Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Fundamentos em fratura de
Ednei Fernando dos Santos1
quadril
Maria Rita Aprile2
Vagner Raso3,4
Basis on hip fracture
Resumo
Introdução: A fratura de quadril é o tipo mais severo de lesão óssea
provocada por quedas com elevada taxa de morbimortalidade em
1 Mestre do Programa de
indivíduos idosos. Representa cerca de 50% das internações em
Mestrado Profissional em pronto socorro. Objetivo: Este estudo teve o objetivo de sistematizar
Reabilitação do Equilíbrio informações sobre fraturas de quadril decorrentes de quedas em
Corporal e Inclusão Social da indivíduos idosos. Material e Método: Foi feito levantamento e
Universidade Bandeirante sistematização da literatura, buscando identificar as idéias centrais
Anhanguera - UNIBAN. dos autores sobre a temática central. Discussão: Esse tipo de fratura
afeta toda a estrutura óssea do quadril, comprometendo a mobilidade
2Professora Doutora do Programa
articular da região e o desempenho de muitas atividades da vida
de Mestrado Profissional em
diária. No Brasil, ocorreu aumento de 8% do número de internações
Reabilitação do Equilíbrio
por fratura de quadril em indivíduos idosos no período entre 2005 e
Corporal e Inclusão Social da
Universidade Bandeirante 2008. Cerca de 20% dos indivíduos diagnosticados com fratura de
Anhanguera -UNIBAN. quadril morrem num período de um ano após o evento. Muitos dos
restantes nunca recuperam a capacidade funcional ou a qualidade de
3ProfessorDoutor do Programa vida pré-evento. As lesões de quadril são definidas como:
de Mestrado Profissional em traumáticas; atraumáticas e idiopáticas. O atendimento imediato de
Reabilitação do Equilíbrio indivíduos idosos com lesões traumáticas no quadril deve representar
Corporal e Inclusão Social da
importante medida estratégica em virtude de o atraso da abordagem
Universidade Bandeirante
cirúrgica ter implicação direta no agravamento do tempo de
Anhanguera - UNIBAN.
internação. Conclusão: O tratamento é essencialmente cirúrgico e os
4Professor-Adjunto das principais procedimentos são a artroplastia, osteossíntese e a
Faculdades de Educação Física e pinagem. A base dos medicamentos são os bisfosfonatos, opções
de Medicina da Universidade do razoáveis a se considerar como tratamento de primeira linha,
Oeste Paulista – UNOESTE. principalmente para indivíduos que apresentam grande risco de
fratura de quadril.
Palavras-chave: Envelhecimento. Suporte básico de vida. Trauma.
Introdução
Prevalência e incidência
A incidência de fratura de quadril em indivíduos de ambos os sexos acima de
sessenta anos é distinta nas diversas regiões do mundo. No Brasil, ocorreu
aumento de 8% do número de internações por fratura de quadril em
indivíduos idosos no período entre 2005 e 200815, com registro de cerca de
105 mil casos de fraturas de quadril anualmente16. Essas taxas variam entre 3
e 0,7/10 mil na Itália, até 122 e 50,1/10 mil na Noruega. Na América do Sul,
as taxas anuais de incidência de fratura de quadril variam entre 9,4/10 mil e
44,9/10 mil na população feminina acima de cinquenta anos17. A maior
prevalência de quedas entre idosos é identificada no sexo feminino, sendo
que a principal causa pode estar relacionada à fragilidade das mulheres,
maior prevalência de doenças crônicas e maior exposição às atividades e aos
comportamentos de maior risco18.
por 100.000 pessoas, nos Estados Unidos e, 642 por 100.000, no Japão. O
risco de fratura de quadril aos 50 anos foi 15,8% nos Estados Unidos e
13,6% no Japão19. As mulheres tendem a cair mais do que homens na mesma
faixa etária4. A frequência das fraturas de quadril é de duas a três vezes
maior nas mulheres que nos homens, porém a mortalidade após a fratura de
quadril, chega a ser duas vezes maior nos homens20.
O risco entre as mulheres brancas é 16% em 0,1 dos casos de fratura de
quadril. Tanto a perda óssea relacionada à idade, principalmente da região
proximal do fêmur, como o risco de cair são considerados fatores de risco
para a ocorrência de fratura de quadril. Cerca de 90% das fraturas de quadril
resultam de quedas21.
