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ÉTICA PROFISSIONAL

E ESTATUTO DA OAB -
DIREITOS DOS
ADVOGADOS
ÍNDICE
1.  HIERARQUIA E LIBERDADE.............................................................................................4
O que são direitos do advogado?...................................................................................................................................4
Hierarquia.................................................................................................................................................................................4
Direitos do Advogado..........................................................................................................................................................4
Direito à Liberdade................................................................................................................................................................ 5

2.  PRISÃO DO ADVOGADO...................................................................................................9


Prisão em Flagrante............................................................................................................................................................. 9
Crimes Inafiançáveis............................................................................................................................................................ 9
Quadro Esquemático......................................................................................................................................................... 10
Da prisão antes de sentença transitada em julgado........................................................................................... 10

3.  INGRESSAR LIVREMENTE E OUTROS DIREITOS.......................................................12


Direito de Ingressar Livremente.....................................................................................................................................12
Direito de permanecer sentado ou em pé............................................................................................................... 13
Direito de se retirar.............................................................................................................................................................. 14

4.  RETIRADA E ACESSO AOS AUTOS............................................................................... 15


Direito de Examinar Autos............................................................................................................................................... 15
Do exame de autos de investigação.......................................................................................................................... 15
Vista e Retirada dos Autos...............................................................................................................................................17
Direito de vista dos processos.......................................................................................................................................18
Direito de retirada de processos................................................................................................................................... 19
Exceções................................................................................................................................................................................ 19

5.  INVESTIGAÇÃO CRIMINAL........................................................................................... 20


Direito de assistir clientes durante investigação.................................................................................................. 20

6.  DESAGRAVO PÚBLICO...................................................................................................21


Conceito...................................................................................................................................................................................21
O procedimento do desagravo......................................................................................................................................22
Competência........................................................................................................................................................................25
Mudanças em 2018...........................................................................................................................................................25

7.  SÍMBOLO E TESTEMUNHA.............................................................................................27


Símbolos.................................................................................................................................................................................27
Testemunha......................................................................................................................................................................... 28

8. INVIOLABILIDADE........................................................................................................... 31
Inviolabilidade Profissional...............................................................................................................................................31

9. IMUNIDADE...................................................................................................................... 34
Direito de Imunidade........................................................................................................................................................ 34
Das sanções pelo excesso..............................................................................................................................................36

10.  DIREITOS DA ADVOGADA​............................................................................................37


Direitos da Advogada Gestante................................................................................................................................... 38
Direitos da Advogada Lactante.................................................................................................................................... 38
Direitos da Advogada Adotante ou que der à luz................................................................................................. 38
Duração dos direitos......................................................................................................................................................... 38
Tabela-resumo.................................................................................................................................................................... 40
1.  Hierarquia e Liberdade
O que são direitos do advogado?
São os direitos e prerrogativas listados pelo Estatuto da Advocacia e da OAB (Lei nº 8.906/1994),
no art. 7º, com mais de 20 incisos tratando sobre o advogado e seus direitos no exercício
da profissão. Além disso, estão também inseridos em outros dispositivos por todo o Estatuto
dos Advogados e no Código de Ética e Disciplina da OAB (Ordem dos Advogado do Brasil).
Nesse curso, aprenderemos mais sobre os principais direitos dos advogados. 

Hierarquia
Assim como o advogado é uma figura indispensável à administração da justiça, conforme
prevê o art. 133 da Constituição, juízes e promotores de justiça também o são. Embora suas
funções sejam distintas – o advogado postula, os promotores fiscalizam a aplicação da lei e
os juízes julgam –, uma complementa a outra e são igualmente necessárias. Por conta disso,
não existe nenhuma hierarquia entre elas, de tal forma que todos devem se tratar com
respeito e consideração.

Nesse sentido, dispõe o art. 6º do Estatuto da Advocacia e da OAB (Lei 8.906/94)

Art. 6º. Não há hierarquia nem subordinação entre advogados, magistrados e membros do Ministério Público,
devendo todos tratar-se com consideração e respeito recíprocos.

Parágrafo único. As autoridades, os servidores públicos e os serventuários da justiça devem dispensar


ao advogado, no exercício da profissão, tratamento compatível com a dignidade da advocacia e condições
adequadas a seu desempenho.

O parágrafo único deste artigo ainda prevê que o tratamento conferido ao advogado deve ser
digno, bem como devem lhe ser concedidas condições adequadas para o exercício de sua
profissão. Nesse momento, pouco importa se o advogado é iniciante ou experiente, todos
possuem o mesmo valor e merecem igual respeito.

Direitos do Advogado
Ao tratarmos do art. 7º do Estatuto da Advocacia e da OAB, que dispõe sobre os direitos do
advogado, precisamos compreender o que significam esses direitos. Mais do que direitos,
são prerrogativas profissionais essenciais para o exercício da advocacia - extremamente
importante em sua função de representação do povo mediante o Poder Público.

Atenção, pois Direitos do Advogado é uma matéria que cai em praticamente todas as provas
do exame de ordem.

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As prerrogativas ou direitos não são uma forma de privilegiar os advogados, mas sim de evitar
que sejam impostas certas condições que impeçam o livre e pleno exercício da advocacia,
e, consequentemente, seja afetado o direito dos cidadãos de se defenderem perante as
violações de seus direitos. Contudo, e se tais prerrogativas da profissão forem violadas?
Segundo o art. 15 do Regulamento Geral do Estatuto da Advocacia e da OAB, o Presidente
do Conselho Federal, do Conselho Seccional ou da Subseção é o responsável por tomar as
medidas cabíveis de forma a proteger o cumprimento das normas do EOAB.

Art. 15. Compete ao Presidente do Conselho Federal, do Conselho Seccional ou da Subseção, ao tomar
conhecimento de fato que possa causar, ou que já causou, violação de direitos ou prerrogativas da profissão,
adotar as providências judiciais e extrajudiciais cabíveis para prevenir ou restaurar o império do Estatuto, em sua
plenitude, inclusive mediante representação administrativa. 

Parágrafo único. O Presidente pode designar advogado, investido de poderes bastantes, para as finalidades
deste artigo.

É a partir dessa visão que devemos compreender os direitos elencados pelo art. 7º, que serão
estudados um a um daqui em diante. São vários, o que se explica pelo caráter extenso do
alcance da advocacia.

Direito à Liberdade
A  já estudada  inexistência de hierarquia e subordinação está intimamente ligada ao livre
exercício da advocacia. Trata-se de um dos fundamentos do exercício da profissão. A liberdade
no exercício profissional, prevista no primeiro inciso do art. 7º, do EOAB, é uma garantia de que
a advocacia não seja limitada por autoridades públicas.

Art. 7º São direitos do advogado:

I - exercer, com liberdade, a profissão em todo o território nacional;

Como visto anteriormente, existem algumas regras para que o advogado possa, de fato,
exercer a advocacia em todo o território nacional, como as relativas à inscrição suplementar
– mas, seguindo-as, não será impedido de fazê-lo.

É importante salientar que algumas pessoas dizem que a própria OAB e até o Exame de Ordem
são inconstitucionais, por restringirem o exercício da advocacia. Entretanto, mais do que
representar interesses corporativos, a Ordem dos Advogados do Brasil busca regulamentar a
profissão de forma a agir em prol do povo, da comunidade. Além disso, tais disposições atuam
em consonância com o art. 5º, inciso XIII da Constituição Federal, que prevê a possibilidade de
que a lei possa estabelecer a necessidade de preenchimento de qualificações profissionais
para o exercício de determinada profissão – justamente o que a OAB faz.

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Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes: [...]

XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a
lei estabelecer; […]

Portanto, pautado nisso, temos a previsão do Regulamento Geral do EOAB, que diz que

Art. 1º A atividade de advocacia é exercida com observância da Lei nº 8.906/94 (Estatuto), deste Regulamento
Geral, do Código de Ética e Disciplina e dos Provimentos. 

LIBERDADE DE FALA
Dentre os direitos relacionados à liberdade, estão os que preveem a liberdade de fala do
advogado, nas mais diversas situações, também estabelecidos pelo art. 7º do EOAB. Vamos
analisar cada uma delas.

DIRIGIR-SE AOS MAGISTRADOS

Art. 7º, VIII - dirigir-se diretamente aos magistrados nas salas e gabinetes de trabalho, independentemente de
horário previamente marcado ou outra condição, observando-se a ordem de chegada;

Quanto a este inciso, é preciso se atentar ao fato de que o advogado tem, sim, o seu contato
pessoal com o juiz limitado. Dentre as coisas que ele não pode fazer, estão:

•  Fazer consulta ao juiz, buscando aconselhamento;


•  Pedir ao juiz um pré-julgamento de sua ação;

Entretanto, em regra, o EOAB garante que o advogado tenha o direito de procurar o juiz para
conversar, mesmo sem horário agendado, para esclarecer quaisquer dúvidas ou pormenores

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que possam passar despercebidos pelo magistrado. Deve-se apenas respeitar a ordem de
chegada para o atendimento, sendo vedado ao juiz impor qualquer outra condição para
atender o advogado.

