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Organizadores

Sandra Medina Benini


Gilda Collet Bruna

Tupã/SP
2014
Organizadora Elisângela Medina Benini (Org.) - 1

Elisângela Medina Benini

ESPAÇOS LIVRES
de uso público

1ª Edição

Tupã/SP
ANAP
2015
2- Espaços livres de uso público

ANAP
Associação Amigos da Natureza da Alta Paulista
Pessoa de Direito Privado Sem Fins Lucrativos
Fundada em 14 de setembro de 2003
Rua Bolívia, nº 88, Jardim América,
Cidade de Tupã, Estado de São Paulo.
CEP 17.605-31

Diretoria da ANAP
Presidente: Sandra Medina Benini
Vice-Presidente: Allan Leon Casemiro da Silva
1ª Tesoureira: Maria Aparecida Alves Harada
2ª Tesoureira: Jefferson Moreira da Silva
1ª Secretária: Rosangela Parilha Casemiro
2ª Secretária: Elisângela Medina Benini

Coordenação da Editora
Sandra Medina Benini
Leonice Seolin Dias
Allan Leon Casemiro da Silva

Revisão Ortográfica
Mariana Escher Toller
Maurício Dias Marques

Contato: (14) 3441-4945


editora@amigosdanatureza.org.br
Elisângela Medina Benini (Org.) - 3

EL43e Espaços livres de uso público/Elisângela Medina Benini (Org) –


Tupã: ANAP, 2015.

130 p; il. Color. 21,0 cm


ISBN 978-85-68242-08-7

1. Espaços Livres. 2. Praças. 3. Áreas Verdes. 4. Acessibilidade.


I. Título.

CDD: 710
CDU: 710/47

Índice para catálogo sistêmico


Brasil: Planejamento Urbano e Paisagismo
4- Espaços livres de uso público

Conselho Editorial

Profª Drª Alba Regina Azevedo Arana


Profª Drª Angélica Góis Morales
Profº Dr. Antônio Cezar Leal
Profº Dr. Antonio Fluminhan Jr.
Profª Drª Daniela de Souza Onça
Profº Dr. Edson Luís Piroli
Profº Dr. Eraldo Medeiros Costa Neto
Profª Drª Flávia Akemi Ikuta
Profª Drª Isabel Cristina Moroz-Caccia Gouveia
Profº Dr. João Cândido André da Silva Neto
Profº Dr. João Osvaldo Nunes
Profº Dr. José Carlos Ugeda Júnior
Profº Dr. José Mariano Caccia Gouveia
Profº Dr. Junior Ruiz Garcia
Profª Drª Jureth Couto Lemos
Profª Drª Kênia Rezende
Profº Dr. Marcos Reigota
Profª Drª Maria Betânia Moreira Amador
Profª Drª Maria Helena Pereira Mirante
Profª Drª Natacha Cíntia Regina Aleixo
Profº Dr. Paulo Cesar Rocha
Profº Dr. Rafael Montanhini Soares de Oliveira
Profª Drª Renata Ribeiro de Araújo
Profº Dr. Ricardo Augusto Felicio
Profº Dr. Ricardo de Sampaio Dagnino
Profº Dr. Rodrigo Simão Camacho
Profª Drª Rosa Maria Barilli Nogueira
Profª Drª Silvia Cantoia
Profª Drª Sônia Maria Marchiorato Carneiro
Elisângela Medina Benini (Org.) - 5

SUMÁRIO

Prefácio 008

Apresentação 011

1º Capítulo 014

TRANSFORMAÇÕES NOS ESPAÇOS LIVRES DE USO PÚBLICO: UMA ANÁLISE


LEGISLATIVA
Simone de Oliveira Fernandes Vecchiatti
Milena Kanashiro

2º Capítulo 034
ESPAÇO URBANO: ÁREAS VERDES NO DEBATE
Mariana Cristina da Cunha Souza
Margarete Cristiane de Costa Trindade Amorim
6- Espaços livres de uso público

3º Capítulo 053
AS ÁREAS VERDES NO CONTEXTO DAS PEQUENAS CIDADES:
UMA ANÁLISE DAS PRAÇAS CENTRAIS DE LAGOA FORMOSA (MG)
Francielle de Siqueira Castro
Carlos Roberto Loboda

4º Capítulo 076
A PRAÇA CÍVICA DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO: MARGINALIDADE E
POLITIZAÇÃO NO ESPAÇO PÚBLICO
Evandro Fiorin
Júlia Amarante de Souza
Laura de Araújo Faria

5º Capítulo 093
ESTUDO SOBRE A ACESSIBILIDADE NAS PRAÇAS DO MUNICÍPIO DE
MAMBORÊ-PR
Silvana de Jesus Galdino
Camila Lima Chechin Camacho Arrebola
Carlos Humberto Martins
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6º Capítulo 108

DIAGNÓSTICO DA ACESSIBILIDADE NA ÁREA CENTRAL DE ARAGUARI –


MINAS GERAIS
Josimar dos Reis de Souza
Diego Henrique Moreira
8- Espaços livres de uso público
Prefácio
Elisângela Medina Benini (Org.) - 9

Prefácio

Prefaciar uma obra é sempre uma tarefa de significativa responsabilidade e, ao mesmo tempo, uma
oportunidade de apreciar e referendar um trabalho em primeira mão.
Neste caso específico, tem-se um trabalho que vem ao encontro da necessidade de todos aqueles que se
dedicam ao entendimento, planejamento/administração e uso de espaços livres públicos, haja vista a escassa, e em
alguns lugares até mesmo a falta de referências confiáveis do ponto de vista do rigor científico sobre o assunto.
Aqui, então, tem-se a grata satisfação de constatar nos capítulos que se seguem, também, a preocupação
com o tema acessibilidade. O mesmo encontra-se contemplado nos dois primeiros capítulos com muita
propriedade e mais que isso, enfoca cidades interioranas que em sua maioria, via de regra, ficam à margem de
estudos com características interdisciplinares como as tratadas.
E, os demais capítulos, ora abordam com mais precisão o verde de cidades, ora elementos, como os
equipamentos urbanos e, alguns, também componentes de espaços públicos urbanos denominados praças, que
são importantes tanto para o verde em si quanto para a dinâmica estrutural e funcional de quaisquer cidades.
Por fim, o sexto capítulo traz uma abordagem integrada e com foco na legislação do assunto, atendo-se,
prioritariamente, nos espaços livres de uso público que se acredita ser de suma importância para o planejamento
adequado de cidades, considerando-se as diferentes escalas, bem como para a sociedade em geral.
10- Espaços livres de uso público

Além disso, fica evidente o esmero na organização do presente livro que, disponibilizado ao público
interessado sem qualquer ônus, não poupa recursos ilustrativos para torná-lo convidativo à leitura e à consulta,
associado a uma refinada escolha dos participantes/autores a partir de suas pesquisas e resultados apresentados.
Assim, parabeniza-se a iniciativa desta publicação almejando-se recorde de acessos por usuários
heterogêneos em sua forma de pensar e agir com convicção de tornar um mundo melhor.

Profª Drª Maria Betânia Moreira Amador


Engenheira Florestal com Mestrado, Doutorado e Pós-Doutorado em Geografia
Profª Adjunta do Campus Garanhuns / Universidade de Pernambuco
Líder do Grupo de Estudos Sistêmicos do SemiÅrido do Nordeste – GESSANE
E-mail: betaniaamador@yahoo.com.br
Apresentação
Elisângela Medina Benini (Org.) - 11
to: Parque do Atleta - Tupã/SP
12- Espaços livres de uso público

Apresentação

Esta obra apresenta alguns estudos de casos voltados à acessibilidade, desenho universal e aos
mobiliários urbanos presentes em praças e jardins, bem como, discute o uso e a função das áreas verdes enquanto
espaços de livres de uso público.
Dentre os capítulos desse livro, foram reunidos trabalhos desenvolvidos por alunos ligados a Programas
de Pós-graduação Stricto Sensu, a exemplo da PEU/UEM, PPGEO/UFU, PPGG/FCT-UNESP, PPGGC-
RC/UFG e PPU/UEM e UEL, todos reconhecidos pela CAPES e por docentes da área da arquitetura,
urbanismo, engenharia civil e geografia.
Para melhor compreensão da importância sobre a temática proposta nessas páginas, deve-se considerar
que estes espaços são protegidos por um regime jurídico administrativo, o qual assegura sua finalidade de “uso
comum do povo”, por meio da inalienabilidade, impenhorabilidade e a imprescritibilidade atribuída ao bem público.
E ainda, estes espaços quando vegetados contribuem para melhoria da qualidade ambiental nos assentamentos
urbanos essencialmente no combate à poluição do ar através da fotossíntese; na regulação da umidade e
temperatura do ar; na contribuição à permeabilidade, fertilidade e umidade do solo, evitando a formação de
processos erosivos; redução dos níveis de ruído, além de servir como fonte de absorção de barulho das cidades,
dentre outros.
Elisângela Medina Benini (Org.) - 13

Por isso, espera-se que os temas desenvolvidos nesse livro possam despertar no leitor um olhar mais
atento e crítico para esses espaços que compõem e embelezam nossas cidades.

Tupã/SP, 2015

Elisângela
14- Espaços livres de uso público

1º Capítulo

TRANSFORMAÇÕES NOS ESPAÇOS


LIVRES DE USO PÚBLICO: UMA
ANÁLISE LEGISLATIVA
Elisângela Medina Benini (Org.) - 15

TRANSFORMAÇÕES NOS ESPAÇOS LIVRES DE USO PÚBLICO: UMA


ANÁLISE LEGISLATIVA

Simone de Oliveira Fernandes Vecchiatti


Arquiteta e Urbanista, mestranda em Metodologia de Projeto do Programa Associado de Pós-Graduação em Metodologia de Projeto de
Arquitetura e Urbanismo UEL/UEM. E-mail: smvecchi@gmail.com

Milena Kanashiro
Doutora em Meio Ambiente e Desenvolvimento pela Universidade Federal do Paraná – UFPR, Docente do Programa Associado de Pós-
Graduação em Metodologia de Projeto de Arquitetura e Urbanismo UEL/UEM, UEL – Universidade Estadual de Londrina.
E-mail: milena@uel.br
16- Espaços livres de uso público

1. INTRODUÇÃO

As cidades brasileiras, na sua grande maioria, são compostas por áreas residenciais. Essas áreas
geralmente resultam de projetos de parcelamentos nos quais as áreas de domínio público – vias, equipamentos
institucionais e espaços livres – são repassadas ao município. Esse processo está regulamentado por legislações
Federais e Municipais.
Apesar de as respectivas áreas de domínio público possuírem suas funções pré-definidas no projeto de
parcelamento aprovado pelo Município, observa-se a gradativa diminuição dos espaços livres de uso público. Isso
ocorre principalmente pela desafetação desses espaços para transformá-los em áreas de equipamentos de saúde,
de educação ou de assistência social.
Portanto, este artigo objetiva analisar as implicações das legislações urbanísticas Federais e Municipais no
processo de diminuição dos Espaços Livres de Uso Público (ELUPs). Essa pesquisa está fundamentada no
método de estudo exploratório, com a análise dos ELUPs do Município de Londrina. A partir da coleta de dados
junto ao Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Londrina (IPPUL)– em um recorte dos planos diretores
de 1998 e 2006 e a sistematização dos dados, observa-se a gradativa diminuição dos ELUPs.
Elisângela Medina Benini (Org.) - 17

2. DESENVOLVIMENTO

2.1 DEFINIÇÃO DE ELUP

Quando se trata da transformação dos ELUPs com uma nova função, juridicamente utiliza-se o termo
desafetação. Nesse sentido, a maioria das pesquisas existentes é desenvolvida na área de conhecimento do Direito,
especificamente do Direito Ambiental. Autores como AGUIAR (1996), GASPARINI (2000), LEME
MACHADO (2001), MEIRELLES (1998), MUKAI (1988), SILVA (2003), dentre outros, falam sobre o direito
da cidade, direito ambiental e do direito administrativo brasileiro.
Na Arquitetura e Urbanismo, a maioria dos estudos vinculados aos ELUPs trata da importância destes
espaços como espaço de lazer e sociabilização (ALEX, 2008 e LYNCH, 1980), como elemento imprescindível
para a qualidade ambiental urbana (QUEIROGA, 2001), entre outros aspectos. No entanto, são poucos os que
efetivamente fazem um diagnóstico da diminuição destes espaços nas cidades e suas implicações no ambiente
urbano.
Para uma maior compreensão do que vem a ser um ELUP e para utilização da terminologia, LOBODA
e DE ANGELIS (2005) fazem uma abordagem da conceituação e definição de áreas verdes, analisando a visão de
alguns autores:
RICHTER (1981) – os espaços livres e o verde urbano se dividem em jardins de representação e
decoração, parques de vizinhanças, parques de bairros, parques setoriais ou distritais, áreas para proteção da
natureza, áreas de função ornamental, áreas de uso especial, áreas de esportes e ruas de pedestres (calçadões).
LLARDENT (1982) – as áreas verdes dividem-se em sistemas de espaços livres, espaço livre, zonas
verdes, espaços verdes, áreas verdes, equipamento verde.
18- Espaços livres de uso público

MILANO (1988) – divide em dois grupos: áreas verdes e vegetação urbana.


DI FIDIO (1990) – classifica como espaços urbanos e suburbanos divididos em espaços verdes urbanos
privados e semipúblicos, espaços verdes urbanos públicos e espaços verdes suburbanos.
PEREIRA LIMA (Org.) (1994) – as áreas verdes classificam-se em espaço livre, área verde, parque
urbano, praça e arborização urbana.
Nas definições supracitadas, observa-se que os ELUPs são considerados como espaços vazios na cidade,
de caráter público ou privado, entretanto são considerados espaços vegetados.

2.2. ANÁLISE DAS LEGISLAÇÕES FEDERAIS

Umas das estratégias para o entendimento do processo histórico de transformação dos ELUPs é a
análise das legislações. No âmbito Federal têm-se, em uma primeira abordagem, a Lei Federal 6.766/1979 que
dispõe sobre o Parcelamento do Solo Urbano e as mudanças ocorridas com a promulgação da Lei nº 9.785, de
1999, conforme menciona o Capítulo II, Art. 4º:

CAPÍTULO II - Dos Requisitos Urbanísticos para Loteamento


[...] Art. 4º. Os loteamentos deverão atender, pelo menos, aos seguintes requisitos:
I - as áreas destinadas a sistema de circulação, a implantação de equipamento urbano e comunitário, bem
como a espaços livres de uso público, serão proporcionais à densidade de ocupação prevista para a gleba,
ressalvado o disposto no § 1º deste artigo;
I - as áreas destinadas a sistemas de circulação, a implantação de equipamento urbano e comunitário, bem
como a espaços livres de uso público, serão proporcionais à densidade de ocupação prevista pelo plano
diretor ou aprovada por lei municipal para a zona em que se situem. (Redação dada pela Lei nº 9.785, de
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1999)
[...]
§ 1º - A percentagem de áreas públicas prevista no inciso I deste artigo não poderá ser inferior a 35%
(trinta e cinco por cento) da gleba, salvo nos loteamentos destinados ao uso industrial cujos lotes forem
maiores do que 15.000 m² (quinze mil metros quadrados), caso em que a percentagem poderá ser reduzida.
§ 1º A legislação municipal definirá, para cada zona em que se divida o território do Município, os usos
permitidos e os índices urbanísticos de parcelamento e ocupação do solo, que incluirão, obrigatoriamente,
as áreas mínimas e máximas de lotes e os coeficientes máximos de aproveitamento. (Redação dada pela Lei
nº 9.785, de 1999)
§ 2º - Consideram-se comunitários os equipamentos públicos de educação, cultura, saúde, lazer e similares.
[grifo do autor]

Com a mudança da redação da lei no artigo 4 item I e §1°, passou-se para os municípios – ou seja para a
densidade de ocupação prevista no Plano Diretor ou aprovada por lei municipal – a responsabilidade de definir a
porcentagem dos espaços livres de uso público.
Tal questão, em uma reflexão sobre a conformação de nossas cidades, pode delinear o seguinte
resultado: se os loteamentos abrangerem maior densidade populacional, maior será a área destinada aos ELUPs,
ocasionando aumento de custos para o loteamento, fato que pode inviabilizá-lo ou elevar o valor do lote. Por
outro lado, se os loteamentos abrangerem menor densidade populacional, menor também será a área destinada
aos ELUPs para o domínio público.
Outra questão importante na Lei 6.766/1979 e na sua revisão em 1999 refere-se às áreas especificadas e
aprovadas no projeto do loteamento:

Art. 17. Os espaços livres de uso comum, as vias e praças, as áreas destinadas a edifícios públicos e outros
equipamentos urbanos, constantes do projeto e do memorial descritivo, não poderão ter sua destinação
alterada pelo loteador, desde a aprovação do loteamento, salvo as hipóteses de caducidade da licença ou
desistência do loteador, sendo, neste caso, observadas as exigências do art. 23 desta Lei.
[...]
Art. 43. Ocorrendo a execução de loteamento não aprovado, a destinação de áreas públicas exigidas no
20- Espaços livres de uso público

inciso I do art. 4º desta Lei não se poderá alterar sem prejuízo da aplicação das sanções
administrativas, cíveis e criminais previstas.

Assim, de acordo com estes artigos da legislação Federal, a destinação das áreas públicas não pode ser
alterada, ou seja, os ELUPs não podem ter seu uso modificado.
Em uma sequência cronológica de legislações, a promulgação da Constituição Federal em 1988 insere
artigos referentes à maneira de organização das cidades, bem como a especificação da garantia dos direitos sociais.

Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a
previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta
Constituição. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 64, de 2010)

Este artigo demonstra que, para a garantia dos direitos sociais, são necessários equipamentos de
educação, de saúde, de segurança, de assistência social, além de áreas de lazer, equipamentos, pois, que demandam
espaços de domínio público para se efetivarem. Neste sentido, considerando a realidade das cidades, nota-se a
carência de espaços para abrigar todos esses equipamentos, dada a demanda crescente de vários Ministérios.
Desse modo, todos os espaços de domínio público são incorporados ao bem imóvel municipal e,
consequentemente, as funções pré-estabelecidas nos projetos de loteamento não são consideradas e, na maioria
das vezes, passam a ter seu uso modificado, ou seja, desafetado do domínio público.
O quadro 1 refere-se às legislações Federais e traz uma síntese das alterações e suas implicações para as
municipalidades.
Elisângela Medina Benini (Org.) - 21

Quadro 1 - Comparativo das Leis Federais

Lei Nº 6766/79
Lei Nº 6.766/79 -
Constituição Federal de 1988 (Alterada pela Lei Nº
Parcelamento de Solo Urbano
9.785/99)

I - sistemas de circulação; Todos têm direito ao meio I - sistemas de circulação


II. Áreas para implantação de ambiente ecologicamente II. Áreas para implantação de
Áreas
equipamento urbano; equilibrado, bem de uso equipamento urbano
Públicas
III. Espaços livres de uso comum do povo e essencial à III. Espaços livres de uso
público. sadia qualidade de vida. público.

