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ENTO DA ARVORE
Revisto pelo ciutor
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Ao leitor 21
O Testamento da Arvore ...... .......... . . . .. . ... . 25
A Arvore assim ditou seu testamento .. . ........... . 35
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AO LEITOR
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• •
Vós bem sabeis, irmãs, que é uma verdade'
que assim que as grandes árvores dos bosques
vão se adornando de matizes vários,
em adoravel confraternidade,
começam trabalhando em seus ofícios
,, os plumosos cantores operários.
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•
O TESTAMENTO . DA ARVORE 29
Os inquiétos b eija-flores,
os engenheiros-voejantes,
fazem, urdidos com paina,
seus castelos flutuantes .
.
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da vida de um cemitério 1
Amo tôdas as árvores do mundo,
àa menor, à maior, que os céus invéste 1
Arvores ha venenosas
pela lei dos Mandamentos,
que os homens chamam - maldosas,
porque inda não descobriram
que elas são tão caridosas,
que curam seus sofrimentos.
Aráras e periquitos
revoando do máto alto,
num revôo ascensional,
eram versos palpitantes,
.· í
Ouvindo o gran-parlador,
lá do infinitÓ, do além,
sorrindo e batendo palmas,
Deus exclamou : Muito bem 1
Mas não 1
•
~2 CATULLO DA PAIXAO CEARENSE
•
Catullo com o seu glorioso Violão, no. jardim do seu famoso
bq,rracão, num des~nho d~ Armando Pacfi,eço,
•
POLIANTÉIA
sôb1·e o Poeta, organizada e anotada por
GUIMARÃES MARTINS
Fraqrtlentos de juizos-críticos ela
maranhense.s, terra de Catullo.
sele'Cionados e anotados por
GUIMARÃES MARTINS
CATULLO
Tu me perguntaste, certa vez, em carta, qual o juizo
dos maranhenses a teu respeito. Vou responder-te:
- Ao chegar a esta terra abençoada por Deus, a pri-
meira pergunta que me fizeram foi - o Catullo n ão veio?!
- respondi negat ivamente e que surprêsa não tive quando
quase me agredi ram rev.oltados porque eu não t.e havja
trazido . Mas, mesmo assim, sem a tua presença, eles nao
se furtaram a prestar as Homenagens de que és merece-
dor, pelo teu Talento invulgar e raro.
E a prova está na formidável manifestação que te
prestaram, no dia da inauguração do teu monumento aí
no Rfo, inaugurando aq.ui em São Luiz, uma placa come-
morativa no prédio n.º 66, da rua Osvaldo Cruz, antiga .
rua Grande, onde nasceste e passaste a tua infância.
E' bem significativa a inscrição dessa placa:
"Nesta casa nasceu, a 8 de outubro de 1863,
Catullo da Paixão Cearense, o grande Poeta que
soube interpretar, em versos bem representativos
da Inteligência Maranhense, a alma popular brasi-
leira. São Luiz, 11 de janeiro de 1940."
· Todos colaboraram com indefinida satisfação:
- Antonio Lopes, uma das maiores culturas da Atenas
Brasileira, fundador e professor da Faculdade de Direito,
que tem sido · o Mestre de inúmeras gerações de intelec-
tuais, jornalista dos mais antigos e fulgurantes, que é
um leal in.centivador dos moços de talento e um devotado
às causas nobres e edificantes do Maranlião, que êle ama
acima de tudo, foi, para o teu movimento de glorificação,
aqui, o mais vigoroso dds esteios; · · · · ·
- Astolfo Serra, belo . poeta.. e orador, da Academia
Maranhense de Letras; "'
90 ÔATULLO l>A PAIXÃO CEARENSE
O TESTAMENTO DA ARVORE 91
• • •
NOITE CATULIA.NA
* * *
CATULLO. AQUELA MODINHA . . .
. . . O calor com qu'eu cantava,
Catullo, os teus versos! O
teu éstro de luz e lava,
em mim, fulgia e estrondava!
O meu Poeta eras tu!
O qu'eu mais admirava ! .. .
. .
Corrêa de Araújo
"'
PASSARO ILUMINADO ·
* * ..
