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TEORIA GERAL DO CRIME

NOÇÕES INTRODUTÓRIAS DO CRIME

1. CONCEITO DE CRIME: O crime pode ser conceituado sob três aspectos: material,
legal ou analítico.

a) Critério material (substancial): Com base nesse critério, crime é toda ação ou
omissão humana que lesa ou expõe a perigo de lesão bens jurídicos protegidos
pelo direito penal (assim, só haverá crime quando a conduta praticada apresentar
relevância jurídico-penal, isto é, agressão ou risco de agressão aos bens jurídicos
penalmente relevantes).

b) Critério legal: Considera-se crime a infração penal que a lei comina pena de
reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente
com a pena de multa; contravenção, a infração penal a que a lei comina, isoladamente,
pena de prisão simples ou de multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente – Art.
1º da Lei de Introdução ao CP.

JURISPRUDÊNCIA – “POSSE DE DROGA PARA O CONSUMO PESSOAL”

JURISPRUDÊNCIA, STF – O Supremo decidiu que em relação ao


crime de “posse de droga para o consumo pessoal – Art. 28 da Lei de
Drogas” não houve descriminalização, mas apenas despenalização,
já que tal crime não contempla pena privativa de liberdade (reclusão ou
dentenção), mas somente penas alternativas. Deste modo, não houve
abolitio criminis, pois tal conduta continua sendo crime.

CRIME ≠ CONTRAVENÇÃO PENAL: O direito penal adotou um sistema


dicotômico, pois a infração penal (que é o gênero) se divide em duas
espécies: Crimes (delitos) e Contravenções penais. São as principais
diferenças:

(1) PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE

Crime: pena de reclusão ou detenção (isolada, alternativa ou


cumulativamente com a pena de multa) – 1º, LINCP.

Contravenção: pena de prisão simples ou multa (isolada, alternativa ou


cumulativamente) – 1º, LINCP.

(2) APLICAÇÃO DA LEI PENAL

Crime: aplica-se a lei penal brasileira aos crimes praticados no território


nacional e no estrangeiro (5º e 7º, CP).

Contravenção: aplica-se a lei penal brasileira apenas as contravenções


praticadas no território nacional (2º, LCP).

(3) TENTATIVA

Crime: é punível (14, II, CP).

Contravenção: não é punível (4º, LCP).

(4) TEMPO MÁXIMO DE CUMPRIMENTO DA PENA

Crime: 40 anos (75, CP).

Contravenção: 5 anos (10, LCP).

(5) AÇÃO PENAL

Crime: pública (incondicionada ou condicionada) ou privada (100, CP).

Contravenção: apenas pública (incondicionada) (10, LCP).


c) Critério analítico: Esse critério diz respeito aos elementos que compõe a estrutura
do crime. Tais elementos são: fato típico + ilicitude + culpabilidade. Desta forma,
crime é fato típico, ilícito (antijurídico) praticado por agente culpável (teoria tripartida).

DOUTRINA – Em relação ao critério analítico de crime, a doutrina


majoritária endente que o CP adotou o critério tripartido do crime, pois
sua estrutura é formada três elementos: fato típico, ilicitude
(antijuridicidade) e culpabilidade. Ainda, há entendimentos que o CP
acolheu o sistema bipartido de crime, sob o argumento de que o crime é
composto apenas pelo fato típico e ilícito, sendo que a culpabilidade se
manifesta como pressuposto da pena.

2. SUJEITOS DO CRIME: São as pessoas ou entes relacionados à prática do crime.

a) Sujeito ativo: É a pessoa que realiza direta ou indiretamente a conduta criminosa


(isoladamente ou em concurso – autor, coautor ou partícipe).

JURISPRUDÊNCIA – “SUJEITO ATIVO: PESSOA JURÍDICA”

JURISPRUDÊNCIA, STJ/STF – Para os Tribunais Superiores, a


responsabilidade penal da pessoa jurídica é constitucional, tendo em
vista o disposto nos artigos 173, §5º e 225, §3º da CF, possibilitando-se
a aplicação de penas em conformidade com a sua natureza. Deste
modo, a jurisprudência atual orienta-se pela admissibilidade da
responsabilidade penal da pessoa jurídica. Tais situações se verificam
nos crimes ambientais (dolosos ou culposos).

JURISPRUDÊNCIA – “TEORIA DA DUPLA IMPUTAÇÃO”

JURISPRUDÊNCIA STJ/ STF – De acordo com a teoria da dupla


imputação (sistema paralelo de imputação) a pessoa jurídica e a
pessoa física podem ser responsabilizadas penalmente de forma
simultânea (essa teoria é admitida pelo STJ e STF). Entretanto,
segundo o entendimento dos referidos Tribunais, o fato de a pessoa
jurídica ser condenada não produz a condenação automática da pessoa
física, visto que se exige provas concretas em relação a sua autoria e
materialidade delitiva. Assim, é perfeitamente possível que a pessoa
jurídica seja condenada e, concomitantemente, a pessoa física seja
absolvida.

b) Sujeito passivo: É o titular do bem jurídico protegido pela lei penal (vítima ou
ofendido).

ESPÉCIES: Independentemente do crime praticado, o Estado sempre


será sujeito passivo de um delito, tendo em vista o seu interesse no
cumprimento da lei penal. O sujeito passivo divide-se em:

b.1) Sujeito passivo constante, geral, mediato, formal, indireto: é o


Estado.

b.2) Sujeito passivo eventual, particular, imediato, material, direto:


é o titular do bem jurídico protegido pela lei penal (exemplo –
proprietário do celular que foi furtado).

- ATENÇÃO: A pessoa jurídica também pode ser sujeito passivo, não só em relação
aos crimes patrimoniais, mas todos os crimes eu sejam compatíveis com a sua
natureza (ex: contra a honra – calúnia e difamação –, contra a administração pública,
etc.).

2. OBJETOS DO CRIME: É o bem ou o objeto sobre a qual recai a conduta criminosa.


Divide-se em:
a) Objeto jurídico: São valores ou interesses tutelados pela lei penal (todo crime
atinge algum bem jurídico).

b) Objeto material: É a pessoa ou coisa que suporta a conduta criminosa (nem todo
crime atinge algum bem material – exemplos: falso testemunho, associação criminosa,
etc.).
CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMES

1. CLASSIFICAÇÃO DO CRIME: Pode ser legal (é o nome atribuído ao crime pela lei
penal) ou doutrinária (nome atribuído aos crimes pelos estudiosos do direito penal).
penal também descreve uma conduta e um resultado naturalístico, sendo que
a) Crimes comuns, próprios ou de mão própria: Diz respeito à qualidade
para a do
sua consumação não necessita-se da produção deste resultado (ex:
extorsão mediante
sujeito ativo:sequestro).
- crime comum: é aquele que pode ser praticado por qualquer pessoa
- crime(ex:
de furto).
mera conduta (simples atividade): é aquele que o tipo penal
descreve apenas
- crime uma(especial):
próprio conduta, éisto é, que
aquele não só
contém
podem qualquer resultado
ser praticado por
naturalístico, sendo que
determinada para a(exige-se
pessoa sua consumação basta apenas
uma qualidade a prática
especial desta
do sujeito
conduta (ex: ato
ativo), obsceno).
contudo, admite a coautoria e participação (ex: corrupção
passiva).
- crime de mão própria (atuação pessoal): é aquele que só pode ser
praticado por pessoa expressamente descrita no tipo penal, não
admitindo a coautoria, mas apenas a participação (ex: aborto
provocado

b) Crimes simples e complexo: Diz respeito à estrutura da conduta


criminosa:

- crime simples: é aquele que se amolda em apenas um tipo penal (ex:


furto).
Crimes materiais, formais e de mera conduta: Diz respeito à relação entre a
- crime complexo:
conduta é aquele
e o resultado que resulta
naturalístico . da união de dois ou mais tipos
penais (ex: roubo).

d) Crimes instantâneos, permanentes, de efeitos permanentes e a prazo:


Diz respeito ao momento em que o crime se consuma.
f) Crimes unissubsistentes e plurissubsistentes: Diz respeito ao número
de atos executórios inerentes a conduta criminosa.

- crime unissubsistente: é aquele em que a conduta é realizada por um


único ato, não admitindo o fracionamento da conduta – não admite a
tentativa (ex: desacato).

