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ALOISIO DE MEDEIROS DANTAS


Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

OS SENTIDOS DO POLÍTICO
EM DISCURSOS DE CAMPANHA

Abstract conotações, os sentidos segundos, que podemos re-


cuperar por associações e por relações. Nessa refle-
The aim of this paper is to present the results xão, surgem alguns postulados que necessitam de
of a rescarch that intends to identify political esclarecimentos: o sentido não é apenas lingüístico,
discourse inherent ín university. lhis approach is há sentidos literais (denotativos) e sentidos transferi-
based on the theory of dscourse. dos (conotativos), precisamos distinguir língua de
textos e discursos. Esses princípios são sabiamente
Palavras-chave: Discurso. Sentido. Enunciação. Dis- inerentes a quem estuda a linguagem, entretanto essa
curso Político. distinção entre o lingüístico e o discursivo (assim
entendemos a oposição denotativo x conotativo) tem
causado alguns problemas para a AD, principalmente
Com esta pesquisa, procuramos analisar os quando diz respeito a aspectos de natureza enunciativa
diferentes sentidos que atravessam o discurso políti- (entre os lingüistas) e a aspectos de natureza docu-
co, num contexto de processo seletivo eleitoral. mental (entre historiadores e outros pesquisadores
Empiricamente, estudaremos as cartas-programa dos não-lingüistas). É tentando diminuir essa dificuldade
candidatos a reitor da Universidade Federal da que estudamos o sentido nos discursos. A leitura de
Paraíba.Com esse estudo, pretendemos responder às um romance.pode nos ajudar nessa tarefa. Em Os leo-
seguintes questões: como os discursos políticos se pardos de Kafka, de Moacyr Scliar, o personagem
distribuem na sociedade? Há um discurso político central encontra-se às voltas com um texto de Kafka,
universitário que tenha sentidos diferentes daqueles ao qual atribuí um sentido revolucionário, partindo
da sociedade em geral? Nosso objetivo é verificar se das suas leituras do Manifesto Comunista, de Marx,
os textos veiculados numa instituição trazem os sen- de livros de Lenin e de Trotsky, entretanto o próprio
tidos próprios a esta instituição (em nosso caso espe- autor do texto (num diálogo entre Benjamin
cífico, o discurso acadêmico) e como estes sentidos Kantarovitch e Franz Kafka, conforme criação de
se instauram como políticos. Scliar) desfaz o equívoco, afirmando que ele escre-
Em Análise de Discurso, há conceitos já esta- veu o texto para uma revista. Aqui, há quatro realida-
belecidos como os de formação discursiva, inter- des fundamentais para a compreensão dos sentidos
discursividade, texto, discurso, entretanto há outros do discurso: o texto, o discurso, o sujeito e a língua.
que precisam ser bem mais trabalhados, cito apenas O texto tem um sentido, que tanto pode estar escon-
alguns: sujeito, ideologia, sentido. Essa pesquisa faz dido e inacessível à leitura, como pode estar total-
as seguintes questões: quando fala de “sentido” de mente aberto, essas variáveis dependem do sujeito e
que “sentido” está falando a Análise de Discurso? do discurso, que são caracterizados por sua memória
Em que região situamos o não-sentido? De que modo e interdiscursividade. No romance em questão, Ben-
devemos caracterizar o silêncio? jamin está imerso em uma ideologia marxista revolu-
Esse ensaio precisa responder a questões de cionária e todas as suas leituras são intermediadas
natureza teórica e analítica, responderemos inicial- pelo Manifesto comunista, o que dá um sentido dife-
mente às questões teóricas e saberemos se, com es- rente ao texto. Entretanto, nada disso seria possível
sas respostas, poderemos esclarecer nossas preocu- sem o lugar do equívoco na língua, é porque a língua,
pações com o discurso político de campanha. em alguns momentos, se constituí de equívocos que
Revista
Nossa primeira referência, que tomamos como os sentidos do discurso sempre podem ser outros.
ponto de partida, será à noção que Barthes (1987) Estamos dizendo que os elementos da língua não sig- do GELNE
Vol. 3
tem de sentido. Segundo o autor, sentido não são as nificam na abstração das estruturas e a sua realização
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palavras ou grupo de palavras que aparecem nos di- como textos, atravessados por discursos, nos dá a 2001
cionários e nas gramáticas, apreendido por conheci- materialidade de seus sentidos. Com essa reflexão,