USO DA PALAVRA

Art. 7º, X - usar da palavra, pela ordem, em qualquer juízo ou tribunal, mediante intervenção sumária, para
esclarecer equívoco ou dúvida surgida em relação a fatos, documentos ou afirmações que influam no julgamento,
bem como para replicar acusação ou censura que lhe forem feitas;

Dá ao advogado o direito de intervir para esclarecer informações relevantes para o julgamento,


ou replicar acusações e censuras que lhe forem feitas, mediante intervenção sumária. O
inciso anterior, (IX) que permitia ao advogado que sustentar razões após o voto do relator, foi
revogado por ser considerado inconstitucional.

RECLAMAÇÃO VERBAL OU ESCRITA

Art. 7º, XI - reclamar, verbalmente ou por escrito, perante qualquer juízo, tribunal ou autoridade, contra a
inobservância de preceito de lei, regulamento ou regimento;

A reclamação cabe, verbal ou escrita, quando o advogado constata um abuso, principalmente


quando alguma lei, regulamento ou regimento não estiver sendo cumprido

DIREITO DE FALA EM JUÍZO

Art. 7º, XII - falar, sentado ou em pé, em juízo, tribunal ou órgão de deliberação coletiva da Administração
Pública ou do Poder Legislativo

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O advogado também possui o direito de falar, sentado ou em pé, em juízo, tribunal ou outros
órgãos.

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2.  Prisão do Advogado
O Estatuto e o Código de ética nos dizem sobre dois tipos de prisão do advogado: a prisão
em flagrante e a prisão antes do trânsito em julgado. Veja que não existe nenhuma
prerrogativa ao advogado para a prisão depois da condenação e do trânsito em julgado. 

Vamos analisar então, estes dois tipos de prisão. 

Prisão em Flagrante
Como forma de proteger o exercício da profissão do advogado, o Estatuto da Advocacia e
da OAB concede ao advogado o direito de presença de um representante da OAB, quando
preso em flagrante, por motivo ligado ao exercício profissional, conforme prevê o inciso IV do
já mencionado art. 7º.

IV - ter a presença de representante da OAB, quando preso em flagrante, por motivo ligado ao exercício da
advocacia, para lavratura do auto respectivo, sob pena de nulidade e, nos demais casos, a comunicação
expressa à seccional da OAB

Vamos compreender, de fato, o que diz este artigo:

•  Delito ligado ao exercício da advocacia – basicamente, para que haja o direito da presença de
um representante da OAB, o motivo pelo qual o advogado está sendo preso precisa estar ligado à sua
atuação como tal.
•  Presença de um representante da OAB - a presença do representante da OAB é essencial para
que o auto da prisão em flagrante possa ser lavrado - sob pena de nulidade. A função deste repre-
sentante é basicamente investigar a legalidade da prisão, verificando se há respeito às prerrogativas
profissionais (direitos do advogado) e se seus motivos estão efetivamente relacionados ao exercício
da advocacia.

 Importante notar que, se o crime não estiver relacionado ao exercício da advocacia, então não
há o direito ao representante da OAB, mas, ainda assim, deve haver a comunicação expressa
à OAB. 

Crimes Inafiançáveis
Existe mais um normativo que disciplina a prisão em flagrante do advogado. Está no parágrafo
3º do art. 7º. 

§ 3º O advogado somente poderá ser preso em flagrante, por motivo de exercício da profissão, em caso de crime
inafiançável, observado o disposto no inciso IV deste artigo.

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Então veja que o dispositivo acima restringe ainda mais a prisão em flagrante do advogado: ele
só pode ser preso em flagrante, quando no exercício da profissão e quando estiver cometendo
crimes inafiançáveis (por exemplo, tortura, tráfico de drogas, etc). 

Quadro Esquemático

Fora do Exercício da
No Exercício da Profissão
Profissão
- Pode ser preso em
- Não pode ser preso em flagrante.
flagrante
Crime Comum - Se não vai ser preso em flagrante, não
- Comunicação à
tem direito a representante da OAB.
OAB
- Pode ser preso em
- Pode ser preso em flagrante. flagrante
Crime Inafiançável
- Possui dirieto a representante da OAB - Comunicação à
OAB

Para fins de análise, válido saber quais são os crimes inafiançáveis, nos termos do art. 5º,
incisos XLII a XLIV da Constituição Federal:

•  Racismo (inc. XLII)


•  Prática de tortura (inc. XLIII)
•  Tráfico de entorpecentes e drogas afins (inc. XLIII)
•  Crimes hediondos – Lei nº 8.072/1990 (inc. XLII)
•  Terrorismo (inx. XLIII)
•  Ação de grupos armados contra a ordem constitucional e o Estado Democrático (inc. XLIV)

Da prisão antes de sentença transitada em julgado


A advocacia por si só é uma atividade que possui caráter de enfrentamento: o advogado se
coloca perante o Estado para proteger seu cliente. Para tal, precisa usar de todos os meios
legais - e que estes lhe sejam assegurados - e de liberdade. Muitas vezes, este profissional
ainda pode ser alvo de ódio e represálias por parte de seus próprios clientes, e sofrerem
retaliações. É deste contexto que surge o direito previsto no art. 7º, inciso V.

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V - não ser recolhido preso, antes de sentença transitada em julgado, senão em sala de Estado Maior, com
instalações e comodidades condignas, assim reconhecidas pela OAB, e, na sua falta, em prisão domiciliar [...]

(Vide ADIN 1.127-8)

Basicamente, o que diz este artigo é que, nos casos em que o advogado for preso
provisoriamente (prisão em flagrante, prisão preventiva ou prisão temporária), terá direito a uma
instalação “especial”, chamada de sala de Estado Maior. Caso não exista essa possibilidade,
será recolhido em prisão domiciliar. O intuito disso é preservar a integridade física e moral do
advogado, tão essencial para a administração da justiça.

Também é importante se atentar ao fato de que a ADIN 1227 retirou da OAB a possibilidade
definir quais seriam os lugares adequados para tais prisões, de maneira a evitar subjetivismos
e arbítrios exagerados.

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3.  Ingressar Livremente e Outros Direitos
Direito de Ingressar Livremente
O serviço prestado pelo advogado é de natureza pública e depende do ingresso em
determinados locais para que seja exercido em sua plenitude. Por isso, nos locais em que
deve atuar, tem seu livre ingresso protegido pelo art. 7º, inciso IV, do Estatuto da Advocacia e
do Estatuto da OAB.

Art. 7º São direitos do advogado: [...]

VI - ingressar livremente:

a) nas salas de sessões dos tribunais, mesmo além dos cancelos que separam a parte reservada aos magistrados;

b) nas salas e dependências de audiências, secretarias, cartórios, ofícios de justiça, serviços notariais e de
registro, e, no caso de delegacias e prisões, mesmo fora da hora de expediente e independentemente da
presença de seus titulares;

c) em qualquer edifício ou recinto em que funcione repartição judicial ou outro serviço público onde o advogado
deva praticar ato ou colher prova ou informação útil ao exercício da atividade profissional, dentro do expediente
ou fora dele, e ser atendido, desde que se ache presente qualquer servidor ou empregado;

d) em qualquer assembleia ou reunião de que participe ou possa participar o seu cliente, ou perante a qual este
deva comparecer, desde que munido de poderes especiais;

Como é possível observar, tal artigo prevê especificamente quatro situações e locais nos
quais o advogado não pode ser impedido de entrar. São eles:
1. Nas salas de sessões dos tribunais, mesmo além dos cancelos que separam a parte
reservado aos magistrados: os cancelos seriam uma espécie de “porteira” que separa a
ala dos magistrados da ala das partes e advogados nos tribunais. Aos advogados, no
entanto, também é permitido ultrapassá-los.
2. Nas salas e dependências de audiências, secretarias, cartórios, ofícios de justiça,
serviços notariais e de registro, e, no caso de delegacias e prisões, mesmo fora da hora
de expediente e independentemente da presença de seus titulares: neste caso, é per-
mitido que o advogado adentre nesses espaços ainda que não não haja ninguém para
atendê-lo, e fora da hora de expediente. Considerando a liberdade de acesso a delega-
cias e prisões, vale ressaltar que policiais não podem impedir o ingresso do advogado a
estes recintos. 
3. Em qualquer edifício ou recinto em que funcione repartição judicial ou outro serviço
público onde o advogado deva praticar ato ou colher prova ou informação útil ao exer-
cício da atividade profissional, dentro do expediente ou fora dele, e ser atendido, desde
que se ache presente qualquer servidor ou empregado: diferentemente do caso ante-
rior, é necessário que algum servidor e/ou empregado esteja presente para atender o

