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INSTITUTO ANA ROSA: UM ESTUDO SOCIOLÓGICO DO ACOLHIMENTO DE JOVENS

(SÉCULO XIX AO INÍCIO DO XXI)

José Lucas Miranda d’ Ávila e Costa

Marcos Cesar Alvarez

Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas /Universidade de São


Paulo

joselucas1998@usp.br

Objetivos contemporaneidade e suas implicações


estigmatizantes, tais como o discurso de
Conhecer a função do Instituto e
como esta se modifica com o passar do que ao jovem pobre cabe a ocupação
tempo, a partir de demandas internas e de integral de seu tempo, pois qualquer
determinações consoantes com a espaço ocioso pode levá-lo
alteração da legislação que, ao longo do inexoravelmente à infrações criminais. Esta
processo histórico, exigem adaptações percepção, além de ser verificada a partir
deste espaço, sendo que, em determinado do extermínio de jovens negros nas
momento, o Estado define que cabe a ele
periferias e bolsões de pobreza em nosso
a guarda e tutela de menores infratores e
desta forma como o Instituto, por fim, país, determinou uma mentalidade que
adapta suas funções, até chegar ao define formas de olhar, educar e punir as
formato de atendimento atual; crianças e os jovens em situação de
1. Analisar criticamente a partir de vulnerabilidade ou dentro dum contexto
documentação, legislação, depoimentos e geográfico, de gênero e ascendência
bibliografia, usando o recorte histórico do racial, muitas vezes criados em famílias de
período pós-abolição até a atualidade, mães e avós sobrecarregadas com
como a sociedade percebe e lida com diversas funções dentro de suas casas e
crianças e adolescentes oriundos de no mundo do trabalho, em que baixos
setores sociais com poucos recursos salários e jornadas extenuantes são uma
econômicos, inseridos no contexto da realidade dominante;
herança escravocrata e seus
desdobramentos, até nossa
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2. Refletir sobre o modelo educacional de meninos em situação de


que, ao longo do recorte histórico de nossa vulnerabilidade, como lugares
pesquisa pode ter influenciado na vida caracterizados como abusivos e violadores
destes jovens e qual é o limite da de direitos fundamentais dos seus
instituição educacional para outros fatores frequentadores; além disso, almejamos
que interferem no progresso da juventude desconstruir o olhar costumeiro e
que é atendida neste espaço de formação. reducionista de quem seriam estes jovens
abrigados e acolhidos.
3- Analisar e problematizar a questão da
Para atingir nossos objetivos, pretendemos
infância frente à opinião pública,
principalmente ao que diz respeito à analisar documentos e arquivos que
associação de jovens abandonados à existem no acervo do Instituto, para
delinquência e à lascividade. Em outras conhecermos o cotidiano da Instituição,
palavras, pretendemos realizar um desde os tempos mais remotos do seu
panorama histórico do desenvolvimento funcionamento, a vida e rotina dos
deste discurso, questionando e menores neste espaço, até os dias atuais.
desconstruindo termos estigmatizantes
Outros arquivos que sejam elucidativos
como ‘‘menores’’ ‘‘infratores’’
‘‘vagabundos’’ e ‘‘delinquentes’’ para constituirmos um olhar mais profundo
sobre o assunto também serão
4- Questionar o método pedagógico,
considerados.
apenas direcionado ao mercado de
trabalho no Brasil, em detrimento de uma Análises de textos jornalísticos, com um
pedagogia mais libertária, discutindo recorte histórico de 3 períodos específicos
criticamente a socialização de crianças e do Brasil: 1925, mesma década da
adolescentes e as as falhas do Estado formulação do código de menores de 1927.
brasileira frente à situação da juventude. Década de 70, período da Ditadura Militar
no Brasil, mesma década da criação do
código de Menores de 1979 e da criação
da Fundação Estadual para o Bem Estar
do Menor(FEBEM) atual Fundação casa