- crime plurissubsistente: é aquele em que a conduta é realizada por


dois ou mais atos, permitindo o fracionamento da conduta (do ato
executório) – admite a tentativa (ex: homicídio).
g) Crimes de subjetividade passiva única e de dupla subjetividade
passiva: Diz respeito ao número de vítimas.

- crime de subjetividade passiva única: é aquele em que o tipo penal


prevê apenas uma vítima (ex: lesão corporal).

- crime de dupla subjetividade passiva: é aquele em que o tipo penal


prevê a existência de duas ou mais vítimas (ex: aborto sem o
consentimento da gestante).

h) Crimes de dano e de perigo: Diz respeito ao grau de intensidade do


resultado pretendido como consequência do crime.

- crime de dano (de lesão): é aquele que se consuma com a efetiva


lesão do bem jurídico (ex: homicídio/lesão corporal/dano).

- crime de perigo concreto: é aquele que se consuma com a simples


exposição do bem jurídico a uma situação de perigo, isto é, a
probabilidade de dano. Tal crime se divide em 02 espécies:

(1) crime de perigo abstrato (presumido): é aquele que se consuma com


a pratica da conduta, automaticamente, isto é, não se exige a
comprovação da situação de perigo (a presunção do perigo é absoluta
– ex: tráfico de drogas).
comprovação, no caso em concreto, da situação de perigo (ex: incêndio).

i) Crimes comissivos, omissivos e de conduta mista: Diz respeito a


maneira como o crime é praticado.

- crime comissivo (de ação): é aquele praticado mediante uma conduta


positiva, isto é, um fazer (ex: furto).

- crime omissivo (de omissão): é aquele praticado mediante uma


conduta negativa, isto é, um não fazer. Tal crime se divide em 02
espécies:

(1) crime omissivo próprio (puro): é aquele em que o tipo penal descreve
uma omissão (ex: omissão de socorro) – não admite a tentativa.

(2) crime omissivo impróprio (comissivo por omissão/espúrio): é aquele


em que o tipo penal descreve uma ação (conduta positiva), contudo, em
razão da omissão do agente – que tem o dever jurídico de agir –
responde pelo resultado ocorrido (ex: policial que nada faz ao ver a
vítima sendo estuprada)
– admite a tentativa.

j) Crimes de forma livre e de forma vinculada: Diz respeito ao modo de


execução admitido pelo crime.

- crime de forma livre: é aquele que admite qualquer meio de execução


(ex: homicídio – pode ser cometido por disparo de arma de fogo, faca,
afogamento, etc.).

- crime de forma vinculada: é aquele que só pode ser executado pelos


meios indicados no tipo penal (ex: crime de perigo de contágio venéreo
– só pode ser competido por relações sexuais ou atos libidinosos).

k) Crimes mono-ofensivos e pluriofensivos: Diz respeito ao número de


bens jurídicos atingidos pela conduta criminosa.

- crime mono-ofensivo: é aquele ofende apenas um bem jurídico (ex:


furto – patrimônio).

- crime pluriofensivo: é aquele ofende dois ou mais bens jurídicos (ex:


latrocínio – vida e patrimônio).

l) Crimes principais e acessórios: Diz respeito a existência autônoma ou


não do crime.

- crime principal: é aquele que possui existência autônoma, isto é, não


depende da prática de um crime anterior (ex: furto).

- crime acessório: é aquele que depende da prática de um crime


anterior (ex: receptação).

m) Crimes transeuntes e não transeuntes: Diz respeito a necessidade ou


não da elaboração de exame de corpo de delito (para funcionar como prova
da existência do crime).

- crime transeunte (de fato transitório): é aquele que não deixa vestígios
materiais (ex: nos crimes praticados verbalmente – difamação, ameaça,
desacato, etc.).

- crime não transeunte (de fato permanente): é aquele que deixa


vestígios materiais (homicídio, lesões corporais, etc.).

n) Crimes à distância, plurilocais e em trânsito: Diz respeito ao local em


que se produz o resultado.

- crimes à distância (crimes de espaço máximo): são aqueles em que a


conduta ocorre em um país e o resultado se verifica em outro país.

- crimes plurilocais: são aqueles em que a conduta ocorre em uma


comarca e o resultado se verifica em outra comarca, sediadas no
mesmo país.
- crimes em trânsito: são aqueles em que somente uma parte da
conduta ocorre em um país (sem lesionar ou expor a situação de
perigo de bens jurídicos de pessoas que vivem nesse país) – ex: “A”, do
Paraguai, envia para o Japão uma missiva com ofensas a “B”, e essa
carta o)
passa pelo
Crimes Brasil.
independentes e conexos: Diz respeito ao vínculo existente
entre dois ou mais crimes.

- crimes independentes: são aqueles que não têm nenhuma ligação


com outros crimes.

- crimes conexos: são aqueles que estão interligados entre si. Essa
conexão penal (material) se divide em:

(1) teleológica (ideológica): é aquele em que o crime é praticado para


assegurar a execução de outro crime.

(2) consequencial (causal): é aquele em que o crime é praticado para


assegurar a ocultação, impunidade ou vantagem de outro crime.
p) Crimes condicionados e incondicionaods: Diz respeito ao início da
persecução penal contra o criminoso.

- crime condicionado: é aquele em que o início da persecução penal


depende de uma condição objetiva de procedibilidade (ex: ameaça).

- crime incondicionado: é aquele em que o início da persecução penal é


livre, isto é, não depende de qualquer condição (ex: homicídio).

q) Crimes de mínimo, de menor, de médio, de elevado e de máximo


potencial ofensivo: Diz respeito a potencialidade lesiva de determinado
crime.

- crime de mínimo potencial ofensivo: é aquele que não há pena


privativa de liberdade (ex: porte de droga para o consumo pessoal).

- crime de menor potencial ofensivo: é aquele em que a pena máxima


em
abstrato não ultrapassa dois anos (ex: difamação).

- crime de médio potencial ofensivo: é aquele em que a pena mínima


em abstrato não ultrapassa um ano (ex: furto simples).

- crime de elevado potencial ofensivo: é aquele em que a pena mínima


em abstrato ultrapassa um ano e a pena máxima em abstrato
ultrapassa dois anos (ex: roubo simples).

- crimes de máximo potencial ofensivo: são aqueles que recebem um


tratamento diferenciado pela C.F, isto é, os crimes hediondos e
equiparados, e os crimes imprescritíveis.
FATO TÍPICO

1. CONCEITO: Fato típico é o fato humano que se enquadra perfeitamente aos


elementos descritos pelo tipo penal.

2. ELEMENTOS DO FATO TÍPICO:

São quatro os elementos do fato típico:

1º - Conduta (com dolo ou culpa);

2º - Resultado naturalístico;

3º - Nexo Causal (relação de causalidade);

4º - Tipicidade.

1º - CONDUTA

1) TEORIAS: Existem várias teorias que buscam conceituar a conduta. Logo abaixo
serão analisadas as teorias que foram adotadas pelo Código Penal e Código Penal
Militar.
A) Teoria clássica (naturalística/causalista/mecanicista): Conduta é o
comportamento humano (ação) voluntário que produz modificação no mundo
exterior (foi criada no século XIX por Liszt, Beling e Radbruch) – foi adotada pelo CPM.

- ATENÇÃO: No sistema clássico o conceito analítico de crime deve ser sempre


“tripartido”, pois o “querer interno” do agente (dolo ou culpa) reside na culpabilidade
(sob pena de restar caracterizada a responsabilidade penal objetiva).

B) Teoria finalista (final): Conduta é o comportamento humano, consciente e


voluntário dirigido a uma finalidade (foi criada no início da década de 30 do século
passado por Hans Welzel) – foi adotada pelo CP.

DOUTRINA – No que diz respeito ao conceito de “conduta”, a doutrina


majoritária entende que o nosso código é finalista, segundo qual a
conduta é o comportamento humano (ação ou omissão), consciente e
voluntário, dirigida a um fim. Assim, com o surgimento desta teoria, o
dolo e a culpa (que residiam na culpabilidade) são transferidos para a
conduta (fato típico).

- ATENÇÃO: O Código Penal Militar, por sua vez, adotou a teoria


clássica (casualista), tratando dolo e culpa como elementos da
culpabilidade (art. 33, CPM).

