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Edição Futebol
Os critérios para atribuir alta aos jogadores de futebol após lesões músculo-esquelética atualmente carecem
de validade. Na realidade, e uma vez que o objetivo final é retornar um jogador – e não uma parte do corpo –
à sua demanda desportiva, é possível especular que seja mais indicado utilizar critérios relacionados com a
atividade desportiva, e não com a lesão em concreto.
Assim, o objetivo deste registo é documentar os valores normativos relativo às qualidades e demandas físicas
de jogadores de futebol, quando possível em função do sexo, posição e idade, para que tenhamos presente o
objetivo final para o qual os temos de preparar durante uma reabilitação, integrando essa informação no
desenho e planeamento das estratégias de intervenção.
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Como devo dar alta aos meus jogadores depois de terem lesões?
Valores Normativos para auxiliar no processo de tomada de decisão no estabelecimento de alta clínica – Edição Futebol
Normalmente, após ocorrer uma lesão, tentamos basear o nosso processo de tomada de decisão em
critérios e podem ser de várias dimensões, assumindo maior ou menor preponderância de acordo
com a lesão em causa. Estes podem ser: clínicos, funcionais, temporais ou de confiança e têm o
propósito de conferir maior objetividade, segurança e efetividade quanto 1) à probabilidade de
sucesso competitivo e 2) à minimização do risco de recidiva.
É importante referir que atualmente não existem critérios válidos e com robustez suficiente para que
sejam considerados gold-standard na avaliação de progressão e alta, pelo que a prática clínica é
atualmente (e de forma legítima mas sub-ótima) definida pela experiência
profissional de cada um e/ou informada por consensos de especialidade a
partir da informação proveniente de outras áreas técnico-científicas.
Os critérios clínicos constituem então apenas uma (pequena, mas nem por isso não
importante) parte do processo de tomada de decisão durante a reabilitação. A semiologia da
condição está intimamente ligada à sua etiologia, portanto é de esperar que os critérios
clínicos tenham uma relação muito íntima, e específica, com a lesão em causa.
Em jeito de exemplo, se houve uma lesão muscular dos ísquio-tibiais, ou uma
rotura do tendão de Aquiles, é expectável que na primeira sejam avaliados
critérios clínicos relacionados com os ísquio-tibiais, anca e/ou joelho,
enquanto que na segunda estes estarão mais associados à tibio-társica ou à
região do tricípite sural.
A certa altura, precisamos de monitorizar estas capacidades. Mais do que para garantir que
atingimos determinado patamar e depois passar para o seguinte, a monitorização serve para
assegurar a não-redundância do processo: por exemplo, que treinar mais força analítica do
quadricípite já não apresenta ganhos transferíveis para tarefas que são realmente importantes na
tarefa desportiva, implicando a sua descontinuidade, ou pelo menos diminuição no plano.
Algumas das formas mais comummente descritas de obter estes valores são:
• Força muscular analítica -> Avaliação Isocinética
• Capacidade Miotendinosa -> Countermovement Jump (CMJ)
• Capacidade Muscular -> Squat Jump (SJ)
• Capacidade Reativa -> Reactive Strength Index (RSI)
Assim, atingir estes valores pode constituir um marco importante naquilo que diz respeito à
capacidade física do indivíduo. Contudo, continua a não ser suficiente.
Como mencionado anteriormente, o atingimento destes valores em contexto de ginásio serve
apenas para informar sobre capacidades de base, em cima das quais o indivíduo terá então de se
preparar para as necessidades desportivas específicas daquilo que o espera.
Torna-se imperativo saber então para o que temos de preparar o atleta, podendo a
partir daí desenhar o programa de forma a capacitar o atleta não para indicadores
globais e abstratos de capacidades no ginásio, mas sim transferindo essas
capacidades para as tarefas relevantes no futebol.
Aqui é onde costumamos ter mais dificuldades no desenho do plano de intervenção.
Alguns dos critérios funcionais que são fundamentais avaliar, e assim preparar, o jogador para
cumprir e que estão mais comummente reportados na literatura para (algumas das) populações
que jogam futebol são:
• Distância total percorrida
• Distância percorrida em função da intensidade
• Número de mudanças de direção
• Número de mudanças de direção em função da intensidade
Infelizmente, e à semelhança dos critérios funcionais abordados anteriormente, também aqui a
literatura é escassa e de reduzida qualidade, com questões metodológicas que impossibilitam a
comparação e a extrapolação. Poderão ainda existir outros, que não foram abordados com
profundidade.
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Como devo dar alta aos meus jogadores depois de terem lesões?