Todos têm direito ao meio


Determinação da Não poderão ter sua destinação Não poderão ter sua destinação
ambiente ecologicamente
Lei alterada pelo loteador. alterada pelo loteador.
equilibrado.

Município - as vias e praças, os Impondo-se ao poder público e Município - as vias e praças, os


espaços livres e as áreas à coletividade o dever de espaços livres e as áreas
Domínio
destinadas a edifícios públicos e defendê-lo e preservá-lo para as destinadas a edifícios públicos e
outros equipamentos urbanos. presentes e futuras gerações. outros equipamentos urbanos.

≥ 35% da gleba
Porcentagem de
Exceção redução - loteamentos Passa a ser definida pela
Áreas de Domínio Não há
de uso industrial -lotes> 15.000 legislação municipal.
Público
m² .

Fonte: elaborado pela autora, 2014.


22- Espaços livres de uso público

Pela análise das leis é possível observar que tanto na Lei 6.766/1979 como na sua revisão dada pela Lei
Federal 9.785/1999, a nomenclatura Espaços Livres de Uso Público (ELUPs) está referenciada. Por outro lado,
ainda que na Constituição Federal de 1988 não exista a inclusão dessa definição, ela reforça que todos têm direito
ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Portanto, pode-se compreender que esses espaços estão implícitos,
por serem bens de uso comum, proporcionando espaços de lazer e de práticas desportivas, bem como a função
ecológica, estética e social (GUZZO, 1999 apud LOBODA e DE ANGELIS, 2005).
Outro destaque importante é quanto ao domínio dos ELUPs, que fazem parte dos bens imóveis do
município e, portanto, é dever do mesmo cuidar e manter esse bem. Após a Constituição Federal de 1988 tal
espaço passa também a ser de responsabilidade da coletividade, ou seja, toda mudança pode e deve ser
questionada pela população que passa a ter voz ativa nas mudanças da cidade.
Quanto à porcentagem de áreas de domínio público, a Lei 6.766/1979 definia o mínimo de 35% da
gleba distribuídas em áreas destinadas a sistemas de circulação, áreas para implantação de equipamento urbano e
comunitário e espaços livres de uso público. Depois da alteração da redação do capítulo II, Artigo 4º, § 1º da lei,
através da Lei 9.785/1999, a definição de porcentagem dessas áreas passou a ser de responsabilidade do
município, através do seu plano diretor, quando do parcelamento e uso e ocupação do solo.

2.3 SOBRE A LEGISLAÇÃO MUNICIPAL: ESTUDO DE CASO DA CIDADE DE LONDRINA-PR

Para entender as ressonâncias das leis federais nos municípios foi realizada uma análise das legislações,
tendo como estudo de caso a cidade de Londrina. Anterior à promulgação da Lei Federal de parcelamento do
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solo, Lei 6.766/1979, a cidade já possuía legislação própria, a Lei 133/1951, que tinha como objetivo a definição
de diretrizes para o arruamento, loteamento e zoneamento.
Essa lei visava ordenar os novos loteamentos do município definindo o processo de expansão da cidade
nova e também definia os critérios para as áreas destinadas como públicas, dentre elas, os ELUPs. Vale o
destaque da preocupação urbanística de preservar suas áreas de fundos de vale, cuja redação é descrita a seguir:

Art. 14. Os planos de arruamento deverão:


a) garantir o escoamento das águas permanentes, pluviais e sanitárias e resguardar os fundos de vales e
rincões;
[...]
h) proteger os transeuntes e moradores contra aspectos desagradáveis, gases, maus odores, ruídos etc.,
pela anteposição de parques e cortinas verdes.

Como consequência dessa legislação, Londrina possui até hoje a maioria de seus fundos de vales,
principalmente os remanescentes florestais e parques preservados (Figura 1 e 2). Tal preocupação objetivava a
prevenção dos problemas ambientais já apresentados nas grandes cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, no
tocante ao escoamento das águas das chuvas e prevenção de inundações. Outro aspecto importante é a
obrigatoriedade de vias marginais ao longo dos cursos d’águas, observado nos artigos 22 e 23, diretriz que definiu
várias áreas vegetadas, configurando a paisagem da cidade.
24- Espaços livres de uso público

Figura 1: Mapa de praças e áreas verdes

Fonte: IPPUL – Instituto de Pesq. e Planej. Urbano de Londrina, Diretoria de Projetos, 2006.
Elisângela Medina Benini (Org.) - 25

Figura 2: Mapa de praças e áreas verdes

Fonte: IPPUL – Instituto de Pesq. e Planej. Urbano de Londrina, Diretoria de Projetos, 2006.

A Lei 133/1951 vigorou no Município de Londrina, de 1951 a 1998, até ser realizado um novo Plano
Diretor. Com a promulgação da Lei Federal 6.766/1979 e depois com a Constituição Federal de 1988, as
mudanças na legislação municipal ocorreram com a aprovação das seguintes leis: Lei Orgânica de 1990; Lei de
26- Espaços livres de uso público

Parcelamento do Solo para Fins Urbanos (LEI 7.483/1998); Código Ambiental (LEI 11.471/2012) e a Lei de
Parcelamento do Solo para fins Urbanos (LEI 11.672/2012). As informações referentes aos espaços de domínio
público foram sistematizadas em um quadro comparativo (Quadro 2).

Quadro2 – Comparativo das Leis Municipais

Lei 133/1951 – LEI 11.672/2012 -


Lei 7.483/1998 -
Arruamento, Lei Orgânica de LEI 11.471/2012 - Parcelamento do
Parcelamento do Solo
Loteamento e 1990 Código Ambiental Solo para fins
para Fins Urbanos
Zoneamento Urbanos
I – Arruamentos
I – Logradouros I – Área institucional ou Áreas Verdes – I – Área institucional
II. S.P.L.
públicos II. S.P.L. III equipamento comunitário ELUPs II – Arruamento III –
Áreas Públicas III. Espaços livres
- Espaços verdes ou II - Arruamento III - As outras áreas não Áreas Verdes –
(praças, jardins e
livres ELUPs são definidas ELUPs
parques)
Distribuição
equilibrada de áreas
Determinação da A qualquer área de uso Todo cidadão tem Compete à SEMA
Os espaços livres (praças) livres,
comum do povo não direito ao lazer, saúde planejar e integrar o
Lei específica será mais e preservação do
- loteador deve entregar
Sistema de Áreas
preferencialmente,
para ELUP urbanizado. áreas livres deverão
desincorporada. patrimônio ambiental. Verdes.
coincidir com as áreas
de recarga hídrica;
Município – divide a
responsabilidade de
Domínio Município Município Município
cuidar /zelar com a
Município
comunidade
A > 20.000,00m² -
Espaços livres (praças,
35%
jardins e parques): ≥ 35% do total a ser
A ≤ 20.000,00m² -
≥ 6% - zona urbana; parcelado, dos quais:
Porcentagem de 15%
≥10% - zona ELUPs - ≥7%
Loteamentos uso
áreas de domínio suburbana; Não há Uso institucional - ≥ 3% Não há
industrial - ≥ 5% -
público ≥12% - área rural Loteamentos uso
uso institucional e/ou
adjacente as anteriores; industrial - ≥ 3% para
espaço livre de uso
≥14% - zona rural, não uso institucional
público, a critério do
adjacente.
Poder Público.
Elisângela Medina Benini (Org.) - 27

Lei 133/1951 – LEI 11.672/2012 -


Lei 7.483/1998 -
Arruamento, Lei Orgânica de LEI 11.471/2012 - Parcelamento do
Parcelamento do Solo
Loteamento e 1990 Código Ambiental Solo para fins
para Fins Urbanos
Zoneamento Urbanos

Excepcionalmente: a)
remodelação urbanística
b) não redução da área
Alteração e redução
pública para compensar
da área de unidades
áreas;
Mediante lei – vedada de conservação –
c) parecer favorável do
qualquer utilização mediante lei específica
órgão técnico
que comprometa a e audiências públicas,
Desincorporação municipal;
integridade dos Não há fundamentada no Não há
da área pública d) aprovação legislativa
atributos que interesse social de
– 2/3 dos votos.
justifiquem sua desenvolvimento
Não redução das praças
proteção; urbano sustentável,
públicas para
respeitado as
implantação de edifícios
legislações vigentes.
público ou privado,
admite-se monumentos
A ≤ a 5% do total.
Proibidos, exceto:
I - Educação, saúde intervenção ou uso Comissão
ou segurança; especial das áreas Permanente de
Doações ELUPs Proibido
II – praça não
Não há
verdes ou de lazer - Avaliação de Imóveis
urbanizada em10 autorização SEMA. e de Preços Públicos.
anos.
É vedada a
transformação de praças
É permitido para
Mudança de Uso e jardins públicos em
equipamentos sociais.
Não há Não há Não há
parques infantis
fechados, com edifícios.
Proibido > 15% - a Implantação de
menos que haja razão equipamentos
paisagística de comunitários ou
Declividade do
Não há Não há Não há interesse coletivo ELUPs: no mínimo,
terreno manifesto e 50% - da área deverá
reconhecido pela ser em terreno único,
SEMA. I < 15%;

Fonte: elaborado pela autora, 2014.


28- Espaços livres de uso público

Na análise das leis municipais é possível observar que a Lei 133/1951 ordenava novos loteamentos na
cidade-nova. Após a Lei Federal 6.766/1979 e a Constituição Federal foram promulgadas leis municipais, como a
Lei Orgânica de 1990 e a Lei 7.483/1998, que constituem o Plano Diretor de Londrina.
Quanto à porcentagem de áreas de domínio público, a Lei 133/1951 definia no mínimo 20% destinada
às vias públicas, uma proporção não inferior a 6% da área total do terreno para espaços livres (praças, jardins e
parques) e, na proporção de 1,5%, para área útil destinada à instalação de edifício, serviço público de interesse
local, de assistência social ou beneficente. Essas porcentagens de áreas públicas definiam o mínimo de 27,5 % na
zona urbana.
Na lei posterior (LEI 7.483/1998), de acordo com a legislação Federal 6.766/1979, a percentagem de
áreas da gleba passou a ser de, no mínimo, 35% do total a ser parcelado: 7% para espaços livres de uso público;
3% para implantação de equipamentos comunitários ou de uso institucional. Os canteiros associados às vias de
circulação com largura inferior a 2,50 m e os dispositivos de conexão viária com área inferior a 30 m², serão
computados como parte da rede viária e não como áreas livres.
Já a definição de porcentagem da Lei 11.672/2012 contém os seguintes critérios: para áreas maiores que
20.000,00 m² deverão dispor 35% do total a ser parcelado; e inferiores a 20.000,00 m², 15% do total a ser
parcelado.
Em uma análise comparativa verifica-se atualmente a não distinção das funções predefinidas das áreas
públicas, além da desincorporação das mesmas. Esta somente era permitida excepcionalmente nas seguintes
condições: a) necessidade, em consequência de remodelação urbanística; b) não redução da área pública, em
virtude de compensações de outras áreas no mesmo local; c) parecer favorável do órgão técnico municipal; d)
Elisângela Medina Benini (Org.) - 29

aprovação legislativa por dois terços dos votos da Câmara. Na Lei 133/1951 a doação e a mudança de uso, eram
vedadas, porém as leis posteriores apresentam uma flexibilidade quanto a estas práticas.
Por outro lado, quanto à declividade do terreno doado, apenas as leis 11.471/2012 e 11.672/2012
estabelecem parâmetros, uma vez que eram doadas áreas com maior declividade para o Município.
Em relação ao sistema de áreas verdes da Lei 11.471/2012, ela abrange praças, parques urbanos, áreas
verdes e de lazer, previstos nos projetos de loteamentos e urbanização. Este sistema tem a preocupação de
garantir maior qualidade de vida, além de ser um agente inibidor de poluição, de proteção aos ecossistemas, com a
preservação e a manutenção destas áreas representativas.
Embora a Lei Orgânica preveja a proibição de doação, permuta, venda, concessão de direito real de uso
de área destinada à praça, no âmbito do Município, tal fato não se aplica se a área for destinada aos setores da
educação, da saúde ou da segurança. Consequentemente, observa-se a diminuição gradativa das áreas verdes,
promulgadas por Leis da Câmara Municipal. Do mesmo modo, é possível analisar que diversas áreas destinadas
aos ELUPs foram doadas para bens de uso especial e bens dominicais.
Esta análise revela, portanto, o discurso de um espaço ocioso e de onerosa manutenção para o
Município e tal fato é a própria justificativa da Lei Orgânica à doação. Se a responsabilidade de cuidar e zelar
forem do Município e se, em 10 anos, o espaço não receber benfeitorias de sua destinação, o uso pode ser
alterado? Atualmente verifica-se um maior destino de recursos nas esferas Estaduais e Federais para
equipamentos sociais e comunitários, como PAC-1 e PAC-2, fatores que também contribuem para a diminuição
dos espaços livres de uso público em nossas cidades.
30- Espaços livres de uso público

3. CONCLUSÃO

É possível verificar através da linha de tempo as transições entre as leis Municipais ocorridas após a
promulgação das Leis Federais (Figura 3).

Figura 3: Linha do tempo

Fonte: Elaborado pela autora, 2014.


Elisângela Medina Benini (Org.) - 31

A Lei 133/1951 marcou a construção inicial da paisagem da cidade de Londrina. As promulgações das
Leis 6.766/1979, a Constituição Federal de 1988, a Lei Orgânica do Município/1990, deram outros
direcionamentos que acarretam a disfunção das áreas públicas tornando áreas de domínio público gerenciado pelo
Município.
No entanto, observa-se que alguns artigos da Lei Orgânica são contrários à própria Constituição Federal,
como o Artigo 82 que determina que existam ressalvas para a doação de ELUPs.
Somado a essas mudanças, incidiu a determinação de que os Municípios deveriam ter Planos Diretores.
Em consequência, surgiu a Lei 7.483/1998, em substituição à Lei 133/1951. Houve em 1999 a alteração de
artigos da Lei 6.766 que passou o poder para os municípios de determinar as porcentagens das áreas a serem
destinadas às áreas verdes e, por fim, com a nova lei do plano diretor participativo, Lei no 10.637/2008, foi criada
a Lei nº 11.471/2012 que dispõe do Código Ambiental e a nova lei de parcelamento do solo Lei nº 11.672/2012
que revogou a Lei nº 7.483/1999.
Este artigo, na análise da legislação municipal delineia políticas públicas urgentes para a manutenção dos
espaços livres de uso público, visto que é necessária uma revisão das áreas destinadas às áreas públicas devido ao
aumento da demanda dos equipamentos comunitários e sociais que, após a Constituição Federal de 1988, vem
aumentado gradativamente.
Atualmente somam-se demandas por vários equipamentos urbanos, a saber: CRAS, CREAS, Viva Vida,
Centro POP, Casa de Passagem Indígena, Conselho Tutelar Referencial, UBS, UPA, Academia da Saúde, CAM,
Centro de Atendimento ao Idoso, Praça da Juventude, Praça do Esporte e da Cultura, Ginásio Poliesportivo;
Capelas Mortuárias; Restaurante Popular e Horta Comunitária, Barracão de Reciclagem.
32- Espaços livres de uso público

Portanto, se continuar o processo de desafetação dos ELUPs para instalação das várias demandas de
equipamentos, paulatinamente, nossas cidades perderão seus espaços livres, quer seja para sociabilização, lazer,
equilíbrio ambiental, entre outros aspectos, que refletem a qualidade de vida no espaço urbano.

REFERÊNCIAS

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05 de outubro de 1988.

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Elisângela Medina Benini (Org.) - 33

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de Londrina e dá outras providências. Diário Oficial. Londrina, PR.

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MEIRELLES, H. L. Direito Administrativo Brasileiro. 23. ed. São Paulo: Malheiros. 1998.

MUKAI, T. Direito e Legislação Urbanística no Brasil: história, teoria, prática. São Paulo: Saraiva. 1988.

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34- Espaços livres de uso público

2º Capítulo

ESPAÇO URBANO:
ÁREAS VERDES NO DEBATE
Elisângela Medina Benini (Org.) - 35

ESPAÇO URBANO: ÁREAS VERDES NO DEBATE

Mariana Cristina da Cunha Souza


Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Geografia da FCT-UNESP, Campus de Presidente Prudente.
E-mail: mccunhasouza@hotmail.com.

Margarete Cristiane de Costa Trindade Amorim


Professora Doutora do Departamento de Geografia da FCT-UNESP, Campus de Presidente Prudente.
E-mail: mccta@fct.unesp.br.