O Govêrno do Maranhão associa-se de bom g;rado às
justas homenagens que serão prestadas, dur ante tôda esta
semana, ao genial poeta Catullo da Paixão Cearense, o
inegualável cantor da Raça e do Brasil iluminado.
Catullo bem merece o culto dos maranhenses porque
é, sem favor, o mais autêntico dos poetas nacionais, o con··
tim:iador do espírito argiro e criador da Arte e da Beleza,
que fêz do Maranhão a Atenas Brasileira.
São Luiz, 3 de maio de 1937.
Interventor Paulo Ramos
• • •
. . . Intérprete da brasilidade da raça, nos seus asso-
mos, nos seus sentimentos, nos seus costumes, nas suas
lendas, a poesia pinturesca de Catullo registra fielmente
o muito de bom · que · há na nossa gente a presservar e a
desenvolver.
Ao poeta sem par as honras da t erra berço ...
B . Barros Vasconcelos,
•
94 CATULLO DA PAIXÃO CEARENSE
'
Cantor ~.as Matas virgens do Brasil, da terra fe-
cunda, do sol vivo, das noites prateadas, Catullo Cearense
sabe, como ninguem, cristalizar num verso imortal todos
os ritmos da terra brasileira ...
• • •
CATULLO - A ALMA ROMANTICA DO POVO
Inácio Raposo
~io de Janeiro, 13 de abril de 1944 .
•
O TESTAMENTO DA ARVORE 95
• • •
O PRíNCIPE DOS POETAS BRASILEIROS
A poesia de Catullo da Paixão Cearense - príncipe
dos poetas brasileiros,-é a alma das selvas, nas harmonias
tôdas da grande orquestra da Natureza, na melodia das
cachoeiras, na cantiga das águas claras dos rios, vadiando
nos sertões bravias, na canção dos pássaros canoros, na
voz do galo triste, ao "Luar do sertão". Eu sou também
campônio. Nasci e criei-me nos confins do sertão, ouvin-
do a música sonora da mata verde e o. hino de glória da
Natureza. E, por isto tudo, o meu voto foi o primeiro que
Catullo· recebeu para "príncipe dos poetas brasileiros".
Carvalho Gutmarãe~
• • ••
CATULLO E RUY
.. . O Violão empolgou, de tal forma, a alma de Ca-
tullo, que o poeta abriu as asas para o azul infinHo do
ideal, para um dia pousar na biblioteca de Ruy Barbosa ...
Barnabé de Campos
• * .,.
Catullo tem tôda a inspiração dos grandes e ver-
dadeiros poetas. Dos seus versos êle poderia dizer com::.
o poeta espanhol: ' 1Eu os escrevo, mas é Deus quem os
dita".
.. Humberto de Campos
"'
Catullo é um extraordinário cantor, que será ex-
traordinário poeta ...
Artur Azevedo
Rio de Janeiro, 1905.
• • *
Catullo é um gênio agreste. E' um caso único na
Poesia Brasileira ...
Coelho Neto
Rio de Janeiro, 1924.
. . "' *
Acho natural que o País volte os seus olhos para
homenagear o grande poeta . . ,
Viriato Corrêa
• • •
O TESTAMENTO DA ARVORE 97
• • •
. . . Considero Catullo um. Poeta genial ...
Benjamin de Melo
• • •
. . . Catullo é uma Glória nacional ...
General Tasso Frageiso
• • •
CATULLO
Teu nome, em ascensão reta, .
No céu da Glória se expande,
E eu. astrônomo. calcúlo:
- Catullo, grande Poeta,
- Catullo, Poeta grande,
- Grande Poeta Catullo ...
Luso Torres
• • •
Há dias li num jornalzinho que o Catullo lia com
dificuldade e que os seus poemas sertanejos eram escritos
por outros, por êle não saber escrever! Mas, como assim,
se êsse poeta conhece a língua, tanto como eu, que sou
velho professor? .. .
Hemetério - José dos Santos
• • •
98 CA TULLO DA P AIXAO CEARENSE
CATULLO
E' merecedora dos maiores e melhores encômios, e é
profundamente tocante a maneira pela qual o jovem in··
telectual maranhense Guimarães Martins - que poderia
utilizar a sua vigorosamocidade numa galopada para a
conquista de renome a que pode, muito lidimamente, as-
pirar - se devota à mantença da glória da grande atriz
que foi Apolônia Pinto, e à do grande poeta que é Catullo
da Paixão Cearense, seus e meus conterrâneos.
