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João Pessoa
2023
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RELATÓRIO
JOÃO PESSOA
2023
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DEDICATÓRIA
Dedico este TCC às centenas de vítimas torturadas e perseguidas durante o Regime Militar,
assim como às Ligas Camponesas de Sapé e Mari pela bravura de soltar a voz contra os abusos de
uma escravidão feudal presente nos campos da Paraíba.
Dedico também este trabalho a João Pedro Teixeira, Elizabeth Teixeira, Nego Fuba, Pedro
Fazendeiro, Jório Machado, Biu Ramos, João Manuel Carvalho, Soledad Barret, Stuart Angel, Zuzu
Angel, dentre outros nomes importantes para a luta contra a Ditadura Militar.
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AGRADECIMENTOS
Primeiramente, quero agradecer a Deus pela força e persistência de não ter desistido
deste curso e aos meus pais José Raimundo e Iêda por sempre apostarem na minha educação e
na da minha irmã Raíssa.
Quero agradecer a todos aqueles que de forma direta ou indireta sempre me
incentivaram a ler. Foi graças à leitura que pude começar a me interessar pelos livros de
história que ficavam num criado mudo na garagem de casa, na segunda gaveta, abaixo da
enciclopédia Barsa que a minha prima Elane tinha quando estudava para fazer o vestibular de
Farmácia, nos anos 90. Sempre ia bisbilhotar algum fato histórico para enriquecer o meu
conhecimento.
Ao livro de Dona Elza, um de História para alunos do Ginásio (hoje Ensino Médio). O
Capítulo 11, sobre Ditadura Militar e a Carta de Frei Tito ou Frei Beto - não me recordo
exatamente qual -, os filmes sobre o assunto e a sensação de impunidade me trouxeram a
vontade de lutar pela democracia desde criança.
Agradeço a todos os amigos que fizeram o Memórias acontecer. Os que aturaram
meus desabafos e minhas descobertas: Juarez Neto, Nael Viana. Giane Higino, com o livro
sobre a Rede da Democracia. Professor Carlos Azevedo, com o Relatório Final da Comissão
da Verdade. Monique Cittadino e Paulo Giovanni, pelas aulas de História e as conversas
particulares quando resolvi apostar neste tema. Paulo, sempre solícito, me ajudou com livros e
artigos sobre o tema.
Ao Acervo do Memorial da Democracia e a professora Lúcia Guerra. Professora
Zulmira Nóbrega, que desde o início do curso me incentivou a não desistir do tema e abriu as
portas para que eu pudesse exercer a monitoria em História do Jornalismo. E a minha
orientadora, que sempre foi, além do profissional, uma mãe: a professora Patrícia, que com
suas aulas me despertou uma brincadeira de infância, a impostação das vozes, e o amor de
ouvir e trabalhar no rádio.
RESUMO
A Ditadura Militar (1964-1985) foi um dos momentos mais sombrios da história política
brasileira. Com o acirramento das disputas entre grupos antagônicos, tem o seu início na
deposição do então presidente no dia 01 de abril de 1964 e na instauração de um governo
militar. O presente relatório de Trabalho de Conclusão do Curso apresenta o referencial
teórico e as etapas de produção do Podcast “Memórias de um Porão”, tendo como base teórica
os conceitos de rádio expandido, podcast narrativo, autoritarismo e Ditadura Militar na
Paraíba. O podcast aborda o assunto a partir da visão dos jornais e jornalistas paraibanos e
suas memórias acerca do período militar no estado. O recorte trabalhado foi do início do
regime em 1964 ao recrudescimento do regime em 1969, com o AI-5. O resultado é um
podcast narrativo, com três episódios de aproximadamente 45 minutos cada. Os episódios
estão disponíveis no Drive, no link:
. https://drive.google.com/drive/folders/1V1P4qam9AuMpI3o3W8NUM_pl5-tDB6PT
Palavras Chaves: jornalismo; podcast narrativo; regime militar; censura; história da Paraíba.
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ABSTRACT
The Military Dictatorship (1964-1985) was one of the darkest moments in Brazilian political
history, with the escalation between antagonistic groups; has as its apex the deposition of the
president on April 1, 1964 and the establishment of a military government, which lasted 21
years. This Course Completion Work report presents the theoretical framework and the
production stages of the Podcast “Memoirs of a Basement”, based on the theoretical concepts
of expanded radio, narrative podcast [Storytelling], authoritarianism and Military Dictatorship
in Paraíba. The podcast addresses the subject from the point of view of newspapers and
journalists from Paraíba and their memories of the military period in the state. The clipping
will work with the beginning of the regime in 1964 and the resurgence of the regime in 1969
with the AI-5. The result will be a narrative podcast, with three episodes of approximately 30
minutes each. The episodes are available on Youtube, Anchor and Spotify. An instagram
made to help in the dissemination of curiosities behind the scenes of the podcast, as well as
themes related to the military period in the state of Paraíba.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO. .................................................................................................................. 11
2 RÁDIO EXPANDIDO. ....................................................................................................... 13
2.1 PODCAST E SEUS FORMATOS. ....................................................................................13
3 DITADURA MILITAR E SUA RELAÇÃO COM A MÍDIA. ......................... ..........16
4 RELATÓRIO DE PRODUÇÃO ...................................................................................... 23
4.1 PRÉ-PRODUÇÃO. ...........................................................................................................23
4.2 PRODUÇÃO. ..................................................................................................................... 25
4.3 PÓS- PRODUÇÃO. ...........................................................................................................29
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS. ............................................................................................ 33
REFERÊNCIAS. .................................................................................................................34
APÊNDICE I - ROTEIROS DOS EPISÓDIOS. ................................................................ 36
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1. INTRODUÇÃO
A relação política entre a mídia e o Estado sempre foi ambígua, entre apoios e censuras,
proibindo a circulação de informações que não fossem de interesse dos governantes ou se
aproveitando deste espaço para alavancar opiniões boas para si. O papel dos grandes jornais
brasileiros durante o início dos anos 60 foi de grande valia ao avanço da intervenção militar, pois
deu a margem do golpe acontecer, com o aval da sociedade civil, que naquele momento queria
expurgar o “perigo vermelho”.
