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MAGISTRATURA E MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAIS

Renato Brasileiro
Processo Penal
Aula 06

ROTEIRO DE AULA

Tema: Ação Penal

10. AÇÃO PENAL PRIVADA SUBSIDIÁRIA DA PÚBLICA (AÇÃO PENAL ACIDENTALMENTE


PRIVADA/SUPLETIVA).
A ação penal privada subsidiária da pública é umecanismo de controle do princípio da
obrigatoriedade da Ação Penal Pública. Por mais que o MP seja o titular dessa espécie de ação
penal, não se trata de um poder absoluto (Previsão legal art. 5º, LIX, CF/88).

CF/88.
Art. 5º (...)
LIX - será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no prazo
legal;

A ação privada terá início por meio de uma Queixa Crime Subsidiária, oferecida pelo ofendido
ou por seu representante legal, ou ainda pelos sucessores em caso de morte do ofendido.
Esta ação é admitida nos crimes de ação penal pública (o fato de ser cabível a Queixa crime
subsidiária, não perde a natureza de crimes de ação penal pública).
O pressuposto básico para o cabimento desta Ação Penal Privada Subsidiária da Pública é a
inércia dos órgãos persecutórios.

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10.1. Cabimento.
STF: “(...) A ação penal relativa aos crimes tipificados nos artigos 171 e 177 do Código Penal é
pública incondicionada. A ação penal privada subsidiária da pública, prevista no artigo 29 do
Código de Processo Penal, só tem cabimento quando há inércia do Ministério Público, o que não
ocorreu no caso sob exame. Hipótese em que o parecer do Ministério Público, no sentido da
rejeição da queixa-crime, por atipicidade, equivale, na verdade, à requisição de arquivamento
do feito”. (STF, Pleno, Inq. 2.242 AgR/DF, Rel. Min. Eros Grau, j. 07/06/2006, DJ 25/08/2006).

Obs. 1: requisição de diligências procrastinatórias e inércia do MP;


Requisição de Diligências: A requisição de diligências pode ser considerada como inércia do MP
se for procrastinatória (STF: HC 74.276).

Obs. 2: requisição de diligências internas ao Ministério Público e inércia ministerial;


Para o STF, se a diligência for externa ao MP, não se caracteriza a inércia. Todavia, se esta
diligência for interna ao MP, será equiparado à inércia.

- No julgamento de Recurso Extraordinário com repercussão geral reconhecida (ARE 859.251,


Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 16.04.2015 - Tese 811), o Supremo Tribunal Federal manifestou-se
no seguinte sentido em relação à ação penal privada subsidiária da pública: a) o ajuizamento
da ação penal privada pode ocorrer após o decurso do prazo legal, sem que seja oferecida
denúncia, ou promovido o arquivamento, ou requisitadas diligências externas ao Ministério
Público. Diligências internas são irrelevantes; b) a conduta do Ministério Público posterior ao
surgimento do direito de queixa não prejudica sua propositura. Assim, o oferecimento de
denúncia, a promoção do arquivamento ou a requisição de diligências externas ao Ministério
Público, posterior ao decurso do prazo legal para a propositura da ação penal não afastam o
direito de queixa. Nem mesmo a ciência da vítima ou da família quanto a tais diligências afasta
esse direito, por não representar concordância com a falta de inciativa da ação penal pública.

(Procurador da República-Março/2017). É entendimento do STF que o oferecimento de


denúncia, promoção de arquivamento ou requisição ou determinação de diligências externas ao
procedimento investigatório, posterior ao decurso de prazo para a propositura da ação penal
pública, afastam o direito da ação penal privada subsidiária, pois não há inércia do titular da
ação.
GABARITO: CORRETA

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- Necessidade de vítima determinada.
Este ofendido, determinado, possui a legitimidade para ingressar com a Queixa Crime
Subsidiária.

- Exceções:

a) Crimes contra as relações de consumo (Lei 8.078/90);


b) Crimes falimentares (Lei 11.101/05).
Nestes casos apontados acima, as respectivas leis determinam quem possui legitimação para
ingressar com a Ação Penal Subsidiária.

Lei 8.078/90 (CDC).


Art. 80. No processo penal atinente aos crimes previstos neste código, bem como a outros
crimes e contravenções que envolvam relações de consumo, poderão intervir, como assistentes
do Ministério Público, os legitimados indicados no art. 82, inciso III e IV, aos quais também é
facultado propor ação penal subsidiária, se a denúncia não for oferecida no prazo legal.

Art. 82. Para os fins do art. 81, parágrafo único, são legitimados concorrentemente: (Redação
dada pela Lei nº 9.008, de 21.3.1995)
(...)
III - as entidades e órgãos da Administração Pública, direta ou indireta, ainda que sem
personalidade jurídica, especificamente destinados à defesa dos interesses e direitos protegidos
por este código;
IV - as associações legalmente constituídas há pelo menos um ano e que incluam entre seus fins
institucionais a defesa dos interesses e direitos protegidos por este código, dispensada a
autorização assemblear.

Lei 11.101/05.
Art. 184. Os crimes previstos nesta Lei são de ação penal pública incondicionada.
Parágrafo único. Decorrido o prazo a que se refere o art. 187, § 1º, sem que o representante do
Ministério Público ofereça denúncia, qualquer credor habilitado ou o administrador judicial
poderá oferecer ação penal privada subsidiária da pública, observado o prazo decadencial de
6 (seis) meses.

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10.2. Prazo decadencial (decadência imprópria).
Decadência Imprópria: Não haverá extinção da punibilidade, pois subsiste a natureza pública da
Ação Penal do crime.

CPP.
Art. 38. Salvo disposição em contrário, o ofendido, ou seu representante legal, decairá no direito
de queixa ou de representação, se não o exercer dentro do prazo de seis meses, contado do dia
em que vier a saber quem é o autor do crime, ou, no caso do art. 29, do dia em que se esgotar
o prazo para o oferecimento da denúncia.
Parágrafo único. Verificar-se-á a decadência do direito de queixa ou representação, dentro do
mesmo prazo, nos casos dos arts. 24, parágrafo único, e 31.

Note-se também que existe decadência no caso da Ação Penal Privada Subsidiária da Pública.

- Termo inicial para contagem do prazo decadencial:


O prazo decadencial de 6 meses não começará a fluir a partir do conhecimento da autoria, mas
sim da inércia do MP.

10.3. Poderes do MP na ação penal privada subsidiária da pública.


CPP.
Art. 29. Será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no
prazo legal, cabendo ao Ministério Público aditar a queixa, repudiá-la e oferecer denúncia
substitutiva, intervir em todos os termos do processo, fornecer elementos de prova, interpor
recurso e, a todo tempo, no caso de negligência do querelante, retomar a ação como parte
principal.

A doutrina afirma que os poderes do MP são:


- Opinar pela rejeição da queixa crime (395 CPP);

- Aditar a queixa crime: seja para acrescentar elementos essenciais, como elementos acidentais
(neste caso o MP tem legitimidade para aditar a queixa crime por se tratar de crime de natureza
pública);

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- Repudiar a queixa crime e oferecer denúncia substitutiva: prevalece o entendimento de que,
independentemente de algum defeito ou vício, o MP pode afastar a queixa crime. Se o MP optar
por repudiá-la, é obrigado a oferecer denúncia substitutiva;

- Intervir em todos os termos do processo: a intervenção do MP é obrigatória, sob pena de


nulidade absoluta (art. 564, III, “d”, do CPP);

- Fornecer elementos de prova;

- Interpor recurso;

- No caso de negligência do querelante, retomar a ação como parte principal: Se o querelante


for desidioso o MP assumirá o processo como parte principal (não há o que se falar em
perempção como causa extintiva da punibilidade). Retornando o MP como parte principal, será
a ação penal privada subsidiária da pública nomeada como Ação Penal Indireta.

(PGR –PROCURADOR DA REPÚBLICA – 2013) A AÇÃO PENAL PRIVADA SUBSIDIÁRIA:


I - é um direito do ofendido tão só pelo não oferecimento da denúncia, pelo Ministério Público,
no prazo legal;
II - só pode ser instaurada pelo ofendido maior de 18 anos e, no caso de sua morte ou ausência
judicialmente reconhecida, por cônjuge, ascendente, descendente ou irmão;
III - é uma garantia fundamental para proteção de interesse privado na persecução penal,
constituindo mecanismo de controle interno do Ministério Público;
IV - pode ser proposta, em crime contra relações de consumo, pela Agência Nacional de
Vigilância Sanitária.
ANALISANDO AS ASSERTIVAS ACIMA, PODE-SE AFIRMA QUE:
(a) são corretos os itens I e III;
(b) são corretos os itens II e IV;
(c) apenas é correto o item IV;
(d) todos os itens são corretos.

Gabarito: C

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11. AÇÃO PENAL POPULAR
A ação penal popular é aquela que poderá ser ajuizada por qualquer pessoa do povo. Alguns
doutrinadores citam dois casos: habeas corpus e oferecimento de notitia criminis contra Agentes
Políticos pela prática de Crimes de Responsabilidade. Contudo, o professor ressalva que há
crítica doutrinárias, uma vez que ambas as ações não têm cunho condenatório.

