Você está na página 1de 26

MAGISTRATURA E MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAIS

Renato de Pretto
Direito Tributário
Aula 4

ROTEIRO DE AULA

Continuação:

1. Anterioridade tributária de exercício financeiro ou comum ou anual ou geral


(i) previsão: art. 150, III, b, CF;

(ii) Cláusula pétrea;

(iii) Alteração da data de recolhimento do tributo: dispensa do cumprimento da anterioridade (*)

O princípio da anterioridade tributária não precisa ser observado quando há alteração do prazo de
pagamento/recolhimento do tributo.

ANTERIORIDADE TRIBUTÁRIA só para modificações substanciais:


Súmula nº 669, STF. Norma legal que altera o prazo de recolhimento da obrigação tributária não se sujeita ao princípio da
anterioridade.
CONVOLAÇÃO NA
Súmula Vinculante nº 50, STF. Norma legal que altera o prazo de recolhimento de obrigação tributária não se sujeita ao
princípio da anterioridade.

1
www.g7juridico.com.br
Exemplo: decreto que estabelece o vencimento do IPTU no dia 01/03 e, posteriormente, é revogado por outro decreto
que antecipa o vencimento para dia 15/02 - nesse caso o segundo decreto pode incidir no mesmo ano por não ser
necessária a observância ao princípio da anterioridade tributária.

(iv) Exceções:
1- Art. 150, § 1º, 1ª parte, CF: EC só do art. 148, I, CF; II; IE; IPI; IOF (art. 153, I, II, IV e V, CF); e impostos extraordinários
da União (art. 154, II, CF);*

*Art. 150, § 1º, 1ª parte, CF. A vedação do inciso III, b, não se aplica aos tributos previstos nos arts. 148, I, 153, I, II, IV e
V, e 154, II; e a vedação do inciso III, c, não se aplica aos tributos previstos nos arts. 148, I, 153, I, II, III e V, e 154, II, nem
à fixação da base de cálculo dos impostos previstos nos arts. 155, III, e 156, I.

São exceções ao princípio da anterioridade tributária de exercício financeiro ou comum ou anual ou geral:
- Empréstimos compulsórios previstos no art. 148, I, da CF1 (calamidade pública, guerra externa ou sua iminência);
- Imposto de importação, exportação, IPI e IOF (impostos extrafiscais - art. 153, I, II, IV e V, CF2);
- Impostos extraordinários lançados por motivo de guerra pela União (art. 154, II, da CF3).

2- Art.177, § 4º, I, b, CF: CIDE-combustíveis (ou CIDE-petróleo);


*Art. 177, § 4º, I, b, CF.
§ 4º A lei que instituir contribuição de intervenção no domínio econômico relativa às atividades de importação ou
comercialização de petróleo e seus derivados, gás natural e seus derivados e álcool combustível deverá atender aos
seguintes requisitos:
I - a alíquota da contribuição poderá ser:

1
CF, Art. 148. “A União, mediante lei complementar, poderá instituir empréstimos compulsórios:
I - para atender a despesas extraordinárias, decorrentes de calamidade pública, de guerra externa ou sua iminência;”
2
CF, art. 153. “Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre:
I - importação de produtos estrangeiros;
II - exportação, para o exterior, de produtos nacionais ou nacionalizados;
(...)
IV - produtos industrializados;
V - operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos ou valores mobiliários;”
3
CF, Art. 154. “A União poderá instituir:
I - mediante lei complementar, impostos não previstos no artigo anterior, desde que sejam não-cumulativos e não tenham fato
gerador ou base de cálculo próprios dos discriminados nesta Constituição;
II - na iminência ou no caso de guerra externa, impostos extraordinários, compreendidos ou não em sua competência tributária, os
quais serão suprimidos, gradativamente, cessadas as causas de sua criação.”

2
www.g7juridico.com.br
(...) b) reduzida e restabelecida por ato do Poder Executivo, não se lhe aplicando o disposto no art. 150, III, b;
3- Art.155, § 4º, IV, c, CF: ICMS-combustíveis monofásico;
Art. 155, § 4º, IV, c, CF:
§ 4º Na hipótese do inciso XII, h, observar-se-á o seguinte:
(...) IV - as alíquotas do imposto serão definidas mediante deliberação dos Estados e Distrito Federal, nos termos do § 2º,
XII, g, observando-se o seguinte:
(...) c) poderão ser reduzidas e restabelecidas, não se lhes aplicando o disposto no art. 150, III, b.

4- Art. 195, § 6º, CF (anterioridade especial): só para contribuições especiais de seguridade social.
As contribuições especiais de seguridade social são aquelas que se destinam à saúde, assistência social ou previdência
social.

*Art. 195, § 6º, CF. As contribuições sociais de que trata este artigo só poderão ser exigidas após decorridos noventa dias
da data da publicação da lei que as houver instituído ou modificado, não se lhes aplicando o disposto no art. 150, III, b.

(v) Anterioridade Tributária e revogação de isenção ou redução de benefício fiscal:


- POSIÇÃO TRADICIONAL: não há necessidade da observância do princípio da anterioridade tributária.

Súmula nº 615, STF. “O princípio constitucional da anualidade (par. 29, do art. 153 da CF) não se aplica à revogação de
isenção do ICM.”

A Súmula 615 do STF é anterior à Constituição Federal. Ela deve ser lida da seguinte forma: o princípio constitucional da
anterioridade não se aplica à revogação de isenção do ICMS.

- POSIÇÃO TRADICIONAL: o STF entende ser possível a cobrança do tributo no mesmo ano, de forma que não é necessário
a observância do princípio da anterioridade.

Revogada a isenção, o tributo torna-se imediatamente exigível. Em caso assim, não há que se observar o princípio da
anterioridade, dado que o tributo já é existente. [STF, RE 204.062, rel. min. Carlos Velloso, j. 27-9-1996, 2ª T, DJ de 19-12-
1996.]

- POSIÇÃO CONTEMPORÂNEA: em julgamentos recentes o STF vem entendendo ser necessário a observância do princípio
da anterioridade anual.

Promovido aumento indireto do ICMS por meio da revogação de benefício fiscal, surge o dever de observância ao princípio
da anterioridade, geral e nonagesimal, constante das alíneas b e c do inciso III do art. 150 da Carta. Precedente – (STF, ADI

3
www.g7juridico.com.br
2.325 MC/DF, de minha relatoria, julgada em 23 de setembro de 2004; RE 564.225 AgR, rel. min. Marco Aurélio, j. 2-9-
2014, 1ª T, DJE de 18-11-2014; RE 1.099.076 AgR-AgR-segundo, rel. min. Dias Toffoli, j. 9-4-2018, 2ª T, DJE de 27-4-2018).

Ementa: DIREITO TRIBUTÁRIO. AGRAVO INTERNO EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO. INCENTIVO FISCAL. REVOGAÇÃO.
MAJORAÇÃO INDIRETA. ANTERIORIDADE. 1. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal concebe que não apenas a
majoração direta de tributos atrai a eficácia da anterioridade nonagesimal, mas também a majoração indireta
decorrente de revogação de benefícios fiscais. Precedentes. 2. Agravo interno a que se nega provimento, com aplicação
da multa prevista no art. 1.021, § 4º, do CPC/2015. (RE 1053254 AgR, Relator(a): ROBERTO BARROSO, Primeira Turma,
julgado em 26/10/2018, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-240 DIVULG 12-11-2018 PUBLIC 13-11-2018).

Cuidado: A Súmula 615 do STF ainda não foi revogada e, por esse motivo, sua redação pode ser cobrada em provas.

(vi) Revogação da Súmula nº 584 do STF:


Súmula nº 584, STF. “Ao imposto de renda calculado sobre os rendimentos do ano-base, aplica-se a lei vigente no exercício
financeiro em que deve ser apresentada a declaração.”

Exemplo: o ano base se inicia em 01/01 e termina em 31/12. De acordo com a súmula revogada, se no meio do ano uma
lei entra em vigor estabelecendo alíquota de 7,5%, essa alíquota poderia ser aplicada a todo o ano base.

A súmula 584 do STF foi recentemente revogada porque ela violava princípios da irretroatividade e anterioridade
tributária.

