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DITADURA MILITAR no Brasil

1964 - 1985: Os anos de trevas


Há 41 anos o Brasil ficou nas mãos dos militares, vivendo sob um regime ditatorial.

No dia 31 de março de 1964 o Brasil sofreu um Golpe de Estado. Desde a renúncia de Jânio Quadros,
em 1961, o país veio se arrastando numa crise política, agravada com a posse de João Goulart na
Presidência da República.

Os três anos do governo de Goulart foram marcados pelos movimentos de organizações sociais de
esquerda, que ganharam cada vez mais espaço, e com a reação imediata de insatisfação dos
conservadores da direita.

Empresários, militares, Igreja Católica e classe média, temendo o domínio do socialismo com um
golpe comunista (na época o mundo estava vivendo a Guerra Fria) começaram a se articular para
derrubar o populista João Goulart e suas Reformas de Base. Assim, os conservadores organizaram a
Marcha da Família com Deus pela Liberdade, em São Paulo.

O processo de crise política aumentava, com tropas saindo às ruas e com isso, temendo uma guerra
civil, Goulart foi embora para o Uruguai.

Vaga a Presidência, os militares tomaram o poder no dia 1° de abril de 1964. Oito dias depois era
decretado o Ato Institucional N°1 (AI-1) cassando os mandatos políticos dos opositores ao novo
regime, a estabilidade dos funcionários públicos, a vitaliciedade dos magistrados etc.

Segundo o historiador Cid Teixeira, os militares conseguiram assumir o poder porque estavam
estruturalmente melhor organizados, diferentemente das forças progressistas, absolutamente
desorganizadas. “Tornou-se fácil para a ditadura militar assumir, pois o governo populista de João
Goulart foi politicamente e ideologicamente fraco”, afirmou Cid Teixeira.

Eleito pelo Congresso Nacional no dia 11 de abril, o general Castelo Branco foi o primeiro dos
militares a assumir a Presidência do Brasil. Início de 21 anos de ditadura militar, mais quatro
generais vestiram a faixa presidencial: Costa e Silva, Emílio Garrastazú Médici, Ernesto Geisel e
João Figueiredo.

Governos militares

• Governo Castelo Branco


• Governo Costa e Silva
• Governo da Junta Militar
• Governo Médici
• Governo Geisel
• Governo Figueiredo
Presidente Castelo Branco

GOVERNO CASTELO BRANCO

No dia 11 de abril de 1964, o marechal Humberto de Alencar Castelo Branco era eleito Presidente da
República, prometendo a entrega do poder a um civil em 1966.

Durante o seu mandato (estendido até março de 1967) foram baixados três Atos Institucionais,
ocorrendo cassações de mandatos federais e estaduais, transferência ao Congresso para escolha do
presidente, além de dissolver os partidos políticos.

Assim, somente os partidos da Arena (Aliança Renovadora Nacional) e o MDB (Movimento


Democrático Brasileiro), de oposição, estavam autorizados a funcionar, instituindo-se o
bipartidarismo.

“O general Castelo Branco não era um militar no sentido linha dura da palavra. Ele assumiu o
governo com boas intenções”, disse o historiador Cid Teixeira. “Na verdade, o general era um pano
de fundo, ou um estandarte de um movimento muito mais consistente, que era de militares na gestão
do país”, disse. Segundo o historiador, o governo de Castelo Branco se caracterizou por um esforço
no sentido de repor o Brasil na linha da democracia.

No primeiro governo ditatorial criou-se o SNI (Serviço Nacional de Informações) –organismo ligado
diretamente ao presidente – dirigido, então, pelo general Golbery do Couto e Silva. O SNI realizava
em segredo todas as investigações sobre pessoas, instituições e movimentos que pudessem trazer
qualquer tipo de problema ou perigo para o sistema em vigor.

Uma nova Constituição foi aprovada para o país. A Constituição de 1967 normatizava a ditadura, a
fim de manter o princípio constitucional da legalidade, o que deveria ser respaldado pelos militares
através de suas idéias e ações, que fizesse necessários para um regime totalitário.

GOVERNO COSTA E SILVA

De 1967 a 1969 Arthur da Costa e Silva assumiu o país, eleito indiretamente pelo Congresso. No
primeiro ano o marechal tentou governar dentro de um sistema constitucional, mas isto acabou não
acontecendo devido ao escancaramento ditatorial, em conseqüência do crescente movimento de
oposição ao regime.

Segundo o historiador Cid Teixeira, foi no governo de Costa e Silva que a ditadura militar se mostrou
com todas as suas faces, pois não havia mais o que esconder. “Começamos a assistir violência de
todo tipo, agressões ao direito de toda a ordem”, contou.
A UNE (União Nacional dos Estudantes) promoveu, no Rio de Janeiro, em meados de 68, a
manifestação de luta pelas liberdades públicas chamada de Passeata dos Cem mil. Partindo da
Cinelândia, a passeata era formada por jovens, artistas, padres e deputados, formando a maior vitória
da oposição desde as eleições de 1965. Ao mesmo tempo estavam acontecendo greves operárias em
Contagem (MG) e Osasco (SP).

Pressionado pelos militares da linha dura, Costa e Silva, decretou o Ato Institucional N°5 (AI-5), em
dezembro de 1968 começando no Brasil o mais longo período ditatorial de sua história. Foram 10
anos de violenta repressão política. O presidente determinou o fechamento do Congresso, a cassação
de mandatos parlamentares, a suspensão do direito a habeas-corpus em casos de crimes contra a
segurança nacional e o fim da liberdade de imprensa.

“Nem Pedro I, nem Pedro II, ninguém na história do mundo dispunha de tantos poderes como o
presidente da república do AI-5”, afirmou o historiador Cid Teixeira. “O AI-5 dava mais poderes a
presidência da república do que a qualquer ditador, qualquer rei absoluto que a Idade Média teve”.
Para o historiador, foi o AI-5 que permitiu a abertura de poder para os militares, como nenhum outro
documento na história já deu a alguém.

A partir daí, grupos de esquerda organizaram a guerrilha urbana, realizando os primeiros assaltos a
bancos e seqüestros de embaixadores para a obtenção de fundos.

Em agosto de 1969 Costa e Silva sofre um derrame sendo obrigado a afastar-se da presidência.
Devido ao fato de ser um civil e de se posicionar contra o AI-5 seu vice Pedro Aleixo não assumiu o
poder. Em conseqüência uma junta militar ficou responsável por tomar conta do país.

GOVERNO DA JUNTA MILITAR

Por apenas dois meses de 31 de agosto de 1969 a 30 de outubro do mesmo ano uma junta militar
composta pelos ministros Márcio de Sousa e Melo (Aeronáutica), Aurélio de Lira Tavares (Exército)
e Augusto Rademaker (Marinha), substituiu o marechal Costa e Silva.

No quinto dia da junta militar no poder um grupos de militantes da ALN (Aliança de Libertação
Nacional) e o MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de Outubro) seqüestra o Embaixador americano
no Brasil,Charles Elbrick, no Rio de Janeiro. Pela troca do diplomata os terroristas exigiram a
liberação de 15 presos políticos mandados para o México. No dia 7 de setembro de 1969 Elbrick foi
solto, após a junta militar ceder às exigências feitas pelos militantes.

Onze dias depois, os militares decretaram a Lei de Segurança Nacional (em 18 de setembro de 1969)
com o endurecimento do regime militar, restringindo liberdades e instituindo inclusive a pena de
morte (que não existia no Brasil), para os crimes considerados subversivos.

Ao final de 69, o criador da ALN (Aliança de Libertação Nacional),Carlos Marighella, que


desenvolveu ações armadas contra o regime militar era morto na Alameda Casa Branca, em São
Paulo, por homens do DOPS (Delegacia de Ordem Política e Social).
Presidente Médici

GOVERNO MÉDICI

Freqüentar estádios de futebol sempre com um rádio de pilha ao ouvido e um cigarro na boca eram os
hábitos do terceiro general-presidente, Emílio Garrastazú Médici, eleito pela junta militar. Os Anos
de Chumbo, como era denominado o seu governo começou no segundo semestre de 69 e se estendeu
até o início de 1974.

Foi no governo do gaúcho Médici que a luta armada começou a ficar cada vez mais forte (com
extensão para a guerrilha rural, a exemplo da Guerrilha do Araguaia) por isso, então, em resposta, a
máquina do governo intensificou a repressão no Brasil.

O DOI-CCODI (Destacamento de Operações e Informações ao Centro de Operações de Defesa


Interna) se espalhou por todo país, com torturas aos considerados inimigos do regime.

A contínua supressão das liberdades individuais e uma severa censura à imprensa, livros, filmes,
peças e músicas são marcas de Médici. Artistas como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque
etc tiveram que ser exilados do país. “No governo Médici nós tivemos a ditadura militar sem enfeites
e sem nenhum disfarce”, afirmou o historiador Cid Teixeira.

O Brasil viveu uma época de grande desenvolvimento econômico, no período que vai de 1969 a
1973, chamado de Milagre Econômico. Houve um crescimento da taxa do PIB (Produto Interno
Bruto) de quase 12% ao ano, contra uma inflação que beirava os 18%. O país avançou muito, com
investimentos internos e empréstimos do exterior.
Nesse período, mega-projetos como Transamazônica, Ponte Rio-Niterói e Hidrelétrica de Itaipu
foram realizados. Segundo o historiador Cid Teixeira, grandes obras, como por exemplo, a
construção da Ponte Rio-Niterói foram feitas para agradar as elites brasileiras.

GOVERNO GEISEL

Quarto presidente do ciclo militar, Ernesto Geisel começou um lento processo rumo à democracia,
com o desmonte da ditadura entre 1974 e 1979. O fim do Milagre Econômico, o aumento da inflação
e a crise do petróleo deram início ao governo do general.

Com a abertura política a oposição ganhou espaço, vencendo nos Estados e cidades mais importantes
do país – em 1974 o MDB (Movimento Democrático Brasileiro) conquistou 59% dos votos para o
Senado, 48% na Câmara dos Deputados e venceu as prefeituras da maioria das cidades -. Insatisfeitos
com o governo Geisel, militares da linha dura promoveram ataques a membros da esquerda.

Em 1975 foi suspensa a censura à imprensa. Três anos depois Geisel acabou com o Ato Institucional
N° 5 (AI-5), restaurou o habeas-corpus e criou condições para a abertura política rumo à
redemocratização.

Presidente Figueiredo

GOVERNO FIGUEIREDO

João Baptista de Oliveira Figueiredo assumiu o país em 1979, até 1985.

O último general-presidente a comandar o Brasil, Figueiredo decretou a Lei da Anistia (1979), dando
o direito de retorno ao Brasil para artistas, políticos e demais cidadãos brasileiros exilados por crimes
políticos. Insatisfeitos com os benefícios dados aos terroristas, militares da linha dura continuam
desempenhando a repressão clandestina.

O pluripartidarismo foi restabelecido durante o governo Figueiredo, no ano de 1979, trazendo os


partidos de volta. A ARENA (Aliança Renovadora Nacional) passou a ser PDS (Partido Democrático
Social) e o MDB (Movimento Democrático Brasileiro) tornou PMDB, apenas acrescentando a
palavra partido à sigla. Outros partidos foram criados, como PT (Partido dos Trabalhadores) e PDT
(Partido Democrático Trabalhista).
Um episódio bastante marcante durante o governo de João Figueiredo, foi o atentado ao Riocentro
(1981). Onde ocorreu um atentado frustrado que poderia vitimar milhares de pessoas que assistiam
um show, em comemoração ao dia do trabalhador, porém a bomba que seria utilizada explodiu
momentos antes no carro de seus autores.

Redemocratização

O cenário do Brasil era de uma inflação alta, como de uma recessão também. Partidos de oposição
começaram a surgir e os sindicatos se fortaleceram. O movimento das Diretas Já ganhou forma em
1984, com a participação de artistas, políticos de oposição e milhões de brasileiros, mas a Emenda
Dante de Oliveira (que garantia as eleições diretas) não foi aprovada pela Câmara dos Deputados.

No dia 15 de janeiro de 1985, o Colégio Eleitoral escolheu o primeiro presidente civil, após 21 anos
de ditadura. O deputado Tancredo Neves era eleito indiretamente presidente, mas, por motivos de
uma diverticulite aguda perfurada quem acaba vestindo a faixa presidencial é o seu vice José
Sarney.Carla Menezes

(1964 - 1985)
“Este é tempo de divisas, tempo de gente cortada... É tempo de meio silêncio, de boca gelada e
murmúrio, palavra indireta, aviso na esquina.”

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

“Dormia

A nossa Pátria mãe tão distraída Sem perceber que era subtraída Em tenebrosas transações.”

CHICO BUARQUE DE HOLLANDA

Recife, 1964. Beira da praia, brisa da noite, mansões dos usineiros. As garrafas de champanha são
abertas. Festa. Pessoas bonitas, perfume, olhares de fêmeas, dentes brancos de alegria. As risadas
unem o gozo ao deboche. Vida longa para o novo governo! Que nunca mais se falem em greves nem
nessa maldita terra para os camponeses! Morte aos inimigos da propriedade!

Um pouco longe dali, noite negra e silêncio. De repente, chegam os soldados. Vasculham os
casebres. Procuram os inimigos da pátria. As pessoas simples têm medo. Precisam dormir cedo
porque amanhã têm de ir para roça cortar cana. Mas o olho continua aberto. Só a boca é que
permanece fechada.

No quartel, homens armados de fuzil automático arrastam o ancião. Espancado em praça pública.
Maxilar quebrado por uma coronhada de rifle. Chutaram-lhe tanto os testículos, que arrebentou a
bexiga. Vai urinar sangue por quase um mês, O velho ferido está algemado. Ao seu redor, caminhões
do Exército, berros de oficiais, rádio, holofotes, metralhadoras,

Por que tanto aparato? Por que tantos homens, tantas armas, tanta força bruta? Por que o velhinho é
tão perigoso?
Gregório Bezerra nasceu no sertão. Criancinha, viveu a fome e a prepotência dos latifundiários. Foi
quase um escravo. Brinquedo de menino era enxada e foice, sonho de um dia comer carne-seca.
Nunca viu escola. Só aprendeu a ler e escrever com 24 anos, quando servia o Exército - e nunca mais
deixaria o orgulho de ter sido militar. Pouca instrução, mas o conhecimento da vida e a argúcia do
homem do povo.

Um dia, entrou em contato com aquela gente estranha. Falavam coisas que ele nunca tinha ouvido
mas que, extraordinariamente, parecia já saber. Alguns eram até doutores, mas o tratavam como
igual. Muitos dos estranhos eram como Gregório, como Severino, como José, como tantos outros:
mãos de calo, cara rasgada de sol, trabalho e sofrimento.

Ouviu, refletiu e juntou-se a eles.

Voltava ao canavial, onde o homem perde a perna, ou o juízo, pela picada de cobra, o golpe errado do
facão, o jeito doido de o capataz falar. Mas agora, era ele que tinha o que dizer para contar para os
seus irmãos de labuta. Nos campos, nos mocambos miseráveis, nas portas das usinas e das fábricas,
Gregório seria a voz da consciência dos que ainda não tinham consciência, a posse dos que nada
possuíam. Ele era o homem do povo que descobre sua força e, finalmente, se levanta. Em vez de
lamentar suas misérias, ergue-se para combatê-las.

Sabia falar a língua dos humildes e fazer as perguntas decisivas; a quem pertence? A quem é dado? O
que se deve transformar? Os homens mais poderosos de Pernambuco o temiam. Gregório Bezerra,
velho quase analfabeto, ferido e enjaulado em 1964. Líder camponês, ex-deputado federal, inimigo
do latifúndio. E se um dia todos aqueles homens e mulheres com as mãos grossas e rosto queimado
se transformassem em milhões de Gregórios? Era preciso evitar a qualquer custo.

Por isso, Gregório Bezerra tinha sido preso. Naquele momento, os grandes senhores da terra
comemoravam sua vitória. O reveillon de 1964 acontecia em 31 de março.

Governo Castello Branco (1964 – 1967)

Bem que Leonel Brizola propôs ao presidente Jango resistir ao golpe de 1964 com armas na mão, a
partir do Rio Grande do Sul. Mas o presidente, muito deprimido, não queria derramamento de
sangue. Como milhares de brasileiros, os dois também se exilaram no estrangeiro.

Enquanto isso, no Rio de Janeiro - Copacabana e Ipanema -, a classe média se confraternizava com a
burguesia. Chuva de papel picado, toalhas nas janelas, buzinaço, banda e chope. Abraços, choro de
alegria, alívio pelo fim da desordem. O Brasil estava salvo do comunismo! Os crioulos não
invadiriam mais as casas das pessoas de bem! As empregadinhas voltariam a ficar de cabeça baixa!

Mas nos subúrbios o medo substituía o chope. Ali, a revolução iria procurar os "inimigos do Brasil".
E quem seriam esses monstros? Pessoas simples, enrugadas pelo trabalho duro, mas que tinham
ousado não se curvar; operários, camponeses, sindicalistas.

Nenhum banqueiro, nenhum megaempresário, nenhum tubarão foi sequer chamado para depor numa
delegacia, Eram todos homens de bem, pessoas que amavam o próximo... principalmente se o
próximo fosse um bom parceiro de negócios.

Os soldados armados de fuzis prendiam milhares de pessoas: dirigentes populares, intelectuais,


políticos democratas. A UNE foi proibida e seu prédio, incendiado. A CGT, fechada. Sindicatos
invadidos à bala. Nas escolas e universidades, professores e alunos progressistas expulsos. Os jornais
foram ocupados por censores e muitos jornalistas postos na cadeia. A ordem era calar a boca de
qualquer oposição.

Os políticos que não concordaram com o golpe, geralmente do PTB, tiveram seus mandatos cassados.
Ou seja, perderam seus direitos políticos por dez anos. O primeiro cassado, inimigo número um do
regime, foi Luís Carlos Prestes. O segundo foi o ex-presidente João Goulart. Depois, veio uma lista
de milhares de pessoas que foram demitidas de empregos públicos, presas, perseguidas, arruinadas
em sua vida particular. Juscelino e Jânio também perderam seus direitos, para que não tentassem
nenhuma aventura engraçadinha na política. Só a UDN não teve punidos: coincidência, não?

Os comunistas, claro, eram perseguidos como ratos. Muitos foram presos e espancados com
brutalidade. O pior é que o xingamento de “comunista” servia para qualquer um que não concordasse
com o regime. Seria o suficiente para ser instalado numa cela, Fariam a reforma agrária num cubículo
2 X 2 e socializariam a propriedade do buraco no chão que servia de privada.

Para espionar a vida de todos os cidadãos, foi criado em 1964 o SNI (Serviço Nacional de
Informações). Havia agentes secretos do SNI em quase todos os cantos: escolas, redações de jornais,
sindicatos, universidades, estações de televisão. Microfones, filmes, ouvidos aguçados. Bastava o
agente do SNI apontar um suspeito para ele ser preso. Imagine o clima numa sala de aula, por
exemplo. Eu mesmo perguntei, certa vez, a um professor de história, “o que ele achava” de algo que
os militares haviam decretado. Ele, apavorado, respondeu algo como: “Não acho nada! Eu tinha um
amigo que achava muito e hoje ninguém acha ele!” Eram muitos os “desaparecidos” naqueles
tempos... O professore correndo o risco de ser detido caso fizesse uma crítica ao governo. Os alunos,
falando baixinho, desconfiando de cada pessoa nova, apavorados com os dedos-duros. A ditadura
comprometia até as novas amizades! O pior é que o SNI cresceu tanto que quase acabou tendo vida
própria, independente do general-presidente, a quem estava ligado. Seu criador, o general Golbery do
Couto e Silva, no final da vida, diria amargurado: “Criei um monstro.”