13. AÇÃO DE PREVENÇÃO PENAL


A ação de prevenção penal é aquela ajuizada contra o inimputável (art.26, caput, CP). A doutrina
assevera que ao invés de ser realizado o pedido de aplicação de uma pena restritiva de
liberdade, o pedido deverá ser a aplicação de medida de segurança.

CP. Art. 26. É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental
incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de
entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em virtude de
perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era
inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse
entendimento. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

14. AÇÃO PENAL SECUNDÁRIA


A ação penal secundária é uma expressão criada pela doutrina. A regra seria que o crime fosse
de ação penal pública ou privada, mas a depender ou não de determinadas circunstâncias,
utiliza-se outra espécie ação penal como exceção, sendo esta última chamada de secundária.

15. AÇÃO PENAL NOS CRIMES CONTRA A HONRA.


Regra: Ação penal privada
Exceções:
- Injúria real:
CP.
Art. 140 (...)
§ 2º - Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua natureza ou pelo meio
empregado, se considerem aviltantes:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência.

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Ex: trote de faculdade.
Se praticada mediante vias de fato a doutrina entende que as vias de fato são absorvidas pela
injúria; portanto será Ação Penal Privada;
Se o crime for praticado mediante lesão leve, será Ação Penal Pública condicionada a
representação;
Se o crime for cometido mediante lesão grave ou gravíssima, será Ação Penal Pública
Incondicionada.

- Crime contra honra do Presidente da República/Chefe de Governo estrangeiro: Ação Penal


Pública Condicionada à requisição do Ministro da Justiça.

- Crimes militares contra a honra: Ação Penal Pública Incondicionada.

- Crimes eleitorais contra a honra (durante a propaganda eleitoral): Ação Penal Pública
Incondicionada.

- Injúria racial:
CP.
Art. 140 (...)
§3º Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem
ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência: (Redação dada pela Lei nº 10.741,
de 2003)
Pena - reclusão de um a três anos e multa. (Incluído pela Lei nº 9.459, de 1997)
CP.
O crime de injúria racial se trata de Ação Penal Pública condicionada à representação do
ofendido.
Obs: Cuidado para não confundir a injúria racial com crime de racismo.
Injúria Racial: Direcionada à uma pessoa individualizada (ex: jogador Daniel Alves).
Racismo: Oposição indistinta a toda uma raça, etnia e demais elementos previstos no texto legal.

Art. 145 - Nos crimes previstos neste Capítulo somente se procede mediante queixa, salvo
quando, no caso do art. 140, § 2º, da violência resulta lesão corporal.
Parágrafo único. Procede-se mediante requisição do Ministro da Justiça, no caso do inciso I do
caput do art. 141 deste Código, e mediante representação do ofendido, no caso do inciso II do

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mesmo artigo, bem como no caso do § 3º do art. 140 deste Código. (Redação dada pela Lei nº
12.033. de 2009)

LEI Nº 12.033, DE 29 DE SETEMBRO DE 2009.


Altera a redação do parágrafo único do art. 145 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de
1940 - Código Penal, tornando pública condicionada a ação penal em razão da injúria que
especifica.
(...)
Art. 3º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Este texto não substitui o publicado no DOU de 30.9.2009

- Injúria racial X racismo (Lei 7.716/89):


O racismo é crime de Ação Penal Pública Incondicionada.
Racismo: Oposição indistinta a toda uma raça, etnia e demais elementos previstos no texto legal.

- Crime contra a honra de servidor público em razão das funções:


- Legitimidade alternativa:
Súmula 714 do STF: é concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do ministério
público, condicionada à representação do ofendido, para a ação penal por crime contra a honra
de servidor público em razão do exercício de suas funções.
O crime contra a honra do servidor, para incidência da Súmula 714 do STF, deve guardar relação
com suas funções. Trata-se de Ação Penal Pública condicionada à representação do ofendido
(pela leitura do 145 do CP), todavia, referida Súmula amplia a possibilidade de a vítima ingressar
com Queixa Crime.
Ex: Afirmar que um Promotor de Justiça é corrupto.

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Obs: Apesar da Súmula afirmar que a legitimidade é concorrente, em verdade ela é alternativa,
pois se o ofendido oferecer representação a queixa crime estará preclusa conforme o
precedente abaixo:

STF: “(...) Ação penal: crime contra a honra do servidor público, propter officium: legitimação
concorrente do MP, mediante representação do ofendido, ou deste, mediante queixa: se, no
entanto, opta o ofendido pela representação ao MP, fica-lhe preclusa a ação penal privada:
electa una via... II. Ação penal privada subsidiária: descabimento se, oferecida a representação
pelo ofendido, o MP não se mantém inerte, mas requer diligências que reputa necessárias. III.
Processo penal de competência originária do STF: irrecusabilidade do pedido de arquivamento
formulado pelo Procurador-Geral da República, se fundado na falta de elementos informativos
para a denúncia”. (STF, Pleno, Inq. 1.939/BA, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, j. 03/03/2004).

(VUNESP – JUIZ SUBSTITUTO - TJ/SP- 2017) .A legitimidade para a propositura de ação penal por
crime contra a honra de servidor público em razão do exercício de suas funções é
(A) exclusiva do Ministério Público, condicionada à representação do ofendido.
(B) concorrente do ofendido, mediante queixa, e do Ministério Público, condicionada à
representação do ofendido.
(C) concorrente do ofendido, mediante representação, e do Ministério Público, mediante ação
pública incondicionada.
(D) exclusiva do ofendido, mediante queixa.
Gabarito: B

TJ-BA/2019. Tendo como fundamento a jurisprudência dos tribunais superiores, assinale a


opção correta, a respeito de ação penal.
A. Em razão do princípio da indivisibilidade, o não ajuizamento de ação penal contra todos os
coautores de crime de roubo implicará o arquivamento implícito em relação àqueles que não
forem denunciados.
B. A inexistência de poderes especiais na procuração outorgada pelo querelante não gerará a
nulidade da queixa-crime quando o consequente substabelecimento atender às exigências
expressas no art. 44 do CPP.
C. Na queixa-crime, a omissão involuntária, pelo querelante, de algum coautor implicará o
reconhecimento da renúncia tácita do direito de queixa pelo juiz e resultará na extinção da
punibilidade.

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D. No caso de ação penal privada, eventual omissão de poderes especiais na procuração
outorgada pelo querelante poderá ser sanada a qualquer tempo por iniciativa do querelante.
E. No caso de crime praticado contra a honra de servidor público no exercício de suas funções,
a vítima tem legitimação concorrente com o MP para ajuizar ação penal.
Gabarito: E

16. AÇÃO PENAL NOS CRIMES DE LESÃO LEVE PRATICADOS COM VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E
FAMILIAR CONTRA A MULHER.
A ação penal nos crimes de lesão leve praticados com violência doméstica e familiar contra a
mulher trata-se de Ação Penal Pública Incondicionada, uma vez que não são aplicadas as normas
dos Juizados.

- Conceito de violência doméstica e familiar contra a mulher:


Lei 11.340/06.
Art. 5º Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher
qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico,
sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial:
I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de
pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas;
II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou
se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa;
III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a
ofendida, independentemente de coabitação.
Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação
sexual.

- Formas de violência doméstica e familiar contra a mulher:


Art. 7º São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras:
I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde
corporal;
II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e
diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que
vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça,
constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição

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contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou
qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação;
III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter
ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso
da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a
impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao
aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite
ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos;
IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção,
subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos
pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer
suas necessidades;
V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou
injúria

- Ação penal nos crimes de lesão corporal leve e lesão culposa:


Lei 9.099/95.
Art. 88. Além das hipóteses do Código Penal e da legislação especial, dependerá de
representação a ação penal relativa aos crimes de lesões corporais leves e lesões culposas.

Lei 11.340/06.
Art. 16. Nas ações penais públicas condicionadas à representação da ofendida de que trata esta
Lei, só será admitida a renúncia à representação perante o juiz, em audiência especialmente
designada com tal finalidade, antes do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público.
Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher,
independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995.

STF: “(...) AÇÃO PENAL – VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER – LESÃO CORPORAL –
NATUREZA. A ação penal relativa a lesão corporal resultante de violência doméstica contra a
mulher é pública incondicionada – considerações”. (STF, Pleno, ADI 4.424/DF, Rel. Min. Marco
Aurélio, j. 09/02/2012).