(...) LEI – APLICAÇÃO NO TEMPO – IMPOSTO DE RENDA – ADICIONAL – DECRETO-LEI Nº 2.462/1988 – APLICAÇÃO NO
ANO-BASE DE 1988 – IRRETROATIVIDADE E ANTERIORIDADE – INOBSERVÂNCIA – INCONSTITUCIONALIDADE. É
inconstitucional a aplicação, a fatos ocorridos no ano-base de 1988, do adicional do imposto de renda sobre o lucro
real instituído pelo Decreto-Lei nº 2.462, de 30 de agosto de 1988, considerada a violação dos princípios da
irretroatividade e da anterioridade. VERBETE Nº 584 DA SÚMULA DO SUPREMO – SUPERAÇÃO – CANCELAMENTO.
Superado o entendimento enunciado (STF, RE 159180, Relator(a): MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em
22/06/2020, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-204 DIVULG 14-08-2020 PUBLIC 17-08-2020).

Anterioridade Tributária Mínima


2. ANTERIORIDADE MÍNIMA OU NOVENTENA OU NONAGESIMAL OU PRIVILEGIADA OU QUALIFICADA
(i) Previsão: art. 150, III, c, CF*
- Validade também para as contribuições de seguridade social (art. 195, § 6º, CF);
- Acréscimo pela EC nº 42/03

4
www.g7juridico.com.br
CF, Art. 150. “Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito
Federal e aos Municípios:
(...)
III - cobrar tributos:
(...)
c) antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou, observado o
disposto na alínea b;”

- A anterioridade tributária observa a publicação da lei.

- O art. 150, III, “c” deve ser analisado em conjunto com sua alínea “b”.

A alínea “c” do art. 150, III foi introduzida pela EC 42/03 para evitar a prática comum de majoração de tributos no último
trimestre de cada ano.

(FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2019 / MPE-MG / Promotor de Justiça) A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal,
em julgamento de 26 de outubro de 2018, decidiu por unanimidade não dar provimento ao agravo regimental no Recurso
Extraordinário n. 1.053.254/RS, no qual se discutia a limitação ao poder de tributar da União, mediante a revogação de
benefício fiscal para o cálculo de PIS/COFINS. O Tribunal considerou que a revogação do benefício fiscal provocaria uma
majoração indireta do tributo, o qual, por essa razão, deveria ser submetido ao princípio da não surpresa, buscando, em
especial, garantir a segurança jurídica ao contribuinte, para que este não fosse surpreendido com um aumento inesperado
da carga tributária sem a concessão de prazo mínimo para adaptação da sua política fiscal.
Nessa hipótese, a Corte garantiu a aplicação de qual princípio constitucional em matéria tributária?
A) Princípio do não confisco;
B) Princípio da anterioridade nonagesimal;
C) Princípio da liberdade de tráfego;
D) Princípio da não discriminação tributária.
Gabarito: B

(ii) Não se aplica para mera prorrogação de alíquota (*);


O STF entende que a prorrogação de alíquota, ainda que majorada, não deve observância ao princípio da anterioridade
nonagesimal porque apenas a criação ou aumento de tributo deve observá-lo.

Exemplo: no final do período de uma lei estadual que aumentou por prazo determinado a alíquota do ICMS de 17% para
18% outra lei estadual é editada e prorroga a aplicação da alíquota majorada 18%.

5
www.g7juridico.com.br
TRIBUTÁRIO. ICMS. MAJORAÇÃO DE ALÍQUOTA. PRORROGAÇÃO. INAPLICABILIDADE DO PRAZO NONAGESIMAL (ARTIGO
150, III, C, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL). RECURSO EXTRAORDINÁRIO CONHECIDO E PROVIDO. 1. A Lei paulista 11.813/04
apenas prorrogou a cobrança do ICMS com a alíquota majorada de 17 para 18%, criada pela Lei paulista 11.601/2003. 2.
O prazo nonagesimal previsto no art. 150, III, c, da Constituição Federal somente deve ser utilizado nos casos de criação
ou majoração de tributos, não na hipótese de simples prorrogação de alíquota já aplicada anteriormente. 3. Recurso
extraordinário conhecido e provido para possibilitar a prorrogação da cobrança do ICMS com a alíquota majorada. (STF,
RE N. 584.100-SP, Tema 91).

(iii) Exceções - art. 150, § 1º, 2ª parte, CF*:


1- EC só do art. 148, I, CF;
2- II, IE, IR, IOF (art. 153, I, II, III e V, CF);
3- Impostos extraordinários da União (art. 154, II, CF);
4- Fixação da base de cálculo do IPVA e do IPTU.

* CF, Art. 150, § 1º, 2ª parte. “A vedação do inciso III, b, não se aplica aos tributos previstos nos arts. 148, I, 153, I, II, IV e
V, e 154, II; e a vedação do inciso III, c, não se aplica aos tributos previstos nos arts. 148, I, 153, I, II, III e V, e 154, II, nem
à fixação da base de cálculo dos impostos previstos nos arts. 155, III, e 156, I.

Atenção:
O imposto de renda é exceção à anterioridade nonagesimal, mas não a anterioridade anual. Por outro lado, o IPI é exceção
apenas à anterioridade anual.

Além disso, apenas a base de cálculo do IPVA e IPTU é exceção à anterioridade nonagesimal

Exemplo: se a alíquota do imposto de renda é majorada por lei publicada em 31/12, em 01/01 o aumento poderá ser
exigido porque o IR é exceção à anterioridade nonagesimal; a majoração do IPI pode ser exigida no mesmo ano pois ele
não se submete à anterioridade anual, mas o período de noventa dias deve ser observado.

STF:
Mostra-se relevante pedido de concessão de medida acauteladora objetivando afastar a exigibilidade da majoração do
Imposto sobre Produtos Industrializados, promovida mediante decreto, antes de decorridos os noventa dias previstos no
art. 150, III, c, da Carta da República. [ADI 4.661 MC, rel. min. Marco Aurélio, j. 20-10-2011, P, DJE de 23-3-2012.] = RE
671.927, rel. min. Ayres Britto, decisão monocrática, j. 15-3-2012, DJE de 3-4-2012.

6
www.g7juridico.com.br
(iv) Postergação do direito do contribuinte do ICMS de usufruir de novas hipóteses de creditamento: Desnecessidade
de incidência da anterioridade (*)

Como não gera aumento de tributo, o STF entende que o creditamento de ICMS não precisa observar o princípio da
anterioridade tributária nonagesimal (interpretação literal da anterioridade).

JURISPRUDÊNCIA - STF
Tema 382 – Em 18/11/2019, foi publicado o acórdão no RE nº 603.917, tendo nossa Suprema Corte firmado a seguinte
tese:
"A postergação do direito do contribuinte do ICMS de usufruir de novas hipóteses de creditamento, por não representar
aumento do tributo, não se sujeita à anterioridade nonagesimal prevista no art. 150, III, 'c', da Constituição".

No caso, infere-se da ementa do julgado do STF: “1. A Lei Complementar 122, publicada em 13.12.2006 postergou de
1º.1.2007 para 1º.1.2011 o início do direito do contribuinte do ICMS de se creditar do imposto incidente sobre aquisição
de mercadorias destinadas ao uso e consumo do estabelecimento e, de forma mais ampla, energia elétrica e serviços de
comunicação. 2. A postergação de hipótese de redução de imposto não se equipara a aumento do tributo, pelo que não
atrai a incidência da anterioridade nonagesimal prevista no art. 150, III, “c”, da Carta Política. Precedentes do STF: RE
584.100 Repercussão Geral, Rel. Ministra Ellen Gracie, Tribunal Pleno, julgado em 25.11.2009; ADI 2.673, Rel. Ministra
Ellen Gracie, Tribunal Pleno, julgado em 03.10.2002; AI 783.509 AgR, Rel. Ministro Ricardo Lewandowski, Primeira Turma,
julgado em 19.10.2010; AI 780.210 AgR, Rel. Ministra Cármen Lúcia, Primeira Turma, julgado em 14.6.2011, DJe de
29.7.2011. 3. Recurso extraordinário não provido”.✍

(VUNESP - 2021 / TJ-SP / Juiz de Direito) No que tange ao princípio da anterioridade, podemos afirmar:
A) é admissível invocar a supremacia do interesse público pra justificar a exigência fiscal e postergar a repetição do
indébito tributário.
B) o princípio da anterioridade nonagesimal não é de observância obrigatória na hipótese de incidência de tributo por
retirada de benefícios fiscais.
C) não se sujeitam ao princípio da anterioridade o imposto sobre importação de produtos estrangeiros; o imposto sobre
exportação, para o exterior, de produtos nacionais ou nacionalizados; o IPI; o imposto sobre operações de crédito, câmbio
e seguro, ou relativos a títulos e valores mobiliários; os impostos lançados por motivo de guerra; os empréstimos
compulsórios para atender despesas extraordinárias decorrentes de calamidade pública, de guerra externa ou sua
iminência.
D) considerada a redação dada ao artigo 150, § 1º , da CF pela EC 42/2003, tem respaldo jurídico a tese de que lei que vier
a majorar o IR pode entrar em vigor no dia 31 de dezembro e ser aplicada aos fatos ocorridos a partir de 1º de janeiro do
mesmo exercício financeiro, não configurando “retroatividade in pejus”.
Gabarito: C

7
www.g7juridico.com.br
Vedação ao Tributo Confiscatório
PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO AO TRIBUTO CONFISCATÓRIO (OU RAZOABILIDADE DA CARGA TRIBUTÁRIA)
(i) Previsão: art. 150, IV, CF;
- Finalidade: proteção aos direitos de propriedade, livre iniciativa e livre exercício profissional.