INTRODUÇÃO

No Brasil, o crescimento e adensamento urbanos datam do início da década de 1960 e em cinco décadas
pode-se afirmar hoje que se trata de um país de população urbana. Esse processo, que se desenvolveu em um
espaço de tempo relativamente curto, resultou em cidades carentes de planejamento urbano e ambiental,
influenciando para a ocorrência de paisagens urbanas cada vez mais deterioradas e esta realidade tem preocupado
36- Espaços livres de uso público

os estudiosos das mais diversas áreas do conhecimento, trazendo para o debate a necessidade de se pensar o
espaço urbano de maneira qualitativa e de se buscar estratégias para um planejamento que priorize o equilíbrio e a
qualidade ambiental (CÔRREA, 2000; LOMBARDO, 1995; ROMERO, 2007).
Assim, uma das principais ações de planejamento urbano e ambiental que vem se destacando enquanto
tema de pesquisas científicas e de legislações que organizam o espaço urbano é a destinação de espaços públicos
para a implantação de áreas verdes. Estes equipamentos desempenham funções específicas na paisagem da cidade
e, quando efetivamente implantados e manejados, podem contribuir com benefícios estéticos, ecológicos e sociais.
Todavia, tem-se notado divergências entre o que se compreende como sendo áreas verdes na literatura científica
com as definições encontradas em muitas legislações municipais, principalmente, quanto às classificações e
terminologias adotadas por órgãos públicos municipais responsáveis por essas áreas na cidade (NUCCI, 2008;
CAVALHEIRO, 1982).
Desta maneira, este artigo justifica-se na medida em que proporciona uma reflexão sobre os diferentes
conceitos elaborados sobre as áreas verdes na literatura científica, suas características e particularidades, assim
como com as definições encontradas nas legislações municipais que asseguram a existência dessas áreas e que
dispõem sobre a produção e organização do espaço urbano.
A cidade de Presidente Prudente é tomada como exemplo de análise porque tem apresentado um ritmo
de crescimento urbano e populacional consideráveis. Presidente Prudente está localizada no extremo oeste do
estado de São Paulo, como pode ser observado na figura 1, e também tem adquirido as características das cidades
de porte médio do Brasil, como a expansão urbana a qualquer custo, baseada nos pressupostos da especulação 1Disponível em:
<http://cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.ph
imobiliária; concentrando serviços e exercendo uma centralidade regional (CAMARGO, 2007). Atualmente a p?codmun=354140>. Acesso em 17 de
Jul. de 2014.
população de Presidente Prudente é de aproximadamente 208 mil habitantes, segundo dados do IBGE de 20101 e
está estimada para 219 mil habitantes no ano de 2013 (IBGE, 2010).
Elisângela Medina Benini (Org.) - 37

Figura 1 – Mapa da localização de Presidente Prudente no Brasil e no estado de São Paulo

Fonte da base cartográfica: IBGE (2010). Organização: CUNHA SOUZA (2014)


38- Espaços livres de uso público

ÁREAS VERDES: UMA ABORDAGEM CONCEITUAL

O planejamento com vistas a um equilíbrio ambiental urbano – qualidade ambiental - tem sido bastante
discutido nos dias de hoje e as análises sobre a temática têm considerado diferentes elementos tanto físicos
quanto sociais. No que concerne aos elementos físicos, encontram-se uma gama de estudos voltados à análise do
clima, dos recursos hídricos, dos solos, da qualidade do ar, da vegetação, dentre outros. Mesmo assim, a opção
pela análise de um elemento não desconsidera a existência e as relações estabelecidas entre e/ou com os outros
componentes do sistema (PERLOFF, 1973; NUCCI, 2008).
Sobre o elemento vegetação, entende-se que seja primordial para a manutenção do equilíbrio ambiental
urbano. No espaço da cidade a componente vegetação aparece sob diferentes formas e uma das mais importantes
é através da implantação de áreas verdes porque se tratam de equipamentos elementares para a dinâmica
ambiental urbana. Nas áreas verdes a presença da vegetação é vista como indispensável e necessariamente precisa
destacar-se na paisagem observada (LIMA, 2013).
Aqui, alguns conceitos sobre esses espaços são abordados com a finalidade de explanar suas principais
características e particularidades e na literatura científica, encontram-se distintas definições sobre o que se
compreende por áreas verdes.
Llardent (1982) utilizou-se da expressão áreas verdes fazendo referência aos sistemas de espaços livres
que, de acordo com o autor, dizem respeito aos:

 espaços urbanos ao ar livre: onde as pessoas podem passear e praticar esportes em seu tempo
livre, de lazer e entretenimento;
Elisângela Medina Benini (Org.) - 39

 espaços livres: que seriam as diferentes áreas verdes que constituem o sistema de espaços livres de
uma cidade; e por fim,
 zonas verdes, espaços verdes e/ou equipamentos verdes: que dizem respeito a quaisquer
espaços livres onde o elemento arbóreo predomine, como os parques, jardins e praças.

Já Cavalheiro (1982), um dos pesquisadores pioneiros da temática, valeu-se do termo para conceituar os
espaços livres de uso público que desempenham funções ecológicas, estéticas e sociais. Em relação às suas
características básicas, o autor defende que seja primordial a presença de vegetação, de solo permeável e que a
área seja livre de construções e categoriza os espaços livres em:

 livres de uso particular: que seriam os quintais e jardins particulares;


 livres de uso potencialmente coletivos: definidos como os terrenos baldios urbanos não cercados,
pátios de escolas, pátios de igreja, clubes e etc.; e,
 livres de uso público: associados aos que são livremente acessíveis ao público em geral: ruas e
avenidas, as calçadas, ruas de lazer, ruas de pedestres, calçadões, largos, praças, play-ground-play-lot,
parques, cemitérios, jardim botânico, bosques, reservas, parques naturais, etc.

Da mesma forma, Carvalho (1982) também destaca o caráter público das áreas verdes, utilizando-se da
terminologia para referir-se às áreas da cidade que apresentam uma vegetação contínua, sem a presença de
construções, mesmo que a área seja cortada por ruas e vielas e onde existam brinquedos infantis e outros
divertimentos leves.
40- Espaços livres de uso público

Seguindo a mesma linha de raciocínio, Zanin, Rosset e Dalavale (2007) compreendem que o conceito de
áreas verdes faz referência aos espaços livres de uso público - praças, parques e canteiros centrais - com cobertura
vegetal predominantemente arbórea ou arbustiva; capazes de proporcionar um microclima distinto no ambiente
urbano em relação à luminosidade, à temperatura e outros parâmetros associados ao bem-estar humano. São áreas
que possuem significado ecológico em termos de estabilidade geomorfológica e amenização da poluição e que
servem de abrigo à fauna local.
Esses autores ainda destacam a necessidade da presença de estruturas e equipamentos para a utilização
da população em seu momento de lazer e são os únicos a citarem possíveis benefícios financeiros decorrentes da
existência desses equipamentos urbanos, mas não explicam em detalhes a forma como isso pode acontecer.
Nos estudos de Morero, Santos e Fidalgo (2007, p. 19) o conceito diz respeito às áreas de domínio
público - praças, jardins e parques - que contenham características ambientais significativas e que proporcionem
um ambiente ao ar livre onde seja propício a realização de atividades de lazer e onde predomine o elemento
arbóreo. Para os autores é primordial pensar na distribuição espacial das áreas verdes dentro do espaço urbano,
alertando que “não devem privilegiar qualquer classe social, mas servir igualmente a toda população, suprindo
suas necessidades e anseios para o lazer”.
De forma resumida, Nucci (2008) considera que o conceito trata dos espaços livres onde predominam a
vegetação e que cumprem fundamentalmente três funções: a estética, a ecológica e a de lazer; o solo permeável
deve ocupar pelo menos 70% da área que, sendo públicas, não podem ter regras rígidas para sua utilização.
Elisângela Medina Benini (Org.) - 41

Tabela 1 – Áreas Verdes: características e particularidades

ÁREAS VERDES
Autor(es) Terminologia(s) e categoria(s) Domínio(s) Características
Llardent (1982) Sistemas de espaços livres: Público Lazer e entretenimento
Espaços urbanos ao ar livre. Prática de esportes
Espaços livres. Vegetação
Zonas verdes, espaços verdes e/ou
equipamentos verdes.
Cavalheiro (1982) Espaços livres de uso público. Público e Função ecológica, estética e social
Livres de uso particular. Privado Vegetação
Livres de uso potencialmente coletivos. Solo permeável
Carvalho (1982) - Público Vegetação
Entretenimento e lazer
Zanin, Rosset e Dalavale Espaços livres de uso público Público Vegetação
(2007) Função ecológica e econômica
Lazer
Morero, Santos e Fidalgo - Público Vegetação
(2007) Função ecológica
Lazer
Distribuição espacial
Nucci (2008) Espaços livres Público Vegetação Função estética, ecológica
e de lazer
Solo permeável

Organização: CUNHA SOUZA (2014)


42- Espaços livres de uso público

LEGISLAÇÃO MUNICIPAL: ÁREAS VERDES NO CONTEXTO URBANO DE


PRESIDENTE PRUDENTE

Para organizar e controlar a produção do espaço urbano é que se instituem as legislações dentro do
território nacional. A legislação compreende o conjunto de leis e decretos necessários à organização e produção
do espaço urbano, estabelecendo normativas que visem a atender esse objetivo. É por isso que existem as leis e
decretos que, direta e ou indiretamente, asseguram a existência dos equipamentos urbanos, como as áreas verdes,
dentro do espaço da cidade (MINAKI e AMORIM, 2012).
No caso de Presidente Prudente é tomado como base a Lei Complementar Nº 151/2008 que dispõe
sobre o Plano Diretor do Município2, sendo o principal instrumento na política de desenvolvimento urbano e 2
Disponível em:<
http://www.presidenteprudente.sp.gov.br/si
rural. Em seu Art. 2º ficam estabelecidos os objetivos gerais do Plano, quais sejam: te/Documento.do?cod=606>. Acesso em
23 de Jul. 2014.

I - assegurar que a ação pública ocorra de forma planejada, tanto na área rural como urbana;
II - assegurar a função social da propriedade urbana;
III - estabelecer as exigências fundamentais de ordenação da cidade;
IV - ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade, tanto na área rural como urbana;
V - orientar os investimentos públicos, tanto na área rural como urbana;
VI - assegurar a função social da área rural.

O Plano diretor regulariza a ação pública para que a função social da cidade seja legitimada, tanto no
3
espaço urbano como no espaço rural. A título de conhecimento, aborda-se a Lei 10.257/2001 que estabelece o Disponível:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/lei
Estatuto da Cidade3, onde se estabelece que a função social da cidade é proporcionar ao seu cidadão o direito de s/leis_2001/l10257.htm>. Acesso em 23
acesso aos bens e serviços produzidos, à infraestrutura e aos equipamentos de serviços públicos, ao espaço de Jul. 2014.

público, a um ambiente saudável, à moradia digna, à igualdade e o respeito à diferença (RODRIGUES, 2004).
Elisângela Medina Benini (Org.) - 43

Nota-se que o Plano Diretor não apresenta definições específicas a respeito das áreas verdes. As citações
referentes aos equipamentos ocorrem em seu Art. 21º que versa sobre a política habitacional e seus objetivos. No
que se refere às áreas verdes, fica estabelecido que a política habitacional se responsabilize em:

[...]
V- assegurar que, nos conjuntos habitacionais a serem implantados, sejam reservadas as áreas de convívio
social para a população, áreas verdes e praças, nos percentuais estabelecidos pela legislação de parcelamento
do solo em vigor.

Assim, igualmente importante para a cidade tem-se a Lei complementar Nº 154/2008 que dispõe sobre a
4
Disponível em: Lei de Parcelamento do Solo para Fins Urbanos4, que em seu Art. 1º estabelece seu objetivo principal: - orientar e
<http://www.presidenteprudente.sp.gov.br/
site/Documento.do?cod=614>. Acesso em controlar todo o parcelamento do solo efetuado no território do Município de Presidente Prudente, assegurando a
23 de Jul. 2014.
observância das normas federais relativas à matéria e zelando pelos interesses do município, no que diz respeito às
necessidades para seu desenvolvimento.
E em seu Art. 2º trata das seguintes definições:

V - ÁREA DE LAZER - são as áreas a serem doadas ao município para fins de construção de praças,
parques e outras atividades de recreação.
[...]
VIII - ÁREA PÚBLICA - é composta de Áreas Institucionais, de Lazer, "NON AEDIFICANDI" (é a área
de terra na qual é vedada a edificação de qualquer natureza e assim definida em Lei), Sistema Viário e Áreas
de Preservação.
E para finalizar, aponta-se o Art. 12º que normatiza que os loteamentos deverão atender, pelo
menos, aos seguintes requisitos:
[...]
II - as áreas públicas, depois de descontadas as áreas de preservação, não serão inferiores a 35% (trinta e
cinco por cento) da gleba total;
III - as áreas públicas compor-se-ão, no mínimo de:
[...]
b) áreas de lazer: 10% (dez por cento) a 15% (quinze por cento) da área loteável;
44- Espaços livres de uso público

Diante disto e no que se refere à caracterização e definição das áreas verdes dentro do espaço urbano em
Presidente Prudente, tendo como base as citações encontradas na lei que dispõe sobre o Plano Diretor do
município e na lei de Parcelamento e Uso do Solo da cidade, tem-se que as mesmas apresentam-se de modo
superficial e genérico. Esta realidade pode comprometer a destinação de espaços públicos para que estes
equipamentos sejam implantados, já que nas normativas não é possível visualizar claramente o que de fato podem
ser consideradas áreas verdes, suas principais características e, principalmente, finalidades e funções.

DISCUSSÕES SOBRE A TEORIA E A REALIDADE

Como visto, a literatura científica tem desenvolvido e estruturado o conceito de áreas verdes, propondo
características, identificando particularidades e estabelecendo funções, finalidades e justificativas para sua
existência no espaço da cidade. Pode-se afirmar que são áreas urbanas que adquirem e desempenham funções
ecológicas, estéticas e sociais a partir de suas infraestruturas e elementos constituintes, como por exemplo,
equipamentos que permitam a prática de exercícios e outras atividades de lazer, onde predominam a componente
vegetação e o solo permeável.
Em contrapartida, de acordo com o que foi observado nas legislações municipais sobre a cidade de
Presidente Prudente, percebe-se a característica superficial e em grande parte genérica das definições sobre as
Elisângela Medina Benini (Org.) - 45

áreas verdes, principalmente as que estão presentes na lei que dispõe sobre o Plano Diretor do município. Já na
lei de Parcelamento e Uso do Solo na cidade encontra-se maior detalhamento.
Nas legislações analisadas, as abordagens aparecem precisas apenas quando se trata da porcentagem que
varia de 10% a 15% da área total dentro dos lotes urbanos que precisam ser destinadas ao uso público. As
citações encontradas na Lei de Parcelamento e Uso do Solo mesmo que reconheçam a presença das ditas áreas de
lazer, não determinam suas funções, finalidades e características principais. Na Lei que regulariza o Plano Diretor,
percebe-se a distinção entre áreas verdes e praças, permitindo interpretações como a de que as praças não são
consideradas áreas verdes no contexto municipal, o que de acordo com a literatura científica seria um equívoco.
Essas divergências influenciam diretamente na ausência de padrões quanto à classificação das áreas e das
terminologias utilizadas. Os termos encontrados nas leis municipais estão pouco articulados àqueles presentes nas
listas fornecidas pela SEMEA. Na Secretaria as áreas verdes estão classificadas em fundos de vale, áreas de lazer,
áreas verdes, canteiros centrais, parques, praças e rotatórias. E dentre estas, as únicas que apresentam localizações
geográficas exatas, podendo ser efetivamente comprovadas a sua existência com a pesquisa de campo, são os
parques e as praças.
46- Espaços livres de uso público

Tabela 2 - Classificação das áreas verdes em Presidente Prudente

TERMINOLOGIA QUANTIDADE
Área de Lazer 56
Área Verde 99
Canteiro Central 65
Fundo de Vale 15
Parque 4
Praça 152
Rotatória 61
Total 454

Fonte: Secretaria de Meio Ambiente (2014). Organização: CUNHA SOUZA (2014)

Os dados quantitativos apresentados na tabela 2 permitem inferir que a realidade da cidade é de um


ambiente urbano onde a presença de áreas verdes é significativa. Todavia, uma ressalva importante precisa ser
realizada para se compreender o processo da classificação e do estabelecimento das terminologias em Presidente
Prudente: as classificações dos equipamentos urbanos realizadas pela SEMEA aconteceram considerando-se a
presença e/ou ausência de vegetação na área, a partir de observações de imagens de satélites da cidade que estão
disponíveis no Google Earth, o programa de computador desenvolvido e distribuído pela empresa dos Estados
Unidos, a Google.
Como mencionado, as áreas verdes possíveis de serem localizadas espacialmente são os parques e as
praças, uma vez que possuem registros de sua localização geográfica exata dentro do perímetro urbano; logo,
podem ser visitadas ao se realizar uma pesquisa de campo, por exemplo. É por essa razão que foram tomadas
como referência para a elaboração da carta temática, figura 2, onde estão localizadas a partir de suas coordenadas
geográficas.
Elisângela Medina Benini (Org.) - 47

Figura 2 - Carta da localização das praças e parques no perímetro urbano em Presidente Prudente

Fonte da base cartográfica: IBGE (2010). Organização: CUNHA SOUZA (2014)


48- Espaços livres de uso público

Ao articular o procedimento metodológico utilizado pela SEMEA para essa classificação com os
pressupostos dos conceitos apresentados sobre as áreas verdes, evidencia-se a diferença no processo de análise. O
procedimento metodológico utilizado pela Secretaria para classificar as áreas verdes baseou-se tão somente em
observar as imagens de satélite e identificar a partir daí áreas da cidade onde existia ou não vegetação. As imagens
de satélite são de extrema importância para a obtenção de informações sobre alvos presentes na superfície
terrestre sem que se tenha tido contato direto com os mesmos e essa particularidade torna-se importante no
momento de se identificar e diferenciar as áreas com vegetação, construídas, industriais, agrícolas, etc. (ROSA,
1992).
Todavia, esse procedimento aplicado à análise das áreas verdes não se constitui em uma avaliação
qualitativa. Para isso, torna-se necessário realizar uma pesquisa de campo, pois de acordo com as definições
encontradas na literatura científica, as áreas verdes são os espaços livres onde o elemento vegetação predomina,
mas em conjunto com infraestruturas específicas que permitam a prática de esportes e outras atividades de lazer,
sendo também os espaços da cidade onde se encontram um ambiente ecologicamente equilibrado.
É neste sentido que se reforça a importância das análises in loco, além das análises realizadas a partir do
sensoriamento remoto. A pesquisa de campo permitirá, por exemplo, o conhecimento sobre as condições em que
a vegetação está e se a mesma desempenha funções de cunho ecológico, como proporcionar um microclima mais
ameno em termos de temperaturas e umidade do ar, de servir de abrigo à fauna e flora locais, de minimizar os
ruídos provenientes do tráfego intenso de automóveis e etc. Por fim, é fundamental esclarecer que somente o
elemento arbóreo não é suficiente para se afirmar que determinada área da cidade seja classificada como uma área
verde.
As classificações quando baseadas nos conceitos cientificamente estruturados, obrigatoriamente devem
considerar indicadores como: o estado de conservação da área, das infraestruturas existentes para a realização de
Elisângela Medina Benini (Org.) - 49

exercícios e outras atividades de lazer, a presença e o predomínio da vegetação, além de assegurar que tais espaços
podem assumir e desempenhar a função ecológica, estética e social, advindas da qualidade dos indicadores citados,
o que justificaria sua existência no ambiente urbano.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os benefícios estéticos, ecológicos e sociais exercidos pela presença de áreas verdes no espaço da cidade
têm sido cientificamente comprovados por estudos já realizados e a preocupação pelo tema é percebida nas
diferentes abordagens realizadas pelos pesquisadores, principalmente quanto à estruturação dos conceitos
propostos. Definem-se as áreas verdes, de maneira objetiva, como os espaços da cidade onde predominam o
elemento arbóreo; onde existem infraestruturas que possibilitam a prática de exercícios e outras atividades de lazer
pela população; áreas onde o acesso é público, sem restrições.
Soma-se às definições, a finalidade de agregarem valor estético à paisagem urbana, por serem lugares da
cidade que predominando a vegetação, se contrapõem e se destacam em meio à massa de concreto urbano; além
de assumirem um papel social para os citadinos que podem frequentá-las em seu tempo de lazer e etc. Não se
pode ignorar também a contribuição das áreas verdes para um ambiente mais equilibrado ecologicamente, à
medida que proporcionam temperaturas mais amenas, devido à presença das árvores que também servem de
abrigo à fauna e flora locais, por exemplo.
Todavia, mesmo com todos os benefícios advindos com a implantação e manejo desses equipamentos
urbanos, ainda se faz necessária uma padronização quanto às classificações e terminologias utilizadas pela
50- Espaços livres de uso público

SEMEA da cidade em análise, além da necessidade de se estabelecer procedimentos metodológicos que sejam
representativos da realidade encontrada nesses equipamentos implantados no ambiente urbano.
É fundamental salientar que a classificação das áreas verdes urbanas requer uma pesquisa de campo, uma
observação in loco para que a análise seja condizente com a real situação das áreas avaliadas. Essa ação é
fundamental para a aquisição de informações e dados qualitativos e para que seja possível a organização de um
banco de dados que contenha informações basilares, porém importantes, sobre os equipamentos em questão,
como os endereços, localizações censitárias, coordenadas geográficas, estado de conservação da área,
infraestruturas existentes, características da vegetação presente, dentre outras.
Por fim, destaca-se a necessidade de análises qualitativas em conjunto com as análises quantitativas com
o estabelecimento de indicadores que sejam representativos da realidade urbana do município. As áreas verdes
também consideradas um dos indicadores de qualidade ambiental urbana, requerem padronização classificatória e
terminológica, além do planejamento do processo de implantação e gerência. É necessária a comunicação entre os
órgãos públicos com os espaços acadêmicos e essa conjuntura pode ser materializada através da articulação entre
o que tem sido considerado no desenvolvimento e realização de pesquisas científicas com as ações públicas
destinadas a essas áreas da cidade. Essa aproximação pode contribuir para que as áreas verdes adquiram e
desempenhem as funções a que estão destinadas e que contribuam efetivamente para o equilíbrio e a qualidade
ambiental da cidade.
Elisângela Medina Benini (Org.) - 51

REFERÊNCIAS

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de Pós-Graduação em Geografia. UNESP. Presidente Prudente, 2007.