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advogado.
4. Em qualquer assembleia ou reunião de que participe ou possa participar o seu
cliente, ou perante a qual este deva comparecer, desde que munido de poderes es-
peciais: este inciso, para que se cumpra, requer que o advogado possua poderes es-
peciais. Seria o caso, por exemplo, de uma reunião de condominio da qual o advogado
pudesse participar em nome de seu cliente, representando-o, mediante poder conferido
pelo mesmo. No entanto, esses poderes especiais – mandatos, por exemplo – não são
necessários para qualquer assembleia, apenas naquelas em que o advogado estiver
substituindo o seu cliente, o que, aliás, não é permitido em reuniões de administração.
Algumas situações podem gerar conflito, como a participação em reuniões de socieda-
des anônimas; sobre esse assunto, existe uma decisão do Tribunal de Ética e Disciplina
da OAB:

E–4.386/2014 – ADVOGADO – PRESENÇA EM REUNIÃO DE CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DE COMPANHIA


PARA ASSESSORAR CLIENTE MEMBRO DO CONSELHO – DIREITO GARANTIDO – SIGILO RELATIVAMENTE
ÀS MATÉRIAS E DEBATES NA REUNIÃO – MANUTENÇÃO – DEVER DO ADVOGADO SALVO NECESSIDADE DE
DEFESA DO CLIENTE CONSELHEIRO.

Na forma do art. 7º, inciso VI, alínea “d”, do EAOAB o advogado tem o direito de ingressar livremente em qualquer
assembleia ou reunião para assessorar seu cliente que dela participe, inclusive reuniões de conselho de
administração de sociedades anônimas. Além do fato de a Lei 8.906/94 (EAOAB) conter essa determinação
expressa, a Lei 6.404/76, que rege as sociedades anônimas, não tem, nem poderia ter, norma em contrário.
Por outro lado, o advogado que assessora seu cliente nessas reuniões está sujeito às mesmas regras de sigilo
a que está sujeito seu cliente. O advogado não tem o direito de prejudicar a companhia, divulgando o que viu
ou ouviu na reunião. Somente poderá fazê-lo, e assim mesmo dentro dos estritos limites do necessário para
a prova dos fatos, caso necessite defender judicialmente os interesses de seu cliente prejudicado por atos ou
fatos ocorridos ou consequentes da reunião.

V.U., em 22/05/2014, do parecer e ementa do Rel. Dr. ZANON DE PAULA BARROS - Rev. Dr. SÉRGIO KEHDI
FAGUNDES - Presidente Dr. CARLOS JOSÉ SANTOS DA SILVA.

Direito de permanecer sentado ou em pé


Tradicionalmente, era exigido que, na presença do magistrado, as outras pessoas presentes
no tribunal ficassem em pé, como uma forma de demonstrar respeito.

Contudo, em se tratando da liberdade de acesso do advogado, o art. 7º do Estatuto da


Advocacia e da OAB prevê que o advogado tem o direito de escolher se prefere permanecer
sentado ou em pé nos ambientes citados anteriormente.

Art. 7º, VII - permanecer sentado ou em pé e retirar-se de quaisquer locais indicados no inciso anterior,
independentemente de licença;

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Direito de se retirar
Conforme prevê o inciso abaixo, o advogado possui o direito de se retirar do recinto em que
esteja aguardando pregão judicial, desde que observe os seguintes requisitos cumulativos:

Art. 7º São direitos do advogado: [...]

XX - retirar-se do recinto onde se encontre aguardando pregão para ato judicial, após trinta minutos do horário
designado e ao qual ainda não tenha comparecido a autoridade que deva presidir a ele, mediante comunicação
protocolizada em juízo. [...]

1. Tempo de Espera – o advogado precisa ter esperado mais de 30 minutos além do


horário designado. Por exemplo, se a audiência está marcada para 14h30, o advogado
precisa esperar ser chamado pelo menos até 15h para se retirar do recinto;
2. Presença da Autoridade – é preciso observar se o juiz está presente no recinto, em
outra audiência que pode ter atrasado, por exemplo. Nestes casos, ainda que se tenha
decorrido mais de 30min além do horário marcado, o advogado não pode deixar o recin-
to;
3. Comunicação Protocolizada - Se decorridos mais de 20 minutos e o juiz (ou
qualquer autoridade) ainda não tenha chegado ao recinto, ainda assim é necessário
uma comunicação protocolizada em juízo. Esse protocolo não é de um pedido, mas
apenas uma comunicação de exercício de direito, apresentando os fatos ocorridos até
então e o preenchimento dos requisitos já mencionados. 

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4.  Retirada e Acesso aos Autos
Direito de Examinar Autos
Prosseguindo nossos estudos sobre os direitos e prerrogativas do advogado, o art. 7º, inciso
XIII, do Estatuto da Advocacia e da OAB ainda estabelece o direito de examinar autos de
processos.

Art. 7º São direitos do advogado:

XIII - examinar, em qualquer órgão dos Poderes Judiciário e Legislativo, ou da Administração Pública em geral,
autos de processos findos ou em andamento, mesmo sem procuração, quando não estejam sujeitos a sigilo,
assegurada a obtenção de cópias, podendo tomar apontamentos;

Deste artigo, é possível retirar as seguintes conclusões sobre a extensão do direito de examinar
processos, esquematizadas em tabela a seguir:
1. Em quais órgãos é possível realizar o exame - Em qualquer órgão dos Poderes
Judiciários e Legislativo ou da Administração Pública em geral;
2. Em que estado processual o auto poderá ser objeto de exame - processos findos
ou em andamento;
3. Quais atos possui liberdade de praticar – tirar cópias e tomar apontamentos
4. Necessidade Procuração – não é preciso apresentar procuração, exceto se o pro-
cesso estiver sob sigilo.
Exame de autos de Processos

EM QUE ESTADO QUE ATOS PODERÁ


EM QUE ÓRGÃOS
PROCESSUAL PRATICAR
Qualquer um do Poder Judiciário
Processos Findos ou Tirar cópias e Tomar
e Legislativo / Qualquer um da
em Andamento Apontamentos
Administração Pública
Necessidade de Procuração? Não é necessário, apenas quando o processo estiver
sujeito a sigilo.

Do exame de autos de investigação


Quanto aos autos de investigação, o mesmo artigo, mas dessa vez o inciso XIV, é que
estabelece as regras para que sejam objeto de exame do advogado.

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Art. 7º São direitos do advogado:

XIV - examinar, em qualquer instituição responsável por conduzir investigação, mesmo sem procuração,
autos de flagrante e de investigações de qualquer natureza, findos ou em andamento, ainda que conclusos à
autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos, em meio físico ou digital;         (Redação dada pela Lei
nº 13.245, de 2016)

Também podemos concluir alguns parâmetros quanto à  extensão do direito de examinar


autos de flagrante, esquematizados da mesma forma que anteriormente:
1. Em quais órgãos é possível realizar o exame – em qualquer instituição responsá-
vel por conduzir a investigação;
2. Que tipos de autos poderão ser objeto de exame – autos de flagrante e de qual-
quer tipo de investigação
3. Em que estado processual o auto poderá ser objeto de exame – poderão ser
objeto de exame os autos findos e os autos em andamento – mesmo que conclusos à
autoridade competente;
Obs. “Conclusos - diz-se de autos que foram enviados, com termo de conclusão, ao juiz, e
em cujo poder permanecem para que neles exare despacho ou dê sentença.”
4. Que atos poderá praticar – o advogado poderá copiar peças e tomar apontamen-
tos, em meio física ou digital
5. Da necessidade de procuração – apenas se faz necessário apresentar procura-
ção quando os autos estiverem sujeitos a sigilo, nos termos do §10º do art. 7º do EOAB,
incluído pela Lei nº 13.245 em2016.

§ 10. Nos autos sujeitos a sigilo, deve o advogado apresentar procuração para o exercício dos direitos de que
trata o inciso XIV. (Incluído pela Lei nº 13.245, de 2016)

Exame de Autos de Investigação

QUE ATOS
QUE TIPOS DE EM QUE ESTADO
EM QUE ÓRGÃOS PODERÁ
AUTOS PROCESSUAL
REALIZAR
em qualquer
autos de flagrante processos findos
instituição tirar cópias
/ autos de / processos em
responsável / tirar
qualquer tipo de andamento (incluindo
por conduzir a apontamentos
investigação os conclusos)
investigação

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QUE ATOS
QUE TIPOS DE EM QUE ESTADO
EM QUE ÓRGÃOS PODERÁ
AUTOS PROCESSUAL
REALIZAR

Necessidade de procuração? Apenas quando o processo estiver sujeito a sigilo.