O novo governo passou a governar por decreto, o chamado AI (Ato Institucional) O presidente
baixava o AI sem consultar ninguém e todos tinham de obedecer. O AI-1 determinava que a eleição
para presidente da República seria indireta. Ou seja, com O Congresso Nacional já sem os deputados
e senadores incômodos, devidamente cassados, e um único candidato. Adivinha quem ganhou? Pois
é, em 15 de abril de 1964 era anunciado o primeiro general-presidente, que iria nos governar o Brasil
segundo interesses do grande capital estrangeiro nos próximos anos: Humberto de Alencar Castello
Branco.

Castello tinha sido um dos figurões da Sorbonne, ou seja, dos intelectuais da ESG. A maioria de seus
ministros também era oriunda da ESG, a “Escola Superior de Guerra”, réplica nacional do “War
College” norte-americano. Tranqüilos com a vitória, os generais nem se importaram com as eleições
diretas para governador em 1965. Esperavam que o povo brasileiro em massa votasse nos candidatos
do regime. Estavam errados. Na Guanabara e em Minas Gerais venceram políticos ligados ao ex-
presidente Juscelino Kubitschek. (Em São Paulo não houve eleições. Seriam depois.) Mostra clara de
que alguns meses depois do golpe ainda tinha muita gente que não apoiava o regime. Pois bem, os
militares reagiram. Vinte e poucos dias depois das eleições desastrosas, foi baixado o AI-2, que
acabava em definitivo com as eleições diretas para presidente da República. Agora, o presidente seria
“eleito” indiretamente, ou seja, só votariam os deputados e senadores. Voto nominal e declarado, ou
seja, o deputado era chamado lá na frente para dizer, no microfone, se votava ou não no candidato do
regime. Quantos teriam coragem de dizer, na cara dos ditadores, que não aprovavam aquela
palhaçada? Muito poucos, inclusive porque os mais ousados eram sumariamente cassados.
O AI-2 também acabou com os partidos políticos tradicionais. O PSD, o PTB, a UDN, tudo isso foi
proibido de funcionar. Agora, só poderiam existir dois partidos políticos: a Arena e o MDB.

A Arena (Aliança Renovadora Nacional) era o partido do governo. Estavam ali todos os políticos
de direita que apoiavam descaradamente a ditadura. De onde vinham? Basicamente, da UDN. Mas
também um bando de gente do PSD, do PSP de Adhemar de Barros e, por incrível que pareça, muitos
da velha guarda integralista. Apoiavam o regime militar em tudo que ele fazia.

O MDB (Movimento Democrático Brasileiro) era o partido da oposição consentida. A ditadura,


querendo uma imagem de democrática, permitia a existência de um partido levemente contrário.
Contanto que ninguém fizesse uma oposição muito forte. O MDB era formado pelos que sobraram
das cassações, um pessoal do PTB, alguns do PSD. No começo, a oposição era muito tímida. Nos
anos 70, porém o MDB conseguia votações cada vez maiores para deputados e senadores. Então seus
políticos - muitos eram novos valores surgidos na década - começaram a fazer uma oposição
importante ao regime, capitaneados pela figura do deputado paulista Ulisses Guimarães (1916-
1992) . Naqueles tempos, brincando é que se diz a verdade, comentávamos que o MDB era o
“Partido do Sim” e a ARENA era o “Partido do Sim Senhor!”

O AI-3, do começo de 1966, determinava que as eleições para governador também seriam indiretas.
Os únicos com direito a voto eram os deputados estaduais, que tinham de ir lá na frente e declarar
para todo mundo em quem votavam. Mais intimidação seria impossível, não é mesmo? O circo
estava todo armado para que a ARENA governasse todos os setores da vida nacional.

A Constituição de 1967

No Brasil, os homens da ditadura faziam questão de criar uma imagem de que o país era um regime
“democrático”. Alegavam que existia partido de oposição e eleições para deputado e senador. Vá lá,
mas acontece que os políticos mais críticos estavam cassados e o MDB, sob vigilância. Além disso, o
Congresso Nacional ficou com os poderes muito cerceados. Um deputado podia fazer pouca coisa
além de elogiar as praias douradas do Brasil. No fundo, quem mandava mesmo era o general-
presidente e pronto. Dentro dessa preocupação de manter a aparência (só a aparência) de
“democrático”, o regime promulgou a Constituição de 1967, que vigorou até 1988, quando
finalmente foi aprovada a Constituição atual. Promulgar não é bem a palavra. Porque não existiu
sequer uma Assembléia Constituinte. Os militares fizeram um rascunho do texto constitucional e
enviaram para o Congresso aprovar. Congresso mutilado pelas cessações, nunca devemos esquecer.
O trabalho era pouco mais do que aplaudir. Trabalhos regulados por um relógio que tocava corneta.
Deputados obedientes como soldados em marcha.

Para começar, eleições indiretas para presidente da República e governadores de Estado, Os prefeitos
de capital e cidades consideradas de “segurança nacional” (como Santos, em São Paulo, o maior
porto do país, ou Volta Redonda, no Rio de Janeiro, por causa da gigantesca Companhia Siderúrgica
Nacional) seriam nomeados pelo governador. Em outras palavras, a Arena governaria o país pela
força da lei (e das armas, claro).

A Constituição de 1967 aumentava as atribuições do Executivo e a centralização do poder. É por isso


que havia Congresso aberto. Pela Constituição, os deputados e senadores não podiam fazer quase
nada, a não ser discursos. Veja bem: a lei não permitia nem mesmo que o Congresso pudesse
controlar as despesas do Executivo. No país inteiro, governadores e prefeitos também podiam gastar
à vontade no que quisessem - estradas para valorizar latifúndios, estádios de futebol para enriquecer
empreiteiras, teatros para a elite se divertir, prédios públicos enormes para os figurões ficarem sem
fazer nada no ar condicionado. Os deputados estaduais e vereadores não tinham poderes para impedir
esses gastos.

Os governadores perderam a autonomia para gastar. Para qualquer obra importante, tinham de pedir
dinheiro ao governo federal, ou seja, ao general-presidente. O mesmo valia para os prefeitos. Por
exemplo, vamos imaginar que na cidade X, o Fulano do MDB fosse eleito prefeito. A maior parte do
dinheiro dos impostos ficava com o governo federal, em Brasília. O prefeito Fulano quer fazer uma
escola municipal para X. Não tem dinheiro. Tem de pedir para o governador, que é da Arena e,
certamente, recebe ordens de Brasília para não dar nada. Agora, se o prefeito fosse da Arena, as
coisas mudavam de figura. Principalmente porque o prefeito se lembraria de apoiar a eleição de
deputados e senadores da Arena. Esqueminha montado e quase sem furos. Dá para entender por que
o regime militar não teve medo de manter eleições para o Congresso e permitir a existência do MDB?
Era como um jogo de futebol facílimo de ganhar, porque o juiz roubava escancarado para o lado de
quem já estava no poder...

O pior de tudo é que o regime iria fechar mais ainda. O último ato do governo de Castello foi a LSN
(Lei de Segurança Nacional). Reprimir passava a ser sinônimo de “defender a pátria”.

A Economia no Governo Castello Branco

A primeira atitude do novo governo foi anular as reformas de base. Criaram um Estatuto da Terra,
que previa uma tímida reforma agrária. Claro que jamais sairia do papel dos burocratas. O latifúndio
estava livre para engolir os camponeses.

A lei de 1962, que controlava remessas de lucros para o estrangeiro, foi anulada. As multinacionais
foram ofertadas com todas as facilidades.

Os mestres do PAEG (Plano de Ação Econômica do Governo) foram os ministros Otávio Gouveia de
Bulhões (Fazenda) e Roberto Campos (Planejamento).

Para diminuir a inflação, eles aplicaram receitas econômicas monetaristas. Trataram de tirar o
dinheiro de circulação. Para começar, cortaram os gastos públicos, ou seja, o governo investiria
menos em hospitais e escolas – já se preparava a introdução do ensino pago nas universidades
públicas e começava-se com a política de esvaziamento na qualidade do ensino público gratuito de
boa qualidade, valorizando mais as instituições privadas. Até antes da Ditadura Militar, estudar em
colégios particulares era amesquinhante demonstração de incompetência para acompanhar o
elevadíssimo nível que então o ensino público mantinha... Em 1964, tinha sido fundado o Banco
Central para controlar todas as operações financeiras do país. Também foi criada uma nova moeda, o
cruzeiro-novo.

Os salários foram considerados os grandes responsáveis pela crise econômica do país. Claro, os
operários deviam estar ganhando fortunas e o país não poderia suportar um soldador ou torneiro
mecânico passando férias na Cote d’Azur, fazendo compras na Avenue Montaigne, em Paris. Assim,
os aumentos salariais passaram a ser sempre menores do que a inflação. A idéia era fazer com que o
aumento de preços, por causa do crescimento dos salários, fosse cada vez menor.

Acompanhe o raciocínio dos caras. Por exemplo, se a inflação fosse de 30% naquele ano, a lei
obrigava o patrão a conceder um aumento abaixo daquela inflação, de só, digamos, 20%. Claro que
esse patrão iria compensar o prejuízo de ter de pagar mais salários aumentando os preços de seus
produtos e serviços. (Por isso mesmo, diziam, existia a inflação!) Mas, em quanto? Se o salário
aumentava em 20%, o patrão poderia aumentar os preços em, digamos, 21%: teria até um pouquinho
mais de lucro do que antes. Mas o aumento geral dos preços (por causa do salário maior em 20%,
todos os empresários reagiriam aumentando os preços em 20% e quebrados) seria perto dos vinte e
pouco por cento, e não mais os 30% anteriores, No ano seguinte, com inflação de, suponhamos, uns
22%, o patrão poderia dar um aumento de salário de só uns 10%. Aí os preços, para compensar esse
aumento salarial, subiriam uns 12%, por exemplo. E assim, num passe de mágica, a inflação teria
caído de 30% para 12% ao ano. Claro que tudo isso está simplificado, mas a idéia básica era essa
mesma. Agora, não sei se você se tocou: por essa receita, os salários eram comidos pela inflação. Em
outras palavras, a ditadura militar reduziu a inflação arrochando os salários dos trabalhadores.

Um dos recursos para diminuir salários foi a extinção da estabilidade. Pela lei antiga, depois de dez
anos numa empresa, era quase impossível despedir um empregado. Isso acabou. No lugar, foi criado
o FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço), em 1966, que ainda existe mas, com os ventos
ainda mais conservadores que andam soprando neste país, tem havido uma tendência a propor a
suspensão até deste direito para os trabalhadores. Funciona assim: a cada mês, o patrão deposita nos
bancos uma parte do salário do empregado, formando uma espécie de caderneta de poupança (outra
invenção do regime militar) chamada de FGTS, Acontece que o FGTS só pode ser sacado em
momentos especiais, como na compra de uma casa própria ou, caso mais comum, quando o
empregado é despedido. Essa lei facilitou a vida dos empresários. Agora, despedir era tranqüilo. Os
empregados, sabendo que podiam perder o emprego a qualquer momento, eram obrigados a aceitar
salários mixurucas.

Grandes empresas (como as automobilísticas) chegaram a ser acusadas de ter uma armação para, de
vez em quando, despedir alguns operários (logo absorvidos por outra fábrica, tudo combinado
secretamente). A rotatividade da mão-de-obra (rodando de emprego em emprego) seria um excelente
mecanismo para baixar salários.

Em princípio, o dinheiro do FGTS serviria para que o recém-criado BNH (Banco Nacional da
Habitação) financiasse casas populares. Na prática, o que aconteceu foi que o BNH acabou
financiando a construção de condomínios de luxo para milionários. Ou seja, o pobrezinho pagando,
indiretamente, a mansão do ricaço.

Não devemos esquecer que as greves estavam totalmente proibidas. O peão tinha de engolir quieto a
pancada salarial, senão haveria outra paulada mais dolorosa ainda. Para que os empréstimos do
governo federal e os impostos devidos a ele fossem pagos decentemente, criou-se a correção
monetária. Antes, o sujeito podia esperar um ano para pagar impostos porque então ele pagaria uma
quantia desvalorizada pela inflação. Agora, a correção monetária simplesmente aumentava o valor da
dívida no mesmo percentual da inflação.

Como o governo não queria emitir papel-moeda (estava combatendo a inflação), obviamente os
empresários sofreram restrições ao crédito. Juros altos, dificuldade de obter empréstimos, poucos
investimentos. A economia crescia pouco. Os ministros sabiam que estavam provocando esta
recessão. Achavam que era um dos remédios para baixar a inflação. Realmente, as compras
diminuíram. Reduzida a demanda (procura), caíram os preços: outro fator deflacionário.

Para agilizar o crescimento da economia, Roberto Campos e Otávio Gouveia de Bulhões, os


ministros-gurus do PAEG, criaram muitas facilidades para o investimento estrangeiro. Tinham-se ido
os tempos do nacionalismo trabalhista.
Bem, e o PAEG deu certo? Para o que ele se propunha, sim, foi bem-sucedido. A inflação caiu. O
preço social disso é que representa problema. Os economistas “iluminados” da época falavam
pudicamente no “lado perverso” das medidas econômicas.

Por que a economia voltou a se recuperar? Há várias explicações. Para começar, os investidores
estrangeiros ficaram mais tranqüilos: não havia mais ameaça de nacionalismo, nem de greves e muito
menos de socialismo. Além disso, o novo governo tinha eliminado as restrições ao capital
estrangeiro. Assim, as multinacionais começaram a investir em peso na construção de novas fábricas.
O FMI, feliz com o Brasil militar, também emprestou dinheiro, E nós vimos que ajuda do FMI era
uma espécie de garantia para que outros banqueiros confiassem no país.

Uma das causas mais importantes da inflação é o descontrole da economia: cada empresário tenta
lucrar na marra, simplesmente aumentando os preços. Vira uma corrida histérica de preços e salários
aumentando sem parar. Para reverter o quadro, deveria haver um acordo nacional dos empresários
entre si e dos empresários com os trabalhadores. Mas Jango, no seu tempo, encontrara dificuldade em
montar o acordo. Ocorria o oposto: as lutas de classes se tornavam mais agudas.

Obviamente, a ditadura não resolveu as coisas por consenso, promovendo um plano com que toda a
sociedade concordasse. As coisas foram impostas na marra. Na marra principalmente sobre os
trabalhadores. Ou seja, o consenso foi obtido na base do “Ou você concorda comigo ou entra na
porrada!” De qualquer modo, a estabilidade foi conseguida.

Quer dizer então que uma ditadura consegue estabilidade? Essa pergunta necessita de outra: de que
tipo de estabilidade estamos falando? Quando examinamos as estatísticas econômicas percebemos
que a estabilidade teve um preço: o aumento de exploração da força de trabalho.

Costa e Silva (1967 – 1969)

Os militares tinham indicado e o Congresso balançou a cabeça: o novo general-presidente era Arthur
da Costa e Silva. Só a Arena tinha votado na eleição indireta. Em vez de levantar o braço, batia
continência. O MDB, em protesto (era minoria), havia se retirado do plenário. Com mãos ao alto.

Costa e Silva era tido como um homem de hábitos simples. Em vez da companhia dos livros, como
gostava o pedante Castello Branco, preferia acompanhar as corridas de cavalos. Pessoalmente, diziam
que era “gente boa”. Mas se Costa e Silva queria tranqüilidade, tinha escolhido mal o emprego.
Melhor seria dar palpites no jockey.

Depois do impacto de 64, com aquela onda de prisões e fechamentos, as oposições ao regime
voltaram a se articular. Até mesmo Lacerda tinha virado oposição. É que ele tivera esperança de se
tornar presidente, mas aqueles a quem bajulara lhe viraram as costas. Magoado, procurou unir
Juscelino e Jango, exilados, numa Frente Ampla. Pouco resultado daria. Longe do país, tinham pouca
influência.

Apesar do PAEG de Castello diminuir a inflação e retomar o crescimento, a situação da classe


operária vinha piorando. Em 1965, os operários paulistas ganhavam, em média, apenas 89% do que
recebiam em 1960, em 1969, apenas 68%. Estava ficando feia a coisa.

Os anos 60 formaram a grande década revolucionária. Os anos da minissaia, dos homens de cabelo
comprido, da pílula anticoncepcional; da guerra do Vietnã, dos hippies, do feminismo; da Revolução
Cultural na China, da Primavera de Praga, dos Beatles, dos Rolling Stones, de Jimi Hendrix e Janis
Joplin, do LSD, do psicodelismo, das viagens à Lua; de Kennedy, Krutchev e Mao Tsetung; do
cinema de Godard, Pasolini e Antonioni; das idéias e dos livros de Sartre, Marcuse, Althusser,
Hermann Hesse, Erich Fromm e Wilhelm Reich; dos transplantes de coração, dos computadores e do
amor livre, de Bob Dylan, Jim Morrison e Martin Luther King; de "Paz e Amor", Woodstock e Che
Guevara.

Especialmente, 1968. Trabalhadores e estudantes se levantaram no mundo inteiro. Em Paris, cidadela


do tranqüilo capitalismo desenvolvido, os operários fizeram greve geral e os estudantes jogavam
pedras na polícia. Nos muros da capital francesa, os grafites anunciavam o novo mundo: “É proibido
proibir”, “A imaginação no poder!”, “Amor e revolução andam juntos”. Nos EUA, atacava-se o
racismo. Tempos de Martin Luther King e de Malcolm X, grandes líderes negros. Os estudantes
norte-americanos também sonhavam com socialismo e milhares deles protestariam contra o absurdo
de a máquina de guerra ianque agredir o povo do Vietnã. Na América Latina, sonhava-se com
guerrilhas libertadoras. Na Tcheco-Eslováquia, aconteceu a Primavera de Praga: os comunistas,
liderados por Dubcek, tentaram construir o socialismo humanista. Na China Popular, o camarada
Mao Tsetung estimulava a Revolução Cultural. A Cuba revolucionária de Fidel Castro e Che
Guevara mostrava o caminho para os jovens latino-americanos: guerrilha, revolução popular,
socialismo “Hasta la victoria compañeros!” (Até a vitória companheiros!) No Brasil, a luta era contra
uma ditadura militar e um capitalismo troglodita. Desafiando abertamente o regime, os operários
fizeram greve em Contagem (Minas Gerais). Pouco depois, pararam os metalúrgicos de Osasco (São
Paulo).

O governo militar, através da Lei Suplicy, quis impedir que os estudantes se organizassem. O maldito
acordo MEC-Usaid previa a colaboração dos técnicos americanos na reformulação do ensino
brasileiro. E o que os ianques propunham? Acabar com as discussões políticas na universidade:
estudante deveria apenas ser mão-de-obra qualificada para atender as multinacionais aqui instaladas.
Além disso, o governo queria que o ensino superior fosse pago. Ou seja, faculdade só para minoria de
classe média alta para cima.

Mas a UNE estava lá para lutar contra. Época gloriosa do movimento estudantil. Coragem, sonhos
libertários, utopia na alma. A juventude queria o poder no mundo! Os estudantes iam para a rua
contra um governo que esculhambava a universidade pública, contra um regime militar. Apesar de
proibidas, suas passeatas nas ruas atraíram cada vez mais participantes, de operários e boys a donas
de casa e profissionais liberais. A grande imprensa chamava-os de “infantis”, “toxicômanos”,
“desequilibrados”. A polícia atacava. Cassetetes, gás lacrimogêneo, caminhões brucutu. Eles
respondiam com pedras, bolas de gude (contra a cavalaria da PM), coquetéis molotov e idealismo. Os
principais líderes estudantis estavam no Rio de Janeiro: Vladimir Palmeira e Luís Travassos.