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mento da língua (que não lhe é suficiente), mas as concordamos com GUIMARÃES (1999), para quem
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a forma da língua se relaciona com a história do tex- me interessa sublinhar é a complexidade do que está
to, a forma da língua significa por suas relações com em jogo no plano do sentido - redução contextual,
a história dos textos em que aparece. Desse modo, o explicitação e interpretação - no ir e vir entre um con-
sentido articula a memória discursiva e as formas texto de Y, que se mostra como insuficiente para de-
lingüísticas na caracterização dos contornos da terminar univocamente o sentido desse elemento X e
textualidade. Essa posição teórica vem, na linha do uma explicitação que o supre, freqüentemente, não
pensamento de Eduardo Guimarães, definir o senti- pelo modo autônomo de uma descrição onde ‘se rea-
do como uma enunciação historicamente constituí- lizaria’ o sentido de Y, mas desembocando num tra-
da, Segundo GUIMARÃES (1995, p. 66-70), “o sen- balho interpretativo apoiado ... no contexto” (idem,
tido deve ser tratado como discursivo e definido a p.49, grifos da autora).
partir do acontecimento enunciativo (...) aquilo que Falta-nos responder às questões sobre o
significa, os efeitos de sentido são efeitos do inter- não-sentido e o silêncio e como esses diferentes senti-
discurso no acontecimento (...) pela interdis- dos (da enunciação, da metaenunciação e do discurso
cursividade e sua necessária intertextualidade, o sen- (em termos de não-sentido e de silêncio) se efetivam
tido não é formal, mas tem uma materialidade, tem como discurso político.
historicidade (...) a relação de funcionamento da lín- O não-sentido e o silêncio são fronteiras
gua é com o interdiscurso e não com a situação.” Em discursivamente fluidas e simplesmente ocultadas
virtude dessa relação da língua e dos sentidos com os pelo formalismo insistente da linguagem (pensada
discursos que os atravessam, as sistematicidades aqui como as diferentes línguas e seus usos), até por-
lingüísticas estão expostas “à não completude, à fa- que não existe o indivíduo sem sentido e sem dizer.
lha, ao engano.” Esses dois fenômenos, no entanto, estão na fundação
Entretanto, há outros sentidos que são dos discursos e de seus sentidos. Segundo ORLANDI
construídos na língua que envolvem diretamente o (1993, p.11-25), o percurso que vai do sem-sentido
enunciador, é aquele em que o falante/escritor preci- ao sentido se faz por três etapas: o seu apagamento
sa comentar suas próprias palavras, seja para reduzir por uma memória estabelecida de sentidos já ditos; a
os sentidos, seja para expor o termo a seus múl- resistência ao apagamento e a conseqüente produção
tiplos sentidos. E o que AUTHIER-REVUZ (1998, de outros sentidos; o retomo do que foi excluído pelo
p.29-49) denomina de glosas do enuncíador, quando apagamento sobre o mesmo, deslocando esse
este “as comenta ao mesmo tempo em que as enun- repetível. Esse percurso, ao mesmo tempo em que
cia, um dizer que se volta explicitamente sobre si desloca sentidos, também instaura sentidos, já que