- ATENÇÃO: No sistema finalista, o crime pode ser tanto “bipartido” como


“tripartido”, visto que o “querer interno” do agente (dolo e culpa) foi deslocado da
culpabilidade para o interior da conduta, e, deste modo, para o fato típico. Assim,
formou-se uma culpabilidade vazia.

OUTRAS TEORIAS:

- Teoria Neokantista: Conduta é o comportamento humano (ação ou


omissão) voluntário que produz modificação no mundo exterior.

- Teoria Social da ação: Conduta é o comportamento humano consciente e


voluntário dirigido a uma finalidade socialmente reprovável.

- Funcionalismo Moderado ou teleológico (Claus Roxin): Conduta é o


comportamento humano voluntário que provoca relevante e intolerável lesão
ou perigo de lesão ao bem jurídico protegido pela lei penal (se preocupa
com os fins do Direito Penal, buscando a proteção dos bens jurídicos
indispensáveis ao desenvolvimento do indivíduo e da sociedade).

- Funcionalismo Radical ou Sistêmico (Günther Jakobs): Conduta é o


comportamento humano voluntário que provoca um resultado evitável, que
viola a norma penal (se preocupa com os fins da pena, buscando a
proteção da própria norma, reafirmando a força do Direito).

2) FORMAS DE CONDUTA: A conduta pode se exteriorizar por uma ação ou


omissão.

- ATENÇÃO: Em relação à omissão, o CP adotou a teoria normativa, isto é, a


omissão é um indiferente penal, sendo que, em regra, o omitente não responde pelo
resultado, pois não o provocou – essa teoria, entretanto, aceita a responsabilização do
omitente pela produção do resultado, desde que a própria norma imponha o dever
jurídico de agir (normativa = norma).

3) EXCLUSÃO DA CONDUTA: Há situações em que a conduta é excluída e, por


consequência, não há fato típico. São as causas de exclusão da conduta:

1º - Caso fortuito e força maior

2º - Atos ou movimentos reflexos

3º - Hipnose e sonambulismo
4º - Coação física irresistível (“vis absoluta”)

2º - RESULTADO

1) CONCEITO: Resultado é a consequência provocada pela conduta do agente (13,


CP).

2) ESPÉCIES: O resultado pode ser jurídico ou naturalístico:

a) Resultado jurídico (normativo): é a lesão ou exposição a perigo de lesão ao


bem jurídico tutelado pela lei penal.

b) Resultado naturalístico (material): é a modificação do mundo exterior provocada


pela conduta do agente.

ATENÇÃO: Existe crime sem resultado? Para a teoria naturalística sim, pois os
crimes formais e de merda conduta não exigem o resultado naturalístico. Já para a
teoria jurídica não, pois não existe crime sem lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico
protegido.

ATENÇÃO: Enquanto a doutrina clássica entende que o resultado previsto no art. 13


do CP é naturalístico, a doutrina moderna dá preferência ao resultado jurídico, pois
quando da análise da tipicidade material, observa-se o resultado jurídico (como se verá
no estudo da tipicidade).
3º - RELAÇÃO DE CAUSALIDADE (NEXO CAUSAL)

Relação de causalidade

Art. 13 – O resultado, de que depende a existência do crime, somente é


imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem
a qual o resultado não teria ocorrido.

§1º - A superveniência de causa relativamente independente exclui a


imputação quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores,
entretanto, imputam-se a quem os praticou.

Relevância da omissão

Art. 13, §2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e


podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem:

a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;


b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado;
c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado.

1) CONCEITO: Relação de causalidade é o vínculo formado entre a conduta


praticada (pelo autor) e o resultado produzido (por ele).

OBSERVAÇÃO: Enquanto para a teoria naturalística o estudo do


nexo causal (relação de causalidade) tem incidência apenas nos
crimes materiais (dolosos ou culposos), já que em tais delitos exige-se
a ocorrência do resultado (naturalístico) para fins de consumação, para
a teoria jurídica o estudo do nexo causal é pertinente a todos os
crimes.

2) TEORIAS: Há três teorias que buscam definir a relação de causalidade:

A) Teoria da equivalência dos antecedentes (teoria da conditio sine qua non):


Segundo essa teoria, causa é todo fato humano (ação ou omissão) sem o qual o
resultado não teria ocorrido (quando ocorreu e como ocorreu).

OBSERVAÇÃO: Tudo aquilo que de alguma forma contribui para o


resultado é considerado causa. Nesse sentido, para constatar-se se
algum acontecimento se revela como causa ou não, emprega-se o
“processo hipotético de eliminação” (criado pelo sueco Thyrén -
1984), segundo o qual deve-se eliminar mentalmente determinado fato
que compõe o histórico do crime: se desaparecer o resultado, é porque
era também a sua causa; contudo, se não desaparecer o resultado,
aquele fato não atuou como causa (por óbvio, não basta apenas a
causalidade objetiva, mas também a causalidade psíquica, isto é, a
presença do dolo ou da culpa por parte do agente em relação ao
resultado).

B) Teoria da causalidade adequada: Segundo essa teoria, causa passa a ser apenas
a conduta adequada (idônea) a provocar a produção do resultado (13, §1º, CP).

C) Teoria da imputação objetiva: Será estudado em momento oportuno.

TEORIA ADOTADA: O CP adotou, como regra, a teoria da


equivalência dos antecedentes causais (conditio sine qua non), em
razão da redação descrita no art. 13, caput, parte final: “Considera-se
causa (do crime) a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria
ocorrido”.

Excepcionalmente, o CP acolheu a teoria da causalidade adequada,


conforme dispõe o art. 13,§1º: “A superveniência de causa
relativamente independente exclui a imputação quando, por si só,
produziu o resultado” (o que nos remete ao estudo das “concausas”).

3) CONCAUSAS: Diz respeito à concorrência de causas, isto é, há mais de uma causa


contribuindo para o resultado final.

a) Causa dependente: É aquela que precisa da conduta do agente para provocar o


resultado, isto é, ela não é capaz, por si só, de produzir o resultado.
b) Causa independente: É aquela capaz, por si só, de produzir o resultado (pode
ser absoluta ou relativa, dependendo da sua origem).

(1) As causas absolutamente independentes são aquelas que não se


originam da conduta do agente, ou seja, são absolutamente
desvinculadas da sua conduta (o agente deve responder apenas pelos
atos praticados, e jamais pelo resultado).

(2) As causas relativamente independentes são aquelas que


originam-se da conduta praticada pelo agente, ou seja, dependem
da conduta do agente para existir. Contudo, tais causas são
independentes, isto é, elas são capazes, por si sós, de produzir o
resultado.

- As causas relativamente independentes (preexistentes e


concomitantes) possuem relação de causalidade com a conduta do
agente. Por consequência, o agente deve responder pelo resultado
(pois o resultado não teria ocorrido quando e como correu).

EXCEÇÃO: Em relação às causas RELATIVAMENTE


INDEPENDENTES (supervenientes), o CP adotou a teoria da
causalidade adequada, já que, agora, nem tudo que contribui para o
resultado é considerado causa, mas somente a contribuição
adequada (idônea). Deste modo, como a causa superveniente, por si
só, produziu o resultado, o agente deverá responder apenas pelos atos
praticados, e jamais pelo resultado, em razão da quebra do nexo
causal (13,§1º, CP).

Exemplos: As questões mais recorrentes nos concursos são: vítima


alvejada por disparo de arma de fogo que falece em razão do acidente
automobilístico que atinge a ambulância ou incêndio que destrói toda a
área de internação dos enfermos do hospital (em que ela se
encontrava). Neste caso, o agente responderá somente pelos atos
praticados.

4) RELEVÂNCIA DA OMISSÃO: A omissão é penalmente relevante quando o omitente


devia e podia agir para evitar o resultado (13, §2º). Ou seja, a omissão que não é
típica (que não está descrita pelo tipo penal), somente será penalmente relevante
quando presente o DEVER DE AGIR.

TEORIA ADOTADA: Nos crimes omissivos impróprios (comissivos


por omissão), o CP adotou a teoria normativa, já que não se pune
alguém pelo simples fato de ter se omitido, haja vista que a omissão
“por si só é um nada”. Assim, tal omissão só terá relevância quando o
omitente tem o dever de agir.

