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715-Article Text-1908-3-10-20120528
715-Article Text-1908-3-10-20120528
RESUMO
A síndrome dolorosa femoropatelar (SDFP) é definida como dor anterior, ou retropatelar, na ausência
de outras enfermidades, e acomete até 25% da população em alguma fase da vida, sendo mais comum
em mulheres e pessoas com grau de treinamento mais elevado. Assim como outras lesões esportivas, a
SDFP tem sido um grande fator de interrupção do treinamento físico para muitos atletas de alto nível e
amadores. Com isto, o objetivo geral desse trabalho foi debater a ocorrência da SDFP como lesão
esportiva, suas possibilidades de prevenção e o treinamento adequado para recuperação pós-lesão,
demonstrado em diversas pesquisas. Para tanto, o trabalho foi desenvolvido diante de uma perspetiva
de revisão de literatura, abordando as características específicas da síndrome, o diagnóstico, população
alvo, como ocorre seu desenvolvimento, como ela afeta o treinamento e quais são as possibilidades de
prevenção e tratamento.
Palavras-chave: síndrome da dor patelofemoral, lesões esportivas, exercício
ABSTRACT
The patellofemoral pain syndrome (PFPS) is defined as a retropatellar or anterior knee pain, without
another disease. It affects until 25% of the population, being more common in women and trained
persons. As others pathologies, PFPS have been affected the training of elite and amateurs athletes.
Thereby, the general purpose of this study was discuss the occurrence of PFPS as a sports injury, there
prevention possibilities and the appropriate recovery training after injury. It had been developed a
literature review addressing the specific characteristics of the syndrome, its diagnosis, its target
population, its development, how it affects the training and which are their possibilities of prevention
and treatment.
Keywords: patellofemoral pain syndrome, sports injuries, exercise
Danilo Santos Catelli e Heloyse Uliam Kuriki. Programa de Pós-Graduação Interunidades em Bioengenharia –
EESC/IQSC/FMRP – USP, São Carlos, SP, Brasil.
Paulo Roberto Carvalho do Nascimento. Faculdade de Ciência e Tecnologia – Departamento de Fisioterapia –
UNESP, Presidente Prudente, SP, Brasil.
Endereço para correspondência: Danilo Santos Catelli, R. Cel. Bento Bicudo, 1167 – 32B, CEP: 02912-000 São
Paulo, SP, Brasil
E-mail: danilo_catelli@yahoo.com.br
Lesão esportiva: Síndrome Dolorosa Femoropatelar | 63
joelhos flexionados por um longo período de de idade, destes, 32% desenvolveram SDFP ao
tempo, são agravantes da síndrome (Cosca & longo do treinamento. Observou-se que antes
Navazio, 2007). Atividades repetitivas que do período de treinamento, estes indivíduos
envolvam a articulação do joelho principal- que desenvolveram a síndrome apresentavam
mente na presença de uma força compressiva atraso na ativação do VMO com relação
tíbio-femoral ou compressão da patela contra a àqueles que não apresentaram lesões. Antes do
articulação também podem predispor ao desen- período de treinamento, 20% dos indivíduos
volvimento da SDFP (Cowan et al., 2002; que continuaram sem lesões apresentaram
Besier et al., 2009). atraso na ativação do VMO, para os indivíduos
Muitos estudos tentam encontrar uma que posteriormente desenvolveram a síndrome
maneira de predizer quem está propenso a este número foi de 58%. Além disso, após o
desenvolver a SDFP, porém existe grande período de treinamento, um atraso significante
dificuldade em encontrar esta relação de forma no início da ativação do VMO foi observado em
concreta, para que um treinador, ou um pro- relação ao VL nos indivíduos que apresentaram
fissional de Educação Física possam prevenir o SDFP. Assim, concluiu-se que o atraso no
desenvolvimento da síndrome. Ao que parece, início da ativação do VMO é um dos fatores de
a população alvo do agravo está centrada como risco que contribui para o desenvolvimento da
sendo em sua maioria do sexo feminino, jovens SDFP.
e fisicamente ativas (Souza & Powers, 2009;
Grenholm et al., 2009). SDFP e o Treinamento
Em seu estudo prospetivo, Thijs et al., O fator indireto mais indesejado por um
(2008) buscando determinar os riscos intrín- treinador durante um ciclo de treinamento é a
secos de desenvolvimento da SDFP em corre- lesão. Uma lesão esportiva pode ser causada
dores novatos recreacionais, avaliou 102 por um desgaste muscular excessivo ou por
indivíduos destreinados, que iniciaram um sobrecarga (Cosca & Navazio, 2007), sendo
programa de corrida de dez semanas com o esta provavelmente associada a um descuido
objetivo de conseguir correr a distância de do treinador em relação ao desgaste gerado
cinco quilômetros ao fim do período de num treino específico, microciclo de treina-
treinamento. Durante o período de avaliação, mento ou numa recuperação não adequada ao
17% (sendo 94% mulheres) dos indivíduos estímulo. Quando a recuperação do treino é
desenvolveram SDFP. Esta observação mostra adequada, o indivíduo encontra-se em homeos-
que a corrida é um fator muito associado ao tasia, e estará propício a desenvolver um incre-
desenvolvimento da SDFP, sendo as mulheres mento de suas capacidades físicas, podendo
o maior alvo. trazer benefícios a sua saúde; já quando esta
Um outro estudo prospetivo (Van Tiggelen recuperação não é adequada, o indivíduo entra
et al., 2009) buscou respostas acerca do atraso em um processo de overtraining, e o corpo de-
do início de ativação muscular do VMO como monstra este processo com fadiga generalizada,
fator de risco para o desenvolvimento da SDFP. insônia, “pernas pesadas”, dores e lesões
Para isto, avaliaram o início de ativação dos (Cosca & Navazio, 2007).
músculos VMO e VL antes e após o período de O ciclo de treinamento é elaborado nas
treinamento militar básico de recrutas que prévias de uma temporada, sendo sua totali-
durou seis semanas e envolvia corrida, cami- dade nomeada macrociclo. Ele visa preparar o
nhada com mochilas de pesos nas costas (20- atleta quanto as suas capacidades e habilidades
30 kg), exercícios de repetição, exercícios de físicas gerais e específicas, para uma ou mais
táticas militares e tiros, num programa diário competições ou torneios, sendo preferencial-
de 12 a 15 horas de atividades programadas. mente desenvolvidos individualmente e respei-
Foram avaliados 79 indivíduos de 17 a 27 anos tando princípios básicos da prescrição do
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