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CAVALHEIRO, Felisberto et. al. Proposição de terminologia para o verde urbano. In:Boletim Informativo da Sociedade Brasileira
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<http://www.geografia.ufpr.br/laboratorios/labs/index.php>. Acesso em: 01 Jun. 2012.

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52- Espaços livres de uso público

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3º Capítulo
Elisângela Medina Benini (Org.) - 53

AS ÁREAS VERDES NO CONTEXTO


DAS PEQUENAS CIDADES:
UMA ANÁLISE DAS
PRAÇAS CENTRAIS DE
LAGOA FORMOSA (MG)
54- Espaços livres de uso público

AS ÁREAS VERDES NO CONTEXTO DAS PEQUENAS CIDADES:


UMA ANÁLISE DAS PRAÇAS CENTRAIS DE LAGOA FORMOSA (MG)

Francielle de Siqueira Castro


Mestranda do Programa de pós-graduação em Geografia, na Universidade Federal de Goiás/Regional Catalão.
E-mail: franciellesiqueiracastro@gmail.com

Carlos Roberto Loboda


Doutor em Geografia e Docente em Geografia pela Universidade Federal de Uberlândia/Campus Pontal.
E-mail: crloboda@gmail.com

1 INTRODUÇÃO

O meio humanizado aflora uma gama de condições desfavoráveis à qualidade de vida, à falta de manejo
ambiental e de soluções alternativas, o que desencadeia sérias consequências ao meio natural, exigindo ações
reparadoras no âmbito do poder público a fim de reduzir os impactos provocados pelo homem que, no afã de
Elisângela Medina Benini (Org.) - 55

ampliar seus lucros financeiros, agride e degrada a natureza. A crescente preocupação com o ambiente tem gerado
discussões em diversas áreas da ciência com a busca incessante de novos modelos de desenvolvimento que
garantam uma evolução sustentável. A realidade diagnosticada nas condições ambientais e na qualidade de vida
humana, datadas do final do século XX, comprova que esta preocupação não é mera obra do acaso
(MENDONÇA, 1993).
Com a análise do contexto de distribuição populacional no Brasil, nota-se que aproximadamente 85% da
população residem em áreas urbanas. Diante deste fato é possível afirmar que as áreas verdes têm se tornado lugar
de destaque no cenário urbano, pois coloca em evidência feições que clamam pela preservação e implantação de
espaços destinados aos aspectos ambientais e também pelo papel desempenhado por essas áreas no que tange aos
aspectos ecológicos, sociais e estéticos (GUZZO, 1999).
Esse tema de estudo não só contribui para as perspectivas de um melhor planejamento do cenário
urbano, como também vem ao encontro do sentimento de bem-estar oferecido pelos benefícios das áreas verdes
à população. Não se sabe ao certo qual a definição para o termo “bem-estar”, nem mesmo quais os parâmetros
para defini-lo, tendo em vista que o mesmo modifica-se de uma pessoa para outra, tornando-o subjetivo e por
isso mesmo, complexo. No entanto, é sabido que os atributos provenientes das áreas verdes são fundamentais no
sentido de manter uma relação de equilíbrio entre as áreas livres e os espaços construídos no meio urbano.
Diante disto a justificativa para a pesquisa “As áreas verdes no contexto das pequenas cidades: uma
análise das praças centrais de Lagoa Formosa - MG” se pauta na necessidade de abordagem de tal temática, por
considerar a reflexão relevante no contexto das cidades contemporâneas – relação sociedade natureza –
caracterizada em uma pequena cidade mineira.
A preocupação está centrada no anseio de melhor conhecer a dinâmica urbana da cidade em questão,
com enfoque na perspectiva das funções e do uso das áreas verdes centrais, sabendo que estas, somadas a outros
56- Espaços livres de uso público

aspectos, são importantes para melhoria da qualidade de vida da população. Para tanto, o trabalho teve como
principal objetivo fazer o levantamento, o diagnóstico e, por fim, uma análise dos equipamentos e estruturas das
áreas verdes centrais, representadas por três praças locais, que compõem o espaço urbano do referido município.
Para tanto, foram mapeadas as praças centrais, elencando os principais equipamentos, espécies arbóreas, sua
caracterização e sua dinâmica de funcionamento, ou seja, por quem, para que e quando essas áreas são usadas,
fornecendo pontuações de possíveis providências a serem tomadas perante aos problemas encontrados durante o
processo de pesquisa.

2 DESENVOLVIMENTO

2.1 ÁREAS VERDES URBANAS: APONTAMENTOS TEÓRICOS E CONCEITUAIS

Nos últimos anos a preocupação com as questões ambientais tem ganhado novos rumos e,
consequentemente, gerado novas discussões acerca da temática, visto que a atuação do homem sobre o meio
acontece de forma mais agressiva e contundente, principalmente no que tange ao crescimento das áreas urbanas,
sendo necessários estudos que abordem esse assunto. Sanchotene (1994) destaca que:

(...) nenhum ambiente é mais alterado que o ambiente urbano, devido principalmente a sua natureza
edificada. Esta constatação permite que o verde urbano ganhe cada vez mais importância dentro das
cidades, tornando-se determinante para o desenvolvimento do estudo e da pesquisa, bem como da
preservação e manejo da arborização e das áreas verdes em todo mundo. (SANCHOTENE, 1994, p.16)
Elisângela Medina Benini (Org.) - 57

Com o crescente processo de urbanização, a preservação, recuperação e criação de espaços verdes


urbanos são as grandes preocupações de estudiosos e planejadores urbanos, já que tais espaços são fundamentais
para a qualidade ambiental e de vida da população (MILANO; DALCIN, 2000). Neste mesmo sentido, Nucci
(2008) afirma que nessas áreas podemos encontrar um ambiente agradável, que além de afastar a angústia da
cidade, possibilita ao indivíduo a integração com a natureza, criando também espaços para relação interpessoal.

Esses ambientes devem ser agradáveis e estéticos, com acomodações e instalações variadas de modo a
facilitar a escolha individual. Devem ser livres de monotonia e isentos das dificuldades de espaço e da
angústia das aglomerações urbanas. Principalmente para as crianças é fundamental que o espaço livre
forneça a possibilidade de experimentar sons, odores, texturas, paladar da natureza; andar descalço pela
areia, gramado; ter contato com animais como pássaros, pequenos mamíferos e insetos, etc. (NUCCI, 2008,
p. 109).

Pode-se afirmar que a paisagem urbana deve integrar o homem ao meio ambiente e satisfazer
necessidades tanto no que tange à perspectiva estética, ecológica e de lazer, através desses espaços “livres”. No
entanto, em decorrência do crescimento muitas vezes inadequado das cidades, o meio ambiente urbano,
representado de certa forma por esses espaços verdes, sofre diversas modificações e acaba por não satisfazer as
necessidades da sociedade, sendo geralmente relegado a segundo plano pelos responsáveis do planejamento e da
gestão de nossas cidades.
As áreas verdes urbanas deveriam multiplicar-se na medida em que as cidades se expandem, pois as
mesmas proporcionam à população conforto ambiental e melhoria na qualidade de vida. Para tanto, faz-se
necessário um bom planejamento a fim de que a vegetação cumpra suas funções ecológicas, estéticas e sociais
58- Espaços livres de uso público

(GUZZO, 1999), garantindo os resultados satisfatórios à população no ambiente, como enfatizam Loboda e De
Angelis (2005):

De forma mais intensa, sobretudo nas últimas décadas, a discussão dos problemas ambientais se tornou uma temática
obrigatória no cotidiano citadino. Assim sendo, as áreas verdes tornaram-se os principais ícones de defesa do meio
ambiente pela sua degradação, e pelo exíguo espaço que lhes é destinado nos centros urbanos. (LOBODA e DE
ANGELIS, 2005, p.129)

De acordo com Batista (2006), a maioria das cidades não consegue manter um equilíbrio harmônico
entre seu crescimento populacional e geográfico com o meio ambiente. Esse fator se concretiza em decorrência
da falta de um planejamento que considere o perfil da cidade e também por questões de ordem econômicas,
sendo estas preponderantes em relação à ordem ambiental e, sobretudo, social. Entretanto, compartilha-se da
ideia de que os gestores em todas as cidades, cada uma ao seu modo, pensem esses espaços em conjunto com a
expansão urbana, a partir de estudos sobre a compreensão do ambiente juntamente e, sempre que possível, dando
voz ao cidadão, ou seja, juntamente com a população, pois no uso cotidiano dos espaços, dos equipamentos e
serviços urbanos, a população sente diretamente o impacto da qualidade ambiental urbana.
Ponderando a temática principal aqui desenvolvida, ou seja, as áreas verdes urbanas, representadas de
forma específica pelas praças públicas, constata-se que uma série de pesquisas e trabalhos, está ganhando
notoriedade no contexto das cidades. É notável a preocupação com a temática das áreas verdes, sobretudo pela
necessidade destas para o meio urbano. Considerando seus atributos, torna-se evidente uma discussão teórica e
conceitual sobre as áreas verdes, não só pela discussão ambiental, mas também pelos benefícios que essas trazem
à saúde da população de modo geral, sendo também um símbolo de beleza do ponto de vista estético.
Elisângela Medina Benini (Org.) - 59

As árvores urbanas reúnem características que contribuem para a melhoria das condições de vida da população nos
centros urbanos, pois proporcionam benefícios como bem estar psicológico, sombra, redução da poluição sonora e do
impacto da água da chuva, contribuem na diminuição da temperatura, melhoram a qualidade do ar e preservam a fauna
silvestre (PIVETTA; SILVA FILHO, 2002).

Neste sentido, faz-se importante a implementação e gestão destes, mesmo em cidades ainda de porte
pequeno ou médio, visto que, a realidade experimentada pela expansão urbana dos últimos anos evidencia que
esse fenômeno tende a aumentar a cada período que passa, proporcionando o crescimento das pequenas e médias
cidades.

2.2 DELIMITAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O recorte espacial deste artigo trata-se da sede do município de Lagoa Formosa, localizado na
Mesorregião Geográfica do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, situado sob nas coordenadas geográficas 18° 46’
44” S e 46° 24' 28" O (Figura1).
60- Espaços livres de uso público

Mapa 1: Lagoa Formosa (MG), localização do município, 2013.

Fonte: Geominas, 2010. Org.: CASTRO, F.S. 2014.


Elisângela Medina Benini (Org.) - 61

Geograficamente o município está situado a aproximadamente 374 km da capital do estado de Minas


Gerais, Belo Horizonte, e 233 km de Uberlândia, cidade de destaque no cenário econômico da Mesorregião.
Por tratar-se de uma pequena cidade do interior mineiro, são poucas as obras que relatam e retratam a
evolução urbana e desenvolvimento da cidade em questão. Sabe-se que os primeiros indícios de seu surgimento
datam de meados do século XVIII, com a queda da produção aurífera, processo esse que desencadeou o
aparecimento de dezenas de povoados voltados ao atendimento das novas formas de desenvolvimento
econômico. Desde sua emancipação no ano de 1963, até o presente momento, ainda é possível encontrar no local
resquícios de um passado predominantemente rural. No entanto, os aspectos demográficos apontam para uma
predominância populacional na área urbana onde a população atingiu em 2010, segundo dados do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 17.161 de habitantes e a estimativa para 2013 é que essa população
salte para 17.885. Desse total, aproximadamente 12.967 estão na área urbana rendendo 75% de taxa de
urbanização, distribuída em uma área total de aproximadamente 844,539 km² de área.
O estudo das áreas verdes, não é suficiente para transpor todos os entraves de ordem estrutural da
cidade em questão. Porém, esse estudo, mesmo de forma pontual, proporciona a identificação da realidade
urbana. Nesse sentido, a abordagem das áreas verdes faz com que entre em evidência a importância não só do
planejamento do meio físico urbano voltado para as características socioeconômicas, mas também com olhar
voltado para os elementos naturais e sociais.
Para produção do artigo, em um primeiro momento, foi realizada consulta em alguns referenciais
relacionados à temática em: livros, artigos, sites, entre outros. Já com balizamento teórico sistematizado executou-
se o levantamento dos dados relacionados nas três praças analisadas. Para isso foi necessário um trabalho de
campo visando o reconhecimento dessas áreas e levantamento dos equipamentos, da infraestrutura das mesmas,
além de material iconográfico para reconhecimento e análise.
62- Espaços livres de uso público

Para alcançar esse objetivo foram feitas adaptações, a partir da metodologia desenvolvida por De Angelis
(2000), que consiste em três formulários, cujo objetivo é o levantamento dos aspectos quantitativos e qualitativos
dos equipamentos e estruturas existentes em cada logradouro. Para tanto, foram distribuídas notas de acordo com
o estado de conservação dos mesmos. Foi realizada a identificação das espécies arbóreas com o auxílio de um
quadro contando com o nome comum, o nome científico, a família de cada espécie e a quantidade. Foram
tomados como auxílio na identificação das espécies, os livros: “Árvores Brasileiras” e “Árvores Exóticas no
Brasil” de Harri Lorenzi (1992) adaptando a metodologia à realidade local.
Posteriormente, foram organizadas figuras na busca de ilustrar as informações alcançadas com os dados.
O método criado por Bovo (2009) foi utilizado como referência metodológica na representação iconográfica dos
equipamentos e de seu estado de conservação, porém adaptado para tal pesquisa, onde os itens são representados
por figuras e cores (Quadro 1). As cores classificam o estado de conservação de cada elemento representado,
onde, vermelho – péssimo; amarelo – regular; azul – bom e verde – ótimo.
Elisângela Medina Benini (Org.) - 63

Quadro 1: Simbologia utilizada para identificação de equipamentos e estruturas das praças.

Fonte: BOVO, Marcos Clair, 2009. Org.: CASTRO, Francielle de Siqueira, 2014.
64- Espaços livres de uso público

2.3 AS PRAÇAS DE LAGOA FORMOSA E SUAS FUNÇÕES COMO ÁREAS VERDES NO


CONTEXTO DE UMA PEQUENA CIDADE

As praças que se localizam em pequenas cidades, ainda carregam consigo vestígios das antigas funções
designadas a elas, porém ocorre nesse mesmo sentido uma adaptação às novas realidades, dentre elas a função de
área verde urbana. Para compreensão das áreas verdes em pequenas cidades são representadas nesta seção as
praças: Dona Filomena, Lagoa D’água e Nossa Senhora da Piedade, localizadas na referida cidade.

Figura 1: Lagoa Formosa (MG), localização das praças, 2014.

Fonte: Prefeitura Municipal de Lagoa Formosa - MG. 2014. Org.: SANTANA, Rafael Jeremias. 2014
Elisângela Medina Benini (Org.) - 65

2.3.1 PRAÇA DONA FILOMENA

A Praça Dona Filomena (figura 2) é a que conta com menor mobiliário urbano, porém apresenta uma
diversidade de espécies arbóreas. Dos 20 itens estudados apresenta nove deles, podendo-se destacar as edificações
institucionais, pois possui duas das principais instituições públicas da cidade, sendo estas, a Câmara e a Prefeitura
Municipal de Lagoa Formosa (MG), que foram representadas na cor azul, por contarem com bom estado de
conservação. Na análise desses equipamentos constatou-se que os bancos disponibilizados para o uso da
população, não estão em um bom estado de conservação, a maioria apresenta rachaduras. Sendo assim a sua
classificação foi avaliada como regular, representada pela cor amarela. Os demais equipamentos estão na cor
verde, que representam o bom estado de conservação.
A iluminação da referida área verde se destaca por apresentar postes de iluminação para pedestres, ou
seja, postes mais baixos que garantem a luminosidade pelos caminhos que se cruzam ao longo da mesma, sendo
estes bem distribuídos. Outro elemento que chama atenção são as lixeiras. Foram catalogadas dez delas
distribuídas por toda extensão. O referido equipamento não é recorrente nas demais praças estudadas,
concentrando-se nas praças centrais do município.
66- Espaços livres de uso público

Figura 2: Lagoa Formosa (MG), características da Praça Dona Filomena, 2014.

