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Direito
à Saúde
Análise à luz
da judicialização
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Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
Direito
à Saúde
Análise à luz
da judicialização
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Catalogação na Fonte
S391d
Schulze, Clenio
Direito à saúde análise à luz da judicialização / Clenio
Schulze, Joao Pedro Gebran Neto. – Porto Alegre : Verbo
Jurídico, 2015.
260 p.
ISBN: 978-85-7699-508-1
CDD 341.27
Bibliotecário Responsável
Ginamara de Oliveira Lima
CRB 10/1204
Porto Alegre, RS
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Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
SUMÁRIO
Prefácios
Ministro Teori Albino Zavascki.................................................................... 07
Professor Álvaro Atallah ................................................................................. 17
Introdução .......................................................................................................... 21
5
2.2.7.3. Enunciados de biodireto ................................................................. 91
2.3. Novas perspectivas de atuação do Legislativo, do
Executivo e do Judiciário................................................................................. 92
2.4. Legitimação democrática da decisão judicial ................................ 96
2.5. Casuística judicial ................................................................................... 102
2.6. Considerações finais .............................................................................. 107
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Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
PREFÁCIO
No quadro atual dos debates que se travam, tanto no pla-
no doutrinário, quanto na jurisprudência, a respeito do sentido e
do alcance das cláusulas constitucionais que asseguram o direito
fundamental à saúde, mostra-se de enorme oportunidade a obra
que tenho a honra de agora prefaciar, escrita por dois experi-
mentados magistrados federais, Clênio Jair Schulze e João Pedro
Gebran Neto. O tema, como referido, vem sendo objeto de trato
doutrinário e jurisprudencial, com posições de diversos matizes
e escassas convergências em pontos fundamentais, notadamen-
te quanto ao conteúdo desse direito fundamental e aos limites
das prestações que a ele correspondem como plexo de deveres
estatais, discussão que leva também a balizar o maior ou menor
nível controle jurisdicional suscetível de ser exercido.
7
(hospitalização, atendimento médico, fornecimento de
medicamentos). Para a proteção da saúde concorrem, de-
cisivamente, as medidas preventivas de toda a natureza
(alimentação, moradia, saneamento básico, educação).
Ademais, conforme registram os especialistas, “Ainda que
soubéssemos exatamente que políticas são eficazes para se
garantir o mais alto grau de saúde possível a toda a popu-
lação, seria impossível implementar todas essas políticas.
Nenhum país do mundo, nem mesmo o mais rico de todos,
teria recursos suficientes para atingir esse objetivo. Isso
porque, enquanto as necessidades de saúde são pratica-
mente infinitas, os recursos para atendê-las não o são, e a
saúde, apesar de um bem fundamental e de especial impor-
tância, não é o único bem que uma sociedade tem interesse
em usufruir”.(FERRAZ, Octávio Luiz Motta; VIEIRA, Fabío-
la Sulpino. Direito à saúde, recursos escassos e eqüidade,
in Dados – Revista de Ciências Sociais, RJ, vol. 52, p. 226).
8
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
(...)
9
resultantes dessa conformação emanada dos órgãos legis-
lativos e administrativos, não se pode, em regra, antever a
existência de dever estatal a prestações, nem pode daí re-
sultar, como contrapartida necessária e imediata, direito
subjetivo universal e incondicionado que possa ser recla-
mado e efetivado por via judicial.
10
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
(...)
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5. Em suma, não se pode ter como existente direito líqui-
do e certo de obter do Estado, gratuitamente, o forneci-
mento de medicamento de alto custo, não incluído nas lis-
tas próprias expedidas pelos órgãos técnicos de formula-
ção da política nacional de medicamentos e, ademais, con-
siderado pelos órgãos técnicos do Poder Público (Ministé-
rio da Saúde e órgãos colegiados do Sistema Único de Sa-
úde – SUS) e pela opinião da comunidade científica como
ineficaz para o tratamento da enfermidade, na situação
apresentada pelo Impetrante. Acertada, portanto, a deci-
são do tribunal recorrido, de denegar a ordem” (voto pro-
ferido no Recurso Especial 24.197, 1ª Turma, julgado em
04 de maio de 2.010).
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(...)
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(...)
(...)
(...)
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(...)
(...)
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Cumpre não perder de perspectiva, por isso mesmo, que o
direito público subjetivo à saúde representa prerrogativa
jurídica indisponível, assegurada à generalidade das pes-
soas pela própria Constituição da República. Traduz bem
jurídico constitucionalmente tutelado, por cuja integrida-
de deve velar, de maneira responsável, o Poder Público, a
quem incumbe formular - e implementar - políticas soci-
ais e econômicas que visem a garantir, aos cidadãos, o a-
cesso universal e igualitário à assistência médico-
hospitalar.
(...)
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Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
PREFÁCIO
Há cerca de 30 anos aprendendo a separar o joio do trigo
no que se refere ao conhecimento científico para implementação
pratica na Medicina e determinado a produzir mais trigo (de boa
qualidade) do que joio, acabamos por nos deparar com o pro-
cesso fundamental de reduzir as incertezas para que as decisões
médicas levem mais benefícios do que malefícios para os pacien-
tes e para a sociedade.
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diretrizes que busquem a eficácia, a efetividade, a eficiência e a
segurança no que se refere à prevenção, diagnóstico e tratamen-
tos em saúde.
18
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Respeitosamente,
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INTRODUÇÃO
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22
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1
- Declaração de Alma-Ata, produzida na Conferência Internacional sobre cuidados
primários da saúde. Disponível em:
http://cmdss2011.org/site/wp-content/uploads/2011/07/Declara%C3%A7%C3%A3o-
Alma-Ata.pdf.
23
e saneamento básico, cuidados de saúde materno-infantil,
inclusive planejamento familiar;
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clínicos e diretrizes terapêuticas (sejam eles oficiais ou produzi-
dos pelas sociedades de especialistas) e a medicina baseada em
evidências devem desempenhar um papel preponderante na
solução do litígio. Esta última, mais que um conceito, é uma téc-
nica internacionalmente reconhecida que confere níveis de evi-
dências a tratamentos, medicamentos, procedimentos, terapêu-
ticas, exames, dentre outros.
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Direito à
saúde e
o Poder
Judiciário
Clenio Jair Schulze
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lembrar que em muitos países acredita-se no mito do governo
grátis2. Ou seja, que o Estado tem o dever de prestar tudo sem
nenhum custo. É exatamente este o pensamento equivocado que
impera no Brasil de forma generalizada e incentivado, muitas
vezes, pelo próprio Judiciário, por intermédio de decisões que
desequilibram o sistema público de saúde e o sistema suplemen-
tar de saúde.
2
CASTRO, Paulo Rabello de. O mito do governo grátis: o mal das políticas econômicas
ilusórias e as lições de 13 países para o Brasil mudar. Rio de Janeiro: Edições de Janeiro,
2014.
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Miranda, Jorge. Manual de direito constitucional. Tomo IV. Coimbra: Coimbra Editora,
4ª ed., 2008, p 200.
4
A Dignidade da Pessoa Humana no Direito Constitucional Contemporâneo: Natureza
Jurídica, Conteúdos Mínimos e Critérios de Aplicação. Versão provisória para debate
público. Mimeografado, dezembro de 2010. Disponível em:
http://www.luisrobertobarroso.com.br/wp-
content/uploads/2010/12/Dignidade_textobase_11dez2010.pdf.
Acessado em 09 jan. 2015
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pessoas têm dignidade, inteligência, sensibilidade e comunica-
ção e materializa o direito à vida, à igualdade, à integridade físi-
ca e à integridade moral. A autonomia da vontade, na perspecti-
va de Barroso, consiste na capacidade de autodeterminação, ou
seja, na possibilidade de o indivíduo escolher livremente os ru-
mos da sua vida, sem a intervenção estatal. Por fim, o valor co-
munitário refere se à heteronomia, à vinculação das pessoas em
relação ao grupo, projetando-se, também, a solidariedade.
5
ANDRADE, José Carlos Vieira de. Os direitos fundamentais na Constituição Portuguesa
de 1976, p. 97.
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6
MIRANDA, Jorge. Manual de Direito Constitucional: Coimbra: Editora Coimbra, 2000,
tomo IV, p. 199.
7
Tal perspectiva levou Ruth Macklin a reconhecer a inutilidade do conceito, in Dignity is
a useless concept, British Medical Journal 327:1419, 2003, apud A Dignidade da Pessoa
Humana no Direito Constitucional Contemporâneo: Natureza Jurídica, Conteúdos Míni-
mos e Critérios de Aplicação. Versão provisória para debate público. Mimeografado,
dezembro de 2010. Disponível em: http://www.luisrobertobarroso.com.br/wp-
content/uploads/2010/12/Dignidade_textobase_11dez2010.pdf. Acessado em 09 jan.
2015.
33
cional implícito que configura o núcleo essencial dos direitos
fundamentais.
8
Geralmente os doutrinadores não estabelecem a diferença entre os dois princípios.
Luísa Cristina Pinto e Netto menciona, em trabalho monográfico, que o princípio de
vedação de retrocesso está fundado na “ideia de um progresso constante” e que não
admite “marcha atrás na consagração e efetivação dos direitos fundamentais” (NETTO,
Luísa Cristina Pinto. O princípio de proibição de retrocesso social. Porto Alegre: Livraria
do Advogado, 2010, p. 111). Contudo, parece ser mais adequada a separação, pois o
progresso está assentado no avanço, na melhoria, ao passo que a vedação de retrocesso
está cumprida com a simples manutenção do status quo.
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Neste sentido: SARLET. Ingo Wolfgang. Segurança social, dignidade da pessoa humana
e proibição de retrocesso: revisitando o problema da proteção dos direitos fundamen-
tais sociais. In CANOTILHO, J.J. et. al. (coord.), Direitos Fundamentais Sociais. São Paulo:
Editora Saraiva, 2010 (p. 75-109).
35
normas de direitos fundamentais, os princípios estruturantes
(juridicidade, democracia e socialidade) e a internacionalização
dos direitos fundamentais10. A mesma autora menciona, ainda,
que a aceitação do princípio de proibição de retrocesso encontra
guarida na vinculação do legislador aos direitos sociais, desta-
cando a necessidade de ponderação para a hipótese de afasta-
mento da sua aplicação11.
10
NETTO, Luísa Cristina Pinto e. O princípio de proibição de retrocesso social. Porto
Alegre: Livraria do Advogado, 2010, p. 129.
11
NETTO, Luísa Cristina Pinto e. O princípio de proibição de retrocesso social. Porto
Alegre: Livraria do Advogado, 2010, p. 167.
12
SARLET. Ingo Wolfgang. Segurança social, dignidade da pessoa humana e proibição de
retrocesso: revisitando o problema da proteção dos direitos fundamentais sociais. In
CANOTILHO, J.J. et. al. (coord.), Direitos Fundamentais Sociais. São Paulo: Editora Sarai-
va, 2010, p. 84.
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Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
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“O Poder Público não pode se mostrar indiferente ao problema da saúde da popula-
ção, sob pena de incidir, ainda que por censurável omissão, em grave comportamento
inconstitucional”. (RE 429903/RJ), “O preceito do artigo 196 da Constituição Federal
assegura aos necessitados o fornecimento, pelo Estado, dos medicamentos indispensá-
veis ao restabelecimento da saúde.” (ARE 744170 AgR/RS).
37
Não se pretende, no presente trabalho, abordar a compe-
tência institucional e a legitimidade do Poder Judiciário no en-
frentamento da judicialização da saúde, tendo em vista o reco-
nhecimento desta possibilidade pelos Tribunais pátrios, especi-
almente o STF.
14
MARMELSTEIN, George. Direitos fundamentais. São Paulo: Atlas, 2009.
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15
FERRAZ, Octávio Luiz Motta. Entre a usurpação e a abdicação? O direito à saúde no
judiciário no Brasil e da África do Sul, pág. 124. In: Constituição e política na democraci-
a: aproximação entre direito e ciência política. Daniel Wei Liang Wang. Organizador.
São Paulo: Marcial Pons, 2013.
16
ALEXY, Robert. Teoria dos direitos fundamentais. Trad. Virgílio Afonso da Silva. São
Paulo: Malheiros Editores, 2008, p. 276 e seguintes. NOVAIS, Jorge Reis. Direitos funda-
mentais: trunfos contra a maioria. Coimbra: Coimbra Editora, 2006, p. 49. ANDRADE,
José Carlos Vieira de. Os direitos fundamentais na Constituição Portuguesa de 1976. 4
ed. Coimbra: Almedina, 2009, p. 265.
17
HC 93250/MS, Segunda Turma, Relatora Min. ELLEN GRACIE, j. 10/06/2008, DJe-117
26-06-2008; RE 455283 AgR/RR, Segunda Turma, Relator Min. EROS GRAU, j.
28/03/2006, DJ 05-05-2006, p. 39 e ADI 2566 MC/DF, Tribunal Pleno, Relator Min. SYD-
NEY SANCHES, j. 22/05/2002, DJ 27-02-2004, p. 20.