É importante salientar que o direito do advogado de examinar autos de investigação não é


irrestrito. Nesse sentido dispõe o §11º do art. 7º, que estamos estudando

§ 11.   No caso previsto no inciso XIV, a autoridade competente poderá delimitar o acesso do advogado aos
elementos de prova relacionados a diligências em andamento e ainda não documentados nos autos, quando
houver risco de comprometimento da eficiência, da eficácia ou da finalidade das diligências.          (Incluído pela
Lei nº 13.245, de 2016)

Do texto legal podemos ver que, nos casos em que ainda não tiver sido cumprida alguma
diligência, como, por exemplo, uma busca e apreensão, a autoridade poderá limitar o acesso
do advogado àqueles autos. Entretanto, atenção, isso só poderá acontecer quando houver
risco à eficiência, eficácia ou finalidade da diligência em andamento.

DA INOBSERVÂNCIA DESSE DIREITO

§ 12. A inobservância aos direitos estabelecidos no inciso XIV, o fornecimento incompleto de autos ou
o fornecimento de autos em que houve a retirada de peças já incluídas no caderno investigativo implicará
responsabilização criminal e funcional por abuso de autoridade do responsável que impedir o acesso do
advogado com o intuito de prejudicar o exercício da defesa, sem prejuízo do direito subjetivo do advogado de
requerer acesso aos autos ao juiz competente.

Conforme dispõe o §12º, do mesmo art. 7º em questão, impedir o advogado de exercer seu
acesso aos autos de investigação, ou prejudicá-lo de alguma forma – como fornecer autos
incompletos – causará uma responsabilização criminal por abuso de autoridade. Isso está
mais relacionado ao direito do cliente de exercer a sua defesa (que seria prejudicada pela falta
de acesso aos autos) do que ao direito do advogado, em si, já que em alguns casos ele até
poderia requerer acesso aos autos ao juiz competente.

Vista e Retirada dos Autos


Assim como muitos outros direitos dos advogados, o direito de vista e retirada de processos
está intimamente ligado às garantias constitucionais, especialmente de ampla defesa e
contraditório – essenciais para a manutenção da democracia.

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Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:

LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o
contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; [...]

Direito de vista dos processos


Antes de nos ater ao texto legal, é preciso compreender o que significa “ter vista dos processos”.
Segundo Paulo Lôbo, em seu livro Comentários ao Estatuto da Advocacia e da OAB,

O direito de ter vista dos processos é mais abrangente do que o de simples exame. Pressupõe o patrocínio
da causa e é imprescindível para o seu desempenho. Em nenhuma hipótese pode ser obstado, nem mesmo
quando em regime de sigilo. O direito de vistas associa-se ao de retirar os processos do cartório ou da repartição
competente, para poder manifestar-se nos prazos legais. A obstrução é crime, inclusive por abuso de autoridade,
além da responsabilidade cível do infrator desse preceito legal. Como decidiu o Superior Tribunal de Justiça, o
direito de vistas aos autos deve ser entendido como ‘manifestação da sua atividade e louvação ao princípio da
liberdade da profissão.

O art. 7º, inciso XV, do Estatuto da Advocacia e da OAB é que confere ao advogado o direito
de ter vista dos processos judiciais e administrativos de qualquer natureza. Dele, podemos
extrair algumas características principais desse direito.

Art. 7º São direitos do advogado:

XV - ter vista dos processos judiciais ou administrativos de qualquer natureza, em cartório ou na repartição
competente, ou retirá-los pelos prazos legais; […]

1. Tipos de processos abrangidos – o direito de vista abrange os processos judiciais


e/ou administrativos de qualquer natureza:
PROCESSO JUDICIAL – se instaura por iniciativa de uma das partes que busca uma resolução
de um conflito de direitos - solução essa que será dada pelo Estado. É uma relação triangular
[parte-parte-juiz].

PROCESSO ADMINISTRATIVO – diferentemente do processo judicial, no processo administrativo


a Administração é uma parte interessada, e não apenas um terceiro que resolverá problemas
de outros.
2. Onde a vista ocorrerá – como podemos ver no iniciso XV, a vista pode ocorrer em
cartórios ou na repartição competente. Mas, ainda existe a hipótese de que o advogado

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possa retirar esses processos pelos prazos legais – o que também pode ser chamado de
“carga de processo”.

Direito de retirada de processos


O mesmo art. 7º, mas, dessa vez, o inciso XVI, dá ao advogado o direito de retirar autos de
processos findos – mesmo que sem procuração – por um prazo determinado. Quando falamos
de processos findos, são aqueles em que não cabem mais recursos e foram arquivados. Uma
importante interpretação deste inciso se dá no sentido de que, por conta dele, o advogado
possui o direito de ter acesso a processos findos sem prévio peticionamento – o que é
considerado por muitos doutrinadores como um formalismo desnecessário.

Art. 7º São direitos do advogado: [...]

XVI - retirar autos de processos findos, mesmo sem procuração, pelo prazo de dez dias; [...]

É importante ressaltar que o direito de retirada de processos é reforçado no Novo Código de


Processo Civil, no art. 107, inciso III

Art. 107.  O advogado tem direito a: [...]

III - retirar os autos do cartório ou da secretaria, pelo prazo legal, sempre que neles lhe couber falar por
determinação do juiz, nos casos previstos em lei. [...]

Exceções
O mesmo artigo 7º, §1º, do EOAB, estabelece alguns casos em que os processos não podem
ser objeto de vista e/ou retirada. São essas exceções que fazem com que tal direito não seja
absoluto.

§ 1º Não se aplica o disposto nos incisos XV e XVI:

1) aos processos sob regime de segredo de justiça;

2) quando existirem nos autos documentos originais de difícil restauração ou ocorrer circunstância relevante
que justifique a permanência dos autos no cartório, secretaria ou repartição, reconhecida pela autoridade em
despacho motivado, proferido de ofício, mediante representação ou a requerimento da parte interessada;

3) até o encerramento do processo, ao advogado que houver deixado de devolver os respectivos autos no prazo
legal, e só o fizer depois de intimado.

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5.  Investigação Criminal
Direito de assistir clientes durante investigação
Ainda dentro dos direitos do advogado, estabelecidos pelo art. 7º do Estatuto da Advocacia e da
OAB, temos o direito de assistir cliente investigado. Tal direito foi incluído pela Lei 13.245/2016,
como uma forma de proteger o indivíduo de abusos durante a investigação.

Diz o inciso que

Art. 7º São direitos do advogado:

XXI - assistir a seus clientes investigados durante a apuração de infrações, sob pena de nulidade absoluta
do respectivo interrogatório ou depoimento e, subsequentemente, de todos os elementos investigatórios e
probatórios dele decorrentes ou derivados, direta ou indiretamente, podendo, inclusive, no curso da respectiva
apuração: (Incluído pela Lei nº 13.245, de 2016)

a) apresentar razões e quesitos; […]

Segundo alguns doutrinadores, este artigo adota a Teoria dos Frutos da Árvore Envenenada,
porque determina que negar esse direito ao advogado (e também ao cliente) acarreta a
nulidade não só do interrogatório ou depoimento, mas de todos os elementos investigatórios
relacionados a ele.

 A teoria dos frutos da árvore envenenada é uma metáfora legal para explicar as provas ilícitas
por derivação – ou seja, aquelas provas produzidas a partir de uma prova ilícita e que, por
conta disso, também adquirem caráter ilícito.

O artigo ainda prevê, em sua alínea “a”, que durante o curso da investigação o advogado
possui permissão para apresentar razões e quesitos. Esse ato tem a finalidade de garantir ao
acusado o seu direito ao contraditório e ampla defesa, protegido pela Constituição Federal,
em seu art. 5º, inciso LV

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes: [...]

LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o
contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; [...]

 O inciso em questão ainda possuía uma alínea “b”, que dava ao advogado o direito de requisitar
diligências durante o interrogatório. No entanto, em 12 de janeiro de 2016 (no mesmo ano em
que foi incluído), esta alínea foi vetada. 

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6.  Desagravo Público
Conceito
Dentre os direitos garantidos ao advogado, elencados no art. 7º do Estatuto da Advocacia e
da OAB, se encontra o direito ao desagravo público - instrumento de defesa do advogado
e sua liberdade, dignidade, independência e respeito. Não é uma forma de penalização a
ninguém, mas apenas uma retratação promovida pela administração interna.

Art. 7º São direitos do advogado:

XVII - ser publicamente desagravado, quando ofendido no exercício da profissão ou em razão dela.

O desagravo público é uma forma de desfazer, perante outras pessoas, um


agravo (notadamente uma ofensa) sofrido pelo advogado durante ou em função do exercício
de sua profissão. Podemos dizer, portanto, que a finalidade do desagravo público nada mais é
do que publicizar a solidariedade da classe profissional para com o advogado ofendido, bem
como demonstrar repúdio ao ato praticado pelo ofensor.