Voltando no tempo...

Imagine que você, com sua idade atual, acaba de voltar no tempo. Estamos em 1968, no Rio de
Janeiro. Em que é que você está pensando? O que é que você faz no dia-a-dia?

Imagine que você é de classe média e está se preparando para o vestibular. Assustador. A faculdade
tem vagas reduzidas. Aliás, essa é uma das bandeiras do movimento estudantil: alargar o funil que
desemboca na universidade. Que curso você vai seguir? A maioria quer ser engenheiro, médico,
advogado. Mas tem gente que quer conhecer o Brasil para transformá-lo: vão estudar sociologia,
história, filosofia e até economia. Um amigo seu diz, brincando, que tem um professor de sociologia
da USP que um dia ainda vai ser presidente da República.
Na faculdade, quem não é de esquerda está por fora. Claro que há uma povão de gente alienada, que
nem dá bola para o que acontece no país. Mas você e seus amigos são conscientizados. O problema é
que existe uma floresta de partidos e grupelhos de esquerda: PC do B, AP, Polop, Dissidência na
Guanabara e tantos outros (sigla era um troço importante naquela época). Só não vale o PCB, que não
é bem visto pela garotada, que o chama de “Partidão”. Parece com um velho sábio que não dá mais
no couro. Na verdade, o fato de o PCB não aceitar a luta armada contra o regime tira o charme dele.
Afinal, todos temos pôster de Che Guevara e Ho Chi Minh na parede de casa e gostamos de nos
imaginar na selva entre os camponeses, com idéias na cabeça e um fuzil na mão.

As pessoas lêem o suficiente para não se sentirem alienadas. Estamos em 1968 e alguns autores são
obrigatórios: Leo Huberman, Engels, Lênin, Nélson Werneck Sodré, Caio Prado Jr, Moniz Bandeira
e o famoso manual marxista de Politzer. Quem não leu, ouviu falar. O que é suficiente para participar
de um debate, que é o que mais interessa. Para os mais metidos a espertos, cabe citar Marcuse,
Althusser, Gramsci e Erich Fromm.

No corredor da faculdade, vocês discutem política. Baixinho, mas escancarado (até 1968 ainda dava
para fazer isso). De um lado, os que acham que primeiro devem organizar os trabalhadores para
depois partir para luta armada, do outro, os que acham que a luta armada organizará os trabalhadores.
Isso mesmo que você está lendo: na cabeça do pessoal, a revolução está ali na esquina. É só pegar.

Hoje tem passeata convocada pela UNE. Na faculdade, pintamos as faixas com os dizeres manjados
como “Abaixo a ditadura” e o provocativo “Povo armado derruba a ditadura”. Vamos para a
passeata? É um problema. Sua mãe tem medo, seu pai (na época, é claro, lembre-se de que estamos
em 68) apoiou o golpe. Melhor ir escondido. Se você é mulher pior, porque tudo é proibido:
freqüentar boate, beber, chegar em casa tarde da noite, viajar com o namorado e, óbvio, ir à passeata.
Portanto, mais uma que vai escondida alegando que ia “ficar na biblioteca estudando”.

Lá está você com o pessoal, no centro da cidade. Gritando palavras de ordem contra o regime. Dos
edifícios, papel picado e aplausos. O apoio dos escritórios te enche de autoconfiança e você
realmente se sente fazendo algo de importante na história do Brasil. Na cabeça, o grande hino da
época, Pra não dizer que não falei das flores, de Geraldo Vandré: “Vem, vamos embora / que esperar
não é fazer / quem sabe faz a hora / não espera acontecer”...

De repente, chegam os homens. Marcham juntos, compactos, uma massa sem indivíduos. É a polícia.
Escudo, cassetete de madeira, capacete protegendo o miolo mole. Corre que eles estão vindo! Dá
tempo de pixar o muro com o spray “Abaixo a repressão!” Sai fora. O cheiro de gás lacrimogêneo
incomoda. Hora de botar a pastilha de Cebion debaixo da língua, lenço molhado no nariz. O pau
cantou! Contra a violência cega, a consciência estudantil, contra a brutalidade do Estado, pedradas,
xingamentos e alma libertária transbordando.

Não há graça nenhuma. Tem gente que sai com o rosto ensopado de sangue, hematomas pelo corpo,
dentes quebrados, Muitos são presos e empurrados para o carro coração de mãe. Haja claustrofobia.
Seguirão para a delegacia, para serem fichados, humilhados e levar uns cascudos. Só no final do ano
é que a polícia começa a atirar para matar.

Se você não apanhou muito nem foi preso, dá para chegar num barzinho no começo da noite, Depois
de uns chopes, ou cuba-libre (rum com Coca-Cola), todo mundo ficava animado para contar pela
décima vez suas proezas, sempre um pouquinho exageradas, é claro. Você pode estar interessado(a)
numa pessoa, num cara ou numa menina. (Mas não há duplo sentido: o homossexualismo não era
tolerado nem pela esquerda. Ser bicha era quase sinônimo de ser contra-revolucionário. Muitos
guerrilheiros machos se remoeriam de culpa pelos anônimos desejos inconfessáveis. Só no final dos
anos 70 as mentalidades começaram a mudar.) Pois bem, se você estivesse a fim de alguém, logo
trataria de falar alto para aparecer. Essas coisas não mudaram demais desde então, não é mesmo? Um
bom caminho era se mostrar intrépido no combate aos policiais e, ao mesmo tempo, estar por dentro
das últimas novidades culturais.

No cinema, contavam muito os filmes intelectualizados. O esquema de Hollywood, bajulando atores


e espetáculos, não estava com nada. Pelo menos nos papos-cabeça. O negócio era filme de diretor-
autor. Antonioni (Blow-up, 1967, e , Zabriesky Point, 1969), Jean-Luc Godard (A Chinesa, 1967),
Pasolini, Bergman, Visconti, Fellini e o nosso Glauber Rocha ( Terra em Transe, 1967, Dragão da
Maldade contra o Santo Guerreiro, prêmio de Cannes 1969 como melhor diretor), É claro que
também se via muita coisa comercial... Aí as estrelas eram Marlon Brando, Richard Burton, Marilyn
Monroe, Sophia Loren, Jane Fonda, Paul Newman, Marcelo Mastroiani, Alain Delon e, claro, Jane
Fonda, que depois de posar nua virou militante contra a Guerra do Vietnã.

Em literatura, a turma gostava de coisas engajadas como obras de Brecht, Maiakovski, Pablo Neruda,
Gorki, Sartre. Mas também valia Franz Kafka, o judeu tcheco que escrevia em alemão sobre o
absurdo da sociedade burocrática. O americano Henry Miller descrevia o sexo com uma crueza tão
violenta que achavam que era arte. Quem já gostava de misticismo lia Hermann Hesse.

Claro que ninguém era um chato de ir a um bar e ficar conversando sobre coisas intelectuais e
políticas o tempo inteiro. Isso só existe em série da Globo. As pessoas também dançavam, iam a
festas, bebiam além da conta, namoravam, iam às compras, estudavam para as provas.

Toda menina moderninha falava de amor livre. Anticoncepcional era a pílula da moda. Entretanto,
mesmo entre o pessoal de esquerda, havia muito conservadorismo. A maioria das moças casaria
virgem mesmo e, no máximo, permitiriam algumas carícias avançadas. Mulher que transasse com
alguns caras era vista como “galinha”, e certamente ninguém iria querer algo mais “sério” com elas.
Como já ensinava Maquiavel no Renascimento italiano, os preconceitos têm mais raízes do que os
princípios.

O fechamento do regime (mais ainda!)

A esquerda voltava a crescer no Brasil. Nas ruas, as passeatas contra o regime militar começavam a
reunir milhares de pessoas em quase todas as capitais. Diante disso, a direita mais selvagem partiu
para suas habituais covardias. Aliás, covardia era a especialidade da organização terrorista de direita
CCC (Comando de Caça aos Comunistas). O nome já diz tudo. Consideravam que a esquerda era
feita por mamíferos a serem abatidos. Os trogloditas, então, atacaram os atores da peça Roda Viva,
de Chico Buarque, em São Paulo, Surraram todo mundo, inclusive a atriz Marília Pêra. Depois,
metralharam a casa do arcebispo D. Hélder Câmara, em Recife (alguns membros da Igreja Católica
estavam deixando de bajular o regime). Em São Paulo, os filhinhos-de-papai da Universidade
Mackenzie (onde nasceu o CCC) agrediam os estudantes da USP, na rua Maria Antônia, valendo
desde pedradas até tiros de revólver.

De acordo com o jornalista Zuenir Ventura, o fanático brigadeiro João Paulo Burnier elaborou um
plano criminoso, o Para-Sar. Uma loucura: os pára-quedistas da aeronáutica, secretamente, pegariam
os inimigos do regime e jogariam do avião no mar alto, a uns 40 quilômetros da costa. Além disso,
havia o projeto de explodir o gasômetro do Rio de Janeiro, começo da avenida Brasil, área industrial
e de trânsito engarrafado. Morreriam umas 10 mil pessoas queimadas. Tragédia nacional. Burnier
botaria a culpa nos comunistas e, com a população querendo o linchamento dos responsáveis,
prenderia os esquerdistas e os executaria sumariamente. Que coisa diabólica, não? Só não se
concretizou graças à bravura e ao patriotismo de um militar da aeronáutica: o grande brasileiro
capitão Sérgio Ribeiro Miranda de Carvalho, o Sérgio Macaco. A operação teve de ser cancelada.
Mas o capitão Sérgio foi afastado da Aeronáutica.

A greve operária de Contagem terminou com acordo salarial entre patrões e empregados: Mas em
Osasco a coisa foi diferente. Ela tinha sido bem melhor preparada, inclusive com participação de
estudantes esquerdistas na organização do movimento. O governo então falou grosso. O sindicato dos
metalúrgicos foi invadido e o presidente, José Ibraim, teve de se esconder da polícia. O exército
preparou uma operação de guerra e ocupou as instalações industriais. A partir daí, quem fizesse
gracinha de greve teria de enfrentar os blindados e fuzis automáticos. Ou seja, as greves acabaram.

Contra os meninos e meninas do movimento estudantil, foram lançados homens armados até os
dentes. Agora passeata começava a ser dissolvida a bala. No Calabouço, um restaurante carioca
freqüentado por estudantes, a polícia militar assassinou um rapaz, Édson Luís. Nem a missa de
sétimo dia, na catedral da Candelária, foi

respeitada pela polícia, que baixou o sarrafo nas pessoas que saíam do templo. Em resposta, a maior
passeata já vista na avenida Rio Branco: a célebre Passeata dos Cem Mil (26/6/1968). Era a multidão,
bonita, vigorosa, olhando para a vida, exigindo a mudança.

Os militares estavam apavorados. Até onde aquilo tudo iria levar? Concluíram que precisavam
endurecer mais ainda o regime. E endureceram. As passeatas de estudantes passaram a ser reprimidas
pelas próprias Fonas Armadas e muitos estudantes foram baleados. Agora, em vez do cassetete, vinha
o fuzil automático. O congresso secreto da UNE, em Ibiúna (SP) foi dissolvido, com 1240 estudantes
presos.

O pior estava por vir. Faltava só o pretexto.

No Congresso Nacional, o jovem deputado Márcio Moreira Alves, do MDB, fez um discurso em que
recomendava que as mulheres não namorassem os militares envolvidos com as violências do regime.
O que seria do país, se os oficiais não namorassem? Ficariam com o fuzil na mão? Os generais
exigiram sua punição, mas o Congresso não permitiu.

Foi, então, que saiu o Ato Institucional nº 5, o AI-5, numa sexta-feira, 13 de dezembro de 1968. Claro
que o caso do deputado era só desculpa. Tratava-se, na verdade, de aumentar a repressão e silenciar
os opositores.

O AI-5 foi o principal instrumento de arbítrio da ditadura militar. Com ele, o general-presidente
poderia, sem dar satisfações a ninguém, fechar o Congresso Nacional, cassar mandatos. de
parlamentares (isto é, excluir o político do cargo que ocupava, fosse senador, governador, deputado
etc.), demitir juízes, suspender garantias do Poder Judiciário, legislar por decretos, decretar estado de
sítio, enfim, ter poderes tão vastos como os dos tiranos.

Tem gente que chega a falar do “golpe dentro do golpe”. Se a ditadura já era ruim, agora ela
piorava.E muito!

A oposição parte para a luta armada


O que significa viver sob uma ditadura militar? É exagerado achar que a toda hora tem tanque na rua,
soldados desfilando dentro das faculdades. Aparentemente não muda muita coisa, porque você vai às
compras, ao dentista, à praia e ao cinema, namora e casa, vê televisão. A não ser o fato de que seu
vizinho é oficial do Exército e você sabe que por isso ele manda aqui no prédio (e isso pode ser até
bom para a vizinhança), o resto parece bem normal. Mas, se você tiver um pingo de consciência,
desconfia que as coisas não vão bem. Existe um cheirinho de esquisitice: as pessoas falam baixo, há
uma nuvem de mistério cobrindo o país, o estômago fica pesado demais.

Depois de 1964 ainda dava para fazer umas passeatazinhas e desafiar o regime. Depois do AI-5
(dezembro de 1968) o regime tinha fechado de vez. Passeata era dissolvida a tiros de fuzil. Em cada
redação de jornal havia um imbecil da polícia federal para fazer a censura, Não poderia sair nenhuma
notícia que desagradasse ao governo. Uma simples reportagem esportiva sobre o time do
Internacional de Porto Alegre, com sua camisa vermelha, poderia ser encarada como “propaganda da
Internacional Comunista”. Além da censura, o jornal não podia dizer que tinha sofrido a censura
(isso, claro, também era censurado). O jeito foi botar receitas de bolo nos vazios deixados pelas
partes retiradas pela polícia. As pessoas estavam lendo uma página sobre política nacional e, de
repente, vinha aquela absurda receita para fazer uma torta de abacaxi. Os espertos sacavam logo que
era um protesto. Os mais ingênuos (por conivência ou conveniência, chegavam a mandar cartas para
as redações dos jornais, pois as receitas, por vezes, eram irracionais: “cinco quilos de açúcar, 100 g
de farinha de trigo, dois quilos de sal, vinte tabletes de fermento, uma colher de chá de suco de
laranja...” Não há receita que dê certo assim, hehehe. Claro que existem ainda hoje ingênuos ainda
mais imbecis, que declaram coisas como: “naquele tempo o governo era muito melhor do que hoje.
Bastava abrir os jornais, eles só tinham elogios para o governo. Aliás, também tinham receitas de
bolo muito boas.”

Ninguém podia falar mal do governo. Reclamação na fila do ônibus era uma linha até à cadeia.
Estudantes e professores que conversassem sobre política poderiam ser expulsos da escola ou da
faculdade, devido ao decreto-lei nº 477 (1969), Imagine o clima dentro da sala de aula. Se o professor
contasse aos alunos o que você está lendo neste livro, corria o sério risco de não poder voltar mais à
sala de aula. Ou mesmo para a sua própria casa...

_ O que você acha da situação atual?

_ Eu não acho nada! Tinha um amigo que achava muito e hoje ninguém acha ele! To fora!

Qualquer aluno novo que tentasse se enturmar era logo suspeito de pertencer ao SNI. Veja que coisa,
a ditadura tolheu até as novas amizades!

O político que fizesse oposição aguda seria logo cassado pelo AI-5. Foi o caso, por exemplo, do
deputado federal Francisco Pinto (MDB), punido em 1974 porque fez no Congresso um discurso
chamando de “ditador” o ditador chileno Pinochet em visita ao Brasil, o deputado Lysâneas Maciel
(MDB) solicitou a criação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para apurar denúncias de
corrupção no regime. Não teve CPI nenhuma e ele ainda foi cassado. É isso aí: numa ditadura, a
sociedade não pode fiscalizar o governo. Os cidadãos estão enjaulados, mas a corrupção está livre.

Com tantas dificuldades, como continuar fazendo oposição ao regime? Para muitos jovens, só havia
um caminho a seguir: a luta armada.

Falar em guerrilha nos anos 60 arrepiava muita gente. Ela parecia ser a grande arma de libertação dos
povos do Terceiro Mundo. Exemplos não faltavam. Em Cuba, Fidel Castro e Che Guevara abriram o
caminho: No Vietnã, os guerrilheiros de Ho Chi (Minh derrotavam a maior máquina de guerra do
planeta, a do imperialismo norte-americano. Na Argélia, os guerrilheiros dobraram as tropas
francesas e conquistaram a independência do país. Na própria China, a revolução socialista foi
vitoriosa depois de anos de guerrilha camponesa comandada por Mao Tsetung. No Brasil não poderia
ser diferente: muitos estudantes, velhos militantes da esquerda e intelectuais começaram a organizar
grupos guerrilheiros. Para eles, depois do AI-5 não havia mais espaço para a legalidade. Só a luta
armada libertaria o Brasil.

Ao contrário do que você possa pensar, o PCB foi contra a luta armada. Os comunistas acreditavam
que a luta no momento não era nem socialismo nem reformas básicas, mas pelo fim do regime
autoritário. Sua estratégia era a de se unir a todos os grupos democráticos contra o regime. Atuaria,
clandestino, no MDB.

Muita gente da esquerda considerou esse programa covarde, reformista (um xingamento horroroso,
pois isso equivaleria a não ser um revolucionário. Mas naquele momento os comunistas eram
qualquer coisa, menos revolucionários...). A juventude queria a mudança logo, a todo preço. E foram
esses jovens, garotões e meninas, adolescentes ainda, estudantes e sonhadoras, que embarcaram na
aventura da luta armada.

(1964 - 1985)
Um dos grandes gurus era o francês Regis Debray, que tinha sido companheiro de guerrilha de Che
Guevara. Foi ele que lançou a teoria foquista: meia dúzia de combatentes criariam um foco
guerrilheiro numa área rural. Primeira etapa, o treinamento militar. Depois, contato com a população.
Ganham a confiança através do trabalho, da honestidade, de solidariedade. Imagine o efeito disso: o
camponês jamais viu um médico e, de repente, aquelas pessoas o tratam com cuidado, curam seus
filhos. Nesse processo, os guerrilheiros vão transmitindo suas idéias, mostrando que o latifúndio
deveria ser confiscado, que os camponeses precisam se unir e se armar. E quando chegam os
jagunços do fazendeiro, os guerrilheiros estão prontos para responder com fogo de armas de guerra,
Pronto, está deflagrada a luta. Agora, junto com os camponeses que aderem ao movimento, eles se
lançam para o mato. O Exército chega logo depois, quase sempre truculento: tortura moradores,
incendeia barracos, molesta as meninas. O povo vê com clareza quem está do lado dele. Os
guerrilheiros, por sua vez, nunca enfrentam o Exército de frente. As táticas incluem emboscadas,
ações rápidas e fulminantes. Depois, a fuga veloz: sua mobilidade e ataques de surpresa são armas
letais. Conhecem a região, contam com o apoio logístico dos moradores. Quase invencíveis. Mas este
é um foco. A teoria foquista imaginava que surgiria outro foco ali, e mais outro adiante, e outro, e
outro. Até que um dia esses focos começariam a se unir para compor um grande exército popular. Tal
como ensinou Mao Tsetung, o campo cercaria a cidade. E a revolução seria vitoriosa.

Simples, não? É, simples demais para dar certo: havia muitos sonhos e pouco pé no chão. Como fazer
guerrilha camponesa num país em que a maioria já vivia na cidade? Bem que o sinal de alerta já
havia sido dado: em 8 de outubro de 1967, Che Guevara foi assassinado pela CIA, quando
organizava um foco guerrilheiro na Bolívia. Não era um aviso de mau agouro?

