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Biossegurança no uso do Microagulhamento


Aislayne Rodrigues Valentim (PROVIC-Unit), e-mail: aislayne.rodrigues@gmail.com;
Vanessa Campos Vila Flor (PROVIC-Unit), e-mail: nessavilaflor@hotmail.com;
Andréa Vasconcelos Machado (Orientador), e-mail: andrea_vasconcelos@unit.br.

Universidade Tiradentes/Fisioterapia/Estética e Cosmética/Aracaju, SE.

4.00.00.00-1- Ciências da Saúde, 4.08.00.00-8 – Fisioterapia e Terapia Ocupacional

RESUMO: O microagulhamento ou TIC (Terapia de realizados pelo uso de várias agulhas que são
Indução de colágeno) baseia - se em uma técnica de inseridas na pele para criar microcanais onde os
múltiplas perfurações na pele gerando microlesões ativos irão atuar, potencializando sua
cutâneas consequentemente é desencadeado um permeabilização para obter melhores resultados.
mecanismo de reparação tecidual. O instrumento Com isso irá gerar respostas inflamatórias que
utilizado para realização desta técnica é o roller que serão cicatrizadas rapidamente, havendo uma
consiste em um rolo cilíndrico com agulhas que resposta cicatricial, que estimulará a produção de
medem de 0,5 a 3 mm de comprimento. O tamanho colágeno e elastina (NEGRÃO, 2015).
da agulha é escolhido de acordo coma finalidade do Para que o artigo crítico, o roller, possua uma
procedimento, no Brasil este equipamento não pode boa qualidade é preciso está esterilizado, com a
ser reprocessado, em outros países a reutilização completa destruição de microorganismos, que
através da esterilização é aceita. Visando minimizar podem ser agentes causadores de infecções,
os gastos nos procedimentos estéticos bem como contaminações, promovendo assim a incapacidade
atenuar o impacto ambiental gerado pela quantidade de reprodução de agentes microbianos que
de materiais descartados, a pesquisar objetivou estariam presentes no artigo a ser usado após a
através de esterilizações e testes, verificar a isenção esterilização, tornando o material estéril hábil para
de microrganismos nos rollers pós-esterilização, o uso de procedimentos invasivos (RAMOS,2009).
como também identificar a funcionalidade e qualidade Na última década a procura por tratamentos
das agulhas do mesmo. Após esterilização o roller estéticos cresceu cerca de 186%. O cuidado com
esterilizado e um que não passou por esse mesmo a aparência e boa forma é motivo de muito
processo, foram submetidos a crescimento e investimento, são vários os recursos terapêuticos
isolamento para semeação de microrganismos no disponíveis no mercado. O microagulhamento é
meio de cultura Caldo de BHI, com isso foi possível uma técnica promissora, este pode ser indicado
identificar que o material recolhido do roller por amplo espectro de alterações quando o
esterilizado não apresentou indícios microbianos. A objetivo é o estímulo da produção de colágeno ,
aplicação do roller para identificar a qualidade e excelentes resultados podem ser verificados em
funcionalidade das agulhas foi realizado em E.V.A afecções como cicatrizes de acne, cicatrizes
(emborrachado) onde conseguimos visualizar as atróficas, flacidez cutânea, estrias, rugas,
perfurações feitas pelo aparelho, parâmetros de discromias, sequelas de queimaduras, entre
aplicação foram estabelecidos, para que não haja outros.
divergência nos resultados. Deste modo é possível Devido ao custo elevado do tratamento com o
continuar alavancando nas pesquisas bibliográficas e roller, esse estudo visa uma alternativa na
laboratoriais, buscando resultados condizentes com o reutilização do equipamento de forma segura,
andamento da pesquisa. Hesitar embasado nos princípios de biossegurança, já que
a mesma é reutilizado em outros países, mantendo
Palavras-chaves: Esterilização, Microagulhamento, a qualidade e funcionalidade do
Roller. microagulhamento.

