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Eles não usam black-tie (Gianfrancesco Guarnieri)

Autor:

Gianfrancesco Sigfrido Benedetto Martinenghi de Guarnieri nasceu em Milão,


filho de músicos antifascistas que decidiram mudar-se para o Rio de Janeiro em 1936,
quando ele tinha dois anos.
Em 1955, Guarnieri fixou-se em São Paulo e, com Oduvaldo Viana Filho, fundou
o Teatro Paulista do Estudante, que depois se uniu ao Teatro de Arena, que seria um dos
centros de resistência cultural e de conscientização popular no início do regime militar
implantado em 1964.
Guarnieri escreveu em 1956 sua primeira peça, "Eles Não Usam Black-tie".
Montada em 1958, pelo Teatro de Arena, a peça transformou-se num marco da
dramaturgia brasileira, ao retratar a luta operária, a divisão de classes e os conflitos sociais
referentes ao proletariado. Seguiram-se as peças "Gimba" (1959), "A semente" (1961) e
"O Filho do Cão" (1964).
Com o diretor e dramaturgo Augusto Boal, Guarnieri montou duas peças entre os
anos de 1965 e 1967: "Arena conta Zumbi" e "Arena conta Tiradentes". Foi secretário
municipal de Cultura de São Paulo entre 1984 e 1986.
Desde 2001 sofria de insuficiência renal crônica. Morreu de complicações gerais
decorrentes da doença, depois de uma internação de 49 dias. Deixou cinco filhos e sete
netos.

Características:

Gênero: dramático
Tema: A temática não é política, muito menos panfletária. O que discorre são relações de
amor, solidariedade e esperança diante dos percalços de uma vida miserável. Conflito
ideológico entre pai e filho. A pela aborda também o movimento operário da década de
50 no Brasil e as difíceis condições de vida dos trabalhadores brasileiros, traçando um
panorama realista das favelas dos grandes centros urbanos e apontando o cerne do abismo
social entre dominantes e dominados.
Cenário: favela carioca
Linguagem: informal, retratando os personagens simples, humildes, moradores do morro.
Trilha musical da peça: Nóis não usa os bleque tais (Adoniram Barbosa)

O nosso amor é mais gostoso


Nossa saudade dura mais
O nosso abraço mais apertado
Nóis não usa as bleque tais

Minhas juras são mais juras


Meus carinho mais carinhoso
Suas mão são mãos mais puras
Seu jeito é mais jeitoso
Nóis se gosta muito mais
Nóis não usa as bleque tais

O nosso amor é mais gostoso


Nossa saudade dura mais
O nosso abraço mais apertado
Nóis não usa as bleque tais

Minhas juras são mais juras


Meus carinho mais carinhoso
Suas mão são mãos mais puras
Seu jeito é mais jeitoso
Nóis se gosta muito mais
Nóis não usa as bleque tais
Nóis não usa as bleque tais

Resumo:

Maria diz a Tião que está grávida. Eles marcam noivado e casamento para pouco tempo.
Clima de festa e tranquilidade.
Pouco depois, estoura a greve. O pai, Otávio, clama pela greve no megafone. O filho,
Tião, tenta convencer os funcionários da fábrica a trabalharem normalmente.
O confronto entre pai e filho na porta da fábrica retrata os dilemas de toda uma classe.
Otávio acaba sendo preso pelo DOPS.
Quando solto, volta para a casa, no morro, e pede que Tião se retire de lá.
Tião pede a Maria que vá com ele morar em um quarto, na cidade, mas ela diz que do
morro não sairá.
Tião sai de casa, sozinho.
O pai, Otávio, sabe que o filho voltará, apenas quando ele mudar o modo de olhar para a
vida.

Personagens:

Ao invés de personagens ricos e nobres, operários e moradores do morro tomaram o


palco. Ali, em plenos anos 50, negros eram cidadãos comuns. Pela primeira vez, os
conflitos da realidade brasileira ganhavam espaço na caixa cênica.