STF: “(...) VIOLÊNCIA DOMÉSTICA – LEI Nº 11.340/06 – GÊNEROS MASCULINO E FEMININO –


TRATAMENTO DIFERENCIADO. O artigo 1º da Lei nº 11.340/06 surge, sob o ângulo do

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tratamento diferenciado entre os gêneros – mulher e homem –, harmônica com a Constituição
Federal, no que necessária a proteção ante as peculiaridades física e moral da mulher e a cultura
brasileira. COMPETÊNCIA – VIOLÊNCIA DOMÉSTICA – LEI Nº 11.340/06 – JUIZADOS DE
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER. O artigo 33 da Lei nº 11.340/06, no que
revela a conveniência de criação dos juizados de violência doméstica e familiar contra a mulher,
não implica usurpação da competência normativa dos estados quanto à própria organização
judiciária. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER – REGÊNCIA – LEI Nº 9.099/95
– AFASTAMENTO. O artigo 41 da Lei nº 11.340/06, a afastar, nos crimes de violência doméstica
contra a mulher, a Lei nº 9.099/95, mostra-se em consonância com o disposto no § 8º do artigo
226 da Carta da República, a prever a obrigatoriedade de o Estado adotar mecanismos que
coíbam a violência no âmbito das relações familiares”. (STF, Pleno, ADC 19/DF, Rel. Min. Marco
Aurélio, j. 09/02/2012).

Súmula n. 536 do STJ: “A suspensão condicional do processo e a transação penal não se aplicam
na hipótese de delitos sujeitos ao rito da Lei Maria da Penha”;

Súmula n. 542 do STJ: “A ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de violência
doméstica e familiar contra a mulher é pública incondicionada”;

(VUNESP – JUIZ SUBSTITUTO - TJ/RJ- 2016) . A, casada com B, durante uma discussão de casal,
levou um soco, sendo ameaçada de morte. Diante dos gritos e ameaças, os vizinhos acionaram
a Polícia que, ao chegar ao local, conduziu todos à Delegacia. A, inicialmente, prestou
depoimento na Delegacia e manifestou o desejo de que o marido fosse processado
criminalmente pelos crimes de lesão corporal leve e ameaça. Entretanto, encerradas as
investigações policiais e remetidos os autos ao Fórum, em sede de audiência preliminar, A
informou o Juízo que havia se reconciliado com B, não desejando que o marido fosse processado
por ambos os crimes. Diante da nova manifestação de vontade de A, é correto afirmar que o
procedimento
(A) será arquivado quanto ao crime de ameaça, já que a ação é condicionada à representação
da vítima. Quanto ao crime de lesão corporal, ocorrida em âmbito doméstico, o procedimento
terá seguimento, por tratar-se de ação penal pública incondicionada. Todavia, é possível ao
órgão de acusação, desde logo, ofertar a transação penal.
(B) terá seguimento, tanto para o crime de ameaça quanto para o crime de lesão corporal.
Todavia, é possível ao órgão de acusação, desde logo, ofertar a transação penal.

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(C) terá seguimento quanto ao crime de lesão corporal, visto que a ação penal é pública
incondicionada, por ter se dado em âmbito doméstico. Já quanto ao crime de ameaça, a
retratação de A obsta o prosseguimento, visto que a ação penal continua condicionada à
representação, ainda que praticada em âmbito doméstico.
(D) deverá ser arquivado, vez que a ação penal, seja para o crime de ameaça, seja para o de
lesão corporal de natureza leve, é condicionada à representação da vítima, e a retratação de A
obsta o prosseguimento do feito.
(E) terá seguimento, tanto para o crime de ameaça quanto para o crime de lesão corporal, pois
em se tratando de crimes ocorridos no âmbito doméstico, a ação penal é pública incondicionada,
pouco importando a retratação de A.
Gabarito: B

17. MUDANÇA DA ESPÉCIE DE AÇÃO PENAL NOS CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL E NO
CRIME DE ESTELIONATO.
17.1. AÇÃO PENAL NOS CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL.
A regra geral é que os crimes contra a dignidade sexual são de Ação Penal Pública
Incondicionada. O professor ressalta que este crime foi objeto de várias modificações legislativas
(transcritas abaixo):

CP (redação anterior à Lei n. 12.015/09)


Art. 225. Nos crimes definidos nos capítulos anteriores, somente se procede mediante queixa.
§1º - Procede-se, entretanto, mediante ação pública:
I - se a vítima ou seus pais não podem prover às despesas do processo, sem privar-se de recursos
indispensáveis à manutenção própria ou da família;
II - se o crime é cometido com abuso do pátrio poder, ou da qualidade de padrasto, tutor ou
curador.
§ 2º - No caso do nº I do parágrafo anterior, a ação do Ministério Público depende de
representação.

- Violência real: consiste no emprego de força sobre o corpo da vítima como forma de
constrangimento.

Súmula 608 do STF: no crime de estupro, praticado mediante violência real, a ação penal é
pública incondicionada.

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- Ação penal extensiva:
CP.
A ação penal no crime complexo
Art. 101 - Quando a lei considera como elemento ou circunstâncias do tipo legal fatos que, por
si mesmos, constituem crimes, cabe ação pública em relação àquele, desde que, em relação a
qualquer destes, se deva proceder por iniciativa do Ministério Público. (Redação dada pela Lei
nº 7.209, de 11.7.1984)

CP
Art. 225. Nos crimes definidos nos Capítulos I e II deste Título, procede-se mediante ação penal
pública condicionada à representação. (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)
Parágrafo único. Procede-se, entretanto, mediante ação penal pública incondicionada se a
vítima é menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa vulnerável. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)

- Espécie de vulnerabilidade e natureza da ação penal pública;


STJ: “(...) A própria doutrina reconhece a existência de certa confusão na previsão contida no
art. 225, caput e parágrafo único, do Código Penal, o qual, ao mesmo tempo em que prevê ser
a ação penal pública condicionada à representação a regra tanto para os crimes contra a
liberdade sexual quanto para os crimes sexuais contra vulnerável, parece dispor que a ação
penal do crime de estupro de vulnerável é sempre incondicionada. A interpretação que deve ser
dada ao referido dispositivo legal é a de que, em relação à vítima possuidora de incapacidade
permanente de oferecer resistência à prática dos atos libidinosos, a ação penal seria sempre
incondicionada. (...) Mas, em se tratando de pessoa incapaz de oferecer resistência apenas na
ocasião da ocorrência dos atos libidinosos, a ação penal permanece condicionada à
representação da vítima, da qual não pode ser retirada a escolha de evitar o strepitus judicii.
Com este entendimento, afasta-se a interpretação no sentido de que qualquer crime de estupro
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de vulnerável seria de ação penal pública incondicionada, preservando-se o sentido da redação
do caput do art. 225 do Código Penal. No caso em exame, observa-se que, embora a suposta
vítima tenha sido considerada incapaz de oferecer resistência na ocasião da prática dos atos
libidinosos, esta não é considerada pessoa vulnerável, a ponto de ensejar a modificação da ação
penal. (...) Ou seja, a vulnerabilidade pôde ser configurada apenas na ocasião da ocorrência do
crime. Assim, a ação penal para o processamento do crime é pública condicionada à
representação. Verificada a ausência de manifestação inequívoca da suposta vítima de ver
processado o paciente pelo crime de estupro de vulnerável, deve ser reconhecida a ausência de
condição de procedibilidade para o exercício da ação penal. Observado que o crime foi
supostamente praticado em 30/1/2012, mostra-se necessário o reconhecimento da decadência
do direito de representação, estando extinta a punibilidade do agente. Writ não conhecido.
Concessão de ordem de habeas corpus de ofício, para anular a condenação e a ação penal
proposta contra o paciente”. (STJ, 6ª Turma, HC 276.510/RJ, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j.
11/11/2014, DJe 1º/12/2014).

- Ação penal no crime de estupro cometido com violência real após o advento da Lei n.
12.015/09;

STJ: “(...) Com a superveniência da Lei nº 12.015/2009, que deu nova redação ao artigo 225 do
Código Penal, a ação penal nos delitos de estupro e de atentado violento ao pudor, ainda que
praticados com violência real, passou a ser de natureza pública condicionada à representação,
exceto nas hipóteses em que a vítima for menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa vulnerável, em
que a ação será pública incondicionada. Em atenção ao princípio da retroatividade da lei
posterior mais benéfica, ex vi do disposto no art. 5º, inciso XL, da Constituição Federal, de rigor
sua aplicação a casos como o presente. Com a anulação da ação penal, tem-se por reconhecida
a decadência do direito de representação, e a extinção da punibilidade. (...)”. (STJ, 6ª Turma,
RHC 39.538/RJ, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, j. 08/04/2014, DJe 25/04/2014). Na
mesma linha: STJ, 5ª Turma, REsp 1.227.746/RS, Rel. Min. Gilson Dipp, j. 02/08/2011, Dje
17/08/2011.

Informativo n. 892 do STF: A Primeira Turma, em conclusão de julgamento e por maioria,


denegou a ordem e revogou a liminar anteriormente deferida em “habeas corpus” que
postulava a extinção de processo criminal com base essencialmente na alegação de
desconsideração do prazo decadencial do direito de representação em crime de atentado

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violento ao pudor. No caso, a denúncia do paciente foi realizada em 2012, quando já estava em
vigor a Lei 12.015/2009, que alterou o disposto no art. 225 do Código Penal, e mais de cinco
anos após a ocorrência do delito. A Turma asseverou que as instâncias ordinárias concluíram
que o crime foi praticado mediante violência real. Incide, portanto, o Enunciado 608 da Súmula
do STF, mesmo após o advento da Lei 12.015/2009. Com efeito, rejeitou a alegação de
decadência ao fundamento de que a ação penal é pública incondicionada, na linha do que
decidido no HC 102.683/RS (DJe de 7.2.2011). (STF, 1ª Turma, HC 125.360/RJ, Rel. Min.
Alexandre de Moraes, j. 27/02/2018).