18
FERRAZ, Octávio Luiz Motta. Entre a usurpação e a abdicação? O direito à saúde no
judiciário no Brasil e da África do Sul, pág. 125. In: Constituição e política na democraci-
a: aproximação entre direito e ciência política. Daniel Wei Liang Wang. Organizador.
São Paulo: Marcial Pons, 2013.
39
É inegável que a concretização dos direitos – de todas as
dimensões – exige uma atuação positiva do Estado, na elabora-
ção, na proteção, na implementação e na efetivação. Significa
que a prestação dos direitos sociais tem um custo (custo dos
direitos).
19
HOLMES, Stephen & SUNSTEIN, Cass R. The Coast of Rights: why liberty depends on
taxes. New York: W.W. Norton & Co., 1999, p. 97. Tradução livre. Texto original: “Rights
are familiarly described as inviolable, preemptory, and conclusive. But these are plainly
rhetorical flourishes. Nothing that costs moneu can be absolute. No right whose en-
forcement presupposes a selective expenditure of taxpayer contributions can, at the end
of the day, be protected unilaterally by the judiciary without regard to budgeraty conse-
quences for which other branches of government bear the ultimate resposability. Since
protection against private violence is not cheap and necessarily draws on scarce re-
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A tese da ausência de limites é superável quando se anali-
sa a saúde a partir da perspectiva coletiva, ou seja, no âmbito
global, tendo em mira todos os habitantes do país. Na percepção
macro, nada é ilimitado. Neste aspecto, importa anotar que as
políticas públicas de saúde não são criadas e executadas com
foco em destinatários específicos. É preciso proteger a saúde de
todos, tal como determinado pelos artigos 6º e 196 da Constitui-
ção.
21
FERRAZ, Octávio Luiz Motta. Entre a usurpação e a abdicação? O direito à saúde no
judiciário no Brasil e da África do Sul, pág. 138/139. In: Constituição e política na demo-
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cracia: aproximação entre direito e ciência política. Daniel Wei Liang Wang. Organiza-
dor. São Paulo: Marcial Pons, 2013.
22
CLÉVE, Clémerson Merlin. A eficácia dos direitos fundamentais sociais. Revista de
Direito Constitucional e Internacional, n. 54, 2006.
43
É inegável que a relação entre os poderes no século XVIII
é distinta da hodierna dinâmica estatal. A noção de balancea-
mento entre os poderes, decorrente do sistema de freios e con-
trapesos, alterou-se profundamente no Constitucionalismo vi-
gente (com várias vertentes, tais como: Constitucionalismo do
Século XXI, Constitucionalismo Contemporâneo, Neoconstitu-
cionalismo, Pós-positivismo, entre outras posições).
23
São vários os exemplos de leis simbólicas: Lei 13.101/2015, que dispõe sobre o “Dia
Nacional do Milho”; Lei 13.050/2014, que institui o dia 25 de outubro como “Dia Nacio-
nal do Macarrão”; Lei 12.630/2012, que institui o “Dia Nacional do Raggae”; Lei
12.642/2012, que institui o dia 3 de novembro como o “Dia Nacional do Quilo”; Lei
12.644/2012, que institui o “Dia Nacional da Umbanda”; Lei 12.390/2011, que institui o
dia 27 de junho como o “Dia Nacional do Quadrileiro Junino”; Lei 12.206/2010, que
institui o “Dia Nacional da Baiana de Acarajé”; Lei 12.103/2009, que institui o “Dia Na-
cional do Bumba Meu Boi”; Lei 12.080/2009, que institui o “Dia da Legalidade no calen-
dário oficial brasileiro”.
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A judicialização da saúde e do direito à saúde é apenas
uma representação do fenômeno da ascensão institucional do
Poder Judiciário brasileiro.
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revela dirigente, programático e que orienta para o progresso da
sociedade brasileira).
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ARGÜIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL. A QUESTÃO DA
LEGITIMIDADE CONSTITUCIONAL DO CONTROLE E DA INTERVENÇÃO DO PODER JUDICI-
ÁRIO EM TEMA DE IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS, QUANDO CONFIGURADA
HIPÓTESE DE ABUSIVIDADE GOVERNAMENTAL. DIMENSÃO POLÍTICA DA JURISDIÇÃO
CONSTITUCIONAL ATRIBUÍDA AO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. INOPONIBILIDADE DO
ARBÍTRIO ESTATAL À EFETIVAÇÃO DOS DIREITOS SOCIAIS, ECONÔMICOS E CULTURAIS.
CARÁTER RELATIVO DA LIBERDADE DE CONFORMAÇÃO DO LEGISLADOR. CONSIDERA-
ÇÕES EM TORNO DA CLÁUSULA DA "RESERVA DO POSSÍVEL". NECESSIDADE DE PRESER-
VAÇÃO, EM FAVOR DOS INDIVÍDUOS, DA INTEGRIDADE E DA INTANGIBILIDADE DO
NÚCLEO CONSUBSTANCIADOR DO "MÍNIMO EXISTENCIAL". VIABILIDADE INSTRUMEN-
TAL DA ARGÜIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO NO PROCESSO DE CONCRETIZAÇÃO DAS
LIBERDADES POSITIVAS (DIREITOS CONSTITUCIONAIS DE SEGUNDA GERAÇÃO). BRASIL.
Supremo Tribunal Federal. Argüição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº
45, Relator Min. CELSO DE MELLO, julgado em 29/04/2004, DJ 04-05-2004.
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49
pela qual é muito alto o índice de sucesso nas demandas desta
natureza. E assim deve ser. Este é o nítido exemplo de questão
que deveria ser resolvida no plano extrajudicial, sem a interven-
ção do Poder Judiciário.
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25
CAMBI, Eduardo. Revisando o princípio da separação dos poderes para tutelar os
direitos fundamentais sociais. In: Direitos fundamentais revisitados. KLOCK, Andrea
Bulgakov. CAMBI, Eduardo. ALVES, Fernando de Brito (orgs.) Curitiba: Juruá, 2008, p. 90.
26
CLÉVE, Clémerson Merlin. Atividade legislativa do poder executivo. 3 ed. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2011, p. 35-36.
27
CLÉVE, Clémerson Merlin. Atividade legislativa do poder executivo. 3 ed. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2011, p. 36-42.
28
CLÉVE, Clémerson Merlin. Atividade legislativa do poder executivo. 3 ed. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2011, p. 43.
51
O novo paradigma do direito brasileiro, alterado profun-
damente nos últimos anos, e caracterizado pela ênfase aos direi-
tos sociais – com destaque para o direito à saúde, provocou sig-
nificativo deslocamento de poder do âmbito do Executivo e do
Legislativo para o Poder Judiciário.29
29
SARMENTO, Daniel. O neoconstitucionalismo no Brasil: riscos e possibilidades. In:
Direitos fundamentais e estado constitucional: estudos em homenagem a J.J. Gomes
Canotilho. LEITE, Georg Salomão. SARLET, Ingo Wolfgang (orgs.) São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2009, p. 10.
30
ABREU, Pedro Manoel. Processo e democracia. O processo jurisdicional como um
lócus da democracia participativa e da cidadania inclusiva no estado democrático de
direito. Vol. 3. Coleção Ensaios de Processo Civil. São Paulo: Conceito Editorial, 2011, p.
260.
31
VIANNA, Luiz Werneck [et al.]. A judicialização da política e das relações sociais no
Brasil. Rio de Janeiro: Revan, 1999, p. 11.
32
VIANNA, Luiz Werneck [et al.]. A judicialização da política e das relações sociais no
Brasil. Rio de Janeiro: Revan, 1999, p. 11.
52
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
53
Em verdade, não há possibilidade de adoção rígida do
modelo procedimental em países de modernidade tardia, espe-
cialmente em razão do déficit democrático.
36
O plebiscito, o referendo e a iniciativa popular foram regulamentados pela Lei
9.709/98.
37
ANJOS FILHO, Robério Nunes dos. Sociedade e espaço público na Constituição, in
SAMPAIO, José Adércio Leite (coordenador). 15 anos de Constituição. Belo Horizonte:
Del Rey, 2004, p. 385.
38
CAMPILONGO. Celso. Representação política. Série Princípios. São Paulo: Ática, 1988,
p. 50-55.
39
STRECK, Lenio Luiz. Hermenêutica jurídica e(m) crise: uma exploração hermenêutica
da construção do Direito. 8 ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2009, p. 24.
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40
MORAIS, José Luis Bolzan de. As crises do estado e da constituição e a transformação
espacial dos direitos humanos. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2002, p. 55.
41
A Constituição da República estabelece inúmeros mecanismos de participação e
controle popular que, entretanto, não são suficientes implementados para o exercício
pleno da democracia. Robério Nunes dos Anjos Filho apresenta o seguinte quadro: “1.
Os mecanismos tradicionais de cidadania ativa: 1.1. De participação legislativa: 1.1.1.
Plebiscito (14, I); 1.1.2. Referendo (14, II); 1.1.3. Iniciativa legislativa popular (14, III); 61,
§ 2º); 1.2 De participação judicial: 1.2.1. Ação popular (5º, LXXIII); 1.2.2. Ação civil públi-
ca. 2. Outros mecanismos de cidadania ativa: 2.1. De participação administrativa. 2.1.1.
Participação em Conselhos – Penitenciário, de Meio Ambiental, de Educação, de Saúde,
de Assistência Social, Tutelar, da República (89, VII); 2.1.2. Participação dos órgãos
públicos colegiados nos quais sejam objeto de discussão e deliberação os interesses
profissionais ou previdenciários dos trabalhadores e empregadores (10); 2.1.3. Participa-
ção do usuário da Administração Pública direta e indireta (37, § 3º); 2.1.4. Participação
dos produtores e trabalhadores rurais no planejamento e execução da política agrícola
(187); 2.1.5. Participação dos trabalhadores, empregadores e aposentados nos órgãos
colegiados da seguridade social (194, parágrafo único, VII); 2.1.6. Participação da comu-
nidade nas ações e serviços de saúde (198, III); 2.1.7. Participação da população, por
meio de organizações representativas, na formulação das políticas públicas e no controle
das ações de assistência social (204, II); 2.1.8. Participação da comunidade na promoção
dos direitos culturais (216, § 1º); 2.1.9. Representação e órgãos públicos – Tribunal de
Contas da União (74, § 2º), Ministério Público, Poder Legislativo (58, § 2º, IV); 2.1.10.
Deflagração de processo de impeachment; 2.1.11. Participação em audiências públicas;
2.2. Institutos polivalentes de participação: 2.2.1. Direito à obtenção de informações (5º,
XXXIII) e certidões (5º, XXXIV, b); 2.2.2. Direito à publicidade (5º, LX e 37, caput); 2.2.3.
Direito de petição (5º, XXXIV, a).” ANJOS FILHO, Robério Nunes dos. Sociedade e espaço
público na Constituição, in SAMPAIO, José Adércio Leite (coordenador). 15 anos de
Constituição. Belo Horizonte: Del Rey, 2004, p. 384-385.
55
quais se enquadram os direitos de democracia, de informação e
de pluralismo.42 Segundo Bonavides:
42
BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 20 ed. São Paulo: Malheiros, 2007,
p. 571.
43
BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 20 ed. São Paulo: Malheiros, 2007,
p. 571.
44
Folha de São Paulo, ano 91, terça-feira, 05/07/2011, Seção A-11. Exemplo dessa nova
possibilidade vem da Islândia, que permitiu a participação da população na redação na
nova Constituição, por intermédio da Internet. O país é composto por aproximadamente
300.000 habitantes e praticamente todos possuem acesso à Internet. As reuniões da
Assembléia Constituinte foram transmitidas on line, a permitir que os indivíduos apre-
sentassem opinião em tempo real.
45
PÉREZ LUÑO, Antonio-Enrique. Ciberciudadaní@ o ciudadaní@.com? Barcelona:
Editorial Gedisa, 2004, p. 11.
56
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
46
BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 20 ed. São Paulo: Malheiros, 2007,
p. 572.
47
VIANNA, Luiz Werneck [et al.]. A judicialização da política e das relações sociais no
Brasil. Rio de Janeiro: Revan, 1999, p. 24.
48
STRECK, Lenio Luiz. Verdade e consenso: constituição, hermenêutica e teorias discur-
sivas. 4 ed. são Paulo: Saraiva, 2011, p. 432.
57
Neste modelo híbrido e equilibrado – que reúne as duas
posições, procedimentais e substanciais – não há privatização da
cidadania e o Judiciário não fica impedido de controlar as outras
atividades estatais, com autorização para atuar de forma equili-
brada e dentro dos parâmetros constitucionalmente aceitos.
49
JULIUS-CAMPUZANO, Alfonso de. Constitucionalismo em tempos de globalização.
Tradução de Jose Luis Bolzan de Morais e Valéria Ribas do Nascimento. Porto Alegre:
Livraria do Advogado Editora, 2009, p. 46.
58
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
50
BOLZAN DE MORAIS, José Luis. As crises do estado e da constituição e a transforma-
ção espacial dos direitos humanos. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2002, p. 56-57.
51
HÄBERLE, Peter. Pluralismo y Constitución. Estudios de teoría constitucional de la
sociedaded aberta. Tradução de Emilio Mikunda-Franco. Madri: Editorial Tecnos, 2008,
p. 107.
