sua petição irá


parecer uma carta escrita à mão.

Pegou essa?

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ERRO 06
Caixa alta no corpo do texto
NÃO GRITE COMIGO, EU NÃO TE FIZ NADA!

Quem é minimamente ligado nas formas digitais de comunicação sabe


que escrever em maiúsculas é sinal de desaforo: é como se você
estivesse de fato GRITANDO com o seu interlocutor.

Ainda assim essa prática, por alguma razão, parece aceitável em


petições como forma de ênfase. Saiba você que, para quem está do
outro lado, a impressão é apenas de desespero e falta de educação.

Se houver necessidade do uso para siglas, prefira o versalete.


Habilite-o selecionando o texto minúsculo e:

Ou apenas utilize o atalho ctrl + shift + k : olha o versalete aí!

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ERRO 07
Marcas d’água, cores e outros
ornamentos visuais
Menos é mais

Tudo que tira a atenção do seu texto é prejudicial... ao seu texto.

Cabeçalhos e rodapés escandalosos, marcas d’água e cores geralmente


são adornos completamente desnecessários na petição.

Há uma máxima na tipografia: ela deve ser sempre em benefício do


leitor. Não importa o quanto você goste daquela balança enorme por
trás do seu texto, pense no efeito – prejudicial, claro – que esse
elemento vai causar na leitura da sua petição.

Na briga por atenção, se você adiciona elementos de distração na sua


própria petição, você coloca as chances contra si próprio. Já não bastam
as infinitas oportunidades de perder o foco que o mundo moderno traz.

Foco atencional no texto, sempre.

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Bônus:
Escolhendo a fonte ideal para a sua
petição e mais dicas

Antes de falarmos de fontes, vocês já ouviu falar de serifas?

Serifas são esses pequenos traços encontrados nas extremidades das


letras, que se assemelham ligeiramente aos traços de início e fim
deixados pela escrita à mão. A utilizada nesse e-book é com serifa.
Pra ficar mais claro, vejam o exemplo:

E pra que saber disso? Bom, cada fonte comunica uma coisa diferente.

Fontes com serifa são mais formais e elegantes. Comunicam tradição e


estabilidade. Tem associação com os livros e com o conhecimento.
Exemplos famosos: Times New Roman, Cambria e Georgia

Fontes sem serifa são mais modernas, casuais e clean. Comunicam


jovialidade e acessibilidade. Tem associação com a internet e
experiência do usuário digital.
Exemplos famosos: Arial, Tahoma e Verdana

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Bônus:
Escolhendo a fonte ideal para a sua
petição e mais dicas

Bom, e como eu decido?


Comece respondendo às seguintes perguntas: quem é você? Quais são
os valores preponderantes do seu escritório? Qual mensagem deseja
passar? Com qual delas sente mais conexão?

Respondidas essas perguntas, vamos então a sugestões de fonte


validadas pela @tipografiajuridica por serem legíveis, equilibradas,
versáteis e alternativas a algumas opções já batidas e antiquadas.

Seu projeto de criação contou com a ajuda da


Sitka text ciência para torná-la o mais legível possível.

Com Bell MT
Tradicional fonte inglesa clássica com um ar
extremamente elegante e leve. Deve ser usada em
Serifa tamanhos um pouco maiores para que seus detalhes
e sua legibilidade sejam preservados.

Ótima fonte oldstyle (mesma classificação da Palatino)


Calisto MT com um tom bem tradicional e bastante exclusiva por ser
pouco utilizada. Seu modo itálico é bem caligráfico
e bonito.

Segoe UI Provavelmente a melhor fonte sem serifa do Word.

Sem Calibri
Não tem erro: alta legibilidade mesmo em tamanhos
bem pequenos. Perfeita também para tabelas e notas
Serifa de rodapé.

Franklin Equilibrada, é outra boa opção fornecida no pacote


Office.
gothic book

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Bônus:
Escolhendo a fonte ideal para a sua
petição e mais dicas

Seguindo esse guia das melhores práticas de tipografia em petições


você já terá resultados imediatos: seu trabalho ficará mais limpo,
legível e, consequentemente, mais persuasivo.

Coleciono relatos nesse sentido no Instagram, de gente que


comprovou a diferença na prática e nunca mais voltou atrás.
E isso é só a ponta do iceberg! podemos aplicar a boa tipografia em
petições, mas também em procurações, contratos e até e-mails.

Um profissional com domínio técnico das ferramentas certas sem


dúvida sobressai no tão saturado mercado da advocacia.
E tudo começa quando entendendo que não escrevemos para nós
mesmos, mas para o outro.

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Para mais conteúdos como esse, inclusive opinião sobre a fonte que
você utiliza caso ela não tenha sido contemplada aqui, me acompanhe
nas redes sociais e no único canal do telegram dedicado à tipografia
jurídica no Brasil, onde ainda compartilho modelos profissionais de
maneira gratuita.

No instagram @tipografiajuridica
No telegram Canal Tipografia Jurídica

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www.tipografiajuridica.com.br
por Júlio Xavier

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