Fonte: CASTRO, Francielle de Siqueira. 2014.


Elisângela Medina Benini (Org.) - 67

Os exemplares arbóreos que compõem o local são: bálsamos (Schinusmolle), coqueiro jerivá
(Syagrusromanzoffiana), chuva de ouro (Cassia fístula), sibipiruna (Caesalpiniapeltophoroides), cedro (Cedrelafissilis) e
mogno (Swieteniamacrophylla).

2.3.2 LAGOA D’ÁGUA

Diferente das demais, a área verde em questão trata-se de uma praça como extensão da Lagoa D’água (figura 3)
formada no centro da cidade. A mesma conta com calçadas em toda sua orla, além de uma avenida em que é permitido
apenas o trânsito de pessoas. O local foi provavelmente um dos primeiros lugares de atração da população para momentos
de lazer e descontração. Destaca-se como ponto utilizado para prática de exercícios físicos como caminhadas e atividades
nos equipamentos disponibilizados pelo setor público, montados no ano de 2012. Além desses fatores, outro importante, e
talvez, justificativa para a conservação, é explicado pelo fato de esta ser considerada o principal ponto turístico da cidade.
68- Espaços livres de uso público

Figura 3: Lagoa Formosa (MG), características Lagoa D’Água, 2014.

Fonte: CASTRO, Francielle de Siqueira. 2014.


Elisângela Medina Benini (Org.) - 69

Apresenta o maior número de equipamentos. Dentre os analisados, foi possível constatar 16 deles e
muitos desses em um bom estado de conservação. Os mais notórios são: equipamentos para prática de exercícios
físicos, parque infantil, estrutura para terceira idade, a lagoa, dois coretos com mesas e cadeiras, utilizados pela
terceira idade com jogos de cartas todas as tardes.
As espécies arbóreas também se mostram constantes em toda orla da lagoa como também no espaço
destinado à descontração da população. Entre as espécies que analisamos as mais frequentes são: bálsamo
(Schinusmolle), palmeira imperial (Roystonea Regia) e coqueiro jerivá (Syagrusromanzoffiana). A iluminação também
acompanha toda a orla da lagoa com postes para iluminação de pedestres e postes mais altos para iluminação das
vias.

2.3.3 PRAÇA NOSSA SENHORA DA PIEDADE

Conhecida como a mais antiga da cidade, a Praça Nossa Senhora da Piedade, ou Praça da Matriz (figura
4) como é comumente conhecida, é datada desde o início da aglomeração urbana, confundindo-se com a própria
história da cidade. Carrega até os tempos atuais as características de um local de lazer e descontração da
população. É nela que acontecem os principais eventos, festividades e apresentações culturais do município. A
mesma conta com um palco com toda estrutura de camarins e banheiros para realização desses eventos, além de
quiosques voltados para alimentação e bares distribuídos por toda extensão.
70- Espaços livres de uso público

Figura 4: Lagoa Formosa (MG), características Praça Nossa Senhora da Piedade, 2014.

Fonte: CASTRO, Francielle de Siqueira. 2014.


Elisângela Medina Benini (Org.) - 71

Conhecida como a mais antiga da cidade, a Praça Nossa Senhora da Piedade, ou Praça da Matriz (figura
4) como é comumente conhecida, é datada desde o início da aglomeração urbana, confundindo-se com a própria
história da cidade. Carrega até os tempos atuais as características de um local de lazer e descontração da
população. É nela que acontecem os principais eventos, festividades e apresentações culturais do município. A
mesma conta com um palco com toda estrutura de camarins e banheiros para realização desses eventos, além de
quiosques voltados para alimentação e bares distribuídos por toda extensão.
Chama atenção por seu tratamento paisagístico e organização. Os caminhos construídos de cimento
levam a um chafariz ao centro da área verde e também contribuem para formação de canteiros que proporcionam
abrigo às espécies arbóreas. Apresenta maior número de árvores, no total o montante é de 117 exemplares
distribuídos em seis espécies diferentes, sendo elas: alumi (Chamaecyparislawsoniana), palmito açaí (Euterpe
oleracealembrar), palmeira imperial (Roystonea Regia), falso cacau (Pachira aquática), oiti (Licania tomentosa). É
importante ressaltar que não foi possível a identificação de uma das espécies do local.
Um ponto importante a salientar é que a praça abriga um dos principais templos religiosos da cidade, a
Igreja Nossa Senhora da Piedade, que leva o nome da padroeira da mesma. O local é frequentado pela população
durante os finais de semana como meio de lazer, visto que a cidade não conta com nenhum outro atrativo para tal
função e no meio de semana também é um ponto de movimentação por abrigar ao seu entorno duas Escolas.
Perante as informações levantadas nos trabalhos de campo é possível analisar que dos 20 mobiliários
tomados como referência na metodologia proposta 19 deles são encontrados nas praças estudadas e desses,
78,9% foram classificados na cor verde, o que representa um ótimo estado de conservação, 18,4% foram
apreciados em bom estado de conservação representada pela cor azul e 2,7% representados pela cor amarela estão
em estado regular. Isso aponta uma preocupação do poder público para com as praças do setor central da cidade,
não significando que todos os espaços verdes, distribuídos pela cidade estejam com a mesma configuração. Com
72- Espaços livres de uso público

relação às espécies arbóreas foi catalogado aproximadamente 286 exemplares, distribuídos em 12 diferentes
espécies, das quais ganham destaque a palmeira imperial (Roystonea Regia) com 99 exemplares registrados, o oiti
(Licania Tomentosa) com 72 e o bálsamo (Schinusmolle) com 53 árvores catalogadas.

Tabela 1: Lagoa Formosa (MG), espécies arbóreas catalogadas, 2014.

Nome Popular Nome científico Praça 6 Praça 9 Praça 11 Total


Falso Cacau Pachiraaquatica 2 2
Palmeira Imperial Schinusmolle 61 38 99
Balsamo Roystonea Regia 3 50 53
Coqueiro Jeriva Syagrusromanzoffiana 12 12
Chuva de ouro Cassia fistula 8 8
Sibipiruna Caesalpiniapeltophoroides 1 1 2
Cedro Cedrelafissilis 2 2
Mogno Swieteniamacrophylla 1 1
Oiti Licania tomentosa 72 72
Alumi Tabebuia chrysotricha 3 3
Palmito Açaí Euterpe oleracea 1 1
Ipê Amarelo Chamaecyparislawsoniana 1 1

Fonte: CASTRO, Francielle de Siqueira. 2014.

Enfim, a reflexão aqui proposta, fundamentada nos elementos empíricos e sua relação com os
pressupostos teóricos, faz ressaltar a importância das áreas verdes no contexto das cidades. Considerando seus
atributos, tais espaços são fundamentais no sentido de assegurar a melhoria da qualidade de vida dos citadinos,
seja do ponto de vista estético, ecológico ou ambiental. As áreas verdes urbanas devem estar sempre na pauta
Elisângela Medina Benini (Org.) - 73

daqueles que planejam e fazem a gestão das nossas cidades. Dessa forma, esses espaços vegetados precisam ser
pensados vinculados ao processo de produção e expansão da cidade, enquanto bens públicos e patrimônios
verdes de nossas cidades.

3 CONCLUSÃO

A inclusão das áreas verdes junto aos sistemas de planejamento urbano vem acontecendo
paulatinamente, visto que ainda é considerada uma temática de pouca relevância para o desenvolvimento e
estruturação urbana, ou seja, parece sempre relegada ao segundo plano pelos gestores urbanos. Porém, já é visível
nas discussões ambientais a necessidade de uma atenção maior para as discussões acerca do assunto, não apenas
nas grandes cidades, já dominadas pela degradação do ambiente, mas em cidades de pequeno porte em que,
apesar de sofrer uma degradação com menos intensidade, é possível que as soluções sejam mais eficazes.
A partir dos estudos realizados foi possível perceber que as áreas verdes centrais são as que recebem
maior atenção do Poder Público quanto a sua preservação e manutenção, além das mesmas se destacarem com
maior número de equipamentos e os melhores estados de conservação se comparadas as demais. Foi perceptível
durante os trabalhos de campo que a preocupação com implantação de praças não tem sido prioridade. Desde o
início da pesquisa no ano de 2012 foram implantados três novos bairros e em apenas um deles tem-se o projeto
de implantação de novas praças.
O desenvolvimento do trabalho apresentou que há uma necessidade de implantação de um plano de
áreas verdes urbanas, ou mesmo, um grupo que se encarregue de gerir esses espaços. Para isso é necessário que se
conheça o patrimônio verde da cidade, considerando seus pontos potenciais e os de fragilidade.
74- Espaços livres de uso público

Essa falta de tomada de atitude não só do poder público, mas também a falta de comprometimento e
envolvimento da comunidade para com as praças, faz com que haja um declínio na qualidade dessas áreas,
propiciando o aumento da depredação dos locais de uso coletivo. E como aponta Loboda (2003, p.153) “locais
com potencial para a prática do lazer com uso efetivo acabam tornando-se meros espaços avulsos na malha
urbana, e o que é pior, não visto como essenciais para o bem estar coletivo”. E é assim que deixamos aqui nossa
contribuição para quem sabe termos no futuro uma melhoria na qualidade de vida urbana de nossa cidade.

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76- Espaços livres de uso público

4º Capítulo

A PRAÇA CÍVICA DE SÃO JOSÉ DO


RIO PRETO: MARGINALIDADE E
POLITIZAÇÃO NO ESPAÇO
PÚBLICO
Elisângela Medina Benini (Org.) - 77

A PRAÇA CÍVICA DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO: MARGINALIDADE E


POLITIZAÇÃO NO ESPAÇO PÚBLICO

Evandro Fiorin
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo, UNESP – Campus de Presidente Prudente-SP / Docente do Curso de Arquitetura e Urbanismo.

E-mail: evandrofiorin@fct.unesp.br

Júlia Amarante de Souza


Discente de Arquitetura e Urbanismo, UNESP, Bolsista IC-FAPESP. E-mail: juhliaa@hotmail.com

Laura de Araújo Faria


Discente de Arquitetura e Urbanismo, UNESP, Bolsista PIBIC-CNPq. E-mail: lah_faria@hotmail.com
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5
Os projetos do Parque Setorial fizeram
INTRODUÇÃO parte do Plano Diretor de Desenvolvimento,
1965, que consistia em uma Lei de
Zoneamento vigente pela lei nº 1143 de 20
de novembro de 1965 na qual regularizava o
uso, ocupação do solo e volume das
Este trabalho lê uma área urbana no centro da cidade de São José do Rio Preto, no interior do Estado de edificações. O plano buscava um conjunto de
São Paulo, que sofreu várias intervenções ao longo do último século. No passado dava lugar a um galpão de projetos e medidas, desenvolvidos no final da
década de 70, pelos arquitetos Jamil Kfouri e
beneficiamento agrícola, atrás da Estação Ferroviária, o qual na década de 70 foi demolido para ser ocupado por MirthesBaffi, para proteção ambiental do
Rio Preto e córrego do Piedade, prevendo a
um conjunto de edifícios modernistas. Porém, esse projeto moderno foi apenas parcialmente construído. Devido urbanização de vários trechos ao longo do
vale, tais como a implantação do Parque da
a entraves financeiros e políticos, além de um superdimensionamento da obra, apenas um edifício modernista foi Represa e do Conjunto de Lazer e Esportes
“Tutu Braga”, entre a Avenida
construído e a área ganhou um projeto paisagístico mais simplificado, porém rico em áreas verdes, como parte PhiladelphoGouvea Neto, os trilhos da
integrante do parque setorial de São José do Rio Preto5. Nesse local foi instituída a Praça Cívica de São José do Fepasa, a ponte Maria Benta e os viadutos
da Jordão Reis, no centro da cidade de São
Rio Preto, mas, por várias razões, esta foi se transformando em um espaço deteriorado, dotado de usos marginais José do Rio Preto. A proposta inicial do
trabalho foi estudar meios para viabilização
e, mesmo assim, com grande importância sociocultural para a cidade, pois eventos importantes são lá realizados e do Parque de fundo de Vale indicado nos
estudos de Áreas Verdes e Espaços Abertos
fazem dela um lugar aberto às possibilidades. Entretanto, recentemente o governo municipal cogita a substituição do Município de São José do Rio Preto. O
trabalho foi dividido em duas fases, nas
dessa praça por um terminal de ônibus interurbanos, o que desencadeou nas redes sociais e na internet um quais a primeira foi reservada para
movimento que visa demonstrar a ocupação desse local pela comunidade em geral. Nesse sentido, construímos pesquisas dos vales dos rios relacionados com
a área em questão, sendo eles o Vale do Rio
aqui uma leitura histórica desse lugar e as dinâmicas que entrecruzam a dimensão cultural, social e política dessa Preto, Vale do Córrego do Piedade, Vale do
córrego da Felicidade, Vale do Córrego da
área verde para a cidade de São José do Rio Preto, no intuito de revelar a importância pública dessa praça. Onça e Vale do Córrego do Macaco e estudo
dos Planos de Desenvolvimento da Cidade,
que na época seguiam o Plano de
Zoneamento vigente desde 1965. No que diz
respeito a segunda parte do trabalho, foram
A PRAÇA CÍVICA DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO colocadas em prática as diretrizes para
aplicação da legislação sobre a área do
parque, delimitação das áreas do mesmo e
das áreas de influência e pesquisas para
A chegada da ferrovia à cidade de São José do Rio Preto, no interior do Estado de São Paulo, Brasil, no desenvolvimento dos projetos para
minimização das enchentes do rio nas áreas
início do século XX trouxe importantes mudanças estruturais ao espaço urbano. O município passou a ser o de inundações.
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centro do comércio e dos serviços da região noroeste de São Paulo, além de polo difusor de ideias, devido ao
incremento de sua economia e seu crescimento populacional.

Figura 1: Máquina de beneficiamento de grãos demolida (local onde se localiza a Praça Cívica).

Fonte: Arquivo Público Municipal, 1970.

Em 1912, a área escolhida para implantação da estação ferroviária, próxima à área central da cidade, fora
criada a partir do aterramento da margem esquerda do Rio Preto. Essa região, em razão da proximidade com a
linha férrea e geografia favorável, também se tornou propícia para dar lugar à industrialização da cidade. Assim,
80- Espaços livres de uso público

aos poucos, o entorno da ferrovia foi sendo ocupado com várias indústrias ligadas à cultura do algodão e de 6
Nessa época a produção de café havia
passado por uma crise, não estando mais
pequenos grãos6, além de inúmeros galpões de armazenagem e beneficiamento. fortemente ligada às riquezas da região,
incitando a busca por novos produtos
Algumas dessas edificações do passado ainda estão de pé. Entretanto, a maioria delas foram demolidas agrícolas mais rentáveis.
para dar lugar à construção da imagem de progresso e modernização, iniciada a partir da década de 1950. Nesses
anos foram chamados vários engenheiros e arquitetos vindos de São Paulo, a pedido da elite rio-pretense e do
poder público local, para satisfazer a opinião popular em relação aos problemas urbanos. Prestes Maia visitou a
cidade, Carlos Lodi e Luis Carlos Berrini, engenheiros do Departamento de Urbanismo de São Paulo, mas não
existem registros de algum deles ter realizado um plano urbanístico para a cidade.

O Prefeito Alberto Andaló, eleito nesse período, vindo de São Paulo, foi o responsável pelo efetivo
intento de modernização. Embora o principal foco do político tenha sido o embelezamento da cidade, Andaló
convocou engenheiros-arquitetos vindos da capital para remodelar São José do Rio Preto. O Eng. Newton
Cerqueira e Silva foi nomeado Diretor do Serviço de Água e Esgoto e, logo iniciou as obras de canalização do
córrego Canela e, em seguida do Borá, originando as avenidas Alberto Andaló (na época Duque de Caxias) e Bady
Bassitt (na época Presidente Roosevelt), dois dos eixos viários da cidade e onde foram construídos alguns dos
mais notórios edifícios modernistas de São José do Rio Preto, a partir desses anos. “Moderníssima”, “muito
ampla”, com canteiro central ajardinado, iluminação fluorescente e passeios de três metros de cada lado em petit
pavê – eram os adjetivos destacados pela imprensa local sobre a recém-construída Avenida Alberto Andaló.
Contratou também o Engenheiro Heitor José Eiras Garcia para realizar a remodelação das praças e a urbanização
da represa. O engenheiro-arquiteto identificou mais problemas referentes à organização da cidade e propôs, além
do plano de melhoramentos urbanos, a elaboração de um plano geral de urbanização. Esse plano se caracterizava
pelo “anteprojeto para o sistema viário, verdes e futuros centros de unidade de vizinhança”, e o “Zoneamento”
que seria baseado na Lei 535/58 – Zoneamento, Uso, Ocupação e Volume das edificações, aprovado na íntegra
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pela Câmara Municipal em 25 de fevereiro de 1958 (FRANCISCO, 2007).

Nesse período a cidade assistiu suas antigas praças arborizadas serem destruídas em favor de um
7
O termo “caipira” está ligado às tradições desenho moderno, seu casario baixo ser substituído por edifícios em grande altura, e a chamada “cultura caipira” 7
que foram trazidas pelo homem do campo
para as cidades do interior paulista e por sua ser renegada pelos ideais progressistas dos profissionais vindos da capital paulista (FIORIN; FRANCISCO, 2013),
simbiose com a natureza, dada sua origem
nômade. Cf. CANDIDO, A. Os parceiros talvez vinculada ao ideário pouco distorcido de modernização do país, advindo com a construção de Brasília. Ao
do Rio Bonito: estudo sobre o caipira
paulista e a transformação dos seus meios de mesmo tempo, os planos de Eiras Garcia tiveram alguns desdobramentos positivos, principalmente, no Plano
vida. 9ª ed. São Paulo, Duas Cidades, Ed.
34, 2001. Diretor do município de 1965 que instituía os projetos para o Parque Setorial de São José do Rio Preto – uma
antevisão do plano do engenheiro-arquiteto paulistano.
Os projetos para o parque saíram do papel através do trabalho dos arquitetos da ERPLAN – Escritório
Regional de Planejamento – Mirthes I. S. Baffi e Jamil José Kfouri. O plano de implantação elaborado por eles
fixa o parque principalmente nas áreas ainda não ocupadas dos vales do Rio Preto e Piedade, estendendo-se numa
extensão de dezessete quilômetros, com largura média de trezentos metros e uma área de quinhentos e dez
hectares, onde se localizam, no Vale do Rio Preto: o Manancial – atual represa de abastecimento de água (em
processo de assoreamento); equipamentos de recreação – Centro Social e Esportivo Municipal, o Centro Social e
Esportivo do SESI, Auto-Cine, Praça Cívica, Praça da Estação de Tratamento de Água e o Palestra Esporte
Clube; áreas de propriedade municipal – viveiro municipal; áreas isoladas próximas da represa; faixas de proteção
do Rio Preto; áreas remanescentes dos viadutos e entroncamentos das avenidas e marginais; as instalações da
antiga fábrica Swift (hoje um teatro); áreas livres e particulares entre a ferrovia e o Rio Preto; áreas de ocupação
urbana – loteamentos e áreas para a implantação de controles de enchente; reservas de áreas para futuras
implantações de pequenas represas, diques, galerias e outros. No Vale do Córrego do Piedade: a faixa de proteção
do córrego; instalações particulares de um frigorífico e curtume; loteamentos; glebas; uma área de propriedade
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municipal inclusa no Distrito Industrial; Horto Florestal e áreas destinadas ao controle de enchentes (PEREIRA;
FIORIN, 2010).