Ainda que o que já fêz seja muito, - e é muitíssimo,
num País como o nosso, e em meio a um povo como o
brasileiro, cujo maior defeito é, no dízer de Rui Barbosa,
a falta de memória - não cansa e não pára na dupla e
generosa tarefa que espontaneamente tomou para si.
E a mesma tarefa é tanto ruais para admirar e aplau-
dir, quando êle poderia por igual aproveitar, a atividade
que com ela despende, em coisas mais ao feitio da nossa
época, isto é, mais praticamente úteis 'para si próprio, do
que em cultuar, desambiciosamente, a memória de uma
velha artista que não deixou parentes ricos nem poderosos,
e em homenagear, desinteressadamente, um velho poeta,
que mora num barraco, e cujo objeto mais valioso, no que
possui, é um violão. . . ·
E assim é que êle resolveu fazer uma escolha das poe-
sias de Catullo, publicando um livro como é o volume,
farto de quase quatrocentas páginas, que agora saiu:
"Poemas escolhidos".
A obra poética de Catulo não pode ser mais objeto de
crítica .
Passou em julgado.
Dela falaram, ex catedra, para proclamar· o seu valor
uma fartíssima porção da gente mais ilustre do Brasil'
sua contemporânea, e ainda estrangeiros de tomo. '
:tl:le é, sem apelação nem agravo, um grande poeta.
E é o maior poeta popular do Brasil.
Muito bem andou Guimarães Martins com o enfeixar
no volume .em aprêço, tanto a letra de modinhas que Ca-
tullo compos e cantava, quando moço e seresteiro, quanto
versos que o poeta escreveu, não no linguajar sertanejo
da maioria das suas poesias, e que lhes dá intenso sabor
local, mas em linguagem erudfta.
O TESTAMENTO DA ARVORE 99
• • •
CATULLO (1)
Astério de Campos
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...
onde espero, um dia, merecer a tua honrosa visita .
.
Rio de Janeiro, 18 de junho de 1945.
Meu querido Catullo:
Sabendo que o Thompson te havia escrito uma carta,
falando sôbre o teu "Testamento da Arvore", animei-me
a te escrever esta, que vai por mãos do nosso Gaudêncio.
Gost ei muito da apreciação do Thompson. Como teu com-
panheiro de farras e serenatas, senti saudade dos belos
t empos, que não voltam mais. Eu estou mais velho que
êsse teu antigo discípulo. Vou passar três meses em São
José dos Campos e na volta aparecerei para trazer o que
tu me encomendaste .
Se pudesse, todos os domingos estaria em tua casa,
porque as tuas palestras com os velhos companheiros va-
lem ouro.
O que sucedeu ao Thompson, sucedeu comigo, com a
minha esposa e com a minha mãe. Os pássaros entrando
vitoriosos no bosque, e os pais esperando a morte à mar-
gem do rio me fizeram pensar com amargúra.
O princípio e o fim da vida.
O caso do relâmpago, de que fala o Thompson, lem-
brou-me outro caso, de que talvêz já te tenhas esquecido.
Uma noite, por sinal que chuvosa, íamos os dois para.
a casa do Alfredo Leite, onde havia um chôro dos mais
célebres chorões daqueles t empos . O Alfredo morava nn
morro, cujo nome não me lembro. Ao atravessarmos uma
pinguela sôbre um córrego de águas barrentas, tu caiste
no dito córrego ficando tal qual um pinto preto, pois tu
ias com um t erno bran co, engomadinho de novo.
Isto não foi nada. comparando com a machucadela na
tua perna, que nos fêz bater na farmácia do Diniz, para
curar-te . Fui deixar-te em casa, furioso por t eres perdida
110 CATULLO DA PAIXAO CEARENSE
• • •
O GENIAL VIRGILIO CABOCLO
l!:sse Virgílio caboclo é muito maior do que os seus
admiradores o julgam ...
Júlio Dantas
• • •
. . . catullo Cearense, maravilhoso poeta . ..