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DA INDISPONIBILIDADE DO DESAGRAVO PÚBLICO
Por se tratar de um direito extremamente importante, cuja efetivação é promovida pela Ordem
dos Advogados do Brasil, considera-se o desagravo público um direito indisponível, concedido
em função de uma prerrogativa. Isso porque trata-se de um direito coletivo, uma condição
para exercer direito de terceiros – já que uma ofensa pode ser extremamente prejudicial, por
exemplo, para a defesa do cliente daquele advogado.

Nesse sentido, dispõe o art. 18, §9º do Regulamento Geral do EOAB que

§ 9º O desagravo público, como instrumento de defesa dos direitos e prerrogativas da advocacia, não depende
de concordância do ofendido, que não pode dispensá-lo, devendo ser promovido a critério do Conselho.

Ou seja, mesmo que o advogado não queira o desagravo, mesmo assim o desagravo irá
ocorrer.

SE HÁ AÇÃO CRIMINAL EM CURSO, O DESAGRAVO TORNA-SE DESNECESSÁRIO?


O artigo 7º do EAOAB (Lei nº 8.906/1994) determina:

Art. 7º. É direito do advogado: (...)

§ 5º No caso de ofensa a inscrito na OAB, no exercício da profissão ou de cargo ou função de órgão da OAB,
o conselho competente deve promover o desagravo público do ofendido, sem prejuízo da responsabilidade
criminal em que incorrer o infrator.

Assim, a existência de eventual ação criminal promovida em face do ofensor não obsta que o Conselho
competente promova desagravo público.

Na mesma lógica, se o desgravo for promovido antes, não resta excluída a apuração de responsabilidade criminal
do ofensor na esfera penal.

PODE O ESTAGIÁRIO SER DESAGRAVADO, OU APENAS O ADVOGADO?   


Sim! Quem é desagravado é o inscrito na OAB, e isso inclui tanto o advogado quanto o
estagiário inscrito.

O procedimento do desagravo
LEGITIMIDADE PARA REQUERER
A legitimidade para requerer o desagravo é, segundo o caput do art. 18, do (i.) advogado
ofendido; (ii.) de ofício do Conselho Competente; ou de (iii.) qualquer pessoa.

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Art. 18. O inscrito na OAB, quando ofendido comprovadamente em razão do exercício profissional ou de cargo
ou função da OAB, tem direito ao desagravo público promovido pelo Conselho competente, de ofício, a seu
pedido ou de qualquer pessoa.

OFENSA PASSÍVEL DE DESAGRAVO


A caracterização do ofendido requer uma premissa essencial, também abordado pelo já
mencionado art. 18: a ofensa deverá ter ocorrido em razão do exercício profissional ou
de cargo ou função da OAB. Além disso, a lei ainda estabelece alguns critérios para que a
ofensas sejam consideradas passíveis de desagravo. O art. 18, §3º do Regulamento Geral do
EOAB dispõe que não serão consideras ofensas qualificáveis para o desagravo público, a
ofensa pessoal, a que não estiver relacionado com o exercício profissional e as que são de
caráter doutrinário, religioso e/ou político.

§ 3º O relator pode propor o arquivamento do pedido se a ofensa for pessoal, se não estiver relacionada com o
exercício profissional ou com as prerrogativas gerais do advogado ou se configurar crítica de caráter doutrinário,
político ou religioso.  

O PROCEDIMENTO
O mesmo artigo, em seus outros parágrafos, estabelece a forma como se dará o procedimento,
desde o pedido até a efetiva sessão de desagravo público. O primeiro passo, previsto no §1º,
é verificar se na ofensa há urgência e notoriedade. Nesse caso, o desagravo será feito ad
referendum, ou seja, antes mesmo da aprovação do desagravo.

§ 1º O pedido será submetido à Diretoria do Conselho competente, que poderá nos casos de urgência e
notoriedade, conceder imediatamente o desagravo, ad referendum do órgão competente do Conselho,
conforme definido em regimento interno.

Para todos os outros casos - sem urgência e notoriedade - o pedido de desagravo será
remetido ao órgão competente para instrução e decisão. Ou seja, forma-se um pequeno
processo administrativo. O relator deste processo pode pedir informações adicionais da
pessoa/autoridade ofensora, que deverá prestar informações em 15 dias.

§ 2º  Nos demais casos, a Diretoria remeterá o pedido de desagravo ao órgão competente para instrução e
decisão, podendo o relator, convencendo-se da existência de prova ou indício de ofensa relacionada ao
exercício da profissão ou de cargo da OAB, solicitar informações da pessoa ou autoridade ofensora, no prazo de
15 (quinze) dias, sem que isso configure condição para a concessão do desagravo.

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O relator pode entender a ofensa como sendo pessoal ou não estiver relacionada com exercício
profissional ou prerrogativas, ou se configurar crítica doutrinária ou política ou religiosa. Neste
caso ele proporá o arquivamento do pedido.

§ 3º O relator pode propor o arquivamento do pedido se a ofensa for pessoal, se não estiver relacionada com o
exercício profissional ou com as prerrogativas gerais do advogado ou se configurar crítica de caráter doutrinário,
político ou religioso

Caso o relator se convença de que a ofensa é procedente, ele emite parecer para que o órgão
competente do Conselho julgue em 60 dias o desagravo. Caso seja julgado procedente pelo
Conselho, então a sessão deverá ocorrer dentro de 30 dias, preferencialmente no local onde
a ofensa foi sofrida ou onde se encontre a autoridade opressora. 

§ 4º Recebidas ou não as informações e convencendo-se da procedência da ofensa, o relator emite parecer que
é submetido ao órgão competente do Conselho, conforme definido em regimento interno.

§ 5º Os desagravos deverão ser decididos no prazo máximo de 60 (sessenta) dias.

§ 6º Em caso de acolhimento do parecer, é designada a sessão de desagravo, amplamente divulgada, devendo


ocorrer, no prazo máximo de 30 (trinta) dias, preferencialmente, no local onde a ofensa foi sofrida ou onde se
encontre a autoridade ofensora.

A sessão, a princípio, é realizada pelo Conselho Seccional. Mas também pode ser promovida


pela diretoria da Subseção a qual o inscrito está vinculado (desde que haja representação do
Conselho Seccional). Veja que o desagravo ser promovido pela Subseção é uma faculdade, e
não um dever. 

§ 8º Ocorrendo a ofensa no território da Subseção a que se vincule o inscrito, a sessão de desagravo pode ser
promovida pela diretoria ou conselho da Subseção, com representação do Conselho Seccional. 

A sessão de desagravo ocorre da seguinte forma: o Presidente lerá a nota que será publicada
na imprensa, enviada ao ofensor e registrada nos assentamentos do inscrito (e no Registro
Nacional de Violações de Prerrogativas). Para a sessão, serão convidados tanto o ofensor como
o ofendido, mas nenhum deles precisa necessariamente estar presente para a realização do
desagravo.

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§ 7º Na sessão de desagravo o Presidente lê a nota a ser publicada na imprensa, encaminhada ao ofensor e às
autoridades e registrada nos assentamentos do inscrito e no Registro Nacional de Violações de Prerrogativas.

Competência
A regra geral é a competência ser do Conselho Seccional. Mas são três as hipóteses em que a
competência será do Conselho Federal - e não mais do Conselho Seccional. Todas elas estão
no artigo 19 do Regulamento Geral:
1. Ofensa a Conselheiro Federal
2. Ofensa a Presidente do Conselho Seccional
3. Ofensa relevante com repercussão nacional. 
Nestes casos então, a competência será deslocada do Conselho Seccional para o Conselho
Federal. A competência torna-se do Conselho Federal, mas a realização da sessão de
desagravo continua sendo no Conselho Seccional (mas com representantes do Conselho
Federal), salvo no caso de ofensa a conselheiro federal - neste último caso, a sessão ocorrerá
no próprio Conselho Federal. 

Art. 19. Compete ao Conselho Federal promover o desagravo público de Conselheiro Federal ou de Presidente
de Conselho Seccional, quando ofendidos no exercício das atribuições de seus cargos e ainda quando a ofensa
a advogado se revestir de relevância e grave violação às prerrogativas profissionais, com repercussão nacional. 

Parágrafo único. O Conselho Federal, observado o procedimento previsto no art. 18 deste Regulamento, indica
seus representantes para a sessão pública de desagravo, na sede do Conselho Seccional, salvo no caso de
ofensa a Conselheiro Federal.