52
HÄBERLE, Peter. Pluralismo y Constitución. Estudios de teoría constitucional de la
sociedaded aberta. Tradução de Emilio Mikunda-Franco. Madri: Editorial Tecnos, 2008,
p. 115.
53
“Patriotismo Constitucional é um conceito originalmente cunhado pelo jurista e cien-
tista político alemão Dolf Sternberger à época do trigésimo aniversário da Lei Funda-
mental de Bonn. Com esse conceito, Sternberger procurou sintetizar o que representava
a construção de uma nova identidade coletiva alemã que tomava por referência o con-
teúdo normativo universalista da Lei Fundamental de 1949, algo extremamente novo na
história da Alemanha.” OLIVEIRA, Marcelo Andrade Cattoni de. Direito, política e filoso-
fia: Contribuições para uma teoria discursiva da constituição democrática no marco do
patriotismo constitucional. Rio de Janeiro: Editora Lumen Júris, 2007, p. 1-2.
59
Nestes termos, o patriotismo constitucional se apresenta como uma
forma de universalismo consolidado nos valores democráticos que re-
sume a Constituição: um universalismo comprometido com o pluralis-
mo, com as pretensões legítimas das demais formas de vida, e que tra-
ta de ampliar os espaços de tolerância. O patriotismo constitucional
encerra, assim, um elemento cosmopolita que não foge dos perfis es-
pecíficos de cada identidade. Trata-se dos valores do constitucionalis-
mo que se fundam na cultura política de cada povo e enraízam-se com
perfis próprios e definidos. Sua inserção em um concreto contexto his-
tórico precisa que fique ancorado nas próprias formas culturais de vi-
54
da.
54
JULIUS-CAMPUZANO, Alfonso de. Constitucionalismo em tempos de globalização.
Tradução de Jose Luis Bolzan de Morais e Valéria Ribas do Nascimento. Porto Alegre:
Livraria do Advogado Editora, 2009, p. 99.
55
Sobre o debate procedimentalismo x substancialismo vide VIANNA, Luiz Werneck [et
al.]. A judicialização da política e das relações sociais no Brasil. Rio de Janeiro: Revan,
1999; STRECK, Lenio Luiz. Hermenêutica jurídica e(m) crise: uma exploração hermenêu-
tica da construção do Direito. 8 ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2009, p. 31-52;
ABREU, Pedro Manoel. Processo e democracia. O processo jurisdicional como um lócus
da democracia participativa e da cidadania inclusiva no estado democrático de direito.
Vol. 3. Coleção Ensaios de Processo Civil. São Paulo: Conceito Editorial, 2011, p. 183-190.
60
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
[...] porque así es como se libera la fuerza creadora del ser humano en
las ciencias y las artes, en economía y política, al equilibrarlas mate-
rialmente, evitándose así tanto la guerra civil como la lucha de clases y,
sobre todo, porque a través de dicho pluralismo se perfila un determi-
nado tipo de libertad ciudadana que se establece de forma también
57
plural.
56
ZAGREBELSKY, Gustavo. El derecho dúctil. Ley, derechos, justicia. Tradução de Marina
Gascón. 9 ed. Madri: Trotta, 2009, p. 13-14.
57
HÄBERLE, Peter. Pluralismo y Constitución. Estudios de teoría constitucional de la
sociedaded aberta. Tradução de Emilio Mikunda-Franco. Madri: Editorial Tecnos, 2008,
p. 116.
61
trabalhos das operadoras de plano de saúde. Somado a isso,
apresenta-se a crítica técnica, segundo a qual o juiz não tem
conhecimento para atuar no campo da saúde pública e suple-
mentar. Por isso, o juiz deveria se limitar à obediência do prin-
cípio da deferência e se curvar, em respeito aos demais Poderes
e à livre iniciativa das operadoras de saúde.58
58
O debate sobre ativismo judicial e autocontenção (self-restraint) ou minimalismo
judicial (judicial minimalism) é exercido há mais de duzentos anos nos EUA. A Harvard
Law Review publicou em 1893 uma conferência de James Bradley Thayer, que apontou
vários argumentos contrários ao ativismo judicial, destacando a ausência de autorização
constitucional, a necessidade de respeito - deferência – aos demais Poderes e impor-
tância de não haver a criação de um paternalismo judicial. DIMOULIS, Dimitri. LUNARDI,
Soraya. Curso de processo constitucional: controle de constitucionalidade e remédios
constitucionais. São Paulo: Atlas, 2011, p. 314-328.
62
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
63
A história constitucional pátria já revelou dois modelos
distintos de atuação do Tribunal Constitucional. A autoconten-
ção predominou durante muito tempo, com pouca interferência
na atuação dos outros Poderes, como se verificava, por exemplo,
quando inexistia a produção de decisões judiciais condenatórias
da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e das
operadoras de plano de saúde ao fornecimento de tratamentos e
tecnologias não incorporados.
Como aceitar que um órgão criado pela Constituição para exercer competências por ela
previstas não deva aplicar e fazer respeitar seus mandamentos?”
63
STRECK, Lenio Luiz. Verdade e consenso: constituição, hermenêutica e teorias discur-
sivas. 4 ed. são Paulo: Saraiva, 2011, p. 198-199.
64
STRECK, Lenio Luiz. Verdade e consenso: constituição, hermenêutica e teorias discur-
sivas. 4 ed. são Paulo: Saraiva, 2011, p. 87-88.
64
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
65
STRECK, Lenio Luiz. Verdade e consenso: constituição, hermenêutica e teorias discur-
sivas. 4 ed. são Paulo: Saraiva, 2011, p. 191.
65
Este artigo não pretende abordar todos os aspectos do a-
ludido diploma normativo, mas destacar alguns que se mostram
demasiadamente importantes para a melhor compreensão do
direito à saúde e que também servem como critérios para a teo-
ria da decisão judicial.
66
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
66
conitec@saude.gov.br
67
apenas que o direito à saúde está garantido na Constituição a
partir do artigo 5º e do artigo 196. É necessário, também, na
análise do caso judicializado, a investigação do diagnóstico, do
quadro clínico e principalmente, a comprovação da melhor prá-
tica de evidência científica, além da eficácia, da acurácia, da efe-
tividade e da segurança do medicamento, produto ou procedi-
mento postulado, sem dispensar, também, a avaliação econômi-
ca comparativa dos benefícios e dos custos em relação às tecno-
logias já incorporadas (observância da relação custo-benefício).
68
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
69
alista, que se encontra no mesmo nível de graduação da opinião
apresentada na prescrição médica67.
67
Sobre os níveis de graduação das evidências científicas tem-se a seguinte ordem: 8º
opinião de especialista; 7º relato de caso; 6º série de casos; 5º estudo caso-controle; 4º
estudo coorte; 3º ensaio coorte; 2º mega trail e; 1º revisão sistemática com ou sem
meta-análise. Observa-se, assim, que a opinião de um especialista – geralmente utilizada
em processo judicial – contempla o menor nível de evidência científica. Por esta razão,
deve-se evitar a produção de prova pericial, pois o médico perito está no mesmo pata-
mar (à luz da evidência científica) do médico assistente prescritor.
70
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
68
FERRAZ, Octávio Luiz Motta. Entre a usurpação e a abdicação? O direito à saúde no
Judiciário do Brasil e da África do Sul. In Constituição e política na democracia: aproxi-
mações entre direito e ciência política. Daniel Wei Liang, organizador. São Paulo: Marci-
al Pons, 2013.
71
A questão é inerente, portanto, à tensão gerada entre de-
mocracia e constitucionalismo.
Embora seja muito útil saber como não se deve ler a Constituição, no
final das contas, os juízes, legisladores, e aqueles que ocupam cargos
do Poder Executivo, encarregados de interpretar a Constituição, preci-
sam ser capazes de lê-la. Ler a Constituição não requer uma teoria de
interpretação que englobe a Constituição inteira. Dessa forma, poderí-
amos cair na hiper-integração. Ao mesmo tempo em que nos esforça-
mos para evitar os monstros marinhos da Scila da hiper-integração,
temos que fugir dos monstros do Caridbes da des-integração. Embora
seja impossível oferecer uma teoria da interpretação constitucional to-
talmente consistente, podemos ao menos ensaiar algumas abordagens
aceitáveis para tal empreendimento. O objetivo que nos colocamos pa-
rece demasiadamente hesitante e tentativo, e isso se deve ao fato de
as questões dirigidas para a interpretação constitucional serem ao
mesmo tempo extremamente básicas e difíceis. Na maior parte das ve-
zes não temos respostas, e aquelas que conseguimos dar quase nunca
são precisas. Não é possível alcançar a definição da última palavra da
essência da Constituição; quando isso se torna possível, a Constituição
acaba de perder sua relevância perante uma sociedade em constante
mudança. Com menos ambição e talvez com o pé mais fincado na rea-
lidade, pretendemos contribuir com um diálogo útil para a leitura da
70
Constituição, uma ‘conversa constitucional’.
69
Sobre a teoria dos diálogos institucionais: Mendes, Conrado Hubner. Direitos funda-
mentais, separação de poderes e deliberação. São Paulo: Saraiva, 2011.
70
TRIBE, Laurence. DORF, Michel. Hermenêutica Constitucional. Tradução de Amarílis
de Souza Birchal. Belo Horizonte: Del Rey, 2007, p 35-36.
72
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
71
HÄBERLE, Peter. Hermenêutica Constitucional. A sociedade aberta dos intérpretes da
Constituição: Contribuição para a interpretação pluralista e procedimental da Constitu-
ição. Tradução de Gilmar Ferreira Mendes. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor,
2002. Título original: Die offene Gesellschaft der Verfassungsinterpreten. Ein Beitrag zur
pluralistischen und ‘prozessualen’ Verfassungsinterpretation.
73
Neste contexto, fomenta-se uma contínua e permanente
conversa entre os atores sociais e institucionais.
72
DWORKIN, Ronald. O império do direito. Tradução de Jefferson Luiz Camargo. 2 ed.
São Paulo: Martins Fontes, 2007, p. 276. Título original: Law´s empire.
74
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
73
GRAU, Eros Roberto. Por que tenho medo dos juízes. A interpretação/aplicação do
direito e os princípios. São Paulo: Malheiros Editores, 2013.
75
76
2
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
Novas
perspectivas
sobre a
judicialização
da saúde
Clenio Jair Schulze
77
78
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
74
O resultado da audiência púbica auxiliou no conteúdo da decisão proferida na Suspen-
são de Tutela Antecipada 175, AgR/CE, Rel. Min. Gilmar Mendes.
79
O CNJ criou um Grupo de Trabalho para estudo e proposta
de medidas concretas e normativas para as demandas judiciais
envolvendo a assistência à saúde75.
75
CNJ. Portaria 650, de 20 de novembro de 2009. Cria grupo de trabalho para estudo e
proposta de medidas concretas e normativas para as demandas judiciais envolvendo a
assistência à saúde. Disponível em:
http://www.cnj.jus.br/atos-administrativos/11896:portaria-n-650-de-20-de-novembro-
de-2009. Acessado em 28 de outubro de 2014.
76
CNJ. Recomendação 31, de 31 de março de 2010. Recomenda aos Tribunais a adoção
de medidas visando a melhor subsidiar os magistrados e demais operadores do direito,
para assegurar maior eficiência na solução das demandas judiciais envolvendo a assis-
tência à saúde. Disponível em: http://www.cnj.jus.br/atos-administrativos/atos-da-
presidencia/322-recomendacoes-do-conselho/12113-recomendacao-no-31-de-30-de-
marco-de-2010. Acessado em 28 de outubro de 2014.
77
CNJ. Recomendação 31, de 31 de março de 2010. Recomenda aos Tribunais a adoção
de medidas visando a melhor subsidiar os magistrados e demais operadores do direito,
para assegurar maior eficiência na solução das demandas judiciais envolvendo a assis-
tência à saúde. Disponível em: http://www.cnj.jus.br/atos-administrativos/atos-da-
80
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
presidencia/322-recomendacoes-do-conselho/12113-recomendacao-no-31-de-30-de-
marco-de-2010. Acessado em 02 de abril de 2015.
78
CNJ. Resolução 107, de 6 de abril de 2010. Institui o Fórum Nacional do Judiciário para
monitoramento e resolução das demandas de assistência à saúde. Disponível em:
http://www.cnj.jus.br/atos-administrativos/atos-da-presidencia/323-resolucoes/12225-
resolucao-no-107-de-06-de-abril-de-2010. Acessado em 28 de outubro de 2014.
81
pecialistas, por integrante do Ministério da Saúde, pela Agência
Nacional de Saúde Suplementar – ANS, pela Agência Nacional de
Vigilância Sanitária – ANVISA, pelo CONASEMS – Conselho Na-
cional de Secretarias Municipais de Saúde e pelo CONASS – Con-
selho Nacional de Secretários de Saúde.
82
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
83
bração de acordos; (v) contribuindo para produção de provas,
com participação em audiências e emissão de pareceres.