Ruy Barbosa
• • •
. . . isto mostra a opulência da arte de Catullo, vate
humaníssimo, e, portanto, complexo em tudo quanto pen-
sa, inventa e cria. Humano, sim, até ao mais secreto pul-
sar da sua carne e do seu sangue, até ao mais oculto anelo
da sua alma e da sua emoção . ..
João de Barros
• • •
A sua literatura rústica tem as mais belas narra-
tivas que eu tenho lido e as mais deliciosas notações de
psicologia que um notável escritor desejasse assinar ...
Paulo Barreto (João do Rio)
• • •
(1) Solicitei permissão a Otávio de Barros Thompson e
Admar Vieira, para publicar, nesta poliantéia, sôbre o
divino Catullo, as suas cartas íntimas ao Poeta. Publico-.
as, pois, assim mesmo com a simplicidade com que foram
escritas . Mais valor têm por serem uma revivescência do
Passado e um testemunho vivíssimo da existência gloriosa
do Cantor do Brasil.
O TESTAMENTO DA ARVORE 113
Catullo é o maior poeta, ou, para melhor dizer, o
único poeta nacional que possuímos . ..
Antônio Tôrres
• • •
. . . Catullo é o maior criador de imagens da poesia
brasileira ...
Mário de Andrade
• • •
. . . Maior do que Catullo? Ninguém .·Só êle mesmo ...
• • •
Catullo é o brasileiro que melhor exprime a alma
do Brasil ...
Amoroso Lima (Tristão de Ataíde)
• • •
Se o nosso Catuilo não tivesse nascido com o seu
grande Destino de Poeta, o Brasil ficaria sem o máximo
Cantor de suas maravilhas naturais ! ...
!veta Ribeiro
• • •
Ouvindo Catullo sinto lágrimas pela saudade dos
dias que n ão voltarão nunca mais .. .
Garcia Júnior
• • •
Catullo ' é o Brasil desfeito em estrofes admirá-
veis ...
Procópio Ferreira
• • •
. . . Catullo com os seus poemas é a própria alma da
nossa Pátria .. .
Múcio Teixeira
• • •
. . . Sei que Catulio Cearense é um poeta que honra o
Brasil... .
Carlos de Laet
• • •
Catullo é o gigante da poesia nacional ...
Melo Morais FilhQ
O TESTAMENTO DA ARVORE 115
• • •
Catullo é o mago da poesia nacional. . .
. Osório Duque Estrada
• • •
Sempre fui um grande entusiasta de Catulo ...
. . .. Agripino Grieco
... (Filólogo)
• • •
Ouvindo Catullo, uma coisa vaga, informe, mons-
truosa, cresce dentro de nós, expulsa o moderno e nos
deixa sozinho com a raça ...
Monteiro Lobato
• • •
Desde a modinha ao poema filosófico, o poeta dó
"Meu sertão" é um surto e uma glória . ..
Orestes Barbosa
• • •
. . . Catullo, para mim, é o maior poeta contempo-
râneo .. .
Gondin da Fonseca
• • •
Catullo é um dos poetas máximos do Brasil . ..
Rosalina Coelho Lisboa
• • •
Que filosofia na torrente sonora dos seus versos!. ..
Guilherme de Almeida
• • •
Ba~o palmas a todos os encômios feitos ao autor
clEi "O Mitrroeiro" ...
,fa,ckson de Fi[!ueiredo_
O . TESTAMENTO DA ARVORE 117
• • •
Meu grande Rui! Dou-te a entrada daqueles ser- ·
tões de Catullo Cearense, que tanto te enfeitiçavam ...
Martins Fontes
• • •
. . . Catullo Cearense é autor das duas obras-primas
de tôdas as literaturas que conheço: "O Marrueiro" e a
"Terra caída" ...
Pedro Lessa
Ministro do Supremo Tribunal Federal
• • •
Catullo - Poeta celeste -
de tua viagem suprema
trouxeste,
ocultos no Violão,
os grandes astros do Poema
que te adornam o Coração.
Gênio errante e vagabundo,
roubaste a Deus, no além-mundo,
a tua Constelação.
Muril-0 Araújo
Rio de Janeiro, 18 de agôsto de 1937.