A partir da análise de depoimentos


Métodos e Procedimentos colhidos pelos autores da pesquisa em
questão junto a ex-alunos, ex-funcionários
e pais de jovens que frequentaram ou
Pretendemos investigar a problemática
ainda frequentam o Instituto almejamos
presente nos discursos de punição e de
jogar luz à relação destas pessoas com o
disciplinarização dos menores em situação
espaço da Instituição e desta forma
de risco no Brasil, desconstruindo também
agregar a memória afetiva com as funções
estereótipos construídos ao longo da
do lugar frequentado e seu legado.
história sobre as instituições acolhedoras
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Pretendemos ademais, realizar uma coleta


de textos que sustentam a nossa
fundamentação teórica e fonte material,
julgamos necessário pesquisar a legislação
específica a respeito de jovens e
adolescentes ao longo da história do país e
a influência na sociedade e nas instituições
voltadas ao trabalho com esse público.
Neste sentido, destacamos os textos do
Professor Marcos César Alvarez e da
pesquisadora Elaine Marina Bernal, que
discorrem a respeito do discurso jurídico
sobre a questão da juventude antes, Resultados
durante e após a criação do código de
menores de 1927 e da questão da
Podemos inserir os seguintes
proteção de crianças e adolescentes no
resultados preliminares obtidos em nossa
Brasil, investigando qual efeito este código pesquisa:
teve nas normas e na gestão do Instituto. 1-O discurso de associação da infância
Em nossa pesquisa, a abordagem de pobre com a ‘‘marginalidade’’
conceitos teóricos erigidos a partir da área No século 19, desenvolveram-se uma série de
teorias pseudo-científicas que justificaram a
da Sociologia da Infância serão um apoio punição e exclusão de jovens em situação de
fundamental para compreender a realidade abandono, ausente de um projeto pedagógico e
e servir de apoio à reflexões propositivas protetor à infância abandonada, além disso o
que contribuam para o aprimoramento do discurso dos códigos de lei ‘’protetoras’’ à
infância condenavam os ditos ‘’desvios
atendimento de nossas crianças e morais’’ de crianças e adolescentes
adolescentes. abandonados eram estruturados em ideias
pseudocientíficas desenvolvidas pela eugenia e
a frenologia, desenvolvida no final do século 19

2- Detalhamento do conteúdo dos


códigos de proteção infância

Observamos em nossas análises que os


respectivos códigos de ‘’proteção’’ à
infância passaram por uma série de
alterações e modificações, dependendo da
contextualização e conjuntura política no
país em primeiro lugar observamos um
trecho do código de menores de 1927:
‘’ V, que se encontrem em estado habitual do
vadiagem, mendicidade ou libertinagem;
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VI, que frequentem logares de jogo ou de abandonada se manteve, e mais do que