mesmo.” O glosador se utiliza de dois mecanismos entendemos “dar sentido?’ como “construir limites,
para produzir esses sentidos metalingüísticas: fixar desenvolver domínios, descobrir sítios de signifi-
explicitamente um sentido para o termo X ou solicitar cância, tomar possíveis gestos de interpretação”
explicitamente uma pluralidade de sentidos para X. (op.cit., p.15, itálicos da autora). Esse deslocar e dar
No primeiro caso, o enunciador pretende eliminar em sentidos, a autora denominou de discurso fundador,
X um sentido inoportuno que X autoriza ou favorece caracterizado como: a) o discurso que cria uma nova
e colocar o seu sentido, o que se realiza através de tradição, re-significa o que veio antes e institui aí uma
glosas na forma negativa (não no sentido de q), que outra memória; b) o discurso que instaura rupturas
apresenta um sentido complementar que elimina a na filiação ideológica dos sítios significantes estabe-
ameaça do sentido q; glosas na forma dupla (X no lecidos, produzindo um efeito de familiar e de evi-
sentido de p e não no sentido de q); e a especificação dente que se arraiga no entanto na memória perma-
positiva do sentido (X, no sentido de p), que faz in- nente c) o discurso que institui um outro lugar de sen-
tervir interpretativamente o outro sentido q, para tan- tidos, uma outra região para o repetível (a memória
to recorre a modos de especificação de “p”’: paráfra- do dizer), região que vai organizar outros e outros
se de uma expressão complexa, sinonímia, dupla sentidos. Em suma, o discurso fundador é aquele que
antonímia, contextualização adicional, caracteriza- estabelece um novo conjunto de formações discur-
ção-determinação. Essas operações de metaenun- sivas, de onde se pode dizer uma outra identidade.
ciação são elaboradas no’jádito” de outros discursos Enquanto o não-sentido trava batalha com os
que está sedimentado nas palavras, o enunciador sentidos já estabelecidos, o silêncio combate, numa
marca uma posição no interdiscurso para defender-se luta quixotesca, com o ruído, com a ânsia do humano
dos sentidos de fora, de um exterior do discurso, que de dizer e de falar. O silêncio tem várias faces, entre
venham desestabilizar o seu próprio dizer. No segun- as quais comentaremos a política do silêncio e a fun-
do caso, a explicitação da pluralidade de sentidos se dação do sentido. A política do silêncio se realiza
dá através de formas como também no sentido p, como “tomar” a palavra, “tirar” a palavra?, obrigar a
onde se específica o outro sentido a ser acrescentado dizer, fazer calar, silenciar etc. Segundo ORLANDI
Revista
ao sentido tido como evidente; nos dois sentidos da (1992, p.29-40), “o silêncio é fundante, o silêncio é a
do GELNE palavra; em todos os sentidos da palavra (essas matéria significante por excelência.” Num contexto
Vol. 3 formas interpretam sentidos quase equivalentes), em que o homem é obrigado a fazer sentido com pa-
No. 1
Segundo a autora, em sua conclusão, “no funciona- lavras, o silêncio é o lugar onde a matéria significante
2001
mento do gesto metaenunciativo de explicitação do se movimenta e produz novos sentidos, transforman-