• • •
Voltaire, septuagenário e desiludido, ao subir, pela úl-
tima vez, as escadas do Instituto, em Paris, disse, ao apertar
a mão de antigo adversário, que lha oferecera: "Na mi-
nha idade não se pode ter inimigos!"
Catullo ·da Paixão Cearense, octogenário cronologica-
mente, porque ainda forte de físico e jovem de espirita,
ainda escreve e declama, com genialidade, o belo poema
118 CATULLO DA PAIXAO CEARENSE
• • •
m PRA-9, é o prefixo da. Rádio Mayrink Veiga, do
Rio de Janeiro.
O TESTAMENTO DA ARVORE 119
UM EMBAIXADOR DA INTELIG~NCIA
O escritor Joaquim Leitão, secretário perpétuo da
Academia das Ciências de Lisboa, em missão oficial
de intercâmbio cultural do govêrno de seu país, a pri-
meira coisa que fez ao chegar ao Brasil, foi perguntar ao
seu confrade João Luso, onde morava Catullo da Paixão
Cearense . João Luso disse-lhe não saber, mas prontificou-
se a conseguir o endereço do Poeta Nacional . Isto me foi
contado pelo próprio embaixador intelectual de Portugal,
na visita que lhe fiz no Hotel Glória. Nessa ocasião, com-
binou comigo uma visita ao maior Poeta do Brasil, em
todos os tempos. E no dia 3 de dezembro de 1944, domingo,
às 15 horas, esperei-o na casa de Catullo . Chovia muito.
Quando chegou o escritor lusitano, disse-lhe Catullo:
__:''E' pena, doutor, estar, hoje, um dia tão triste, chu-
voso! ... "
-"Para mim é .um dia de sol!", respondeu-lhe o ilus-
tre publicista.
Após alguns instantes de palestra, pediu a Catullo
que recítasse alguns dos seus célebres poemas e famosas
canções. Catullo acedeu, recitando em primeiro lugar "O
Marrueiro", o poema-sertanejo número um, na ordem cro-
nológica, escrito pelo "Maravilhoso Poeta". Seguiram-se
"Flor da noite" e "A lagoa ''. Depois Catullo cantou (aos
81 ajlos de gloriosa existência, mas ainda em pleno pod_t~r
e domínio da sua interpretação genial) a sua popularís-
sima modinha "Talento e formosura", a brasileiríssima
canção "Cabôca de Caxangá" e a emocionante "O cego",
que provocaram lágrimas de emoção no visitante, o qual,
beijando Catullo, disse-lhe:
- "Catullo, esta é a maior Saudàde que levo do
Brasil!"
Guimarães Martim
Rio de Janeiro, julho 3, 1945.
• • •
CATULLO
Na quietude e no recolhimento da sua 'c asa do -Enge-
nho de Dentro, o glorioso Catullo, velho e alquebrado fi.c~I-
120 CA'ÍULLO DA PAIXÃO CEARENSE
• • •
CATULLO DA PAIXAO CEARENSE
Catullo da Paixão Cearense, que vate extraordinário!
Contudo, no dizê-lo, o crítico busca circunlóquios, e o lite-
rato perpetra frases. Brasileiro, sempre reservado nos seus
juízos, teme comprometer-se, ou porque advoga em causa
própria, ou porque visa o calor de todos os astros, como
político namoriscando partidos antagônicos .. .
Não fôra isto, com a secreta esperança de luta em
futuros prélios, e todos os músicos, menestréis, autores e
literatos, reunidos à sinceridade inata das multidões, di-
riam, simplesmente, doesse a quem doesse: "Catullo da
Paixão Cearense é o maior dos nossos poetas!" E a afir-
ma tiva não seria simples barretada àquê!e que, pela ri- _
queza das imagens e pelo profundo senso filosófico, re-
cebeu rasgados encômios até de Rui Barbosa.
Para sentir êsse gigante do Parnaso na plenitude de
seu engenho bastam-nos, agora, "Poemas Escolhidos", co-
letânea devida a Guimarães Martins, maranhense cioso
das glórias do seu Estado, paladino infatigável dos foros
intelectuais da Atenas Brasileira; pescador de pérolas num
oceano só de pérolas - pois pérolas são todos os escritos
dêsse "Virgílio caboclo muito maior que todos os seus ad-
miradores o julgam", segundo Júlio Dantas - ainda assim
logrou das melhores apartar o melhor!