Na Paraíba, uma boa parte das informações eram obtidas por meio dos jornais impressos e
das rádios locais. De início, a posição era de apoio à situação, a exemplo do A União, jornal
vinculado ao governo do estado, mas foi se aproximando da oposição tempos antes do golpe militar
(CITTADINO, 1998). Outros jornais adotaram uma postura mais combativa, caso do O Momento
na década de 70, pelas mãos do jornalista Jório Machado. Nas rádios, a Arapuan seria fechada em
1968 (ARRUDA, 2021), conforme abordaremos com mais detalhes no produto deste TCC.
A narrativa em formato de áudio consegue transmitir uma sensação muito intimista.
Emprestada das raízes do rádio, as ondas sonoras trazem grande facilidade para diversos públicos,
sendo versátil para os comunicadores que buscam divulgar seu trabalho.
Nos últimos anos, a popularidade dos podcasts tem crescido de forma exponencial. Essa
busca maior por conteúdo e a facilidade de acesso e consumo dos produtos fizeram com que a mídia
sonora, segundo pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Podcasters em 2020-2021, fosse
consumida regularmente por mais de 34,6 milhões de brasileiros. No ano de 2022, entre janeiro e
setembro, 43% da população procurou por podcasts. Neste sentido, o uso do podcast para este
produto se dá pela possibilidade de alcançar vários grupos sociais mais facilmente, visto que, por
ser um assunto da história do Brasil e da memória recente, propõe levar os fatos tal como foram
naquele período.
Intitulado de “Memórias de um porão", este é um resgate das narrativas de pessoas que
foram agentes históricos daquele período, mas não puderam contar suas versões dos fatos por conta
da censura imposta pelo regime. O podcast utilizou áudios de entrevistas, livros escritos por
personagens já falecidos e apurou notícias de 1964 (meses de abril, maio e junho), 1968 (dezembro)
e 1969 (janeiro e fevereiro) nos jornais A União e O Norte.
A obra é composta por três episódios, sendo o primeiro responsável por situar o ouvinte no
contexto histórico do país e do estado da Paraíba anterior e durante o golpe militar. No segundo,
ouvimos sobre a rotina dos jornalistas e as histórias dos jornais A União e O Norte, assim como
seus desafios e, por fim, no terceiro, temos as histórias dos jornalistas perseguidos durante o regime
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militar. Um instagram será feito para ajudar na divulgação de curiosidades do bastidores do podcast,
como também temas relacionados ao período militar no estado da Paraíba.
O motivo para a escolha deste tema se deu pelas primeiras leituras nos livros de história
ainda na infância, me deixaram intrigada sobre o regime militar. A curiosidade aumentou ao longo
do tempo e, ao crescer e ver jornais da época, um deles trazia a deposição do então presidente João
Goulart (Jango). Ainda no ensino médio, com a instauração da Comissão da Verdade, a semente de
falar da Ditadura Militar e saber a sua influência na sociedade brasileira foi semeada de vez.
Diante de muitas questões, cresci apenas conhecendo o que aconteceu nos grandes centros,
visto que, a maior parte das biografias era concentrada nesses lugares, assim como a repressão de
certo modo foi maior. Mas algo me deixa intrigada desde uma aula de história no ensino médio,
quando passamos perto de um local de tortura: não saber como foi o regime no estado da Paraiba.
Ao debruçar neste tema, observa-se poucos trabalhos da imprensa julgando o seu papel de
destaque e protagonismo na criação, manutenção e decadência do regime. Assim, coube aos
historiadores resgatar não somente a influência, como a repressão que se desencadeou durante os 20
anos de ditadura.
A seguir, nos próximos capítulos, apresentaremos o referencial teórico, embasados nos
seguintes conceitos de: rádio expandido, podcast narrativo [Storytelling], autoritarismo e ditadura
militar no Brasil e na Paraíba. O capítulo quatro é destinado aos processos de produção, incluindo
os trabalhos pré e pós a produção do podcast. O capítulo cinco apresenta as considerações finais e
os desafios de produção.
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2. RÁDIO EXPANDIDO
O rádio tornou-se uma das principais ferramentas de comunicação no século XX. Após o
surgimento da comunicação em massa por meio dos jornais impressos, as ondas hertzianas
ganharam cada vez mais espaço na vida dos brasileiros. Mesmo inicialmente sendo presente nas
casas de famílias abastadas, por um dado tempo - e até hoje em diversos lugares do Brasil, torna-se
uma ferramenta de transmissão e difusão da informação.
Na década de 1910, o rádio no Brasil, como conhecemos, era apenas pequenas
experimentações de curiosos sobre o assunto. Foi em Recife, no estado de Pernambuco, que a Rádio
Clube faria sua transmissão inaugural no dia 06 de Abril de 1919. Ao longo do tempo, programas
de destaque no rádio como“A voz do Brasil” e "Repórter Esso”, iriam ser reconhecidos pelas
notícias que repercutiram não somente no cenário político, mas como nos diversos segmentos,
fazendo do rádio uma forma de se informar mais intimista.