CF, Art. 150. “Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito
Federal e aos Municípios:
(...)
IV - utilizar tributo com efeito de confisco.”

(ii) Abrangência de tributo e multa fiscal (STF, ADI 551; AI 482.281) (*);
O STF entende que a multa tributária não pode ser utilizada com efeito confiscatório ainda que ela não seja mencionada
expressamente o art. 150, IV, da CF (interpretação extensiva).

ADCT da Constituição do Estado/RJ:


- “multa de duas (2) vezes o valor de um tributo, por mero retardamento de sua satisfação, ou de cinco (5) vezes, em
caso de sonegação, certamente sei que é confiscatório e desproporcional”.

“Fixação de valores mínimos para multas pelo não recolhimento e sonegação de tributos estaduais. Violação ao inciso IV
do art. 150 da Carta da República. A desproporção entre o desrespeito à norma tributária e sua consequência jurídica,
a multa, evidencia o caráter confiscatório desta, atentando contra o patrimônio do contribuinte, em contrariedade ao
mencionado dispositivo do texto Constitucional Federal” (STF, Tribunal Pleno, ADI 551/RJ, Rel. Min. Ilmar Galvão, j.
24.10.2002, DJ 14.02.2003, p. 58).

(iii) Aferição pela carga tributária total (STF, ADI 2.010 – múltiplas incidências tributárias);
O confisco é a perda da propriedade sem indenização.

- Confiscos constitucionais possíveis (exceções): art. 5º, XLVI, b4 (perdimento de bens); art. 243, p.ú., CF5 (exploração no
bem de plantas psicotrópicas e de trabalho escravo).

4
CF, Art. 5º, XLVI. “a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes: (...) b) perda de bens;”
5
CF, Art. 243. Parágrafo único. “Todo e qualquer bem de valor econômico apreendido em decorrência do tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins e da exploração de trabalho escravo será confiscado e reverterá a fundo especial com destinação
específica, na forma da lei.”

8
www.g7juridico.com.br
Atenção: A Constituição Federal autoriza o confisco apenas nas duas hipóteses acima.

- Análise, enfim, do efeito confiscatório do tributo, ou não, em cada caso concreto à míngua de um numeral que o
configure como tal(*);

O princípio do efeito confiscatório possibilita a tributação de acordo com a capacidade contributiva desde que respeitado
o mínimo existencial do contribuinte.

Por não existir a fixação de uma porcentagem que determine o tributo como confiscatório, o STF entende que essa
vedação se submete a um conceito jurídico indeterminado e demanda a análise em cada caso concreto - múltiplas
incidências tributárias e carga tributária total.

Exemplo: não é possível afirmar que existe efeito confiscatório quando a alíquota de determinado tributo é majorada de
4% para 14% por ser necessária a análise da carga tributária total - em caso semelhante o tributo não foi declarado
inconstitucional pelo STF.

O professor destaca que o STF reconheceu a natureza confiscatória de aumento realizado por lei na alíquota de
contribuição previdenciária de servidores públicos de 11% para 25% porque foi analisada a carga tributária total: a
majoração somada ao fato de que os funcionários já pagavam 27,5% a título de imposto de renda se mostrou
confiscatória.

STF: (...) a norma inscrita no art. 150, IV, da Constituição encerra uma cláusula aberta, veiculadora de conceito jurídico
indeterminado, reclamando, em consequência, que os Tribunais, na ausência de "uma diretriz objetiva e genérica,
aplicável a todas as circunstâncias" (ANTÔNIO ROBERTO SAMPAIO DÓRIA, Direito Constitucional Tributário e Due Process
of Law, p. 196, item n. 62, 2 ed., 1986, Forense) – e tendo em consideração as limitações que derivam do princípio da
proporcionalidade –, procedam à avaliação dos excessos eventualmente praticados pelo Estado. (...) não há uma definição
constitucional de confisco em matéria tributária. Trata-se, na realidade, de um conceito aberto, a ser utilizado pelo juiz,
com apoio em seu prudente critério, quando chamado a resolver os conflitos entre o poder público e os contribuintes.
[ARE 712.285 AgR, voto do rel. min. Celso de Mello, j. 23-4-2013, 2ª T, DJE de 28-6-2013.]

Imposto de Importação (II). Aumento de alíquota de 4% para 14%. Deficiência do quadro probatório. (...) A
caracterização do efeito confiscatório pressupõe a análise de dados concretos e de peculiaridades de cada operação ou
situação, tomando-se em conta custos, carga tributária global, margens de lucro e condições pontuais do mercado e de
conjuntura social e econômica (...). O isolado aumento da alíquota do tributo é insuficiente para comprovar a absorção
total ou demasiada do produto econômico da atividade privada, de modo a torná-la inviável ou excessivamente onerosa.
[RE 448.432 AgR, rel. min. Joaquim Barbosa, j. 20-4-2010, 2ª T, DJE de 28-5-2010.]

9
www.g7juridico.com.br
(iv) vedação a sanções políticas no caso de inadimplemento tributário: Súmulas 70, 323, 547, STF – (proibição de medidas
de coerção indireta do contribuinte para satisfazer débitos com a Fazenda Pública)

O ordenamento jurídico não admite a sanção política aos inadimplentes tributários porque ela é uma forma de coerção
indireta (exemplo: não é possível a interdição de estabelecimento até o pagamento do tributo).

- Súmula nº 70, STF. “É inadmissível a interdição de estabelecimento como meio coercitivo para cobrança de tributo.”

- Súmula nº 323, STF. “É inadmissível a apreensão de mercadorias como meio coercitivo para pagamento de tributos.”

- Súmula nº 547, STF. “Não é lícito à autoridade proibir que o contribuinte em débito adquira estampilhas, despache
mercadorias nas alfândegas e exerça suas atividades profissionais.”

- Exigência de garantia para impressão de nota fiscal: inconstitucionalidade (*).


O Fisco deve cobrar seus débitos por meio da execução fiscal.

A exigência, pela Fazenda Pública, de prestação de fiança, garantia real ou fidejussória para a impressão de notas fiscais
de contribuintes em débito com o Fisco viola as garantias do livre exercício do trabalho, ofício ou profissão (CF, art. 5º,
XIII), da atividade econômica (CF, art. 170, parágrafo único) e do devido processo legal (CF, art. 5º, LIV). (...) Discutia-se
eventual configuração de sanção política em decorrência do condicionamento de expedição de notas fiscais mediante a
oferta de garantias pelo contribuinte inadimplente com o fisco. (...) Sublinhou que esse tipo de medida, denominada
pelo Direito Tributário, sanção política, desafiaria as liberdades fundamentais consagradas na Constituição, ao afastar
a ação de execução fiscal, meio legítimo estabelecido pela ordem jurídica de cobrança de tributos pelo Estado. (...) O
Tribunal, ademais, ressaltou o teor dos Enunciados 70, 323 e 547 (STF, RE 565048/RS, rel. Min. Marco Aurélio. 29.5.2014
– Informativo nº 748).