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sentido de uma unidade lexical em contexto o que do a unicidade dos sujeitos e dos discursos. Segundo
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a autora em estudo, enquanto a fala organiza a dis- ciação atravessada por um discurso de afirmação do
persão do silêncio, este “não está disponível à visibi- que está, que defende o status quo; LM especifica tal
lidade, não é diretamente observável. Ele passa pelas expressão como Universidade Funcional, e situa-a
palavras. Não dura. Só é possível vislumbrá-lo, de como resultado de estudos da filósofa Marilena
modo fugaz. Ele escorre por entre a trama das falas” Chauí, o que dá a esse discurso uma feição política e
(op. cit., p.34). técnica, na medida em que recorre a um argumento
Essa circulação de sentidos nos discursos, que por autoridade para dizer e deixar o seu enunciado
vai desde a ausência total de sentidos, passando por ser atravessado por discursos como: se essa autori-
significação de silêncios, até a instituição de novas dade fez um estudo e chegou a essa conclusão, ela
maneiras de interpretação e de dar sentido às realida- tem a verdade. Essa negação da universidade como
des, podemos encontrar nas reflexões de FORGET ela está se repete na expressão projeto universitário
(1994, p.19-33) sobre discurso político, que a autora do passado, atravessado por um discurso político de
divide em discurso ocultação e discurso revelação. destruição da imagem do outro. Já RE qualifica a
No primeiro caso, os discursos são distorções da re- universidade numa clivagem entre MEC e UFPB; a
alidade ou fachadas que camuflam interesses inad- universidade permanece com o sentido tradicional e
missíveis; dessa forma, todo político adapta a verda- político, mas está sujeita ao que enunciativamente
de a seus interesses, a fim de aumentar o potencial significa como minguam as suas verbas (do MEC) e
eleitoral e preservar a margem de manobra política, constante redução de verbas (da UFPB). Essas ex-
o que leva a concluir a existência de uma espécie de pressões trazem para o enunciado vozes de um dis-
divórcio entre o discurso e a prática. No segundo caso, curso econômico. Como pudemos constatar, as três
os discursos são a expressão de valores e princípios cartas-prograrna, já no nível do enunciado formal da
compartilhados no seio de um grupo político; assim língua e da escolha lexical, funcionam a partir de três
sendo, através deles temos acesso ao pensamento formações discursivas (genericamente e por seu pre-
político, às intenções dos estadistas, de um partido; domínio) distintas: as formações discursivas da situ-
menos do que invocar as realizações, recorremos ao ação, da tecnocracia científica e da política eco-
discurso como indício de adesão a um projeto. Essas nômica. Essas formações discursivas são as regiões
crenças em relação ao discurso político aparecem de onde o sujeito diz o seu discurso e delimita os
muitas vezes, problematicamente, no mesmo espaço campos do falar sobre a universidade.
discursivo, quando um autor denuncia uma determi- Em termos de metaenunciação, as cartas-pro-
nada manobra manipulativo-ideológica de um dis- grama recorrem ao uso de termos e expressões como
curso e, noutro trecho, cita o político em questão para define, significa, não pode ser compreendida (JT),
estabelecer uma prova. Diríamos que, em termos de ou seja (LM), por mais que se diga (RE). Constata-
análise discursiva, estabelece-se um jogo de senti- mos que, num momento, ocorre o sentido metalin-
dos, onde, os sujeitos operam enunciativa e metaenun- güístico de fixar explicitamente um sentido para o
ciativa,ente com sentidos que ele quer dominar, mas termo universidade, através dos mecanismos da defi-
se perde nas lacunas do silêncio e nos lugares do nição, da caracterização-determinação e da explica-
não-sentido do dizer. ção, conforme podemos observar nos recortes abaixo:
Em termos de análise, de todo o “corpus” dis-
ponível, recortaremos aqueles enunciados que defi- Nada define melhor a Universidade do que ser
nem e dizem o que é universidade. Como formalização uma Instituição produtora e socializadora do
da análise, servimo-nos do seguinte aparato sim- conhecimento.
bólico: representamos a candidatura Jáder Nunes e Produzir conhecimentos significa voltar-se
Thompson Mariz por JT, a candidatura Luiz Renato para a pesquisa. (JT)
e Maria Cláudia por LM e a candidatura Rubens Freire A reforma universitária implantou entre nós
e Edilson Amorim por RE. o que a filósofa Marilena Chauí denominou
A enunciação recupera a memória do dizer do de Universidade Funcional, ou seja, uma
sujeito e coloca os sentidos num emaranhado de vo- estrutura de poder aparentemente despo
zes, que divide o discurso em diferentes inter- litizada.. (LM)
discursos: a tradição, a economia, a ciência, o senso
comum, a política. Em JT, LM e RE, o discurso da Por sua vez, em outro momento, o sentido do
tradição ecoa no sentido das expressões Universidade, termo universidade é fixado, através do que
Instituição, Universidade Pública (JT), Universida- Authier-Revuz denomina de glosas na forma negati-
de, Universidade Funcional (LM), Universidade, va, quando o locutor precisa eliminar um sentido ino-
MEC, UFPB (RE). Nas três Cartas, o termo universi- portuno que ameaça a descrição, definição ou carac-
dade aparece em maiúsculas e com um sentido de terização que ele autoriza e favorece:
Revista
instituição duradoura e tradicional e, enunciativa-
do GELNE
mente, diríamos que acontece como um pré-cons- A Universidade não pode ser compreendida
Vol. 3
truído de outras falas políticas. Essa expressão, por como uma instituição isolada (JT)
No. 1
ser comum aos três programas, tem seu sentido espe- Por mais que se diga que há um crescimento 2001
cificado pelas formações discursivas de cada carta: no meio acadêmico, sobretudo nos discursos