- Direito intertemporal: Lei 12.015/09 e necessidade de representação.


STJ: “(...) Se a lei nova se apresenta mais favorável ao réu nos casos de estupro qualificado, o
mesmo deve ocorrer com as hipóteses de violência real, isto é, para as ações penais públicas
incondicionadas nos termos da Súmula 608/STF. Tais ações penais deveriam ser suspensas para
que as vítimas manifestassem desejo de representar contra o réu. (...)”. (STJ, 5ª Turma, REsp
1.227.746/RS, Rel. Min. Gilson Dipp, j. 02/08/2011, Dje 17/08/2011).

STJ: “(...) Com a superveniência da Lei nº 12.015/2009, que deu nova redação ao artigo 225 do
Código Penal, a ação penal nos delitos de estupro e de atentado violento ao pudor, ainda que
praticados com violência real, passou a ser de natureza pública condicionada à representação,
exceto nas hipóteses em que a vítima for menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa vulnerável, em
que a ação será pública incondicionada. Em atenção ao princípio da retroatividade da lei
posterior mais benéfica, ex vi do disposto no art. 5º, inciso XL, da Constituição Federal, de rigor
sua aplicação a casos como o presente. (...)

(...) Tendo a ofendida se retratado da representação anteriormente apresentada, sem que tenha
sido oferecida denúncia, deve ser restabelecida a decisão do Juízo de primeira instância que
determinou o arquivamento do feito, por ausência de condição de procedibilidade da ação
penal. Recurso especial improvido. Habeas corpus concedido de ofício para restabelecer a
decisão do Juízo de primeira instância que determinou o arquivamento do inquérito policial em
razão da retratação da representação pela ofendida”. (STJ, 6ª Turma, REsp 1.290.077/SP, Rel.
Min. Maria Thereza de Assis Moura, j. 04/02/2014, DJe 31/03/2014).

Art. 225. Nos crimes definidos nos Capítulos I e II deste Título, procede-se mediante ação penal
pública incondicionada (Redação dada pela Lei nº 13.718/18)

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Parágrafo único. Revogado pela Lei n. 13.718/18.

Obs. 1: crimes definidos nos “Capítulos I e II Deste Título”;

- Crimes definidos no Capítulo I (“Dos crimes contra a Liberdade Sexual”) do Título VI (“Dos
crimes contra a dignidade sexual”): a) Art. 213. Estupro; b) Art. 215. Violação sexual mediante
fraude; c) Art. 215-A. Importunação sexual; d) Art. 216-A. Assédio sexual;

- Crimes definidos no Capítulo II (“Dos crimes sexuais contra vulnerável”) do Título VI (“Dos
crimes contra a dignidade sexual”): a) Art. 217-A. Estupro de vulnerável; b) Art. 218. Corrupção
de menores; c) Art. 218-A. Satisfação de lascívia mediante presença de criança ou adolescente;
d) Art. 218-B. Favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de criança
ou adolescente ou de vulnerável; e) Art. 218-C. Divulgação de cena de estupro ou de cena de
estupro de vulnerável, de cena de sexo ou de pornografia;

Obs. 2: nos demais capítulos do Título VI (“Dos crimes contra a dignidade sexual”) não há
nenhum crime de ação penal privada, nem tampouco pública condicionada à representação;

CP
Art. 100. A ação penal é pública, salvo quando a lei expressamente a declara privativa do
ofendido.
§1º A ação pública é promovida pelo Ministério Público, dependendo, quando a lei o exige, de
representação do ofendido ou de requisição do Ministro da Justiça.
(...)

Obs. 3: novalio legis in pejus;

17.2. AÇÃO PENAL NOS CRIMES DE ESTELIONATO.


Antes do pacote anticrime: Ação Penal Pública Incondicionada

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Após a vigência do pacote anticrime: Ação Penal Pública condicionada à representação, salvo se
a vítima estiver elencada no §5º do art. 171, CP.

CP
Art. 171. (...)
(...)
§5º Somente se procede mediante representação, salvo se a vítima for: (incluído pela Lei n.
13.964/19)
I - a Administração Pública, direta ou indireta;
II – criança ou adolescente;
III – pessoa com deficiência mental; ou
IV – maior de 70 (setenta) anos de idade ou incapaz.

Obs.: O professor critica o inciso III do artigo 171 do CP, uma vez que para que ocorra o crime
de estelionato a vítima precisa ter certo grau de discernimento. Afirma que, em verdade, seria
cometido o crime do art. 173, CP.

17.2.1. Direito intertemporal.


a. Crimes de estelionato cometidos antes da entrada em vigor da Lei n. 13.964/19, cujas
denúncias ainda não tivessem sido oferecidas por ocasião da vigência do Pacote Anticrime
(23.01.2020);
Haverá necessidade de representação (STF, HC 187341).

b. Crimes de estelionato cometidos antes da vigência do art. 171, §5º, do CP, cujos processos
criminais já estivessem em andamento por ocasião da entrada em vigor da Lei n. 13.964/19;
1ª corrente: (minoritária) A representação será necessária como condição de prosseguibilidade.
Prazo de 6 meses para oferecer representação.

21ª corrente: (majoritária) Não haverá necessidade de representação como condição de


prosseguibilidade (STF, HC 187341/ STJ, HC 573093).

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18. PEÇA ACUSATÓRIA.

- É possível haver um único processo com duas peças acusatórias (denúncia + queixa)?
Sim, desde que haja conexão ou continência.

18.1. Requisitos da peça acusatória.


Requisitos válidos para a Denúncia e a Queixa Crime (o professor ressalta que na queixa crime
há necessidade de procuração e recolhimento de custas).

CPP
Art. 41. A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas as suas
circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo,
a classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas.

a) Imputação criminal.
- Imputação criminal: é a atribuição a alguém da prática de determinada infração penal,
funcionando como o ato processual por meio do qual se formula a pretensão penal.
Conceito: Atribuir a alguém a prática de determinado crime, através de uma narrativa dos fatos,
conforme o roteiro abaixo:

- Roteiro da denúncia:
O que aconteceu?
Quando?
Por que?
Como?
Contra quem?

A peça acusatória deverá ser simples e objetiva, pois o principal destinatário dela é o acusado.
Sugestão de leitura: Gustavo Henrique Righi Ivahy Badaró.

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- Elementos da peça acusatória:
1) Essenciais: são aqueles necessários para identificar a conduta como fato típico;
A ausência dos elementos essenciais gera nulidade absoluta em razão da violação da ampla
defesa.
Obs.: O professor ressalta que as modalidades de culpa deverão estar expressamente arguidas
na peça acusatória.

2) Acidentais (acessórios): são aqueles ligados a circunstâncias de tempo, lugar, ou modus


operandi;
Se conhecidos, os elementos acidentais deverão constar na peça acusatória sob pena de
nulidade relativa. Todavia, o professor ressalta que algumas vezes essas informações serão
desconhecidas:
Ex: Furto em casa de praia.

- Agravantes e atenuantes:
CPP.
Art. 385. Nos crimes de ação pública, o juiz poderá proferir sentença condenatória, ainda que o
Ministério Público tenha opinado pela absolvição, bem como reconhecer agravantes, embora
nenhuma tenha sido alegada.
A parte final do art. 385 do CPPC é duramente criticada pela doutrina pelo reconhecimento de
agravantes após a realização da peça acusatória. Todavia, os Tribunais entendem que existe tal
possibilidade, conforme os julgados abaixo:

STF: “(...) As agravantes, ao contrário das qualificadoras, sequer precisam constar da denúncia
para serem reconhecidas pelo Juiz. É suficiente, para que incidam no cálculo da pena, a
existência nos autos de elementos que as identifiquem. No caso sob exame, consta na sentença
que a paciente organizou a cooperação no crime, dirigindo a atividade criminosa. Ordem
denegada”. (STF, 2ª Turma, HC 93.211/DF, j. 12/02/2008).

STJ: “(...) A denúncia é inepta, pois não descreveu qual a conduta praticada pelo paciente, que
decorreria de negligência, imprudência ou perícia, a qual teria ocasionado a produção do
resultado naturalístico. O fato de o paciente ter perdido o "controle da direção" e ter, em
consequência, invadido a contramão, não é típico. A tipicidade, se houvesse, estaria na causa da

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perda do controle do veículo. Essa, entretanto, não é mencionada na peça acusatória”. (STJ, 6ª
Turma, HC 188.023/ES, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j. 1º/09/2011).

- Criptoimputação: Trata-se de imputação contaminada por grave deficiência da narrativa do


fato delituoso. Neste caso a peça será inepta, conforme art. 395, I, do CPP.

Obs. 1. Imputação patrimonial.