- Protesto de CDA possível (*):


O protesto de CDA passou a ser possível com a Lei nº 9.492/97. A ADI 5.135 foi interposta sob o argumento de que o
protesto de CDA era inconstitucional por se tratar de sanção política. Contudo, o STF afirmou se tratar de medida
constitucional.

Lei nº 9.492/97, Art. 1º: “Protesto é o ato formal e solene pelo qual se prova a inadimplência e o descumprimento de
obrigação originada em títulos e outros documentos de dívida.
Parágrafo único. Incluem-se entre os títulos sujeitos a protesto as certidões de dívida ativa da União, dos Estados, do
Distrito Federal, dos Municípios e das respectivas autarquias e fundações públicas.” (Parágrafo acrescentado pela Lei nº
12.767, de 27.12.2012, DOU de 28.12.2012).

10
www.g7juridico.com.br
STF, ADI 5.135:
“O protesto das certidões de dívida ativa constitui mecanismo constitucional e legítimo por não restringir de forma
desproporcional quaisquer direitos fundamentais garantidos aos contribuintes e assim não constituir sanção política.”

- Dispensa, inclusive, de lei local ao protesto de CDA:


O protesto de CDA é constitucional e não depende de lei local, estadual, distrital e municipal porque a Lei nº 9.492/97 é
nacional.

CIVIL E TRIBUTÁRIO. PROTESTO DE CDA. LEI N. 9.492/1997. NORMA NACIONAL. PLENA EFICÁCIA. ADOÇÃO PELA FAZENDA
MUNICIPAL. POSSIBILIDADE. LEI LOCAL AUTORIZATIVA. DESNECESSIDADE.
1. "A Fazenda Pública possui interesse e pode efetivar o protesto da CDA, documento de dívida, na forma do art. 1º,
parágrafo único, da Lei 9.492/1997, com a redação dada pela Lei 12.767/2012" (Tese firmada no Tema n. 777 do STJ).
2. A Lei n. 9.492/1997, por tratar de matéria afeta ao direito civil e comercial, é de competência legislativa privativa da
União (art. 22, I, da CF/1988), sendo, portanto, de caráter nacional, dispensando autorização legislativa local para a sua
imediata aplicação pela Fazenda Pública estadual ou municipal.
3. Hipótese em que basta à Fazenda Pública credora atender ao procedimento previsto na própria Lei n. 9.492/1997 para
obter o protesto de seu título de crédito (CDA), não havendo necessidade de lei específica do ente tributante que preveja
a adoção dessa medida, visto que a citada lei federal (nacional) já é dotada de plena eficácia.
4. O Poder Legislativo de cada ente federativo pode deliberar por restringir a atuação da sua Administração,
estabelecendo, por exemplo, condições mínimas de valor e de tempo, para que a CDA seja levada a protesto, sendo certo
que, na ausência dessas restrições legais ao protesto, não há óbice para que a Fazenda Pública cobre seu crédito por essa
via extrajudicial, que, a toda evidência, é menos grave e onerosa em comparação com o ajuizamento de execução fiscal.
5. Recurso especial provido.
(REsp n. 1.895.557/SP, relator Ministro Gurgel de Faria, Primeira Turma, julgado em 22/6/2021, DJe de 10/8/2021.)

- Desde a Lei nº 9.492/97 já era possível o protesto de CDA:


A Lei nº 12.767/2012 veio apenas reforçar a possibilidade de protesto de CDA, sendo que isso já era permitido desde a
entrada em vigor da Lei nº 9.492/97 que mencionou expressamente a possibilidade de protesto de “outros documentos
de dívida”. Assim, a Lei nº 12.767/2012 foi uma norma meramente interpretativa.
(STJ, 1ª Seção. EREsp 1.109.579-PR, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 27/10/2021; Informativo 716).

- Inadimplência em conselho profissional e impossibilidade de suspensão de afiliados de conselhos de classe por falta
de pagamento de anuidade:

11
www.g7juridico.com.br
No RE 647.885 (Órgão julgador: Tribunal Pleno, Relator(a): Min. EDSON FACHIN, Julgamento: 27/04/2020, Publicação:
19/05/2020), foi declarada a inconstitucionalidade dos artigos 34, inciso XXIII, e 37, parágrafo 2º, Estatuto da Advocacia
(Lei 8.906/1994), que previam a sanção, e fixada a seguinte tese para fins de repercussão geral (Tema 732):
"É inconstitucional a suspensão realizada por conselho de fiscalização profissional do exercício laboral de seus inscritos
por inadimplência de anuidades, pois a medida consiste em sanção política em matéria tributária".

(VUNESP - 2018 / TJ-SP / Juiz de Direito) Em reiteradas decisões ao longo do tempo, o Supremo Tribunal Federal tem
mantido firme o entendimento de não admitir sanção política como meio de coerção ao pagamento de tributo. A
respeito do tema, é correto afirmar que a Corte considera inadmissível, por constituir sanção política,
A) o condicionamento de impressão de notas fiscais à prestação de garantia real ou fidejussória por parte do contribuinte
com débitos fiscais.
B) a vedação de adesão ao Simples Nacional fundada na existência de débitos perante a Fazenda Pública ou INSS.
C) o protesto de certidão de dívida ativa.
D) a dupla exigência do ICMS em operações interestaduais, como consequência de diferença entre a alíquota do Estado
remetente e a do Estado destinatário.
GABARITO: A.

B) Tema 363 (RE/RG) - Impedimento à adesão ao regime tributário do Simples Nacional de microempresas ou empresas
de pequeno porte com pendências tributárias ou previdenciárias.

Tese: “É constitucional o art. 17, V, da Lei Complementar 123/2006, que veda a adesão ao Simples Nacional à
microempresa ou à empresa de pequeno porte que possua débito com o Instituto Nacional do Seguro Social - INSS ou
com as Fazendas Públicas Federal, Estadual ou Municipal, cuja exigibilidade não esteja suspensa”.

D) (...) 7. O princípio do não confisco, que encerra direito fundamental do contribuinte, resta violado em seu núcleo
essencial em face da sistemática adotada no cognominado Protocolo ICMS nº 21/2011, que legitima a aplicação da
alíquota interna do ICMS na unidade federada de origem da mercadoria ou bem, procedimento correto e apropriado,
bem como a exigência de novo percentual, a diferença entre a alíquota interestadual e a alíquota interna, a título também
de ICMS, na unidade destinatária, quando o destinatário final não for contribuinte do respectivo tributo. (STF, ADI 4628,
Relator(a): LUIZ FUX, Tribunal Pleno, julgado em 17/09/2014, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-230 DIVULG 21-11-2014
PUBLIC 24-11-2014)

PRINCÍPIO DA LIBERDADE DO TRÁFEGO DE PESSOAS OU BENS


O princípio da liberdade do tráfego de pessoas ou bens também é chamado de princípio da imunidade de tráfego ou
liberdade de tráfego.

12
www.g7juridico.com.br
(i) Previsão: art. 150, V, CF*;
- Garantia do direito fundamental inscrito no art. 5º, XV, CF;
- Proteção também no que tange à autonomia federativa;

Art. 150, CF. “Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito
Federal e aos Municípios:
(...)
V - estabelecer limitações ao tráfego de pessoas ou bens, por meio de tributos interestaduais ou intermunicipais,
ressalvada a cobrança de pedágio pela utilização de vias conservadas pelo Poder Público;”

- Exceções à referida liberdade de tráfego sem tributação:


(i) ICMS interestadual;

(ii) pedágio: não tem natureza tributária; trata-se de tarifa ou preço público.
STF, ADI 800, j. em 11/06/2014: tarifa, não se submetendo ao regime jurídico tributário – posição contemporânea;

- Concessionárias: incidência do regime tarifário e não tributário (art. 175, p.ú., III, CF: tarifa); art. 26, § 2º, Lei nº
10.233/01 (ANTT).
O pedágio pode ser instituído e majorado por decreto; a cobrança pode ser imediata por não possuir natureza jurídica
tributária.

TRIBUTÁRIO E CONSTITUCIONAL. PEDÁGIO. NATUREZA JURÍDICA DE PREÇO PÚBLICO. DECRETO 34.417/92, DO ESTADO
DO RIO GRANDE DO SUL. CONSTITUCIONALIDADE. 1. O pedágio cobrado pela efetiva utilização de rodovias conservadas
pelo Poder Público, cuja cobrança está autorizada pelo inciso V, parte final, do art. 150 da Constituição de 1988, não tem
natureza jurídica de taxa, mas sim de preço público, não estando a sua instituição, consequentemente, sujeita ao
princípio da legalidade estrita. 2. Ação direta de inconstitucionalidade julgada improcedente. (STF, ADI 800, Relator(a):
Min. TEORI ZAVASCKI, Tribunal Pleno, julgado em 11/06/2014, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-125 DIVULG 27-06-2014
PUBLIC 01-07-2014).

(FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2018 / MPE-MG / Promotor de Justiça) Consoante o artigo 150 da CR/88, sem prejuízo
de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios,
EXCETO:
A) estabelecer limitações ao tráfego de pessoas ou bens por meio de tributos interestaduais ou intermunicipais,
ressalvada a cobrança de pedágio pela utilização de vias conservadas pelo poder público.

13
www.g7juridico.com.br
B) instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação equivalente, proibida qualquer
distinção em razão de ocupação profissional ou função por eles exercida, independentemente da denominação jurídica
dos rendimentos, títulos ou direitos.
C) exigir, aumentar ou diminuir tributo sem lei que o estabeleça.
D) utilizar tributo com efeito de confisco.
Gabarito: C

PRINCÍPIO DA UNIFORMIDADE GEOGRÁFICA DA TRIBUTAÇÃO


(i) Previsão: art. 151, I, CF;
Art. 151, CF. É vedado à União:
I - instituir tributo que não seja uniforme em todo o território nacional ou que implique distinção ou preferência em
relação a Estado, ao Distrito Federal ou a Município, em detrimento de outro, admitida a concessão de incentivos fiscais
destinados a promover o equilíbrio do desenvolvimento socioeconômico entre as diferentes regiões do País;

(ii) Parte final do dispositivo: finalidade extrafiscal na diferenciação e cumprimento do princípio inscrito no art. 3º, CF
(redução das desigualdades sociais e regionais);

(iii) Exemplo da concretização da parte final do dispositivo em questão - arts. 40, 92 e 92-A, todos do ADCT (Zona Franca
de Manaus).

Art. 40, ADCT. “É mantida a Zona Franca de Manaus, com suas características de área livre de comércio, de exportação e
importação, e de incentivos fiscais, pelo prazo de vinte e cinco anos, a partir da promulgação da Constituição.”

Art. 92, ADCT. “São acrescidos dez anos ao prazo fixado no art. 40 deste Ato das Disposições Constitucionais Transitórias
(EC 42/03).”

Art. 92-A, ADCT. “São acrescidos 50 (cinquenta) anos ao prazo fixado pelo art. 92 deste Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias (EC 83/14).”

- Tributação regional com alíquotas diferenciadas (benefícios fiscais só a certos contribuintes):


O STF entendeu ser constitucional a existência de alíquotas diferenciadas para ser realizado o incentivo fiscal a
determinada região.

STF: O Decreto 420/1992 estabeleceu alíquotas diferenciadas – incentivo fiscal – visando dar concreção ao preceito
veiculado pelo art. 3º da Constituição, ao objetivo da redução das desigualdades regionais e de desenvolvimento nacional.
Autoriza-o o art. 151, I da Constituição. (...) A concessão do benefício da isenção fiscal é ato discricionário, fundado em

14
www.g7juridico.com.br
juízo de conveniência e oportunidade do Poder Público, cujo controle é vedado ao Judiciário [AI 630.997 AgR, rel. min.
Eros Grau, j. 24-4-2007, 2ª T, DJ de 18-5-2007.]

PRINCÍPIO DA ISONOMIA DOS TÍTULOS DA DÍVIDA PÚBLICA DOS ENTES FEDERADOS E DA TRIBUTAÇÃO DOS
RENDIMENTOS DE SEUS SERVIDORES
(i) Previsão: art. 151, II, CF*;
Art. 151, CF. “É vedado à União:
(...) II - tributar a renda das obrigações da dívida pública dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, bem como a
remuneração e os proventos dos respectivos agentes públicos, em níveis superiores aos que fixar para suas obrigações e
para seus agentes;”

(ii) Sinônimo de princípio da “carga tributária idêntica” ou da “limitabilidade da tributação”;


Exemplo: a tributação de títulos da dívida pública deve ser isonômica inclusive para servidores públicos para evitar
preferências e guerra fiscal.

(iii) Incidente, como regra, ao imposto de renda, que seria empregue para concorrência desleal.

PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO DE ISENÇÕES HETERÔNOMAS OU HETEROTÓPICAS


(i) previsão: art. 151, III, CF*;
Art. 151, CF. É vedado à União:
(...)
III - instituir isenções de tributos da competência dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios.

O ente competente pela criação do tributo deve realizar sua isenção - a isenção deve ser autônoma.

(ii) Tratados internacionais (STF, ADI 1600) - cabível a isenção de tributo de qualquer ente federado, tratando-se a União
de pessoa jurídica na ordem internacional.

- Não se trata de exceção ao princípio da vedação das isenções heterônomas (STF);

- A norma do art. 151, III, da CF só incide na relação interna entre os entes federados.

O princípio da vedação de isenções heterônomas incide na relação interna dos entes federados. Por esse motivo, os
tratados federais podem tratar de isenção de tributos federais, estaduais, distritais e municipais.

15
www.g7juridico.com.br
OPERAÇÕES DE TRÁFEGO AÉREO INTERNACIONAL. TRANSPORTE AÉREO INTERNACIONAL DE CARGAS. TRIBUTAÇÃO DAS
EMPRESAS NACIONAIS. QUANTO ÀS EMPRESAS ESTRANGEIRAS, VALEM OS ACORDOS INTERNACIONAIS - RECIPROCIDADE.
VIAGENS NACIONAL OU INTERNACIONAL - DIFERENÇA DE TRATAMENTO. (...) ÂMBITO DE APLICAÇÃO DO ART. 151, CF É
O DAS RELAÇÕES DAS ENTIDADES FEDERADAS ENTRE SI. NÃO TEM POR OBJETO A UNIÃO QUANDO ESTA SE APRESENTA
NA ORDEM EXTERNA. NÃO INCIDÊNCIA SOBRE A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE TRANSPORTE AÉREO, DE PASSAGEIROS -
INTERMUNICIPAL, INTERESTADUAL E INTERNACIONAL. INCONSTITUCIONALIDADE DA EXIGÊNCIA DO ICMS NA PRESTAÇÃO
DE SERVIÇOS DE TRANSPORTE AÉREO INTERNACIONAL DE CARGAS PELAS EMPRESAS AÉREAS NACIONAIS, ENQUANTO
PERSISTIREM OS CONVÊNIOS DE ISENÇÃO DE EMPRESAS ESTRANGEIRAS. (STF, ADI 1600).

DIREITO TRIBUTÁRIO. RECEPÇÃO PELA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DE 1988 DO ACORDO GERAL DE TARIFAS E
COMÉRCIO. ISENÇÃO DE TRIBUTO ESTADUAL PREVISTA EM TRATADO INTERNACIONAL FIRMADO PELA REPÚBLICA
FEDERATIVA DO BRASIL. ARTIGO 151, INCISO III, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. ARTIGO 98 DO CÓDIGO TRIBUTÁRIO
NACIONAL. NÃO CARACTERIZAÇÃO DE ISENÇÃO HETERÔNOMA. RECURSO EXTRAORDINÁRIO CONHECIDO E PROVIDO.
1. A isenção de tributos estaduais prevista no Acordo Geral de Tarifas e Comércio para as mercadorias importadas dos
países signatários quando o similar nacional tiver o mesmo benefício foi recepcionada pela Constituição da República de
1988. 2. O artigo 98 do Código Tributário Nacional "possui caráter nacional, com eficácia para a União, os Estados e os
Municípios" (voto do eminente Ministro Ilmar Galvão). 3. No direito internacional apenas a República Federativa do Brasil
tem competência para firmar tratados (art. 52, § 2º, da Constituição da República), dela não dispondo a União, os Estados-
membros ou os Municípios. O Presidente da República não subscreve tratados como Chefe de Governo, mas como Chefe
de Estado, o que descaracteriza a existência de uma isenção heterônoma, vedada pelo art. 151, inc. III, da Constituição.
4. Recurso extraordinário conhecido e provido. (STF, RE 229.096).