Mudanças em 2018
O instituto do desagravo sofreu mudanças nos parágrafos de seu artigo 18 no ano de 2018.
Por mais que pareça que todos os parágrafos foram totalmente reescritos na verdade o texto
se mantém praticamente o mesmo com algumas alterações pontuais: 
1. Praticamente todos os parágrafos mudaram de número (o que dá a impressão de
uma mudança muito mais abrangente do que realmente foi)
2. Instituiu-se a modalidade de agravo ad referendum, nos casos de urgência e noto-
riedade. Uma espécie de “desagravo liminar”. 
3. Temos agora prazos bem definidos: 

•  15 dias para que a autoridade ofensora preste informações


•  60 dias para que os agravos sejam decididos (deve haver uma decisão deferindo ou
indeferindo o desagravo)
•  30 dias após a decisão para que ocorra a sessão de desagravo

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4. Está mais explícito o local da sessão de desagravo: preferencialmente onde a ofensa
foi sofrida ou onde se encontrar a autoridade ofensora.

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7.  Símbolo e Testemunha
Símbolos
O art. 7º, inciso XVIII, do Estatuto da Advocacia e da OAB determina que é direito dos profissionais
inscritos nos quadros da OAB poder utilizar-se dos símbolos privativos da advocacia. Estes
símbolos não devem ser confundidos com os meios de identificação do advogado, como o
cartão, carteira e número de inscrição.

Art. 7º São direitos do advogado:

XVIII - usar os símbolos privativos da profissão de advogado;

QUAIS SÃO OS SÍMBOLOS PRIVATIVOS DO ADVOGADO


A princípio, devemos nos ater à diferenciação entre os símbolos privativos do advogado e os
símbolos privativos da OAB. De acordo com o art. 54, inciso X, do EOAB, compete ao Conselho
Federal decidir sobre os símbolos privativos do advogado, que são as vestes talares e a
insígnia.

Art. 54. Compete ao Conselho Federal: [...]

X - dispor sobre a identificação dos inscritos na OAB e sobre os respectivos símbolos privativos

Sobre eles, dispõe o Provimento nº 08/64, emitido pelo Conselho Federal da OAB

Provimento Nº 08/1964

Dispõe sobre o modelo das vestes talares e das insígnias privativas do advogado.

O CONSELHO FEDERAL DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL, no uso das atribuições que lhe são conferidas
pelo art. 18, incisos IX e XVI, da Lei no 4.215, de 27 de abril de 1963, e tendo em vista o decidido no Processo nº
814/1964 sobre o modelo das vestes talares e das insígnias privativas do advogado,

RESOLVE:

Art. 1º. O modelo das vestes talares do advogado, de uso facultativo nos pretórios ou nas sessões da OAB,
consiste na beca estabelecida para os membros do Instituto dos Advogados Brasileiros pelo Decreto Federal nº
393, de 23 de novembro de 1844, com as seguintes modificações:

a) supressão do arminho do gorro, da gravata e da tira de renda pendente;

b) inclusão de duas alças de cordão grenat, grosso, pendentes sob a manga esquerda.

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Art. 2º. A insígnia privativa do advogado obedece ao mesmo modelo da usada pelos membros do Instituto dos
Advogados Brasileiros, feita a menção expressa da “Ordem dos Advogados do Brasil” em substituição ao nome
daquele sodalício.

Art. 3º. A insígnia pode ser de ouro e esmalte ou de outro metal, com a forma de alfinete ou de botão para a
lapela.

Art. 4º. Este provimento entra em vigor a partir da sua publicação no Diário Oficial.

Rio de Janeiro, 9 de julho de 1964 [...]

 Em 2015, o Código de Ética e Disciplina foi alterado, de forma que o art. 31, que proibia o advogado de utilizar os
símbolos privativos da OAB foi retirado. Agora, sessão que trata sobre publicidade do advogado se encontra dos
art. 39 ao 47 deste Código. Vale a pena dar uma conferida!

Testemunha
Ainda sobre os direitos do advogado, o art. 7º, inciso XIX, do Estatuto da Advocacia e da
OAB, positiva o direito do advogado se recusar a depor como testemunha em alguns casos
específicos – se for um processo que tenha patrocinado (ou patrocinará) ou se envolver fatos
sobre alguém para quem advogou, ainda que obtenha autorização deste.

Art. 7º São direitos do advogado:

XIX - recusar-se a depor como testemunha em processo no qual funcionou ou deva funcionar, ou sobre
fato relacionado com pessoa de quem seja ou foi advogado, mesmo quando autorizado ou solicitado pelo
constituinte, bem como sobre fato que constitua sigilo profissional.

Tal direito ainda é mencionado no art. 38 do Código de Ética e Disciplina, que o justifica com
a obrigação de guardar sigilo profissional atribuída ao advogado.

Art. 38. O advogado não é obrigado a depor, em processo ou procedimento judicial, administrativo ou arbitral,
sobre fatos a cujo respeito deva guardar sigilo profissional.

Segundo o art. 35 deste mesmo Código, quaisquer fatos dos quais o advogado fique sabendo
em função de sua profissão, devem ser guardados – independentemente de manifestação
de vontade do cliente. É uma forma, inclusive, de zelar pela proteção do cliente e facilitar o
surgimento de uma relação de confiança entre ele e o advogado.

Art. 35. O advogado tem o dever de guardar sigilo dos fatos de que tome conhecimento no exercício da
profissão. 

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Parágrafo único. O sigilo profissional abrange os fatos de que o advogado tenha tido conhecimento em virtude
de funções desempenhadas na Ordem dos Advogados do Brasil. 

Da violação do sigilo

Em regra, o sigilo profissional é inviolável. Entretanto, tanto o Estatuto da Advocacia e da OAB,


quando o Código de Ética e Disciplina preveem que, havendo justa causa, é possível que seja
quebrado. Assim prevê o art. 37 do Código de Ética

Art. 37. O sigilo profissional cederá em face de circunstâncias excepcionais que configurem justa causa,
como nos casos de grave ameaça ao direito à vida e à honra ou que envolvam defesa própria.

É importante nos ater ao fato de que tal violação, sem que exista uma justa causa, se
caracteriza como uma infração disciplinar, prevista no art. 34, VII do Estatuto da Advocacia e
da OAB, passível de sanções disciplinares, que estudaremos mais adiante.

Art. 34. Constitui infração disciplinar: [...]

VII - violar, sem justa causa, sigilo profissional [...]

EXEMPLO NA JURISPRUDÊNCIA
Abaixo se encontra um exemplo de como tal direito é pacificado na jurisprudência brasileira,
com base na justificativa de que é fundamental ao exercício da advocacia poder se resguardar
de depor sobre assuntos e/ou pessoas que possam comprometer sua atividade profissional

PROCESSUAL PENAL. ADVOGADO. TESTEMUNHA. RECUSA. SIGILO PROFISSIONAL. ARTIGO 7º, XIX, LEI
8.906/94. É direito do advogado “recusar-se a depor como testemunha em processo no qual funcionou ou deva
funcionar, ou sobre fato relacionado com pessoa de quem seja ou foi advogado, mesmo quando autorizado ou
solicitado pelo constituinte, bem como sobre fato que constitua sigilo profissional”. Agravo regimental improvido.
Art. 7º, XIX, Lei 8.906. (206 RJ 2001/0194801-5, Relator: Ministro CESAR ASFOR ROCHA, Data de Julgamento:
09/04/2003, CE – CORTE ESPECIAL, Data de Publicação: DJ 04.08.2003 p. 202RSTJ vol. 170 p. 21).

Conquanto, num primeiro momento, também assim tenha entendido, depois, em melhor refletindo, decidi acatar
a recusa. E isso pautado em preceitos legais: artigos 5º, XIV, e 133 da Constituição, artigos 207 e 210 do Código
de Processo Penal e 154 do Código Penal, artigos 25 e 26 do Código de Ética, e artigo 7º,

inciso XIX, da Lei 8.906/94 (Estatuto da Advocacia). [...]

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E também razões de ordem prática avalizam a dispensa. É certo que o sigilo profissional alcança apenas os
fatos a respeito dos quais se deva guardar segredo em razão do ofício e que, em tese, poderia o advogado depor
sobre outros fatos, alheios a esses. Todavia, na hipótese, não há como separá-los e, na dúvida, cabe a recusa.
A pretendida testemunha é advogado e defende, desde o início das investigações, os interesses de dois réus
e, evidentemente, não irá dizer nada que possa prejudicá-los ou favorecer a acusação. A toda pergunta que
lhe for dirigida, no zelo ao seu mister, dirá, certamente, que a reposta está vinculada a fatos ou a confidências
conhecidas em razão do seu ofício, cabendo-nos respeitar as suas prerrogativas.” (Ministro César Rocha no
AgRg na APn-206. DJ de 4.8.03).”

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8.  Inviolabilidade
Inviolabilidade Profissional
Para que seja assegurado ao advogado o livre e pleno exercício da advocacia, existem algumas
prerrogativas e direitos protegidos pela lei. Dentre os direitos do advogado garantidos pelo art.
7º do Estatuto da Advocacia e da OAB, está a inviolabilidade profissional, que visa resguardar
a confiabilidade e a segurança que deve existir em uma relação advogado-cliente, sem que
haja riscos de violação das informações compartilhadas.