A imputação criminal é a ação de atribuir a alguém a aquisição de bens, direitos ou valores em
razão de determinado fato criminoso. O professor ressalta que além da imputação criminal é
importante que se observe a imputação patrimonial, pois poderá acarretar em possível confisco.

Confisco alargado:
CP
Art. 91-A. Na hipótese de condenação por infrações às quais a lei comine pena máxima superior
a 6 (seis) anos de reclusão, poderá ser decretada a perda, como produto ou proveito do crime,
dos bens correspondentes à diferença entre o valor do patrimônio e aquele que seja compatível
com o seu rendimento lícito. (Incluído pela Lei n. 13.964/19)
(...)

O pacote anticrime de forma inteligente trouxe a redação do §3º do art. 91-A de forma expressa
ao requer que o MP, quando do oferecimento da denúncia, indique a diferença apurada para o
confisco:
CP
Art. 91-A. (...)
§3º A perda prevista neste artigo deverá ser requerida expressamente pelo Ministério Público,
por ocasião do oferecimento da denúncia, com indicação da diferença apurada. (Incluído pela
Lei n. 13.964/19)

Pode acarretar também na reparação dos danos causados pelo delito:


CPP
Art. 387. O juiz, ao proferir sentença condenatória:
(...)
IV – fixará valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração, considerando os
prejuízos sofridos pelo ofendido; (Redação dada pela Lei n. 11.719/08)

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Os Tribunais vêm manifestando entendimento de que para ocorrer a reparação dos danos, deve
haver pedido expresso na inicial com a devida indicação de valor e instrução probatória
específica para garantir a ampla defesa ao acusado.

- Tem prevalecido na jurisprudência o entendimento de que, para fins de fixação na sentença


do valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração, com base no art. 387, IV, do
CPP, é necessário pedido expresso na inicial, indicação de valor e instrução probatória específica,
de modo a possibilitar ao acusado o direito de defesa com a comprovação de inexistência de
prejuízo a ser reparado ou a indicação de quantum diverso. Com esse entendimento: STJ, 5ª
Turma, AgRg no REsp 1.724.625/RS, Rel. Min. Ribeiro Dantas, j. 21.06.2018, DJe 28.06.2018; STJ,
6ª Turma, AgRg no REsp 1.785.526/MT, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 25.06.2019, DJe 02.08.2019. E
ainda: STJ, 5ª Turma, REsp 1.193.083/RS, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 20/08/2013, DJe 27/08/2013;
STJ, 5ª Turma, REsp 1.248.490/RS, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 08/05/2012, DJe 21/05/2012; STJ, 5ª
Turma, REsp 1.185.542/RS, Rel. Min. Gilson Dipp, j. 14/04/2011, DJe 16/05/2011; STJ, 6ª Turma,
AgRg no AREsp 389.234/DF, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, j. 08/10/2013, DJe
17/10/2013.

b) Qualificação do acusado:
- Recusa do réu em fornecer sua identidade civil:
A identificação criminal é utilizada em caso de recusa do réu de fornecer sua identidade civil. O
professor ressalta que se a pessoa se recusar a fornecer a sua qualificação poderá acarretar em
prisão preventiva (art. 313, parágrafo único, do CPP).

CPP.
Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a decretação da prisão preventiva:
(Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
Parágrafo único. Também será admitida a prisão preventiva quando houver dúvida sobre a
identidade civil da pessoa ou quando esta não fornecer elementos suficientes para esclarecê-la,
devendo o preso ser colocado imediatamente em liberdade após a identificação, salvo se outra
hipótese recomendar a manutenção da medida. (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).

A denúncia poderá ser oferecida por meio de esclarecimentos pelos quais possibilite a
identificação?

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Apesar de o art. 41 do CPC trazer a possibilidade de denúncia por esclarecimentos que possam
identificar o acusado, o professor faz crítica ao ponto, subentendendo-se por sua revogação.

CPP.
Art. 41. A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas as suas
circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo,
a classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas.

Se a denúncia for realizada com a qualificação errada, mas ainda assim, restar certa a identidade
física, não retardará a ação penal:
CPP.
Art. 259. A impossibilidade de identificação do acusado com o seu verdadeiro nome ou outros
qualificativos não retardará a ação penal, quando certa a identidade física. A qualquer tempo,
no curso do processo, do julgamento ou da execução da sentença, se for descoberta a sua
qualificação, far-se-á a retificação, por termo, nos autos, sem prejuízo da validade dos atos
precedentes.

c) Classificação do crime:
Deve ser indicado, ao final da denúncia, o tipo penal, eventual qualificadora e o diploma
normativo.
Ex: Art. 121, §2º, I, do CP.
O professor ressalta que eventual erro quanto a classificação não autoriza a rejeição da peça
acusatória, porque o que realmente importa é a descrição dos fatos.

- Correlação entre acusação e sentença:

- Alteração, pelo juiz, da classificação do crime por ocasião do recebimento da denúncia:

- “Emendatio libelli”:
Art. 383. O juiz, sem modificar a descrição do fato contida na denúncia ou queixa, poderá
atribuir-lhe definição jurídica diversa, ainda que, em conseqüência, tenha de aplicar pena mais
grave. (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).

- “Mutatio libelli”:

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CPP.
Art. 384. Encerrada a instrução probatória, se entender cabível nova definição jurídica do fato,
em consequência de prova existente nos autos de elemento ou circunstância da infração penal
não contida na acusação, o Ministério Público deverá aditar a denúncia ou queixa, no prazo de
5 (cinco) dias, se em virtude desta houver sido instaurado o processo em crime de ação pública,
reduzindo-se a termo o aditamento, quando feito oralmente. (Redação dada pela Lei nº 11.719,
de 2008).

d) Rol de testemunhas:
A depender do caso concreto não há necessidade.

- Testemunhas do juízo:
CPP.
Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado ao juiz de
ofício: (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008)
II – determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a realização de diligências
para dirimir dúvida sobre ponto relevante. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)

Para a acusação o número de testemunhas se refere a cada fato delituoso, enquanto que para
a defesa o número de testemunhas se refere a cada acusado e a cada fato delituoso, todavia
cabe ao juízo averiguar se as testemunhas são pertinentes ou procrastinatórias.
CPP.
Art. 400. Na audiência de instrução e julgamento, a ser realizada no prazo máximo de 60
(sessenta) dias, proceder-se-á à tomada de declarações do ofendido, à inquirição das
testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa, nesta ordem, ressalvado o disposto no art.

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222 deste Código, bem como aos esclarecimentos dos peritos, às acareações e ao
reconhecimento de pessoas e coisas, interrogando-se, em seguida, o acusado. (Redação dada
pela Lei nº 11.719, de 2008).
§ 1º As provas serão produzidas numa só audiência, podendo o juiz indeferir as consideradas
irrelevantes, impertinentes ou protelatórias. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).

STJ: “(...) O limite máximo de 8 (oito) testemunhas descrito no art. 401, do Código de Processo
Penal, deve ser interpretado em consonância com a norma constitucional que garante a ampla
defesa no processo penal (art. 5º, LV, da CF/88). Para cada fato delituoso imputado ao acusado,
não só a defesa, mas também a acusação, poderá arrolar até 8 (oito) testemunhas, levando-se
em conta o princípio da razoabilidade e proporcionalidade”. (STJ, 5ª Turma, HC 55.702/ES, Rel.
Min. Honildo Amaral de Mello Castro, j. 05/10/2010).

f) Razões de convicção:
Não consta expressamente no art. 41 do CPP, mas consta no art. 77, “e”, do CPPM.

- Peça acusatória subscrita pelo Promotor ou pelo advogado do querelante:


A peça acusatória dever ser assinada pelo Promotor ou pelo Advogado do Querelante, todavia,
os tribunais entendem que o Promotor poderá suprir a assinatura posteriormente por meio de
cota ministerial assinada por ele.

CPP
Art. 44. A queixa poderá ser dada por procurador com poderes especiais, devendo constar do
instrumento do mandato o nome do querelante e a menção do fato criminoso, salvo quando
tais esclarecimentos dependerem de diligências que devem ser previamente requeridas no juízo
criminal.
- Poderes especiais: Para delimitar a responsabilidade de forma a se evitar que o advogado(a)
venha a sofrer acusação de denunciação caluniosa, calúnia, etc.
- Nome do querelante: quando o art. 44 diz “querelante”, leia-se “querelado”.
- Menção do fato criminoso: divergência doutrinária.
1ª posição: basta mencionar o fato criminoso.
2ª posição: não basta somente mencionar, é preciso descrever o fato delituoso.
- Instrumento de mandato: Súmula 644, STJ.

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Súmula 644, STJ: "O núcleo de prática jurídica deve apresentar o instrumento de mandato
quando constituído pelo réu hipossuficiente, salvo nas hipóteses em que é nomeado pelo juízo".

O professor ressalta que se a pessoa procura do Núcleo de Prática Jurídica deve outorgar
poderes por meio de procuração, todavia, caso o Núcleo seja nomeado pelo Juízo de forma
dativa, não há necessidade. Esta última situação pode ocorrer em comarcas em que não há
atuação da Defensoria Pública, mas há atuação do Núcleo de Prática Jurídica de alguma
Universidade.

