Este documento apresenta um estudo sociológico sobre o Instituto Ana Rosa, uma instituição que acolheu jovens do século XIX ao início do século XXI. Os objetivos da pesquisa são: 1) Analisar como a sociedade percebe e lida com crianças e adolescentes pobres ao longo do tempo; 2) Refletir sobre os modelos educacionais oferecidos e seus limites; 3) Questionar os discursos estigmatizantes sobre a infância. Os métodos incluem análise documental e legislação, de
Este documento apresenta um estudo sociológico sobre o Instituto Ana Rosa, uma instituição que acolheu jovens do século XIX ao início do século XXI. Os objetivos da pesquisa são: 1) Analisar como a sociedade percebe e lida com crianças e adolescentes pobres ao longo do tempo; 2) Refletir sobre os modelos educacionais oferecidos e seus limites; 3) Questionar os discursos estigmatizantes sobre a infância. Os métodos incluem análise documental e legislação, de
Este documento apresenta um estudo sociológico sobre o Instituto Ana Rosa, uma instituição que acolheu jovens do século XIX ao início do século XXI. Os objetivos da pesquisa são: 1) Analisar como a sociedade percebe e lida com crianças e adolescentes pobres ao longo do tempo; 2) Refletir sobre os modelos educacionais oferecidos e seus limites; 3) Questionar os discursos estigmatizantes sobre a infância. Os métodos incluem análise documental e legislação, de
INSTITUTO ANA ROSA: UM ESTUDO SOCIOLÓGICO DO ACOLHIMENTO DE JOVENS
(SÉCULO XIX AO INÍCIO DO XXI)
José Lucas Miranda d’ Ávila e Costa
Marcos Cesar Alvarez
Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas /Universidade de São
Paulo
joselucas1998@usp.br
Objetivos contemporaneidade e suas implicações
estigmatizantes, tais como o discurso de Conhecer a função do Instituto e como esta se modifica com o passar do que ao jovem pobre cabe a ocupação tempo, a partir de demandas internas e de integral de seu tempo, pois qualquer determinações consoantes com a espaço ocioso pode levá-lo alteração da legislação que, ao longo do inexoravelmente à infrações criminais. Esta processo histórico, exigem adaptações percepção, além de ser verificada a partir deste espaço, sendo que, em determinado do extermínio de jovens negros nas momento, o Estado define que cabe a ele periferias e bolsões de pobreza em nosso a guarda e tutela de menores infratores e desta forma como o Instituto, por fim, país, determinou uma mentalidade que adapta suas funções, até chegar ao define formas de olhar, educar e punir as formato de atendimento atual; crianças e os jovens em situação de 1. Analisar criticamente a partir de vulnerabilidade ou dentro dum contexto documentação, legislação, depoimentos e geográfico, de gênero e ascendência bibliografia, usando o recorte histórico do racial, muitas vezes criados em famílias de período pós-abolição até a atualidade, mães e avós sobrecarregadas com como a sociedade percebe e lida com diversas funções dentro de suas casas e crianças e adolescentes oriundos de no mundo do trabalho, em que baixos setores sociais com poucos recursos salários e jornadas extenuantes são uma econômicos, inseridos no contexto da realidade dominante; herança escravocrata e seus desdobramentos, até nossa INSTITUTO ANA ROSA: UM ESTUDO SOCIOLÓGICO DO ACOLHIMENTO DE JOVENS (SÉCULO XIX AO INÍCIO DO XXI)
2. Refletir sobre o modelo educacional de meninos em situação de
que, ao longo do recorte histórico de nossa vulnerabilidade, como lugares pesquisa pode ter influenciado na vida caracterizados como abusivos e violadores destes jovens e qual é o limite da de direitos fundamentais dos seus instituição educacional para outros fatores frequentadores; além disso, almejamos que interferem no progresso da juventude desconstruir o olhar costumeiro e que é atendida neste espaço de formação. reducionista de quem seriam estes jovens abrigados e acolhidos. 