Portanto, conforme prevê o já mencionado art. 7º, inciso II, são invioláveis o local e instrumentos
de trabalho do advogado, bem como suas formas de comunicação – sejam cartas, e-mail,
ligações telefônicas e outros – que envolvam o exercício de sua profissão.

Art. 7º São direitos do advogado: […]

II – a inviolabilidade de seu escritório ou local de trabalho, bem como de seus instrumentos de trabalho, de sua
correspondência escrita, eletrônica, telefônica e telemática, desde que relativas ao exercício da advocacia; […]

De certa forma, pode-se dizer que o direito a inviolabilidade deriva do dever do advogado de
manter o sigilo sobre suas relações profissionais. Ora, como é que se pode se cobrar de um
advogado que seja guardião de tais informações e documentos confidenciais se a qualquer
momento seu espaço e materiais de trabalho pudessem ser invadidos? Justamente por
isso é que o direito de inviolabilidade se estende aos espaços e instrumentos de trabalho do
advogado, bem como a qualquer comunicação referente a este. 

 O direito a inviolabilidade profissional garantido ao advogado emana da Constituição Federal.


Podemos destacar três incisos do art. 5º que evidenciam essa relação:

XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo
em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial;

XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações
telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de
investigação criminal ou instrução processual penal;

XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações 

DA QUEBRA DA INVIOLABILIDADE
Por se tratar de um direito que deriva da própria Constituição Federal, requer muita cautela
quanto à sua violação. A Lei 11.767/2008, também chamada de Lei de Inviolabilidade, trouxe

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ao Estatuto da Advocacia e da OAB os §6º e 7º, que estipulam as hipóteses em que pode
haver quebra da inviolabilidade resguardada ao advogado.

§ 6o Presentes indícios de autoria e materialidade da prática de crime por parte de advogado, a autoridade
judiciária competente poderá decretar a quebra da inviolabilidade de que trata o inciso II do caput deste artigo,
em decisão motivada, expedindo mandado de busca e apreensão, específico e pormenorizado, a ser cumprido
na presença de representante da OAB, sendo, em qualquer hipótese, vedada a utilização dos documentos, das
mídias e dos objetos pertencentes a clientes do advogado averiguado, bem como dos demais instrumentos de
trabalho que contenham informações sobre clientes.

§ 7oA ressalva constante do § 6o deste artigo não se estende a clientes do advogado averiguado que estejam
sendo formalmente investigados como seus partícipes ou co-autores pela prática do mesmo crime que deu
causa à quebra da inviolabilidade. 

A princípio, os parágrafos supracitados estabelecem alguns requisitos para que possa haver
a quebra da inviolabilidade:
1. Haver indícios de autoria e materialidade de um crime por parte do advogado
– é importante ressaltar que, conforme prevê o §7º, a quebra de inviolabilidade só pode
acontecer se os indícios apontarem o advogado como culpado, de forma que não se
estende à investigações de clientes. Nem mesmo nos casos em que algum cliente seja
acusado de ser parceiro de crime do advogado é permitido quebrar a inviolabilidade para
investiga-lo. Somente se investiga o advogado;
2. Deverá ser decretada por autoridade competente – por autoridade competen-
te entende-se “juiz da causa”, que expedirá um mandado de busca e apreensão muito
detalhado – específico e permonorizado – para que o façam;
3. A busca deve ser feita na presença de um representanto da Ordem dos Advo-
gados do Brasil – OAB – as funções deste representante estão determinadas no Provi-
mento nº 128/2008 do Conselho Federal da OAB, em seu art. 3º:

Art. 3º O representante da OAB deverá adotar as seguintes providências, dentre outras que acautelem as
prerrogativas dos advogados:

I - verificar a presença dos requisitos legais extrínsecos concernentes à ordem judicial para a quebra da
inviolabilidade;

II - constatar se o mandado judicial contém ordem específica e pormenorizada;

III - velar para que o mandado judicial seja cumprido nos estritos limites em que foi deferido;

IV - diligenciar para que não sejam alvos de busca e apreensão documentos, arquivos, mídias e objetos
pertencentes a clientes do advogado averiguado, bem como os demais instrumentos de trabalho que
contenham informações sobre clientes, excetuando a hipótese de indiciamento formal de seu cliente como
co-autor do mesmo fato criminoso objeto da investigação;

V - acompanhar pessoalmente as diligências realizadas;

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VI - comunicar à Seccional da OAB qualquer irregularidade verificada no cumprimento do mandado;

VII - apresentar relatório circunstanciado, respeitado o sigilo devido, à Seccional, para eventual adoção das
providências que se fizerem necessárias [...]

4. NÃO é permitido o uso de quaisquer coisas ou documentos pertences ou rela-


cionados a clientes do advogado – mais uma vez, trata-se de uma forma de proteger
o sigilo que rege as relações entre advogado e cliente. Nesse sentido dispõe um enten-
dimento do STF que diz que quaisquer itens ou documentos relativos a sujeitos que não
estejam expressamente incluídos no mandado, não poderão ser objeto de apreensão

HABEAS CORPUS. BUSCA E APREENSÃO FUNDAMENTADA. VERIFICAÇÃO DE QUE NO LOCAL FUNCIONAVA


ESCRITÓRIO DE ADVOCACIA. NECESSIDADE DE FUNDAMENTAÇÃO ESPECÍFICA. AUSÊNCIA DE COMUNICAÇÃO
AO MAGISTRADO ANTES DA EXECUÇÃO DA MEDIDA. IMPOSSIBILIDADE DE EXECUÇÃO EM SITUAÇÃO DISTINTA
DAQUELA DETERMINADA NA ORDEM JUDICIAL. NULIDADE DAS PROVAS COLHIDAS. ORDEM CONCEDIDA. 1. O
sigilo profissional constitucionalmente determinado não exclui a possibilidade de cumprimento de mandado
de busca e apreensão em escritório de advocacia. O local de trabalho do advogado, desde que este seja
investigado, pode ser alvo de busca e apreensão, observando-se os limites impostos pela autoridade judicial.
2. Tratando-se de local onde existem documentos que dizem respeito a outros sujeitos não investigados, é
indispensável a especificação do âmbito de abrangência da medida, que não poderá ser executada sobre a
esfera de direitos de não investigados. 3. Equívoco quanto à indicação do escritório profissional do paciente,
como seu endereço residencial, deve ser prontamente comunicado ao magistrado para adequação da ordem
em relação às cautelas necessárias, sob pena de tornar nulas as provas oriundas da medida e todas as outras
exclusivamente delas decorrentes. 4. Ordem concedida para declarar a nulidade das provas oriundas da busca e
apreensão no escritório de advocacia do paciente, devendo o material colhido ser desentranhado dos autos do
INQ 544 em curso no STJ e devolvido ao paciente, sem que tais provas, bem assim quaisquer das informações
oriundas da execução da medida, possam ser usadas em relação ao paciente ou a qualquer outro investigado,
nesta ou em outra investigação.

(HC 91610, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Segunda Turma, julgado em 08/06/2010, DJe-200, PUBLIC 22-10-
2010 EMENT VOL-02420-02 PP-00237 RTJ VOL-00216- PP-00346)

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9.  Imunidade
Direito de Imunidade
A compreensão das imunidades concedidas aos advogados precisa começar na Constituição
Federal. O art. 133 traça um paralelo entre a indispensabilidade do advogado e a inviolabilidade
que lhe é concedida no exercício da profissão. Mais uma vez, trata-se de uma forma de
resguardar o exercício livre e pleno da advocacia. O mesmo artigo ainda prevê que essa
inviolabilidade por atos e manifestações no exercício da profissão será limitada pela lei – que
determinará a extensão desse direito e qual a sua natureza.

Art. 133. O advogado é indispensável à administração da justiça, sendo inviolável por seus atos e manifestações
no exercício da profissão, nos limites da lei.

Essa é a função estabelecida pelo art. 7º, §2º do Estatuto da Advocacia e da OAB, que especifica
até que ponto vai a imunidade profissional concedida ao advogado.

§ 2º O advogado tem imunidade profissional, não constituindo injúria, difamação ou desacato puníveis qualquer
manifestação de sua parte, no exercício de sua atividade, em juízo ou fora dele, sem prejuízo das sanções
disciplinares perante a OAB, pelos excessos que cometer.  

O artigo acima prevê que, durante o exercício da advocacia, em juízo ou não, nenhuma
manifestação advinda do advogado constituirá injúria ou difamação puníveis. É preciso se
atentar a dois aspectos importantes dessa oração, averiguados a seguir.

OS TIPOS PENAIS
Vamos relembrar no que constitui os tipos penais de injúria e difamação.