- Vícios da Procuração:
Caso venha a faltar algum requisito da procuração, não haverá nulidade, bastando sua
ratificação. Ocorre que, a ratificação, segundo o entendimento dos Tribunais, deve ocorrer antes
do prazo decadencial, sob pena de não reconhecimento da queixa crime.

CPP.
Art. 568. A nulidade por ilegitimidade do representante da parte poderá ser a todo tempo
sanada, mediante ratificação dos atos processuais.

STJ: “(...) A procuração outorgada pelo querelante ao seu advogado para fins de ingresso com
queixa-crime não requer a descrição pormenorizada do fato criminoso”. (STJ, 3ª Seção, Rcl
5.478/DF, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j. 14/09/2011).

STF: “(...) O defeito da procuração outorgada pelas querelantes ao seu advogado, para requerer
abertura de inquérito policial, sem menção do fato criminoso, constitui hipótese de
ilegitimidade do representante da parte, que, a teor do art. 568 C.Pr.Pen., "poderá ser a todo o
tempo sanada, mediante ratificação dos atos processuais" (RHC 65.879, Célio Borja); Na espécie,
a presença das querelantes em audiências realizadas depois de findo o prazo decadencial basta
a suprir o defeito da procuração”. (STF, 1ª Turma, HC 84.397/DF, Rel. Min. Sepúlveda Pertence,
j. 21/09/2004, DJ 12/11/2004).

17.2. Prazo para Oferecimento da Peça Acusatória.


Em regra: Prazo de 5 dias se o réu estiver preso e 15 dias, caso o réu esteja solto.

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CPP.
Art. 46. O prazo para oferecimento da denúncia, estando o réu preso, será de 5 dias, contado
da data em que o órgão do Ministério Público receber os autos do inquérito policial, e de 15
dias, se o réu estiver solto ou afiançado. No último caso, se houver devolução do inquérito à
autoridade policial (art. 16), contar-se-á o prazo da data em que o órgão do Ministério Público
receber novamente os autos.
(...)
§ 1º Quando o Ministério Público dispensar o inquérito policial, o prazo para o oferecimento da
denúncia contar-se-á da data em que tiver recebido as peças de informações ou a representação
§ 2º O prazo para o aditamento da queixa será de 3 dias, contado da data em que o órgão do
Ministério Público receber os autos, e, se este não se pronunciar dentro do tríduo, entender-se-
á que não tem o que aditar, prosseguindo-se nos demais termos do processo.

- Consequências da inobservância desse prazo pelo MP:


CPP.
Art. 801. Findos os respectivos prazos, os juízes e os órgãos do Ministério Público, responsáveis
pelo retardamento, perderão tantos dias de vencimentos quantos forem os excedidos. Na
contagem do tempo de serviço, para o efeito de promoção e aposentadoria, a perda será do
dobro dos dias excedidos.

CF/88.
Art. 128. O Ministério Público abrange:§ 5º - Leis complementares da União e dos Estados, cuja
iniciativa é facultada aos respectivos Procuradores-Gerais, estabelecerão a organização, as
atribuições e o estatuto de cada Ministério Público, observadas, relativamente a seus membros:
I - as seguintes garantias:
(...)
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c) irredutibilidade de subsídio, fixado na forma do art. 39, § 4º, e ressalvado o disposto nos arts.
37, X e XI, 150, II, 153, III, 153, § 2º, I; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)

17.3. Questões Diversas.


- Denúncia genérica:
STF: “(...) Nos crimes contra a ordem tributária a ação penal é pública. Quando se trata de crime
societário, a denúncia não pode ser genérica. Ela deve estabelecer o vínculo do administrador
ao ato ilícito que lhe está sendo imputado. É necessário que descreva, de forma direta e objetiva,
a ação ou omissão da paciente. Do contrário, ofende os requisitos do CPP, art. 41 e os Tratados
Internacionais sobre o tema. Igualmente, os princípios constitucionais da ampla defesa e do
contraditório. Denúncia que imputa co-responsabilidade e não descreve a responsabilidade de
cada agente, é inepta. O princípio da responsabilidade penal adotado pelo sistema jurídico
brasileiro é o pessoal (subjetivo). A autorização pretoriana de denúncia genérica para os crimes
de autoria coletiva não pode servir de escudo retórico para a não descrição mínima da
participação de cada agente na conduta delitiva. Uma coisa é a desnecessidade de
pormenorizar. Outra, é a ausência absoluta de vínculo do fato descrito com a pessoa do
denunciado. Habeas deferido”. (STF, 2ª Turma, HC 80.549/SP, Rel. Min. Nelson Jobim, DJ
24/08/2001).

- Cumulação de imputações:

- Imputação implícita:

- Imputação alternativa:

- Há precedentes do STJ admitindo a possibilidade de a inicial acusatória indicar de forma


alternativa o elemento subjetivo do agente (dolo direto ou eventual). Isso porque, in casu, não
haveria imputação alternativa, já que o legislador expressamente equiparou as duas
modalidades de dolo no art. 18, I, do CP. Por isso, em caso concreto em que o Tribunal de Justiça
do Rio Grande do Sul reconhecera a existência de excesso de acusação na descrição de duas
modalidades subjetivas distintas para um mesmo fato delituoso – homicídio praticado com dolo
direto ou eventual –, impossibilitando o exercício da plenitude de defesa, o STJ deu provimento
a REsp interposto pelo MP/RS para fins de admitir a submissão da imputação de homicídio ao
Tribunal do Júri na modalidade de dolo direto e de dolo eventual. STJ, REsp 1.708.024/RS, Rel.

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Min. Ribeiro Dantas, j. 26.04.2018, DJe 04.05.2018. Com entendimento semelhante: STJ, 5ª
Turma, HC 147.729/SP, Rel. Min. Jorge Mussi, j. 05.06.2012, DJe 20.06.2012.

(PGR –PROCURADOR DA REPÚBLICA – 2015) NO QUE DIZ RESPEITO A DENÚNCIAS NO PROCESSO


PENAL:
I - É entendimento atual no Supremo Tribunal Federal que, nos crimes ambientais, para ser
admitida a denuncia oferecida contra pessoa jurídica não e essencial a concomitante imputação
dos fatos correlatos as pessoas físicas em tese responsáveis no âmbito da empresa.
II - Praticado crime de sonegação fiscal previsto no art. 1°, III, da Lei n. 8.137/90 por "A", "B" e
"C", no âmbito da empresa "X", da qual são todos sócios administradores, em que estão
presentes todos os demais pressupostos processuais exigidos pelo art. 41, CPP, a eventual
exclusão, por ilegitimidade passiva, dos três administradores do polo passivo de correlata
execução fiscal no âmbito cível enseja reclamação no Supremo Tribunal Federal por violação da
Súmula Vinculante n. 24, STF.

III - A denúncia por crime de lavagem de dinheiro será da competência da Justiça Federal quando
praticado contra o sistema financeiro ou em detrimento de bens, serviços ou interesses da
União, de suas entidades autárquicas ou empresas publicas, ou ainda, quando a infração penal
antecedente for de competência da Justiga Federal.
IV - Se o Tribunal de Contas aprovar as contas a ele submetidas haverá obice a eventual denúncia
criminal oferecida pelo Ministério Público em relação aos fatos apurados, inviabilizando a
propositura de ação penal mesmo se houver o entendimento do Ministério Público de que estão
presentes a autoria e a materialidade.
Pode-se afirmar que:
(a) Todas as assertivas estão incorretas;
(b) Estão corretas apenas as assertivas I e III;
(c) Estão corretas apenas as assertivas II e III;
(d) Estão corretas apenas as assertivas I, III e IV.

Gabarito: B

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AÇÃO CIVIL EX DELICTO

1. Noções Introdutórias.
- Por conta de uma mesma infração penal, cuja prática é atribuída a determinada pessoa, podem
ser exercidas duas pretensões distintas: de um lado, a chamada pretensão punitiva, isto é, a
pretensão do Estado em impor a pena cominada em lei; do outro lado, a pretensão à reparação
do dano que a suposta infração penal possa ter causado à determinada pessoa;
Ex: Homicídio Culposo na direção de veículo automotor (acarretará um processo penal – art. 302
CTB - e a possibilidade de Ação Civil Ex Delito para reparar os prejuízos causados pelo crime).

Código Civil
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito
e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a
repará-lo.

