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Goldman, Marcio.

Como funciona a democracia: uma teoria etnográ fica da


política. Rio de Janeiro: 7Letras, 2006.

Comentá rios a respeito da introduçã o do livro “Como funciona a democracia:


uma teoria etnográfica da política” de Marcio Goldman.

Ele expõ es as características de sua pesquisa de campo em Ilheus, na Bahia: feita


em curtas visitas ao longo de 20 anos; com pouquíssimas entrevistas gravadas;
em que o pesquisador se considera amigo dos “informantes”; em que suas
conversas se constituem em diá logos no sentido mais abrangente do termo.

As entrevistas, para ele, servem somente como complemento, ao final da


pesquisa, quando o etnó grafo já possui controle sobre os dados e informaçõ es.

Busca recuperar pontos de vista sobre política.

Os pontos de vista nã o sã o referentes à categorias genéricas como negro, baiano


etc, mas de pessoas concretas. [como tomar essa questão para o MRU?]

“o etnó grafo deve articular os diferentes discursos e prá ticas parciais (no duplo
sentido da palavra, parcelares e interessadas) que observa, sem jamais atingir
nenhum tipo de totalizaçã o ou síntese completa.” (p.25)

“Nesse sentido, é o fato inelutá vel de que o etnó grafo é um observador


estrangeiro, capaz de apreender, como objetos, realidades para as quais os
nativos sã o relativamente, mas nã o necessariamente, cegos, que garantiria a
possibilidade da etnografia. Esta deveria consistir, pois, na investigaçã o das
mediaçõ es que se interpõ em entre os nativos e sua experiência social,
possibilitando assim a aná lise das diferentes formas simbó licas pelas quais os
nativos se expressam.” (p.26)

“Uma teoria etnográ fica procede um pouco à moda do pensamento selvagem:


emprega os elementos muito concretos coletados no trabalho de campo – e por
outros meios – a fim de articulá -los em proposiçõ es um pouco mais abstratas,
capazes de conferir inteligibilidade aos acontecimentos e ao mundo.” (pp.28-29)

“Trata-se aqui, assim, de uma tentativa de elaboraçã o de uma grade de


inteligibilidade que permita uma melhor compreensã o de nosso pró prio sistema
político. Para isso, recorre-se certamente a acontecimentos muito concretos, mas
também a teorias nativas muito perspicazes e a formulaçõ es mais abstratas
quando estas se mostram ú teis.” (p.29) [qual a diferença entre recorrer a
formulações abstratas e construir generalizações, quando achar-se necessário?]

Na pá gina 30 ele usa Levi-Strauss para fazer consideraçõ es sobre a antropologia


que deixam bem claro que o que busco fazer nã o é antropologia.

“No entanto, foi necessá rio um passo suplementar para perceber que havia algo a
mais em jogo e que uma pesquisa realmente antropoló gica sobre política
desenvolvida junto ao movimento negro em Ilhéus nã o deveria consistir tanto no
estudo desse movimento em si ou da política na cidade, nem mesmo no estudo
das relaçõ es entre ambos, mas em uma análise da política oficial na cidade
orientada pela perspectiva cética que o movimento negro tem a seu respeito.”
(p.35)

Para ele, por um tempo a antropologia julgava que sociedades sem Estado eram
sociedades sem política. Essa ideia foi desfeita na década de 1940, contudo, para
substituir a instituiçã o “Estado” foi construída a instituiçã o “linhagem”,
reproduzindo-se assim uma visã o etnocêntrica da política dos povos sem Estado.
Da crítica a concepçã o substantivista, veio nos anos 1950 a concepçã o formalista
da política, para quem a política estaria em todas as relaçõ es humanas. Esta
concepçã o, contudo, estimulou uma abordagem que considera todas as
dimensõ es de todas as relaçõ es sociais como relaçõ es de poder. O social é
confundido com o político, que, em ú ltima instancia, é a ú nica dimensã o
analisada.

Segundo ele os estudos sobre fenô menos políticos têm ocupado posiçã o central
nos ú ltimos anos no Brasil. O termo “antropologia da política”, cunhado por
Moacir Palmeira, busca sugerir o estudo daquilo que, segundo o nativo, seja
considerado política.

[Uma dúvida: se Marcio se propõe identificar (e construir) uma “teoria nativa”, em


que a política seria compreendida desde um “ponto de vista nativo”, como ele,
ainda na introdução, aponta para o tema, improvavelmente nativo, da “captura”?
Os atores estariam, eles próprios, colocando questões que, para Marcio, informado
por Deleuze e Guattari, estariam no âmbito da captura? As próximas páginas
dirão]

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