MATERIAL E MÉTODOS
INTRODUÇÃO
Os procedimentos de testes laboratoriais foram
Microagulhamento ou terapia de indução realizado no laboratório de microbiologia sala 11,
percutânea de colágeno são estímulos mecânicos bloco E da Universidade Tiradentes, campus
Anais 2016: 18ª Semana de Pesquisa da Universidade Tiradentes. “A prática interdisciplinar
alimentado a Ciência”. 24 a 28 de outubro de 2016.
ISSN: 1807-2518
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Farolândia, Aracaju-SE. Foram utilizados seis derivado de nutrientes de cérebro e coração,


rollers de marcas distintas (Derma Roller FDR, peptona e dextrose. A peptona e a infusão são
com 540 agulhas - 0,50mm fabricada no Brasil fontes de nitrogênio, carbono, enxofre e vitaminas,
pela indústria Fabinect; DermaQ – Premium já dextose é um carboidrato que os microrganismos
Derma Roller da marca Estek - 0,50mm; Derma utilizam para fermentação, com isso este meio
Erase - 1,50mm), estes foram recolhidos para à torna-se ideal para cultivo de estreptococcos,
analise após utilização em procedimentos pneumococos, meningococos, enterobactérias, não
estéticos. O material foi submetido à esterilização fermentadores, leveduras e fungos. A finalidade
na autoclave e em seguida foi verificado a desta semeação de cultivo foi realizar uma
presença de contaminação microbiológica, comparação de resultados e identificar
posteriormente foram realizados testes de microrganismos encontrados. Após a coleta os
funcionalidade do instrumento utilizando o E.V.A tubos foram levados à estufa em temperatura média
para verificar a penetração da agulha e a rolagem. de 37°C por 48 horas.
A autoclave utilizada para esterilização foi da
Cristófoli Biossegurança com capacidade de 12 RESULTADOS E DISCUSSÃO
litros que faz uso de altas temperaturas entre 133
– 135°C e calor umido. Para realização da técnica Os resultados obtidos após a semeadura foi à
medidas de segurança foram adotadas, às turvação do material não esterilizado (Fig. 1), a
pesquisadoras fizeram uso de EPIs (calça turvação é utilizada como parâmetro para
comprida, sapato fechado, jaleco de manga longa, verificação se no meio semeado há ou não presença
como também artigos descartáveis - touca, luvas e de microrganismos nos tubos. Inicialmente a
máscaras). coloração original do tubo é de tonalidade amarelo
O processo de esterilização foi iniciado com a claro, límpido, este material quando turva depois de
realização de higienização, já que resíduos de submetido à estufa durante as 48 horas indica
matérias orgânicas visíveis e/ou invisíveis poderiam existência de crescimento bacteriano no tubo de
esconder microrganismo. Realizou-se a ensaio. O tubo contendo o material do roller
descontaminação prévia com solução antisséptica, esterilizado não apresentou turvação, porém
após 15 minutos o roller imerso no detergente nenhum teste foi feito para a identificação dos
enzimático que é destinado a dissolver e digerir microrganismos existentes no roller não esterilizado,
matéria orgânica (sangue, pus, muco, tecidos pois o material não foi encontrado no laboratório
corpóreos) e outras sujidades aderidas a para realização deste teste.
instrumentais. A diluição foi feita em uma proporção Alguns profissionais entregam o equipamento
5ml de detergente a cada 1 litro de água por dez para a cliente para que eles retornem na próxima
minutos. Seguiu-se a limpeza mecânica para sessão, levando seu aparelho. Além de ser ilegal
remoção de sujidades através da escovação do essa prática é perigosa e irresponsável, visto que
roller. O enxágue foi feito em água corrente estamos falando de um equipamento com agulhas
Secamos com toalha de papel. O roller foi inserido que se usado por pessoas não qualificadas pode ter
na embalagem de grau cirúrgico próprio para consequência desastrosas (NEGRÃO, 2015). O
esterilização, à embalagem com o material para a instrumento utilizado sem nenhum cuidado
esterilização foi lacrado com o selador. Deste modo correlacionado a biossegurança pode causar danos
à embalagem foi inserida na autoclave com a parte irreversíveis à saúde, pois o aparelho está em
de plástico voltada para cima. Ao finalizar o contato direto com secreções e sangue, o que
processo de esterilização foi possível identificar que permite a proliferação de microrganismo no
o material foi esterilizado através da modificação da objeto como verificado nesta pesquisa, o roller que
coloração da fita teste, porém o material supracitado não passou pelo processo de esterilização
foi levado a teste para verificar se o material ficou apresentou indícios de contaminação. Porém após o