DIFERENÇAS: As diferenças entre os crimes omissivos próprios


(puros) e impróprios (comissivos por omissão) são nítidas:

- Omissão própria: o tipo penal descreve uma omissão; via de regra,


são crimes de mera conduta (se consumam com a simples omissão);
não admitem a tentativa.

- Omissão imprópria: o tipo penal descreve uma ação; são crimes de


materiais (se consumam com a produção do resultado naturalístico);
admitem a tentativa.

a) Dever de agir: O CP adotou o critério legal (a lei deve arrolar taxativamente as


hipóteses do dever de agir - 13, §2º, “a”, “b” e “c”):

- tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância (dever legal);


- de outra forma assumiu a responsabilidade de impedir o resultado (garante);

- com o seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado (situação


de ingerência).

b) Poder de agir: Quem tem o dever de agir, nem sempre pratica automaticamente um
crime em razão de sua omissão, pois o CP condiciona a punição do agente quando ele
devia e podia agir para evitar o resultado.

5) TEORIA DA IMPUTAÇÃO OBJETIVA: Para os adeptos da teoria da imputação


objetiva (desenvolvida por Claus Roxin - 1970), o sistema finalista, ao limitar o tipo
objetivo à relação de causalidade, de acordo com a teoria da equivalência dos
antecedentes, não resolve todos os problemas inerentes à imputação. Deste modo,
objetivando resolver esse problema, essa teoria insere mais duas elementares no tipo
objetivo, que deixa de ser só causalidade.

TEORIA DA IMPUTAÇÃO OBJETIVA: De acordo com a teoria da


imputação objetiva não basta a existência da relação de causalidade
natural (teoria da equivalência) como condição para imputação do
resultado ao agente. Além dela, devem estar presentes outros
elementos indispensáveis (causalidade normativa), quais sejam:

1º - Causalidade;

2º - Criação ou aumento de um risco relevante e proibido;

3º - Realização do risco no resultado.

- Em razão desses requisitos, o resultado jamais será imputado ao


agente quando ele:

1º - Não criou um risco do juridicamente relevante ou quando houve a


diminuição desse risco.

2º - Criou um risco permitido pelo direito.

3º - O risco não foi realizado no resultado.

- Assim, a relação de causalidade somente restará caracteriza quando


ultrapassada três etapas: Teoria da equivalência dos antecedentes +
Imputação objetiva + dolo ou culpa (relação psíquica).

- ATENÇÃO: Na realidade, a inclusão desses 02 elementos pela teoria da imputação


objetiva visa resolver, no âmbito do FATO TÍPICO, determinadas situações que para
as demais teorias seriam solucionadas em outros aspectos (como a ilicitude e a
culpabilidade).

DOUTRINA – A doutrina majoritária não considera a teoria da


imputação objetiva como “nebulosa”, e nem como fator de cumulação
de problemas jurídicos, já que tal teoria não despreza a solução
apresentada pela teoria da conditio sine qua non, pelo contrário, se
manifesta (como já dito) como recurso para complementá-la.

4º - TIPICIDADE

1) TIPICIDADE: Para a configuração da tipicidade penal, é indispensável a presença


simultânea da tipicidade formal e material.

a) Tipicidade formal: é o juízo de adequação entre a conduta praticada pelo agente


no mundo real e o modelo descrito no tipo penal.

b) Tipicidade material: é a lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico protegido pela


lei penal.
DOUTRINA – Prevalece na doutrina e jurisprudência que o
“consentimento da vítima” se manifesta como causa supralegal de
exclusão da ilicitude. No entanto, se o consentimento integrar o próprio
tipo penal, a tipicidade restará excluída.

TEORIA DA TIPICIDADE CONGLOBANTE: Conforme a teoria da


tipicidade conglobante, criada por Eugenio Raúl Zaffaroni (penalista
argentino), só existe tipicidade quando a conduta seja contrária ao
ordenamento jurídico como todo (conglobado), e não apenas ao
direito penal. Ou seja, para a constatação da tipicidade exige-se a
presença da antinormatividade. Por consequência, se algum ramo do
direito permite determinada conduta, mesmo agindo contrariamente a
lei penal, tal fato será atípico. Assim, o Estado não pode impor ou
fomentar determinados comportamentos, e ao mesmo considerá-los
como típicos.

- Deste modo, para essa teoria, a tipicidade penal é resultante da


tipicidade legal + tipicidade conglobante:

a) Tipicidade legal (formal): é a adequação do fato ao tipo penal.

b) Tipicidade conglobante: tipicidade material + antinormatividade


(a conduta contrária a lei penal também é contrária (proibida) pela
norma, isto é, por todo o ordenamento jurídico).

2) ADEQUAÇÃO TÍPICA (TIPICIDADE FORMAL): É o procedimento pelo qual se


verifica se determinada conduta praticada na vida real se enquadra no modelo descrito
no tipo penal:
a) Adequação típica direta (subordinação imediata): é aquela que reclama apenas
um dispositivo legal para a devida adequação entre a conduta e o tipo penal – ex:
homicídio (art. 121, CP).

b) Adequação típica indireta (subordinação mediata): é aquele que reclama dois


ou mais dispositivos legais para a devida adequação entre a conduta e o tipo penal –
tipo penal incriminador + norma de extensão (se verifica na tentativa, na participação e
nos crimes omissivos impróprios) – ex: homicídio tentado (art. 121, c/c art. 14, II,
ambos do CP).

TEORIA DO TIPO

1. TIPO PENAL: É o modelo (genérico e abstrato) formulado pela lei penal que
descreve a conduta criminosa ou a conduta permitida.

- ATENÇÃO: Não se pode confundir tipo penal com tipicidade. Enquanto o


tipo penal é uma figura que resulta da imaginação do legislador, o juízo de
tipicidade se verifica justamente se a conduta praticada pelo agente (no mundo
concreto) se adequa ao modelo genérico criado por esse legislador.

2. ESPÉCIES: O tipo penal divide-se em duas espécies:

a) Tipos incriminadores (legais): são aqueles que contêm a descrição legal da


conduta criminosa (são os tipos penais propriamente ditos).

b) Tipos permissivos (justificadores): são aqueles que contêm a descrição


legal da conduta permitida (situações em que a lei considera lícita a prática
de um fato típico – excludentes da ilicitude).

3. ESTRUTURA DO TIPO PENAL: O tipo penal é formado por um


núcleo e elementos. Nas figuras qualificadas e privilegiadas são
acrescentadas circunstâncias. Esta é a fórmula do tipo incriminador:

- Núcleo: é o verbo do crime (ex: “matar”).


- Elementos subjetivos: são os dados relacionados à vontade do
agente isto é,, a sua especial finalidade de agir (ex: intenção de
“satisfazer interesse ou sentimento pessoal” no crime de prevaricação -
319, CP).

4. CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA DO TIPO PENAL

a.1) tipo normal: é aquele que prevê apenas elementos objetivos.

a.2) tipo anormal: é aquele que prevê, além dos elementos objetivos,
também elementos subjetivos e/ou normativos (tipicidade anormal) – para a
teoria finalista todo tipo é anormal.

b.1) Tipo fundamental (básico): É aquele que descreve a forma mais


simples da conduta criminosa – encontra-se, em regra, no caput do dispositivo
legal (ex: homicídio simples - art. 121, caput, CP; exceção: crime de excesso
de exação – art. 316, §1º, CP).

b.2) Tipo derivado: É aquele que se estrutura com base no tipo fundamental,
adicionando a ele circunstâncias que aumentam ou diminuem a pena
(qualificadoras, causas de aumento e causas de diminuição da pena) - ex:
homicídio privilegiado, qualificado, circunstanciado.

c.1) Tipo fechado: É aquele que possui descrição minuciosa da conduta


criminosa (ex: furto).

c.2) Tipo aberto: É aquele que não possui descrição minuciosa da conduta
criminosa (por isso, sua verificação depende de um juízo de valor sobre o caso
em concreto) - ex: crimes culposos (em regra).

d.1) Tipo simples: É aquele que contém apenas um núcleo - ex: “subtrair” no
furto.
d.2) Tipo misto (ação múltipla, conteúdo variado): É aquele que contém
dois ou mais núcleos. Divide-se em duas espécies:

- tipo misto alternativo: é aquele em que a lei descreve vários verbos, no qual a
prática sucessiva dos diversos núcleos (no mesmo contexto fático) caracteriza
apenas um crime, pois atinge o mesmo bem jurídico (ex: tráfico de drogas).