Valores Normativos para auxiliar no processo de tomada de decisão no estabelecimento de alta clínica – Edição Futebol
DC 10627 ± 893 215 ± 100 397 ± 114 1257 ± 244 1138 ± 232 119 ± 67
DL 11410 ± 708 402 ± 165 652 ± 179 1730 ± 262 1590 ± 257 220 ± 99
Masculino MC 12027 ± 625 248 ± 116 627 ± 184 2116 ± 369 1956 ± 288 230 ± 92
E 11990 ± 776 446 ± 161 738 ± 174 1987 ± 412 1743 ± 309 286 ± 114
A 11254 ± 894 404 ± 140 621 ± 161 1683 ± 413 1562 ± 295 212 ± 92
DC 9489 ± 562 111 ± 42 423 ± 79 1367 ± 193 4158 ± 457
DL 10250 ± 661 163 ± 79 634 ± 168 1743 ± 293 4382 ± 426
Feminino MC 10985 ± 706 170 ± 69 683 ± 170 2029 ± 310 4857 ± 451
E 10623 ± 665 220 ±116 700 ± 167 1865 ± 324 4488 ± 445
A 10262 ± 798 221 ± 53 651 ± 135 1714 ± 338 4202 ± 606
DC
110.07 ± 13.32 7.20 ± 3.3 121.93 ± 21.73 24.00 ± 8.46 344 364 43 49
DL
Distancia Corrida
Distância Distância Corrida Distancia Corrida Número de Velocidade
Distância Sprint ( > intensidade
Jogadores Jovens Total
23 Km/h) (m)
intensidade alta
moderada (14 a 19
baixa intensidade (11 Sprints ( >18 Máxima
percorrida (m) (19 a 23 Km/h) (m) a 14 Km/h) (m) Km/h) (Km/h)
Km/h) (m)
Masculino (sub-17) 6311 ± 948 230 ± 135 529 ± 312 1102 ± 371 2025 ± 408
Limitações
Como referido, a literatura tem muitas lacunas. Entre elas estão fatores como a não
reprodutibilidade dos resultados dada a utilização de metodologias diferentes de avaliação (por
exemplo, avaliar CMJ com ou sem a utilização do balanço dos membros superiores) ou a utilização de métricas
que não permitem comparação direta entre indivíduos (utilização de produção de força absoluta ao
invés de força em função do peso corporal na avaliação por dinamometria isocinética). Para além disso, em
muitos casos existem diferenças significativas entre níveis competitivos, o que impossibilita a
extrapolação de dados em muitas circunstâncias (a Elite dos jogadores turcos
não é a mesma que a elite Portuguesa, e ambas que a elite Inglesa). Por fim,
os parâmetros mencionados constituem alguns dos parâmetros importantes
na performance desportivas, mas não a refletem na totalidade.
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Como devo dar alta aos meus jogadores depois de terem lesões?
Valores Normativos para auxiliar no processo de tomada de decisão no estabelecimento de alta clínica – Edição Futebol
Considerações Pertinentes
Os valores mencionados de execução de tarefas desportivas são uma condição necessária, mas
insuficiente, para o retorno competitivo. É fundamental considerar o cumprimento dos valores
de tarefas físicas mencionados, sempre integrando-o num ambiente progressivamente mais
variado e semelhante à tarefa desportiva, com uma reintegração ao contexto técnico-tático
específico do atleta, com estratégias integradas e/ou isoladas (mas sempre em conjugação).
Para além disso, é necessário considerar as peculiaridades do desporto. É
discutível por exemplo a necessidade de cumprir volumes de sprints com
distâncias iguais a superiores a 30 metros no futebol, uma vez que é
provável que estes sejam raros (não existindo dados amplos sobre estes ou
outros parâmetros que são relevantes).
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Considerações Pertinentes
Por fim, é possível discutir que é uma discussão sensível se os valores aos quais deveremos
almejar cumprir aquando da reabilitação são os mínimos necessários (os requeridos para
cumprir a função do atleta), ou os ideais (valores acima dos mínimos e que a priori capacitarão o
atleta para um melhor coping aquando do retorno), uma vez que o tempo de exposição poderá
ser a diferença entre libertar o atleta mais cedo ou mais tarde, sendo que no desporto isto é um
fator diferenciador na nossa prática profissional.
Conclusão
Apesar de não haver atualmente critérios de retorno em qualquer lesão desportiva que cumpram
com a qualidade exigida para garantir uma boa prática, o mínimo que podemos exigir de nós
enquanto profissionais e do atleta durante a sua reabilitação, é garantir que este está capaz de
fazer aquilo que lhe é exigido enquanto jogador quando for para voltar ao campo.
Os valores aqui mencionados devem constituir apenas um guia. Idealmente, é de sensibilizar para a
recolha de dados específicos do atleta, e utilizar esses, uma vez que é improvável que os
valores sejam absolutamente transponíveis entre realidades (fator inerentemente
verdadeiro e que piora quando observadas as lacunas na literatura).
Desta forma, e à falta de melhores informações, estaremos a trabalhar no sentido de
proporcionar um retorno à competição com mais probabilidades de sucesso.
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