Entretanto, é apenas na transição do século XX para o século XXI que as transformações do
Rádio são mais significativas. Uma delas dá-se principalmente pela evolução da tecnologia - a
comunicação cada vez mais é em tempo real, a internet logo assume o lugar antes dominado pelas
emissoras de rádio, ouvir música e notícias se torna cada vez mais acessível nas mãos dos ouvintes.
Para Ferraretto (2014), ao disposto dos elementos do rádio podemos elencar os principais
pontos: a voz humana, a música, os efeitos sonoros e o silêncio. Um outro ponto a ser considerado é
o rádio expandido levantado por Kischinhevsky (2016), ou seja, a partir das evoluções tecnológicas,
a possibilidade de agregar diversas formas de comunicação - por isso a expressão “expandido”, das
TVs a cabo e das formas de ouvir rádio FM (ondas médias) e AM (frequência curta ou tropicais),
com transmissões ao vivo (streaming) ou por demanda (a exemplo dos podcasts)
Numa era onde a cultura de convergência (JENKINS, 2003) se alinha cada vez mais para a
inserção de novas tecnologias e como elas podem ser usadas pelas demais outras redes, no rádio não
seria diferente: a linguagem teve que se adequar aos novos tempos. Desde os anos 90, as novas
formas de comunicação via satélite trouxeram a possibilidade de criação das web rádios ou, mais
recentemente, a proliferação dos podcasting - em contrapartida ao broadcasting.
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Brasileira de Podcasters (ABpod), as pesquisas realizadas para saber o panorama das produções
locais mostraram um valor de 36,5 milhões de ouvintes no ano de 2020. Esse dado é corroborado
pelo fato do Brasil e o mundo vivenciarem a pandemia da Covid-19. Em contrapartida, foram 17,3
em 2019, ou seja, menos da metade do que no ano posterior..
Ainda nessa pesquisa observamos dados interessantes sobre a produção de podcasts no país.
Um deles é que a inserção do Jornalismo como assunto abordado é de 7,80% e outro é que as
plataformas como o Spotify (82,2%) são o ambiente de maior distribuição deste formato.
Bonini (2020) retrata no seu dossiê apresentado na revista “Radiofonias: Revista de estudos
em Mídia Sonora (2020) as mudanças enfrentadas pelo podcast ao longo de quase duas décadas, se
por um lado o podcast poderia ser - mesmo que para alguns estudiosos como Sterne (2008) enxerga
esse modelo como:
(...)o discurso retórico contemporâneo que enquadra o podcasting como uma prática
cultural em oposição à radiodifusão, como sendo intrinsecamente mais democrático,
acessível e independente do que os programas veiculados por corporações e serviços
públicos de mídia, é falso. O podcasting é, ele mesmo, uma continuação da
radiodifusão.”
(BONINI, Tiziano. A “segunda era” do podcasting: reenquadrando o podcasting
como um novo meio digital massivo. 2020)
“A segunda geração de podcast” pode ser vista como uma possibilidade de mercantilizar
uma nova forma de produto, algo enxergado nos produtos anglófonos - de preferência dos EUA e da
Europa -, nas narrativas e em públicos devidamente selecionados na aposta e da versatilidade de
ouvir quando o ouvinte desejar.
No Brasil, focamos na existência de produções realizadas pelas universidades no ano de
2020. Chagas et al verificou a presença de 63 podcasts feitos no formato remoto, sendo 22 da região
Nordeste (34,9%). O regionalismo das produções traz o caráter de aproximação social entre a
população e os divulgadores de conteúdo.
Neste ínterim, lembramos do papel fundamental do Jornalismo na divulgação e
conscientização social diante de vários temas. Nesta pesquisa, sobre informações e desinformações
causadas pela pandemia da Covid-19, existem diversas formas de compor e reverberar a
comunicação, para fins de estudo, escolhemos a Grande Reportagem, de acordo com Ferraretto
(2014):
Ainda sobre os formatos do podcast, o podcast narrativo, para Barbosa Filho (2009),
“constitui verdadeira análise sobre tema específico” e “tem como função aprofundar determinado
assunto construído com a participação de um repórter condutor”. De acordo com Rellstad (2022),
podemos visualizar o formato narrativo não ficcional, “comumente chamado de Podcast Narrativo,
e que se aproxima do chamado Especial Radiofônico, nada mais é do que um audiodocumentário
pautado nas boas regras do jornalismo tradicional”.
Outro ponto de destaque é a expressão oral das histórias contadas por nossos antepassados, a
imersão e criação imagética dos fatos faz o podcast ser um produto interessante quando queremos
suscitar memórias afetivas no ouvinte. O storytelling - uso do cena a cena para contar um fato em
questão (VIANA, 2020), montando os possíveis cenários, para a construção de um radiojornalismo
narrativo.
A política brasileira é cheia de meandros e conspirações nos bastidores. Uma elite que
domina o país desde sua fundação e os problemas crônicos sociais não solucionados fazem com que
uma ebulição social aconteça. Os anos 60, para o Brasil, não foram dos mais fáceis, politicamente
falando. A construção de Brasília deixou uma dívida enorme para o país, como também os casos de
corrupção, não obstante, a crise política atrelada às lutas de interesses entre uma esquerda ligada às
causas sociais e uma elite conservadora, economicamente atrelada aos interesses dos Estados
Unidos.