2.2.3. Enunciados
79
O Comitê Executivo do Paraná editou os seguintes enunciados:
Enunciado nº 01 (Ata 06, de 12.09.2011) - "As ações que versem sobre pedidos para que
o Poder Público promova a dispensação de medicamentos ou tratamentos, baseadas no
direito constitucional à saúde, devem ser instruídas com prescrição de médico em
exercício no Sistema Único de Saúde, ressalvadas as hipóteses excepcionais, devidamen-
te justificadas, sob risco de indeferimento de liminar ou antecipação da tutela"
Enunciado nº 02 (Ata 06, de 12.09.2011) - "Os pedidos ajuizados para que o Poder
Público forneça ou custeie medicamentos ou tratamentos de saúde devem ser objeto de
prévio requerimento à administração, a quem incumbe responder fundamentadamente
e em prazo razoável. Ausente o pedido administrativo, cabe ao Poder Judiciário ouvir o
gestor público antes de apreciar pedidos de liminar, se o caso concreto o permitir" (Ata
06).
Enunciado nº 03 (Ata 07, de 11.10.2011) - “A determinação judicial de fornecimento de
medicamentos deve observar a existência de registro na ANVISA" (Ref. Legislativa: artigo
19-T, inciso II, da Lei nº 8.080/90, com redação dada pela Lei nº 12.401/11).
Enunciado nº 04 (Ata 07, de 11.10.2011) - “Ao impor a obrigação de prestação de saúde,
o Poder Judiciário deve levar em consideração as competências das instâncias gestoras
do SUS”.
Enunciado nº 05 (Ata 16, de 03.09.2012) - “As ações judiciais que versem sobre pedidos
para que o Poder Público promova a dispensação de tratamentos e medicamentos
oncológicos, baseadas no direito constitucional à saúde, devem ser instruídas com prova
do cadastro do paciente/autor em rede pública de atenção oncológica (CA-
CON/UNACON) e com cópia integral do prontuário do paciente”.
Enunciado nº 06 (Ata 32, de 13.06.2014) - "Para a internação compulsória ou involuntá-
ria, em relação à transtornos mentais, inclusive quanto ao uso de álcool e drogas, é
mister que a petição inicial venha instruída com laudo de solicitação de internação
hospitalar firmado por médico, preferencialmente psiquiatra". CNJ. Iniciativas do Comi-
tês Estaduais. Disponível em http://www.cnj.jus.br/programas-de-a-a-z/saude-e-meio-
84
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
2.2.4. Cartilhas
85
É exemplo de sucesso, no qual se escolhem processos es-
pecíficos, ou com pedidos idênticos, e são levados para tentativa
de celebração de acordo entre as partes envolvidas.
82
CNJ. Pedido de Providências 0002150-61.2012.2.00.0000. Decisão proferida em 06 de
agosto de 2013. Disponível em:
http://www.cnj.jus.br/acompanhamentoprocessualportal/faces/jsf/consultarandament
oprocessual/ConsultarProcesso.jsp. Acessado em 28 de outubro de 2014.
83
CNJ. Recomendação n.43, de 20 de agosto de 2013/Conselho Nacional de Justiça-
Brasília: CNJ 2013. Recomenda aos Tribunais de Justiça e aos Tribunais Regionais Fede-
rais que promovam a especialização de Varas para processar e julgar ações que tenham
por objeto o direito à saúde pública e para priorizar o julgamento dos processos relati-
vos à saúde suplementar. Disponível em: http://www.cnj.jus.br/atos-
administrativos/atos-da-presidencia/322-recomendacoes-do-conselho/26014-
recomendacao-n-43-de-20-de-agosto-de-2013. Acessado em 28 de outubro de 2014.
86
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
87
Um aspecto importante do evento foi a abertura democrá-
tica, que permitiu a participação de juízes, membros dos Minis-
térios Públicos, da Advocacia, das Defensorias Públicas, das Pro-
curadorias, médicos, gestores públicos e agentes de operadoras
de planos de saúde e também representantes da sociedade civil.
84
CNJ. Fórum da Saúde/Conselho Nacional de Justiça – Brasília: CNJ 2014. Disponível em:
http://www.cnj.jus.br/evento/eventos-novos/i-jornada-do-forum-nacional-da-saude.
Acessado em 28 de outubro de 2014.
88
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
89
dimentos (enunciado 23); e) cabe à operadora custear as despe-
sas de terceiro profissional indicado para dissipar dúvida entre
o profissional indicado pelo segurado e pela própria operadora
(enunciado 24); f) não pode ser negada assistência com base em
doença ou lesão preexistente desconhecida (enunciado 25); g) é
lícito exclusão de cobertura de produto não nacionalizado ou
experimental (enunciado 26); h) devem ser observados os atos
normativos do CFM, do CFO e o rol de procedimentos da ANS
(enunciado 27); nas decisões judiciais para fornecimento de
OPME deve-se mencionar a descrição técnica e observar a regu-
lamentação vigente (enunciado 28); (i) o juiz deve exigir do
médico assistente a comprovação da eficácia, efetividade, segu-
rança e evidência científica do tratamento, medicamento ou
OPME indicado (enunciado 29); j) cabe audiência de justificação
com o médico ou odontólogo para dirimir dúvidas técnicas acer-
ca da prescrição (enunciado 30); k) os juízes devem utilizar o
NAT ou serviço equivalente (enunciado 31); l) a petição inicial
deve conter a descrição completa do tratamento, medicamento,
produto e do quadro clínico do autor da ação judicial (enunciado
32); m) os integrantes do sistema de Justiça devem utilizar os
pareceres da CONITEC e da ANS (enunciado 33); n) não podem
ser negados os serviços e tratamentos previstos na Lei 9656/98
e no rol de procedimento e eventos em saúde, incluindo-se a-
queles decorrentes de complicações de procedimentos médicos
e cirúrgicos decorrentes de procedimentos não cobertos (enun-
ciados 34 e 36); o) cabe ao consumidor comprovar o seu vínculo
com a respectiva pessoa jurídica, sob pena de seu contrato ser
considerado individual (enunciado 35).
90
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
91
A criação da melhor decisão judicial sobre um tratamento
de saúde passa pela análise de fatores técnicos geralmente ex-
ternos à teoria jurídica, razão pela qual a noção médica e farma-
cológica precisa ser observada na análise de processo judicial
sobre o tema da saúde.
92
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
85
FREITAS, Juarez. Sustentabilidade: direito ao futuro. Belo Horizonte: Fórum, 2011.
86
Jornal Estado de São Paulo. São Paulo. 24/01/2013.
93
na efetiva repartição de competências e na redefinição do mode-
lo federativo brasileiro.
94
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
87
Código de Ética Médica. Resolução CFM nº 1931/2009, capítulo II.
88
GADELHA, Maria Inez Gadelha. O papel dos médicos na judicialização da saúde.
Revista CEJ, Brasília, Ano XVIII, n. 62, p. 65-70, jan./abr. 2014.
95
(c) ampliação do diálogo entre o sistema de justiça e o sis-
tema de saúde: é preciso aumentar e fortalecer a articulação
entre os agentes públicos responsáveis pela concretização do
direito fundamental à saúde. A atuação isolada do sistema de
justiça (operadores do Direito) e do sistema de saúde (gestores)
não contribui para a evolução e o progresso desejado pela soci-
edade. A criação da melhor decisão judicial sobre um tratamen-
to de saúde passa pela análise de fatores técnicos geralmente
externos à teoria jurídica, razão pela qual a noção médica e far-
macológica precisa ser incorporada ao exercício da função juris-
dicional. Este é o modelo adequado à construção do Estado de-
sejado, que observe os objetivos da República Federativa do
Brasil e que contemple uma sociedade livre, justa, solidária;
96
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
89
HÄBERLE, Peter. Hermenêutica Constitucional. A sociedade aberta dos intérpretes da
Constituição: Contribuição para a interpretação pluralista e procedimental da Constitu-
ição. Tradução de Gilmar Ferreira Mendes. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor,
2002, p. 12. Título original: Die offene Gesellschaft der Verfassungsinterpreten. Ein
Beitrag zur pluralistischen und ‘prozessualen’ Verfassungsinterpretation.
90
HÄBERLE, Peter. Hermenêutica Constitucional. A sociedade aberta dos intérpretes da
Constituição: Contribuição para a interpretação pluralista e procedimental da Constitu-
ição. Tradução de Gilmar Ferreira Mendes. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor,
2002, p. 23. Título original: Die offene Gesellschaft der Verfassungsinterpreten. Ein
Beitrag zur pluralistischen und ‘prozessualen’ Verfassungsinterpretation.
97
vivem a norma, razão pela qual não detêm o monopólio da sua
interpretação.91
91
HÄBERLE, Peter. Hermenêutica Constitucional. A sociedade aberta dos intérpretes da
Constituição: Contribuição para a interpretação pluralista e procedimental da Constitu-
ição. Tradução de Gilmar Ferreira Mendes. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor,
2002, p. 15. Título original: Die offene Gesellschaft der Verfassungsinterpreten. Ein
Beitrag zur pluralistischen und ‘prozessualen’ Verfassungsinterpretation.
92
HÄBERLE, Peter. Hermenêutica Constitucional. A sociedade aberta dos intérpretes da
Constituição: Contribuição para a interpretação pluralista e procedimental da Constitu-
ição. Tradução de Gilmar Ferreira Mendes. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor,
2002, p. 32. Título original: Die offene Gesellschaft der Verfassungsinterpreten. Ein
Beitrag zur pluralistischen und ‘prozessualen’ Verfassungsinterpretation.
93
VIEIRA DE ANDRADE, José Carlos. Os direitos fundamentais na Constituição Portu-
guesa de 1976. 4 ed. Coimbra: Almedina, 2009, p. 168.
94
A expressão Estado Constitucional exterioriza o predomínio da Constituição no siste-
ma jurídico em contraposição à expressão Estado de Direito, que prestigia a lei. Sobre o
tema, é interessante a observação de Gustavo Zagrebelsky: “Quien examine el derecho
de nuestro tiempo seguro que no consigue descubrir en él los caracteres que constituían
los postulados del Estado de derecho legislativo. La importancia de la transformación
deve inducir a pensar en um auténtico cambio genético, más que en una desviación
momentánea en espera y con la esperanza de una restauración. La respuesta a los
grandes y graves problemas de los que tal cambio es consecuencia, y al mismo tiempo
causa, está contenida en la fórmula del ‘Estado constitucional’. La novedad que la misma
contiene es capital y afecta a la posición de la ley. La ley, por primera vez en la época
moderna, viene sometida a una relación de adecuación, y por tanto de subordinación, a
98
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
un estrato más alto de derecho establecido por la Constitución. De por sí, esta innova-
ción podría presentarse, y de hecho se ha presentado, como una simple continuación de
los principios del Estado de derecho que lleva hasta sus últimas consecuencias el pro-
grama de la completa sujeción al derecho de todas las funciones ordinarias del Estado,
incluida la legislativa (a excepción, por tanto, solo de la función contituyente). Con ello,
podría decirse, se realiza de la forma más completa possible el principio del gobierno de
las leyes, en lugar del gobierno de los hombres, principio frecuentemente considerado
como una de las bases ideológicas que fundamentan el Estado de derecho. Sin embargo,
si de las afirmaciones genéricas se pasa a comparar los caracteres concretos actual, se
advierte que, más que de uma continuación, se trata de uma profunda transformación
que incluso afecta necesariamente a la concepción del derecho.” (El derecho dúctil. Ley,
derechos, justicia. 9 ed. Tradução Marina Gascón. Madri: Editorial Trota, 2009, p. 33-
34). Pérez Luño afirma que o Estado Constitucional é o modelo de Estado das atuais
sociedades pluralistas, complexas e pluricêntricas (PÉREZ LUÑO, Antonio Enrique. Nue-
vos retos del Estado Constitucional: Valores, derechos, garantias. In: Cadernos de la
Cátedra de Democracia y Derechos Humanos. Madri: Universidad de Alcalá, 2010, p.
66). O termo Estado Constitucional também é preferido por Canotilho (Canotilho, José
Joaquim Gomes. Direito constitucional e teoria da Constituição. 4 ed. Livraria Almedina:
Coimbra, 2004). Por fim, importante registrar a colaboração de Cademartori e Duarte:
“Já a diferenciação entre Estado de Direito (assim designado o Estado Liberal Clássico) e
Estado Constitucional, segundo Pérez Luño, reside em um tríplice deslocamento do
papel que desempenham, em termos institucionais, as normas constitucionais e infra-
constitucionais, cuja posição atual no Estado Constitucional passa a ser a seguinte:
1. deslocamento do princípio da primazia da lei para o princípio da primazia da
Constituição;
2. deslocamento da reserva da lei à reserva da constitucional;
3. deslocamento do controle jurisdicional da legalidade ao controle jurisdicional
da constitucionalidade.
Em linhas gerais, no Estado Constitucional, os poderes políticos encontram-se de-
limitados e configurados a partir de um direito baseado primacialmente nos princí-
pios constitucionais, formais e materiais, tais como os direitos fundamentais; a
função social das instituições públicas; a divisão de poderes e a independência dos
tribunais.
Esses fatores, por sua vez, apresentam como resultado uma forma de Estado na
qual existe uma legitimação democrática e um controle pluralista do poder político
e dos poderes sociais.” (CADEMARTORI, Luiz Henrique Urquhart. DUARTE, Francis-
co Carlos. Hermenêutica e argumentação neoconstitucional. São Paulo: Atlas,
2009, p. 31).