As quedas e fraturas dos idosos brasileiros têm assumido proporções
epidêmicas. A hospitalização por fratura de quadril, que é extremamente
cara, aumenta aproximadamente 9% a cada ano. Estudos longitudinais
demonstram que cerca de 50% das pessoas que caem e fraturam os quadris
nunca mais serão caminhantes funcionais. Por outro lado, sabe-se que a
autonomia e a independência são bons indicadores de saúde e que essas
variáveis são diretamente afetadas pelas quedas. Além disso, existe prejuízo
à qualidade de vida por limitar a mobilidade funcional e a independência nas
relações familiares que oneram o Estado22.
As quedas com impacto na região do trocanter aumentam o risco de fratura
no quadril especialmente se as respostas protetoras, como velocidade de
reação e o apoio das mãos estiverem fracos ou ausentes. Alterações
funcionais da mobilidade, deficiência visual, condições neurológicas, uso de
barbitúricos de ação prolongada, fraqueza muscular, inadequada
propriocepção e aumento da instabilidade postural têm sido identificados
como fatores de risco para quedas23.
Morbidade e mortalidade
Cerca de 20% dos indivíduos diagnosticados com fratura de quadril morrem
num período de um ano após o evento. Embora não exista risco adicional
após esse período, muitos dos restantes nunca recuperam a capacidade
funcional ou a qualidade de vida pré-evento21. Os indivíduos que
experimentam fratura de quadril também parecem apresentar maior risco de
mortalidade quando comparados à população em geral independente da
idade24.
Fisiopatologia
Toda lesão de quadril pode ser considerada grave em virtude de ocorrer
comprometimento da mobilidade e a presença de dor tanto na situação de
inatividade como, sobretudo, de atividade12.
Tratamento
O atendimento imediato de indivíduos idosos com lesões traumáticas no
quadril deve representar importante medida estratégica em virtude de o
atraso da abordagem cirúrgica ter implicação direta no agravamento do
tempo de internação10. No entanto, as condições clínicas e gerais dos
indivíduos idosos devem servir como critério padrão de referência para o
procedimento31, pois as cirurgias de quadril são consideradas de elevada
complexidade quando existe necessidade de implante de próteses e de
enxerto ósseo28.
Revista Equilíbrio Corporal e Saúde, 2012;4(1):19-27 23
Terapia farmacológica
O tratamento da fratura de quadril deve ser realizado com bisfosfonatos ou
calcitonina, cálcio e suplementos de vitamina D39.
Ainda que não exista nenhuma evidência clara, com relação à duração mais
adequada para o tratamento com bisfosfonatos (variação de três a 60 meses
de duração). O estrogênio também está associado à redução de risco de
fraturas vertebrais, não-vertebrais e de quadril. A evidência para redução de
risco de fraturas é mais forte com a terapia associada à vitamina D e cálcio
do que apenas com a utilização isolada de estrogênio. Para os análogos de
vitamina D 1,25(OH)D e 1(OH)D, as evidências mostraram risco
estatisticamente baixo de fraturas vertebrais, mas resultados incertos para as
fraturas nãovertebral e de quadril40.
Parece existir potencialização dos resultados quando os medicamentos são
associados conciliados à cirurgia e reabilitação física, prevenindo agravos à
saúde dos indivíduos com fratura41. Os medicamentos atualmente
disponíveis atuam principalmente na inibição da reabsorção óssea. O
benefício primário da atividade física pode ser evitar a perda óssea que
ocorre com a inatividade. Entretanto, não pode ser recomendada como
substituta do tratamento medicamentoso apropriado20.
Considerações Finais
A queda se inclui entre os principais desencadeadores de traumas em
indivíduos idosos, sendo que metade desses experimentará pelo menos um
episódio de queda da própria altura ao longo da vida.
Abstract
Introduction: Hip fracture is the most severe type of bone injury caused by
falls with high rates of morbimortality in elderly individuals. It represents
about 50% of all admissions to the emergency room. Objective: This study
aimed to systematize information about hip fractures resulting from falls in
the elderly. Material and Method: A systematized literature survey and
review was performed, so as to identify authors’ central ideas on the central
theme. Discussion: This type of fracture affects the whole structure of the
hip bone, compromising the joint mobility in that region as well as the
performance of many activities of daily living. In Brazil, there was an 8%
increase in the number of hospitalizations for hip fractures in the elderly
between 2005 and 2008. About 20% of individuals diagnosed with hip
fracture die within one year after the event. Many amongst the remaining
individuals never recover the functional capacity or quality of life pre-event.
The hip injuries are defined as: traumatic, atraumatic and idiopathic. The
immediate care of elderly individuals with traumatic hip fractures should
represent an important strategic measure due to the fact that the delay of the
Revista Equilíbrio Corporal e Saúde, 2012;4(1):19-27 25
Referências
[1] Grecco MA, Angelini S, Luis C. Tratamento da pseudo-artrose do terço
distal do rádio. Acta Ortop Bras. 2005;13(2):79-85.