- tipo misto cumulativo: é aquele em que a lei descreve vários verbos, no qual a
prática sucessiva dos diversos núcleos (ainda que no mesmo contexto fático)
caracteriza vários crimes em concurso material, pois atingem bens jurídicos
diversos (ex: omissão de socorro - 135, CP; abandono material – 244, CP).

e.1) Tipo congruente: É aquele em que há perfeita coincidência entre a


vontade do autor e o fato descrito na lei penal (se verifica nos crimes dolosos
consumados).

e.2) Tipo incongruente: É aquele em que não há coincidência entre a vontade


do autor e o fato descrito na lei penal, isto é, o agente provoca resultado
diverso que era por ele pretendido (se verifica nos crimes tentados, culposos e
preterdolosos).

f) tipo complexo: é aquele que apresenta a fusão dos elementos objetivos


(situados no mundo exterior), com os elementos subjetivos (situados na
psique do agente) – para os finalistas os tipo penal sempre é complexo.
CRIME DOLOSO

Crime doloso

Art. 18 - Diz-se o crime:

I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo.

1. INTRODUÇÃO: O dolo diz respeito ao elemento psicológico do tipo penal,


implícito e inerente a todo crime doloso. Em consonância com o sistema
finalista (adotado pelo CP), o dolo consiste na vontade e consciência de
realizar os elementos do tipo incriminador.

TEORIAS: As três principais teorias a respeito do dolo são:

a) Teoria da representação (possibilidade): há dolo quando o agente


simplesmente prevê o resultado.

b) Teoria da vontade: há dolo quando o agente prevê o resultado e


deseja produzi-lo.

c) Teoria do assentimento (consentimento/anuência): há dolo


quando o agente prevê o resultado, não quer diretamente produzi-lo,
mas assume o risco.

- O CP adotou as teorias da vontade e do assentimento, pois o crime


será doloso quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de
produzi-lo (art. 18, I, CP).

2. ELEMENTOS DO DOLO: o dolo é composto por dois elementos:

- Consciência: representa o seu elemento intelectual (cognitivo).

- Vontade: representa o seu elemento volitivo.


- ATENÇÃO: Dolo normativo está ligado à teoria clássica, já que o dolo
(além da consciência + vontade) engloba também a consciência da ilicitude
(dolo normativo/colorido/valorado). Com o surgimento da teoria finalista, o
dolo foi deslocado da culpabilidade para o fato típico, verificando-se, então, o
dolo natural (dolo que contém os seguintes elementos: consciência e
vontade).

3. ESPÉCIES DE DOLO: o dolo é composto por dois elementos:

a) Dolo direto (determinado/intencional): é aquele em que o agente


tem a vontade dirigida a determinado resultado.

b) Dolo indireto: é aquele em que o agente não tem a vontade dirigida


a determinado resultado (se divide em dolo alternativo e eventual):

b.1) Dolo alternativo: é aquele em que o agente deseja, sem distinção,


um ou outro resultado.

b.2) Dolo eventual: é aquele em que o agente não deseja o resultado


por ele previsto, mas mesmo assim assumi o risco de produzi-lo.

c) Dolo genérico: é aquele em que a vontade do agente se limita à


prática do tipo penal, sem qualquer finalidade específica.

d) Dolo específico: é aquele em que a vontade do agente é dirigida a


uma finalidade específica.

- ATENÇÃO: Essa classificação tinha relevância em relação a teoria


clássica da conduta (falava-se em dolo genérico e específico). Com a
superveniência da teoria finalista, utiliza-se o termo dolo para se
referir ao antigo dolo genérico, e utiliza-se o termo elemento
subjetivo do tipo (elemento subjetivo do injusto) para se referir ao
dolo específico.
e) Dolo de 1º grau: é aquele em que a vontade do agente é dirigida a
determinado resultado, englobando os meios necessários para tanto.

f) Dolo de 2º grau (consequências necessárias): é aquele em que a


vontade do agente é dirigida a determinado resultado, efetivamente
desejado, em que a utilização dos meios para atingi-lo, inclui, por
consequência natural, a superveniência dos efeitos colaterais.

OUTRAS DENOMINAÇÕES: Existem ainda outras espécies de dolo:

g.1) dolo de propósito (refletido): é aquele que advém da reflexão do agente


(ainda que pequena), acerca da prática do crime.

g.2) dolo de ímpeto (repentino): é aquele que advém da motivação por


paixão violenta ou excessiva perturbação de ânimo.

h.1) dolo de dano: é aquele em que o agente quer ou assume o risco de


lesionar um bem jurídico protegido pelo direito penal.

h.2) dolo de perigo: é aquele em que o agente quer ou assume o risco de


expor a perigo de lesão um bem jurídico protegido pelo direito penal.

i.1) dolo antecedente (inicial/preordenado): é o dolo anterior à conduta (por


se tratar de mera cogitação, não tem relevância para o Direito Penal ).

- ATENÇÃO: Excepcionalmente, o dolo antecedente será considerado para


a tipificação de determinadas condutas em razão da teoria da actio libera in
causa.

i.2) dolo subsequente (sucessivo): é o dolo posterior à conduta (típica) - não


tem relevância para o direito penal.

- ATENÇÃO: No caso de apropriação indébita, é incorreto afirmar que o


dolo é posterior, pois a conduta de receber a coisa alheia (licitamente) não é
típica,
pois a conduta típica se inicia com a apropriação (sendo este o momento em
que o dolo deva estar presente, sendo, neste caso, concomitante).

i.3) dolo atual (concomitante): é o dolo que existe no momento da ação ou


omissão, sendo o dolo que tipifica a conduta (tem relevância para fins penais).

J) DOLO GERAL (POR ERRO SUCESSIVO): é aquele que se verifica quando


o agente, acreditando já ter alcançado o resultado por ele pretendido, pratica
uma nova conduta com outra finalidade, sendo que, na verdade, esta última
que efetivamente provoca o resultado desejado.

DOUTRINA MAJORITÁRIA – Prevalece o entendimento doutrinário de


que nessa espécie de dolo o que se leva em conta é o seu propósito,
pois o agente queria praticar um resultado e conseguiu alcançar,
adotando-se, assim, o “dolo geral” (o dolo geral envolve todo o
desdobramento da ação criminosa, desde seu início até a sua
consumação).

- ATENÇÃO: Não se pode confundir o erro sobre o nexo causal


(aberratio causae) com o dolo geral (por erro sucessivo), pois
enquanto neste há pluralidade de atos diferentes, naquele há
somente um ato.
CRIME CULPOSO

1. INTRODUÇÃO: A culpa é o elemento normativo da conduta, pois sua


verificação depende de um juízo de valor sobre o caso em concreto.

- ATENÇÃO: Em regra, os crimes culposos constituem tipos penais abertos,


já que a lei não descreve de forma minuciosa o comportamento culposo.
Excepcionalmente, contudo, um crime culposo pode estar descrito em um tipo
penal fechado, isto é, a conduta culposa é descrita de forma expressa e
minuciosa – ex: receptação culposa, 180, §3º, CP.

2. CONCEITO: O crime culposo se verifica quando o agente, deixando de


observar o dever objetivo de cuidado (por imprudência, negligência ou
imperícia), realiza voluntariamente uma conduta que produz um resultado
antijurídico, não previsto nem querido, mas objetivamente previsível (e
excepcionalmente previsto e querido), que podia, com a devida atenção, ter
evitado.

- ATENÇÃO: Uma pessoa só pode responder por um crime culposo nas


situações em que a própria lei declarar expressamente (18, pu, CP).

3. ELEMENTOS DO CRIME CULPOSO:

1º - conduta (voluntária);

2º - resultado (involuntário);

3º - nexo causal;

4º - tipicidade;

5º - violação do dever objetivo de cuidado;

6º - previsibilidade objetiva;

7º - ausência de previsão.
1º - Conduta voluntária: a vontade do agente se limita apenas a prática de uma
conduta (perigosa), por ele aceita e desejada, e não a produção do resultado.