Otávio: pai, é operário de carreira, um sonhador, um idealista, leitor de autores socialistas


e, ao mesmo tempo um revolucionário por convicção e consciente de suas lutas. Forte e
corajoso entre os seus companheiros, experimentou várias lideranças, algumas prisões,
com isso ganha destaque entre os seus transformando-se num dos cabeças do movimento
grevista.
Tião: criado na cidade, longe do morro, aos cuidados do padrinho, devido às prisões do
pai, Otávio. Já adulto, volta a morar no morro, com os pais, mas sem ser um
revolucionário ou grevista como o pai, o que ocasiona o conflito moral da peça. É
corajoso, por não aderir à grave, batendo de frente com as pessoas próximas a si. Seu
maior medo é ficar pobre.
Maria: noiva de Tião, fiel ao seu povo, recusa-se a sair do morro.
Romana: mãe de Tião, casada com Otávio, dona de casa. Mulher de pulso, determinada
e responsável pelo equilíbrio da casa e da família.
João: irmão de Maria, homem ponderado e maduro, é o único que fica ao lado de Tião
durante a greve.
Jesuíno: malando, fraco e oportunista. Fica dos dois lados na greve.
Chiquinho: irmão de Tião. Jovem aprontador, vive dormindo e de namoro com Terezinha.
Bráulio: amigo de Otávio e braço direito na greve. Procura Tião para tirar satisfações com
ele, sobre a não adesão do mesmo à greve.
Questões Vestibular:

1. (UFSC 2010)

[...] Otávio – [...] Eu acho graça desses caras, contrariam a lei numa porção de coisas. Na
hora de pagá o aumento querem se apoiá na lei. Vai se preparando, Tião. Num dou duas
semanas e vai estourá uma bruta greve que eles vão vê se paga ou não. [...]
(GUARNIEIRI, Gianfrancesco. Eles não usam black-tie. 19. ed. São Paulo:
Civilização Brasileira, 2008. p. 25, Ato I.)

Escrita na década de 1950, a peça Eles não usam black-tie nos remete à reflexão sobre
movimentos sociais no Brasil. Com base no contexto socioeconômico em que a obra de
Guarnieri foi escrita e nos movimentos sociais no Brasil, assinale a(s)
proposição(ões) CORRETA(S).

01 Na década de 1950, o sindicalismo brasileiro enfrentou, com muitas greves, a inserção


do país no capitalismo internacional. *
02 A década de 1950 foi caracterizada por um período de recessão econômica. Os índices
inflacionários superavam 100% ao mês.
04 No Brasil, a organização sindical teve início no século XX e foi nutrida, de um lado,
pelos anarquistas utópicos e, de outro lado, pelos defensores do neoliberalismo
econômico.
08 Cenário de Eles não usam black-tie, as favelas estão circunscritas sobretudo às
metrópoles regionais, como é caso do Rio de Janeiro e de São Paulo.
16 Criada na década de 1950, a Companhia Vale do Rio Doce, empresa de economia
mista, foi o cenário que levou os personagens de Eles não usam black-tie a deflagrarem
greve por melhores condições de trabalho e de salário.
32 Infere-se do diálogo do personagem Otávio que uma das estratégias utilizadas pelos
sindicatos é a greve, como forma de pressionar os patrões para a obtenção de determinado
objetivo. *

2. Com base na obra “Eles não usam black-tie”, de Gianfrancesco Guarnieri,


marque a alternativa correta.
[A] A peça é dividida em seis atos e seis quadros.
[B] Guarnieri escreveu em 1955 sua primeira peça, “Eles Não Usam Black-tie”. Montada
em 1958, pelo Teatro de Arena, a peça transformou-se num marco da dramaturgia
brasileira, ao retratar a luta operária, a divisão de classes e os conflitos sociais referentes
ao proletariado.
[C] Maria é noiva de Tião e não aceita seu envolvimento na greve operária, por isso
abandona-o.
[D] São todos os personagens da peça: Maria, Tião, Chiquinho, Terezinha, Jesuíno,
Romana, Odete, Babão e Bodinho.
[E] Tião é filho de Otávio e de D. Romana, que privilegia a educação do filho caçula. *