No âmbito nacional, houve uma cisão política cada vez mais acirrada. A radicalização das
esquerdas e da direita no país levava a um caminho sem volta. Jango, nas palavras de Darcy
Ribeiro, “não por defeitos do governo que exercia, mas, ao contrário, em razão das qualidades dele"
(citado em Napolitano, 2014, pág 19), em menos de dois anos de governo sofreria um golpe
orquestrado pelos militares. No início de 1964, a crise instaurada pela aproximação com a esquerda
radical e o apoio a insubordinação da baixa patente militar (FERREIRA, 2019) fez com que o
governo de João Goulart ruísse em março daquele ano e fosse instaurada uma ditadura com apoio
civil das classes mais altas, da imprensa, do clero e da classe média, como também das patentes
altas militares e até mesmo de legalistas preocupados com os rumos da insubordinação da baixa
patente (FERREIRA, 2019). Durante vinte e um anos, os militares mantiveram o poder.
Por um outro lado, na Paraíba, deve-se atentar a algumas características peculiares
encontradas no estado durante os anos 60. De fato, a postura política do então governador Pedro
Moreno Gondim nos anos de 1960 a 1963 de apoio às reivindicações dos camponeses e a falta de
uma medida mais dura com os latifundiários gerava um certo desconforto entre as partes. No jornal
A União, periódico ligado ao governo do estado, mostravam-se em consecutivas reportagens o
apreço e conduta do governador atrelado às causas sociais (CITTADINO, 2014). Um detalhe que
transforma a Paraíba como um dos grandes palcos das lutas por reformas agrárias é a presença das
Ligas, que desde o final dos anos 50 vinham reforçando a necessidade de um olhar mais atento às
relações de trabalho no campo, que naquela época poderiam ser análogas ao sistema feudal e semi
escravagista.
Durante o início de 1964 a Paraíba iria enfrentar dois processos que mudariam o curso de
como o regime iria se apresentar meses depois, pontuamos dois momentos cruciais: a invasão à
Faculdade de Direito e a chacina de Mari. Sobre a invasão a faculdade de direito, Cittadino, em
“Impactos do Golpe Militar” conta como foram esses momentos delicados:
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No início de 1964, mais uma crise iria se instaurar na Zona da Mata, mas, desta vez, o palco
seria a cidade de Mari. Com o total de 12 mortos e vários feridos, entre eles camponeses e um
contador da propriedade, que era ligada à Usina São João, de propriedade dos Ribeiro Coutinho. É o
marco da ruptura de Pedro Gondim com as suas bases, apoiando-se cada vez mais nas causas
conservadoras. O resultado está no editorial em que a União muda de posição e passa a atacar os
camponeses, assim como na troca de editores-chefes para um mais ligado aos ideais do
conservadorismo da UDN.
Dia 31 de março de 1964 também não foi um dia comum na Paraíba. Diante de um cenário
cada vez mais polarizado, haveria à noite um comício preparado pelo PCB em apoio às reformas de
base propostas por Jango, no bairro de Cruz das Armas. Porém, o comício não chegou a acontecer
pois a grande e incomum circulação de tropas do exército causou receio aos participantes. Enquanto
isso, no Palácio da Redenção, a aflição era enorme após a Rádio Arapuan anunciar a saída das
tropas do General Olympio Mourão em direção ao Rio de Janeiro. Surpreso, Gondim toma partido
na direção dos golpistas e legitima a “Revolução” no palácio, lançando seu manifesto de apoio com
uma transmissão feita pela rádio estadual, a Tabajara. Anos depois, com o AI-5, Pedro Gondim teria
seus direitos políticos cassados.
Durante os próximos 20 anos a Paraíba teria poucas manifestações de grande impacto no
regime militar. A mídia iria, aos poucos, adotar uma figura "tímida", com os jornais alternativos
tendo um apelo mais crítico diante do cenário vigente. A Paraíba, mesmo com proporções menores
que as registradas na região Sudeste (Eixo Rio-São Paulo) também registraria fechamento de
jornais, granjas de tortura - esses casos todos presentes em Campina Grande, e atentados delegados
de forma errônea aos esquerdistas, como em Cajazeiras.
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De fato, o autoritarismo se reveste no país desde a sua relação de colônia com a coroa
portuguesa. Mudam-se os grupos, mas a essência continua. Em 1899, observamos um certo grupo
que adiante ganharia influência na política brasileira: os militares.
A priori, a censura respalda quando o Estado escolhe o que deve ser publicado e o que deve
ser esquecido. Na República Velha, qualquer sinal de apoio à monarquia era motivo para censura
nos jornais. Na década de 1930, viu-se uma crescente dominância de Getúlio Vargas,
principalmente com a criação do Departamento de Imprensa e Publicidade, para ditar qual assunto
entrava e qual saia. Temas que ferissem o governo varguista ou, principalmente, elevassem o
comunismo, eram banidos, chegando até mesmo na retirada do poder da família detentora do jornal
O Estado de São Paulo.
