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A Teosofia Do Sinal Da Cruz - Helena Blavatsky
A Teosofia Do Sinal Da Cruz - Helena Blavatsky
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Um diamante não perde seu significado, ou seu valor, por estar enterrado no solo e no
barro: tampouco o ouro ou qualquer pedra preciosa. Assim, o fato de que algo bom seja esquecido ou
ignorado não pode diminuir o seu valor: ao contrário, torna-o ainda mais valioso.
O mesmo ocorre com a sabedoria antiga e a filosofia esotérica, que ainda hoje dormem,
em um berço nem sempre esplêndido, sob a superficie rotineira dos dogmas cristãos da idade média.
Existe, por exemplo, uma versão esotérica, rara e esquecida da oração “Pai Nosso”, e ela foi publicada
por H. P. Blavatsky no século 19. [1] Vamos abordar agora o significado esotérico e profundo de outro
elemento cotidiano da cristandade: o sinal da cruz. Há séculos ele tem sido usado em todo o mundo.
Na verdade, ele tem origem cabalística e possui um significado amplo, filosófico, livre de
qualquer relação com crenças supersticiosas.
Em “Ísis Sem Véu” – uma das duas obras monumentais da filosofia esotérica –
H.P.Blavatsky mostra em detalhes o processo pelo qual o cristianismo de Roma apropriou-se dos antigos
conhecimentos das tradições “pagãs” de sabedoria e, em seguida, passou a perseguir estas mesmas
tradições (inclusive a tradição judaica), destruindo suas obras escritas e matando os seus mestres e alunos.
Item por item, H.P.B. vai demonstrando que a teologia romana cristã é, na verdade,“pagã”.
Ela escreve:
“Seria realmente muito doloroso tirar de Roma, de uma única vez, todos os seus símbolos;
mas é preciso fazer justiça aos hierofantes despojados. Muito tempo antes que o sinal da Cruz fosse
adotado como símbolo cristão, ele era empregado como um sinal secreto de reconhecimento pelos
neófitos e pelos adeptos.”
Em seguida, H.P.B. cita palavras de Eliphas Levi, em sua obra “Dogma e Ritual da Alta
Magia”:
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“O sinal da cruz adotado pelos cristãos não pertence exclusivamente a eles. Ele é
cabalístico e representa as oposições e o equilíbrio quaternário dos elementos. Constatamos, na estrofe
oculta do Pater, à qual aludimos em volume anterior desta obra, que havia originalmente duas maneiras
de fazê-lo, ou, pelo menos, duas fórmulas muito diferentes para expressar o seu significado; uma
reservada aos sacerdotes e aos iniciados; e outra, comunicada aos neófitos e aos profanos. Assim, por
exemplo, o iniciado, levando a mão à fronte, dizia: ‘A ti’; então ele acrescentava; ‘pertencem’; e
continuava, enquanto levava a mão ao peito – ‘o reino’; depois, ao ombro esquerdo; ‘a justiça’ ; e ao
ombro direito; ‘e a compaixão’. Então ele juntava as mãos e acrescentava: ‘Através dos ciclos da
geração: Tibi sunt Malkhuth, et Gerburah et Hesed, per Aeonas’ – um sinal da Cruz total e
magnificamente cabalístico, que as profanações do gnosticismo fizeram a Igreja praticante e oficial
perder por completo.” [2]
Até aqui, Eliphas Levi, citado por H.P.B. Vejamos agora, ponto por ponto, algo sobre o
significado deste gesto simbólico e das palavras cabalísticas associadas a ele: “A ti pertencem o reino, a
justiça e a compaixão. Através dos ciclos de geração.”
3) “a justiça e a compaixão.” – Estes são os dois pratos da balança. O reino dos céus
(consciência divina) é feito de justiça e compaixão, e para afirmar-se necessita do equilíbrio entre estes
dois fatores. Qualquer uma destas duas virtudes só pode existir com base na outra. Sem justiça, a
compaixão é falsa. Sem compaixão, a justiça é falsa. Sem justiça e compaixão, não há consciência divina
(reino dos céus). O amor universal é feito de justiça e compaixão. É graças às duas virtudes (inseparáveis
do discernimento) que o estudante tem acesso ao princípio Supremo e superior (Atma), simbolicamente
situado na testa.