Nas quase quatrocentas páginas dessa maravilhosa
coleção, Guimarães Martins apresenta-nos Catullo em tô-
das as facêtas artísticas: o músico e o cantor; o vate bravio
e o aédo culto. Aqui é o orfeu inimitável do "Talento e
Formosura"; além, ·o divino intérprete do "Luar do Ser-
tão"; acolá; a alma mesma do "O Marroeiro" criando esta
imagem estupenda citada pela crítica uruguaia: "Sá dona,
os cabelo dela tão preto pru chão caía, que toda frô que
butava nos cabelo, a frô murchava, pensando que anoi-
tecia" ... ; ou esta, não menos bela nem menos original,
ao descrever. uma cabrocha nos seus requebras de dansa:
"as duas rola morena, pru baixo do cabeção, trimia cumo
água fresca quanao o vento bêja as agua das lagôa do
sertão!"
122 CATULLO DA p AIXÃO CÉARENSE
• • •
Os mais notáveis escritores do mundo assinariam
os poemas que Catullo escreveu.
Catullo Cearense é o derradeiro ipê dourado a resistir
impávido aos lenhadores ferozes do país antigo e tradi-
cional ...
Assis Chateaubriand
• • •
A quem deve perenidade o nosso indio?
A Gonçalves Dias. ·
A quem deve perenidade o nosso sertanejo?
O .TESTAMENTO DA ARVORE 123
A Catullo Cearense.
Que terra natal em ambos se celebriza?
O amado e glorioso Mara nhão.
. . ...
Escragnolle Dória
• • •
Guimarães Martins:
Renovo minha opinião acêrca do grande Catullo, soll-
citada em 1928 pelo saudoso poeta e escritor Inácio Ra-
poso e divulgada no. matutino "O Brasil":
"- Catullo da Paixão Cearense é um poeta genial que
pode muito bem honrar a galeria dos grandes poetas da
Humanidade".
Alexandre Herculano, em carta datada de 30 de no-
vembro de 1847, dirigida ao genial poeta A. Gonçalves
Dias, disse:
"- Se estas linhas escritas de abundância de coração,
passarem os mares, receba o autor do Primeiros Cantos
o testemunho sincero de simpatia, que a leitura do seu
livro arrancou a um homem, que o não conhece, que pro-
. vavelmente não o conhecerá nunca, e que não costuma
nem dirigir aos outros elogios encomendados, nem pedi-los
para si".
Eu, prezado confrade Guimarães Martins, caso esére-
vésse ao Catulo diria:
" - Desde criança que teu nome está no meu coração..
O violão que é o teu próprto coração será o eterno sina-
leiro para guiar as futuras gerações - poetas e trovado-
res - com teus versos, continuarem nas execuções vibran-
tes elo mator canto 1u;itrióttco: - "Oh/ que saudade do
124 CATULLO DA PAIXÃO CEARENSE
* * *
L'hymne de monsieur Catullo Cearense au Soleil et à
la Lune est un pur chef-reuvre et je suis sür que j'en dirai
autant de toutes ses poêsies, quand je les aurai lues, ce
que je vais faire de main.
Georges Dumas
* * *
Catullo, poeta de cuerdas nacionales, me ha dado
la emoción de la poesia brasilefia ... ·
Salvador Rueda
* * •
Catullo Cearense est unique en son genre et il nous
a donné Ie frisson nouveau. La matiêre de ses poêmes est
simple, vaste et riche.
Elle est la contemplation du monde et contemporaine
ele tous les âges. Elle a l'image forte, profonde, cosmique.
Son âme est au centre de Ia forêt, comme un écho sonore,
telle l'âme de Victor Hugo au centre de tout, selon le vers
célebre. 11 a une façon alsée et süre d'entrer en matlere,
une familiarité jamais vulgalre, qui me fait penser à l'in-
O TESTAMENTO DA ARVORE
•
125
* * *
O POETA DO SERTAO
Paulo da Silva Araújo, o puro, o nobilíssimo espírito
(\UE) soube ser, ao mesmo tempo, na mais alta acel?ção da
126 CATULLO DA PAIXAO CEARENSE
* * *
A UNIÃO MARANHENSE AGRADECIDA A CIDADE
MARAVILHOSA
Realizou-se no dia 20 de janeiro de 1939, às 15 horas,
no Teatro João Caetano, a festa cívico-musical da União
Maranhense do Rio de Janeiro, em comemoração à data
da fundação da Cidade do Rio de Janeiro e em agradeci-
mento à mesma pelo movimento de consagração a Catullo
da Paixão Cearense.