2. Sistemas atinentes à relação entre a ação civil ex delicto e o processo penal:


a) Sistema da confusão: na antiguidade, muito antes de o Estado trazer para si a solução dos
conflitos intersubjetivos, cabia ao ofendido buscar a reparação do dano e a punição do autor do
delito por meio da ação direta sobre o ofensor. Por meio deste sistema, a mesma ação era
utilizada para a imposição da pena e para fins de ressarcimento do prejuízo causado pelo delito;

b) Sistema da solidariedade: neste sistema, há uma cumulação obrigatória de ações distintas


perante o juízo penal, uma de natureza penal, e outra cível, ambas exercidas no mesmo
processo, ou seja, apesar de separadas as ações, obrigatoriamente são resolvidas em conjunto
e no mesmo processo;

c) Sistema da livre escolha: caso o interessado queira promover a ação de reparação do dano
na seara cível, poderá fazê-lo. Porém, neste caso, face a influência que a sentença penal exerce
sobre a civil, incumbe ao juiz cível determinar a paralisação do andamento do processo até a
superveniência do julgamento definitivo da demanda penal, evitando-se, assim, decisões
contraditórias. De todo modo, a critério do interessado, admite-se a cumulação das duas
pretensões no processo penal, daí por que se fala em cumulação facultativa, e não obrigatória,
como se dá no sistema da solidariedade;

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d) Sistema da independência: as duas ações podem ser propostas de maneira independente,
uma no juízo cível, outra no âmbito penal. Isso porque, enquanto a ação cível versa sobre
questão de direito privado, de natureza patrimonial, a outra versa sobre o interesse do Estado
em sujeitar o suposto autor de uma infração penal ao cumprimento da pena cominada em lei.
O Sistema da independência é o adotado pelo nosso Código com certa mitigação, uma vez que
existe a possibilidade do próprio Juízo Penal fixar um valor mínimo para a reparação dos danos.

CPP
Art. 63. Transitada em julgado a sentença condenatória, poderão promover-lhe a execução, no
juízo cível, para o efeito da reparação do dano, o ofendido, seu representante legal ou seus
herdeiros.
Parágrafo único. Transitada em julgado a sentença condenatória, a execução poderá ser
efetuada pelo valor fixado nos termos do inciso IV do caput do art. 387 deste Código, sem
prejuízo da liquidação para a apuração do dano efetivamente sofrido.

CPP
Art. 64. Sem prejuízo do disposto no artigo anterior, a ação para ressarcimento do dano poderá
ser proposta no juízo cível, contra o autor do crime e, se for caso, contra o responsável civil.
Parágrafo único. Intentada a ação penal, o juiz da ação civil poderá suspender o curso desta, até
o julgamento definitivo daquela.

CPP
Art. 387. O Juiz, ao proferir sentença condenatória:
(...)
IV - fixará valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração, considerando os
prejuízos sofridos pelo ofendido (redação dada pela Lei n. 11.719/08);

3. Possibilidades alternativas e independentes para o ofendido buscar o ressarcimento do


dano causado pelo delito:
3.1. Ação de execução ex delicto;
A ação de execução ex delicto está prevista no art. 63 do CPP. Embora seja proposta no juízo
cível, depende do trânsito em julgado da sentença penal condenatória.

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3.2. Ação civil ex delicto;
A ação de civil ex delicto, prevista no art. 64 do CPP se trata de ação ordinária ajuizada na seara
cível para que seja o acusado responsabilizado (ou seu responsável civil) pelos danos causados.

4. Efeitos civis da absolvição penal.


Uma vez reconhecida a inexistência do fato ou a negativa de autoria/participação, de maneira
categórica, produzirá coisa julgada na seara cível. Ressalta o professor que se aplicado o
princípio do “in dubio pro reo” não há o que se falar em coisa julgada.

CPP.
Art. 66. Não obstante a sentença absolutória no juízo criminal, a ação civil poderá ser proposta
quando não tiver sido, categoricamente, reconhecida a inexistência material do fato.

Código Civil.
Art. 935. A responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo questionar mais
sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando estas questões se acharem
decididas no juízo criminal.

CPP
Art. 386. O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte dispositiva, desde que reconheça:
I - estar provada a inexistência do fato; (faz coisa julgada).
II - não haver prova da existência do fato; (não faz coisa julgada).
III - não constituir o fato infração penal; (não faz coisa julgada).
IV – estar provado que o réu não concorreu para a infração penal; (faz coisa julgada).
V – não existir prova de ter o réu concorrido para a infração penal; (não faz coisa julgada).
VI – existirem circunstâncias que excluam o crime ou isentem o réu de pena (arts. 20, 21, 22, 23,
26 e §1º do art. 28, todos do Código Penal), ou mesmo se houver fundada dúvida sobre sua
existência;

- Provada a existência de causa excludente da ilicitude real: faz coisa julgada.*


* Desde que o ofendido tenha dado causa a excludente.
- Provada a existência de causa excludente da ilicitude putativa e erro na execução: não faz
coisa julgada.
- Provada a existência de causa excludente da culpabilidade: não faz coisa julgada.

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- Fundada dúvida acerca de causa excludente da ilicitude ou da culpabilidade: não faz coisa
julgada.

CPP, 386
(...)
VII – não existir prova suficiente para a condenação; não faz coisa julgada.

STJ: “(...) O STJ pacificou entendimento no sentido de que a absolvição na esfera criminal, por
ausência de prova nos autos relativa ao fato de ter o acusado concorrido para a infração penal,
não tem o condão de excluir a condenação administrativa. Recurso especial a que se nega
provimento”. (STJ, 5ª Turma, REsp 1.028.436/SP, Rel. Min. Adilson Vieira Macabu, DJe
17/11/2011).

STJ: “(...) CIVIL. DANO MORAL. LEGÍTIMA DEFESA PUTATIVA. A legítima defesa putativa supõe
negligência na apreciação dos fatos, e por isso não exclui a responsabilidade civil pelos danos
que dela decorram. Recurso especial conhecido e provido”. (STJ, 3ª Turma, REsp 513.891/RJ,
Rel. Min. Ari Pargendler, j. 20/03/2007).

4.1. Efeitos civis de outras decisões.


a) Sentença absolutória imprópria: não faz coisa julgada, pois não pode ser equiparada à
sentença condenatória.

b) Sentença absolutória proferida pelo Júri: não faz coisa julgada, pois não há fundamentação
dos votos dos jurados.

c) Arquivamento do inquérito policial: não faz coisa julgada (art. 28 do CPP).

d) Transação penal: não faz coisa julgada, pois é decisão meramente homologatória.

CPP
Art. 67. Art. 67. Não impedirão igualmente a propositura da ação civil:
I - o despacho de arquivamento do inquérito ou das peças de informação;
II - a decisão que julgar extinta a punibilidade;
III - a sentença absolutória que decidir que o fato imputado não constitui crime.

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Lei n. 9.099/95
Art. 76. (...)
(...)
§6º A imposição da sanção de que trata o §4º deste artigo não constará de certidão de
antecedentes criminais, salvo para os fins previstos no mesmo dispositivo, e não terá efeitos
civis, cabendo aos interessados propor ação cabível no juízo cível.

5. Obrigação de indenizar o dano causado pelo delito como efeito genérico da sentença
condenatória.
CP.
Art. 91. São efeitos da condenação:
I – tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime;

5.1. Legitimidade ativa.


A legitimidade ativa é do ofendido (vítima ou seus sucessores). Todavia, o CPP prevê que se a
pessoa for pobre na acepção jurídica do termo o MP possuirá legitimidade.
Afim de encerrar o impasse o STF decidiu que o art. 68 do CPP sofreu uma inconstitucionalidade
progressiva, ou seja, se na comarca existir Defensoria Pública, o art. 68 do CPP será excluído.
Contudo, se na comarca não existir atuação da Defensoria Pública o art. 68 do CPP subsiste, para
que a pessoa não fique desprovida do acesso ao judiciário.

CPP
Art. 68. Quando o titular do direito à reparação do dano for pobre (art. 32, §§1º e 2º), a execução
da sentença condenatória (art. 63) ou a ação civil (art. 64) será promovida, a seu requerimento,
pelo Ministério Público.

CF/88
Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do
Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses
sociais e individuais indisponíveis.

STJ: “(...) O Ministério Público tem legitimidade para representação de hipossuficiente em ação
civil de reparação por dano decorrente de conduta criminosa, nos expressos termos do art. 68

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do CPP. O Supremo Tribunal Federal reconheceu a inconstitucionalidade progressiva do art. 68
do CPP, concluindo que 'enquanto não criada por lei, organizada – e, portanto, preenchidos os
cargos próprios, na unidade da Federação – a Defensoria Pública, permanece em vigor o artigo
68 do Código de Processo Penal, estando o Ministério Público legitimado para a ação de
ressarcimento nele prevista' (RE nº 135.328-7/SP, rel. Min. Marco Aurélio, DJ 01/08/94).
Evidenciando-se que a atuação do Parquet se deu, in casu, nos estreitos limites do art. 68 do
CPP em momento anterior à instituição da Defensoria Pública no Estado de São Paulo (janeiro
de 2006), revelam-se válidos todos os atos praticados pelo órgão ministerial na defesa dos
interesses do hipossuficiente autor da demanda”. (STJ, 4ª Turma, REsp 219.815/SP, Rel. Min.
Carlos Fernando Mathias, DJe 24/11/2008).

5.2. Legitimidade passiva.


CC/02.
Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil:
I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia;
II - o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas condições;
III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do
trabalho que lhes competir, ou em razão dele;
IV - os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se albergue por dinheiro,
mesmo para fins de educação, pelos seus hóspedes, moradores e educandos;
V - os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até a concorrente
quantia.