99
Na esfera judicial, permite-se promover audiências públi-
cas no âmbito do controle difuso/concreto/incidental95 ou no
controle concentrado/abstrato/principal96 de constitucionali-
dade.
95
Exercido por qualquer juiz, de ofício ou mediante provocação, em qualquer grau de
jurisdição, em que a questão constitucional não é a principal, mas interfere, incidental-
mente, no julgamento da lide.
96
Exercido pelo Supremo Tribunal Federal, nos termos do artigo 102, inciso I, alínea ‘a’,
da Constituição, mediante provocação de um ou mais legitimados, cujo rol consta do
artigo 103 da Constituição.
100
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
101
constitucional (amicus curiae briefs), un reconocimento alentador. La
sociedade aberta es una ‘constituida’, reconocible, por ejemplo, en la
eficácia frente a terceros de los derechos fundamentales. Es expresión
del status culturalis del individuo; el status naturalis es una (irrenun-
ciable) ficción. No hay ninguna ‘liberdad natural’, solo hay liberdad cul-
97
tural.
97
HÄBERLE, Peter. La Jurisdicción Constitucional em la Sociedade Abierta. Tradução
Joaquin Brage Camazano. In: Direito Público. Brasília: Síntese, jan-fev 2009, 193.
98
HÄBERLE, Peter. La Jurisdicción Constitucional em la Sociedade Abierta. Tradução
Joaquin Brage Camazano. In: Direito Público. Brasília: Síntese, jan-fev 2009, p. 197.
99
HÄBERLE, Peter. La Jurisdicción Constitucional em la Sociedade Abierta. Tradução
Joaquin Brage Camazano. In: Direito Público. Brasília: Síntese, jan-fev 2009, p. 190.
102
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
103
com todas as despesas custeadas pelo Estado. Contudo, não exis-
tia no processo comprovação cientifica da eficácia e da efetivi-
dade do tratamento. Pelo contrário, foi apresentando laudo indi-
cando a ausência de cura. Não obstante, a Corte condenou o
Estado. O voto condutor, do Ministro Marco Aurélio, afirmou
que existe sim tratamento exitoso em Cuba conforme informa-
ção que obteve nos veículos de comunicação100. Tal decisão de-
monstra a forma inadequada como são analisados os processos
judiciais sobre saúde. É impossível imaginar que uma decisão
judicial seja proferida com base em informação jornalística e
não à luz do sistema jurídico101.
100
http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=177147
101
Por isso que Eros Roberto Grau atualizou seu livro com o novo título: Por que tenho
medo dos Juízes (São Paulo: Malheiros, 2013).
104
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
105
com base nas informações do gestor do hospital. Ou seja, com
base na teoria dos diálogos institucionais, cabe ao juiz consultar
o agente hospitalar responsável para saber se há vaga para in-
ternação e, inexistindo, descobrir qual a situação do estabeleci-
mento, evitando internações compulsórias sem que se conheça a
real situação do hospital e que possa violar o direito de outrem.
106
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
102
Segundo o Relatório Justiça em Números do CNJ são 95,3 milhões de processos em
tramitação (ano base 2013) para aproximadamente 200 milhões de habitantes. Conside-
rando que em cada processo existem duas partes, um autor e um réu, pode-se concluir
que quase todos os brasileiros litigam em um processo judicial.
107
2º Facilidade do acesso à Justiça: é possível ajuizar uma
ação judicial sem advogado nos Juizados Especiais. É claro que
se trata da minoria de processos, pois o Brasil é também é cam-
peão mundial no número de advogados – aproximadamente um
milhão. Quase todos os tribunais do Brasil – são 91 – estão na
era do processo digital. Significa que a ação pode ser proposta
em qualquer lugar do mundo por intermédio do peticionamento
eletrônico. Portanto, reduziram-se significativamente as dificul-
dades de acesso à Justiça no Brasil.
108
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
109
9º Primazia absoluta do direito à saúde: os tribunais
analisam de forma isolada um processo sobre direito à saúde
sem confrontá-lo com o orçamento, com o total de cidadãos que
também precisam do tratamento e ainda não obtiveram cober-
tura, e com o modelo estrutural de sistema de saúde público ou
suplementar. Há decisões do STF e do STJ a afirmar que o Estado
possui um interesse meramente secundário quando argumenta
a ausência de recursos financeiros103. O preço deste entendi-
mento será muito caro à sociedade no médio prazo e no longo
prazo, já que nada, ao que parece, pode impedir o cidadão de
obter um tratamento de saúde (ainda que inexista certeza cien-
tífica sobre a acurácia, a eficácia, a eficiência e o seu custo-
benefício), pois a condição financeira do Estado e do plano de
saúde é meramente secundária. A judicialização excessiva, se
persistir por muito tempo, vai levar ao agravamento do sistema
de saúde e ao colapso do equilíbrio atuarial dos planos de saúde.
103
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO.
DIREITO À SAÚDE. FORNECIMENTO PELO PODER PÚBLICO DO TRATAMENTO ADEQUA-
DO. SOLIDARIEDADE DOS ENTES FEDERATIVOS. OFENSA AO PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO
DOS PODERES. NÃO OCORRÊNCIA. COLISÃO DE DIREITOS FUNDAMENTAIS. PREVALÊN-
CIA DO DIREITO À VIDA. PRECEDENTES. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é
firme no sentido de que, apesar do caráter meramente programático atribuído ao art.
196 da Constituição Federal, o Estado não pode se eximir do dever de propiciar os meios
necessários ao gozo do direito à saúde dos cidadãos. O Supremo Tribunal Federal assen-
tou o entendimento de que o Poder Judiciário pode, sem que fique configurada violação
ao princípio da separação dos Poderes, determinar a implementação de políticas públi-
cas nas questões relativas ao direito constitucional à saúde. O Supremo Tribunal Federal
entende que, na colisão entre o direito à vida e à saúde e interesses secundários do
Estado, o juízo de ponderação impõe que a solução do conflito seja no sentido da pre-
servação do direito à vida. Ausência de argumentos capazes de infirmar a decisão agra-
vada. Agravo regimental a que se nega provimento. [grifado] (STF, ARE 801676 AgR/PE,
Relator Min. ROBERTO BARROSO, Primeira Turma, j. 19/08/2014 , DJe 02-09-2014)
110
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
111
sileiras). Assim, mesmo que o cidadão tenha condições é o Esta-
do que deve custear seu tratamento, como se não houvesse limi-
tação financeira ou porque os direitos nascem em árvores104. O
jeitinho brasileiro é o escudo que protege o cidadão de assumir
suas responsabilidades. O responsável sempre é o outro (para-
doxo do eu), ou seja, o Estado ou o plano de saúde105.
104
CUSTO DOS DIREITOS. OS DIREITOS EM ÁREVORES.
105
O escritor Moçambicano Mia Couto também descreve este fenômeno: COUTO, Mia. E
se Obama fosse afraicano? São Paulo: Companhia das Letras, 2011, p. 30-33.
112
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
113
19º Cumprimento do dever fundamental de exercer a
boa administração pública: afirma-se, na atual quadra, que o
cidadão possui direito fundamental à boa administração, vale
dizer, "o direito à administração pública eficiente e eficaz, pro-
porcional cumpridora de seus deveres, com transparência, mo-
tivação, imparcialidade e respeito à moralidade, à participação e
à plena responsabilidade por suas condutas comissivas e omis-
sivas" ou "o direito à administração preventiva, precavida e
eficaz (não apenas eficiente), vale dizer, comprometida com
resultados em sintonia com os objetivos fundamental do Estado
Democrático e, nessa medida, redutora dos conflitos intertem-
porais, que só fazem aumentar os chamados custos de transa-
ção106.
114
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
115
24º Definição das prioridades: deve-se estabelecer um
rol de prioridades no cumprimento do direito fundamental à
saúde. É papel do Estado, neste aspecto, optar por escolhas. E
que a escolha seja a mais adequada ao cidadão, à luz da política
de saúde contemplada constitucionalmente. Cabe ao Estado,
portanto, conferir maior eficiência aos gastos públicos de saúde,
tendo em vista a inexorável limitação orçamentária108. Os resul-
tados da atuação estatal também precisam ser maximizados.
108
AMARAL, Gustavo. Direito, escassez e escolha. Critérios jurídicos para lidar com a
escassez de recursos e as decisões trágicas. 2 ed. Rio de Janeiro: Editora Lumen Júris,
2010.
116
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
117
Existe, portanto, um esgotamento do modelo vigente. A
era dos direitos levou a um excesso de expectativas diante da
limitação de recursos. As promessas da Constituição de 1988
não foram e não serão cumpridas imediatamente. Somente o
equilíbrio e a noção de sustentabilidade é que poderão auxiliar
para o funcionamento adequado do Estado brasileiro. Espera-se
que isso aconteça em breve!
118
3
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
Direito
Constitucional
à Saúde e
suas molduras
jurídicas e fáticas
João Pedro Gebran Neto
119
120
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
121
blicas de saúde ganhou tamanha proporção que o Supremo Tri-
bunal Federal decidiu abrir ampla discussão sobre o tema, con-
vocando a realização da Audiência Pública nº 4, ocorrida entre
os meses de abril e maio de 2009.
122
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
123
3.2. Moldura constitucional do direito à saúde
124
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
125
Ao tratar de acesso universal e igualitário buscou o cons-
tituinte atender a um grave reclamo social existente no antigo
regime, vez que o sistema anteriormente estabelecia que a pre-
vidência social era prestada exclusivamente em favor daqueles
indivíduos que estivessem inseridos no sistema previdenciário.
Equivale dizer, fossem os chamados “portadores das carteiri-
nhas”.
109
- E a redação constitucional deixa transparecer que sequer estrangeiros podem ser
excluídos deste atendimento, embora a questão possa exigir maiores reflexões quanto à
possibilidade de criar limitações, como ser o estrangeiro residente ou não, estar legal ou
ilegalmente no país, possibilidade de exigir-se seguro-saúde para estrangeiros, entre
outros limites.
126
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
110
- ASENSI, Felipe Dutra. Direito à saúde. Práticas sociais reivindicatórias e sua efetiva-
ção. Curitiba: Juruá, 2013, p. 140.
127
Assim, a integralidade prevista na Carta Política acha-se
associada à noção de prevenção, proteção e recuperação, de-
vendo o direito à saúde ser considerado em todos os aspectos, e
não apenas em um deles.
111
- MIRANDA, Ciro Carvalho. SUS. Medicamentos, protocolos clínicos e o Poder Judiciá-
rio: ilegitimidade e ineficiência. Brasília: editora Kiron, 2013, p. 29/30.
128
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
129
Deste segundo grupo é possível extrair um terceiro gru-
po112 composto pelos indivíduos que possuem planos ou segu-
ros na área da saúde, mas que eventualmente não estão cober-
tos pelos benefícios ou serviços que pretendem ou necessitam.
São pessoas que, de modo individual ou coletivo, aderiram a
planos que ofertam serviços básicos na área de saúde, mas não
dão acesso a tratamentos/medicamentos mais sofisticados, mo-
dernos e onerosos.
112
- Em verdade se trata de uma subdivisão do segundo grupo que, em face de circuns-
tâncias da vida, acabam formando um novo grupo eventual e volátil, que se comporta
como o grupo de pessoas absolutamente desassistidas.
130
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
131
3.3. Moldura fática do financiamento à saúde
113
- A questão ganhou tamanha proporção que vários estados e a própria União criaram
rubricas próprias em seus orçamentos para atendimentos de determinações judiciais na
área de saúde.
114
- Sobre o tema, confiram-se os seguintes artigos: Gasto per capita do Brasil com
saúde é menor que a média mundial
(http://sao-paulo.estadao.com.br/noticias/geral,gasto-per-capita-do-brasil-com-saude-
e-menor-que-media-mundial-imp-,1032260) e Tendências do financiamento da Saúde
(http://gvsaude.fgv.br/sites/gvsaude.fgv.br/files/20.pdf).
132
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
115
- Os Ministros de Estado Aluisio Mercadante e Ideli Salvatti, em reportagem do jornal
Estado de São Paulo, em 26 de setembro de 2011, reconhecem o subfinanciamento.
Igualmente o Secretário da Saúde do Estado de São Paulo, em matéria do mesmo jornal,
publicado em 27 de março de 2014, também afirma que a saúde no Brasil é subfinancia-
da.
133
As três imagens, a seguir apresentadas, permitem visuali-
zar o problema num amplo espectro.
Total de pacientes
Unidades Valor em R$ atendidos (ativos e
Ano
Distribuídas inativos)
116
- Dados da Secretaria de Estado da Saúde do Estado do Paraná.
117
- O número de unidades distribuídas refere-se a unidades de medicamentos, como
drágeas, comprimidos, fraldas, ou qualquer outro medicamento determinado judicial-
mente.
134
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
135
4000
3500
3000
2500
2000
1500
Ativo
136
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
118
- Embora o percentual possa não parecer expressivo, do ponto de vista quantitativo, a
comparação com outros dados da tabela permite visualizar sua dimensão. Basta ver que
o valor é maior que o gasto com todas os programas de saúde da própria SESA.