3. O prefácio do livro Eles não usam black-tie reproduz um artigo escrito, em 1960,
pelo jornalista Paulo Francis, sobre Gianfrancesco Guarnieri. Afirma Paulo Francis
nesse artigo (p. 13): “Ele é um dramaturgo que transmite a urgência dessa tomada
de posição, que a justapõe às acomodações de ordem individual, pedindo ao público
que escolha entre as duas atitudes. E o faz carregando consigo a metrópole para o
palco, indo ao centro do conflito. Marca o despertar da geração de hoje”.

As duas atitudes a que se refere o trecho citado são a adesão à greve pelos trabalhadores
e a traição de Tião, o qual prefere não participar do movimento.

A opinião do jornalista sobre o dramaturgo se justifica pelo fato de a peça tratar da

a. revolta dos habitantes da periferia de uma grande cidade.


b. desigualdade social sob a perspectiva da luta de classes. *
c. exploração dos trabalhadores pelos sindicatos de esquerda.
d. impossibilidade de ascensão social da classe operária.

4. No teatro moderno, tornou-se comum o uso de variante lingüística própria da


personagem, como recurso para criar o efeito de verdade. Nesses casos, o padrão de
qualidade do texto exige coerência. Com base nesses dados, qual é a incoerência que
se observa no trecho a seguir, extraído da peça Eles não usam Black-tie de
Gianfrancesco Guarnieri:
"Maria: Sempre vivi em barraco. E vivê com tu é o que interessa.
Tião: Eu é que não me ajeito aqui no morro.
Maria: Por quê? Aqui também tem coisa boa... Só o que eu quero é ficar contigo"

a. Trata-se da utilização da forma tu por uma personagem simples como Maria.


b. Trata-se do uso, no mesmo contexto, das formas com tu ( variante popular) e
contigo ( variante culta) pela mesma personagem. *
c. Trata-se da utilização do contigo, apenas presente no falar culto.
d. Trata-se do uso do pronome tu incorretamente.
e. Trata-se do uso de contigo incorretamente.

5. Em relação à obra Eles Não Usam Black-tie, marque com V as afirmações


verdadeiras e com F as falsas.

a. “Zé-do-Burro, um sertanejo, carrega nas costas uma imensa cruz por mais de sete
léguas, até a Igreja de Santa Bárbara, em Salvador, para pagar uma promessa. Tudo o que
ele quer é depositar a cruz dentro da igreja e pagar assim sua promessa, mas as coisas não
serão tão fáceis.” F
b. “Situa-se numa favela carioca, nos anos 50, e tem como tema a greve, e ao lado da
greve a peça tem como pano de fundo um debate sobre as grandes verdades eternas,
reflexões universais sobre a nossa frágil condição humana, sobre os homens e seus
conflitos.” V
C. “A peça teatral foi transformada em filme em 1981, e o mesmo só não foi censurado
porque venceu o Festival de Veneza daquele ano, ganhando o Leão de Ouro.” V
d. “A peça foi encenado pela primeira vez em São Paulo, em 1960. Menos de dois anos
depois, o filme baseado na peça já ganhava Palma de Ouro em Cannes.” F
e. “É um texto fantástico, político e social, sempre atual, no qual Gianfrancesco Guarnieri
criou de um lado, personagens marcantes e populares como Terezinha, Chiquinho,
Dalvinha e Jesuíno que nos revelam um mundo alegre, descontraído e aparentemente
feliz.” V