3- Analisar e problematizar a questão da Para atingir nossos objetivos, pretendemos infância frente à opinião pública, principalmente ao que diz respeito à analisar documentos e arquivos que associação de jovens abandonados à existem no acervo do Instituto, para delinquência e à lascividade. Em outras conhecermos o cotidiano da Instituição, palavras, pretendemos realizar um desde os tempos mais remotos do seu panorama histórico do desenvolvimento funcionamento, a vida e rotina dos deste discurso, questionando e menores neste espaço, até os dias atuais. desconstruindo termos estigmatizantes Outros arquivos que sejam elucidativos como ‘‘menores’’ ‘‘infratores’’ ‘‘vagabundos’’ e ‘‘delinquentes’’ para constituirmos um olhar mais profundo sobre o assunto também serão 4- Questionar o método pedagógico, considerados. apenas direcionado ao mercado de trabalho no Brasil, em detrimento de uma Análises de textos jornalísticos, com um pedagogia mais libertária, discutindo recorte histórico de 3 períodos específicos criticamente a socialização de crianças e do Brasil: 1925, mesma década da adolescentes e as as falhas do Estado formulação do código de menores de 1927. brasileira frente à situação da juventude. Década de 70, período da Ditadura Militar no Brasil, mesma década da criação do código de Menores de 1979 e da criação da Fundação Estadual para o Bem Estar do Menor(FEBEM) atual Fundação casa
A partir da análise de depoimentos
Métodos e Procedimentos colhidos pelos autores da pesquisa em questão junto a ex-alunos, ex-funcionários e pais de jovens que frequentaram ou Pretendemos investigar a problemática ainda frequentam o Instituto almejamos presente nos discursos de punição e de jogar luz à relação destas pessoas com o disciplinarização dos menores em situação espaço da Instituição e desta forma de risco no Brasil, desconstruindo também agregar a memória afetiva com as funções estereótipos construídos ao longo da do lugar frequentado e seu legado. história sobre as instituições acolhedoras INSTITUTO ANA ROSA: UM ESTUDO SOCIOLÓGICO DO ACOLHIMENTO DE JOVENS (SÉCULO XIX AO INÍCIO DO XXI)
Pretendemos ademais, realizar uma coleta
de textos que sustentam a nossa fundamentação teórica e fonte material, julgamos necessário pesquisar a legislação específica a respeito de jovens e adolescentes ao longo da história do país e a influência na sociedade e nas instituições voltadas ao trabalho com esse público. Neste sentido, destacamos os textos do Professor Marcos César Alvarez e da pesquisadora Elaine Marina Bernal, que discorrem a respeito do discurso jurídico sobre a questão da juventude antes, Resultados durante e após a criação do código de menores de 1927 e da questão da Podemos inserir os seguintes proteção de crianças e adolescentes no resultados preliminares obtidos em nossa Brasil, investigando qual efeito este código pesquisa: teve nas normas e na gestão do Instituto. 1-O discurso de associação da infância Em nossa pesquisa, a abordagem de pobre com a ‘‘marginalidade’’ conceitos teóricos erigidos a partir da área No século 19, desenvolveram-se uma série de teorias pseudo-científicas que justificaram a da Sociologia da Infância serão um apoio punição e exclusão de jovens em situação de fundamental para compreender a realidade abandono, ausente de um projeto pedagógico e e servir de apoio à reflexões propositivas protetor à infância abandonada, além disso o que contribuam para o aprimoramento do discurso dos códigos de lei ‘’protetoras’’ à infância condenavam os ditos ‘’desvios atendimento de nossas crianças e morais’’ de crianças e adolescentes adolescentes. abandonados eram estruturados em ideias pseudocientíficas desenvolvidas pela eugenia e a frenologia, desenvolvida no final do século 19
2- Detalhamento do conteúdo dos
códigos de proteção infância
Observamos em nossas análises que os
respectivos códigos de ‘’proteção’’ à infância passaram por uma série de alterações e modificações, dependendo da contextualização e conjuntura política no país em primeiro lugar observamos um trecho do código de menores de 1927: ‘’ V, que se encontrem em estado habitual do vadiagem, mendicidade ou libertinagem; INSTITUTO ANA ROSA: UM ESTUDO SOCIOLÓGICO DO ACOLHIMENTO DE JOVENS (SÉCULO XIX AO INÍCIO DO XXI)
VI, que frequentem logares de jogo ou de abandonada se manteve, e mais do que