Desde 1968 já existiam ações guerrilheiras. Mas o grosso mesmo foi entre 1969 e 1973. Havia um
cacho de grupos de luta armada, diferentes nos objetivos e nas estratégias, embora no final todos
visassem ao socialismo (já se disse que as esquerdas só se encontram na cadeia...). Uns achavam que
primeiro era preciso derrotar a ditadura, outros achavam que já era possível lutar imediatamente pelo
socialismo; uns achavam que primeiro era preciso organizar os trabalhadores e depois se lançar na
guerrilha, outros achavam que através da luta guerrilheira os trabalhadores iriam se organizando; uns
achavam que a guerrilha urbana era a mais importante, outros, que era a rural.

Não vamos estudar as minúcias das organizações. Basta dar uma idéia geral de como funcionavam as
mais importantes: VPR (Vanguarda Popular Revolucionária), o MR-8 (Movimento Revolucionário
Oito de Outubro), a ALN (Ação Libertadora Nacional), o PCBR (PCB Revolucionário), o PC do B, a
VAR-Palmares.

Quem eram esses guerrilheiros? Não eram muitos, apenas algumas centenas. Os simpatizantes, que
eventualmente podiam esconder alguém em casa ou contribuir com dinheiro, não iam além de uns
mil e poucos. Apesar de sonharem com a revolução proletária, havia poucos operários ou
camponeses. Os líderes geralmente eram antigos comunistas, rompidos com o Partidão porque o PCB
estava contra a luta armada. Ainda tinha um grupo importante de militares desertores do Exército.
Muitos guerrilheiros eram como talvez você seja, amigo leitor, com 17 ou 18 anos de idade,
estudantes secundaristas ou acabando de entrar na faculdade.

A maioria dos guerrilheiros foi presa antes de começar a luta armada no campo. Na verdade, a
guerrilha ficou sendo urbana mesmo, sem repercussão maior. Houve algumas tentativas de panfletar
na porta de fábricas, e um grupo chegou a levar um caminhão cheio de comida para distribuir na
favela, anunciando aquela como “a primeira das muitas expropriações revolucionárias que o povo
fará daqui em diante”. Pura ilusão. A repressão do governo agia com muita eficácia e rapidamente os
grupos foram desmantelados. No final, tinham de assaltar bancos para levantar fundos para a luta e
seqüestrar embaixadores em troca da libertação de presos políticos.

Desde o início a guerrilha já tinha muitos erros. Para começar, os guerrilheiros consideravam-se
marxistas, mas quase nada tinham lido a respeito. Ninguém tinha feito uma análise profunda da
sociedade brasileira para ter certeza de que aquela era a melhor estratégia a ser seguida. Por exemplo,
sonhavam com uma guerrilha camponesa num país enorme que já era urbano e industrial. Queriam
buscar seus próprios caminhos políticos, mas no fundo imitavam modelos de outros países, como
Cuba e China. Falavam em nome dos trabalhadores, mas jamais tiveram um contato maior com a
população. O povo, dominado pela propaganda oficial e pela imprensa censurada, os ignorava ou os
tratava como bandidos, seqüestradores, assaltantes de banco, “terroristas”. Viviam tão fora da
realidade, que só faltaram dizer que as vitórias do governo, pulverizando a guerrilha, eram “a mostra
do desespero da burguesia em sua crise final”. Coitados, eram rapazes e moças que nunca tinham
visto um revólver na vida enfrentando um Exército profissional bem equipado e com assessoria dos
EUA. Nem dava para começar.

Guerrilha do Araguaia

A única tentativa que teve alguma consistência foi a Guerrilha do Araguaia. Ela se desenvolveu mais
ou menos entre 1972 e 1974, organizada pelo PC do B. Lembremos que, na época, ao contrário do
PCB (que era de linha soviética e contra a luta armada) o PC do B seguia o socialismo chinês (o
maoísmo) e apoiava a guerrilha. Pois bem, no começo dos anos 70, grandes empresas do Sudeste e
multinacionais investiram em pecuária extensiva na região do Tocantins-Araguaia. Quando chegaram
lá, já havia pequenas roças na mão de camponeses posseiros (não tinham documentos legais da
propriedade da terra, apesar de trabalharem nelas havia muitos anos). Nem quiseram saber, passaram
a fazer grilagem das terras (tomar ilegalmente). Quando o camponês não queria abandonar a terra, os
capangas da empresa iam lá, ateavam fogo no barraco, destruíam a plantação, espancavam os
moradores. Como você pode perceber, as lutas de classes entre os grileiros e os posseiros eram muito
fortes. O PC do B quis aproveitar esse potencial de revolta e chegou na região para montar uma base
de treinamento. Foram descobertos pelo Exército, que deslocou para região milhares de soldados.
Contra uns 60 guerrilheiros. Numa região isolada do país, imprensa censurada, as pessoas só sabiam
alguma coisa através de boatos. Mas na região do Araguaia até hoje as pessoas humildes se recordam
do que aconteceu. Muitos militares abusaram do poder e espancaram brutalmente a população para
que revelasse os esconderijos dos guerrilheiros. Os prisioneiros eram torturados de forma bárbara e
muitos encontraram a morte depois que o corpo virou uma massa de pedaços de carne e sangue. Os
guerrilheiros mortos foram enterrados em cemitérios clandestinos e até hoje as famílias procuram
seus corpos. Em 1974, a guerrilha do Araguaia estava destruída.

O que dizer sobre essa loucura toda? Foram rapazes e moças, muitos ainda adolescentes, que tiveram
a coragem de abandonar o conforto do lar, a segurança de uma vida encaminhada, a tranqüilidade da
vida de jovem de classe média, para combater um regime opressor com armas na mão. Pessoas que
dão a vida pelo ideal de libertação de seu povo não podem ser consideradas criminosas. Mesmo que a
gente não concorde com os caminhos trilhados. Eles mataram? Certamente. Mas nunca torturaram.
Nem enterraram suas vítimas em cemitérios clandestinos. E se o tivessem feito, nada disso
justificaria a tortura e o assassinato executados pelo governo. Além disso, seria mesmo inadmissível
pegar em armas contra um regime antidemocrático que esmagava o povo brasileiro? Que moral uma
ditadura tem para definir como deve ser combatida?

Repressão e Tortura

“Ou então cada paisano e cada capataz Com sua burrice fará jorrar sangue demais Nos pantanais, nas
cidades, caatingas E nos gerais”

CAETANO VELOSO

Mais uma vítima da Ditadura Militar

Como é que a ditadura conseguiu dizimar a guerrilha? A repressão foi selvagem.

Imagine que você fosse um guerrilheiro naquela época. Documento falso, revólver escondido na
cintura, olhar assustado para qualquer pessoa da rua. Distante da família, dos amigos, de qualquer
conhecido. Clandestino. Codinome, ou seja, nome inventado, nem os companheiros sabiam sua
identidade. Se fossem presos, não poderiam te revelar. Vocês se escondem num apartamento discreto
no subúrbio. E mudam de residência quase todo o mês. Esse esconderijo é chamado de “aparelho”.
Um dia, você tem um ponto, ou seja, um encontro marcado com outro guerrilheiro. Ele não aparece.
Provavelmente, caiu (foi preso). Em algumas horas, debaixo de paulada, pode ser que ele abra. Os
meganhas logo vão chegar. É preciso desativar o aparelho rápido. De repente, chega a polícia.
Tiroteio. Mortes. Se você escapar com vida, vai direto para o porão. Agora sim, você vai sentir na
pele a face mais negra do regime.

A tortura

Não houve guerrilheiro preso que não fosse barbaramente torturado. Ficar pendurado no pau-de-arara
(um cavalete em que o sujeito fica preso pela barra que passa na dobra do joelho, com pés e mãos
amarrados juntos) é um dos piores suplícios. Além disso, pontapés, queimaduras de cigarros, choques
elétricos, alicates arrancando os mamilos, banhos de ácido, testículos amassados com alicate, arame
em brasa introduzido pela uretra, dente arrancado a pontapés, olhos vazados com socos. Mulheres
estupradas na frente dos filhos, homens castrados. A lista de atrocidades é infindável.
Os torturadores são animais sádicos. Mas além da maldade pura e simples, havia a necessidade
estratégica: a tortura extraía confissões em pouco tempo, dando oportunidade de prender outras
pessoas, que também seriam torturadas, revelando mais coisas e assim por diante. Infelizmente, a
tortura revelou-se bem eficaz.

Houve muita gente, entretanto, que nada falou. Veja bem, amigo leitor, bastava contar tudo que a
tortura acabaria. Essa era a diabólica proposta. Imagine-se no lugar do preso, apanhando feito um
cão, nu, sangrando, com a cabeça enfiada num balde cheio de fezes e vômito dos outros. Algumas
frases e você seria mandado para um hospital. No entanto, muitos não falaram. Bravamente,
recusaram-se a colaborar com a repressão.

Morto sob tortura tinha o caixão lacrado para ninguém ver o cadáver arrebentado. O laudo oficial do
IML, emitido por médicos venais comprometidos com a ditadura dizia friamente que a morte tinha
ocorrido “em tiroteio com a polícia”.

Uma geração que pagou um alto preço por seus sonhos: pagou com o próprio sangue. Por isso, amigo
leitor, se hoje eu posso escrever essas linhas, se hoje você pode dizer o que pensa, saiba que entre os
responsáveis por nossa liberdade estão aqueles que deram sua vida para que um dia o país não
estivesse mais sob o jugo das botas da tirania.

Mas, afinal, quem eram os torturadores? Onde as pessoas eram torturadas? Ao contrário do que se
possa pensar, a tortura não era feita em algum lugar escondido, uma casa de subúrbio ou uma fazenda
afastada de tudo. Não, infelizmente as pessoas eram torturadas em lugares públicos, na frente de
muitas testemunhas. Como Mário Alves, dirigente do PCBR, torturado até a morte nas dependências
do Primeiro Batalhão de Polícia do Exército, na rua Barão de Mesquita, Tijuca, Rio de Janeiro.
Reparou no local? Um quartel do Exército! Como também aconteceu em delegacias, em bases da
Marinha. Através da Operação Bandeirantes (OBAN), do DOI-CODI, dos Serviços de Informação
das Forças Armadas (CENIMAR, CISA, CIEX), do DOPS e do SNI, o governo exterminou a
guerrilha com brutalidade.

Claro que a maioria dos militares não teve nenhum envolvimento com a tortura. Muitos sequer
sabiam que ela estava acontecendo. Mas é inegável que os torturadores ocupavam importantes
posições no aparelho repressivo do Estado: eram policiais civis, PMs, agentes da polícia federal,
delegados, oficiais e sargentos da Marinha, do Exército, da Aeronáutica, médicos que avaliavam a
saúde da vítima e autorizavam a continuação da tortura.

Muito triste é saber que alguns desses monstros permanecem na polícia, nas Forças Armadas e que
foram anistiados pelo general Figueiredo em 1979. Neste país, jamais um torturador sentou no banco
dos réus.

A ditadura não se manteve só com violência física. Ela soube se valer de uma propaganda ideológica
massacrante. Numa época em que todas as críticas ao governo eram censuradas, os jornais, a tevê, os
rádios e revistas transmitiam a idéia de que o Brasil tinha encontrado um caminho maravilhoso de
desenvolvimento e progresso. Reportagens sobre grandes obras do governo e o crescimento
econômico do país convenciam a população de que vivíamos numa época incrível. Nas ruas, as
pessoas cantavam: “Ninguém segura esse país.”

Os guerrilheiros eram apresentados como “terroristas”, “inimigos da pátria”, “agentes subversivos”.


Qualquer crítica era vista como “coisa de comunista”, de “baderneiro”. Houve até quem chegasse ao
cúmulo de acusar os comunistas de responsáveis pela difusão das drogas e da pornografia!
O futebol, como não poderia deixar de ser, foi utilizado como arma de propaganda ideológica. Na
época, a esquerda se perguntava: “O futebol aliena os trabalhadores, é o ópio do povo?” E houve até
quem torcesse para que o Brasil perdesse a Copa: como se o trabalhador brasileiro precisasse de uma
derrota no jogo de futebol para realmente se sentir oprimido! Ou seja, quem estava supervalorizando
o futebol: o povão ou a esquerda? De qualquer modo, meu amigo, aquela seleção brasileira de 1970
foi simplesmente o maior time de futebol que já existiu. Pelé, Tostão, Jairzinho, Gérson, Rivelino,
Clodoaldo, Carlos Alberto Torres, seus craques são inesquecíveis. O tricampeonato conquistado na
Copa do México encheu o país de euforia. Nas casas (pela primeira vez a Copa foi transmitida ao
vivo pela televisão) e ruas o povo explodia de alegria e cantava: “Todos juntos, vamos / Pra frente
Brasil..” Os homens do governo, claro, trataram logo de aparecer em centenas de fotos ao lado dos
craques. Queriam que o país tivesse a impressão de que só tínhamos ganho a Copa graças à ditadura
militar (embora as vitórias de 1958 e 1962 tivessem sido no tempo da democracia, com JK e Jango).
O prefeito de São Paulo, Paulo (que não era São) Maluf, resolveu dar para cada jogador um
automóvel zero quilômetro de presente. O presidente Médici, vestido com a camisa rubronegra do
Flamengo, era aplaudido de pé por parte da torcida no Maracanã. Triste país, o general chutava a
bola, os torturadores chutavam os presos.

Além do futebol, os brasileiros conheceram uma nova paixão, o automobilismo. Até hoje, o mundo
só teve um único piloto capaz de vencer na sua estréia na Fórmula 1: o nosso Émerson Fittipaldi,
campeão mundial em 1972 e 1974.

Nas escolas vivia-se um clima de ufanismo (exaltação da pátria). Todo mundo tinha de acreditar que
o Brasil estava se tornando um país maravilhoso. Nos vidros dos carros, os adesivos diziam: “Brasil -
Ame-o ou Deixe-o!” É como se os perseguidos políticos foragidos tivessem se exilado por
antipatriotismo. Um pontapé na verdade.

Claro que essa euforia toda no começo dos anos 70 não vinha só das vitórias esportivas e da máquina
de propaganda do governo. Em realidade, o país vivia a excitação de um crescimento econômico
espetacular. Era o tempo do “milagre econômico”.

Governo General Emílio Garrastazu Médici (1969 – 1974)

"A plenitude do regime democrático é uma aspiração nacional. . . "

PRESIDENTE MÉDICI

Costa e Silva não teve muito tempo para se alegrar com os efeitos do AI-5. um derrame o matou, em
agosto de 1969. O povo não teve tempo de se alegrar; uma Junta Militar, comandada pelo general
Lyra Tavares, assumiu o governo até se nomear o novo general-presidente. O vice de Costa e Silva, o
civil Pedro Aleixo (ex-UDN), não tinha apoiado totalmente o AI5 e por isso fora jogado para
escanteio. No mesmo ano, ocorreu a Emenda Constitucional nº 1, que alguns juristas consideram
quase como uma nova Constituição. Ela legalizou o arbítrio e os poderes totalitários da ditadura.
Todas aquelas medidas arbitrárias tipo AI-5 e 477 foram incorporadas à Constituição. Além disso, ela
estabeleceu que o presidente podia baixar medidas (decretos-leis) que valeriam imediatamente. O
Congresso disporia de 60 dias para examinar o decreto. O Congresso tinha 60 dias para votar a
aprovação. Se depois desse prazo não tivesse havido votação (o Congresso poderia, por exemplo,
estar fechado pelo AI-5, ou com número insuficiente de membros comparecendo às sessões), ele
seria automaticamente aprovado por decurso de prazo.
Dias depois, era indicado o novo chefe supremo do país. O novo presidente era o general Emílio
Garrastazu Médici. Seu governo teve dois pontos de destaque: o extermínio da guerrilha e o
crescimento econômico espetacular (o “milagre”).

Nenhuma época do regime militar foi tão repressora e brutal, Nunca se torturou e assassinou tanto.
Nos porões do regime, as pessoas tinham suas vidas postas na marca do pênalti. E assim os órgãos de
re-pressão marcaram gols, liquidando guerrilheiros como Marighella (4/11/69), Mário Alves
(16/11/70) e Lamarca (17/09/71).

Na economia, o ministro Delfim Netto comandou o milagre econômico. A produção crescia e se


modernizava num ritmo espetacular. A inflação, dentro dos padrões brasileiros, até que era
moderada, lá na casa dos vinte e tantos por cento. Construía-se com euforia. Obras, como a ponte
Rio-Niterói, a rodovia Transamazônica, a refinaria de Paulínia e a instalação da tevê em cores (1972),
pareciam mostrar que a prosperidade seria eterna. A classe média comprava ações na Bolsa de
Valores e imaginava se tornar grande capitalista.

Para acelerar o crescimento, ampliaram-se as empresas estatais ou criaram-se novas, principalmente


na produção de aço, petróleo, eletricidade, estradas, mineração e telecomunicações. Os nomes delas
você já ouviu falar: Petrobrás, Eletrobrás, Telebrás, Correios, Vale do Rio Doce, Companhia
Siderúrgica Nacional, Usiminas e tantos outros.

Crescimento e modernização que não beneficiavam as classes trabalhadoras. Pelo contrário, quanto
mais o país crescia, tanto mais piorava a vida do povo. Em 1969, por exemplo, o salário mínimo só
valia 42% do que representava em 1959, Em 1974, isso desceu para 36%.

Os ricos foram ficando cada vez mais ricos e os pobres, cada vez mais pobres, A ditadura foi uma
espécie de Robin Hood às avessas.

Essa distribuição de renda ao contrário era facilitada pelo fato de que não havia nenhuma greve, nem
sindicato independente, nem a oposição no Congresso tinha margem de manobra. Era uma ditadura
que fazia uma coisa incrível: o país crescia como poucos no mundo e quanto mais riquezas eram
produzidas, mais difícil ficava a vida dos trabalhadores.

E a Rede Globo, principal aliada da Ditadura, sempre lembrando ao povo miserável que "está tudo
bem"...

Até nos países mais pobres da África, a mortalidade infantil diminuía. Nas grandes cidades
brasileiras ela crescia, Quanto mais a renda per capita do Brasil aumentava, mais as crianças pobres
morriam porque comiam pouco, não eram vacinadas, não tinham médico, De repente, houve uma
epidemia de meningite, Doença que pode matar, É preciso que os pais estejam alerta. O que fez a
ditadura? Proibiu que os jornais divulgassem qualquer notícia a respeito. O povo tinha de ser
enganado pela imagem de que no Brasil a saúde pública estava sob controle, o que veio em seguida
era previsível: os pais, sem saber do surto da doença, não davam muita importância para aquela
febrezinha do filho, Achavam que era só uma gripe, Não levavam para o posto de saúde, Até que a
criança morria, A meningite mataria milhares de meninos e meninas no Brasil, numa das mais
terríveis epidemias do século, Só esse caso já mostra o quanto a ditadura era absurda, não é mesmo?

O ministro Delfim Netto dizia que era para o povo ter paciência: “temos de esperar o bolo crescer
para depois distribuir os pedaços”. E até hoje o povão está esperando sua fatia. Pois é, na cara-de-
pau, o general-presidente Médici dizia: “A economia vai bem, só o povo é que vai mal.” Viu? Uma
coisinha à toa é que ia mal, um trocinho assim, sem importância, uma poeirinha desprezível chamada
povo...