A mesa que presidiu os trabalhos estava assim consti-
tuída: General Tasso Fragoso, Presidente de Honra da
União Maranhense e Presidente da mesa; Dr. Simão Tann,
representante do Dr. Henrique Dodsworth, Prefeito do
Distrito Federal; General Pinheiro; Dr. Raimundo Serejo,
orador oficial; Capitão João Martins Vieira, representante
do Comandante do Corpo de Bombeiros; Dr. Pereira do
Carmo, Presidente do Instituto Carioca; Prof. Benjamm
Melo, Diretor-Social da União Maranhense; Coronel Dr.
Trajano de Viveiros Raposo, Tesoureiro da União Mara-
nhense; Dr. Martinho Costa Santos; e os jornalistas Bar-
nabé de Campos, Cursino Raposo e Gqimarães Martins.
Após o Hino Nacional Brasileiro, executado pela Ban-
da de Música do nosso Exército, o General Tasso Fragoso
abriu a sessão, proferi~do um lindo improviso, no qual
traduziu os agradecimentos dos maranhenses, seus con-
terrâneos, aqui radicados, à Cidade do Rio de Janeiro, pela
homenagem a Catullo. ·
Em seguida falou o Dr. Raymundo Serejo, ~ue tra~ou,
O TESTAMENTO DA ARVORE 129
* * :)l
CATULLO E O TEATRO
* * *
Foi Eduardo Vitorino, um dos mais agudos críticos
teatrais que a imprensa da nossa terra não aproveitou
ainda, que observou e acentuou as qualidades dramáticas
da obra de Catullo e ligou o seu nome à história do palco
brasileiro, lembrando numa página, a rápida mas bri ·
lhante passagem do poeta pelo nosso teatro, como autor
do "Marroeiro", peça escrita de colaboração com Inácio
Raposo e representada mais ou menos em 1915, no velho
S. José, e como intérprete do papel principal, substituin-
do Eduardo Leite, que adoecera. ·
Bandeira Duarte
·* * •
SOMENTE A VERDADE
• • •
O TESTAMENTO DA ARVORE 135
• * *
CONFERÉNCIA REALIZADA EM 25 DE ABRIL DE 1945,
NO CENTRO ACADÊMICO EVARISTO DA VEIGA, DA
FACULDADE DE DIREITO DE NITERÓI, PELA ESCRI-
TORA MILENA MALLET
Senhores da Diretoria do Centro Acadêmico Evaristo
da Veiga, ilustre homenageado, e todos os mais que res-
(1) Solicitamos também, permissã o ao sr. Henrique
Peres Machado, par'a que esta carta, como as outras, fôs-
sem publicadas nesta Poliantéia, por nós organizada.
A professora Arima Coutinho é a mais perfeita 'intér-
prete das antigas modinhas de Catullo.
140 CATULLO DA PAIXÃO CEARENSE
A MODINHA E O VIOLAO
... A Modinha e o Violão entraram no antigo Con-
servatório de Música, à rua Luiz de Camões, em 1908,
pelo prestígio do Talento de um grande Artista. Meu sau-
doso Pai, o Maestro Francisco de Carvalho e eu, grandes
amigos e admiradores de Catullo, lá estávamos aplau-
dindo, entusiasticamente, o Cantor do Brasil .
. . . Catullo da Paixão Cearense, maravilhoso poeta,
músico e cantor, foi o reformador da Modinha e o civi-
lizador do Violão. J!:sse poder criador e reformador, é o
poder do gênio .
. . . Que saudade das Serenatas, que fizemos juntos, em
noites de luar ! . . . ·
Maestro Adalberto de Carvalho
* .. *
150 CATULLO DA P AIXAO CEARENSE
. . .. Ramir.o Gonçalves
.."
·Maestro Francisco Braga
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DEPOIS DE TER OUVIDO "O TESTAMENTO
DA ARVORE"
Cantaste, Poeta, a tua vida inteira!