Figura 2: Planta da Reorganização e Proposições para implantação do Parque Setorial na cidade de São José do Rio Preto.

Fonte: KFOURI; BAFFI, 1977.


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No trecho “A” do plano de reorganização do Parque Setorial está localizada a Praça Cívica. No trecho
“B1” está localizado o lago 1 da Represa Municipal de São José do Rio Preto. No trecho “B2” encontramos o
lago 2, o conjunto esportivo do SESI, restaurantes, bares e uma extensa pista de caminhada. No entanto, apenas
nos deteremos aqui no estudo do trecho “A” do plano de reorganização do Parque Setorial. Nesse local foi
instituída a Praça Cívica de São José do Rio Preto.
Diante dessa proposta foi realizado um concurso de projetos para a construção de uma praça cívica atrás
da estação ferroviária (no trecho “A” da figura acima), composta por conjunto de edifícios modernistas. Pari passu
à obsolescência da ferrovia no país e à diminuição da atividade industrial na região central, galpões de
armazenamento foram demolidos para construir a nova praça. A ideia apresentada pela Prefeitura Municipal de
São José do Rio Preto pretendia abrir a perspectiva de um empreendimento viável economicamente, aproveitando
o setor comercial da cidade. O concurso teve como vencedores os arquitetos Ernani Vilela, José Luiz Gonçalves e
o engenheiro civil José Gonçalves Toscano, além da equipe de consultores, auxiliares e colaboradores.
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Figura 3: Projeto da Praça Cívica Modernista

Fonte: Acervo Pessoal – Imagem do Folder de Divulgação do Projeto da década de 1970.

O projeto premiado consistia na implantação de um centro comercial, museu, biblioteca, concha acústica
e área verde. Com uma área total de 17.500 metros quadrados de construção, o projeto proposto contava com:
5.400 metros quadrados de área para o museu, que ocuparia um bloco longitudinal e sua fachada se assentaria
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sobre dois espelhos d'água; estimava também 4.800 metros quadrados de área para a biblioteca, na qual a proposta
era romper com os espaços tradicionais criando locais de literatura ao ar livre protegidos do sol; outros 1.000
metros quadrados para a concha acústica, elemento escultórico que ocuparia a ala direita do conjunto (sob a laje
do palco se situariam os camarins e sob a arquibancada os sanitários); mais 6.600 metros quadrados destinados ao
centro comercial, que seria circundado por um parque de estacionamentos arborizado delimitado por áreas
cobertas. O acesso a esse bloco se faria pelo pavimento inferior, onde se localizaria um amplo hall, alcançando os
escritórios através das caixas de escadas e elevadores. Uma rampa circular ofereceria em escala gregária uma
circulação vertical fluente passando pelo setor de lojas até alcançar os restaurantes e os jardins de cobertura. O
restante contemplaria as áreas verdes. No entanto, por divergências políticas e problemas financeiros, somente um
edifício foi construído, a Biblioteca Municipal. Dada sua escala monumental, destoante do contexto, um novo
projeto paisagístico fora elaborado para mitigar seu impacto e dar novo uso ao conjunto que não fora
8
A prefeitura contratou novamente os concretizado8. Hoje, esse edifício abriga além da Biblioteca Municipal, a Secretaria de Cultura do Município de
arquitetos da ERPLAN - Escritório
Regional de Planejamento – Mirthes I. S. São José do Rio Preto e a Pinacoteca.
Baffi e Jamil José Kfouri, para o novo projeto
paisagístico da Praça Cívica “Leonardo
Gomes”. A Praça Cívica “Jornalista
Leonardo Gomes” recebe esse nome em
memória do jornalista Leonardo Gomes, que
foi o fundador do jornal “A Notícia” e
registrou por dezenas de anos a história e
pujança de São José do Rio Preto. No
projeto dos arquitetos da ERPLAN a
praça foi destinada às manifestações cívicas e
culturais da cidade. São aproximadamente
trinta e oito mil metros quadrados que fazem
parte do Parque Setorial do Vale do Rio
Preto e Córrego do Piedade.
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Figura 4: Novo Projeto Paisagístico da Praça Cívica de São José do Rio Preto (Mirthes I. S. Baffi e Jamil José Kfouri)

Fonte: WISSENBACH, 1982.

Mesmo assim, o caráter cívico do lugar, entravado pela barreira da ferrovia, talvez nunca tenha sido, até
então, concretizado, pela dificuldade de acesso da população ao local. Com o passar do tempo a Praça foi
ganhando um aspecto de abandono, iluminação deficiente no período noturno, bancos velhos e vegetação sem
cuidados. Atualmente, sua imagem urbana é lida pela maioria da comunidade rio-pretense, pelo viés da
marginalidade, como um lugar perigoso, pois é utilizada, predominantemente, como abrigo para pessoas em
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situação de rua, usuários de drogas e prostituição.

Figura 5: Marquise da Biblioteca Municipal sendo utilizada como abrigo de moradores de rua.

Fonte: SOUZA; FIORIN, 2014.

Entretanto, ocasionalmente ocorrem eventos que fogem ao cotidiano do local. Durante alguns anos, a
praça foi o espaço oficial para que ocorresse a Bienal do Livro, também se transformou em palco para dar lugar
ao importante Festival Internacional de Teatro (FIT) de São José do Rio Preto. Abrigou, em 2013, shows musicais
promovidos pelo Governo do Estado de São Paulo para a Virada Cultural Paulista. Esporadicamente o local é
utilizado para o ensaio para a Bateria da Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho’’ Campus de São
88- Espaços livres de uso público

José do Rio Preto. Nessas oportunidades, surgem novos imaginários para a praça cívica e esta, enfim, assume o
seu caráter eminentemente cívico, entrecruzando os usos marginais do lugar e os novos atores sociais, que juntos
constroem um espaço de possibilidades e de coexistência do diverso. Assim, talvez, a poesia, o teatro, a música e
9
9
Segundo FERRARA (1998), apenas
o som da bateria sejam passíveis de inverter o recrudescimento do espaço, sob a lógica de um “carnaval” . durante o carnaval, os signos de demarcação
dos níveis sociais são subvertidos. Isto
porque, as fantasias carnavalescas permitem
Figura 6: Praça Cívica no Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto em 2013. uma indistinção entre ricos e pobres, erudito e
popular, privado e público. Desde a época
medieval, nos dias de carnaval, a cidade se
constituía como um espaço livre,
eminentemente do povo, pois se afirmava
como o lugar da inversão.

Fonte: FIORIN; SOUZA; MORENO, 2014.

Recentemente a Prefeitura Municipal de São José do Rio Preto propôs um projeto que elimina a Praça
Cívica para a construção de um novo Terminal Rodoviário Urbano. Por conta disso, surge um movimento entre
os cidadãos locais, que luta contra essa proposição governamental. Essa ação é conhecida como “Na Praça é de
Graça’’10 e tem o objetivo de demonstrar a importância desse espaço para os habitantes da cidade.
Elisângela Medina Benini (Org.) - 89
10
O Movimento “Na Praça é de Graça’’
segue a linha de outros movimentos como o
“Você Praça Acho Graça, Você Prédio Essa manifestação se revela como uma forma de politização que incita a utilização da praça cívica e uma
Acho Tédio’’ idealizado pelo jornalista e
artista Dafne Sampaio que disponibilizou o efetiva publicização do seu espaço. Por meio das redes sociais: facebook e twitter; mais pessoas são convidadas a
estêncil com os dizeres do movimento em seu
blog e com isso conseguiu que eles fossem participar de eventos promovidos no lugar. As mídias eletrônicas, como o youtube, são utilizadas para difundir
espalhados por várias cidades do país.
vídeos que demonstram a diversidade de usos que têm ocorrido nas imediações da praça e para enviar um convite
à população em fazer parte desses acontecimentos configurando, salvo engano, uma espécie de “sítio eventual”
11
Seguindo o pensamento do filósofo francês no local11.
Alain Badiou: “...frente ao regime de
consensos que tem engessado os vínculos
sociais, a possibilidade da ocorrência, mesmo Figura 7: Praça Cívica de São José do Rio Preto.
que rara, de heterogeneidades, se dá
necessariamente por ações políticas
desencadeadas por um evento”. Cf.
SPERLING, D. M. Espaço e Evento:
considerações críticas sobre a arquitetura
contemporânea. Tese (Doutorado em
Arquitetura) – Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo, Universidade de São Paulo,
2008, p. 15.

Fonte: ROCHA, s.d.


90- Espaços livres de uso público

Diante desses recentes episódios, um processo democrático de esclarecimento, por parte dos cidadãos,
acerca de si próprios e do que está em jogo (por exemplo, a perda da praça como um espaço verde; a falta de
lugares de encontro; uma ágora a ser preservada; o questionamento sobre o que fazer com as pessoas em situação
de rua; o uso de drogas na praça e a própria ocorrência de prostituição; dentre outras questões passíveis de serem
suscitadas) pode, nesse sentido, vir a se instaurar. E, na concreção dessa hipótese, de algum modo, mediante
condições incertas, dadas pela ebulição de devires, pela surpresa e pela aprendizagem coletiva, é que a ação
política pode ser capaz de modificar, estabelecer, ou negociar distinções, abrindo brechas para a consecução de
12
uma democracia criadora12. INNERARITY, D. O Novo Espaço
Público. Lisboa, Teorema, 2006, p. 65.

CONCLUSÃO

Perante a crescente dificuldade, no contexto mundial e, especialmente, na cidade contemporânea


brasileira, de termos espaços efetivamente públicos, nos deparamos com a Praça Cívica de São José do Rio Preto.
Um lugar rico em possibilidades, pois contempla uma multiplicidade de usos e pessoas em um mesmo local
convivendo simultaneamente, algo que na conjuntura das nossas atuais cidades médias é cada vez mais raro
devido à segregação sócio-espacial eminente. Desta forma, acreditamos que esta praça cumpra seu papel cívico,
apesar das suas peculiaridades de toda a ordem e deva ser preservada e privilegiada com maior valorização dos
seus espaços, de maneira que mudanças sem sentido, como a construção de um Terminal Rodoviário Urbano em
seu local, não alterem os encontros espontâneos ou organizados, possíveis entre os seus diferentes usos e camadas
sociais, seja nos eventos promovidos ou, quiçá, no dia a dia da sua rotina cotidiana. E, principalmente, que os
novos ensejos dos projetos do poder público, não contribuam para a sua desocupação. O maior desafio, no
Elisângela Medina Benini (Org.) - 91

entanto, é projetar tendo em mente, como objetivo final, o incremento das relações humanas e o sentido
democrático do espaço público.

REFERÊNCIAS

CANDIDO, A. Os parceiros do Rio Bonito: estudo sobre o caipira paulista e a transformação dos seus meios de vida. 9ª ed. São
Paulo: Duas Cidades: Ed. 34, 2001.

FERRARA, L. D. O Olhar Periférico. São Paulo: Edusp, 1998.

FIORIN, E.; FRANCISCO, A. M. Planejamento e Patrimônio: O urbanismo modernizador da década de 1950 em São José do Rio
Preto e suas consequências para o “progresso’’ da cidade. Anais do Encontro nacional sobre preservação do patrimônio edificado.
Salvador: Bahia, 2013.

FIORIN, E. SOUZA, J. A.; MORENO, T. R. Hashtag-City: Constructing a New Public Space at Civic Square in São José do Rio Preto,
São Paulo, Brazil. Anais do UrbanIxDSymposium: City | Data | Future. Veneza: Telecom Itália, 2014.

FRANCISCO, A. M. Arquitetura e Cidade: habitação vertical em São José do Rio Preto-SP. Tese (Doutorado em Arquitetura) –
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, 2007.

INNERARITY, D. O Novo Espaço Público. Lisboa, Teorema, 2006.

KFOURI, J. J.; BAFFI, M. S. Estudo preliminar das áreas verdes e espaços abertos de São José do Rio Preto-SP. São José do Rio
Preto-SP: ERPLAN-PMSJRP, 1977.

PEREIRA, M. R.; FIORIN, E. Um projeto-paisagem de ordem histórica e cultural: a Praça Cívica de São José do Rio Preto, São Paulo
(projeto de Jamil Kfouri e MirthesBaffi). Apresentação no Seminário Patrimônio Histórico de São José do Rio Preto. São José do
Rio Preto: IBILCE-UNESP, 2010.
92- Espaços livres de uso público

ROCHA, E. Evandro Rocha. Disponível em: <http://www.evandrorocha.com.br/>. (Acesso em 22 jul. 2014).

SOUZA, J. A.; FIORIN, E. São José do Rio Preto: patrimônio e marginalidade ao longo do leito férreo. Anais do XII Congresso
Internacional de Reabilitação do Patrimônio Arquitetônico e Edificado. Bauru-SP: UNESP, 2014.

SPERLING, D. M. Espaço e Evento: considerações críticas sobre a arquitetura contemporânea. Tese (Doutorado em
Arquitetura) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, 2008.

WISSENBACH, V. (ed.) Caderno de Arquitetura Vol. 11/Paisagismo II. São Paulo: Projeto Editores Associados, 1982.

AGRADECIMENTOS

À Tâmara Rodrigues Moreno pela colaboração nos levantamentos e análises junto ao projeto de extensão “Blog da Praça Cívica de São
José do Rio Preto-SP” (Processo no. 093/2014 / Fundação de Amparo à Pesquisa e Extensão de São José do Rio Preto (FAPERP), o
qual pode ser acessado no endereço:http://redesenhourbano.wix.com/pracacivicariopreto

À Mariana Rocco Pereira, nossa ex-aluna de graduação de São José do Rio Preto-SP.

Processo no. 2013/07026-5 / Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).

Processo no. 470634/2013-8 / CNPq e PIBIC-CNPq pela bolsa concedida.


5º Capítulo
Elisângela Medina Benini (Org.) - 93

ESTUDO SOBRE A ACESSIBILIDADE


NAS PRAÇAS DO MUNICÍPIO DE
MAMBORÊ-PR
94- Espaços livres de uso público

ESTUDO SOBRE A ACESSIBILIDADE NAS PRAÇAS DO MUNICÍPIO


DE MAMBORÊ-PR

Silvana de Jesus Galdino


Geógrafa, Mestranda da Universidade Estadual de Maringá no Programa de Pós-graduação em Engenharia Urbana.
E-mail: silgaldino@outlook.com.

Camila Lima Chechin Camacho Arrebola


Arquiteta e Urbanista, Mestranda da Universidade Estadual de Maringá no Programa de Pós-graduação em Engenharia Urbana.
E-mail: carrebola_3@hotmail.com.

Carlos Humberto Martins


Engenheiro Civil, Professor do Departamento de Engenharia Civil da Universidade Estadual de Maringá.
E-mail: chmartins@uem.br.
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INTRODUÇÃO

Embora o termo acessibilidade seja amplamente discutido em termos de planejamento, a maioria das
cidades brasileiras ainda não consegue garantir infraestrutura adequada aos seus usuários (AGUIAR, 2010). Em
todo o mundo, a persistência de barreiras no processo de busca e utilização dos serviços gera oportunidades
diferenciadas entre os grupos sociais na obtenção do cuidado em saúde, que muitas vezes caracterizam situações
de injustiça social (TRAVASSOS; CASTRO, 2008).
Dentre as dificuldades encontradas, a principal está em garantir acessibilidade em espaços de uso comum
dos cidadãos. Esses locais devem atender às normas, seguir critérios, parâmetros técnicos para facilitar a
mobilidade e acessibilidade, principalmente daqueles que possuem alguma limitação temporária ou definitiva de
mobilidade de forma a proporcionar a esses indivíduos a utilização de maneira autônoma e segura dos ambientes.
A inclusão social hoje é considerada um importante tema na realidade nacional, surgindo como uma
obrigação através da Lei nº 7853 de 1989, regulamentada pelo Decreto 3298/99, que estabelece os preceitos
fundamentais e os princípios de igualdade e não discriminação entre os cidadãos brasileiros.
Atualmente não se pode pensar inclusão sem que haja acessibilidade. E foi a partir do ano de 2004 com
a NBR 9050 – Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos, que ganhou maior
destaque na vida dos portadores de dificuldades locomotoras, podendo ser uma mulher grávida, um idoso, uma
pessoa que utilize cadeiras de rodas, bengalas ou muletas. A lei consiste na possibilidade e condição de alcance,
percepção e atendimento para a utilização com segurança e autonomia de edificações públicas e privadas, espaço,
mobiliário e equipamentos urbanos.
96- Espaços livres de uso público

Acessibilidade está inserida no contexto social auxiliando as pessoas com deficiências físicas, auditivas e
visuais, contendo a responsabilidade de atender às determinações legais e sociais; criando serviços que garantam o
acesso, ingresso e a permanência dos mesmos nos ambientes.
A cidade é constituída pela integração de elementos como ruas, calçadas, praças, edificações e pessoas,
mas no Brasil as cidades ainda buscam a adequação desses espaços para assegurar acessibilidade e viabilizar a
integração das pessoas com deficiência nos espaços de convívio.
Ainda segundo a norma, todos os espaços de uso comum que venham a ser projetados, construídos,
reformados, ampliados, bem como equipamentos, devem atender às normas para ser considerados acessíveis.
Atender às diferentes necessidades significa garantir condições necessárias ao acesso a todos os locais,
contribuindo de forma ativa no desenvolvimento da sociedade e derrubando discriminações existentes (SEPED,
2005).
O desenho do espaço e as características físicas influenciam de maneira direta e indiretamente na
mobilidade e acessibilidade das pessoas (AGUIAR, 2010). A forma de uso e ocupação do solo adjacente às
calçadas, rampas, equipamentos localizados em locais inadequados, degraus e passeios degradados, fora das
normas estabelecidas por lei, dificultam a acessibilidade de seus usuários (MARTINS; AUGUSTO, 2012).
Ainda para Martins e Augusto (2012), a maior limitação das pessoas não está em sua deficiência física ou
motora e sim na inadequação do espaço construído de acordo com as normas. Dessa forma, os indivíduos com
mobilidade reduzida são impedidos de ter acesso aos espaços como um direito universal.
De acordo com Costa e Meira (2008), o espaço construído exerce um papel fundamental na superação
das desigualdades físicas e sociais. A acessibilidade é também uma questão de qualidade de vida e está relacionada
a fatores como o conforto e a segurança.
Elisângela Medina Benini (Org.) - 97

Locais públicos ou privados de uso comum devem oferecer garantia de acessibilidade a todos os
usuários. Diante do exposto, esta pesquisa teve por objetivo identificar e avaliar os principais pontos críticos de
acessibilidade nas Praças das Flores, João Szesz e Marechal Candido Rondon da cidade de Mamborê no Paraná,
assim como o enquadramento das mesmas quanto às normas, de modo a fornecer subsídios para futuros
trabalhos que contribuam para melhor planejamento de espaços públicos.