moralidade duvidosa, ou andem na companhia isso, se tornou mais severo e ostensivo, de gente viciosa ou de má vida.’’ podemos verificar, nesta legislação os ral dos jovens considerada adequada pelo seguintes elementos: estado brasileiro, proibindo os jovens a ‘’Das infrações: frequentarem espaços inadequados como Art. 63. Divulgar, total ou parcialmente, sem jogatinas e bares, mas que curiosamente autorização devida, por qualquer meio de se opôs aos maus-tratos dirigidos contra a comunicação, nome, atos ou documentos de juventude abandonada. Porém, isso não procedimento judicial relativo a menor’’. significa que este código continha o Pena multa de até cinquenta valores de mesmo caráter preventivo e pedagógico referência. que o atual Estatuto da Criança e do (...)Cena, peça, amostra ou congênere, bem Adolescente defende e preza, podemos como propaganda comercial de qualquer natureza, cujo limite de proibição esteja acima observar isto, na seguinte passagem: do fixado, para os menores admitidos ao espetáculo.’’ ‘’As multa de 100$ a 1:000$, além das mais penas que forem applicaveis. Art. 61. Si menores de idade inferior a 18 annos forem achados vadiando ou Verificamos que o código de ‘’menores’’ de mendigando, serão apprehedidos a 1979, impõe um controle absoluto do apresentados á autoridade judicial, a qual estado brasileiro sobre as criança e poderá. adolescentes, e mais do que isso, este I. Si a vadiagem ou mendicidade não fôr código não possui qualquer proposta de habitual: combate ao trabalho infantil como a) reprehendol-os o os entregar ás pessoas podemos verifcar no seguinte artigo: que os tinham sob sua guarda, intimando estas a velar melhor por eIles; b) confial-os até A idade de 18 annos a uma ‘’Art. 83 . A proteção ao trabalho do menor é regulada por legislação especial.’’ pessoa idonea, uma sociedade em uma instituição de caridade ou de ensino publico ou privada.(...) Evidentemente esta passagem apresenta u‘’ma séria contradição: ao mesmo tempo Constatamos que embora este código que defende a proteção ao trabalho de tenha sido um marco importante na crianças e adolescentes, naturaliza o proteção à infância desprovida, ainda deixa trabalho infantil, que apenas será discutido no atual ECA, como podemos observar muito a desejar principalmente no que se aqui: refere à medidas socioeducativas e preventivas à ‘‘delinquência’’ e ao ‘’Art. 60. É proibido qualquer trabalho a abandono, algo que não sofreu mudanças menores de quatorze anos de idade, salvo na significativas no já mencionado código de condição de aprendiz. (Vide Constituição Federal) menores de 1979 pois no mesmo, o discurso de condenação à juventude INSTITUTO ANA ROSA: UM ESTUDO SOCIOLÓGICO DO ACOLHIMENTO DE JOVENS (SÉCULO XIX AO INÍCIO DO XXI)
Art. 61. A proteção ao trabalho dos preventivo contra o abandono e abusos
adolescentes é regulada por legislação contra a juventude brasileira. especial, sem prejuízo do disposto nesta Lei.
‘’
O Instituto Ana Rosa hoje:
Conforme verificamos no mais recente relatório de atividades do Instituto que possuímos, atualmente o Ana Rosa atende de maneira gratuita em seu CEI(Centro de Educação Infantil) 288 crianças de 4 meses aos 4 anos de idade, de segunda a sexta em um período de 10 horas.Além disso está equipado com 44 funcio diretos, com apoio outras áreas do Instituto, amparados por trabalho voluntário. O CCA por sua vez
Conclusões parciais:
Com base nestas informações coletadas
verificamos que os códigos de proteção à infância e adolescência passaram por uma série de alterações ao longo dos processos de transformações sociais e políticas no BIBLIOGRAFIA: país. Em primeiro lugar, destacamos o código de menores de 1927, redigido no DECRETO Nº 17.943-A DE 12 DE OUTUBRO período de urbanização nos moldes DE 1927. Brasil europeus, que constantemente, aumentou cada vez mais a marginalização de ALVAREZ, Marcos César, A emergência famílias de classe mais baixa, e tal código do código de menores de 1927: Uma apenas buscou criminalizar ainda mais a análise do discurso jurídico e institucional juventude abandonada. No entanto da assistência e proteção aos menores. verificamos que o código de menores de Dissertação de Mestrado em Sociologia 79, conseguiu fazê-la de maneira ainda USP, 1988; mais intensa, ao contrário do ECA que, apesar das suas limitações nos discursos BRASIL, LEI n°Lei 6.667, de 10 de de uma democracia burguesa, ainda é um outubro de 1979 marco revolucionário na questão da proteção à infância, principalmente no que BRASIL, Lei n° 8.069, de 13 de julho de diz respeito ao seu aspecto pedagógico e 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do 2Adolescente e dá outras INSTITUTO ANA ROSA: UM ESTUDO SOCIOLÓGICO DO ACOLHIMENTO DE JOVENS (SÉCULO XIX AO INÍCIO DO XXI)
providências: Diário Oficial da República
Federativa do Brasil.Brasília, DF, 16 de julho de 1990