PRINCÍPIO DA NÃO-DISCRIMINAÇÃO TRIBUTÁRIA


- Ou “Princípio da não-diferença tributária”

(i) Previsão: art. 152, CF*;


Art. 152, CF. “É vedado aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios estabelecer diferença tributária entre bens e
serviços, de qualquer natureza, em razão de sua procedência ou destino.”

Atenção: O princípio da não-discriminação tributária se aplica apenas aos Estados, DF e Municípios. A União não é por ele
absorvida.

(ii) Alíquotas diferenciadas do IPVA para carros importados? Inconstitucionalidade.


A alíquota diferenciada do IPVA para carros importados considera a procedência dos veículos - o que é vedado e viola o
art. 152 da Constituição.

16
www.g7juridico.com.br
A respeito, “a Constituição Federal, artigos 150 e 152, proíbe os Estados de estabelecer alíquotas diferenciadas do IPVA
para carros importados” (STJ, ROMS nº 10.906/RJ, Rel. Min. GARCIA VIEIRA, DJ de 05/06/2000).

(CESPE / CEBRASPE - 2022 / TJ-MA / Juiz de Direito) Em relação ao exercício do poder de tributar, a Constituição Federal
de 1988 veda
A) à União instituir isenções de taxas que sejam de competência dos municípios.
B) à União tributar a renda das obrigações da dívida pública dos estados e do Distrito Federal.
C) aos municípios estabelecer diferença tributária entre serviços de qualquer natureza em razão da capacidade econômica
dos contribuintes.
D) à União tributar a remuneração e os proventos dos agentes públicos municipais.
E) aos estados estabelecer diferença tributária entre bens de qualquer natureza em razão de seu valor.
GABARITO: A

IMUNIDADES TRIBUTÁRIAS
(Noções Gerais)

LIMITAÇÕES CONSTITUCIONAIS AO PODER DE TRIBUTAR


(i) formas de exteriorização das limitações constitucionais ao poder de tributar: princípios e imunidades;

(ii) art. 146, II, CF: necessidade de lei complementar para regulá-las.

A imunidade tributária é a hipótese de não incidência tributária prevista na Constituição. Ela é uma regra negativa de
competência.

Art. 146, CF. “Cabe à lei complementar:


(...)
II - regular as limitações constitucionais ao poder de tributar;”

- Imunidades e lindes em lei complementar:


STF: (...) a reserva de lei complementar aplicada à regulamentação da imunidade tributária, prevista no art. 195, § 7º, da
Constituição Federal (CF), limita-se à definição de contrapartidas a serem observadas para garantir a finalidade
beneficente dos serviços prestados pelas entidades de assistência social, o que não impede seja o procedimento de
habilitação dessas entidades positivado em lei ordinária. (...) Portanto, não se pode conceber que o regime jurídico das
entidades beneficentes fique sujeito a flutuações legislativas erráticas, não raramente influenciadas por pressões
arrecadatórias de ocasião. É inadmissível que tema tão sensível venha a ser regulado por medida provisória. (...) A lei

17
www.g7juridico.com.br
complementar é forma somente exigível para a definição do modo beneficente de atuação das entidades de assistência
social contempladas pelo art. 195, § 7º, da CF, especialmente quanto às contrapartidas a serem observadas por elas.
(STF, ADI 2028/DF, rel. orig. Min. Joaquim Barbosa, red. p/ o ac. Min. Rosa Weber, julgamento em 23.2 e 2.3.2017; ADI
2036/DF, rel. orig. Min. Joaquim Barbosa, red. p/ o ac. Min. Rosa Weber, julgamento em 23.2 e 2.3.2017; ADI 2621/DF,
rel. orig. Min. Joaquim Barbosa, red. p/ o ac. Min. Rosa Weber, julgamento em 23.2 e 2.3.2017; ADI 2228/DF, rel. orig.
Min. Joaquim Barbosa, red. p/ o ac. Min. Rosa Weber, julgamento em 23.2 e 2.3.2017).

- Regulamentação, por exemplo, da imunidade do art. 195, § 7º, da CF na Lei Complementar nº 187, de 16 de dezembro
de 2021, haja vista a exigência do art. 146, inciso II, da CF.

IMUNIDADES TRIBUTÁRIAS
(i) Definição de Imunidade Tributária
- hipótese de não incidência tributária constitucionalmente qualificada;
- sempre na Constituição;
- regra negativa de competência (“incompetência tributária”);
- Motivação em valores fundamentais da CF (forma federativa, liberdades religiosa, política, sindical, de expressão etc.).

(ii) Imunidades tributárias e institutos diversos – distinções:


● Isenção (sempre na lei; dispensa legal do pagamento do tributo);
- Imunidade (na definição da competência) e Isenção (no exercício da competência)

● Não incidência (gênero; imunidade seria uma de suas espécies);

● Alíquota zero (benefício fiscal em que o tributo nasce mas não é pago unicamente porque a alíquota é zero; note-se
que há incidência, mas o resultado do cálculo será zero).

(iii) No art. 150, VI, da CF imunidades só para impostos – norma primordial de imunidade tributária;
A imunidade tributária abrange apenas os impostos - não se aplica às taxas, às contribuições de melhoria, aos
empréstimos compulsórios etc.)

- Entretanto, ao longo da CF, a imunidade poderá abranger outros tributos (exemplos - arts. 5º, XXXIV (taxas relacionadas
ao direito de petição e certidão), 149, § 2º, I (contribuições sociais e de intervenção no domínio econômico) e 195, § 7º,
CF (contribuição de seguridade social ).

- “Falsas” isenções: ocasiões em que o constituinte utiliza a expressão “isenção” de forma "incorreta" - nesses casos a
expressão deve ser entendida como imunidade.

18
www.g7juridico.com.br
Art. 184, § 5º, CF. “São isentas de impostos federais, estaduais e municipais as operações de transferência de imóveis
desapropriados para fins de reforma agrária.”

Art. 195, § 7º, CF. “São isentas de contribuição para a seguridade social as entidades beneficentes de assistência social
que atendam às exigências estabelecidas em lei.”

IMUNIDADE TRIBUTÁRIA RECÍPROCA


1. IMUNIDADE RECÍPROCA – art. 150, VI, a, CF
- Também chamada de “imunidade intergovernamental”
- Só abrange impostos.

(i) Previsão:
Art. 150, CF. “Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito
Federal e aos Municípios:
(...) VI - instituir impostos sobre:
(...) a) patrimônio, renda ou serviços, uns dos outros;”

- Compreende impostos sobre patrimônio (IPVA, ITR, IPTU etc.), renda (IR) e serviços (ISS);
Exemplo: os Estados não podem cobrar IPVA da União; o Município não pode cobrar IPTU dos Estados; a União não pode
cobrar imposto de renda dos Estados etc.

Por outro lado, como a imunidade abrange apenas os impostos, é possível que seja cobrado taxa de lixo da União e Estados
pelo Município.

- Interpretação extensiva, inclusive abrangendo o II e o IOF (STF);

- Incide a imunidade tributária recíproca (art. 150, VI, “a”, CF) ao IPVA se aquisição do veículo se der com alienação
fiduciária: a imunidade persiste ainda que realizada a alienação fiduciária.

JURISPRUDÊNCIA - STF
Tema 685 - “Extensão da imunidade tributária recíproca ao IPVA de veículos adquiridos por município no regime da
alienação fiduciária.”

Foi fixada a seguinte tese:


Não incide IPVA sobre veículo automotor adquirido, mediante alienação fiduciária, por pessoa jurídica de direito público.
(STF, Plenário, Sessão Virtual de 12.6.2020 a 19.6.2020. (RE 727.851, Relator Ministro Marco Aurélio).

19
www.g7juridico.com.br
- Notários e registradores: não gozam da imunidade recíproca (STF, ADI nº 3089) ainda que prestem serviço público.

EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. ITENS 21 E 21.1. DA LISTA ANEXA
À LEI COMPLEMENTAR 116/2003. INCIDÊNCIA DO IMPOSTO SOBRE SERVIÇOS DE QUALQUER NATUREZA - ISSQN SOBRE
SERVIÇOS DE REGISTROS PÚBLICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS. CONSTITUCIONALIDADE. Ação Direta de
Inconstitucionalidade ajuizada contra os itens 21 e 21.1 da Lista Anexa à Lei Complementar 116/2003, que permitem a
tributação dos serviços de registros públicos, cartorários e notariais pelo Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza -
ISSQN. Alegada violação dos arts. 145, II, 156, III, e 236, caput, da Constituição, porquanto a matriz constitucional do
Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza permitiria a incidência do tributo tão-somente sobre a prestação de serviços
de índole privada. Ademais, a tributação da prestação dos serviços notariais também ofenderia o art. 150, VI, a e §§ 2º e
3º da Constituição, na medida em que tais serviços públicos são imunes à tributação recíproca pelos entes federados. As
pessoas que exercem atividade notarial não são imunes à tributação, porquanto a circunstância de desenvolverem os
respectivos serviços com intuito lucrativo invoca a exceção prevista no art. 150, § 3º da Constituição. O recebimento
de remuneração pela prestação dos serviços confirma, ainda, capacidade contributiva. A imunidade recíproca é uma
garantia ou prerrogativa imediata de entidades políticas federativas, e não de particulares que executem, com inequívoco
intuito lucrativo, serviços públicos mediante concessão ou delegação, devidamente remunerados. Não há diferenciação
que justifique a tributação dos serviços públicos concedidos e a não-tributação das atividades delegadas. Ação Direta de
Inconstitucionalidade conhecida, mas julgada improcedente. (STF, ADI 3089, Relator(a): Min. CARLOS BRITTO, Relator(a)
p/ Acórdão: Min. JOAQUIM BARBOSA, Tribunal Pleno, julgado em 13/02/2008, DJe-142 DIVULG 31-07-2008 PUBLIC 01-
08-2008 EMENT VOL-02326-02 PP-00265 RTJ VOL-00209-01 PP-00069 LEXSTF v. 30, n. 357, 2008, p. 25-58).

(ii) Cláusula pétrea (STF, ADI 939);


A imunidade tributária recíproca é uma derivação da forma federativa de Estado (art. 60º da CF) que preza pela autonomia
dos entes federados. Assim, ela não pode ser excepcionada por emenda constitucional.

A EC 3, de 17-3-1993, que, no art. 2º, autorizou a União a instituir o IPMF, incidiu em vício de inconstitucionalidade, ao
dispor, no § 2º desse dispositivo, que, quanto a tal tributo, não se aplica "o art. 150, III, b, e VI, da Constituição, porque,
desse modo, violou os seguintes princípios e normas imutáveis (somente eles, não outros): (...). O princípio da imunidade
tributária recíproca (que veda à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios a instituição de impostos sobre
o patrimônio, rendas ou serviços uns "dos outros) e que é garantia da Federação (art. 60, § 4º, I,e art. 150, VI, a, da CF).
[STF, ADI 939, rel. min. Sydney Sanches, j. 15-12-1993, P, DJ de 18-3-1994.]

(iii) Compete ao STF julgar ação proposta por Estado contra União versando sobre imunidade tributária recíproca (art.
102, I, “f”, CF):

20
www.g7juridico.com.br
Compete ao Supremo Tribunal Federal conhecer e julgar originariamente causas que envolvam a interpretação de normas
relativas à imunidade tributária recíproca, em razão do potencial abalo ao pacto federativo.
[STF. Plenário. ACO 1098, Rel. Roberto Barroso, julgado em 11/05/2020 (Info 980 – clipping)]

- Estados-membros, mesmo gozando de imunidade tributária recíproca, devem cumprir as obrigações tributárias
acessórias:

A imunidade tributária recíproca (art. 150, VI, “a”, da Constituição) impede que os entes públicos criem uns para os outros
obrigações relacionadas à cobrança de impostos, mas não veda a imposição de obrigações acessórias.
(STF, Plenário, ACO 1098, Rel. Roberto Barroso, julgado em 11/05/2020, Informativo 980).

(...) 4. O art. 9º, § 1º, do Código Tributário Nacional institui reserva legal para a definição das hipóteses de responsabilidade
tributária e dos atos que os entes públicos deverão praticar na qualidade de responsáveis tributários. O dispositivo não
afasta a possibilidade de obrigações acessórias serem impostas por atos normativos infralegais. 5. Não ofende o princípio
da isonomia ou abala o pacto federativo norma que impõe a obrigação de apresentação de declaração de débitos e
créditos de tributos federais aos Estados, aos Municípios e ao Distrito Federal, mas não a estende aos órgãos da própria
União.
(STF, ACO 1098, Órgão julgador: Tribunal Pleno, Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO, Julgamento: 11/05/2020,
Publicação: 01/06/2020).

(iv) Autarquias e fundações (ex.: INSS, INCRA, Conselhos de Fiscalização Profissional) – possuem “imunidade tributária
recíproca extensiva” (art. 150, § 2º, CF) – menor amplitude (*);

As autarquias e fundações possuem imunidade tributária recíproca extensiva, mas com menor amplitude porque o
patrimônio, renda ou serviço deve possuir vínculo com suas finalidades institucionais para que a imunidade de fato incida.

Art. 150, § 2º, CF. “A vedação do inciso VI, a, é extensiva às autarquias e às fundações instituídas e mantidas pelo Poder
Público, no que se refere ao patrimônio, à renda e aos serviços, vinculados a suas finalidades essenciais ou às delas
decorrentes.”

Exemplo: um imóvel do INSS terá imunidade de IPTU se estiver vinculado a sua finalidade institucional - um campo de
futebol do INSS pode ser tributado, mas o prédio em que há atendimento não.

OAB: A imunidade tributária gozada pela Ordem dos Advogados do Brasil é da espécie recíproca (art. 150, VI, “a” da
CF/88), na medida em que a OAB desempenha atividade própria de Estado (defesa da Constituição, da ordem jurídica do

21
www.g7juridico.com.br
Estado democrático de direito, dos direitos humanos, da justiça social, bem como a seleção e controle disciplinar dos
advogados).

- STF. Plenário. RE 259976 AgR, Rel. Min. Joaquim Barbosa, julgado em 23/03/2010.
- STF. Plenário. RE 405267, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 06/09/2018.

- Caixa de Assistência de Advogados e imunidade de impostos? Sim


A OAB e a Caixa de Assistência de Advogados possuem imunidade de impostos.

As Caixas de Assistência de Advogados encontram-se tuteladas pela imunidade recíproca prevista no art. 150, VI, “a”,
da Constituição Federal. A Caixa de Assistência dos Advogados é um “órgão” integrante da estrutura da OAB, mas que
possui personalidade jurídica própria. Sua finalidade principal é prestar assistência aos inscritos no respectivo no Conselho
Seccional (art. 62 da Lei nº 8.906/94). As Caixas de Assistências prestam serviço público delegado e possuem status
jurídico de ente público. Vale ressaltar ainda que elas não exploram atividades econômicas em sentido estrito com intuito
lucrativo. Diante disso, devem gozar da imunidade recíproca, tendo em vista a impossibilidade de se conceder tratamento
tributário diferenciado a órgãos integrantes da estrutura da OAB.
(STF, Plenário, RE 405267/MG, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 6/9/2018, Info 914).

- Finalidade essencial presumida e ônus da prova do fisco para infirmá-la:


Existe a presunção relativa de que o patrimônio, renda e serviços são utilizados para atender as finalidades das autarquias
e fundações. Assim, compete ao Fisco demonstrar o contrário.

DIREITO TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. ÔNUS DA PROVA RELACIONADO AO AFASTAMENTO DA IMUNIDADE


TRIBUTÁRIA PREVISTA NO § 2º DO ART. 150 DA CF. O ônus de provar que o imóvel não está afetado à destinação
compatível com os objetivos e finalidades institucionais de entidade autárquica recai sobre o ente tributante que
pretenda, mediante afastamento da imunidade tributária prevista no § 2º do art. 150 da CF, cobrar IPTU sobre o
referido imóvel. Isso porque, conforme orientação jurisprudencial predominante no STJ, presume-se que o imóvel de
entidade autárquica está afetado à destinação compatível com seus objetivos e finalidades institucionais
(STJ, AgRg no AREsp 304.126-RJ, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 13/8/2013 - Informativo nº 0527).

(v) Imunidade tributária recíproca e as empresas estatais (Empresas públicas e sociedades de economia mista):
v.1) exploradora de atividade econômica (instrumento de participação do Estado na economia): não há imunidade sob
pena de violação ao princípio da livre concorrência (art. 173, § 2º, CF) - elas possuem intuito lucrativo e a imunidade
geraria concorrência desleal.