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JT caracteriza-a como Instituição Pública, enun- de posse de reitores, a universidade brasileira
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e, no seu interior, a UFPB sofre constante re- Até hoje, não logramos superar a estrutura de
dução das verbas. (RE) poder moldada pela universidade funcional.
(LM)
Podemos afirmar que os sujeitos constroem A nossa visão prioriza a Universidade como
os seus sentidos sob dois funcionamentos: aquele da um veículo que possibilite a incorporação de
formação discursiva a que ele se filia, quando as pa- experiências socialmente acumuladas.
lavras e as expressões adquirem sentidos no discurso A universidade tem deixado de exercer suas
em que estão inseridas e estão situadas no plano da tarefas centrais. (RE)
interdiscursividade e do funcionamento metaenun-
ciativo, quando o sujeito se volta para as próprias Podemos constatar, por esses recortes, que
palavras que usa, seja para especificá-las ou avaliá-las, instância crítica, universidade autônoma e incorpo-
fenômeno que se situa no plano da intradiscur- ração de experiências sociais são os sentidos que as
sividade. Esse jogo entre a intra e a interdiscursividade FDs querem estabelecer, entretanto fica em silêncio,
caracterizam enunciativamente o discurso, na medi- ou por não ser dito ou por ser negado, os outros sen-
da em que dão visibilidade ao próprio sujeito, às suas tidos: o conformismo, a dependência e as experiên-
formações discursivas e à memória do dizer, criando cias autoritárias.
nos leitores ou nos interlocutores a impressão de uma No início deste ensaio, questionamos se os
realidade já vista, já lida, já interpretada, em suma, textos do gênero carta-programa, distribuídos numa
já dada, o que se caracteriza como o efeito da ideolo- universidade, numa campanha eleitoral para reitor,
gia sobre o sujeito. Entretanto, esse efeito de sentido trazem características dessa instituição. O essencial
de que tudo já está dito e feito, que transparece em da questão era saber se o texto, por ser distribuído
enunciados como numa universidade, traz necessariamente especifi-
cações de discurso acadêmico. Constatamos que os
O público é que pertence a todo o povo. (JT)
textos trazem diferentes qualidades do discurso acadê-
A Universidade transformou-se numa coleção
mico (a objetividade, a polêmica, citações, recorrên-
de especialistas. (LM)
cia ao argumento por autoridade etc.), entretanto o
A UFPB sofre constante redução de verbas.
que os caracteriza e diferencia dos textos efetivamente
(RE)
acadêmicos é que eles tanto interpretam os discursos
não se realiza de modo pacífico no discurso, mas este, dos outros segundo sua própria visão deformada de
em sua própria virtualidade de enunciação, mesmo sujeitos, como procuram compartilhar de sentidos que
quando não tem um locutor empírico que o realize, sejam próprios. de sua formação discursiva, negando
trava batalhas com o que a Análise de Discurso de- os outros sentidos, tais propriedades caracterizam esse
nomina de não-sentido e silêncio. Se olharmos os dis- discurso como político.
cursos em análise da perspectiva do não-sentido (en-
tendido aqui como discursos que estabelecem novos Bibliografia
lugares de onde se diz o sentido, ou seja, discurso
fundador), constataremos que há uma formação AUTHIER-REVUZ, Jaqueline. O enunciador
discursiva, FD1, que aceita a situação como está e glosador de suas palavras: explicitação e inter-
por essa razão faz sentido afirmar que o público per- pretação In Palavras incertas: as não-coinci-
tence a lodo o povo; há outra, a FD2, que faz sentido dêncías do dizer. Campinas: Edunicamp, 1998.
afirmando que a universidade é uma coleção de es- BARTHES, Roland. A aventura semiológica. Lis-
pecialistas, e uma terceira, a FD3, que faz sentido boa: Edições 7O, 1987.
afirmando estar a universidade sob constante redu-
FORGET, Danielle. Introdução In Conquistas e re-
ção de verbas. Temos três discursos que se entre-
sistências do poder. São Paulo: Edusp, 1994.
cruzam - a situação, o tecnocrata e o econômico - e
funcionam, dando sentido à universidade, em três etapas: GUIMARÃES, Eduardo. Os limites do sentido: um
apagam uma memória já estabelecida e re-significam estudo histórico e enunciativo da linguagem.
a ordem anterior com uma nova memória, atribuí sen- Campinas: Pontes, 1995.
tidos familiares e evidentes ao novo universo ______. Linguagem e mito: uma concepção de sen-
discursivo construído e estabelece um outro lugar para tido e de texto In Línguas e instrumentos
dizer os novos sentidos evidentes. Para instaurar esse lingüísticos. Campinas: Pontes, 1999.
sentido fundador, é necessário controlar a polissemia ORLANDI, Eni. Vão surgindo sentidos In Discurso
e o equívoco da língua, o que é feito através de silên- fundador: a formação do país e a construção
cios, que oscilam entre o não-dizer e o dizer-negação. da identidade nacional. Campinas: Pontes,
Revista 1993.
A Universidade não pode abdicar de seu pa-
do GELNE pel de instância crítica. ______. Silêncio e sentido In As formas do silên-
Vol. 3 A Universidade Pública é a que pertence à cio: no movimento dos sentidos. Campinas:
No. 1 Edunicamp, 1992.
cidadania e está a serviço do bem comum. (JT)
2001
Jamais tivemos universidades autônomas no SCLIAR, Moacyr. Os leopardos de Kafka. São Paulo:

4
Brasil. Companhia das Letras, 2OOO.

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