6. Quantificação do montante a ser indenizado ao ofendido.


- Antes da Lei n. 11.719/08: A sentença condenatória limitava-se a reconhecer o an debeatur,
ou seja, quando não havia especificação do valor era necessário realizar a liquidação da sentença
na seara cível para a apuração do prejuízo sofrido.

- Depois da Lei n. 11.719/08: Na sentença condenatória o juiz reconhece não apenas o an


debeatur, como o quantum debeatur (fixado em valor mínimo).

CPP
Art. 387. O Juiz, ao proferir sentença condenatória:
(...)

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IV - fixará valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração, considerando os
prejuízos sofridos pelo ofendido (redação dada pela Lei n. 11.719/08);
Obs.: qualquer espécie de dano, bem como os Tribunais decidiram pela necessidade de pedido
expresso da reparação (apesar da discordância do professor).

CPP.
Art. 63. Transitada em julgado a sentença condenatória, poderão promover-lhe a execução, no
juízo cível, para o efeito da reparação do dano, o ofendido, seu representante legal ou seus
herdeiros.
Parágrafo único. Transitada em julgado a sentença condenatória, a execução poderá ser
efetuada pelo valor fixado nos termos do inciso IV do caput do art. 387 deste Código, sem
prejuízo da liquidação para a apuração do dano efetivamente sofrido (acrescentado pela Lei n.
11.719/08).

STJ: “(...) A regra estabelecida pelo art. 387, IV, do Código de Processo Penal, por ser de natureza
processual, aplica-se a processos em curso. Inexistindo nos autos elementos que permitam a
fixação do valor, mesmo que mínimo, para reparação dos danos causados pela infração, o
pedido de indenização civil não pode prosperar, sob pena de cerceamento de defesa”. (STJ, 6ª
Turma, REsp 1.176.708/RJ, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j. 12/06/2012, DJe 20/06/2012).

- (Des) necessidade de pedido expresso:


STJ: “(...) A regra do art. 387, inciso IV, do Código de Processo Penal, que dispõe sobre a fixação,
na sentença condenatória, de valor mínimo para reparação civil dos danos causados ao
ofendido, é norma híbrida, de direito processual e material, razão pela que não se aplica a delitos
praticados antes da entrada em vigor da Lei n.º 11.719/2008, que deu nova redação ao
dispositivo. Para que seja fixado na sentença o início da reparação civil, com base no art. 387,
inciso IV, do Código de Processo Penal, deve haver pedido expresso do ofendido ou do Ministério
Público e ser oportunizado o contraditório ao réu, sob pena de violação ao princípio da ampla
defesa”. (STJ, 5ª Turma, REsp 1.193.083/RS, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 20/08/2013).

- Natureza do dano cuja indenização mínima pode ser fixada na sentença condenatória.
Enunciado n. 16 do 1º Fórum Nacional dos Juízes Federais Criminais (FONACRIM): “O valor
mínimo para reparação dos danos causados pelo crime pode abranger danos morais”.

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STJ: “(...) Considerando que a norma não limitou e nem regulamentou como será quantificado
o valor mínimo para a indenização e considerando que a legislação penal sempre priorizou o
ressarcimento da vítima em relação aos prejuízos sofridos, o juiz que se sentir apto, diante de
um caso concreto, a quantificar, ao menos o mínimo, o valor do dano moral sofrido pela vítima,
não poderá ser impedido de fazê-lo. Ao fixar o valor de indenização previsto no artigo 387, IV,
do CPP, o juiz deverá fundamentar minimamente a opção, indicando o quantum que refere-se
ao dano moral. 3. Recurso especial improvido”.

(STJ, 6ª Turma, Resp 1.585.684/DF, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, j. 09/08/2016).
STJ: Nos casos de violência contra a mulher praticados no âmbito doméstico e familiar, é possível
a fixação de valor mínimo indenizatório a título de dano moral, desde que haja pedido expresso
da acusação ou da parte ofendida, ainda que não especificada a quantia, e independentemente
de instrução probatória. Cinge-se a controvérsia a definir a necessidade ou não de indicação de
um montante mínimo pelo postulante, bem como a necessidade ou não da produção de prova,
durante a instrução criminal, para a fixação, em sentença condenatória, da indenização por
danos morais sofridos pela vítima de violência doméstica. (...) Em relação à primeira questão,
cumpre salientar que ambas as Turmas desta Corte Superior já firmaram o entendimento de
que a imposição, na sentença condenatória, de indenização, a título de danos morais, para a
vítima de violência doméstica, requer a dedução de um pedido específico, em respeito às
garantias do contraditório e da ampla defesa. Entretanto, a Quinta Turma possui julgados no
sentido de ser necessária a indicação do valor pretendido para a reparação do dano sofrido. Já
a Sexta Turma considera que o juízo deve apenas arbitrar um valor mínimo, mediante a prudente
ponderação das circunstâncias do caso concreto. Nesse sentido, a fim de uniformizar o
entendimento, conclui-se que o pedido expresso por parte do Ministério Público ou da ofendida,
na exordial acusatória, é, de fato, suficiente, ainda que desprovido de indicação do
seu quantum, de sorte a permitir ao juízo sentenciante fixar o valor mínimo a título de reparação
pelos danos morais, sem prejuízo, evidentemente, de que a pessoa interessada promova, no
juízo cível, pedido complementar, onde, então, será necessário produzir prova para a
demonstração do valor dos danos sofridos. (...) Já em relação à segunda questão, é importante
destacar que no âmbito da reparação dos danos morais, a Lei Maria da Penha, complementada
pela reforma do Código de Processo Penal através da Lei n. 11.719/2008, passou a permitir que
o juízo único – o criminal – possa decidir sobre um montante que, relacionado à dor, ao
sofrimento, à humilhação da vítima, de difícil mensuração, deriva da própria prática criminosa
experimentada. Assim, não há razoabilidade na exigência de instrução probatória acerca do

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dano psíquico, do grau de humilhação, da diminuição da autoestima, etc, se a própria conduta
criminosa empregada pelo agressor já está imbuída de desonra, descrédito e menosprezo ao
valor da mulher como pessoa e à sua própria dignidade. (...) O que se há de exigir como prova,
mediante o respeito às regras do devido processo penal – notadamente as que derivam dos
princípios do contraditório e da ampla defesa –, é a própria imputação criminosa – sob a regra,
decorrente da presunção de inocência, de que o onus probandi é integralmente do órgão de
acusação –, porque, uma vez demonstrada a agressão à mulher, os danos psíquicos dela
resultantes são evidentes e nem têm mesmo como ser demonstrados. Diante desse quadro, a
simples relevância de haver pedido expresso na denúncia, a fim de garantir o exercício do
contraditório e da ampla defesa, é bastante para que o Juiz sentenciante, a partir dos elementos
de prova que o levaram à condenação, fixe o valor mínimo a título de reparação dos danos
morais causados pela infração perpetrada, não sendo exigível produção de prova específica para
aferição da profundidade e/ou extensão do dano. O merecimento à indenização é ínsito à
própria condição de vítima de violência doméstica e familiar. O dano, pois, é in re ipsa. (STJ, 3ª
Seção, REsp 1.643.051/MS, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, j. 28/02/2018, DJe 08/03/2018).

Delegado/PE – 2016 – CESPE - Em consonância com a doutrina majoritária e com o


entendimento dos tribunais superiores, assinale a opção correta acerca dos sistemas e princípios
do processo penal:
A. O princípio da obrigatoriedade deverá ser observado tanto na ação penal pública quanto na
ação penal privada;
B. O princípio da verdade real vigora de forma absoluta no processo penal brasileiro.
C Na ação penal pública, o princípio da igualdade das armas é mitigado pelo princípio da
oficialidade.
D O sistema processual acusatório não restringe a ingerência, de ofício, do magistrado antes da
fase processual da persecução penal.
E No sistema processual inquisitivo, o processo é público; a confissão é elemento suficiente para
a condenação; e as funções de acusação e julgamento são atribuídas a pessoas distintas.

Gabarito: C

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Delegado/PE – 2016 – CESPE - Acerca da ação penal, suas características, espécies e condições,
assinale a opção correta:
A. A perempção incide tanto na ação penal privada exclusiva quanto na ação penal privada
subsidiária da ação penal pública.
B. Os prazos prescricionais e decadenciais incidem de igual forma tanto na ação penal pública
condicionada à representação do ofendido quanto na ação penal pública condicionada à
representação do ministro da Justiça.
C. De regra, não há necessidade de a queixa-crime ser proposta por advogado dotado de
poderes específicos para tal fim, em homenagem ao princípio do devido processo legal.
D. Tanto na ação pública condicionada à representação quanto na ação penal privada, se o
ofendido tiver menos de vinte e um anos de idade e mais de dezoito anos de idade, o direito de
queixa ou de representação poderá ser exercido por ele ou por seu representante legal.
E. É concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do MP, condicionada à
representação do ofendido, para a ação penal por crime contra a honra de servidor público em
razão do exercício de suas funções.

Gabarito: E

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