MATERIAL E MÉTODOS

A presente pesquisa foi realizada no município de Mamborê no Paraná, localizado na Mesorregião


Centro-Ocidental Paranaense, a 481 quilômetros de distância da capital do estado (IPARDES, 2011). Apresenta
aproximadamente 788 km² de área, localizado nas coordenadas de 24º17’30” Sul e, 52º31’10” a Oeste, com
altitude de 980 m, com população de 13.961 habitantes. Destes 64% residem perímetro urbano (Figura 1) (IBGE,
2010).
98- Espaços livres de uso público

Figura 1: Perímetro urbano do município de Mamborê - PR

Fonte: GOOGLE, 2014; Org. Autores, 2014.

De acordo com dados do IPARDES (2011), o município faz parte da Microrregião Homogênea 286 e
pertence à COMCAM - Comunidade dos Municípios da Região de Campo Mourão, limitando-se com Campo
Mourão e Farol ao Norte, com Boa Esperança e Juranda a Oeste, com Campina da Lagoa e Nova Cantu ao Sul e
com Luiziana a Leste. O clima do município é Subtropical Úmido, sendo a média pluviométrica anual de 1.500
mm e média de temperatura de 20ºC (KOPPEN, 1931).
Elisângela Medina Benini (Org.) - 99

A análise foi embasada nas normas da ABNT e lei municipal, por meio de pesquisa observacional,
centrada em fatos, mapeando as condições de acessibilidade ao usuário com dificuldades locomotoras no
ambiente do espaço público. Partindo de um diagnóstico das estruturas e barreiras arquitetônicas existentes, em
que se verificará a compatibilidade com as normas.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Ao abordar questões pertinentes à inclusão e acessibilidade de pessoas com algum grau de deficiência
definitiva ou temporária é comum à referência imediata aos aspectos relativos às barreiras arquitetônicas por
serem bastante visíveis. A acessibilidade física é uma necessidade básica para que todas as pessoas possam
desenvolver suas atividades cotidianas com segurança e comodidade.
As barreiras arquitetônicas são encontradas em diferentes locais e podem estar relacionadas à falta de
planejamento dos projetos. Os obstáculos dificultam no deslocamento de seus usuários; são encontrados na
maioria dos lugares de acesso público, e representam uma importante dificuldade aos portadores de deficiências
nos diversos setores da vida humana (LAMÔNICA et al., 2008). Muitos desses locais desrespeitam as normas e
leis que estabelecem normas específicas de acesso universal.
Mesmo que a legislação exija um conjunto de normas, observa-se que muitas praças não atendem às
necessidades da acessibilidade de maneira eficaz. A partir desse contexto, esta pesquisa tem como objetivo
diagnosticar e comparar as Praças 28 de Julho, das Flores e Marechal Candido Rondon no município de
100- Espaços livres de uso público

Mamborê/ PR junto às normas e legislações, e propor medidas para solucionar os problemas encontrados,
contribuindo assim com a viabilização dos direitos constitucionais de acessibilidade da população.
Após o estudo das legislações foram realizadas visitas às praças, contendo uma ficha com vários itens
sobre a existência de acessibilidade ou não para pessoas com deficiência. Junto à visita foram realizados registros
fotográficos, no auxilio da identificação, mapeamento e quantificando as barreiras arquitetônicas. A análise
indicou quais os pontos que necessitavam mudanças para melhorar a acessibilidade.
As visitas preliminares realizadas nas praças constataram a falta de adequação em suas calçadas e em seu
interior. O calçamento das praças estudadas é contínuo de blocos de concreto intertravado, piso tipo paver. Estes
materiais possuem excelente função estética, no entanto, não se encontram mais no seu posicionamento original,
deslocaram devido à degradação pela ação do tempo e a presença das raízes das plantas, prejudicando o
deslocamento das pessoas (Figura 2).
Elisângela Medina Benini (Org.) - 101

Figura 2: Calçamento das Praças

Fonte: Acervo Pessoal, 2014.

Um dos pontos analisados refere aos aspectos da arborização e calçadas (Figura 3) na Praça das Flores
onde funciona um ginásio de esportes e feira do produtor rural, a qual é realizada todas as quartas-feiras. As
árvores são antigas, de grande porte, dificultando a iluminação do local, além de contribuir para a obstrução das
calçadas de acesso e circulação dos indivíduos que frequentam o local e usufruem das atividades realizadas
frequentemente.
102- Espaços livres de uso público

Figura 3: Praça das Flores

Fonte: Acervo Pessoal, 2014.

A escolha das espécies arbóreas para praças, jardins e parques deve levar em consideração a altura que
essas espécies podem chegar em sua fase adulta, bem como, o tipo de raiz que apresenta o espaço necessário ao
seu desenvolvimento, preferindo assim espécies de pequeno ponte, com raízes que não dependem de espaços
grandes para o seu desenvolvimento. Até mesmo a iluminação pública acaba sendo prejudica pelas espécies de
grande porte e pelas podas mal feitas, causando transtornos para a população que usufrui desse espaço durante a
noite.
Elisângela Medina Benini (Org.) - 103

Na Praça Marechal Candido Rondon (Figura 4) foi observado à existência de inúmeras espécies de
árvores antigas instaladas, dificultando o deslocamento e circulação dos moradores durante à noite. Há deficiência
em infraestrutura urbana, ausência de sinalização tátil de acesso a rampas e equipamentos existentes, de acordo
com os critérios e parâmetros técnicos estabelecidos por lei, para garantir o direito universal de livre acesso aos
espaços públicos.

Figura 4: Praça Marechal Candido Rondon

Fonte: Acervo Pessoal, 2014.


104- Espaços livres de uso público

A descontinuidade de rampas, desníveis fora do padrão, acima do permitido nas normas ABNT,
NBR9050/2004, e a ausência dessas, seguido da falta de sinalização com piso tátil direcional e de alerta, também
torna-se um obstáculo para pessoas com mobilidade reduzida, podendo gerar transtornos e riscos de acidentes. A
instalação de piso tátil direcional e de alerta faz-se necessária para o deslocamento seguro e acessível aos
ambientes.
Os acessos a entradas e saídas devem prever: superfície regular continua estável e antiderrapante;
percurso livre de obstáculos; escadas, rampas ou equipamentos eletrônicos para vencer desníveis; piso tátil de
alerta e direcional e símbolo internacional de acesso para indicar, localizar e direcionar adequadamente as pessoas
com mobilidade reduzida.
Durante o levantamento de dados a campo constatou-se que a Praça 28 de Julho (Figura 5), localizada na
área central do município de Mamborê-PR apresenta melhores condições em termos de infraestrutura e
acessibilidade em se comparando com as outras duas praças analisadas. Todavia, mesmo atendendo a um fluxo
considerável de moradores que a utilizam como local de descanso e lazer nos finais de semana, ela não atende aos
critérios de acessibilidade estabelecidos pela norma ABNT, NBR 9.050/2004, tais como piso tátil direcional e de
acesso aos equipamentos, dificultando a circulação de pessoas com deficiência visual que porventura queiram
frequentar o local.
Elisângela Medina Benini (Org.) - 105

Figura 5: Praça 28 de Julho

Fonte: Acervo Pessoal, 2014.

A dificuldade de acesso, ao contrário do que muitos imaginam, não se restringe apenas aos usuários de
cadeira de rodas. Existem aqueles que possuem mobilidade reduzida temporária, gerada por fatores como idade,
gravidez, deficiência auditiva ou visual.
106- Espaços livres de uso público

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As visitas realizadas revelaram a existência de obstáculos nos acessos as três praças analisadas, tais como:
calçadas degradadas, desníveis no terreno sem sinalização, descontinuidade de rampas e existência de
equipamentos mal planejados e localizados em local inadequado, oferecendo risco de acidentes àqueles com
mobilidade reduzida. Portanto, as mesmas devem adequar-se às normas vigentes e propiciar livre acesso e
qualidade de vida a todos habitantes.
Atualmente as praças, delimitadas no estudo, apresentam falhas quanto à acessibilidade de pessoas com
mobilidade reduzida. Enfrenta grande desafio quanto à universalização da acessibilidade, adequação de
infraestrutura ao conceito do Desenho Universal e às legislações vigentes. Portanto, faz-se necessário adequar a
infraestrutura existente de forma a eliminar as barreiras arquitetônicas, proporcionando a todos o acesso e livre
circulação.

REFERÊNCIAS

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– Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Transportes e Área de Concentração em Planejamento e Operação de transportes) –
Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo: São Carlos, 2010. Disponível em:
www.teses.usp.br/teses/disponiveis/18/.../tde-21042010-193924/?&lang. Acesso em: 05 de setembro de 2014.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 9.050 - Acessibilidade de Pessoas Portadoras de
Deficiência a Edificações, Espaços, Mobiliário e Equipamentos Urbanos. Rio de Janeiro, 2004. Disponível em:
www.centroruibianchi.sp.gov.br/usr/.../ABNTNBR9050_2004. Acesso em: 04 de setembro de 2014.
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COSTA,A. D.; MEIRA, F. A.. A IMPORTÂNCIA DE FORMAR PROFISSIONAIS COMPROMETIDOS COM A


ACESSIBILIDADE E A INCLUSÃO SOCIAL, 2008. Disponível em: periodicos u p r o s indephp e tensaocidadaarticle7 . Acesso
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KÖPPEN, W.; GEIGER, R.Classificação Climática, 1931. Disponível em: www.scielo.br/pdf/brag/v66n4/22.pd. Acesso em: 25
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LAMÔNICA, D. A. C., ARAÚJO FILHO, P., SIMOMELLI, S. B. J., CAETANO, V. L. S. B.,REGINA, M. R. R., REGIANI, D. M.
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MARTINS, N. D.; AUGUSTO, B. Q. T. Acessibilidade no Meio Urbano: Um Estudo de Caso no Jardim Universitário em
Maringá-Pr.III Simpósio de Pós Graduação em Engenharia Urbana. SIMPGEU, 2012. Disponível em:
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SEPED - Mobilidade Acessível na Cidade de São Paulo. Publicação da Comissão Permanente de Acessibilidade (CPA) da
Secretaria Especial da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida (SEPED). Disponível em:
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TRAVASSOS C., CASTRO M, S, M. Determinantes e desigualdades sociais no acesso e na utilização dos serviços de saúde. In:
Políticas e sistema de saúde no Brasil. Rio de Janeiro: Fiocruz, Cebes; 2008. p. 215-243.
108- Espaços livres de uso público

6º Capítulo

DIAGNÓSTICO DA
ACESSIBILIDADE NA ÁREA
CENTRAL DE ARAGUARI –
MINAS GERAIS
Elisângela Medina Benini (Org.) - 109

DIAGNÓSTICO DA ACESSIBILIDADE NA ÁREA CENTRAL DE


ARAGUARI – MINAS GERAIS

Josimar dos Reis de Souza


Geógrafo, Mestrando em Geografia, Programa de Pós-Graduação em Geografia, Universidade Federal de Uberlândia (UFU).
E-mail: josimar.ig.geoufu@gmail.com

Diego Henrique Moreira


Geógrafo, Mestrando em Geografia, Programa de Pós-Graduação em Geografia, Universidade Federal de Uberlândia (UFU).
E-mail: diego_geoufu@yahoo.com.br

INTRODUÇÃO

No espaço urbano ocorrem mudanças que o dizamizam, fazendo-o importante para reprodução social
dos diversos agentes que (re)produzem e controem a cidade. O dinamismo presente nesse lugar fomenta a
interação dos fluxos de pessoas, mercadorias e informações, fazendo que exista uma vida ativa no espaço urbano.
110- Espaços livres de uso público

Corrêa (1995) define que a cidade é o lugar do convívio das pessoas agregando e segregando. Desta
forma é promovida nesse espaço uma grande ambiguidade fazendo-o ao mesmo tempo único e repleto de
complexidades e fragmentações. Nesse sentido se mostra um ambiente cheio de interações de movimento. Frente
a essa realidade é necessário (re)estruturar e planejar a cidade de forma que enfrente os diversos problemas que ela
e seus citadinos enfrentam cotidianamente.
Sobre o planejamento das cidades, Beston (2004) afirma que estas necessitam de demandas e prioridades
a fim de enfentar seus problemas e na busca de um ambiente que promova a consciência sustentável, visto que, o
ambiente natural e o socialmente modificado coexistem em um mesmo espaço e tempo. Entendendo que as
dificuldades em planejar é de maneira escalar, as que possuem maiores contradições são as metrópoles, devido à
carência de recursos, ausência de planejamento e infraestrutura ineficiente, evidenciando a necessidade de
promover planejamento sustentável e consequentemente saudável.
É importande que por meio do planejamento urbano integrado se invista em adequações no âmbito das
políticas públicas para possam contemplar todos os problemas que o crescimento urbano ocasiona nas cidades.
Segundo Alva (2007), a construção de uma cidade sustentável tem como pré-requisitos a reorganização dos
espaços, a melhoria na qualidade de vida da população, a superação das desigualdades socioeconômicas,
fomentando crescimento econômico.
O espaço urbano na perspectiva da cidade sustentável visa ao desenvolvimento igualitário, onde a
minimização dos impactos ambientais, econômicos, culturais e sociais são extremamente importantes, visto que o
crescimento urbano ocasiona constantemente uma perda da qualidade de vida da população. Assim sendo, o
termo “Cidades Saudáveis” deve ser empregado almejando uma melhora na saúde da população.
As cidades saudáveis encontram na sua proposição, diversos componentes. Um deles é em relação à
mobilidade urbana, onde a locomoção das pessoas torna difícil, devido às barreiras arquitetônicas que impedem o
Elisângela Medina Benini (Org.) - 111

acesso irrestrito. Nessa proposição o planejamento urbano deve-se orientar segundo a óptica de melhoria do fluxo
de pessoas e da locomoção das mesmas, sem que ocorra a segregação social.
As cidades saudáveis devem construir, a partir do planejamento, aspectos que visem à adequação do
transporte público, dos aparelhos arquitetônicos e edifícios de uso comum sendo eles púbicos ou privados,
possibilitando que cada indivíduo se locomova com facilidade sem nenhuma restrição. O planejamento urbano
deve ser de forma igualitária, saudável e não excludente, promovendo a toda população melhores condições de
vida.
A mobilidade urbana no planejamento urbano deve promover instrumentos que possibilitem às pessoas
se locomoverem na área urbana sem barreiras que as impeçam de vivenciar a cidade. O Ministério das Cidades
(2006) define que pedestres, ciclistas e usuários de transporte público necessitam ser priorizados pelo
planejamento urbano a fim de uma melhor mobididade urbana, ou seja, o conceito de mobilidade urbana vai além
do transporte urbano e contempla todas as formas de movimentação das pessoas no interior da cidade.
Para que haja uma cidade saudável deve-se tomar o conceito de mobilidade sustentável, no qual o
Ministério das Cidades (2006) destaca a importância da sustentabilidade na mobilidade urbana, que deve
contemplar um conjunto de atividades políticas de transporte e de circulação que priorize os meios não
motorizados e coletivos de transporte e que não gere segregação espacial e sim uma inserção das pessoas.
A mobilidade deve atender a todos sem exceção, promovendo uma cidade para todos. O Ministério das
Cidades (2002) determina que mobilidade precisa ser uma política urbana que priorize de forma central todas as
pessoas, buscando cidades mais justas e que respeitem a liberdade de ir e vir da população.
Sobre a inclusão das pessas com deficiência e ou como mobilidade reduzida o Ministério das Cidades
(2002) orienta que a reformulação dos espaços públicos deve promover a implantação dos conceitos de
mobilidade urbana sustentável. A cidade através da sua dinâmica intraurbana necessita incluir, por meio da ampla
112- Espaços livres de uso público

participação popular, os cidadãos que foram excluídos. Nesse sentido, a atenção voltada para as pessoas com
mobilidade reduzida cumpre importante papel para que haja a inserção das mesmas na dinâmica da cidade.
Por meio de um planejamento urbano, que consiga cumprir todas as metas e processos de adequação da
cidade a todas as pessoas, haverá vários ganhos que podem ser conquistados, seja através da redução do número
de viagens motorizadas, da reorganização do desenho urbano, entre outros. Os veículos que circulam no espaço
urbano devem ser articulados de forma que não coloquem o automóvel como meio prioritário dos
deslocamentos, promovendo o uso de meios não motorizados de transporte, reconhecendo o pedestre como
agente urbano (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2002).
Empregando os conceitos de cidades saudáveis e de mobilidade urbana sustentável esse trabalho
analisará a cidade de Araguari – MG, a fim de analisar as dificuldades e os avanços no planejamento urbano,
visando, assim, a promover uma maior inclusão das pessoas com mobilidade reduzida. Araguari está localizada na
mesorregião do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, com população de 109.779 habitantes (IBGE 2010).
Os municípios de Araguari e Uberlândia produzem uma ação de inter-relação, havendo entre eles a
cooperação de estruturas de saúde, transporte e até de trabalhadores que estão em constante movimento entre as
duas cidades. Freitas (2010) diz que Araguari é uma cidade com problemas de organização dos deslocamentos das
pessoas, os quais podem ser relacionado à ineficiência de políticas públicas.
Perante esse processo de pesquisa sobre cidade saudável e mobilidade urbana, fez-se necessário em um
primeiro momento, de forma metodológica, revisar as bibliografias que tratam sobre o assunto, e assim,
debruçando-se sobre elas, fazer uma melhor abordagem sobre o tema. No desenvolvimento deste trabalho foi
utilizada a metodologia de pesquisa de campo, que se torna importante para a releitura da realidade. A pesquisa
utilizou como base observações proposta por Alves et. al. (2011), que enfatiza que percebendo as estruturas
arquitetônicas que compõem a área central, e também as ruas e praças, torna-se possível evidenciar os
Elisângela Medina Benini (Org.) - 113

instrumentos de acessibilidade como parte estruturante da mesma. Dessa forma, os prédios foram separados em
categorias de serviços em geral, serviços de saúde, órgãos e instituições públicas.
E os instrumentos de acessibilidade analisados na pesquisa seguiram a NBR 9050: rampas,
estacionamentos, portas com acessibilidade, recepção com acesso, sala de espera com local reservado, corrimão
com guarda corpo, corredores com espaço, banheiro adaptado, estacionamento com vaga reservada para
deficiente e idoso, elevadores, atendimento prioritário, bebedouro, telefone público, piso tátil, sinalização sonora
nos cruzamentos, ponto de ônibus com acesso e calçada ampla e com possibilidade de transitar pessoas e cadeiras
de rodas.
A partir da observação da existência ou não dos instrumentos de acessibilidade foram elaborados
quadros e gráficos que possibilitam melhor análise dos dados. Em suma, esta pesquisa visa levantar questões na
construção das cidades saudáveis, bem como mostrar a realidade da cidade de Araguari. E a partir dessa definição
teórica e prática, demonstrar a importância de pensar e entender como é planejada e quais as falhas que são
mostradas com a realização de um trabalho de campo que busca levantar os dados que possam contribuir com a
melhoria da cidade e que possam fazer de Araguari uma cidade mais saudável.
Este trabalho torna-se importante na medida em que busca a construção de interações entre o poder
público e as pessoas com mobilidade reduzida, visto que a legislação brasileira garante o direito à mobilidade a
todas as pessoas independente de suas características físicas e culturais.
Para a ciência geográfica, a incorporação deste estudo no âmbito do pensamento sobre o espaço urbano
visa entender e promover uma melhor qualidade de vida e também atentar às transformações urbanas por meio
do planejamento territorial.
É evidente que existem dificuldades das políticas públicas em atender as demandas em relação à
mobilidade, tornando importante o planejamento urbano, de transporte, visando à incorporação de todos na
114- Espaços livres de uso público

cidade. Diante do exposto, cabe ressaltar a importância do tema para Araguari que, por suas particularidades de
cidade média, apresenta uma configuração espacial distinta de outras cidades do Triângulo Mineiro.