isento microrganismo. processo de esterilização a amostra analisada não
Para verificar se o material ainda possuía denunciou nenhuma proliferação microbiológica o
contaminação mesmo após a esterilização, foi que garante uma aplicação segura, sem riscos de
passado o suabe no meio do Caldo BHI, em seguida contaminação. Deste modo é possível identificar a
no roller, e posteriormente no suabe na lâmina, foi eficiência da esterilização.
guardado na estufa durante 48 horas, sendo Segundo SHIVANAND et al. (2009) e BORGES
submetidos a uma indução de crescimento e (2016), é possível notar a contradição entre autores
isolamento os supostos m icrorganism os. em relação ao descarte dos equipamentos, e as
Utilizamos dois rollers para este teste um foi marcas são omissas a informações correlacionadas
submetido ao processo de esterilização e outro não com a esterilização do instrumento. No Brasil todo o
foi esterilizado, ambos foram submetidos à material que possui agulhas é classificado para uso
semeação no meio de cultura Caldo BHI, meio único, sem reprocessamento (Resolução ANVISA n°
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2.605, 11 de agosto de 2006), não há nenhuma E.V.A (Fig. 3), a análise das perfurações estão
outra objeção a não ser o material do instrumento sendo realizadas com a penetração de agulhas
que impeça a esterilização do instrumento neste de insulina e eletrolifiting na perfuração feita
país. pelo roller, além disso acompanhamento
Há equipamentos que utilizam agulhas fotográficos e microscópicos estão sendo feitos,
confeccionadas com aço cirúrgico que são não foi encontrado nenhum método que garanta
esterilizados por raios gamas, essas duas exatidão no índice de perfuração, mas testes
características, garantem segurança e qualidade na continuam sendo realizados e adaptados com o
utilização do equipamento por mais sessões decorrer das praticas laboratoriais. A força
(SHIVANAND et al., 2009). Foi verificado também aplicada no deslizamento do roller é constante
que agulhas de titânio apresenta a mesma e sempre realizada pela mesma pesquisadora
qualidade do aço cirúrgico. Os rollers utilizadas para para que não ocorram interferências no resultado.
a elaboração desta pesquisa são todos esterilizáveis
por raios gamas, visto que equipamentos que
utilizam aço normal tem como intercorrência o Figuras
dobramento das agulhas ou perda fácil do corte, o
que pode provocar vários danos a pele,
características que não ocorreram após a
esterilização na autoclave dos rollers utilizados,
sendo assim é possível identificar a
incompatibilidade de informações, na pesquisa
realizada além dos rollers não apresentarem
mudanças físicas a ideia de risco para a saúde após
esterilização torna-se contraditória, pois não foi
verificada presença microbiológica em testes.
O descarte dos rollers após utilização nas clinicas
é comum, e isso se deve por alguns fatores
importantes: recomendações dos órgãos de Fig. 1 - Análise da turvação dos tubos.
vigilância sanitária; uso de equipamento de
qualidade inferior e ausência de mecanismos
comprovadamente eficaz para a esterilização do
equipamento (BORGES, 2016). Nos testes
realizados é possível observar excelentes
resultados, o material de plástico presente no cabo
do roller não derreteu, nem houve comprometimento
da estrutura física das agulhas em nenhuma das
marcas utilizadas, características que foi observado
a olho nu e analise em lente de aumento, e na
análise microbiológica do material foi verificada a
isenção do mesmo.
Uma amostra da pele de porco medindo 6x9cm Fig. 2 - Amostra de pele suína.
foi utilizada para a aplicação do roller de 0,5mm,
aplicado em direções horizontais, ângulo de 90° e
força constante (Fig. 1), esta técnica foi utilizada
para verificação da qualidade e funcionalidade das
agulhas, porém não foi possível identificar
perfurações na amostra nem a olho nu nem
utilizando o microscópio, supondo então que o
pequeno milímetro do roller dificultou a
visualização dos resultados, outro teste será feito
na amostra tecidual do porco com rollers de
2,5mm, os quais já passaram pelo processo de
esterilização. Com isso substituímos a amostra da
pele de suíno por E.V.A (emborrachado) que foi Fig. 3 - E.V.A com as demarcações de esterilização.
delimitado em áreas demarcadas e identificadas
da 1° a 5° esterilização (Fig. 2), na área da 1°
esterilização o roller foi deslizado no local,
podendo deste modo verificar suas perfurações no
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pmc/articles/PMC2918341/>Acesso em: 10 de
Novembro de 2015.