137
Mas, de qualquer sorte, a chamada judicialização da saú-
de, quando atua na perspectiva do direito individual, acaba por
colaborar com a má distribuição destes escassos recursos.
119
- dados extraídos de matéria jornalística, consoante quadro e referência adiante
expostos.
120
- MÜLLER, F. Métodos de trabalho do Direito Constitucional. 2. ed. Tradução: Peter
Naumann. São Paulo: Max Limonad, 2000. p. 36.
138
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
121
- PONDÉ, Luis Felipe. A era do ressentimento: uma agenda para o contemporâneo.
São Paulo: LeYa, 2014.
139
Sem se aprofundar na sempre polêmica questão da cha-
mada reserva do possível, não se pode deixar de considerar que
a limitação da realidade aos direitos prestacionais está bem
desenvolvida pela jurisprudência da Corte Constitucional da
Alemanha122, a partir do precedente que firmou a sua existência.
122
- No julgamento do BVerfGE 33, 303 (numerus clausus), o Tribunal Constitucional da
Alemanha defendeu a constitucionalidade de normas de direito estadual que limitavam
o ingresso à Faculdade de Medicina nas Universidades de Hamburgo e da Baviera,
postulando os autores o direito de ingresso ilimitado de postulantes.
123
- CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. Coimbra:
Livraria Almedina. 1998. p. 222.
140
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
124
- SILVA, José Afonso. Curso de Direito Constitucional Positivo. São Paulo: Malheiros,
2010, 33ª ed., p. 109.
141
Isto, entretanto, não equivale a conferir ao intérprete, ao
indivíduo ou ao aplicador da norma um cheque em branco para
livremente preencher seu conteúdo. Essa máxima efetividade
encontra limites no próprio texto, bem como na interpretação
harmônica dos demais dispositivos constitucionais, ou mesmos
nos dados da realidade.
125
- “A formulação de políticas públicas (a agenda governamental) e administração dos
recursos públicos são as tarefas principais do legislativo e do executivo. A eleição dos
seus membros confere, com o mandato político, a opção do povo sobre as políticas a
programar sobre a utilização ser dada aos recursos públicos. Pelo menos essa é a con-
cepção que está na essência da separação dos poderes, adotada nas constituições mo-
dernas”, nas palavras de Fernando Quadros da Silva (Controle Judicial das Agências
142
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
“Por essa razão, o STF deve ser deferente para com as deliberações do
Congresso. Com exceção do que seja essencial para preservar a demo-
cracia e os direitos fundamentais, em relação a tudo mais os protago-
nistas da vida política devem ser os que têm votos. Juízes e tribunais
não podem presumir demais de si próprios – como ninguém deve, ali-
ás, nessa vida – impondo suas escolhas, suas preferências, sua vonta-
de. Só atuam, legitimamente, quando sejam capazes de fundamentar
racionalmente suas decisões, com base na Constituição.
Nessa linha, cabe reavivar que o juiz: (i) só deve agir em nome da Cons-
tituição e das leis, e não por vontade política própria; (ii) deve ser defe-
rente para com as decisões razoáveis tomadas pelo legislador, respei-
tando a presunção de validade das leis; (iii) não deve perder de vista
que, embora não eleito, o poder que exerce é representativo (i.e, e-
mana do povo e em seu nome deve ser exercido), razão pela qual sua
atuação deve estar em sintonia com o sentimento social, na medida do
possível. Aqui, porém, há uma sutileza: juízes não podem ser populis-
tas e, em certos casos, terão de atuar de modo contramajoritário. A
conservação e a promoção dos direitos fundamentais, mesmo contra a
vontade das maiorias políticas, é uma condição de funcionamento do
constitucionalismo democrático. Logo, a intervenção do Judiciário,
nesses casos, sanando uma omissão legislativa ou invalidando uma lei
inconstitucional, dá-se a favor e não contra a democracia.
143
sível de responsabilização política por escolhas desastradas. Exemplo
emblemático nessa matéria tem sido o setor de saúde. Ao lado de in-
tervenções necessárias e meritórias, tem havido uma profusão de de-
cisões extravagantes ou emocionais em matéria de medicamentos e
terapias, que põem em risco a própria continuidade das políticas públi-
cas de saúde, desorganizando a atividade administrativa e comprome-
tendo a alocação dos escassos recursos públicos. Em suma: o Judiciário
quase sempre pode, mas nem sempre deve interferir. Ter uma avalia-
ção criteriosa da própria capacidade institucional e optar por não exer-
cer o poder, em autolimitação espontânea, antes eleva do que dimi-
nui.”
144
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
145
da à falta de outros bens da vida, como a ausência de água, gaso-
lina, ou mesmo de UTI´s.
146
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
127
- Sobre o tema, recomenda-se a leitura dos seguintes textos:
- McGough LJ, Reynolds SJ, Quinn TC, Zenilman JM. Which patients first? Setting priori-
ties for antiretroviral therapy where resources are limited. Am J Pub Health 2005; 95:
1173–80. (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1449336/);
- Reinhardt, U. ‘Rationing’ Health Care: What Does It Mean? New York Times. July 3
2009. (http://economix.blogs.nytimes.com/2009/07/03/rationing-health-care-what-
does-it-mean/);
- Singer P. Why we must ration healthcare. New York Times. July 15, 2009.
(http://www.nytimes.com/2009/07/19/magazine/19healthcare-t.html)
128
- A questão do fornecimento dos ARV´s é tratada no filme “Clube de Compras Dallas”.
147
Outro caso que ilustra muito bem a questão do raciona-
mento deu-se em Seattle, onde primeiramente desenvolveu-se
um sistema eficiente de hemodiálise. Embora a descoberta do
tratamento de problemas renais (com a filtragem por meio arti-
ficiais) tivesse sido inventada em 1913, por John Abel, nos Esta-
dos Unidos, ao realizar o tratamento em seus cães (método foi
aprimorado em 1917 pelo alemão Georg Haas), somente em
1943 o holandês Wilem Kolff inventou a primeira máquina de
diálise. Ocorre que o mecanismo inicial padecia de um grave
problema, era necessária utilização de uma nova veia e numa
nova artéria a cada procedimento. Após poucas sessões, o paci-
ente já não dispunha de locais adequados para a realização da
hemodiálise. Apenas em 1960, Scribner e Quinton, da Universi-
dade de Washington, em Seattle, inventaram o chamado “siste-
ma Shunt”, o qual permitia um acesso arteriovenoso externo
permanente. Foram instituídos diversos centros de hemodiálise
nos Estados Unidos, mas a quantidade de pacientes que necessi-
tavam do procedimento era muito superior ao número de ma-
quinas em cada centro médico para sua realização. Em 1962,
apenas um em cada cinqüenta pacientes recebiam o tratamento.
129
- Uma versão desta história acha-se descrita no artigo da revista Life, escrito por
Alexander S. “They decide who lives, who dies: medical miracle puts a moral burden on a
small committee”. Life. 1962;53(19):102-125.
148
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
149
Foi o que ocorreu relativamente ao transplante de órgãos,
nos Estados Unidos130:
Dados da realidade:
130
- Informações extraídas do curso da Universidade da Pensylvania: Rationing and
Allocating Scarce Medical Resources, ministrado por Ezekiel J. Emanuel, MD, PhD.
150
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
151
A realidade brasileira não é diferente, tampouco distante,
do exemplo acima colacionado. Em recente reportagem na im-
prensa nacional131, restou demonstrado a quantidade de pacien-
tes necessitando de consultas com médicos especialistas, bem
como a demora para atendimento, como demonstra o quadro
abaixo:
131
- publicado no jornal Gazeta do Povo, na edição do dia 10.10.2014, bem como na
versão digital, no endereço eletrônico:
http://www.gazetadopovo.com.br/vidaecidadania/conteudo.phtml?tl=1&id=1505220&t
it=Busca-por-medico-especialista-pode-levar-35-anos.
152
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
153
vel se estendida para todos que estivessem em situações seme-
lhantes, entre outros fatores.
154
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
155
a) na revisão da lista RENAME (em março de 2012) pas-
sando de 550 para 810 itens (Portaria 533 do MS) e Por-
taria nº 53/2012 (incorpora medicamento);
c) criação da CONITEC:
156
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
157
É evidente que a realidade do SUS não se transformará de
um dia para outro. Como já assinalado, não será num passe de
mágica que as longas filas de espera, a precária infra-estrutura, a
insuficiência orçamentária, a falta de execução do orçamento e a
má-gestão serão solucionadas.
158
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
159
160
4
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
Buscando
uma lógica
organizativa na
judicialização
da Saúde
João Pedro Gebran Neto
161
162
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
163
da nº 175, pelo Supremo Tribunal Federal132; b) a criação pelo
Conselho Nacional de Justiça (CNJ) do Fórum Nacional da Saúde
e dos respectivos Comitês Executivos estaduais da Saúde.
132
A decisão do Supremo Tribunal Federal foi ementa nos seguintes termos: “Suspensão
de Segurança. Agravo Regimental. Saúde pública. Direitos fundamentais sociais. Art. 196
da Constituição. Audiência Pública. Sistema Único de Saúde - SUS. Políticas públicas.
Judicialização do direito à saúde. Separação de poderes. Parâmetros para solução judici-
al dos casos concretos que envolvem direito à saúde. Responsabilidade solidária dos
entes da Federação em matéria de saúde. Fornecimento de medicamento: Zavesca
(miglustat). Fármaco registrado na ANVISA. Não comprovação de grave lesão à ordem, à
economia, à saúde e à segurança públicas. Possibilidade de ocorrência de dano inverso.
Agravo regimental a que se nega provimento” (STA 175 AgR, Relator: Min. GILMAR
MENDES (Presidente), Tribunal Pleno, julgado em 17/03/2010, DJe-076 DIVULG 29-04-
2010 PUBLIC 30-04-2010 EMENT VOL-02399-01 PP-00070).
164
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
133
- ANGELL, Márcia. A verdade sobre os laboratórios farmacêuticos. Como somos
enganados e o que podemos fazer a respeito. Editora Record.
165
Physician Payment Sunshine Act. A primeira norma proíbe qual-
quer doação de laboratórios para médicos e hospitais de ensino,
enquanto a segunda obriga a manutenção de cadastro de trans-
parência acerca de financiamentos de estudos e cursos, de modo
a tornar visível e acessível qualquer conflito de interesses. To-
dos os benefícios superiores a 10 dólares, bem como soma anual
superior a 100 dólares, devem ser anualmente declarados para
o Centers for Medicare and Medicaid Services (CMS). Isto bem
revela que o problema é global.
134
- A mídia tem frequentemente denunciado problemas desta natureza, como recente
reportagem apresentada pelo programa “Fantástico”, da Rede Globo, no dia 04.01.2015.
135
- Precisamos tomar tanto remédio? In Superinteressante. São Paulo: Ed. Abril, setem-
bro de 2009.
166
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
136
- Por que a medicina pode levar você à falência. In Época. São Paulo: 12 de maio de
2014, ed. Globo.
137
- Segundo o Centro Cochrane do Brasil, respeitada instituição sem finalidade lucrativa
que se dedica a estudar com profundidade os fármacos e sua comprovação de eficácia,
Medicina Baseada em Evidências, ou Saúde Baseada em Evidências, “é uma abordagem
167
Alguns dados podem auxiliar na confirmação das asser-
tivas acerca do mau funcionamento do mercado.
168
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
139
- O Enunciado nº 15, da I Jornada da Saúde, do Fórum Nacional da Saúde do CNJ,
reafirmou esta obrigação, assentando: “As prescrições médicas devem consignar o
tratamento necessário ou o medicamento indicado, contendo a sua Denominação Co-
mum Brasileira (DCB) ou, na sua falta, a Denominação Comum Internacional (DCI), o seu
princípio ativo, seguido, quando pertinente, do nome de referência da substância, poso-
logia, modo de administração e período de tempo de tratamento e, em caso de prescri-
ção diversa daquela expressamente informada por seu fabricante, a justificativa técni-
ca”.
169
4.3. Um efetivo sistema público de saúde
170
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
140
-
http://portal.cfm.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=25073:manif
esto-pela-saudemedicos-encaminham-propostas-aos-presidenciaveis&catid=3.
171
- oferta de remuneração compatível com a formação, a responsabili-
dade e o compromisso exigidos dos profissionais.
141
- Sobre o tema, reporto-me a outro artigo de minha autoria, chamado Direito à Saúde
(parte I) que versa sobre outros aspectos deste tema.
172
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
142
- Decisão confirmada pelo Pleno, do STF, por unanimidade de votos, em 17.03.2010,
publicada no DJE 30/04/2010 - ATA Nº 12/2010. DJE nº 76, divulgado em 29/04/2010.
173
4.4.1. Primeira premissa
143
- Embora tenha sido reconhecida a legitimidade passiva da União nestas hipóteses,
dentro da política pública de saúde (Lei nº 8080/90) ela não está obrigada a prestar
materialmente a entrega de medicamentos, mas apenas o custeio, mediante repasse
aos fundos estaduais e municipais de saúde.