22
www.g7juridico.com.br
Art. 170, CF. “A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar
a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:
(...)
IV - livre concorrência;”

Art. 173, § 2º, CF. “As empresas públicas e as sociedades de economia mista não poderão gozar de privilégios fiscais não
extensivos às do setor privado.”

JURISPRUDÊNCIA
“As características determinantes para afastamento da proteção constitucional são (a) o intuito lucrativo da operação
(distribuição de lucros, ainda que ao Estado) e (b) a lesão à livre iniciativa e à concorrência, desequilibradas artificialmente
pelo benefício” (STF, ACO 2179 TA/DF).

- Imunidade tributária e inaplicabilidade à Petrobrás:

Conforme orientação do STF, “a imunidade tributária recíproca não se aplica à Petrobrás, pois: 3.1. Trata-se de
sociedade de economia mista destinada à exploração econômica em benefício de seus acionistas, pessoas de direito
público e privado, e a salvaguarda não se presta a proteger aumento patrimonial dissociado de interesse público
primário; 3.2. A Petrobrás visa à distribuição de lucros, e, portanto, tem capacidade contributiva para participar do
apoio econômico aos entes federados; 3.3. A tributação de atividade econômica lucrativa não implica risco ao pacto
federativo" (STF; RE-AgR 246.796; SP; Segunda Turma; Rel. Min. Joaquim Barbosa; Julg. 20/04/2010; DJE 28/05/2010; Pág.
75) .

- STF, Tema 508 - Imunidade tributária recíproca para sociedade de economia mista com participação acionária negociada
em bolsa de valores:

- Caso envolvendo a SABESP, que presta serviço de abastecimento de água a diversos municípios do Estado de São Paulo

- No julgamento do Tema 508, o STF fixou a seguinte Tese:

“Sociedade de economia mista, cuja participação acionária é negociada em Bolsas de Valores, e que, inequivocamente,
está voltada à remuneração do capital de seus controladores ou acionistas, não está abrangida pela regra de imunidade
tributária prevista no artigo 150, inciso VI, alínea “a”, da Constituição, unicamente em razão das atividades
desempenhadas”.
(STF, Plenário, RE 600867, Sessão Virtual de 14.8.2020 a 21.8.2020).

23
www.g7juridico.com.br
v.2) prestadoras de serviço público típico em regime de monopólio ou em caráter gratuito, sem concorrência com o
setor privado, gozam da imunidade em apreço: há imunidade em relação aos impostos.

- Grandes exemplos: ECT, INFRAERO.

Art. 21, CF. “Compete à União:


(...) X - manter o serviço postal e o correio aéreo nacional;
(...) XII - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão:
(...) c) a navegação aérea, aeroespacial e a infraestrutura aeroportuária;”

ECT: ISS e imunidade tributária recíproca mesmo para serviços não tipicamente postais cobrados via tarifa:

Os serviços prestados pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos - ECT estão abrangidos pela imunidade recíproca
(CF, art. 150, VI, a, e §§ 2º e 3º).
(STF, RE 601392/PR, rel. orig. Min. Joaquim Barbosa, red. p/ o acórdão Min. Gilmar Mendes, 28.2.2013). (Informativo 696,
Plenário, Repercussão Geral).

INFRAERO
(...) a Infraero faz jus à imunidade recíproca prevista no art. 150, VI, a, da CF.
[STF, ARE 638.315 RG, voto do rel. min. Cezar Peluso, j. 9-6-2011, P, DJE de 31-8-2011, Tema 412.]

- CAERD (Cia. Águas e Esgotos de Rondônia – sociedade de economia mista): STF, Ação Cautelar 1550 – também tem a
imunidade de impostos;

- QUATRO HOSPITAIS GAÚCHOS – Nossa Senhora da Conceição, Cristo Redentor, Fêmina e Conceição: sociedades de
economia mista prestadoras de ações e serviços de saúde, cujo capital é majoritariamente estatal): têm igualmente
imunidade a impostos (STF, RE 580.264)*;

As sociedades de economia mista prestadoras de ações e serviços de saúde, cujo capital social seja majoritariamente
estatal, gozam da imunidade tributária prevista na alínea a do inciso VI do art. 150 da CF.
[RE 580.264, rel. p/ o ac. min. Ayres Britto, j. 16-12-2010, P, DJE de 6-10-2011, Tema 115.]

JURISPRUDÊNCIA - STF
Imunidade tributária recíproca (art. 150, VI, “a”, CF) - Tema 1140 (RE 1320054) – Tese firmada:
“As empresas públicas e as sociedades de economia mista delegatárias de serviços públicos essenciais, que não distribuam
lucros a acionistas privados nem ofereçam risco ao equilíbrio concorrencial, são beneficiárias da imunidade tributária

24
www.g7juridico.com.br
recíproca prevista no artigo 150, VI, ‘a’, da Constituição Federal, independentemente de cobrança de tarifa como
contraprestação do serviço”.

- Consoante notícia, de 13/05/2021, do site do STF:


“STF reafirma que empresas estatais sem lucro são beneficiárias de imunidade tributária recíproca.
A Corte entendeu que empresas públicas e as sociedades de economia mista têm direito ao benefício, ainda que haja
cobrança de tarifa aos usuários.
(...) Concorrência e lucro
No RE, o Município de São Paulo (SP) questionava decisão do Tribunal de Justiça local (TJ-SP) que concedeu à Companhia
do Metropolitano de São Paulo (Metrô-SP) imunidade tributária recíproca ao pagamento de Imposto Predial e Territorial
Urbano (IPTU). O município argumentava que o dispositivo constitucional que prevê o benefício traz o rol taxativo dos
entes imunes e que a Constituição (parágrafos 1º e 2º do artigo 173) veda a concessão de benefícios fiscais às empresas
públicas e sociedades de economia mista.
Conforme o município, o Metrô exerce concorrência com os demais modelos de transporte (como ônibus e aplicativos de
mobilidade) e com a Via Mobilidade e a Via Quatro, operadores privados de parcela da rede metroviária. Outro argumento
era o de que a empresa tem lucro e não recebe recursos orçamentários para a manutenção de suas atividades, além de
cobrar tarifa dos usuários.
Desprovimento do RE
De início, o presidente do STF, ministro Luiz Fux, relator do recurso, considerou necessária a reafirmação da jurisprudência
dominante da Corte, com a submissão da matéria à sistemática da repercussão geral. Segundo ele, a controvérsia
ultrapassa os limites subjetivos da causa, e há uma multiplicidade de recursos sobre assunto idêntico.
Em relação ao mérito, o ministro entendeu que o Metrô-SP, sociedade de economia mista que tem por objeto a
exploração de serviço público essencial de transporte público de passageiros mediante o pagamento de tarifa, tem direito
à imunidade recíproca. Segundo o relator, a extensão do benefício está de acordo com a jurisprudência do Supremo.
Nesse sentido, citou o ARE 1080256 e os REs 905900 e 342314, entre outros.”

Imunidade recíproca de sociedade de economia mista prestadora exclusiva de serviço público essencial - ACO 3410/SE
Sociedade de economia mista estadual prestadora exclusiva do serviço público de abastecimento de água potável e coleta
e tratamento de esgotos sanitários faz jus à imunidade tributária recíproca sobre impostos federais incidentes sobre
patrimônio, renda e serviços.
Prevalece na Corte o entendimento de que, para a extensão da imunidade tributária recíproca da Fazenda Pública a
sociedades de economia mista e empresas públicas, é necessário preencher 3 (três) requisitos: (i) a prestação de um
serviço público; (ii) a ausência do intuito de lucro e (iii) a atuação em regime de exclusividade, ou seja, sem concorrência
(1) (2). No caso, os documentos acostados comprovam que, em relação à Companhia de Saneamento de Sergipe - DESO,
os requisitos foram atendidos.

25
www.g7juridico.com.br
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente o pedido para reconhecer a imunidade
recíproca à DESO, enquanto mantidos os requisitos.
(STF, ACO 3410/SE, relator Min. Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 20.4.2022).

- Bibliografia básica às matérias ministradas na aula 4: Direito Tributário, Ricardo Alexandre, 17ª ed., Salvador: Ed.
JusPodivm, 2023, páginas 177-238 (Limitações Constitucionais ao Poder de Tributar).

26
www.g7juridico.com.br

Você também pode gostar