Grande parte da classe média até que gostava daquilo tudo. Afinal, a ditadura, além de modernizar a
indústria de base, estimulou a de bens de consumo duráveis. Maravilha das maravilhas: a família de
classe média se realizava existencialmente comprando tevê em cores (desde 1972), aparelhagens de
som, automóveis, eletrodomésticos. E até a classe operária foi arrastada nesse processo de crença na
ascensão social baseada na aquisição do radinho de pilha ou do tênis maneiro,

A megalomania planejava as obras estatais, Assim como os cabelos eram compridos e as barras das
cabas eram “boca-de-sino”, as obras eram gigantescas, o governo fazia estádios de futebol em tudo
quanto era canto, mas as escolas caíam aos pedaços, A rodovia Transamazônica, importante para
iniciar a colonização da Amazônia, não incluiu nenhum projeto de proteção ao meio-ambiente, aos
índios, aos camponeses e aos garimpeiros. A ponte Rio-Niterói (1974) foi realmente funda mental
para ligar a economia do Nordeste do país ao Sudeste industrial (RJ e SP), mas ela custou uma
fortuna. Certamente teria sido mais barata se as contas tivessem sido controladas democraticamente.
Muita empresa construtora se deu bem fazendo essa obra encomendada pelo governo, Aliás, em
quase todas essas obras faraônicas (ou seja, enormes, caras e quase inúteis, tal como as antigas
pirâmides dos faraós do Egito) houve esquemas para homens do governo e firmas de engenharia civil
ganharem uma boa grana por fora. Velha história: sem democracia a roubalheira rola solta porque
não há imprensa livre, Congresso independente.

Um tratamento especial foi dado às empresas multinacionais (estrangeiras). Elas tiveram mais
favores do governo do que as empresas nacionais! O que não é de se espantar, pois grande parte dos
homens do poder eram profundamente ligados aos grupos estrangeiros e não hesitaram em usar sua
influência. Analistas como Ricardo Bueno e Moniz Bandeira chegaram a considerar os ministros
Delfim Netto, Mário Henrique Simonsen (que o presidente Collor queria para seu ministro), Golbery
do Couto e Silva, Roberto Campos e outros como “notórios entreguistas”, ou seja, responsáveis
conscientes pelo favorecimento escancarado do governo aos monopólios estrangeiros,

É claro que hoje em dia não se pode ter mais aquela visão de ódio total às multinacionais. Afinal,
com a internacionalização da economia, ou seja, a ligação econômica direta entre quase todos os
países e continentes, elas se tornaram peças fundamentais da economia mundial. Inclusive, porque
parecem realmente ser úteis parceiras em alguns setores, já que nenhum país pode ter sozinho
tecnologia e capital para produzir tudo. Todavia, é sensato esclarecer alguns pontos: por que elas são
as responsáveis por grande parte da dívida externa brasileira? Será benéfico o governo pedir dinheiro
emprestado aos banqueiros internacionais para fazer obras gigantescas a favor das multinacionais?
Ou simplesmente para financiá-las? Será correto que elas mandem para fora lucros de bilhões de
dólares, em vez de aqui reinvestir? Será interessante o seu poder de levar à falência as empresas
nacionais, através de uma concorrência desleal? Será que elas realmente nos transferem tecnologia ou
só mandam pacotes prontos feitos nos seus laboratórios? Será que elas não mandam dinheiro
escondido "por debaixo do pano"? Será que não interferem na nossa vida interna, combatendo
governos que não lhes interessam, mesmo se estes forem a favor do povo? Será saudável que
produzam aqui remédios e produtos químicos proibidos em seus países de origem? Por que será que
um operário da Volkswagen ou da Ford no Brasil faz o mesmo serviço, nos mesmos ritmos e níveis
de tecnologia, que operários dessas empresas na Alemanha ou nos EUA e, no entanto, ganha tão
menos? Tantas perguntas...

Bem, aí estava o “milagre econômico”: modernização, crescimento acelerado, inflação moderada,


facilidades para o investimento estrangeiro, e também ricos mais ricos e pobres mais pobres e
aumento da dívida externa. Você reparou que era um esquema parecido com o que já havia no tempo
de Juscelino Kubitschek? O desenvolvimento espetacular das telecomunicações e da indústria de
bens de consumo duráveis (automóveis, eletrodomésticos, prédios de luxo e mansões financiados
pelo BNH) eram voltados principalmente para a classe média e superior. Milhões de brasileiros
estavam meia por fora desse mercado. Claro, portanto, que essa festa não iria durar muito. 0 modelo
se esgotava e a crise chegava mais rápido do que o Émerson Fittipaldi.

Governo do General Ernesto Geisel ( 1974 – 1979 )

O novo general-presidente, Ernesto Geisel, assumiu o governo num momento difícil da economia do
Brasil e do mundo, Para alimentar o crescimento, ele pediu emprestado aos banqueiros estrangeiros e
tratou de emitir papel-moeda. A inflação começou a aumentar e a engolir salários. Era o fim do
“milagre econômico”. Agora, a insatisfação crescia. Isso ficava claro com o aumento de votos do
MDB. Geisel percebeu que a ditadura estava chegando ao fim de sua vida útil. O jeito era acabar com
o regime mas manter as coisas sob controle. Com ele, começaria a “distensão lenta e gradual”.

O ano de 1973 assinalou o inicio de um choque na economia capitalista mundial. Parecida com a de
1929, mas com efeitos bem menores para os países capitalistas desenvolvidos, que empurraram a
crise para cima do Terceiro Mundo. De certa forma, os apertos econômicos dos países
subdesenvolvidos, nos anos 90, foram continuação do processo de 1973.

Tentaram botar a culpa nos árabes, porque eles aumentaram os preços do petróleo: Conversa fiada. O
aumento foi apenas a recuperação de preços, que vinham caindo muito, desde os anos 50. Para você
ter uma idéia, antes do aumento imposto pela OPEP (Organização dos Países Exportadores de
Petróleo) em 1973, o preço do barril de petróleo no mercado mundial era inferior ao do barril de água
mineral! Claro que o aumento dos preços pegou todo mundo de surpresa, aumentou os custos, cortou
os lucros, provocando inflação e desemprego. A crise do petróleo reforçou a crise geral do
capitalismo em 1973. Mas com certeza a crise não foi só energética. Afinal, países exportadores de
petróleo também entraram em crise!

O que aconteceu foi uma crise clássica de superprodução de mercadorias, tal como ocorrera em 1929.
Depois da Segunda Guerra, os EUA representavam metade da produção econômica mundial. Mas
nos anos seguintes a Europa Ocidental recuperou plenamente sua economia. Surgiu também um
grande competidor, o Japão. De repente, o mercado mundial ficou apertado, não havia como
continuar investindo capital nos mesmos ritmos. As mercadorias começaram a ficar encalhadas e
logo vieram as falências, a inflação, a recessão.

Aqui no Brasil, o governo botava a culpa nos outros. Dizia que a crise era mundial. Certo. Mas por
que aqui ela era tão devastadora? Porque a política econômica da ditadura nos tornava indefesos. O
petróleo não representava nem 25% das nossas importações em 1975. Além disso, não só aumentou
nossa produção interna, como seus preços internacionais cairiam nos anos 80. No entanto, a crise foi
aumentando, ano após ano. Uma coisa tão braba que o nosso jovem leitor com certeza viveu a maior
parte de sua vida sob o signo da crise econômica brasileira.

O que acontece é que o modelo econômico da ditadura era baseado no pequeno mercado interno,
representado pelos ricos e pela classe média. O país estava se transformando na Belíndia, uma
mistura da Bélgica com a Índia: uma quantidade razoável de pessoas (classe média e superior) com
padrão de consumo de país desenvolvido, vivendo numa área com grandes centros industriais e
financeiros, ou seja, a parte do Brasil parecida com a Bélgica, e a gigantesca maioria (classe média
baixa e classes inferiores) com padrão de vida muito baixo, milhões vivendo tão miseravelmente
como na Índia. Tinha-se alcançado um estágio em que não dava para aumentar a produção, por falta
de consumidores aqui dentro. A Bélgica da Belíndia era pequena e a Índia da Belíndia era cada vez
maior. Como produzir mais automóveis se a maioria dos brasileiros não tinha dinheiro para comprá-
los?

Ficava claro que só havia um jeito de ampliar o mercado consumidor: distribuindo renda. Para isso,
seria preciso tocar em privilégios, mexer em interesses poderosos. Então, o regime militar não faria
nada disso.

O governo preferiu outro caminho. Para a economia não entrar em recessão, isto é, para a economia
não regredir, o Estado começou a tomar empréstimos externos para financiar a produção. Supunham
que a economia cresceria, que as exportaÇões se tornariam espetaculares e que tudo isso daria
condições de pagar a dívida externa. Só que os banqueiros internacionais não são trouxas.
Emprestaram dinheiro porque sabiam que o Brasil teria de devolver muito mais em forma de juros.
Se fizer mos as contas direitinho no papel, vamos concluir que nos anos 70 e 80, o Brasil pagou, só
de juros, muito mais do que pediu emprestado! Ou seja, já pagamos tudo, continuamos pagando e
ficamos devendo mais ainda! A dívida externa funciona como uma bomba de sucção que chupa os
recursos da economia do Brasil. Aliás, o problema da dívida externa é comum em todo o Terceiro
Mundo. Segundo os dados insuspeitos do Banco Mundial, na década de 80 foram drenados bilhões de
dólares do Terceiro Mundo para o Primeiro. Ou seja, a parte pobre, esfarrapada e faminta do planeta
é que mandou dinheiro para a parte milionária! Nos anos 90, é óbvio, esse esquema continua.

O mais triste é quando a gente constata que grande parte da dívida externa brasileira foi contraída
financiando a vinda de multinacionais, construindo obras gigantescas só para favorecer empresas
estrangeiras (estradas, hidrelétricas), sem falar construções que o governo nunca terminou, deixando
as máquinas e o material serem destruídos pelo tempo.

Pois é, apertado, o governo precisava de mais dinheiro ainda. Para ele, é fácil. É só fabricar, emitir
papel-moeda. Aí, vem a inflação. Para evitar a inundação de dinheiro, o governo criou mercados
abertos (opens markets), vendendo títulos, ou seja, papéis expedidos com a garantia do governo, que
mais tarde poderiam ser resgatados (o proprietário devolveria para o governo em troca de dinheiro)
por um valor superior. A idéia era "enxugar" o mercado, mas a medida deu a maior força para tudo
quanto é tipo de especulação financeira, quer dizer, os empresários manobravam para negociar esses
títulos com altos lucros. Eis aí um dos grandes problemas da economia brasileira a partir dali: a
especulação financeira. Ela é um ganho artificial, já que não envolve nenhum investimento
produtivo. No fundo, está transferindo riqueza da sociedade para o bolso de alguns espertinhos.

A crise se manifestava com a queda da proporção dos lucros. Os empresários não tinham conversa:
buscaram lucrar na marra, botando os preços lá em cima. Ora, é impossível que os empresários, como
um todo, possam lucrar na base do simples aumento de preços. Quando alguém aumenta os preços, o
outro aumenta também para compensar. Os trabalhadores querem salário maior só para compensar a
perda com os aumentos gerais de preços. Os empresários aumentam os salários e, em seguida, sobem
mais ainda os preços para reparar as perdas com a alfa de preços e salários. Vira um círculo vicioso.
Resultado: o dinheiro vai perdendo o valor. Espiral inflacionária. E o pior é que geralmente os preços
crescem mais rápido do que os salários. Portanto, quem mais perde com a inflação são os
trabalhadores. Pois a inflação veio a jato, mas os salários andam a passo de cágado.

O general Ernesto Geisel era irmão do arquipoderoso general Orlando Geisel. Família unida é
ditadura unida. Sua presidência ocorreu dentro desse panorama de crise econômica. Mesmo assim;
Geisel se deu ao luxo de ter um ministro do Trabalho, Arnaldo Prieto, cuja mansão em Brasília,
segundo o Jornal do Brasil, consumia, mensalmente, 954 kg de carne e 432 kg de manteiga, Que
coisa: uma tonelada de bifes por mês, como devia ser gordo o ministro do Trabalho! Bem, com
certeza os salários dos trabalhadores não eram tão gordos.

No meio da crise de energia, o Brasil teve a sorte de descobrir petróleo na bacia de Campos (RJ), em
frente à cidade de Macaé. A Petrobrás pôde aumentar sua produção espetacularmente. Mas Geisel
tinha também outros planos para resolver o problema energético: como não havia dinheiro no Brasil,
a solução foi gastar mais dinheiro ainda. O acordo nuclear Brasil-Alemanha custou uma fortuna de
bilhões de dólares. Para fazer usinas perigosíssimas num país onde 80% do potencial hidrelétrico
ainda não foi aproveitado. Incrível, não? A usina de Angra dos Reis (RJ) fica exatamente entre os
dois maiores centros industriais do país: São Paulo e Rio de Janeiro. Imagine se houvesse um
acidente nuclear!

Na verdade, a velha Doutrina de Segurança Nacional continuava ativa. Geisel montou um acordo
nuclear com a Alemanha porque acreditava que o Brasil precisava aprender a dominar a tecnologia
capaz de produzir, num futuro próximo, a bomba atômica. Na mesma época, a Argentina, que vivia
uma ditadura militar desde 1976, também sonhava com cogumelos nucleares. Guerra: coisa de gente
que andou tomando uns cogumelos não exatamente nucleares, não é verdade?

No mesmo ano (1975), teve início o Projeto Pró-álcool. A idéia era substituir a gasolina pelo álcool
combustível. Os usineiros se alegraram. As plantações de cana-de-açúcar foram ocupando tudo
quanto é lugar, expulsando os camponeses moradores, acabando com as plantações de alimentos
(tornando a comida mais cara) e despejando o poluente vinhoto nos rios. Nos anos 80, com a queda
do preço mundial de petróleo, o Brasil ficou com uma enorme frota de carros movidos a um
combustível caríssimo. Já em 1990, querendo melhores preços, os usineiros '`sumiriam" com o
álcool. Na verdade, o álcool se revelou um combustível muito mais caro do que a gasolina (no posto,
o álcool é mais barato porque é subsidiado, ou seja, o governo paga uma parte da conta. Mas onde
arruma dinheiro para fazer essa caridade? Cobrando mais alto pela gasolina. Trocando em miúdos:
quem tem carro a gasolina está ajudando a encher o tanque de quem tem carro a álcool). O que se viu
nesses anos todos foi o governo emprestando milhões de dólares aos usineiros do Nordeste, do Rio de
Janeiro e de São Paulo e depois perdoando as dívidas porque não suporta mais a choradeira dos
produtores de álcool e açúcar. Enquanto isso, os cortadores de cana continuam passando fome.

Ora, por que não estimularam o transporte ferroviário e o fluvial, bem mais baratos, podendo, em
alguns casos, usar energia elétrica? Não foi incompetência. Na verdade, desde Juscelino que uma das
espinhas dorsais de nossa indústria é fabricação de automóveis e caminhões. As pressões das
multinacionais desse setor forçaram o governo a abandonar outras opões de transporte. As estradas de
ferro, tão importantes nos países desenvolvidos, foram relegadas a segundo plano pelo governo e as
estatais deste setor tiveram seus recursos cortados.

O II PND (Segundo Plano Nacional de Desenvolvimento) - o I PND foi no governo Médici, sob a
batuta do ministro Delfim Netto -, comandado pelo ministro da Fazenda, Mário Henrique Simonsen,
e pelo do Planejamento, Reis Velloso, tinha como objetivo começar a substituir as importações de
bens de capital (indústria de base). Para isso, o BNDE concedeu créditos generosos a empresas
privadas do setor, mas principalmente as empresas estatais tiveram grande crescimento,
especialmente a Eletrobrás (que comprou a multinacional Light and Power e levou adiante a
construção da maior usina hidrelétrica do mundo, Itaipu, na fronteira com o Paraguai), a Embratel
(telefones, satélites de comunicações, televisão etc.), a Petrobrás e as estatais de aço. Tudo isso
alimentado por uma dívida externa que aumentava sem parar. Em breve, os banqueiros viriam cobrar
a dívida e os juros. Aí, a economia sentiria a fona de sucção dos interesses internacionais.
“Distensão ‘lenta, gradual e segura’ rumo à democracia”
Os resultados dos problemas econômicos foi que nas eleições para deputado federal e estadual e para
o Senado, em 1974 e 1978, o MDB teve ótima votação. Um aviso claro para o pessoal da ditadura se
mancar. O povo estava dizendo não ao regime.

No Alto Comando Militar, as divisões políticas se acentuaram. Uns achavam que a ditadura deveria ir
afrouxando, acabando de modo lento e controlado. Talvez, para os ditadores saírem discretamente
pelos fundos, sem ninguém correr atrás deles. Esses generais moderados e favoráveis ao gradual
retorno à normalidade democrática eram chamados de castelistas, porque se sentiam continuadores de
Castello Branco. Era o caso do próprio Geisel e do presidente seguinte, Figueiredo. Outros militares
defendiam a “linha dura” - alguns desses eram civis -, e queriam apertar mais ainda. Costa e Silva e
Médici, por exemplo, tinham sido de linha dura. Começou então um combate nos bastidores, entre os
militares castelistas e os linha dura. E os linha dura bem que pegaram pesado.

Em outubro de 1975, o jornalista Vladimir Herzog, diretor de telejornalismo da TV Cultura de São


Paulo, foi chamado para um interrogatório num quartel do Exército, sede do DOI-CODI. Lá ficou,
preso e incomunicável. Dias depois, a família recebeu a notícia de que ele havia “se suicidado”. Com
um detalhe: teria de ser enterrado em um caixão lacrado, para que ninguém pudesse ver o estado do
cadáver. Suicídio mesmo ou o corpo estava arrebentado pela tortura? No ano seguinte, o operário
Manoel Fiel Filho sofreu o mesmo destino. A farsa era evidente: é óbvio que ambos tinham sido
mortos por espancamento. Em homenagem a Herzog, o cardeal de São Paulo, D. Paulo Evaristo
Arns, junto ao pastor James Wright e ao rabino Henri Sobel, dirigiu um culto religioso ecumênico
(reunindo as religiões) em frente à catedral da Sé. Havia milhares de pessoas nesta que foi a primeira
manifestação de massa desde 1968. Mostra clara de que a sociedade civil estava voltando para as ruas
para protestar contra o arbítrio.

Indiretamente, Geisel reconheceu o crime. Não prendeu ninguém, mas exonerou o comandante do II
Exército, responsável pelos acontecimentos. Deixava claro que não admitiria os atos violentos da
linha dura. Em 1978, o Poder Judiciário daria ganho de causa à família de Herzog, botando a culpa na
União. Sinal dos tempos.

Claro que a esquerda não podia dar bobeira. A ditadura ainda existia. Um trágico exemplo disso foi o
massacre da Lapa, quando agentes do Exército invadiram uma casa nesse bairro da capital paulista,
em 1976, onde se realizava uma reunião secreta de dirigentes do PC do B. As pessoas nem puderam
esboçar reação: foram exterminadas ali mesmo, covardemente.

Apesar disso, Geisel apostava na distensão lenta e gradual. Para isso, teve de usar a habilidade para
derrubar seus opositores de linha dura. A balança pendeu para o seu lado quando ele, num gesto
fulminante, exonerou o general Sílvio Frota (1977), ministro do Exército, tido como de extrema
direita e ligado à tortura.