INJÚRIA – a injúria é um tipo de ofensa à honra subjetiva, na qual o agente imputa uma
qualidade negativa a outrem, ofendendo-lhe sua dignidade (atributos morais) ou decoro
(atributos físicos ou intelectuais). Nestes casos, não se discute a veracidade da afirmação,
que não pode ser auferida por conta de seu caráter subjetivo. Conforme determina o Código
Penal:

Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:

Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. [...]

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DIFAMAÇÃO – a difamação, por outro lado, afeta a honra objetiva. O agente imputa a outrem
um fato que não é definido como crime, mas é desonroso - é, basicamente, falar mal dos
outros. Não importa se a afirmação é verdadeira ou não, a partir do momento que terceiros
ficaram sabendo da ofensa, foi configurado o tipo penal. De acordo com o Código Penal:

Art. 139 - Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação:

Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.

 O STF decidiu na ADIN 1127 suprimir o desacato como uma das imunidades dos advogados
em defesa da administração pública, de tal forma que agora “VIII - A imunidade profissional
do advogado não compreende o desacato, pois conflita com a autoridade do magistrado na
condução da atividade jurisdicional.”

DA PUNIBILIDADE
É importante destacar o fato de que a lei prevê a não punibilidade de tais crimes, mas isso não
significa que eles não foram configurados. Além do Estatuto da Advocacia e da OAB, o Código
Penal, em seu art. 142, também prevê que não se punirá injúria ou difamação proferida em
juízo.

Art. 142 - Não constituem injúria ou difamação punível:

I - a ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou por seu procurador [...]

Portanto, o que acontece é que os crimes são sim configurados, mas não são passíveis de
punição, já que essa punição seria incompatível com o livre exercício da advocacia – atuaria
como um limitador das ações e manifestações do advogado, possivelmente prejudicando a
defesa de seu cliente. A essa conclusão chega Juarez Cirino dos Santos, no livro Estatuto da
Advocacia e da OAB Comentado:

A questão central, porém, é outra: em ambos os casos (CP e Estatuto), a lei diz que a ofensa
(em juízo) ou a manifestação (no exercício da atividade) não constitui injúria ou difamação
punível – mas não diz que a ofensa (CP) ou a manifestação (Estatuto) não constitui injúria ou
difamação. Em outras palavras: em ambos os casos existe o tipo de injusto – o que não
existe é a punibilidade do tipo de injusto, por razões de emoção (CP) ou de incompatibilidade
com a advocacia (Estatuto). (PIOVEZAN; FREITAS, 2015)

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Das sanções pelo excesso
Como podemos observar, embora o advogado possua algumas imunidades profissionais, o
fato de não ser punido por aquele crime não impede que sofra sanções disciplinares perante
a OAB por conta dos excessos que cometer. Mas que tipo de excessos seriam esses?

[...] a utilização deliberada de termos ofensivos em peça processual ou no exercício da advocacia, contra partes,
representantes processuais ou juiz, pode caracterizar excesso determinante de violações éticas com sanções
disciplinares ou de violações civis com sanções indenizatórias. (PIOVEZAN; FREITAS, 2015)

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10.  Direitos da Advogada​

Os direitos da advogada são relativamente recentes, advindos de uma alteração no Estatuto


da Advocacia e da OAB. A Lei 13.363 de 25 de novembro de 2016, insere o art. 7º-A, que traz
tutela os direitos da advogada gestante, lactante ou adotante.

Art. 7º-A. São direitos da advogada:

I - gestante:

a) entrada em tribunais sem ser submetida a detectores de metais e aparelhos de raios X;

b) reserva de vaga em garagens dos fóruns dos tribunais;

II - lactante, adotante ou que der à luz, acesso a creche, onde houver, ou a local adequado ao atendimento das
necessidades do bebê;

III - gestante, lactante, adotante ou que der à luz, preferência na ordem das sustentações orais e das audiências
a serem realizadas a cada dia, mediante comprovação de sua condição;

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IV - adotante ou que der à luz, suspensão de prazos processuais quando for a única patrona da causa, desde
que haja notificação por escrito ao cliente. […]

Direitos da Advogada Gestante


À advogada gestante são reservados os seguintes direitos: vaga reservada na garagem dos
fóruns dos tribunais, entrada em tribunais sem necessidade de submetimento à raio x e
detectores de metal e preferência na ordem das sustentações orais e das audiências de cada
dia - desde que comprovem sua condição.

Direitos da Advogada Lactante


À advogada lactante, aquela que está amamentando o seu bebê, são garantidos os direitos
de preferência na ordem das sustentações orais e das audiências realizadas a cada dia –
desde que comprovem sua condição – bem como, acesso a creche ou lugar adequado para
atender as necessidades do bebê.

Direitos da Advogada Adotante ou que der à luz


Advogadas que adotam ou dão a luz se tornam mães e assumem outras responsabilidades
que não possuíam. É reservado a elas o direito de preferência na ordem das sustentações
orais e das audiências de cada dia – também mediante comprovação da situação – além de
suspensão dos prazos processuais quando for a única patrona da causa, desde que avise o
cliente por escrito.

Duração dos direitos


O artigo em questão estabelece, em seus parágrafos 1º, 2º e 3º, a duração prevista para
concessão de cada um dos direitos.

DAS ADVOGADAS GESTANTES E LACTANTES


O que caracteriza uma advogada como gestante ou lactante, é o estado em que se encontram
– de gestação ou amamentação do bebê. Por esse motivo, os direitos que lhes são concedidos
durarão enquanto persistir o estado gravídico e o período de amamentação.

§ 1o  Os direitos previstos à advogada gestante ou lactante aplicam-se enquanto perdurar, respectivamente, o
estado gravídico ou o período de amamentação.

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DAS ADVOGADAS ADOTANTES E/OU QUE DERAM À LUZ
O §2º nos traz uma informação muito importante: a concordância do EOAB com a CLT. De
acordo com o que prevê, os direitos de acesso a creche ou local que atenda as necessidades
do bebê, bem como preferência na ordem das sustentações orais e audiência, devem respeitar
os prazos estabelecidos pela Consolidação das Leis do Trabalho.

Art. 7º-A, § 2o  Os direitos assegurados nos incisos II e III deste artigo à advogada adotante ou que der à luz serão
concedidos pelo prazo previsto no art. 392 do Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943 (Consolidação das
Leis do Trabalho).

São eles:

CLT, Art. 392. A empregada gestante tem direito à licença-maternidade de 120 (cento e vinte) dias, sem
prejuízo do emprego e do salário.

§ 1o A empregada deve, mediante atestado médico, notificar o seu empregador da data do início do afastamento
do emprego, que poderá ocorrer entre o 28º (vigésimo oitavo) dia antes do parto e ocorrência deste.

§ 2o Os períodos de repouso, antes e depois do parto, poderão ser aumentados de 2 (duas) semanas cada um,
mediante atestado médico.

§ 3o Em caso de parto antecipado, a mulher terá direito aos 120 (cento e vinte) dias previstos neste artigo. [...]

Além disso, o art. 7º-A, do EOAB, apresenta mais uma estipulação de prazo, referente ao
direito de suspensão dos prazos processuais das advogadas adotantes ou que acabaram de
dar à luz.

§ 3º O direito assegurado no inciso IV deste artigo à advogada adotante ou que der à luz será
concedido pelo prazo previsto no § 6o do art. 313 da Lei no 13.105, de 16 de março de 2015
(Código de Processo Civil).

O prazo segue em conformidade com o estabelecido pelo Código de Processo Civil, que traz
um período de suspensão de 30 dias, contados a partir da data do parto ou da concessão da
adoção – mediante apresentação do respectivo documento.

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Art. 313.  Suspende-se o processo:

IX - pelo parto ou pela concessão de adoção, quando a advogada responsável pelo processo constituir a única
patrona da causa [...]

§ 6o  No caso do inciso IX, o período de suspensão será de 30 (trinta) dias, contado a partir da data do parto
ou da concessão da adoção, mediante apresentação de certidão de nascimento ou documento similar que
comprove a realização do parto, ou de termo judicial que tenha concedido a adoção, desde que haja notificação
ao cliente. [...]

Tabela-resumo

ADOTANTE OU
GESTANTE LACTANTE
QUE DER À LUZ

ENTRADA NOS FÓRUNS SEM PRECISAR


PASSAR POR DETECTORES DE METAIS E X  -  -
APARELHOS DE RAIO X
VAGAS RESERVADAS NA GARAGEM DOS FÓRUNS


PREFERÊNCIA NA ORDEM DE
X X X
SUSTENTAÇÃO ORAL E AUDIÊNCIAS DO DIA
ACESSO À CRECHE E LOCAL ADEQUADO ÀS
 - X X
NECESSIDADES DO BEBÊ

SUSPENSÃO DOS PRAZOS PROCESSUAIS


-   - X
QUANDO FOR A ÚNICA PATRONA DA CAUSA

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Ética Profissional e
Estatuto da OAB -
Direitos dos Advogados

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