174
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
175
razoável, criar condições ideais de atendimento. Se o problema é
a falta de hospital, deve a administração mover-se no sentido de
construir novas unidades e/ou firmar convênios com outras
unidades existentes.
176
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
144
- Portas de entrada são os modos iniciais de atendimento perante o Sistema Único de
Saúde, consoante definição do Decreto 7508, de 28 de junho de 2011, sendo elas: a de
atenção primária; a de atenção de urgência e emergência; a de atenção psicossocial; e as
especiais de acesso aberto.
145
- Este é um preocupante dado da judicialização da saúde. Em grande medida, são
ações buscando providências ou tratamentos fora das políticas públicas, a partir indica-
ções médicas privadas, por indivíduos que reúnem condições de arcar com os custos.
Não é incomum pessoas com farto patrimônio buscarem proteção estatal excepcional,
sob o argumento do acesso universal, mas pretenderem que o atendimento se dê por
seu médico particular, em hospital privado, em total afronta aos princípios que norteiam
o Sistema Único de Saúde, destacadamente da igualdade de atendimento.
177
§1º Os entes federativos poderão ampliar o acesso do usuário à assis-
tência farmacêutica, desde que questões de saúde pública o justifi-
quem.
178
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
(...)
179
Grande debate tem se estabelecido sobre a aprovação, ou
não, de fármacos pela ANVISA, ao mesmo tempo em que estes
medicamentos são aprovados por órgãos alienígenas como a
NICE, na Inglaterra, ou a FDA, nos Estados Unidos.
146
- SILVA, Fernando Quadros. Controle judicial das agências reguladoras. Aspectos
doutrinários e jurisprudenciais. Porto Alegre: verbo jurídico, 2014, p. 297
180
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
147
- Sobre as evidencias científicas, relevantes informações podem ser obtidas junto ao
Centro Cochrane do Brasil e Cochrane Library, como se colhe de estudo acessível pela
internet:
- http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/14651858.CD011230.pub2/pdf/abstract;
- http://serv-bib.fcfar.unesp.br/seer/index.php/Cien_Farm/article/view/2635/1480
148 - Sobre o tema, o Núcleo de Apoio Técnico da Saúde de Minas Gerais elaborou nota
técnica que apresentou a seguinte conclusão: “Conclusão: Há evidência, na literatura, de
que o tratamento paliativo com antiangiogênicos promove discreta melhora em 30% dos
pacientes ou paralisação do processo degenerativo da DMRI em outros 30%. Tanto o
ranibizumabe quanto o bevacizumabe podem ser usados no tratamento com eficácia
semelhante. O Ministério da Saúde deve incorporar o tratamento com bevacizumabe nos
próximos meses”.
181
dizer, em doses menores e mais caras)149-150. Quero crer que, em
casos como o do exemplo, a relevância pública da saúde, com
previsão constitucional (art. 197), poderia solver a questão em
favor da população brasileira, em detrimento dos direitos co-
merciais da indústria.
149
- Noutro parecer técnico do NATS de Minas Gerais resta confirmada a grande diferen-
ça de custo entre um tratamento e outro: “Conclusão: Há evidência, na literatura, de que
o tratamento paliativo com antiangiogênicos promove discreta melhora em 30% dos
pacientes ou paralisação do processo degenerativo da DMRI em outros 30%. Tanto o
ranibizumabe(Lucentis®) quanto o bevacizumabe(Avastin®) podem ser usados no trata-
mento com eficácia semelhante. Custo do tratamento inicial de 3 meses consecutivos:
- Lucentis® - ranibizumabe : R$ 9.058,05
- Avastin® - bevacizumabe: R$ 246,63.”
150
- Sobre a controvérsia, acesse http://www.allaboutvision.com/conditions/lucentis-vs-
avastin.htm. Em sua conclusão, reconhece a publicação eletrônica que: “In May 2007,
British researchers published a cost analysis comparing the two treatments in the British
Journal of Ophthalmology. Researchers concluded that Lucentis, which is about 50 times
more expensive than Avastin, would need to be 2.5 times more effective to justify the
additional cost. Researchers indicated that Lucentis, compared with Avastin, does not
appear to be as cost-effective”.
151
- CONITEC é a sigla pela qual é conhecida a Comissão Nacional de Incorporação de
Tecnologias no SUS, prevista na Lei nº 8080/90, a partir da modificação legislativa pro-
movida pela Lei nº 12.401/2011, em substituição à CITEC. A Conitec, assistida pelo
Departamento de Gestão e Incorporação de Tecnologias em Saúde - DGITS, tem por
objetivo assessorar o Ministério da Saúde - MS nas atribuições relativas à incorporação,
exclusão ou alteração de tecnologias em saúde pelo SUS, bem como na constituição ou
alteração de Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas - PCDT.
182
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
183
A presente orientação tem escopo organizativo do Siste-
ma Único de Saúde. A judicialização da saúde, por natureza, tem
efeitos desorganizativos152.
152
- Como já destacado, a judicialização da saúde possui diversos aspectos positivos e
negativos, dentre os últimos a desorganização da política pública, porque há destinação
de recursos para finalidades diversas das previstas nas políticas públicas, por vezes há
decisões que acarretam em substituição de escolhas do administrador, violação das
portas de entradas do SUS e até mesmo em usurpação de lugar nas listas de esperas
para procedimentos, consultas, internação, entre tantas providências médico-
administrativas.
184
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
Enunciado nº 1 - 'As ações que versem sobre pedidos para que o Poder
Público promova a dispensação de medicamentos ou tratamentos, ba-
seadas no direito constitucional à saúde, devem ser instruídas com
prescrição de médico em exercício no Sistema Único de Saúde, ressal-
vadas as hipóteses excepcionais, devidamente justificadas, sob risco de
indeferimento de liminar ou antecipação da tutela'.
185
4.4.6. Sexta premissa
186
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
153
- http://www.cochrane.org/
154
- http://www.centrocochranedobrasil.org.br/cms/
187
Uma das providências recomendáveis após a propositura
de ações judiciais é a oitiva de médicos para elaboração de laudo
acerca da pretensão. Não é necessária a realização de perícia
médica no paciente, mas a avaliação do seu histórico clínico, dos
exames já realizados, da prescrição médica apresentada e a exis-
tência de estudos científicos a autorizar o medicamento não
contemplado na política pública. Também há que se considerar
os fundamentos para não utilização de medicamentos previstos
nas políticas públicas ou mesmos nos protocolos existentes,
inclusive os protocolos das sociedades médicas de especialistas.
A prescrição médica usada para instruir eventual pedido judicial
deve ser suficientemente fundamentada pelo prescritor, de mo-
do a possibilitar o controle judicial e administrativo das razões
lançadas.
155
- O NATS de Minas Gerais já emitiu mais de uma centena de notas técnicas, muitas
delas com possibilidade de utilização em outros processos, vez que versão sobre condi-
188
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
ções gerais, como a utilização de um medicamento de modo off label, uso de insulina,
uso de stent, entre outras pesquisas.
189
prováveis, impunidade, corporativismo e a uma relativa aceita-
ção ou tolerância social.
156
- ARENDT, Hanna. Eichmann em Jerusalém – Um relato sobre a banalidade do mal.
São Paulo: Cia das Letras, trad. José Rubens Siqueira.
190
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
Anti-suborno e corrupção
Concorrência leal
Práticas de marketing
191
Todas estas premissas, adotadas a partir, mas não exclu-
sivamente, da decisão proferida na Suspensão de Tutela Anteci-
pada nº 175, têm por escopo organizar o Sistema Único de Saú-
de, de modo a atender aos princípios constitucionais antes refe-
ridos.
157
- Embora as questões sejam de alta indagação, fico imaginando como poderia o Poder
Judiciário substituir-se aos administradores e médicos de um pequeno hospital público
de uma cidade do interior, frente a um grave acidente de trânsito envolvendo muitos
veículos ou ônibus. Quem deve ser atendido prioritariamente? Quem deve usar os
respiradores existentes? Quem deverá ocupar a UTI (se houver)? Como trabalhar com as
urgências e a falta de infra-estrutura para um atendimento inesperado? As respostas
certamente não são jurídicas, mas de escassez de recursos, que impõe uma lógica que
refoge à tarefa do Poder Judiciário.
192
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
193
- Menor interferência judicial na concessão de medicamen-
tos fora da política pública, maior controle sobre a quali-
dade da política existente.
158
- Os filmes Clube de Compra Dallas (de 2013), Invasões Bárbaras (de 2002) e SOS
Saúde – SICKO (de 2007) retratam alguns dos aspectos aqui apresentados sobre o direito
à saúde nos Estados Unidos.
194
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
159
- Sobre o tema: LEIVAS, P. G. C. . Teoria dos Direitos Fundamentais Sociais. 1. ed.
Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006.
195
4.6. Considerações finais
196
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
197
198
5
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
Como usar
a Saúde baseada
em evidências
João Pedro Gebran Neto
199
200
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
201
Isto porque nem tudo que é colocado no mercado pela in-
dústria apresenta real vantagem sobre aquilo que já está incor-
porado. De outro lado, há muitos produtos que são disponibili-
zados no mercado que deveriam constar das políticas públicas.
160
- ANGELL, Márcia. A verdade sobre os laboratórios farmacêuticos: como somos enga-
nados e o que podemos fazer a respeito. Tradução de Waldéa Barcellos. Rio de Janeiro:
Record, 2008.
202
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
161
- Sobre este ponto, não se pode ignorar que muitas vezes são em eventos deste tipo,
patrocinados pela própria indústria, que o marketing do produto é feito com maior
ênfase, consoante refere Márcia Angell (op. cit.).
162
- http://www.projetodiretrizes.org.br/diretrizes11/abertura_internet.pdf
203
prestação dos serviços de saúde no País, por intermédio de Pro-
tocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas.
163
- MIRANDA, Ciro Carvalho. SUS – Medicamentos, protocolos clínicos e o Poder Judici-
ário: ilegitimidade e ineficiência. Brasília: Editora Kiron, 2013, p. 104.
204
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
205
Por fim, sexto, o acompanhamento e a verificação dos re-
sultados terapêuticos. Não basta tratar o paciente. Deve o trata-
mento ser objeto de acompanhamento para verificar se o mes-
mo é eficaz, se o paciente está se submetendo aquilo que lhe foi
indicado, bem como realizar o controle geral do protocolo em
relação aos mais variados pacientes. Além da questão individual
do paciente, os protocolos também devem velar pela coletivida-
de, motivo pelo qual o controle não se dará exclusivamente em
cada caso, mas também com o aprendizado coletivo dos muitos
tratamentos, através de um adequado banco de informações.
164
- MIRANDA, Ciro Carvalho. Op. cit., p. 107/108.
165
- http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/o-ministerio/principal/secretarias/430-
job/l1-job/16176-teste-protocolos-clinicos
206
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
207
e publicação mínima a cada dois anos, nos termos do Decreto nº
7508/2011. Entretanto, é facultado aos Estados e Municípios
editarem protocolos complementares dadas as peculiaridades
locais (art. 28, III, do decreto referido).
ENUNCIADO Nº 4
208
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
166
- Nos termos do parágrafo primeiro, do art. 19-Q, da Lei nº 8080/90, com redação
dada pela Lei nº 12.401/2011.
167
- A CONITEC é um órgão colegiado de caráter permanente, integrante do Ministério
da Saúde, vinculado à Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos (SCTIE),
regulado pelo Decreto nº 7.646/2011, junto ao Departamento de Gestão e Incorporação
de Tecnologias em Saúde – DGITS, Decreto nº 7.797/2012.
168
- Nos termos do parágrafo segundo, do art. 19-Q, da Lei nº 8080/90, com redação
dada pela Lei nº 12.401/2011.
209
Este órgão, como se depreende do texto legal acima trans-
crito, tem por missão verificar as evidências científicas sobre
determinados produtos ou procedimentos de modo a emitir
opinião, não vinculante, quanto à eficácia, efetividade, acurácia e
segurança dos mesmos.
169
- National Institute of Health and Care Excellence. Acessável no sítio:
http://www.nice.org.uk.
170
- Pharmaceutical Benefits Advisory Committee. Informações hospedadas no site:
http://www.pbs.gov.au/info/industry/listing/participants/pbac
210
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
o
§ 1 O requerimento de instauração do processo administrativo para a
incorporação e a alteração pelo SUS de tecnologias em saúde e a cons-
tituição ou alteração de protocolos clínicos e diretrizes terapêuticas de-
verá ser protocolado pelo interessado na Secretaria-Executiva da CO-
NITEC, devendo ser acompanhado de:
171
- Canadian Agency for Drugs and Technologies in Health. Com acesso no site:
http://www.cadth.ca/
172
- www.saúde.gov.br
211
II - número e validade do registro da tecnologia em saúde na ANVISA;
o
§ 2 O requerimento de instauração do processo administrativo para a
exclusão pelo SUS de tecnologias em saúde deverá ser acompanhado
o
dos documentos previstos nos incisos I, II, VI do §1 , além de outros de-
terminados em ato específico da CONITEC.
o
§ 3 A CONITEC poderá solicitar informações complementares ao re-
querente, com vistas a subsidiar a análise do pedido.
o
§ 4 No caso de propostas de iniciativa do próprio Ministério da Saúde,
serão consideradas as informações disponíveis e os estudos técnicos já
realizados para fins de análise pela CONITEC.