BRASIL. Referência técnica para o funcionamento


dos serviços de estética e embelezamento sem
responsabilidade médica. Disponível em: <http://
portal.anvisa.gov
.br/wps/wcm/connect/
527126804745890192e5d63fbc4c6735
/
Servicos+de+Estetica+e+Congeneres.pdf?
MOD=AJPERES>. Acesso em: 21 de Novembro de
2015.
Fig. 3 - Perfurações do roller após esterilização.
BRASIL. Controle de Infecção – Esterilização.
CONCLUSÕES Disponível em: <http://portal.anvisa.gov.br/wps/content/
Anvisa+Portal/Anvisa/Perguntas+Frequentes/ S e r v i c
o s + d e + S a u d e /
Conclui-se então que nas pesquisas e testes
46c936004051dd26ad98ad89c90d54b4>. Acesso em:
realizados até o momento não foi encontrado 22 de Novembro de 2015.
contaminações em que possibilitam a reutilização
dos rollers, tendo como embasamento os princípios LIMA, Emerson Vasconcelos de Andrade; LIMA,
de biossegurança, ainda é necessário realizar mais Mariana de Andrade; TAKANO, Daniela.
testes para observar a qualidade, funcionalidade Microagulhamento: estudo experimental e
das agulhas. classificação da injúria provocada. Disponível em:
<http://www.loktal.com/assets/v5-
AGRADECIMENTOS microagulhamento--estudo-experimental-e-
classificacao-da-injuria-provocada(1).pdf>. Acesso
Agradecemos a colaboração da Professora em: 20 de outubro de 2016.
Msc.: Maria Júlia Nardeli por toda dedicação
aplicada para a realização dos testes laboratoriais.

REFERÊNCIAS

RAMOS, Janine Maria Pereira. Biossegurança em


estabelecimentos de beleza e afins. São Paulo: Atheneu
Editora, 2009.

NEGRÃO, Mariana Merida Carrilo. Microagullhamento:


bases fisiológicas e práticas. 1. Ed. São Paulo: CRB
Editora, 2015.

S, Zeitter et al. Microneedling: Matching the results of


medical needling and repetitive treatments to maximize
potential for skin regeneration. J. Burns. 2014 August;
Volume 40; edição 5: 966–973

FABBROCINI, Gabriella et al. Tratamento de rugas


periorbitais por terapia de indução de colágeno. J.
Surgical & Cosmetic Dermatology. Maio de 2009 V. 01,
n. 03.

PAVAN, Marco et al. Using insulin pen needles up to five


times does not affect needle tip shape nor increase pain
intensity. J. Diabetes Research and Clinical Practice V
67, páginas 119–123 (2005).

BORGES, Fábio dos Santos; Scorza, Flávia Acedo.


Microagulhamento – Terapia de indução de colágeno.
In: Terapêutica em Estética: Conceitos e Técnicas. – 1.
Ed. – São Paulo : Phorte, 2016

DODDABALLAPUR, Satish. Microneedling with


DermaRoller. J Cutan Aesthet Surg. 2009 Jul-Dec; 2(2):
110–111. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/

Anais 2016: 18ª Semana de Pesquisa da Universidade Tiradentes. “A prática interdisciplinar


alimentado a Ciência”. 24 a 28 de outubro de 2016.
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