2º - Resultado involuntário: O resultado sempre é involuntário (salvo na culpa


imprópria), ou seja, o agente não quis e não assumiu o risco de produzi-lo.
Como consequência do resultado involuntário:

1 – Os crimes culposos (em regra) são materiais, pois para a sua


consumação é indispensável a ocorrência do resultado naturalístico.

2 – Os crimes culposos não aditem a tentativa, já que o resultado é


involuntário.

ATENÇÃO: A única exceção se verifica na culpa imprópria, já que, por


questões de política criminal, o dolo é tratado como culpa, sendo a única
espécie de crime culposo que se admite a tentativa.

3º - Nexo Causal: Diz respeito a ligação entre a conduta voluntária perigosa


(praticada pelo autor) e o resultado involuntário (produzido por ele).

4º - Tipicidade: É o juízo de adequação entre a conduta praticada pelo agente


no mundo real e o modelo descrito no tipo penal.

5º - Violação do dever objetivo de cuidado: Esse “dever objetivo de cuidado”


nada mais é do que o comportamento imposto pelo ordenamento jurídico a
todas as pessoas, objetivando o regular e pacífico convívio social. Assim, no
crime culposo, esse dever é violado pelo agente pela prática de uma conduta
descuidada, advindo de sua imprudência, negligência ou imperícia.

MODALIDADES DA CULPA

a) Imprudência: É a culpa positiva. Verifica-se na situação em que o agente


atua sem observar as cautelas necessárias (ex: dirigir em excesso de
velocidade).
b) Negligência: É a culpa negativa. Verifica-se na situação em que o agente
se omite em relação à conduta que deveria praticar (ex: dirigir o carro com os
pneus gastos).

b) Imperícia: É a culpa profissional. Verifica-se nos erros praticados na


função desempenhada pelo agente (no exercício de arte, profissão ou ofício) -
ex: médico causa a morte da gestante ao realizar um parto.

- ATENÇÃO: Não se pode confundir a imperícia com o erro profissional, já


que naquele o erro é do agente, enquanto neste o erro advém da própria
ciência que se revela como imperfeita, excluindo-se a culpa do agente (ex:
doença incurável).

6º - Previsibilidade objetiva: É a possibilidade de uma pessoa comum, com


inteligência mediada (homem médio) prever o resultado.

- Existe a previsibilidade do resultado quando, através de um juízo de valor, se


conclui que o homem médio, nas condições em que ele se encontrava, teria
antevisto o resultado produzido.

7º - Ausência de previsão: Em regra, o agente não prevê o resultado


objetivamente previsível.

- ATENÇÃO: Excepcionalmente, contudo, o agente prevê o resultado (na


culpa consciente).

4. ESPÉCIES DE CULPA:

a.1) Culpa inconsciente (sem previsão): é aquela em que o agente


não prevê o resultado, embora fosse objetivamente previsível.
a.2) Culpa consciente (com previsão): é aquela em que o agente
prevê o resultado objetivamente previsível, mas acredita sinceramente
que ele não ocorrerá (aproxima-se do dolo eventual).

b.1) Culpa própria: é aquela em que o agente não quer o resultado e


não assume o risco de produzi-lo (é a culpa propriamente dita).

b.2) Culpa imprópria (culpa por extensão): é aquela em que o agente


prevê o resultado e deseja a sua produção, praticando a conduta por
erro inescusável quanto à ilicitude do fato (única espécie de crime
culposo que admite a tentativa).

- ATENÇÃO: Na verdade, a culpa imprópria é praticada na forma


dolosa, mas por questões de política criminal (em razão do erro), o
agente responde pelo crime em sua forma culposa.

5. COMPENSAÇÃO DE CULPAS: No Direito Penal não existe a


“compensação de culpas”, visto que a sanção penal incube ao Estado e não
ao particular. Assim, a culpa do agente não pode ser anulada pela culpa da
vítima.

- ATENÇÃO: Se a culpa foi exclusivamente da vítima, por óbvio, a culpa do


agente é excluída, pois o agente agiu de forma correta (sem imprudência,
negligência ou imperícia).

6. CONCORRÊNCIA DE CULPAS: Se verifica quando duas ou mais pessoas,


contribuem, culposamente, para a produção de um resultado. Assim sendo,
todos responderão pelo resultado, contudo, não há concurso de pessoas, visto
que há o vínculo subjetivo entre eles.

7. EXCLUSÃO DA CULPA: Há situações em que a culpa é excluída e, por


consequência, não há fato típico. São as hipóteses de exclusão da culpa:
1º - Caso fortuito e força maior

2º - Erro profissional

3º - Risco tolerado

4º - Princípio da confiança
ITER CRIMINIS (CAMINHO DO CRIME)

Crime consumado Art.

14 - Diz-se o crime:

I - consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua


definição legal;

Tentativa

II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por


circunstâncias alheias à vontade do agente.

Parágrafo único - Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa


com a pena correspondente ao crime consumado, diminuída de um a
dois terços.

1. CONCEITO DE CRIME: O iter criminis diz respeito às fases percorridas pelo


agente para a prática de um crime. Divide-se em duas fases:

- Fase interna: representa a cogitação.

- Fase externa: representa a preparação, execução e consumação.

FASE INTERNA

1º - Cogitação: Diz respeito à ideia de praticar um crime.

PUNIÇÃO: Tendo em vista que uma mera ideia (pensamento) jamais


pode ofender bens jurídicos, a cogitação JAMAIS É PUNIDA PELO
DIREITO PENAL!

FASE EXTERNA

2º - Preparação: Diz respeito aos atos indispensáveis para a prática do


crime, utilizando-se o agente dos elementos necessários para a concretização
da sua conduta.
PUNIÇÃO: EM REGRA, os atos preparatórios NÃO SÃO PUNÍVEIS, já
que para que um crime seja ao menos tentado, o agente deve iniciar a
execução do crime (14, II, CP).

EXCEÇÃO: Excepcionalmente, é possível a PUNIÇÃO DOS ATOS


PREPARATÓRIOS nas situações em que a própria lei incrimina tais
atos de forma autônoma (crime-obstáculo); ex: associação criminosa.

3º - Execução: Diz respeito ao início da agressão ao bem jurídico, isto é, o


agente inicia a prática do verbo (núcleo) do tipo penal.

PUNIÇÃO: Os atos executórios SEMPRE SÃO PÚNIVEIS,


configurando no mínimo um crime tentado, visto que o art. 14, II, do CP,
condicionou a tentativa ao início da execução do crime.

- ATENÇÃO: O ato executório deve ser inidôneo e inequívoco:

- IDÔNEO: é o ato capaz de lesionar o bem jurídico penalmente


tutelado.

- INEQUÍVOCO: é o ato direcionado ao ataque do bem jurídico –


inequivocadamente ligado a sua consumação.

Transição dos atos preparatórios para os atos executórios

DOUTRINA – Em sede doutrinária, a Teoria Objetivo-Formal ainda é a


preferida pela doutrina pátria. Segundo esta teoria, o ato executório é
aquele em que o agente já começa a realizar o verbo do tipo penal.

- ATENÇÃO: Para a Teoria objetivo-individual, o ato executório se


verifica nos atos imediatamente anteriores ao início da conduta
típica, com base no plano concreto do próprio agente (parte da
doutrina tem defendido essa teoria).

OUTRAS TEORIAS:

- Teoria Subjetiva: para essa teoria, o que importa é a


vontade criminosa do autor (seu plano interno), não
diferenciando os atos preparatórios dos executórios.

- Teoria objetivo-material: o ato executório ocorre quando o


agente inicia a prática do verbo do tipo penal e também
os atos imediatamente anteriores ao início da conduta típica,
com base na visão de uma terceira pessoa alheia à conduta
criminosa.

4º - Consumação: A consumação do crime (crime pleno) se verifica quando


nele se reúnem todos os elementos da sua definição legal (14, I, CP). Por
isso é um crime completo (perfeito), já que o agente concretiza todas as
elementares descritas no tipo penal incriminador (ex: matar alguém).

- ATENÇÃO: O exaurimento (crime exaurido ou esgotado) diz respeito aos


efeitos lesivos que subsistem mesmo após a consumação do crime,
esgotando- o completamente. O exaurimento tem importância na dosimetria
da pena (art. 59, CP – “consequências do crime”) e não no campo da
tipicidade, pois o “iter criminis” se encerra com a consumação – ex: extorsão
mediante sequestro.