212
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
173
- DRUMMONDD, José Paulo; e SILVA, Eliezer. Medicina Baseada em Evidências – Novo
paradigma assistencial e pedagógico. São Paulo: Atheneu, 1998.
213
validade e importância são aferidas por determinados crité-
rios”174.
174
- DRUMMONN e SILVA, op. cit., p. 3.
175
- “O Centro Cochrane do Brasil, um dos 14 Centros da Colaboração Cochrane, é uma
organização não governamental, sem fins lucrativos e sem fontes de financiamento
internacionais, que tem por objetivo contribuir para o aprimoramento da tomada de
decisões em Saúde, com base nas melhores informações disponíveis. A missão do Centro
Cochrane do Brasil é elaborar, manter e divulgar revisões sistemáticas de ensaios clínicos
randomizados, o melhor nível de evidência para as decisões em Saúde. Inaugurado em
1996, o Centro está ligado à Pós-graduação em Medicina Interna e Terapêutica da Escola
Paulista de Medicina - Universidade Federal de São Paulo (EPM-UNIFESP) e realiza revi-
sões sistemáticas, pesquisa clínica e avaliações de tecnologias em Saúde. Além disso,
promove workshops de revisão sistemática e metodologia de pesquisa; oferece um curso
gratuito on-line de revisão sistemática; e realiza consultorias científicas”, consoante se
informação que se colhe de seu sitio eletrônico:
http://www.centrocochranedobrasil.org.br/cms/index.php?option=com_content&view=
article&id=13&Itemid=4.
176
- O Centro Cochrane do Brasil, em parceria com o Instituto Sírio-Libanês de Ensino e
Pesquisa, do Hospital Sírio-Libanês de São Paulo, oferta online o Curso de Direito e
Saúde Baseada em Evidências, com aulas semanais de duas horas, com período de
duração de nove meses. O curso está na sua terceira edição, com a participação de
aproximadamente 500 profissionais da saúde e do direito.
177
- Os médicos José Paulo Drummond e Eliezer Silva definem MBE como “critério de
maior certeza de determinados achados e opiniões, apoiado em dados e informações,
cuja análise é feita dentro de padrões previamente estipulados” (in Medicina Baseada
em Evidências ... cit., p. 5).
214
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
178
- NORDENSTROM, Jorgen. Medicina Baseada em Evidências seguindo os passos de
Sherlock Holmes. Tradução Rita Brossard. Porto Alegre: Artmed, 2008, p. 9.
215
A comparação de diferentes estudos é de grande valia pa-
ra a escolha da melhor evidência, dada a evolução científica, os
novos exames e novos tratamentos existentes.
179
- DRUMMOND e SILVA, op. cit., p. 11.
180
- Embora possa ser desnecessário, importante frisar que eficácia, efetividade, eficiên-
cia e segurança são termos empregados no seu sentido técnico-médico, o que é absolu-
tamente diverso do seu significado jurídico.
216
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
181
- NORDENSTROM, Jorgen. Medicina ... cit., p. 82.
217
Níveis de estudos
218
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
219
ro que o tratamento anterior. Ou, ainda, pode versar sobre eficá-
cia ou efetividade.
182
- www.centrocochrane.com.br e http://cochrane.bvsalud.org/portal/php/index.php.
183
- www.thecochranelibrary.com.
184
- Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde desde 1982, acesso
no sitio eletrônico: www.bireme.br/php/inex.php.
185
- Produzido pela National Library of Medicine (NLM); desde 1960.
http://www.pubmed.gov (atualizada semanalmente, com informações sobre a literatura
Norte-Americana da área medicina clínica, ciências biológicas, educação e tecnologia).
186
- www.embase.com, site criado pela comunidade européia, cuja acesso pode ser feito
por intermédio da CAPES.
187
- www.york.ac.uk/inst/crd/index.htm
188
- http://sumseacrch.org
189
- www.clinicalevidence.com
190
- www.uptodate.com/home/index.html
191
- http://www.uptodate.com/pt/home
220
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
221
moléstia. Um dos grupos, geralmente, recebe o novo tratamento,
ao passo que o outro grupo recebe um tratamento convencional
ou placebo. Nem os pacientes, tampouco os médicos que reali-
zam a pesquisa sabem quais pacientes receberam o novo medi-
camento, quais receberam placebo ou o medicamento conven-
cional. Por isso o teste é conhecido como duplo-cego.
222
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
192
- NORDENSTROM, Jorgen. Op. cit., p. 51.
223
errar nas suas avaliações, seja porque ele pode sofrer influên-
cias externas ou até mesmo ter interesse no encaminhamento de
determinada opinião.
224
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
193
- A pesquisa neste sítio eletrônico deve ser feita no seguinte endereço, onde já estão
selecionadas as revisões sistemáticas: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/clinical.
225
verificar se a solução final com base em dados técnicos coincide
com a solução jurídica apresentada para a questão194.
194
- Importante consignar que não se pretende com o presente trabalho verificar se
houve acerto ou erro naquela decisão, especialmente do ponto de vista jurídico, mas
apenas analisar se há evidência médico-científico suficiente a justificar o pedido formu-
lado pelo paciente.
195
- A doença de Niemann-Pick tipo C é uma doença neurodegenerativa muito rara,
invariavelmente progressiva e eventualmente fatal, caracterizada por tráfego intracelu-
lar lipídico comprometido. As manifestações neurológicas são consideradas secundárias
à acumulação alterada de glicoesfingolípidos nas células gliais e neuronais.
196
- O acesso deve ser feito pelo site http://cochrane.bvsalud.org/portal/php/index.php
onde está acessível o inteiro teor dos estudos. No sítio original da cochrane library não
há acesso ao inteiro teor das publicações.
197
- http://cochrane.bireme.br/cochrane/main.php?lang=pt&lib=COC
226
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
227
Acessando o “The Cochrane Library”, haverá acesso aos
campos de pesquisa, onde devem ser incluídos os termos que se
pretende buscar, no caso concreto, a doença específica e o medi-
camento (miglustat e Niemann-pick, respectivamente).
228
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
229
As informações contidas nesta tela apresentam a seguinte
referência198:
230
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
Volume 6
Issue 9
Pages 765-72
231
index were also seen in treated patients older
than 12 years. The safety and tolerability of
miglustat 200 mg three times a day in study
participants was consistent with previous
trials in type I Gaucher disease, where half
this dose was used.
ID CN-00697401
232
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
Record status
Authors' conclusions
233
cadic movements and swallowing in Niemann-Pick disease type C
patients with neurologic manifestations. This was observed both
in children and in children above 12 years old. Given the chronic
and progressive neurodegenerative nature of the disease and its
low frequency, it is difficult to find evidence of high quality or with
important targets. In this type of diseases, stabilization or a de-
crease in disease progression are likely to be the expected objec-
tives for the long-term specific treatment of the disease.
Language: Spanish
HTA-32014000250
Index terms
234
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
235
Colhe-se da página acima que há 67 estudos clínicos sobre
os temas indicados, bem como 3 revisões sistemáticas, como
destacado em vermelho acima.
236
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
Lyseng-Williamson KA1.
Author information
Abstract:
199
- http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24338084
237
swallowing) in paediatric and adult patients with the disease. The ther-
apeutic effects of miglustat in stabilizing or slowing disease progres-
sion have been confirmed in other reports in the clinical experience
setting. The primary tolerability issues associated with miglustat are
mild to moderate gastrointestinal effects (e.g. diarrhoea, flatulence
and abdominal pain/discomfort) and weight loss, which usually occur
during initial therapy and are generally manageable. In the absence of
a cure, miglustat is a valuable agent to reduce the progression of clini-
cally relevant neurological symptoms in paediatric and adult patients
with NP-C, which is considered a significant achievement in the treat-
ment of this disease.
238
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
239
E, neste aspecto, não se está discutindo acerca sobre ser
devido ou não o fornecimento judicial fora das listas públicas.
Também não se está discutindo acerca dos custos dos medica-
mentos se a mesma decisão judicial fosse aplicada para todos os
outros pacientes que estivessem em situação análoga. Estas
questões, de ordem jurídica, administrativa e financeira passam
ao largo do presente estudo, embora relevantes, especialmente
para a elaboração da política pública200.
200
- O exame do custo efetividade de das políticas públicas em geral, e da saúde de
modo especial, é importante elemento na elaboração destas políticas. Lesliee L. Subak
leciona que “A análise do custo-efetividade facilita a tomada de decisões difíceis quanto
a alocação de recursos disponíveis. Ao dar valores quantitativos a custos e efetividade, a
análise de custos-efetividade pode ajudar a identificar a menos dispendiosa de duas
estratégias com efetividades semelhantes, a identificar a mais efetiva das estratégias
com custos semelhantes ou comparar o custo por unidade de efetividade. Assim sendo,
as análises econômicas proporcionam informações que ajudam aos responsáveis pela
política pública de saúde a avaliar as alternativas e a decidir qual opção serve melhor a
suas necessidades” (FRIELAND, Daniel J. Medicina Baseada em Evidências – Uma estrutu-
ra para a prática clínica. Trad. Maria de Fátima Azevedo, Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, original publicado em 1998, p. 121).
240
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
201
- A existência de dois enunciados com finalidades semelhantes justificasse em face da
divisão de trabalhos realizada na I Jornada, sendo que o primeiro enunciado foi editado
sob o tema: saúde pública, ao passo que o segundo foi aprovado sob o tema: saúde
suplementar.
241
Tais enunciados reforçam a preocupação do Poder Judici-
ário quanto à qualidade da informação, a busca por mecanismos
que verifiquem não apenas a eficiência e efetividade do trata-
mento/medicamento, mas também a segurança. Diversos Comi-
tês Estaduais de Saúde também publicaram enunciados orien-
tando a utilização dos NATs para emissão de pareceres técnicos
prévios às decisões judiciais202.
202
- Exemplo disto são os enunciados do Comitê Executivo da Saúde de Tocantins, Minas
Gerais, de Santa Catarina, respectivamente:
“PROPOSTA (3) - Convém que magistrados, membros do Ministério Público e defensores
públicos, antes da apreciação de liminares, procurem posicionamento técnico, preferi-
velmente por órgão constituído circunstanciadamente para essa finalidade, notadamen-
te o Núcleo de Apoio Técnico (NAT), antes de adotarem medidas atinentes à área da
Saúde Pública, com o fito de impedir a utilização do Poder Judiciário para aquisição de
benesses impróprias”.
“3 – Recomenda-se que as tutelas de urgência sobre saúde sejam precedidas de notas de
evidência científica emitidas por núcleos de assessoramento técnico em saúde”
“Enunciado 8 – É necessária a apresentação de prova técnica fundamentada pela parte
autora para instruir a inicial e, se houver, o pedido de tutela antecipada em ação ajuiza-
da para obtenção de tratamento(s) – medicamentos, procedimentos, insumos e/ou
consultas médicas – não padronizado(s)/fornecido(s) pelo Sistema Único de Saúde-SUS,
recomendando-se o uso de questionário formulado por este Comitê Executivo e outros
disponibilizados no Portal da Saúde, no sítio da Corregedoria Geral de Justiça do Tribunal
de Justiça de Santa Catarina, acessíveis através do endereço
http://cgj.tjsc.jus.br/saude/index.htm. (Aprovado por unanimidade)”.
242
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
203
- http://www.cnj.jus.br/programas-de-a-a-z/saude-e-meio-ambiente/forum-da-
saude/iniciativas-dos-comites-estaduais/iniciativas-do-comite-executivo-de-santa-
catarina/455-rodape/acoes-e-programas/programas-de-a-a-z/forum-da-saude
204
- Modelo de questionário do Comitê de Saúde do Estado do Paraná pode ser consul-
tado no site
http://www.amapar.com.br/images/N%C3%BAcleo_de_Atendimento_T%C3%A9cnico.p
df
243
dificuldade para realizar este acompanhamento freqüente fez
surgir, primeiramente no seio da própria comunidade médica e
depois na administração pública, a necessidade da edição de
protocolos e diretrizes a serem seguidas pelos profissionais da
saúde.
244
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
245
Se bem colocada a moldura fática pelos operadores do di-
reito, será fácil encaminhar aos Núcleos de Apoio Técnico - NAT
a contextualização do problema e a resposta não tardará, por-
que não é necessário que se realizem perícias, mas apenas um
adequado parecer sobre o caso concreto. E, por sua vez, o pro-
fissional do NAT que vier subscrever o parecer, terá seu trabalha
facilitado pelos abalizados estudos que estas ferramentas possi-
bilitam o acesso.
246
Direito à Saúde - Análise à luz da judicialização
BIBLIOGRAFIA
247
BARROSO, Luís Roberto. Neoconstitucionalismo e constitucionalização
do direito (O triunfo tardio do direito constitucional no Brasil). Revista de
Direito Administrativo, abril/junho 2005.
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CASTRO, Paulo Rabello de. O mito do governo grátis: o mal das políti-
cas
econômicas ilusórias e as lições de 13 países para o Brasil mudar. Rio
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