Durante os anos 60, podemos fazer um breve balanço das notícias estampadas nos jornais e
da liberdade de expressão abordada em ambas. As narrativas ficam mais acirradas com a entrada de
João Goulart na presidência. No pré-golpe, de acordo com Chagas (2014), era muito comum a
imprensa, principalmente aquelas atreladas à visão conservadora-liberal, ter jantares de pautas com
os políticos alinhados a uma postura contra Jango. Vale destacar aqui o papel da mídia,
principalmente por meio da “Rede da Democracia”:
A imprensa logo fez o papel de festejar a vitória dos militares, principalmente aqueles
atrelados ao grupo golpista. Entretanto, a mídia ligada ao janguismo sofreu imediatamente
represálias, como foi o caso da redação do jornal "Última Hora”, invadida pelos aliados dos
golpistas. A mídia durante o governo militar vivenciou uma relação de “gato e rato". Enquanto a
crença do golpe era manter a democracia, logo a imprensa seria vista como um elemento a ser
neutralizado. O Serviço de Nacional Informação (SNI), de criação de Golbery do Couto Silva, já
dava sinais da necessidade para evitar futuras críticas ao governo incipiente.
É necessário destacar que as censuras nos primeiros anos eram pontuais, o que dava margens
para os jornais criarem editoriais e reportagens sobre os abusos de autoridade exercido pelo Estado,
a exemplo do Correio da Manhã, ao estampar nas páginas de 1º de Setembro um editorial intitulado
“Tortura e insensibilidade”. Gaspari (2010), em A Ditadura Envergonhada, traz um trecho desta
edição:
Todos os dias, desde 1º de abril, o público e as autoridades tomam conhecimento
com detalhes cada vez mais precisos e em volume cada vez maior de atentados
contra o corpo e mente de prisioneiros culpados e inocentes. No entanto, desde 1º de
abril, o silêncio pesa por sobre esses crimes. Não há uma explicação, uma nota, um
protesto oficial sobre as denúncias. Esse silêncio, e a própria frequência com que se
toma conhecimento das torturas, provoca uma reação ainda mais sinistra: verifica-se
a tendência para cair numa gradual insensibilidade, esgotando-se a capacidade de
sentir horror e revolta”
(GASPARI, Elio. A Ditadura Envergonhada, citado na pág 145, 2010)
Ainda nos anos 60, a prática do jornalismo é regulamentada com a lei Nº 972/69, que
deixava registrado quais atividades eram destinadas ao jornalista e ao seu diploma. Ela foi
derrubada 40 anos depois, em 2009, pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Enquanto isso, no final
do governo Castelo Branco, observamos a lei de regulamentação da imprensa na lei Nº 5250/67,
sobre quais disposições seriam regulamentadas atividades e conteúdos da imprensa brasileira.
Por causa das inúmeras denúncias escritas por jornais e por jornalistas, como o livro de
Márcio Moreira Alves, do Correio da Manhã, intitulado “Torturas e Torturados”. e as inúmeras
manifestações populares acerca da repressão da ditadura, o governo de Costa e Silva, em 13 de
dezembro de 1968, fez uma reunião secreta para a criação de um novo ato, este que configura mais
rigidez ao regime e daria ares mais ditatoriais. De fato, a desconfiança de Pedro Aleixo - vice civil
de Costa e Silva -, não foi o bastante para conseguir evitar o AI-5 e sua apropriação da censura
descarada.
A duras custas, os jornais começaram a ter visitas de censores, muitas das vezes militares
que ditavam o que entrava e o que saía. Alguns bilhetes eram destinados às redações e, com o
passar do tempo, os jornalistas sabiam quais assuntos eram permitidos e quais eram proibidos. Isso
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já denota uma autocensura, pois o que deveria ser dito e o que não deve sem sofrer alguma
represália? Caso o jornalista fosse suspeito ou filiado a algum partido comunista, muito
provavelmente as celas dos DOI-CODI seriam o seu destino.
O fazer jornalístico ficou impedido pelo medo e o silêncio dominou. Os jornais alternativos
eram a única válvula de escape quando debatemos a posição e trabalho na comunicação nos tempos
de chumbo. Marconi (1980) conta como era as práticas de censura nos jornais no Brasil:
Apesar do fim do AI-5 em 1979, a censura ainda persistiu no país durante a abertura política,
o que demonstra o seguinte ponto: a mídia sempre será vista como uma ameaça aos interesses dos
poderosos e tê-la em seu domínio é uma boa alternativa para evitar futuros desgastes
No estado da Paraíba não foi totalmente diferente e a censura pode ser observada até meses
antes do golpe militar ocorrer. Cittadino (1998) traz o exemplo da troca de cadeiras promovida no
“A União”, jornal oficial do governo, durante a aproximação do Governador Pedro Gondim com as
alas mais conservadoras. A troca feita foi a de editores ligados aos ideais populistas e à esquerda
por outros ligados aos usineiros e ao lacerdismo. A gota d'água para a ruptura da Associação
Paraibana de Imprensa com o estado, cuja relação era de profunda ligação nos seus editoriais, se
sucedeu no repúdio ao desligamento de seis jornalistas da casa, ligados ao protesto na Faculdade de
Direito. Temos aqui um trecho vinculado ao Correio da Paraíba do posicionamento da Associação:
A análise sobre esses jornais e suas respectivas linhas editoriais se faz necessária para
compreensão da censura e de como os meios de comunicação - neste caso os jornais - foram se
adequando à nova realidade. Citaremos dois autores que estão presentes no livro “O Movimento de
64 na Paraíba, Origens, Assaltos ao Poder e Repressão”, de José Octávio de Arruda Melo, Victor
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Raul da Rocha Melo e colaboradores. Na seção Parte II - As Origens, das ideias à prática, atentarei
primeiramente ao capítulo “Nosso Jornais Perante ao Militarismo: um pequeno voo”, de Fátima
Araújo, para resgatar o posicionamento de alguns jornais. Logo em seguida, “Um humor político
em A União. antes de depois do golpe militar”, de Hilton Gouvêa.
