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NADA NOS ACONTECE POR ACASO!

Autor: Wiliam Tomaz )

Essa história aconteceu no réveillon de 2001-2002, e até hoje, passados


14 anos, eu busco recordá-la, no afã de redescobrir-me, e tentar achar
explicações que reafirmem uma certeza:
NADA NOS ACONTECE POR ACASO!
“- Daqui a um ano tudo vai estar diferente. Tenho certeza que isso tudo
vai passar. E, não me importa o que realmente venha a acontecer. Eu
vou dar a volta por cima disso tudo... Tiro isso de letra.“
Eu estava no quarto vazio, de um apartamento vazio, ruminando o
fracasso miserável de um casamento de 22 anos, mais miserável ainda.
Acabara de sair de um mundo que jamais fora meu.
Um mundo vazio e sem direção. Um mundo, onde nada valeu a pena.
E, apesar de tudo, eu não me via como um derrotado.
Sabia que de alguma forma, eu iria sobreviver à fúria das pessoas, e aos
ardis que tramaram contra mim.
No entanto, a fragilidade do momento fazia com que eu duvidasse de
minhas possibilidades.
Estava no “fundo profundo” de um poço.
Tão fundo era, que tinha medo que ele continuasse em queda
vertiginosa, e de repente eu caísse lá em Tóquio – na capital japonesa
em pleno terremoto – coisa comum naquelas paragens.
Também me perturbava a ideia de romper os portais da eternidade, e
morrer motivado por tanta coisa ruim que me acontecia naquele
momento.
Eu me sentia tão só e derrotado que passei a sonhar com a morte e
desejá-la.
E, não eram as tão decantadas perdas – segundo todos os imbecis de
plantão naqueles dias - que me motivavam. Eu estava movido apenas
pela inércia ante os fatos que agora norteavam minha vida. Estava sem
coragem para reagir, e sem vontade alguma de recriar nada ao meu
redor.
Projetar uma vida melhor para um ano à minha frente não era algo
comum até então. Sempre vivi com a ideia de que me bastava apenas
viver um dia de cada vez, e, somente um momento em cada tempo.
Mas, para onde eu estava indo agora?
Para onde isso estava me levando?
Valeria a pena insistir na vida? De que me adiantaria reagir?
“-Talvez – quem sabe - inovando as ideias, as coisas comecem a
melhorar para mim.“ – eu pensava, enquanto tentava buscar as possíveis
soluções para o imbróglio do momento.
Era um tipo de pensamento mágico que sempre tentava afastar de minha
vã existência até ali, pois vivia uma vida absolutamente racionalizada.
Mas - por maiores que fossem - eu mandava sempre às favas as razões e
opiniões de terceiros. Jamais me importei com o que me diziam – e
conselhos, não me interessavam.
Foi então que comecei a repaginar e a recriar tudo o que me fizera um
derrotado até ali.
Imaginei um ano de cada vez – e julgava ser isso muito bom.
Afinal, teria um ano à minha frente – um tempo suficiente para esquecer
tudo e mostrar aos meus algozes, minhas reais possibilidades.
Insistia nesse pensamento. Mas, sem planejamento, nada mudaria.
A cada passo dado, eu percebia que não eram somente as coisas ou
situações que deveriam mudar. Eu também teria que colaborar mudando
todo o meu jeito de ser e de viver.
Foi quando descobri que coisas não mudariam. Momentos não mudariam.
Situações não mudariam. Nada mudaria, se eu não mudasse junto.
Na verdade, eu era a raiz de todos os meus problemas.
A minha relação com o mundo ao meu redor, e com as pessoas que me
circundavam, gerava todas as situações que me deixava angustiado,
desencorajado e deprimido.
Minha relação comigo mesmo me deixara doente e me arrastara para
aquele fundo de poço.
E, por mais que mil contribuições externas tivessem sido feitas para me
salvar, a culpa era minha.
Eu insistia na tese, e conseguia vislumbrar o meu mundo dali a um ano.
Ao menos o meu mundo.
Mas, minha real vontade era jogar tudo o que sobrara para o alto e
sumir. Poderia trocar de cidade. Poderia trocar de estado. Poderia trocar
- quem sabe – até de país, ou se possível, de mundo.
Ao mesmo tempo, muitas coisas me prendiam, e me faziam desejar
aquele mundo falsificado e hipócrita, que tinha me rejeitado.
Será que conseguiria refazer minha vida e melhorar tudo em um ano?
Ou será que um ano, ao final das contas, seria um tempo curto demais?
Não sabia.
Agora, tudo o que sabia era que precisava mudar.
Que aquele prazo poderia ser curto, longo, suficiente, ou tão banal, que
me daria conta ao final, de que o que dita uma mudança, não seria
necessariamente um prazo, mas, um bom planejamento.
Mas, até mesmo um bom planejamento seria insuficiente, se ao final
dele, nada tivesse mudado.
Se nada mudasse, o meu maior temor, era de chegar a conclusão de que
eu nascera para o fracasso.
Ouvira a vida inteira que eu era um fracassado. Que nada mudaria para
mim. Que mais um dia de vida, seria somente mais um dia de fracasso
para mim.
...
E, foi aí que resolvi reagir.
A vida nos dá somente uma safra.
E, eu estava perdendo a minha, por causa de uma escolha errada, que
tinha feito 22 anos antes – lá pelo final de 1979.
Agora, eu estava no limiar dos anos 2000, mais perdido que cego em
tiroteio, e mais sem perspectiva que azeitona em boca de banguelo.
...
Hoje, passados quase 15 anos desses acontecimentos, vejo que nada
ficou tão perdido para mim, como alguns imbecis ainda insistem em
dizer.
“Se chorei, ou se sofri...o importante é que emoções eu senti!” - já dizia
o rei Roberto Carlos em uma de suas músicas.
Enfrentar um mundo inteiro de cabeça erguida – mesmo sabendo o
quanto as pessoas são cruéis em seus julgamentos – me fez dar valor ao
que hoje eu conquistei: o direito a ter uma mulher linda e digna. O direito
a recriar uma família, e um lar feliz, vivendo a dignidade de uma vida
abençoada.
O que perdi – se é que perdi – jamais me foi meu por direito.
Você só pode ser dono daquilo que realmente te pertence. E, num
casamento não há espaços para compartilhamento de cônjuges. A
felicidade é única, e dividida apenas entre os elos da corrente.
Eu, digo que na verdade, me dividia entre ser e não ser.
Eis a questão!
...
Tinha mesmo que acabar assim.

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