OBSERVAÇÃO: Em alguns crimes, o exaurimento pode funcionar


como causa de aumento (corrupção passiva – art. 317, §1º, CP) ou
qualificadora (resistência – art. 329, §1º, CP), contudo, jamais constitui
etapa do “iter criminis”.
TENTATIVA

1. CONCEITO: A tentativa se verifica quando o agente inicia a execução do


crime, contudo, o crime não se consuma por circunstâncias alheias à
vontade do agente.

ELEMENTOS: São três os elementos da tentativa:

1º - início da execução do crime;

2º - ausência de consumação do crime por circunstâncias alheias à


vontade do agente;

3º - dolo de consumação.

- ATENÇÃO: A tentativa também é chamada de “conatus”, crime


imperfeito, crime manco, ou crime incompleto.

2. NATUREZA JURÍDICA: Como no crime tentado a conduta praticada não se


encaixa com perfeição no tipo penal, deve-se utilizar o art. 14, II do CP para
complementar a tipicidade, funcionando como uma norma de extensão (ou de
ampliação da conduta).

3. TEORIAS: No que diz respeito à tentativa, o Código Penal adotou,


como regra, a teoria objetiva (realística ou dualista), pois a pena da
tentativa é a mesma pena do crime consumado, contudo, diminuída
de um a dois terços.

EXCEÇÃO: De forma excepcional, o CP acolheu a teoria subjetiva


(voluntarística ou monista), em razão da expressão “salvo
disposição em contrário” – art. 14, parágrafo único. Assim, existem
alguns crimes em que a pena do crime tentado é a mesma do crime
consumado (sem qualquer causa de diminuição). São os chamados
“crimes de atentado
ou de empreendimento”. Um bom exemplo é o crime de evasão
mediante violência contra pessoa (352, CP).

4. CRITÉRIO PARA A DIMINUIÇÃO DA PENA: A tentativa se manifesta como


uma causa obrigatória de diminuição da pena (1/3 a 2/3), sendo aplicada na
3ª fase de aplicação da pena. Neste ponto, segundo o STF o critério para a
diminuição da pena será com base na maior ou menor proximidade da
consumação, isto é, a distância percorrida no iter criminis (entendimento
do STF).

5. ESPÉCIES DA TENTATIVA:

a.1) Tentativa branca (incruenta): é aquela em que o objeto material não é


atingido pela conduta criminosa.

a.2) Tentativa vermelha (cruenta): é aquela em que o objeto material é


atingido pela conduta criminosa.

b.1) Tentativa perfeita (acabada ou crime falho): é aquela em que o agente


esgota todos os meios executórios que tinha ao seu dispor, mas mesmo
assim o crime não se consuma por circunstâncias alheias à sua vontade.

b.2) Tentativa imperfeita (inacabada ou tentativa propriamente dita): é


aquela em que o agente inicia a execução do crime sem, contudo, esgotar
todos os meios executórios que tinha ao seu dispor, e o crime não se
consuma por circunstâncias alheias à sua vontade.

5. INADMISSIBILIDADE DA TENTATIVA: A doutrina especifica algumas


espécies de infrações penais que, pelo menos em tese, não admitem a
tentativa, quais sejam:

1º - Crimes culposos (exceção: culpa imprópria);

2º - Crimes unissubsistentes;
DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA E ARREPENDIMENTO EFICAZ

Desistência voluntária e Arrependimento Eficaz

Art. 15 - O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução


ou impede que o resultado se produza, só responde pelos atos já praticados.

1. CONCEITO: A desistência voluntária e o arrependimento eficaz são formas


de tentativa abandonada, já que o crime não se consuma em decorrência da
própria vontade do agente.

- DIFERENÇA COM A TENTATIVA: Enquanto na tentativa o crime não


consuma por circunstâncias alheias á vontade do agente, na
desistência voluntária e no arrependimento eficaz o crime não se
consuma pela própria vontade do agente.

- ATENÇÃO: A desistência voluntária e o arrependimento eficaz


também são chamados (por Franz von Lizst) de “ponte de ouro” do
Direito Penal.

2. NATUREZA JURÍDICA: Há várias correntes sobre a natureza jurídica da


desistência voluntária e do arrependimento eficaz, quais sejam:

1º - Causal pessoal de extinção da punibilidade 2º -

Causa de exclusão da culpabilidade

3º - Causa de exclusão da tipicidade

JURISPRUDÊNCIA – O entendimento dominante na jurisprudência é


que a desistência voluntária e o arrependimento eficaz funcionam como
causa de exclusão da tipicidade, já que a tipicidade do crime
inicialmente pretendido pelo agente é excluída, restando tão somente a
tipicidade dos atos já praticados.
- DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA: Na desistência voluntária, o agente, por
ato voluntário, desiste de prosseguir na execução do crime.

De acordo com a clássica fórmula de Frank, configura-se a desistência


voluntária quando o agente criminoso diz a si mesmo: “posso
prosseguir, mas não quero”. Contudo, ocorrerá a tentativa do crime
quando verificar-se de modo contrário: “quero prosseguir, mas não
posso”.

- ARREPENDIMENTO EFICAZ: No arrependimento eficaz (ou


resipiscência), depois de já praticados todos os atos executórios
suficientes à consumação do crime, o agente adota medidas
(providências/diligências) aptas a impedir a produção do resultado.

- OBSERVAÇÃO: O art. 15 do CP deixa claro que o arrependimento


eficaz se aplica somente nos crimes materiais, em razão da
expressão: “impede que o resultado se produza”. De fato, esse
“resultado
naturalístico” é necessário para fins de consumação apenas nos crimes
materiais consumados.

- ATENÇÃO: Tanto na desistência voluntária como no arrependimento


eficaz o EFEITO É O MESMO, pois o agente não responde pela forma
tentada do crime inicialmente desejado, mas apenas pelos atos já
praticados.

3. REQUISITOS: São os requisitos da desistência voluntária e do


arrependimento eficaz:

a) Voluntariedade: O agente deve agir livre de qualquer coação física ou


moral.

- ATENÇÃO: Não se exige a espontaneidade, tendo em vista que a sugestão da


desistência ou do arrependimento pode advir de terceira pessoa ou até mesmo da
própria vítima, sendo irrelevantes os motivos que levaram o agente a optar pela
desistência voluntária ou arrependimento eficaz.

b) Eficácia: É necessário que a atuação do agente evite a produção do


resultado, pois, caso contrário, responderá pelo crime em sua forma
consumada.

- ATENÇÃO: Se o agente buscou evitar a produção desse resultado, contudo, mesmo


assim o resultado se concretizou, o agente responderá pelo crime em sua forma
consumada. Entretanto, incide a atenuante genérica prevista no art. 65, III, alínea
“b”, 1ª parte, do CP.

INCOMPATIBILIDADE: Como visto, tanto a desistência voluntária como


o arrependimento eficaz aplicam-se aos crimes em geral (com ou sem
violência), contudo, são incompatíveis com os crimes culposos, visto
que o resultado naturalístico é involuntário (salvo na culpa imprópria).

4. COMUNICABILIDADE: A posição dominante é pela comunicabilidade dos


efeitos da desistência voluntária e do arrependimento eficaz no concurso de
pessoas, visto que a conduta do partícipe é acessória, ou seja, sua punição
dependerá da prática de um crime (consumado ou tentado) pelo autor –
responsável pela conduta principal.

TENTATIVA QUALIFICADA: É aquela que contém, no seu interior, um crime autônomo


e já consumado. Por isso, a desistência voluntária e o arrependimento eficaz também
são chamados de tentativa qualificada. Ex: o sujeito entrou em uma residência para
praticar um furto, contudo, acaba desistindo voluntariamente da execução do crime,
devendo responder pelo crime de violaçã
ARREPENDIMENTO POSTERIOR

Arrependimento Posterior

Art. 16 - Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa,


reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da
queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois
terços.

1. CONCEITO: O arrependimento posterior é uma causa obrigatória de


diminuição da pena (1 a 2/3) que ocorre quando determinada pessoa pratica
um crime sem violência ou grave ameaça à pessoa, e por ato voluntário repara
o dano ou restitui a coisa até o recebimento da denúncia ou da queixa.