[2] Pinto Neto AM, Soares A, Urbanetz AA, Souza ACA, Ferrari AEM,
Amaral B. Consenso Brasileiro de Osteporose. 2002. Rev Bras Reumatol.
2002;42(6):343-54.
[3] Rigo JC, Rigo JFO, Faria BC, Stein A, Santos VM. Trauma associado
com uso de álcool em idosos. Brasília Med. 2005;42(1-2):35-40.
[4] Wannmacher L. Manejo racional da osteoporose: onde está o real
benefício? Terapia de reposição hormonal na menopausa. Evidências Atuais.
2004;1(7):1-6.
[5] Kondo A, Zierler BK, Hagino H. The timing of hip fracture surgery and
mortality within 1 year: A comparison between the united states and japan.
Orthop nurs.2011;30(1):54-61.
[6] Perracini MR, Ramos LR. Fatores associados a quedas em uma coorte de
idosos residentes na comunidade. Rev. Saúde Pública. 2002; 36(6):709-16.
[7] Fuller GF. Falls in the elderly. Am Fam Phys. 2000; 61:2159-68.
[8] Carter ND, Kannus P, Khan KM. Exercise in the prevention of falls in
older people: a systematic literature review examining the rationale and the
evidence. Sports Med. 2001;31(6):427-38.
[9] Araujo DV, Oliveira JHA, Bracco OL. Custo da fratura osteoporótica de
fêmur no sistema suplementar de saúde brasileiro. Arquivos Brasileiros de
Endocrinologia e Metabologia, 2005; 49(6): 1-6.
[10] Cunha PTS, Artifon NA, Lima DP, Marques WV, Rahal MA, Ribeiro
RR. Fratura de quadril em idosos: tempo de abordagem cirúrgica e sua
associação quanto à delirium e infecção. Acta Ortop Bras. 2008; 16(3):173-
176.
[17] Silveira VAL, Medeiros MMC, Filho JMC, Mota RS, Noleto JCS,
Costa FS, et al. Incidência de fratura do quadril em área urbana do Nordeste
brasileiro. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro. 2005; 21(3):907-912.
[18] Goncalves LG, Vieira ST, Siqueira FV, Hallal PC. Prevalência de
quedas em idosos asilados do município de Rio Grande, RS, Brasil. Rev.
Saúde Pública. 2008; 42(5):938-945.
[19] Kondo A, Zierler BK, Hagino H. The timing of hip fracture surgery and
mortality within 1 year: A comparison between the united states and japan.
Orthopaedic Nursing.2011;30(1):54-61.
[20] Gali JC. Osteoporose. Acta Ortop Bras. São Paulo. 2001; 9(2):53-62.
[21] Fitzpatrick P, Kirke PN, Daly L, Van Rooij I, Dinn E, Burke H, et al.
Predictors of first hip fracture and mortality post fracture in older women. J
Med Sci.2001;170:49-53.
[22] Ganança MM, Gazzola JM, Perracini MR, Ganança FF. Fatores
Associados ao Equilíbrio Funcional em Idosos com Disfunção Vestibular
Crônica. Rev Bras Otorrinolaringol. 2006; 72(5): 683-690.
[23] Davies JC, Manning DP, Kemp GJ. The rising number of underfoof
accidents after the menopause causes both fractures and non-fracture
injuries. Quart J Med. 2001; 94:699.
[26] Lustosa LP, Bastos EO. Fraturas proximais do fêmur em idosos: qual o
melhor tratamento? Acta Ortop Bras. 2009; 17(5):309-312.
[27] Bergamim DP, Ayres JLA, Molina TH. Fratura de quadril: análise dos
fatores de risco e suas conseqüências. Temas de reumatologia clínica. Rev
Bras Reumatol. 2005;6(1):09-13.
Revista Equilíbrio Corporal e Saúde, 2012;4(1):19-27 27
[33] Fortes EM. Raffaelli MP, Bracco OL, Takata ETT, Reis FB, Santili C,
et al. Elevada morbimortalidade e reduzida taxa de diagnóstico de
osteoporose em idosos com fratura de fêmur proximal na cidade de São
Paulo. Arq Bras Endocrinol Metab. 2008; 52(7):1106-1114.
[34] Ventura MF, Faro ACM, Onoe EKM, Utimura M. Enferm Ortop. São
Paulo: Ícone, 1996.
[35] Machado TR, Oliveira CJ, Costa FBC, Araujo TL. Avaliação da
presença de risco para queda em idosos. Rev Eletrôn Enferm. 2009;11(1):32-
8.