3.1 JORNAL O NORTE
Fundado em 1908 pelos irmãos Oscar e Orris Eugenio Soares, tornou-se o segundo jornal
mais antigo em circulação do estado. Com um formato de jornalismo independente, teve sua
primeira reviravolta em 1915, ao atrelar-se às pautas do epitacismo. Em 1939 experimenta sua
primeira retirada de circulação, retornando apenas nos anos 50, atrelado aos Diários Associados, de
propriedade do paraibano Assis Chateaubriand.
Apesar de ser administrado por figuras conservadoras, Araújo (2021) destaca em seu
capítulo a postura ambígua na sua linha editorial durante os anos do governo militar e a censura
militar imposta aos veículos de comunicação.
3.3 A UNIÃO
Jornal mais antigo e ainda em circulação na Paraíba, foi fundado em 1893 por Alvaro
Machado. Por ser um periódico atrelado ao Estado, sua linha editorial caminharia conforme quem
estivesse à frente do poder. Durante anos, a União foi palco de momentos decisivos no estado e não
estaria de fora quando o golpe fosse anunciado.
A postura do jornal a priori foi de manter os ânimos controlados, com textos mais voltados à
legalidade, entretanto, a partir do dia 03 de abril em diante a postura ligada aos pensamentos
militares se sobressaiu.
Assim como foi na esfera nacional, os jornais no estado sofreram com a censura, bilhetes e
listas de assuntos referentes ao que deveria ser dito naquele dia, jornalistas presos e impedidos de
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exercer a sua profissão, perseguição dentro e fora das redações, como no caso da Associação
Paraibana de Imprensa (API) e a destituição de cargo do seu presidente no início do golpe,
fechamento de jornais como o Rebate em Campina Grande. dentre outras violações presentes na
imprensa paraibana
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4. RELATÓRIO DE PRODUÇÃO
de caráter histórico e narrativo, optamos por usar o tempo de 20 a 30 minutos. Entramos em contato
ainda no final do ano de 2022, fase em que cursei a disciplina TCC1 e fiz o projeto de pesquisa, sob
a orientação do professor Dinarte Varela. As primeiras visitas aos acervos dos jornais na Fundação
Casa José Américo também ocorreram neste período.
A rotina do projeto começa antes de 2023. Os primeiros contatos foram feitos ainda em
2022, entre setembro e outubro. Em conversas extraoficiais com os jornalistas Rubens Nóbrega e
Carmélio Reynaldo, obtive nome dos jornalistas que estavam na ativa no período cuja a narrativa do
Memórias se passaria. Dos nomes descobertos, apenas Gonzaga Rodrigues e Evandro Nóbrega
estavam vivos. No caso dos falecidos, iniciei uma procura por seus familiares.
No mês de fevereiro, por volta do dia 02, comecei a ir até o bairro de Cabo Branco, na
capital paraibana, para analisar os jornais. Esse foi o primeiro passo da pesquisa. Investigar como
eram as manchetes e os corpos dos jornais no dia 01 de Abril de 1964 até 30 de Junho de 1964, os
primeiros meses da ditadura, e 13 de dezembro de 1968 a 28 de fevereiro de 1969, do dia em que o
AI-5 foi promulgado até dois meses depois do Ato. Para organizar, criei uma tabela na Planilha
Google. Ao todo, foram pelo menos 300 as manchetes que estavam previstas para leituras.
A primeira reunião para orientação foi em março. Ela consistiu na determinação dos prazos
para o trabalho, além da disponibilização de uma pasta no Google Drive com textos sobre Rádio
Expandido, Podcast e modelos de TCC anteriores.
4.2 PRODUÇÃO
Inicialmente, o podcast iria ser dividido em quatro episódios, mas, por sugestão da
orientadora, esse número caiu para três. O primeiro, “ O Entardecer da Democracia“, traz um
panorama do Brasil e da Paraíba, entre as causas que antecedem o golpe de 64 e, posteriormente, o
que viria a ser golpe em abril de 1964. Para falar do assunto, convidei o historiador e jornalista José
Octávio de Arruda Mello para explicar como andava a Paraíba naquele período. Já para comentar o
governo Pedro Gondim, convidei Monique Cittadino, professora do Departamento de História da
Universidade Federal da Paraíba e especialista no assunto.
No primeiro episódio, as entrevistas aconteceram entre os meses de março e maio. No dia 24
de março, uma sexta-feira, às 10 horas, fui até o bairro de Miramar entrevistar José Octávio de
Arruda Mello, no seu apartamento 3001, no Prédio Buena Vista. Durante quatro horas, foi usado
para a gravação um celular (modelo MotoG8Power – MOTOROLA) e um microfone de lapela
(modelo LE-913- marca Genérica). Com Monique Cittadino houveram alguns desencontros: a
26
primeira entrevista estava prevista para o mês de abril, no dia 02, porém foi realizada apenas no dia
26 de maio, por meio de uma chamada de voz.
Para o episódio três, entrei em contato primeiramente com o Jório Machado Filho pelo
Instagram no mês de dezembro de 2022. Ele, por sua vez, me aconselhou a falar com o seu irmão
mais velho, Cristiano Machado, para ter mais informações. Em janeiro de 2023, Cristiano me
ofereceu um envelope, que peguei na Associação Paraibana de Imprensa. Nele continha o livro de
memórias de Jório Machado, “1964: A opressão dos quartéis”, e um caderno especial escrito por ele
em homenagem ao seu pai.