A partir daí, a dureza do regime começou a diminuir bem devagar. Alguns militares eram favoráveis
à distensão política porque realmente estavam imbuídos de convicções democráticas. Outros, não tão
liberais, avaliavam que as Forças Armadas estavam começando a se desgastar ao se manter num
governo que enfrentava uma crise econômica violenta. Geisel, portanto, tinha um plano claro:
distensão lenta e gradual. Ou seja, abrir o regime bem devagarzinho e sem perder o comando sobre
ele.
Dentro deste espírito de distensão controlada, Geisel buscou evitar as vitórias eleitorais do MDB.
Para isso, mudou as regras das eleições. Seu ministro da Justiça, Armando Falcão, famoso pela
inteligente proibição da transmissão, pela tevê, do balé Bolshoi de Moscou (bailarinos são presa fácil
do comunismo?), inventou a tal Lei Falcão (1976), que dizia que a propaganda política na tevê só
podia exibir uma foto 3X4 do candidato e seu currículo, lido por um locutor. Nada de um candidato
do MDB aparecer na telinha ou no rádio para criticar o governo e fazer propostas novas.

O natal de 1977 foi antecipado: Geisel fechou o Congresso e deu um presentinho para os brasileiros,
o Pacotão de Abril. Lindas surpresas. Para começar, a cada eleição a Arena perdia mais deputados
para o MDB. Em breve, o partido do governo não teria os 2/3 do Congresso necessários para mudar
alguma coisa da Constituição. Então, o Pacotão determinava que a Constituição agora poderia ser
modificada com apenas 50% dos votos dos congressistas mais um. Assim, a Arena (ainda maioria)
garantia seu poder constitucional. No senado, o MDB também ameaçava. Resultado: o Pacotão
determinou que um terço dos senadores passariam a ser biônicos, ou seja, escolhidos indiretamente
pelas Assembléias Legislativas de cada Estado. Em outras palavras, a Arena já tinha garantido quase
1/3 do senado, os outros 2/3 seriam disputados com o MDB nas eleições normais, o Pacotão também
alterou o quociente eleitoral, de modo que os estados do Nordeste, onde a população rural ainda era
dominada pelos currais eleitorais, e portanto votava com a Arena, tivessem assegurado o direito de
eleger um número maior de deputados para o Congresso. No sertão nordestino, chuva mesmo, só de
deputados da Arena. O Pacotão fazia das eleições um jogo de futebol em que o dono da bola joga de
um lado e, ao mesmo tempo, é juiz.

Em 1978 foi decretado o fim do AI-5, o que mostrava alguma boa vontade de Geisel com a distensão
política, Mas antes de ele acabar com o ato arbitrário, usou o AI-5 para cassar diversos opositores.
Mais ou menos como o pistoleiro que mata todo mundo e que, depois de acabarem as balas, resolve
se arrepender do que fez. A garantia disso. tudo era a Lei de Segurança Nacional (LSN) que
continuava sendo mantida.

Em política exterior, o Brasil baseou-se no chamado pragmatismo responsável: restabeleceu relações


com países comunistas como a China, porque isso trazia vantagem comercial e diplomática. Em
1975, na África, Angola, Moçambique, Guiné-Bissau e Cabo Verde deixaram de ser colônias de
Portugal. No poder, partidos de orientação marxista, apoiados por Cuba e URSS. Acontecia que o
governo militar ainda seguia a visão da Doutrina de Segurança Nacional que sonhava em transformar
o Brasil na grande potência que dominaria a América do Sul e o Sul da África. Por isso, o Brasil não
teve conversa e apoiou os governos de esquerda em Angola e Moçambique, inclusive contrariando a
vontade do governo racista da África do Sul e dos EUA. Na verdade, os EUA, do presidente Carter,
andaram pressionando o governo militar brasileiro por causa da violação de direitos humanos
(incluindo tortura e execução de presos políticos). Coisa de americanos: apoiaram o golpe de 64,
depois mudaram de governo e passaram a criticar. Diante disso, e de olho no acordo nuclear Brasil –
Alemanha, Geisel acabou rompendo um acordo militar Brasil-EUA. Isso mostra uma coisa muito
importante: apesar de o regime militar brasileiro ter sido apoiado pelos EUA, isso não quer dizer que
o Brasil sempre tivesse seguido os americanos. Não foram eles que impuseram o regime aqui. A
explicação básica do que acontece no Brasil tem de ser buscada aqui mesmo, nas nossas estruturas,
nas nossas contradições internas, Culpar o imperialismo por tudo é cômodo e superficial.

No final do seu governo, Geisel passou o bastão para o general Figueiredo. A crise continuava e as
pressões populares pelas mudanças, também.

(1964 - 1985)
As intervenções militares foram recorrentes na história da república brasileira. Antes de 1964, porém,
nenhuma dessas interferências resultou num governo presidido por militares. Em março de 1964,
contudo, eles assumiram o poder por meio de um golpe e governaram o país, nos 21 anos seguintes,
instalando um regime ditatorial.

A ditadura restringiu o exercício da cidadania e reprimiu com violência todos os movimentos de


oposição. No que se refere à economia, o governo colocou em prática um projeto desenvolvimentista
que produziu resultados bastante contraditórios, tendo em vista que o país ingressou numa fase de
industrialização e crescimento econômico acelerados, sem beneficiar, porém, a maioria da população,
em particular a classe trabalhadora.

Antecedentes do golpe

Os militares golpistas destituíram do poder o presidente João Goulart, que havia assumido a
presidência após a inesperada renúncia de Jânio Quadros, em 1961. Sua posse foi bastante
conturbada, e só foi aceita pelos militares e pelas elites conservadoras depois da imposição do regime
parlamentarista. Essa fórmula política tinha como propósito limitar as prerrogativas presidenciais,
subordinando o Poder Executivo ao Legislativo. Goulart, contudo, manobrou politicamente e
conseguiu aprovar um plebiscito, cujo resultado restituiu o regime presidencialista.

O presidente, entretanto, continuou a não dispor de uma base de apoio parlamentar que fosse
suficiente para aprovar seus projetos de reforma política e econômica. A saída encontrada por
Goulart foi a de pressionar o Congresso Nacional por meio de constantes mobilizações populares,
que geraram inúmeras manifestações públicas em todo o país.

Ao mesmo tempo, a situação da economia se deteriorou, provocando o acirramento dos conflitos de


natureza classista. Todos esses fatores provocaram, de forma conjunta, uma enorme instabilidade
institucional, que acabou por dificultar a governabilidade.

Nessa conjuntura, o governo tentou mobilizar setores das Forças Armadas, como forma de obter
apoio político, mas isso colocou em risco a hierarquia entre os comandos militares e serviu como
estímulo para o avanço dos militares golpistas.

Em 1964, a sociedade brasileira se polarizou. As classes médias, as elites agrárias e os industriais se


voltaram contra o governo e abriram caminho para o movimento dos golpistas.

Os governos militares

Governo Castello Branco (abril de 1964 a julho de 1967):

O marechal Humberto de Alencar Castello Branco esteve à frente do primeiro governo militar e deu
início à promulgação dos Atos Institucionais. Entre as medidas mais importantes, destacam-se:
suspensão dos direitos políticos dos cidadãos; cassação de mandatos parlamentares; eleições indiretas
para governadores; dissolução de todos os partidos políticos e criação de duas novas agremiações
políticas: a Aliança Renovadora Nacional (ARENA), que reuniu os governistas, e o Movimento
Democrático Brasileiro (MDB), que reuniu as oposições consentidas.

Em fins de 1966 o Congresso Nacional foi fechado, sendo imposta uma nova Constituição, que
entrou em vigor em janeiro de 1967. Na economia, o governo revogou a Lei de Remessa de Lucros e
a Lei de Estabilidade no Emprego, proibiu as greves e impôs severo controle dos salários. Castelo
Branco planejava a transferir o governo aos civis no final de seu mandato, mas setores radicais do
Exército impuseram a candidatura do marechal Costa e Silva.

Governo Costa e Silva (março de 1967 a agosto de 1969):

O marechal Arthur da Costa e Silva enfrentou a reorganização política dos setores oposicionistas,
greves e a eclosão de movimentos sociais de protesto, entre eles o movimento estudantil
universitário. Também neste período os grupos e organizações políticas de esquerda organizaram
guerrilhas urbanas e passaram a enfrentar a ditadura, empunhando armas, realizando seqüestros e atos
terroristas. O governo, então, radicalizou as medidas repressivas, com a justificativa de enfrentar os
movimentos de oposição.

A promulgação do Ato Institucional nº 5 (AI-5), em dezembro de 1968, representou o fechamento


completo do sistema político e a implantação da ditadura. O AI-5 restringiu drasticamente a
cidadania, pois dotou o governo de prerrogativas legais que permitiram a ampliação da repressão
policial-militar.

Suprimidos os direitos políticos, na área econômica o novo presidente flexibilizou a maioria das
medidas impopulares adotadas por seu antecessor. Costa e Silva não conseguiu terminar seu mandato
devido a problemas de saúde. Afastado da presidência, os militares das três armas formaram uma
junta governativa de emergência, composta pelos três ministros militares: almirante Augusto
Rademaker, da Marinha; general Lira Tavares, do Exército; e brigadeiro Sousa e Melo, da
Aeronáutica.

Ao término do governo emergencial, que durou de agosto a outubro de 1969, o general Médici foi
escolhido pela Junta Militar para assumir a presidência da República.

Governo Médici (novembro de 1969 a março de 1974):

O general Emílio Garrastazu Médici dispôs de um amplo aparato de repressão policial-militar e de


inúmeras leis de exceção, sendo que a mais rigorosa era o AI-5. Por esse motivo, seu mandato
presidencial ficou marcado como o mais repressivo do período da ditadura. Exílios, prisões, torturas e
desaparecimentos de cidadãos fizeram parte do cotidiano de violência repressiva imposta sobre a
sociedade.

Siglas como Dops (Departamento de Ordem Política e Social) e Doi-Codi (Destacamento de


Operações e Informações-Centro de Operações de Defesa Interna) ficaram conhecidas pela brutal
repressão policial-militar. Com a censura, todas as formas de manifestações artísticas e culturais
sofreram restrições. No final do governo Médici, todas as organizações de luta armada foram
dizimadas.

Na área econômica, o governo colheu os frutos do chamado "milagre econômico", que representou a
fase áurea de desenvolvimento do país, obtido por meio da captação de enormes recursos e de
financiamentos externos. Todos esses recursos foram investidos em infra-estrutura: estradas, portos,
hidrelétricas, rodovias e ferrovias expandiram-se e serviram como base de sustentação do vigoroso
crescimento econômico. O PIB (Produto Interno Bruto) chegou a crescer 12% ao ano e milhões de
empregos foram gerados.
A curto e médio prazo, esse modelo de desenvolvimento beneficiou a economia, mas a longo prazo o
país acumulou uma dívida externa cujo pagamento (somente dos juros) bloqueou a capacidade de
investimento do Estado. A estabilidade política e econômica obtida no governo Médici permitiu que
o próprio presidente escolhesse seu sucessor: o general Ernesto Geisel foi designado para ocupar a
presidência da República.

Governo Geisel (março de 1974 a março de 1979):

O governo do general Ernesto Geisel coincidiu com o fim do milagre econômico. O aumento
vertiginoso dos preços do petróleo, principal fonte energética do país, a recessão da economia
mundial e a escassez de investimentos estrangeiros interferiram negativamente na economia interna.

Na área política, Geisel previu dificuldades crescentes e custos políticos altíssimos para a corporação
militar e para o país, caso os militares permanecessem no poder indefinidamente. Ademais, o MDB
conseguiu expressiva vitória nas eleições gerais de novembro de 1974, conquistando 59% dos votos
para o Senado, 48% da Câmara dos Deputados e as prefeituras da maioria das grandes cidades. Por
essa razão, o presidente iniciou o processo de distensão lenta e gradual em direção à abertura e à
redemocratização.

Não obstante, militares radicais (denominados pelos historiadores como a "linha dura"), que
controlavam o sistema repressivo, ofereceram resistência à política de liberalização. A ação desses
militares gerou graves crises institucionais e tentativas de deposição do presidente.

Os casos mais notórios de tentativas de desestabilizar o governo ocorreram em São Paulo, quando
morreram, sob tortura, o jornalista Vladimir Herzog e o operário Manoel Fiel Filho.

O conflito interno as Forças Armadas, decorrente de divergências com relação à condução do Estado
brasileiro, esteve presente desde a tomada do poder pelos militares até o fim da ditadura. Esse
conflito demonstra que a ditadura se caracteriza como um período de constante anarquia militar.

No entanto, Geisel conseguiu superar todas as tentativas de desestabilização do seu governo. O golpe
final contra os militares radicais foi dado com a exoneração do ministro do Exército, general Sílvio
Frota.

Ao término do mandato de Geisel, a sociedade brasileira tinha sofrido muitas transformações. A


repressão havia diminuído significativamente; as oposições políticas, o movimento estudantil e os
movimentos sociais começaram a se reorganizar. Em 1978, o presidente revogou o AI-5 e restaurou o
habeas corpus. Geisel conseguiu impor a candidatura do general João Batista Figueiredo para a
sucessão presidencial.

Governo Figueiredo (março de 1979 a março de 1985):

João Baptista de Oliveira Figueiredo foi o último general presidente, encerrando o período da
ditadura militar, que durou mais de duas décadas.

Figueiredo acelerou o processo de liberalização política e o grande marco foi a aprovação da Lei de
Anistia, que permitiu o retorno ao país de milhares de exilados políticos e concedeu perdão para
aqueles que cometeram crimes políticos. A anistia foi mútua, ou seja, a lei também livrou da justiça
os militares envolvidos em ações repressivas que provocaram torturas, mortes e o desaparecimento
de cidadãos. O pluripartidarismo foi restabelecido. A ARENA muda a sua denominação e passa a ser
PDS; o MDB passa a ser PMDB. Surgem outros partidos, como o Partido dos Trabalhadores (PT) e o
Partido Democrático Trabalhista (PDT).

O governo também enfrentou a resistência de militares radicais, que não aceitavam o fim da ditadura.
Essa resistência tomou a forma de atos terroristas. Cartas-bombas eram deixadas em bancas de jornal,
editoras e entidades da sociedade civil (Igreja Católica, Ordem dos Advogados do Brasil, Associação
Brasileira de Imprensa, entre outras). O caso mais grave e de maior repercussão ocorreu em abril de
1981, quando uma bomba explodiu durante um show no centro de convenções do Rio Centro. O
governo, porém, não investigou devidamente o episódio.

Na área econômica, a atuação do governo foi medíocre, pois os índices de inflação e a recessão
aumentaram drasticamente. A crise na economia não foi devidamente enfrentada.

No último ano do governo Figueiredo surgiu o movimento das Diretas Já, que mobilizou toda a
população em defesa de eleições diretas para a escolha do próximo presidente da República. O
governo, porém, resistiu e conseguiu barrar a Lei Dante de Oliveira. Desse modo, o sucessor de
Figueiredo foi escolhido indiretamente pelo Colégio Eleitoral, formado pela Câmara dos Deputados e
pelo Senado Federal. Em 15 de janeiro de 1985, o Colégio Eleitoral escolheu o deputado Tancredo
Neves como novo presidente da República. Tancredo derrotou o deputado Paulo Maluf. Tancredo
Neves, no entanto, adoeceu e veio da falecer. Em seu lugar, assumiu o vice-presidente, José Sarney.

Renato Cancian

Fonte: educacao.uol.com.br

A DITADURA MILITAR no Brasil

E SEUS MOTIVOS
Duas obras literárias de autores distintos são destrinchadas no intuito de perseguir os porquês do
golpe de 64 e seus (des)caminhos

Castelo Branco, o primeiro presidente da ditadura militar


Brasil enfrentou de 1964 a 1985 um dos períodos mais obtusos de toda a sua história. Trata-se da
ditadura militar, imposta com apoio da burguesia nacional reacionária e com grande contribuição,
inclusive bélica, do capitalismo estrangeiro. E para aprofundar apropriadamene esta rápida e
introdutória definição do tema, nada melhor do que as valiosas contribuições de dois ícones dos
pensar tupiniquim para o entendimento do maior fenômeno histórico-nacional de nosso século XX.

A primeira obra é Vida e Morte da Ditadura (Vozes, 1984), do historiador e militar da reserva Nelson
Werneck Sodré. Um livro que estabelece as condições para a implantação do regime fascista, como
ele denomina a ditadura vivida no país, além de enfatizar a influência do imperialismo – leia-se
Estados Unidos, na visão do autor – para a constituição e consolidação do golpe no país.

O outro trabalho pertence ao sociólogo Florestan Fernandes e tem o título de A Ditadura em Questão
(T.A. Queiroz, 1982). A análise perpassa na aliança da burguesia nacional com os golpistas como
base sólida de sustentação para o sucesso do regime, enquanto este teve gás para manter-se. Outro
aspecto interessante do livro está nos mecanismos adotados pela cúpula militar para tentar impor um
ar “democrático” a algo totalmente despido destas premissas, como no caso da liberalização
outorgada, a manipulação dos partidos ou até mesmo a institucionalização da violência nos famosos
“anos de chumbo”.

Segundo ambos os trabalhos, a questão do imperialismo crava profundas marcas na história do


regime, como parte de uma aliança de três pontas, defendida pelos autores como condição sine qua
non para o período ditatorial: o exército brasileiro, a burguesia nacional e a burguesia estrangeira,
principalmente dos EUA, que possuía interesses óbvios nesta região. Uma das explicações de Sodré
passa justamente pelo momento histórico pós-Segunda Guerra Mundial e, portanto, anterior até
mesmo ao dia 31 de março de 1964.

AS CONDIÇÕES QUE GERARAM A “REVOLUÇÃO BRASILEIRA”

Com a derrota do nazismo alemão, do fascismo italiano e do militarismo japonês para os aliados, as
forças fascistas que cresciam no Brasil, em particular dentro do exército, perderam espaço para o
conservadorismo “democrático” que a burguesia tradicional tanto desejava manter. Além disso,
União Soviética e Estados Unidos saíram vitoriosos da guerra, cada um, porém, seguindo um
caminho diferente do outro. Os EUA, defendendo a propriedade, o capitalismo e a liberdade como
balizas fundamentais do crescimento econômica. Já a ex-URSS tinha sua ideologia solidificada no
comunismo, buscando a horizontalidade nas relações econômicas e sociais, algo totalmente diverso
do que o american way of life pregaria a partir da década de 50.

Isto fez com que o mundo se dividisse, ao menos imaginariamente, em dois: uns países do lado dos
Estados Unidos e seus dogmas capitalistas e outros, de maior proximidade ao poderio comunista da
então União Soviética. E o Brasil, com seu papel estratégico na América do Sul, tinha a obrigação de
se posicionar. Assim, Washington fez de tudo para trazer os brasileiros para junto de suas convicções
e anseios.

ANTI-COMUNISMO

A campanha do comunismo como o monstro e causa de todos os males estava colocada e foi levada à
exaustão pela mídia durante aqueles anos, apoiada por políticos e militares. Isso tanto é verdade e
solidificou-se de tal maneira que no Brasil o medo dos ideais igualitários se tornou algo por demais
assustador. De tão arraigado, qualquer um que cismar em falar de comunismo já será visto de forma
estigmatizada e julgada sob pré-conceitos capitalistas ocidentais desprovidos de reflexão dialética,
mesmo hoje em dia, com supostos ares democráticos nos embalando.

Presidente Ernesto Geisel(à dir.) e General Médici, seu antecessor na Presidência

Com tudo isto, qualquer sinal de movimentação democrática nos anos que se seguiram foram
massacrados aterradoramente pelo discurso do senso comum burguês, erguendo à condição de
“comunista” toda e qualquer pessoa que defendesse os ideais democráticos e libertários que poderia
crer. Por conta desta pseudoameaça foi instaurada no Brasil a “Revolução Brasileira” (que possui este
nome entre os historiadores, dadas as suas características marcantes de uma revolução), com o
propósito de “livrar o país do comunismo”, mergulhando a nação num dos períodos mais nebulosos e
trágicos de toda a nossa história recente.