6.
Texto 7

TIÃO – [...] Bem, gente... Hoje é meu dia... Já ganhei presente de noivado...
1 ROMANA – Saiu o aumento?
OTÁVIO – Que aumento! Sem greve não sai aumento!
ROMANA (repreendendo-o) – Otávio!...
TIÃO – Aumento nada... Tive minha chance no cinema!...
5 [...]
OTÁVIO – Seu pai vai ficá irritado com esse recado, mas eu digo. Seu pai tem
outro recado pra você. Seu pai acha que a culpa de pensá desse jeito não é sua só.
Seu pai acha que tem culpa...
TIÃO – Diga a meu pai que ele não tem culpa nenhuma.
10 OTÁVIO (perdendo o controle) – Se eu te tivesse educado mais firme, se te
tivesse mostrado melhor o que é a vida, tu não pensaria em não ter confiança na
tua gente...

GUARNIERI, Gianfrancesco. Eles não usam black-


tie. 19. ed. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2008. p. 36-37; 105.

Considerando o texto 7 e a obra Eles não usam black-tie, é CORRETO afirmar que:

01. os dois trechos de diálogo revelam indícios do conflito ideológico existente entre pai
e filho: Otávio, representando um cidadão politicamente engajado que defende os
interesses coletivos, e Tião, um indivíduo que, por medo da pobreza, defende seus
interesses individuais. *
02. Eles não usam black-tie é uma peça teatral que retrata a vida numa favela, e suas
cenas se desenrolam em torno de um conflito de classes em que os operários lutam
por melhores salários.*
04. Tião foi convidado a participar de um filme sobre o cotidiano da fábrica onde
trabalhava e aceitou o convite, por ter vislumbrado nisso uma chance de sair do
morro e ficar rico.
08. a peça explora aspectos atuais da realidade brasileira, tais como: pobreza,
prostituição, embate entre policiais e traficantes no morro, falta de escolas e de
saneamento básico na periferia das grandes cidades.
16. Otávio é um dos líderes do movimento grevista focalizado na peça e acaba preso. A
prisão do marido foi a gota d’água para que Romana o abandonasse e se livrasse,
enfim, da miséria em que vivia.
32. Tião, expulso de casa pelo pai por ter traído o movimento grevista e os
companheiros, é apoiado pela noiva, Maria, que via nesse episódio a possibilidade
de realizar seu sonho de abandonar a vida miserável da favela e ter seu filho na
cidade.
64. ao dizer “Hoje é meu dia” (linha 1), infere-se que Tião se referia ao fato de que,
depois de várias tentativas frustradas, enfim arranjara uma noiva.

7. Considerando o texto 7, assinale a(s) proposição(ões) CORRETA(S).

01. Se a fala de Otávio “Sem greve não sai aumento!” (linha 3) fosse substituída por “Só
com greve sai aumento!”, haveria considerável alteração de significado no contexto.
02. Ambas as construções: “Se eu te tivesse educado mais firme” (linha 11) e “tu não
pensaria” (linha 12) apresentam o mesmo nível de formalidade e revelam que a
personagem tem alto nível de escolaridade.
04. Os dois trechos de diálogo apresentam um registro coloquial, mas o segundo trecho
(linhas 7-12) evidencia mais marcas de oralidade que o primeiro. *
08. No segundo trecho (linhas 7-12), pai e filho mantêm um diálogo no qual simulam a
intermediação de uma terceira pessoa; assim, as expressões seu pai e meu pai
remetem ao mesmo referente – Otávio; da mesma forma, os pronomes você e tu
remetem ao mesmo referente – Tião. *
16. A frase “Diga a meu pai que ele não tem culpa nenhuma” (linha 10) pode ser reescrita,
sem prejuízo de significado, como “Diga a meu pai que ele não tem culpa alguma”.
*
32. A palavra gente (linhas 1 e 12) está funcionando como pronome de primeira pessoa
do plural, com o mesmo sentido de nós.

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