Jório Machado faleceu em 2003, mas o seu livro de memórias foi de grande valia para
montar o que viria a ser o episódio. No dia 20 de abril, pela manhã, entrevistei Cristiano Machado
no Shopping Cidade, no centro da capital. A ideia inicial desse episódio era trazer a relação pai e
filho em um momento do episódio, entretanto, graças a um backup no celular, eu perdi a conversa, o
que me fez mudar de ideia e optar apenas focar na história escrita por Jório com a narração do seu
filho. Os áudios me foram enviados em 22 de maio, via WhatsApp.
Um dado interessante sobre o Memórias e o episódio 3 está na oportunidade que tive de fazer
uma investigação minuciosa nos arquivos do estado de Pernambuco, visto que Jório Machado foi
preso também por lá e no seu livro um nome estava escrito de forma incorreta, então precisei
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conferir qual era o verdadeiro nos dias 13-14 e 27-28 de abril. Infelizmente, não consegui ter a
certeza, pois todas as visitas aos quartéis resultaram em respostas inconclusivas. Porém, no caso do
local de prisão em Olinda citado por Jório, consegui apurar por meio da leitura de um livro no mês
de abril.
Uma boa parte das entrevistas foram realizadas e convertidas para MP3 no site Convertio ou
Áudio online. Para montar os roteiros, resolvi organizar em blocos para facilitar a edição do
episódio depois dos roteiros serem aprovados pela orientadora. Abaixo, deixo as imagens destes
blocos.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O relatório cumpriu o objetivo de demonstrar as etapas de concepção e preparação deste
trabalho, que culminou na criação do Memórias de um Porão, um podcast jornalístico, mas acima
de tudo com um grande potencial para o resgate da história de um passado sombrio da sociedade
brasileira e, consequentemente a paraibana.
Quando, ainda criança, comecei a ler e me debruçar sobre o assunto, seja com leituras ou
com filmes sobre a ditadura, não tinha a noção de como seria tão complexo e desafiador resgatar um
momento tão delicado e ainda não cicatrizado como a Ditadura Militar. E este TCC, fez-me
perceber que, mesmo com uma vasta literatura sobre o assunto, ainda é muito pequena a informação
em áudio sobre esses 21 anos que a sociedade viveu sob a influência de um regime militar.
Uma das minhas maiores dificuldades estava na escassez de informações sobre o assunto,
até porque é importante deixar pontuado que muitos materiais sobre esse período foram
propositalmente perdidos pelos militares. Outro ponto a ser mencionado é o falecimento de algumas
fontes, já que não pudemos ouvir diretamente delas o que realmente aconteceu e o que não foi
narrado na grande mídia no período do regime militar.
Memórias de um Porão não será um apenas um trabalho de TCC, será um trabalho que
pretendo levar por um bom tempo de minha vida. Numa futura temporada, prevista para o primeiro
semestre de 2024, irei abordar as Ligas Camponesas na Paraíba, assunto esse que também pretendo
estudar em uma Pós-Graduação em História. Os demais grupos, como políticos, universitários e
artistas, os centros de torturas, a Comissão Estadual e Municipal da Verdade, entre outros, estão
previstos para serem abordados pelo Memórias. Como foi dito, é um projeto de resgate de uma
história não contada.
Uma outra ambição para este projeto é vinculá-lo aos trabalhos educacionais propostos
pela Comissão Estadual da Verdade. Foi sugerido no relatório final que houvesse incentivo de
produções de pesquisadores sobre o assunto para a preservação deste momento e divulgação
também. Com isso, o Memórias seria um trabalho de parceria com o Memorial da Democracia, com
sede na Fundação Casa José Américo.
Por fim, espero com o “Memórias de um Porão” fazer um trabalho de “formiguinha”.
Sendo uma jovem estudante que se dedica aos saberes da História e o Jornalismo, compreendo a
necessidade dessas duas ciências como elo da sociedade e o seu local no tempo e espaço. Ao optar
por contar esse assunto e me dedicar à Paraíba, visto que ainda são poucos os jornalistas que têm
materiais sobre esse tema, espero profundamente que outros alunos do curso de Jornalismo se
inspirem e falem mais sobre o nosso estado.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CARVALHO, Aloysio Castelo de: A Rede da democracia: O Globo, O Jornal e Jornal do Brasil
na queda do governo Goulart (1961- 1964). Niteroi, RJ: UFF: NitPress, 2010.
CHAGAS, Carlos. A ditadura militar e os golpes dentro do golpe [recurso eletrônico]: 1964-
1969. Rio de Janeiro: Record, 2014.
DANTAS, E.; NUNES, P. G. A.; SILVA R. F. C. et al. Golpe civil-militar e ditadura na Paraíba:
história, memória e construção da cidadania. João Pessoa: UFPB, 2014.
FERRARETTO, Luiz Artur. Rádio [recurso eletrônico]: teoria e prática. São Paulo: Summus,
2014.
FERRARETO, Luiz Arthur. Porque o rádio começou em Recife. Revista FAMECOS, PURS,
PortoAlegre, v. 28, p. 1-13, jan.-dez. 2021.
GASPARI, Elio, 1944. A ditadura envergonhada. 2. ed. rev. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2014.
MARCONI, Paolo. A Censura Política na Imprensa Brasileira (1968- 1978). São Paulo: Global,
1980.
NAPOLITANO, Marcos 1964: História do Regime Militar Brasileiro. São Paulo: Contexto,
2014.