- DIFERENÇA COM O ARREPENDIMENTO EFICAZ: Enquanto o


arrependimento eficaz é uma causa de exclusão da tipicidade (visto
que o agente impede a consumação do crime), o arrependimento
posterior é uma causa obrigatória de diminuição de pena (se verifica
após a consumação do crime).

DOUTRINA – O arrependimento posterior também é denominado


pela doutrina de ponte de prata, pois se verifica após a
consumação do crime, e ainda sim suaviza a responsabilidade do
agente (diminuindo a sua pena).

- ATENÇÃO: Há doutrina que já fala em ponde de prata qualificada


(ponte de diamante), que se verifica também após a consumação do
crime, que pode chegar até a eliminar completamente a
responsabilidade penal do agente – como na colaboração premiada,
que pode chegar até o perdão judicial.

2. NATUREZA JURÍDICA: O arrependimento posterior se manifesta como


uma causa obrigatória de diminuição da pena, aplicável na terceira fase de
aplicação da pena.
3. COMPATIBILIDADE: O arrependimento posterior é compatível com
qualquer crime que com ele seja compatível, e não apenas nos crimes contra o
patrimônio (ex: peculato doloso – 312, CP).

4. REQUISITOS: Sãos os requisitos do arrependimento posterior:

1º - Natureza do crime: O crime deve ser praticado sem violência ou grave


ameaça à pessoa.

- ATENÇÃO: A violência contra a coisa não exclui esse benefício.

- ATENÇÃO: O entendimento majoritário é que na situação de violência


culposa, é cabível o arrependimento posterior.

2º - Reparação do dano ou restituição da coisa: Deve ser voluntária, pessoal


e integral.

- Voluntária: isto é, sem qualquer coação física ou moral (não exige a


espontaneidade);

- Pessoal: isto é, deve ser feita diretamente pelo criminoso, não podendo
advir de terceiros (exceto em situação de total impossibilidade);

- Integral: isto é, a reparação ou restituição deve ser total, pois a parcial não
se encaixa no conceito apresentado pelo art. 16 do CP (o STF, contudo, já
admitiu esse benefício na reparação parcial do dano);

3º - Limite temporal: A reparação do dano ou restituição da coisa deve ser


concretizada até o recebimento da denúncia ou da queixa.

- ATENÇÃO: Se essa reparação ou restituição for realizada após o


recebimento da denúncia ou da queixa, mas antes do julgamento, incidirá a
atenuante genérica prevista no art. 65, III, “b”, parte final, do CP.
- OBSERVAÇÃO: No peculato doloso a reparação do dano antes do
recebimento da denúncia: diminuição a pena (1/3 a 2/3) – 16, CP;
após o recebimento da denúncia: atenuante genérica – 65, III, “b”,
CP.

- Já no peculato culposo a reparação do dano antes da sentença


irrecorrível: extingue a punibilidade – 312, §3º, CP; após a sentença
irrecorrível: reduz de metade a pena imposta - 312, §3º, CP.

5. COMUNICABILIDADE: Como a reparação do dano ou restituição da coisa é


de natureza objetiva, tal benefício comunica-se aos coautores e partícipes
do crime, com base no art. 30 do CP.
Crime impossível
CRIME IMPOSSÍVEL
Art. 17 - Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou
por absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime.
1. CONCEITO: O crime impossível (conhecido também como “crime oco”)
se verifica quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta
impropriedade do objeto, jamais ocorrerá a consumação do crime.

- DIFERENÇA COM A TENTATIVA: Enquanto na tentativa a


consumação do crime poderá ocorrer, no crime impossível a
consumação do crime jamais poderá ocorrer (por ineficácia absoluta
do meio ou por impropriedade absoluta do objeto.).

- ATENÇÃO: A crime impossível também é chamado pela doutrina de:


“tentativa impossível”, “tentativa inadequada”, “tentativa inidônea”,
“tentativa irreal”, “tentativa supersticiosa” (ou “ quase crime” por parte
da doutrina).

2. NATUREZA JURÍDICA: O crime impossível se manifesta como uma causa


de exclusão da tipicidade, pois o fato praticado pelo agente não se enquadra
em nenhum tipo penal.

3. TEORIA: Em relação ao crime impossível, o Direito Penal adotou a


teoria objetiva temperada ou intermediária, pois para a sua
configuração, os meios empregados e o objeto do crime devem ser
absolutamente inidôneos (incapazes) de produzir o resultado
pretendido pelo agente.
4. ESPÉCIES DE CRIME IMPOSSÍVEL:

1º - Crime impossível por ineficácia absoluta do meio: ou seja, “o meio de


execução” empregado pelo agente é incapaz de produzir o resultado.

- ATENÇÃO: Se a ineficácia for relativa, o agente respodnerá pelo crime na


forma tentada.

2º - Crime impossível por impropriedade absoluta do objeto: ou seja, o


“objeto material” é absolutamente impróprio.

- ATENÇÃO: Se a objeto for relativamente impróprio, o agente respodnerá


pelo crime na forma tentada.

SÚMULA – “CRIME DE FURTO”

SÚMULA 567, STJ – "Sistema de vigilância realizado por


monitoramento eletrônico ou por existência de segurança no interior
de estabelecimento comercial, por si só, não torna impossível a
configuração do crime de furto”.

- CRIME IMPOSSÍVEL x CRIME PUTATIVO (CRIME IMAGINÁRIO): No


crime impossível existe previsão legal do crime que o agente quer
praticar (mas por absoluta ineficácia do meio ou por absoluta
impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime). Já no
crime putativo o agente imagina que está praticando um crime, quando
na verdade pratica um indiferente penal.

- ESPÉCIES DO CRIME PUTATIVO:

1º - Crime putativo por erro de tipo: é aquele em que o agente


acredita que está ofendendo uma lei penal que existe, contudo, faltam
elementos do tipo incriminador.
2º - Crime putativo por erro de proibição: é aquele em que o agente
acredita que está ofendendo uma lei penal, só que na verdade ela não
existe.

3º - Crime putativo por obra do agente provocador – Crime de


ensaio ou crime de experiência (flagrante provocado/preparado): é
aquele em que o sujeito induz (estimula) a outra pessoa a praticar um
crime, e, ao mesmo tempo, adota medidas para impedir a consumação.

SÚMULA 145, STF: O Supremo aplicou analogicamente a regra do


art. 17 a essa situação, conforme entendimento sumulado: "Não há
crime, quando a preparação do flagrante pela polícia torna impossível a
sua
consumação”.
CRIME PRETERDOLOSO

Agravação pelo resultado

Art. 19 - Pelo resultado que agrava especialmente a pena, só responde o


agente que houver causado ao menos culposamente.

1. CONCEITO: O crime preterdoloso (preterintencional) se verifica quando o


agente pretende praticar um crime doloso, mas por CULPA, provoca um
resultado mais gravoso do que aquele pretendido (figura híbrida - dolo no
antecedente e culpa no consequente) – ex: lesão corporal seguida de mote,
129,
§3º, CP.

2. ELEMENTOS DO CRIME CULPOSO:

1º - conduta dolosa (objetivando determinado resultado);

2º - resultado culposo (mais grave do que aquele desejado);

3º - nexo causal;

4º - tipicidade.

- ATENÇÃO: O resultado mais grave (causado culposamente) exige a


constatação da previsibilidade objetiva, isto é, o resultado deve ser
previsível ao homem médio. Por isso, o resultado agravador deve
ser provocado a título de culpa. De outro lado, se o agente agiu com
dolo (direito ou eventual), o caráter preterdoloso do crime restará
excluído.

3. CRIME QUALIFICADO PELO RESULTADO: É aquele em que o legislador,


após descrever uma conduta típica (conduta básica), acrescenta-lhe um
resultado que o qualifica, isto é, provoca o agravamento da pena em razão
da sua gravidade.
- ATENÇÃO: Todo crime preterdoloso é um crime qualificado pelo resultado.
Contudo, nem todo crime qualificado pelo resultado diz repeito ao crime
preterdoloso, já que este representa apenas uma espécie daquele, que é seu
gênero (ex: roubo qualificado pelo resultado morte; incêndio culposo qualificado
pelo resultado morte, etc).

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