O golpe contou com grande participação do chamado imperialismo, devido ao plano de controlar os
governos dos países latino-americanos, impedindo que a “praga comunista” os contaminasse, como
“ocorrera” com Cuba, com a revolução socialista de 1959. Esse “controle” procurava manter
governantes alinhados com a proposta imperial, isto é, de dependência ao mercado externo, e
fortalecer as culturas primárias de exportação.

Com isto, como Sodré afirma em seu livro, vultuosas verbas orçamentárias dos Estados Unidos eram
destinadas e tropas enviadas ao sul da América, para treinamento de soldados, práticas da tortura, etc.
Mas todo esse dinheiro retornava à esperta família Sam através das vendas de produtos
estadunidenses nestes locais, que se comprometiam – obrigatoriamente, diga-se – a adquirir os
manufaturados do Império.

OS MECANISMOS DO REGIME PARA MANTER-SE NO PODER

Com este cenário estabelecido, fazia mister criar as condições para ampliar os poderes obtidos com a
derrubada do governo democrático de João Goulart e a subida do general Castelo Branco à
Presidência da República. Justificados na burguesia que via a ditadura como uma benção ante o
avanço democrático que vivia o país, os militares impuseram todo o tipo de arbitrariedade em suas
ações. Governaram através de decretos-lei, sem precisar passar pelo Legislativo, expurgando
funcionários públicos e políticos que ameaçavam os interesses do regime, ao mesmo tempo que
mantinha uma relativa liberdade de imprensa e firmava pontes com posições amenas da esquerda
nacional. Assim, Castelo Branco e a ala “branda” (se é que pode receber tal nome) da ditadura
aumentavam seu poder.

Mas, como diria Sodré, o “aperfeiçoamento da ditadura” ocorreu em fins de 1968, com a instauração
do mais conhecido ato institucional imposto durante o regime, o AI-5. Com isto, a ponte foi sabotada
e todas as possibilidades de negociações entre governo ditatorial e oposição foram minadas com a
extinção dos partidos políticos e a criação de mecanismos contra a realização de greves. Mesmo
assim, para tentar demonstrar tolerância e também sabotar a articulação da oposição, foram criados
dois partidos: a Arena (Aliança Renovadora Nacional) e o MDB (Movimento Democrático
Brasileiro). Só que essa concentração do inimigo em um só dos lados seria prejudicial aos militares
num futuro próximo.

Prosseguindo com as contradições, o Congresso era aberto e fechado à revelia dos mandatários, a
imprensa fora censurada e as perseguições políticas intensificadas, com o aumento de torturas,
assassinatos e desaparecimentos de pessoas, institucionalizando, assim, a violência contra quem
ousasse questionar o regime. Tudo isso ocorreu principalmente durante 1969-74, período em que a
ditadura mostrou sua face mais ríspida e também, como contraste, a pele mais graciosa de um
crescimento econômico fictício.

Durante esse tempo os militares viveram em lua de mel com a burguesia reacionária. Isso porque,
com o “milagre econômico” – plano de abertura total e irrestrita do mercado nacional, implementado
por Antônio Delfim Neto, então Ministro da Fazenda, que possibilitou ao país crescer
vertiginosamente – a classe média teve acréscimo substancial em seu poder aquisitivo, possibilitando
comprar vários artigos importados dos EUA. Enquanto isso a população pobre se distanciava ainda
mais nos índices econômicos das poucas pessoas que possuíam muito, acentuando perigosamente a
desigualdade social.

Ocorre que, esse tão propalado milagre estava com seus dias contados desde sua implantação. Era
impossível manter o mercado brasileiro aberto e desprotegido daquela forma, contraindo
empréstimos e cedendo vantagens a empresas estrangeiras, sem causar um rombo nas contas públicas
e crescimento inimaginável da inflação e da dívida externa. Tal fato tornou-se mais evidente quando
da crise mundial do petróleo, em 1973. Muitas nações, como o Brasil, quebraram e economias
inteiras tiveram de ser remodeladas, abrindo espaço para premissas neoliberais, em contrapartida aos
métodos keynesianos que estavam em voga na Europa desde a última guerra mundial.

Presidente Ernesto Geisel e general João Figueiredo, que viria a sucedê-lo na presidência.

A DERROCADA DA DITADURA

A crise do petróleo foi um duro golpe para os militares que, já sem o mesmo apoio da burguesia, com
sérias divisões internas e sofrendo pressões, mesmo que diminutas, da população quanto às
atrocidades do AI-5, foram levados a uma saída estratégica da ditadura, como colocaria Sodré. A
saída encontrada por eles estava na chamada “abertura, lenta, gradual e segura” proposta durante o
governo do general Ernesto Geisel, em meados da década de 70.
Esta “abertura” consistia, na verdade, em conceder determinados direitos à população, mas sem abrir
deliberadamente o acesso às esferas políticas do regime. Trata-se da liberalização outorgada,
exaustivamente debatida por Florestan Fernandes em sua obra, que, metaforicamente, seria algo
como soltar o gado no pasto, manejando-o com o cão. Encaminhar o país a uma “volta à
democracia”, porém sem revoluções, guerras, brigas, mantendo as coisas como estavam, apesar dos
somente aparentes rumos libertários que a nação parecia tomar.

Este intento foi amplamente apoiado pela burguesia e por outros que compartilhavam as opiniões do
regime, chamados por Florestan Fernandes de “consenso nacional”. Este consenso desejava ver “a
desagregação da ditadura sem rupturas e sem conflitos profundos no seio da própria burguesia”. Caso
contrário, como asserta o autor, isto colocaria sua supremacia em risco e abriria espaço para as
classes menos abastadas lutarem por melhorias significativas e almejarem tomar o poder.

Outro mecanismo adotado, já na década de 80, foi estabelecer a “reforma dos partidos”, incentivando
a criação de novos partidos políticos e o retorno dos antigos. Isto, na verdade, mostrava o interesse
dos militares em renovar sua “cara” perante o povo, pois levavam sucessivas “surras eleitorais” nos
pleitos menores. Com isto o Arena se transformou em PDS (Partido Democrata Social), enquanto a
oposição se espalhou entre o MDB, mudado para PMDB, o PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), o
PDT (Partido Democrata Trabalhista) e o PT (Partido dos Trabalhadores), entre outros menos
significativos. Com esta divisão entre os opositores, a ditadura pretendia obter território nas eleições
posteriores, para prosseguir no controle até os últimos suspiros de um regime que não tinha mais para
onde ir.

À FRENTE DO LEME

Tanto Vida e Morte da Ditadura como A Ditadura em Questão mostram como os militares foram
perspicazes na ação para a tomada do poder, contando com as ajudas já citadas, pois perceberam as
debilidades democráticas do Brasil naquele período, que vivia perdido em políticos conservadordes
com roupagens populistas. Os militares tencionavam instar a nação a uma condição de maior ordem
política e econômica, impondo um governo autocrático burguês, como definiu Fernandes, para depois
devolver o leme brasileiro às forças democrático-burguesas, que nunca deixaram de controlar o
navio, apenas o dirigiram à distância.

Rodrigo Herrero

Fonte: www.rabisco.com.br

Ditadura Militar no Brasil

1964-1985
· Política

- Em 01/04/1964 faz-se o AI-1 (Ato Institucional nº 1) que depunha Jango e dá início a Ditadura
Militar;

- Os militares afirmaram que o comunismo ameaçava a ordem nacional, o Brasil e afirmavam que
Jango era comunista;
- Os militares alegaram que foi um Golpe que instituiu uma Ditadura para garantir a democracia, que
mais tarde voltaria a democracia;

- O regime era presidencialista, tinha presidente e vice-presidente, que eram eleitos indiretamente
pelo Congresso, mas todo Congresso era composto por militares e tinha um só candidato à
Presidência;

- O presidente poderia cassas mandatos e direitos políticos por 10 anos, com isso garantiria a maioria
no Congresso e teria seus interesses garantidos;

- Mauro Borges, Íris Rezende, Lionel Brizola foram cassados de seus mandatos;

- O presidente lançou o Estado de Sítio, que suspendia todos direitos civis. Tinha ainda toque de
recolher e prisão sem mandato;

- Criou-se o SNI (Serviço Nacional de Informação) que fazia investigações, surgiu os arapongas, era
a FBI brasileira;

- Teve censura de todas as formas;

- O poder Executivo era o poder mais importante e com mais poderes;

- O AI-1 é o único que tem prazo de validade, válido por 1 ano. Os militares queriam disfarçar, pois
afirmavam que o Golpe, que a Ditadura era só para organizar a casa, o Brasil;

- Existiam duas linhas militares ® existiam dois grupos dentro do exército que se divergiam:

· Sorbornne: Grupo universitário, intelectualizado, ligado a escola superior de Guerra, querem


diálogo. É a linha castelista ( Castelo Branco);

· Linha-dura: prega a repressão ao povo, só via a solução por aí, é o grupo mais violento. Ex.:
Médici.

· Economia

- Foi um período de política econômica entreguista, utilizava capitais externos para desenvolver o
país;

- Criou-se:

· PAEG (Plano Ação Econômica do Governo);

· I PND (Plano Nacional de Desenvolvimento), governo de Costa Silva a Médici;

· II PND (milagre econômico), governo de Médici a Geisel;

· III PND, governo de Geisel a Figueiredo.

- Todos os planos econômicos desse período tinham o objetivo de controlar a inflação;


- Ministros da Fazenda que se destacaram pela importância: Delfim Neto e Simosen;

- O Brasil tem a memória inflacionária, o povo teme que a inflação volte e gere inflação;

- Medidas para controlar a inflação:

· O Governo militar achava que para controlar a inflação deveria ter o achatamento do salário, pois
achavam que o salário que gerava a inflação. Ocorre a queda do poder aquisitivo, achatamento
salarial e o aumento das desigualdades sociais. No começo deu certo e a inflação abaixou, mas não
por muito tempo, voltou forte com 30 % ao mês;

· Tinha o estímulo a construção de indústrias de bens de consumo duráveis, era o entreguismo, a


economia crescia 14% ao ano, 7% vinha de fora através de empréstimos (ainda tinha os
eletrodomésticos que vinham das multinacionais);

· Tinha o investimento estrangeiro (multinacionais) e empréstimos estrangeiros (gera o aumento da


dívida externa).

Movimento militar de 1964, movimento deflagrado na noite de 31 de março de 1964, em Minas


Gerais, sob o comando do general Olímpio Mourão Filho, contra o governo instituído do presidente
João Goulart, que foi derrubado no dia seguinte. O movimento estendeu-se até 1985. Embora a
abertura política tenha sido instaurada a partir de 1979, só em 1985 tomou posse um presidente civil,
José Sarney, ainda eleito pelo Congresso Nacional de forma indireta.

Uma das principais causa foi o apoio dado por empresários, proprietários rurais e setores da classe
média, o movimento reagiu principalmente às "reformas de base" propostas pelo governo com o
apoio de partidos de esquerda, acusando o presidente de pretender estabelecer uma "república
sindicalista". O período caracteriza-se pelo autoritarismo, supressão de direitos constitucionais,
perseguição policial e militar, e utilização da tortura para obter a confissão dos presos e seqüestrados
que se opunham ao regime. A liberdade de expressão nos meios de comunicação foi suprimida
mediante a adoção da censura prévia. Foi de extrema importância para os governos militares o papel
desempenhado pelo Serviço Nacional de Informação (SNI), criado pelo general Golbery do Couto e
Silva.

Chegando ao poder, os militares realizaram profunda alteração constitucional, promulgaram o Ato


Institucional nº 1 — que cassou mandatos, suspendeu a imunidade parlamentar e direitos políticos —
e promoveram a eleição, pelo Congresso Nacional, de um novo presidente, o marechal Humberto de
Alencar Castelo Branco, que governou até 1967. Os partidos políticos foram abolidos e instalado o
bipartidarismo.

A causa no campo econômico foi definido um modelo baseado no binômio


desenvolvimento/segurança. O planejamento centralizado contribuiu para a estatização da economia,
desempenhando o Estado atividades de gerenciamento da produção. Como ocorreu em outros países,
a crise mundial da década de 1970 agravou o problema econômico brasileiro, acentuando a
concentração de renda e os problemas das populações mais pobres.

Em janeiro de 1963 um plebiscito restabeleceu o presidencialismo. Governando entre o reformismo


moderado e a ação do líder trabalhista Leonel Brizola, seu cunhado, agravaram-se os problemas
políticos e econômicos, com a subida inflacionária.
Uma causa militar se deu pelos movimentos de insatisfação de militares subalternos em Brasília
(1963) e Rio de Janeiro (1964) contribuíram para aumentar a pressão de líderes militares e civis
contra o governo, que acabou derrubado pelo Movimento Militar de 1964.

Fonte: www.vestibular1.com.br

Ditadura Militar no Brasil

No dia 1º de Abril de 1964 o Brasil mergulha em uma nova fase da sua história. Durante 21 anos o
país viveu um regime de governo militar, que marcou a nação, seu povo e suas instituições. Foram
duas décadas de confronto entre forças políticas e sociais. Neste conflito ambos os lados, governo e
oposição, utilizaram todos os seus recursos: censura, terrorismo, tortura e guerrilha.Veja abaixo o
regime militar e o período de redemocratização. Verá também alguns fatos que marcaram a ditadura:
os movimentos de oposição e a repressão.

Nos últimos anos do governo militar, o Brasil apresenta vários problemas. A inflação é alta e a
recessão também. Enquanto isso a oposição ganha terreno com o surgimento de novos partidos e com
o fortalecimento dos sindicatos.
Em 1984, políticos de oposição, artistas, jogadores de futebol e milhões de brasileiros participam do
movimento das Diretas Já. O movimento era favorável à aprovação da Emenda Dante de Oliveira que
garantiria eleições diretas para presidente naquele ano. Para a decepção do povo, a emenda não foi
aprovada pela Câmara dos Deputados.

No dia 15 de janeiro de 1985, o Colégio Eleitoral escolheria o deputado Tancredo Neves, que
concorreu com Paulo Maluf, como novo presidente da República. Ele fazia parte da Aliança
Democrática – o grupo de oposição formado pelo PMDB e pela Frente Liberal.

Era o fim do regime militar. Porém Tancredo Neves fica doente antes de assumir e acaba falecendo.
Assume o vice-presidente José Sarney. Em 1988 é aprovada uma nova constituição para o Brasil. A
Constituição de 1988 apagou os rastros da ditadura militar e estabeleceu princípios democráticos no
país.

( 1964 - 1985 )
Podemos definir a Ditadura Militar como sendo o período da política brasileira em que os militares
governaram o Brasil. Esta época vai de 1964 a 1985. Caracterizou-se pela falta de democracia,
supressão de direitos constitucionais, censura, perseguição política e repressão aos que eram contra o
regime militar.

Passeata contra a ditadura militar no Brasil

O golpe militar de 1964


A crise política se arrastava desde a renúncia de Jânio Quadros em 1961. O vice de Jânio era João
Goulart, que assumiu a presidência num clima político adverso. O governo de João Goulart (1961-
1964) foi marcado pela abertura às organizações sociais. Estudantes, organização populares e
trabalhadores ganharam espaço, causando a preocupação das classes conservadoras como, por
exemplo, os empresários, banqueiros, Igreja Católica, militares e classe média. Todos temiam uma
guinada do Brasil para o lado socialista. Vale lembrar, que neste período, o mundo vivia o auge da
Guerra Fria.
Este estilo populista e de esquerda, chegou a gerar até mesmo preocupação nos EUA, que junto com
as classes conservadoras brasileiras, temiam um golpe comunista.

Os partidos de oposição, como a União Democrática Nacional (UDN) e o Partido Social Democrático
(PSD), acusavam Jango de estar planejando um golpe de esquerda e de ser o responsável pela carestia
e pelo desabastecimento que o Brasil enfrentava.
No dia 13 de março de 1964, João Goulart realiza um grande comício na Central do Brasil ( Rio de
Janeiro ), onde defende as Reformas de Base. Neste plano, Jango prometia mudanças radicais na
estrutura agrária, econômica e educacional do país.

Seis dias depois, em 19 de março, os conservadores organizam uma manifestação contra as intenções
de João Goulart. Foi a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, que reuniu milhares de pessoas
pelas ruas do centro da cidade de São Paulo.

O clima de crise política e as tensões sociais aumentavam a cada dia. No dia 31 de março de 1964,
tropas de Minas Gerais e São Paulo saem às ruas. Para evitar uma guerra civil, Jango deixa o país
refugiando-se no Uruguai. Os militares tomam o poder. Em 9 de abril, é decretado o Ato Institucional
Número 1 ( AI-1 ). Este, cassa mandatos políticos de opositores ao regime militar e tira a estabilidade
de funcionários públicos.

GOVERNO CASTELLO BRANCO (1964-1967)

Castello Branco, general militar, foi eleito pelo Congresso Nacional presidente da República em 15
de abril de 1964. Em seu pronunciamento, declarou defender a democracia, porém ao começar seu
governo, assume uma posição autoritária.

Estabeleceu eleições indiretas para presidente, além de dissolver os partidos políticos. Vários
parlamentares federais e estaduais tiveram seus mandatos cassados, cidadãos tiveram seus direitos
políticos e constitucionais cancelados e os sindicatos receberam intervenção do governo militar.

Em seu governo, foi instituído o bipartidarismo. Só estavam autorizados o funcionamento de dois


partidos : Movimento Democrático Brasileiro ( MDB ) e a Aliança Renovadora Nacional
( ARENA ). Enquanto o primeiro era de oposição, de certa forma controlada, o segundo representava
os militares.

O governo militar impõe, em janeiro de 1967, uma nova Constituição para o país. Aprovada neste
mesmo ano, a Constituição de 1967 confirma e institucionaliza o regime militar e suas formas de
atuação.

GOVERNO COSTA E SILVA (1967-1969)

Em 1967, assume a presidência o general Arthur da Costa e Silva, após ser eleito indiretamente pelo
Congresso Nacional. Seu governo é marcado por protestos e manifestações sociais. A oposição ao
regime militar cresce no país. A UNE ( União Nacional dos Estudantes ) organiza, no Rio de Janeiro,
a Passeata dos Cem Mil.

Em Contagem (MG) e Osasco (SP), greves de operários paralisam fábricas em protesto ao regime
militar.
A guerrilha urbana começa a se organizar. Formada por jovens idealistas de esquerda, assaltam
bancos e seqüestram embaixadores para obterem fundos para o movimento de oposição armada.

No dia 13 de dezembro de 1968, o governo decreta o Ato Institucional Número 5 ( AI-5 ). Este foi o
mais duro do governo militar, pois aposentou juízes, cassou mandatos, acabou com as garantias do
habeas-corpus e aumentou a repressão militar e policial.

GOVERNO DA JUNTA MILITAR (31/8/1969-30/10/1969)

Doente, Costa e Silva foi substituído por uma junta militar formada pelos ministros Aurélio de Lira
Tavares (Exército), Augusto Rademaker (Marinha) e Márcio de Sousa e Melo (Aeronáutica).

Dois grupos de esquerda, O MR-8 e a ALN seqüestram o embaixador dos EUA Charles Elbrick. Os
guerrilheiros exigem a libertação de 15 presos políticos, exigência conseguida com sucesso. Porém,
em 18 de setembro, o governo decreta a Lei de Segurança Nacional. Esta lei decretava o exílio e a
pena de morte em casos de "guerra psicológica adversa, ou revolucionária, ou subversiva".

No final de 1969, o líder da ALN, Carlos Mariguella, foi morto pelas forças de repressão em São
Paulo.