Como a cigarra, morrerás cantando! ...
Mas, em tuas obras ficará vibrando
Todo o esplendor da Terra Brasileira
E, tendo dado tudo a árvore expira.
Despede-se da flor, dos passarinhos,
Mas o seu avatar é a tua lira,
Onde gorgeia o madrigal dos ninhos.
Lutz Loureiro.
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Quem ouviu Catullo cantar, acompanhapdo-se com o
seu harmoniosíssimo Violão, sente e compreende a sua.
exclamação ao responder a estas perguntas:
- Você tem noção exata do seu próprio valor? .Você
é capaz de cantar na cena universal?
- "Eu canto diante de qualquer celebridade/"
152 éATULLO DA PAIXAO CEARENSE
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. . . Negar Catullo, como Poeta, é negar o Sol na clari-
dade do dia .
Humberto de Campos
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Catullo:
Somente a excelsa Poesia
musicar tão bem, poderia,
- os cânticos da Natureza,
as alegrias divinas
que teu lirismo ilumina
neste Evangelho de pureza!
Hélio Bastos Couto
Rio, outubro de 1945.
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DECLARAÇAO NECESSARIA (1)
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Rio, 6-IV-1944 .
Prezado sr. Guimarães Martins.
Saudações cordiais.
o parecer sôbre o caso do nosso poeta Catullo está
pronto terça-feira, 11 dêste mês. Pode vir ou mandar
buscá-lo .
. . .. Clovis Bevilaqua
PARECER
Tendo lido os bem elaborados Pareceres dos ilustres
colegas, drs. Prado Kelly e Monteiro da Silva, o instru-
mento de cessão, que Catullo da Paixão Cearense faz dos
seus direitos autorais ao sr. Guimarães Martins e mais
documentos, que acompanham a Consulta, opino do modo
seguinte:
a) A lei n.º 496, de l.º de agosto de 1898, art. 4.º, § 1.º,
estatuiu que as cessões entre vivos do direito autoral du-
rariam trinta anos, findos os quais recobraria o autor os
seus direitos, se ainda existisse. Lei supletiva permitia
que o prazo fôsse diminuído, mas nunca aumentado.
b) Essa determinação da lei entendia-se incerta em
tôda cessão entre vivos, de direito autoral, ex-vi legis.
e) Portanto a cessão atual, feita a Guimarães Mar-
tins, compreende: l.º, todos os contratos anteriores, reali-
zados na vigência da lei de l.º de agôsto de 1898, que já
perfizeram trinta anos, .a contar da respectiva data; 2.°,
todos os contratos realizados na vigência da referida lei,
logo que se complete o prazo de trinta anos, contados da
respectiva, data, porque, em ambos os casos, ou já se ope-
rou ou ira operar-se a reversão dos direitos autorais ao
autor.
d) Quanto às cessões anteriores, realizadas na vigên-
cia do Código Civil, entendo que se regem pelo direito
comum, regulado no mesmo Código. Salvo cláusula em
contrário, o cessionário sucede o autor nos direitos que
lhe reconhece o Código Civil, art. 649, §§ l.º e 2.º.
Essas cessões não entram na aquisição feita por Gui-
marães. Como o dr. Otávio Moreira da Silva, penso que
a lei n.º 496, de 1.~ de agôsto de 1898 to1 revogada pelo
Código Civil.
O TESTAMENTO DA ARVORE 155
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ADVER'rnNCIA SôBRE OS DIREITOS AUTORAIS
Tôda poesia, poema ou canção constante dêste, e dos
demais livros de Catullo da Paixão Cearense, só poderá
ser recitado, cantado ou · executado por instrumento ou
conjunto, em rádio, teatro ou cinema, com ingresso pago
ou outra forma de remuneração, sendo dado conhecimen-
to à Sociedade Brasileira de Autores Teatrais, à Avenida
Almirante Barroso n.º 97, 3.º andar, Esplanada do Castelo,
Rio de Janeiro, Brasil, ou a seus representantes nos Es-
tados do Brasil e no estrangeiro, que é única entidade •
jurídica, autorizada, para efetuar o recebimento da taxa
de execução pública.
Guimarães Martim
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