O sinal da cruz cabalístico aciona quatro fatores, e tem relação direta com os quatro
elementos (fogo, água, terra e ar). Ele também se refere à Tetraktis ou Tétrade sagrada dos pitagóricos;
aos quatro pontos cardeais; e ao Tetragrammaton, o nome de quatro letras da divindade na tradição
mística judaico-cristã (IHVH).
A dimensão geométrica e o significado interior do sinal da cruz têm fortes correlações com
a filosofia maçônica e a sabedoria salomônica. O templo de Salomão, esotericamente, simboliza o corpo
humano.
Para a filosofia antiga e teosófica, como para o cristianismo autêntico, o corpo humano é o
grande templo, e os templos físicos são apenas símbolos externos dele. O corpo é a casa do Espírito: “o
Espírito está dentro de nós”. Em I Coríntios 3:16, o Novo Testamento afirma: “Não sabeis que sois o
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templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?” E em II Coríntios 16, lemos: “Porque vós sois
o templo vivo de Deus”.
Segundo a tradição, o templo de Salomão está voltado para o Leste e possui duas colunas,
chamadas de “Boaz” e “Jachim”. Idealmente, ao fazer o sinal da cruz, o estudante de sabedoria divina
não só se reconhece como um templo vivo, mas também está voltado fisicamente para o Leste, o
Nascente. Seus ombros e braços correspondem às colunas. O termo “Boaz”, que corresponde ao ombro
esquerdo ou coluna Norte, significa “na força” ou “em fortaleza”. O termo “Jachin”, que corresponde ao
ombro direito ou coluna Sul, combina uma abreviatura de “Jeová” (Divindade) com um termo que
significa “Estabelecer”.
“O reino dos céus (Jeová, a Sabedoria Divina) tem força, isto é, se estabelece como uma
fortaleza, quando tem por base a Justiça.”
A seguir, enquanto o devoto pronuncia as palavras “o reino”, o sinal da cruz toca uma
parte do corpo que se refere ao chacra Anahata, localizado no coração. Em seguida, o estudante toca os
dois ombros, pronunciando, respectivamente, as palavras “a justiça” (ombro esquerdo) e “a compaixão”
(ombro direito).
Os dois ombros simbolizam as duas correntes energéticas ou “colunas” (Nadis) que ligam
os chacras, segundo a ioga. Uma das correntes é positiva e ativa: a Justiça. A outra é compreensiva e
contemplativa: a Compaixão.
Finalmente, ao unir as duas mãos enquanto pronuncia as palavras “Através dos ciclos de
geração”, o devoto fecha o círculo harmonizando simbolicamente os dois hemisférios cerebrais, os dois
nadis e as correntes yang e yin em sua natureza interior.
Esta visão esotérica do sinal da cruz vai além de mostrar a relação viva que há entre o
corpo e alma, ou e templo e o espírito. A prática original do sinal da cruz é, também, um modo ativo e
consciente de expressar o compromisso do indivíduo atento com a consciência universal.
Através do verdadeiro sinal de cruz, que nada tem a ver com superstições, o indivíduo se
estabelece simbolicamente na consciência divina. Ele assume por mérito próprio “o poder que o faz
parecer nada aos olhos dos outros”. Ele assume o poder de estar em união fraterna com a Lei Universal e
com todos os seres.
NOTAS:
[1] O texto está no website www.filosofiaesoterica.com e pode ser encontrado lá sob o nome “O Pai
Nosso da Filosofia Esotérica”. Na abertura do site, basta clicar em Lista de Textos Por Autor, e então
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clicar em “Carlos Cardoso Aveline”. Neste ponto aparecerá “O Pai Nosso da Filosofia Esotérica”, entre
outros títulos.
[2] “Ísis Sem Véu”, Ed. Pensamento, SP, quatro volumes, volume III, p. 84. Veja também a edição
brasileira de “Dogma e Ritual da Alta Magia”, de Elipas Levi, Ed. Pensamento, SP, 466 pp., mais
especificamente a página 269. Ao citar este trecho, levei em conta a edição original em inglês de “Ísis
Sem Véu”, de H.P.B: “Isis Unveiled”, Theosophy Co., Los Angeles, volume II, p. 87.
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