GOVERNO MEDICI (1969-1974)

Em 1969, a Junta Militar escolhe o novo presidente : o general Emílio Garrastazu Medici. Seu
governo é considerado o mais duro e repressivo do período, conhecido como " anos de chumbo ". A
repressão à luta armada cresce e uma severa política de censura é colocada em execução. Jornais,
revistas, livros, peças de teatro, filmes, músicas e outras formas de expressão artística são censuradas.
Muitos professores, políticos, músicos, artistas e escritores são investigados, presos, torturados ou
exilados do país. O DOI-Codi ( Destacamento de Operações e Informações e ao Centro de Operações
de Defesa Interna ) atua como centro de investigação e repressão do governo militar.

Ganha força no campo a guerrilha rural, principalmente no Araguaia. A guerrilha do Araguaia é


fortemente reprimida pelas forças militares.

O Milagre Econômico

Na área econômica o país crescia rapidamente. Este período que vai de 1969 a 1973 ficou conhecido
com a época do Milagre Econômico. O PIB brasileiro crescia a uma taxa de quase 12% ao ano,
enquanto a inflação beirava os 18%. Com investimentos internos e empréstimos do exterior, o país
avançou e estruturou uma base de infra-estrutura. Todos estes investimentos geraram milhões de
empregos pelo país. Algumas obras, consideradas faraônicas, foram executadas, como a Rodovia
Transamazônica e a Ponte Rio-Niteroi.

Porém, todo esse crescimento teve um custo altíssimo e a conta deveria ser paga no futuro. Os
empréstimos estrangeiros geraram uma dívida externa elevada para os padrões econômicos do Brasil.
GOVERNO GEISEL (1974-1979)

Em 1974 assume a presidência o general Ernesto Geisel que começa um lento processo de transição
rumo à democracia. Seu governo coincide com o fim do milagre econômico e com a insatisfação
popular em altas taxas. A crise do petróleo e a recessão mundial interferem na economia brasileira,
no momento em que os créditos e empréstimos internacionais diminuem.

Geisel anuncia a abertura política lenta, gradual e segura. A oposição política começa a ganhar
espaço. Nas eleições de 1974, o MDB conquista 59% dos votos para o Senado, 48% da Câmara dos
Deputados e ganha a prefeitura da maioria das grandes cidades.

Os militares de linha dura, não contentes com os caminhos do governo Geisel, começam a promover
ataques clandestinos aos membros da esquerda. Em 1975, o jornalista Vladimir Herzog á assassinado
nas dependências do DOI-Codi em São Paulo. Em janeiro de 1976, o operário Manuel Fiel Filho
aparece morto em situação semelhante.
Em 1978, Geisel acaba com o AI-5, restaura o habeas-corpus e abre caminho para a volta da
democracia no Brasil.

GOVERNO FIGUEIREDO (1979-1985)

A vitória do MDB nas eleições em 1978 começa a acelerar o processo de redemocratização. O


general João Baptista Figueiredo decreta a Lei da Anistia, concedendo o direito de retorno ao Brasil
para os políticos, artistas e demais brasileiros exilados e condenados por crimes políticos. Os
militares de linha dura continuam com a repressão clandestina. Cartas-bomba são colocadas em
órgãos da imprensa e da OAB (Ordem dos advogados do Brasil). No dia 30 de Abril de 1981, uma
bomba explode durante um show no centro de convenções do Rio Centro. O atentado fora
provavelmente promovido por militares de linha dura, embora até hoje nada tenha sido provado.

Em 1979, o governo aprova lei que restabelece o pluripartidarismo no país. Os partidos voltam a
funcionar dentro da normalidade. A ARENA muda o nome e passa a ser PDS, enquanto o MDB
passa a ser PMDB. Outros partidos são criados, como : Partido dos Trabalhadores ( PT ) e o Partido
Democrático Trabalhista ( PDT ).

A Redemocratização e a Campanha pelas Diretas Já

Nos últimos anos do governo militar, o Brasil apresenta vários problemas. A inflação é alta e a
recessão também. Enquanto isso a oposição ganha terreno com o surgimento de novos partidos e com
o fortalecimento dos sindicatos.

Em 1984, políticos de oposição, artistas, jogadores de futebol e milhões de brasileiros participam do


movimento das Diretas Já. O movimento era favorável à aprovação da Emenda Dante de Oliveira que
garantiria eleições diretas para presidente naquele ano. Para a decepção do povo, a emenda não foi
aprovada pela Câmara dos Deputados.

No dia 15 de janeiro de 1985, o Colégio Eleitoral escolheria o deputado Tancredo Neves, que
concorreu com Paulo Maluf, como novo presidente da República. Ele fazia parte da Aliança
Democrática - o grupo de oposição formado pelo PMDB e pela Frente Liberal.

Era o fim do regime militar. Porém Tancredo Neves fica doente antes de assumir e acaba falecendo.
Assume o vice-presidente José Sarney. Em 1988 é aprovada uma nova constituição para o Brasil. A
Constituição de 1988 apagou os rastros da ditadura militar e estabeleceu princípios democráticos no
país.

Fonte: www.clutterme.com

Ditadura Militar no Brasil

Ditadura é o regime político caracterizado oposto à democracia. Podem existir regimes ditatoriais de
líder único (como os regimes provenientes do Nazismo, do Fascismo, e do socialismo real )ou
coletivos (como os vários regimes militares que ocorreram na América Latina durante o século XX).

Definição de ditadura

Ditadura é um regime autoritário em que os poderes legislativo, executivo e judiciário estão nas mãos
de uma única pessoa ou grupo de pessoas, que exerce o poder de maneira absoluta sobre o povo.

Com o ressurgimento da democracia no século XIX, o termo ditadura tem o significado de oposição à
democracia, onde o modelo democrático-liberal deixa de existir e a legitimidade passa a ser
questionada, pois as ditaduras modernas são um movimento totalitário com a supressão dos direitos
individuais e a invasão dos demais poderes constituídos, (legislativo, judiciário, ou equivalentes).
Esta invasão se dá pela força, e a supressão das liberdades individuais passa a ser por decreto. O
regime ditatorial se baseia num líder ou em pequeno grupo que exerce o poder absoluto sem prestar
contas aos governados, independentemente de sua aprovação ou não e também houve no
Brasil(diatadura militar,1964-1985).

Ditadura Romana

Na antigüidade, quando a República Romana se deparava com situações onde o jogo político poderia
sair fora de controle, era designado pelos cônsules um ditador para assumir o poder até que a situação
voltasse à normalidade. Os poderes do ditador eram totais, poderia fazer a guerra ou a paz, bem como
mandar necessária ao restabelecimento do estado de direito.

Ditadura e totalitarismo

Todo sistema tem fundamentos totalitários, embora o totalitarismo possa ser utilizado para conceituar
alguns movimentos cujas ideologias são aquelas em que a sociedade e os cidadãos estão
subordinados ao estado; exemplos seriam o socialismo stalinista, o fascismo italiano e o nacional-
socialismo nazismo alemão.

Ditadura e tirania

As ditaduras modernas podem ser conceituadas mais para as idéias das antigas tiranias do que à
ditadura romana. A ditadura romana era um estado de exceção em que, uma vez resolvida a
gravidade da situação que a desencadeou, cessava, voltando o estado à normalidade; já as tiranias
tendiam à se perpetuar no poder.

A ditadura conceituada por Aristóteles, Platão e Maquiavel


Segundo Aristóteles e Platão, a marca da tirania é a ilegalidade, ou seja, a violação das leis e regras
pré-estipuladas pela quebra da legitimidade do poder; uma vez no comando, o tirano revoga a
legislação em vigor, sobrepondo-a com regras estabelecidas de acordo com as conveniências para a
perpetuação deste poder. Exemplo disso são as descrições de tiranias na Sicília e Grécias antiga,
cujas características assemelham-se das ações tomadas pelas modernas ditaduras.

Segundo Platão e Aristóteles, os tiranos são ditadores que ganham o controle social e político
despótico pelo uso da força e da fraude. A intimidação, o terror e o desrespeito às liberdades civis
estão entre os métodos usados para conquistar e manter o poder. A sucessão nesse estado de
ilegalidade é sempre difícil.

Aristóteles atribuiu a vida relativamente curta das tiranias à fraqueza inerente dos sistemas que usam
a força sem o apoio do direito.

Maquiavel também chegou à mesma conclusão sobre as tiranias e seu colapso, quando das sucessões
dos tiranos, pois este (a tirania) é o regime que tem menor duração, e de todos, é o que tem o pior
final, e, segundo suas palavras (sic) a queda das tiranias se deve às desventuras imprevisíveis da
sorte.

As tiranias e a religião

O Império Romano, fundado por Augusto, se assemelhava e muito às modernas ditaduras, embora
não seja admitido como tal. Até a Revolução Francesa, acreditava-se que o poder emanava de Deus
diretamente ao soberano, se o monarca oprimisse os súditos com violência, era uma tirania, neste
caso era aceito o tiranicídio, e este perdoado pela religião. No final do século XVI, o jesuíta Juan de
Mariana demonstrou a doutrina que discorria sobre o abuso da autoridade e a usurpação do poder,
onde, se o tirano, após receber uma repreensão pública, não corrigisse sua conduta, era lícito
declarar-lhe guerra e até, se necessário, matá-lo.

Ditadura moderna

O regime ditatorial moderno quase sempre resulta de convulsões sociais profundas, geralmente
provocadas por revoluções ou guerras. As ditaduras são normalmente impostas por movimentos de
poder, seja militares ou revolucionários, que detêm poder de fogo e o usam contra o sistema
estrutural, anteriormente utilizado por uma sociedade; estas se impõem em golpes de estado.
Geralmente, a imposição do movimento que resulta neste regime de exceção é em função da defesa
de interesses minoritários, econômico-financeiros, étnicos, ideológicos e outros. Nem sempre as
ditaduras se dão por golpe militar, podem surgir por golpe de estado político; exemplo de movimento
desta ordem se deu quando ocorreu a ditadura imposta por Adolf Hitler na Alemanha nazista e a
ditadura facista de Mussolini, na Itália. Foi quando o golpe se desencadeou a partir das próprias
estruturas de governo; foram aproveitadas as debilidades de um sistema falho e entraram partidos
cujas ideologias não eram democráticas. Portanto, uma vez intalados no poder, lá permaneceram e se
impuseram à vontade popular, suprimindo os demais partidos e oposições, portanto, a democracia.

O caudilhismo

Sempre para achar legitimidade, as ditaduras se apóiam em teorias caudilhistas, que afirmam muitas
vezes do destino divino do líder, que é encarado como um salvador, cuja missão é libertar seu povo,
ou ser considerado o pai dos pobres e oprimidos, etc.
A institucionalização do poder

Outras ditaduras se apóiam em teorias mais elaboradas, utilizando de legislação imposta, muitas
vezes admitindo uma democracia com partidos políticos, inclusive com eleições e algumas vezes até
permitindo uma certa oposição, desde que controlada. Os dispositivos legais passam a ser
intitucionalizados e o são de tal forma funcionais, que sempre ganhará o partido daqueles que
convocaram à eleição.

Métodos de manutenção do poder

As ditaduras sempre se utilizam de força bruta para manterem-se no poder, sendo esta aplicada de
forma sistemática e constante. Outro expediente é a propaganda institucional, propaganda política
constante e de saturação, de forma a cultuar a personalidade do líder, ou líderes, ou mesmo do país,
para manter o apoio da opinião pública; uma das formas mais eficientes de se impor à população um
determinado sistema é a propaganda subliminar, onde as defesas mentais não estão em guarda contra
a informação que está a se introduzir no inconsciente coletivo. Esta se faz por saturação em todos os
meios de comunicação. A censura também tem um papel muito importante, pois não deixa chegar as
informações relevantes à opinião pública que está a ser manipulada. Desta forma, ficam atados os
dois extremos: primeiro satura-se o ambiente com propaganda a favor do regime, depois são
censuradas todas as notícias ruins que possam vir a alterar o estado mental favorável ao sistema
imposto.

As ditaduras de ideologias opostas na Europa

Quando da instalação no poder das classes trabalhadoras entre o final do sistema capitalista e a
imposição do comunismo, Karl Marx utilizou a expressão ditadura do proletariado, onde em um
Estado socialista não mais existiria a a divisão da sociedade em burguesia e proletariado, pois o
Estado deteria o monopólio dos meios de produção, com o desenvolvimento do Estado socialista não
deveriam mais existir classes sociais e a sociedade seria livre e igualitária, desaparecendo o Estado.
No final da Primeira Guerra Mundial, a democracia na Europa passou por uma série de instabilidades
políticas e sociais; começaram a aparecer idéias de cunho autoritário em diversos países: Stalin, na
União Soviética, Mussolini, na Itália, Miguel Primo de Rivera, Espanha, Hitler, Alemanha.

As idéias ditatoriais e expansionistas do Eixo geraram o embrião da Segunda Guerra Mundial, que
após o término, gerou uma série de outras ditaduras: no bloco oriental, ditaduras de esquerda, se
destacou a ditadura de Josip Broz (Tito), na Iugoslávia, e no bloco ocidental, ditaduras de direita, se
destacou a ditadura de Francisco Franco na Espanha.

Portugal e a Revolução dos Cravos

Em Portugal, Antônio de Oliveira Salazar instaurou uma ditadura que começou em 1926. A
Revolução dos Cravos que ocorreu no dia 25 de Abril de 1974, derrubou o governo ditatorial. Foi um
levante militar apoiado por um movimento popular.

Pelo fato da opressão ditatorial havida antes da revolução, a data é comemorada como o "dia da
Liberdade" sendo feriado instituído em Portugal para comemorar a revolução.

África e Ásia
Na África e Ásia muitas são as ditaduras que oprimem os povos a elas submetidos, não importando a
orientação ideológica: na China, Mao Zedong tomou o poder depois de expulsar para a ilha de
Formosa (Taiwan) o exército do general Chiang Kai-shek, no Irã, a ditadura do Mohamed Reza
Pahlevi, derrubado em 1979 por uma revolução fundamentalista muçulmana; na Indonésia, a do
general Sukarno, seguida pela do general Suharto; nas Filipinas, a de Ferdinand Marcos, obrigado a
abandonar o país em 1986. Na África, se destacam Moçambique e Angola, entre tantas outras.

As ditaduras da América Latina

Com a guerra fria aparece o componente ideológico e a participação ativa das ditaduras militares nos
governos da América Latina. Em Cuba, no Chile, Argentina, Uruguai, Paraguai e Brasil.

Para as ditaduras, não importa a orientação ideológica, sempre ocasionaram morte e sofrimento para
milhões de seres humanos.

Na América Latina, a história é recheada de ditaduras, golpes e contra golpes, revoluções e contra-
revoluções. O principal é o caudilhismo, que consiste na glorificação de um líder e na construção de
um partido em torno dele e não de convicções políticas, ou ideologia. Depois, com a polarização
causada pela guerra fria, ficou claro que esta desculpa fora utilizada para manter os ditadores no
poder. Entre tantos personagens, se destacaram Antonio López de Santa Anna e José Antonio Páez,
no México; Francisco Solano López e Dr. Francia, no Paraguai. Na Venezuela, com Juan Vicente
Gómez cuja ditadura foi extremente tirânica, entre outras tantas que pipocaram em todo o continente.

Argentina

Na Argentina, temos Juan Manuel de Rosas, Juan Domingo Perón, além dos militares, que fizeram da
ditadura argentina um sistema extremamente controlador e tirânico, além de terem colocado o país
em guerra contra a Inglaterra.

Ditaduras do Brasil

Getúlio Vargas chegou ao poder através da Revolução de 1930. Sob pressão promulgou em 1934
uma Constituição democrática. Em 1937, alegando uma suposta conspiração comunista,conhecida
como Plano Plano Cohen, Vargas outorga uma nova Constituição aumentando seus poderes e
evitando eleições diretas, instaurou a censura e um Estado policial que durou até 1945. Esse período
ditatorial é conhecido como Estado Novo.

A democracia foi restaurada após a queda de Vargas e foi mantida, apesar de várias tentativas de
golpe de estado, até o Golpe Militar de 64. Getúlio Vargas voltou ao cargo político máximo da
república brasileira em 1950 democraticamente, porém a pressão da oposição, mais especificamente
da UDN e dos militares, levaram-o ao suicídio em 1954. Devido a forte comoção popular os
movimento golpistas foram esfriados por uma década.

A pressão internacional anti-comunista liderada e financiada pelos Estados Unidos criou o IPES, que
estimulou e apoiou ao movimento que derrubou João Goulart. A Operação Brother Sam, que não foi
posta em prática, é a prova definitiva da ingerência dos Estados Unidos na política interna brasileira.

Na ditadura militar que se seguiu ao golpe e durou vinte e um anos (1964 - 1985 conhecidos como
Anos de Chumbo) houve repressão policial, exílios políticos, estabelecimento de legislação
autoritária, com supressão dos direitos civis, uso da máquina estatal em favor da propaganda
institucional e política, manipulação da opinião pública através de institutos de propaganda
governamental e empresas privadas que se beneficiaram do golpe. Censura, torturas, assassinatos de
líderes opositores foram intitucionalizadas pelo AI-5, na prática uma emenda à Constituição de 1967,
que baseada na Doutrina de Segurança Nacional instaurou um Estado policial. Individamento externo
do país, construção de grandes obras com licitações forçadas para grupos de grandes empreiteiros que
juntamente a grandes empresas financiaram o golpe de Estado.

Durante a ditadura militar, o Brasil foi governado por 2 marechais e 3 generais. O 1º governo foi o do
marechal Humberto de Alencar Castello Branco que durou de 1964-1967. O 2º governo foi o do
marechal Arthur da Costa e Silva que durou de 1967-1969. O 3º governo foi o do general Emílio
Garrastazu Médici que durou de 1969-1974. O 4º governo foi o do general Ernesto Geisel que durou
de 1974-1979. O 5º governo foi o do general João Figueiredo que durou de 1979-1985.

Do outro lado houve terrorismo de opositores ao governo militar com seqüestros, assaltos violentos,
guerrilha urbana e nos sertões, patrulhamento ideológico, torturas e justiçamentos (linchamentos
seguidos de morte).

Veja

Motivos da ditadura de 1964 para verificar os mecanismos que levaram o Brasil a este período.
Anos de chumbo o artigo e a categoria, onde existem pormenores de todo o período ditatorial
brasileiro.

Ditaduras cubanas

Fulgêncio Batista y Zaldívar, foi líder de Cuba de 1933 a 1940 aproveitando do levante popular que
derrubou outro ditador de nome Geraldo Machado, sendo que de 1940 até 1944 foi o presidente
oficial do país, de 1952 a 1959 foi um ditador, devido a um golpe de estado. Batista lidera um golpe
de estado e implanta a ditadura. O golpe militar que instituiu Fulgêncio Batista como líder político
cubano, derrubando Carlos Prio Socarras deu-se em março de 1952, sendo que, nas palavras de
Reinaldo Arenas, "a ditadura de Batista começou logo com uma grande repressão que não tinha
apenas carácter político, mas também carácter moral". Essa ditadura continuaria com Fidel Castro,
que o depôs em 1959 implantando uma ditadura comunista substituindo um dos mais sangrentos
regimes políticos que a América Latina já conheceu, o de Fulgêncio Batista. Fidel Castro, junto com
seus companheiros, na sua revolução, foi apoiado pelos EUA, que eram contra o regime anterior. Ele
só se mostrou abertamente comunista após a tomada do poder, subjugando um povo que não queria o
seu regime totalitário.

Liberdade

Apenas 57% da população do planeta vive em liberdade democrática. Liberdade democrática é o


direito que todos os cidadãos têm de escolher um ou mais representantes que governarão o país tendo
em conta os interesses de todos os cidadãos. Essa liberdade é congestionada numa ditadura.

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