A ACESSIBILIDADE EM ARAGUARI/MG

Araguari está localizada na mesorregião do Triangulo Mineiro/Alto Paranaíba, e na microrregião de


Uberlândia que é composta pelos seguintes municípios: Araguari, Araporã, Canápolis, Cascalho Rico, Centralina,
Indianópolis, Monte Alegre de Minas, Prata, Tupaciguara e Uberlândia (IBGE, 2010).
A cidade possui uma dependência significativa do município de Uberlândia devido à grande proximidade
e também devido ao importante papel regional que essa desempenha, promovendo fluxo de pessoas que migram
de forma pendular de uma cidade para outra para realizar atividades diversas, como trabalho, educação, saúde,
entre outras. Desta forma Araújo (2010, p. 259) expõe que,

Entendendo Araguari, como uma cidade média, é possível afirmar que seu papel está relacionado à oferta
de serviços de educação e saúde, em um grau de complementaridade com Uberlândia, que é o centro de
maior importância na hierarquia urbana do Triângulo Mineiro.

Percebe-se que há uma grande quantidade de pessoas que deslocam entre Araguari - Uberlândia por
meio de ônibus semiurbano. Conforme observa Araújo (2010), o fluxo de pessoas passa de 4.320 diariamente,
revelando dessa maneira a atividade de interdependência espacial que se estabelece entre esses dois municípios.
Elisângela Medina Benini (Org.) - 115

Araguari na microrregião de Uberlândia é o segundo município com maior população, sendo superado
por Uberlândia, conforme é mostrado pelo IBGE (2010). Possui uma densidade demográfica de 40,23 hab/km².
A quantidade de habitantes e também sua importância para a região torna indispensável ter equipamentos urbanos
que possibilitem maior acessibilidade.
O número de pessoas com mobilidade reduzida torna-se difícil quantificar devido à imprecisão dos
dados, mas dados do IBGE (2000) mostram que 14.3% da população, ou seja, 15.708 habitantes possuem algum
tipo de deficiência, sendo 7.573 homens e 8.135 mulheres. E o número de idosos em 2010 é 28.748 habitantes o
que consiste em 26,2% do total da população.
Torna-se difícil saber a quantidade de pessoas com mobilidade reduzida devido à abrangência desse
número, podendo a deficiência ser de forma permanente ou temporariamente. Entende-se que cada pessoa no
decorrer da vida pode vir a ter limitações em sua mobilidade.
Em Araguari existe uma dinâmica espacial peculiar que demonstra a interação das pessoas com a cidade.
Há, segundo Araújo (2010), os seguintes equipamentos urbanos: seis lojas de departamentos, dezenove lojas
filiadas a redes de supermercados, dez agências bancárias, dez hotéis, quatorze imobiliárias, quarenta e quatro
serviços de saúde. Sendo assim, esses serviços tornam-se indispensáveis à cidade provocando nela um aspecto
vivaz, tornando esse lugar ativo perante as interações cotidianas.
No que diz respeito ao atendimento das pessoas com mobilidade reduzida é importante a criação de
equipamentos urbanos que facilitem o acesso aos serviços desenvolvidos dentro da cidade, sendo que a cidade
ainda não conta com plano de acessibilidade. Há sim indícios de preocupação com a melhoria do acesso tendo
alguns estacionamentos com vagas para deficientes e algumas rampas na área central, mas estes instrumentos não
seguem o padrão exigido pela ABNT – NBR 9050.
116- Espaços livres de uso público

O transporte urbano possui no total dez ônibus urbanos, sendo apenas dois acessíveis por meio de
elevadores. No transporte semiurbano não há adaptação para receber as pessoas com mobilidade reduzida. Dessa
forma torna importante ao poder público desempenhar políticas que visem à inserção dessas pessoas na dinâmica
do transporte público.
Segundo Freitas (2010) os deslocamentos das pessoas em Araguari dá-se em 75% por automóvel, 5%
por bicicleta, 5% por ônibus coletivo e 15% a pé. Percebe-se uma dependência em sua maioria do transporte
individual feito por carros e motos, e também um número significativo de pedestres. Percebe-se que devido à
falta de integração modal entre o transporte público as pessoas optam por concluir o trajeto a pé.

Outro fator verificado foi se os pedestres complementam seus deslocamentos com a utilização de outro
modal de transporte, o que foi confirmado pela amostra de pedestres entrevistada. Realidade que reforça a
necessidade da administração pública investir em projetos que contemplem a integração modal na cidade,
principalmente aquela com o transporte público por ônibus. (FREITAS 2010, p.180).

A área central segundo Ribeiro Filho apud Murphy e Vance (1954) é definida segundo os serviços que ela
desempenha como comércio varejista, sedes e escritórios de empresas, órgãos públicos e entidades sociais. A área
residencial, de serviços e de comércios que estão dispostas por todo o espaço da cidade são atividades não
centrais.
Com a definição das atividades centrais e não centrais foi elaborado um mapa (figura 1) que mostra a
área central e o bairro centro de Araguari, e também os pontos mapeados na pesquisa de campo dividindo-os em
categorias de órgãos públicos, serviços, saúde e comércio varejista.
Elisângela Medina Benini (Org.) - 117

Figura 1: Araguari – MG: área de pesquisa dos instrumentos de acessibilidade

Org.: MOREIRA, 2014.


118- Espaços livres de uso público

Analisando o mapa percebe-se que o bairro centro delimitado pela prefeitura de Araguari segue as
principais vias da cidade e a área central foi delimitada segundo os usos e as atividades comerciais e de serviços
concentradas em um ponto dessa região. A área central de uma cidade demonstra grande diversidade de
atividades. Assim, no decorrer da pesquisa em Araguari, foi dividido em categorias de análise que são: os órgãos
públicos, serviços, serviços de saúde e comércio varejista. Da mesma forma foram pesquisadas as vias públicas e
praças, tentado dar um panorama de como se encontra a acessibilidade nessa região da cidade.
Detalhando cada atividade pesquisada, os órgãos públicos contemplaram as atividades ligadas ao serviço
municipal, estadual e federal, como por exemplo: Biblioteca Municipal bem como as igrejas, dada a sua
importância e seu caráter público de instituição que atende todos os tipos de pessoas; serviços em geral, sendo
observado imobiliárias, cartórios, escolas públicas e privadas, lanchonetes e restaurantes, hotel, entre outros;
serviços de saúde considerando-se os hospitais, clínicas e laboratórios; e o comércio varejista compreende as lojas
e galerias comerciais.
Pode-se perceber que para que haja na cidade de Araguari maior interação entre a qualidade de vida e a
mobilidade urbana sustentável e saudável torna-se necessário uma política pública que busque atender a todas as
pessoas, possibilitando melhores condições de acesso e, assim, construir uma cidade cada vez mais saudável e
com melhor qualidade de vida.
Assim, foi pesquisada na área central a presença dos instrumentos de acessibilidade especificados pela
NBR 9050, como rampas, piso tátil, portas com acessibilidade, etc., e com a sistematização dos dados foi
elaborada a tabela síntese dos instrumentos de acessibilidade (figura 2). Nessa tabela percebe-se que há pouca
acessibilidade, devido que pouco se chega a um percentual de 70% de lugares com o mínimo de adaptação
possível. É nítida a pequena preocupação em criar ou mesmo adaptar os espaços para que eles se tornem
acessíveis e saudáveis para todas as pessoas.
Elisângela Medina Benini (Org.) - 119

De todos os instrumentos de acessibilidade levantados, os principais seriam portas com acessibilidade,


rampas, estacionamentos com vaga reservada, sinalização e informação. Através do levantamento evidente que
poucos lugares têm esses instrumentos de acessibilidade. A figura 3 apresenta os Instrumentos de Acessibilidade
nos órgãos públicos da área central de Araguari.

Figura 2: Instrumentos de Acessibilidade

Org.: MOREIRA, 2014.


120- Espaços livres de uso público

Figura 3: Instrumentos de Acessibilidade nos órgãos públicos da área central

Org.: MOREIRA, 2014.

Na categoria órgãos públicos foram pesquisados 15 locais. O que se torna visível é a presença dos
instrumentos de acessibilidade em sua grande maioria em instituições estaduais e federais, entretanto os órgãos
públicos que são de jurisdição do município deixam a desejar em acessibilidade. Somente as rampas e as portas
passam dos 50% (em quantidade por acessibilidade).
Em relação aos serviços de saúde foram pesquisados 12 locais. Percebe-se a inexistência de serviços que
possibilitem uma efetiva locomoção saudável das pessoas. Existem hospitais e clínicas que faltam rampas,
Elisângela Medina Benini (Org.) - 121

informações, estacionamentos, bem como elevadores e bebedouros acessíveis. A porcentagem de instrumentos


não conseguiu alcançar 60% de acessibilidade, e isso mostra a ineficiência em atender as pessoas com mobilidade
reduzida em instituições de saúde. A figura 4 apresenta os instrumentos de acessibilidade nos serviços de saúde.

Figura 4: Instrumentos de Acessibilidade nos serviços de saúde da área central

Org.: MOREIRA, 2014.

Na categoria Serviços (figura 5) foram pesquisados 22 locais. Nas visitas realizadas evidenciou-se uma
preocupação com o desenho universal nos serviços bancários, mas os outros tipos de serviços como escolas,
estacionamentos, posto de gasolina, lanchonetes, entre outros, possuem poucos instrumentos de acessibilidade.
122- Espaços livres de uso público

Mesmo assim a porcentagem de lugares que possuem os instrumentos de acessibilidade não alcançou 70% de
adaptação.
No comércio varejista (figura 6), existe pouca preocupação para a construção de espaços que
possibilitem uma boa circulação. Foram pesquisados 13 locais e em muitos casos não se tem rampas, como
também não tem sala de espera. O maior nível de acessibilidade não alcança 40%, evidenciando a despreocupação
para com a pessoa com deficiência ou mobilidade reduzida.

Figura 5: Instrumentos de Acessibilidade nos serviços da área central

Org.: MOREIRA, 2014.


Elisângela Medina Benini (Org.) - 123

Figura 6: Instrumentos de Acessibilidade no comércio varejista da área central

Org.: MOREIRA, 2014.

Foi elaborada também uma tabela (figura 7) que sintetiza a realidade das ruas e das praças na área central
de Araguari. Nela estão dispostas algumas categorias importantes como: banheiro público, rampas nos
cruzamentos, estacionamento acessível, piso tátil, sinalização sonora nos cruzamentos, bebedouros, telefones
públicos, pontos de ônibus com acesso e calçada.
124- Espaços livres de uso público

Figura 7: realidade das ruas e das praças na área central de Araguari

Locais/Categorias
Instrumentos de acessibilidade Vias públicas Praças
Sim Não Sim Não
Banheiro Público Acessível 0 0% 7 100% 0 0% 3 100%
Rampas nos cruzamentos 5 71% 2 29% 0 0% 3 100%

Estacionamento (Vagas acessíveis) 4 57% 3 43% 1 33% 2 67%


Piso tátil 0 0% 7 100% 0 0% 3 100%
Sinalização Sonora nos cruzamentos 0 0% 7 100% 0 0% 3 100%
Bebedouros 0 0% 7 100% 0 0% 3 100%
Telefones públicos 0 0% 7 100% 0 0% 3 100%
Pontos de Ônibus com acesso 0 0% 7 100% 0 0% 3 100%
Calçada 6 86% 1 14% 1 33% 2 67%
Org.: MOREIRA, 2014.

Ao perceber a cidade como o espaço de muitos e que também é um espaço que poucos têm acesso, a
tabela acima propicia uma análise mais ampla da área central mostrando como é difícil a circulação pelas vias
públicas e pelas praças, que deveria ser um lugar onde todos frequentariam, mas que nem sempre esse direito é
observado e respeitado. É notável a falta da maioria dos instrumentos de acessibilidade não contemplando a
maioria dos lugares. A figura 8 apresenta a situação dos instrumentos de acessibilidade nas vias públicas.
Elisângela Medina Benini (Org.) - 125

Figura 8: Instrumentos de acessibilidade na área central – vias públicas

Org.: MOREIRA, 2014.

Nas praças (figura 9) existem algumas calçadas com condições de circulação, e estacionamentos para
pessoas com deficiência. Há a falta da maioria dos instrumentos de acessibilidade, mostrando a inexistência de
preocupação dos poderes públicos com a acessibilidade.
126- Espaços livres de uso público

Figura 9: Instrumentos de acessibilidade na área central – praças

Org.: MOREIRA, 2014.

Cabe destaque para instrumentos essenciais de acessibilidade que se encontram inadequados para o uso,
como por exemplo, os pontos de ônibus, calçadas, entre outros. A realidade apresentada reafirma a importante
necessidade de se buscar implementar ações de acessibilidade que de fato propiciem melhorias na qualidade de
vida dos cidadãos.
Elisângela Medina Benini (Org.) - 127

CONSIDERAÇÕES

Para que se tenha uma cidade saudável é importante haver políticas públicas que pensem em um
transporte adequado, prédios com mais acessibilidade e pensar em uma reformulação do espaço visando diminuir
as barreiras que impedem a boa locomoção dentro da cidade. Pensando dessa forma haverá uma melhor
promoção da qualidade de vida para as pessoas. Assim sendo, percebe-se a importância que todos os segmentos
sociais desempenham na construção da cidade saudável, buscando dessa forma melhores condições de vida para
toda a cidade. Havendo um melhor planejamento e uma maior articulação entre esses setores torna-se possível
criar políticas que visem ao indivíduo em sua totalidade.
Para que haja o processo de construção da cidade saudável é importante que todos os segmentos sociais
se comprometam em assumir essa proposta em busca de melhorias na qualidade de vida das cidades. E isso
acontece quando se assume uma política intersetorial onde os diversos setores planejam ações articuladas visando
ao indivíduo em sua totalidade.
No que diz respeito à questão de acessibilidade no âmbito do espaço urbano de Araguari percebe-se que
não há políticas públicas visando à melhoria na mobilidade urbana das pessoas, pois é importante haver a
promoção de parcerias entre instituições de ensino, governos municipal e estadual, e também entre instituições
privadas, para assim repensar esse lugar e ver quais são as principais metas a serem alcançadas.
O mapeamento da área central apontou os locais onde há ou não instrumentos de acessibilidade,
demonstrando a ineficiência do poder público em planejar os espaços da cidade visando alcançar a totalidade da
população. Esse material mostra como são perceptíveis às dificuldades das pessoas em se deslocar sem que haja
barreiras arquitetônicas que as impeçam de ter livre acesso a todas as áreas da cidade.
128- Espaços livres de uso público

Portanto, o trabalho levantou pontos importantes para o avanço da discussão de cidades saudáveis,
apontando que a criação de espaços que tenham acessibilidade contemplando o desenho universal contribua para
a melhoria da qualidade de vida de toda a população. A qualidade de vida de uma população só é possível se a
cidade tornar-se um espaço promotor de saúde.

REFERÊNCIAS

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Aparecida; RIBEIRO FILHO, Vitor. (Org.). O Espaço Intraurbano de Uberlândia - MG: perspectivas geográficas. 1 ed.
Uberlândia - MG: Edibrás, 2011, v. 1, p. 125-141.

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(MG) Dissertação de Mestrado. Instituto de Geografia Universidade Federal de Uberlândia. Uberlândia – MG, 2010.

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FREITAS, M. P. Mobilidade Urbana Sustentável e a Sua Viabilidade Nas Cidades Médias: estudo de referência de
Araguari/MG. Dissertação de Mestrado. Instituto de Geografia Universidade Federal de Uberlândia. Uberlândia – MG, 2010.

MINISTÉRIO DAS CIDADES. Curso: Gestão Integrada da Mobilidade Urbana, curso de capacitação. Brasília 2006.
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Ciência e Saúde Coletiva5 (1). p. 39-51. São Paulo 2000.
130- Espaços livres de uso público

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