moralidade duvidosa, ou andem na companhia isso, se tornou mais severo e ostensivo,
de gente viciosa ou de má vida.’’ podemos verificar, nesta legislação os
ral dos jovens considerada adequada pelo seguintes elementos:
estado brasileiro, proibindo os jovens a ‘’Das infrações:
frequentarem espaços inadequados como Art. 63. Divulgar, total ou parcialmente, sem
jogatinas e bares, mas que curiosamente autorização devida, por qualquer meio de
se opôs aos maus-tratos dirigidos contra a comunicação, nome, atos ou documentos de
juventude abandonada. Porém, isso não procedimento judicial relativo a menor’’.
significa que este código continha o Pena multa de até cinquenta valores de
mesmo caráter preventivo e pedagógico referência.
que o atual Estatuto da Criança e do (...)Cena, peça, amostra ou congênere, bem
Adolescente defende e preza, podemos como propaganda comercial de qualquer
natureza, cujo limite de proibição esteja acima
observar isto, na seguinte passagem:
do fixado, para os menores admitidos ao
espetáculo.’’
‘’As multa de 100$ a 1:000$, além das mais
penas que forem applicaveis.
Art. 61. Si menores de idade inferior a 18
annos forem achados vadiando ou Verificamos que o código de ‘’menores’’ de
mendigando, serão apprehedidos a 1979, impõe um controle absoluto do
apresentados á autoridade judicial, a qual estado brasileiro sobre as criança e
poderá. adolescentes, e mais do que isso, este
I. Si a vadiagem ou mendicidade não fôr código não possui qualquer proposta de
habitual: combate ao trabalho infantil como
a) reprehendol-os o os entregar ás pessoas podemos verifcar no seguinte artigo:
que os tinham sob sua guarda, intimando estas
a velar melhor por eIles;
b) confial-os até A idade de 18 annos a uma ‘’Art. 83 . A proteção ao trabalho do menor é
regulada por legislação especial.’’
pessoa idonea, uma sociedade em uma
instituição de caridade ou de ensino publico ou
privada.(...) Evidentemente esta passagem apresenta
u‘’ma séria contradição: ao mesmo tempo
Constatamos que embora este código que defende a proteção ao trabalho de
tenha sido um marco importante na crianças e adolescentes, naturaliza o
proteção à infância desprovida, ainda deixa trabalho infantil, que apenas será discutido
no atual ECA, como podemos observar
muito a desejar principalmente no que se
aqui:
refere à medidas socioeducativas e
preventivas à ‘‘delinquência’’ e ao ‘’Art. 60. É proibido qualquer trabalho a
abandono, algo que não sofreu mudanças menores de quatorze anos de idade, salvo na
significativas no já mencionado código de condição de aprendiz. (Vide Constituição
Federal)
menores de 1979 pois no mesmo, o
discurso de condenação à juventude
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Art. 61. A proteção ao trabalho dos preventivo contra o abandono e abusos


adolescentes é regulada por legislação contra a juventude brasileira.
especial, sem prejuízo do disposto nesta Lei.

‘’

O Instituto Ana Rosa hoje:


Conforme verificamos no mais recente
relatório de atividades do Instituto que
possuímos, atualmente o Ana Rosa atende
de maneira gratuita em seu CEI(Centro de
Educação Infantil) 288 crianças de 4
meses aos 4 anos de idade, de segunda a
sexta em um período de 10 horas.Além
disso está equipado com 44 funcio diretos,
com apoio outras áreas do Instituto,
amparados por trabalho voluntário.
O CCA por sua vez

Conclusões parciais:

Com base nestas informações coletadas


verificamos que os códigos de proteção à
infância e adolescência passaram por uma
série de alterações ao longo dos processos
de transformações sociais e políticas no BIBLIOGRAFIA:
país. Em primeiro lugar, destacamos o
código de menores de 1927, redigido no DECRETO Nº 17.943-A DE 12 DE OUTUBRO
período de urbanização nos moldes DE 1927. Brasil
europeus, que constantemente, aumentou
cada vez mais a marginalização de ALVAREZ, Marcos César, A emergência
famílias de classe mais baixa, e tal código do código de menores de 1927: Uma
apenas buscou criminalizar ainda mais a análise do discurso jurídico e institucional
juventude abandonada. No entanto da assistência e proteção aos menores.
verificamos que o código de menores de Dissertação de Mestrado em Sociologia
79, conseguiu fazê-la de maneira ainda USP, 1988;
mais intensa, ao contrário do ECA que,
apesar das suas limitações nos discursos BRASIL, LEI n°Lei 6.667, de 10 de
de uma democracia burguesa, ainda é um outubro de 1979
marco revolucionário na questão da
proteção à infância, principalmente no que BRASIL, Lei n° 8.069, de 13 de julho de
diz respeito ao seu aspecto pedagógico e 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança
e do 2Adolescente e dá outras
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providências: Diário Oficial da República


Federativa do Brasil.Brasília, DF, 16 de
julho de 1990

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