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RAYANNE OFF 1: DEVERIA TER UNS OITO ANOS/ QUANDO A DITADURA MILITAR
ENTROU NA MINHA VIDA// A PRINCÍPIO/ ERA APENAS UMA CURIOSIDADE/ MAS LOGO
UMA SENSAÇÃO DE DESCONHECIMENTO COMEÇOU A RONDAR// SOU DE UMA
GERAÇÃO QUE CRESCEU COM A DEMOCRACIA/ NÃO SABEMOS O QUE É VIVER SEM
PODER VOTAR/ SEM TER A LIBERDADE DE FALAR/ PARECE ESTRANHO/ PORÉM NA
HISTÓRIA MESMO QUE TRINTA E OITO ANOS SEJA UM CURTO TEMPO/ PARA A
RAYANNE CRIANÇA/ ERA UMA ETERNIDADE/ POR EXEMPLO/ MEU PAI NASCEU EM 64/
MORO NO BAIRRO FUNCIONÁRIOS II /NUMA RUA DE ESQUINA/ A DESEMBARGADOR
JOÃO DE SANTA CRUZ/ NO MUNICÍPIO DE JOÃO PESSOA (PARAÍBA) //AINDA FALAREI
QUEM É ELE NOS PRÓXIMOS EPISÓDIOS/ ENQUANTO ESCREVO/ LEMBRO QUE NO ANO
DO MEU NASCIMENTO/ EM 1995/ UMA COMISSÃO ERA DISCUTIDA PARA AVERIGUAR
OS CRIMES REALIZADOS PELOS MILITARES DURANTE A REPRESSÃO.//É NESSA
CONEXÃO QUE A VONTADE DE EXPLICAR SOBRE O TEMA VEIO ATÉ A ADULTA/ E
FUTURA JORNALISTA/ RAYANNE//.
TRILHA DE SUSPENSE
SONORA: UM ÁUDIO COM A FALA DE GETÚLIO VARGAS Discurso Getúlio Vargas Estado
Novo 1937( A partir de 8’18’’ a 8’45’’)
SONORA: Suicidio de Vargas, Reporter Esso Repórter esso anúncio morte de Getúlio Vargas
Inauguração de Brasília, 1960 (00’33’’ a 00’43’’)
Varre Varre Vassourinha - Jingle Jânio Quadros 1960 (Jingle Jânio Quadros Brazilian Elections 1960)
(00’00’’ a 00’43’’)
RAYANNE OFF 6: SE COM JK, O BRASIL CRESCEU CINQUENTA ANOS EM CINCO/, COMO
DIRIA O FAMOSO SLOGAN ,// ALGUÉM ESQUECEU DE AVISAR A ELE QUE O SEU
SUCESSOR IRIA ENFRENTAR UMA INFLAÇÃO ENORME//. AS DENÚNCIAS DE
CORRUPÇÃO/, A CONSTRUÇÃO DE UMA CIDADE NOVA/ E AS DÍVIDAS CONTRAÍDAS
PARA CONSTRUIR BRASÍLIA/, VÃO FAZER SURGIR UMA FIGURA CARICATA//,
LEVANTANDO A BANDEIRA CONTRA A CORRUPÇÃO E PROMETENDO VARRÊ-LÁ DA
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NOSSA HISTÓRIA/, JÂNIO QUADROS SERIA ELEITO EM SESSENTA E UM//, OUVIMOS ALI
ACIMA O JINGLE DA SUA CAMPANHA./ E PARECE QUE A BANDEIRA DA CORRUPÇÃO E
SER UM POLÍTICO MEDIANO NÃO É APENAS EXCLUSIVIDADE DE UM CERTO
CANDIDATO DE 2018//,VOLTANDO A JÂNIO, /EM APENAS SETE MESES/ O ENTÃO
PRESIDENTE RENUNCIOU O GOVERNO COM A SEGUINTE FRASE// “FORÇAS OCULTAS
ME FAZEM RENUNCIAR”.
OFF 7: É AQUI QUE ENTRA JOÃO GOULART/- NESTA ÉPOCA ELE ERA VICE DO JANIO,
MAS ERA OPOSTO POLITICAMENTE A ELE//, ASSIM EXPLICA AQUI RAPIDAMENTE,
CARLOS FICO/, HISTORIADOR E ESPECIALISTA SOBRE A DITADURA MILITAR PARA O
DOCUMENTÁRIO “CHUMBO QUENTE”// REALIZADO PELO OBSERVATÓRIO DE
IMPRENSA EM 2015//
Sonora Carlos Fico: Chumbo Quente, a série sobre a Ditadura Militar no Brasil = Observatório da
Imprensa (6’37’’ A 6’56’’)
OFF 8: NESTE MOMENTO, TEMOS OS MILITARES NÃO APOIANDO JANGO; POR VÊ-LO
HERDEIRO POLÍTICO DE VARGAS E NO OUTRO LADO, TEMOS A REDE DA LEGALIDADE,
LIDERADA PELO SEU CUNHADO E GOVERNADOR DO RIO GRANDE DO SUL: LEONEL
BRIZOLA. TAMBÉM CABE MENCIONAR AQUI O PAPEL DA IMPRENSA NAQUELA
OCASIÃO. UM LADO DA IMPRENSA NÃO CONCORDAVA COM A POSSE DE JANGO,
ENQUANTO OUTROS JORNAIS VIAM O PARLAMENTARISMO COMO UMA EXCELENTE
SAÍDA//. EIS QUE NO MEIO DE TANTA CONFUSÃO GANHA O PARLAMENTARISMO EM
1961.
OFF 11; PARA CONTAR ESSA HISTÓRIA NADA MELHOR QUE UM JORNALISTA E
HISTORIADOR PARAIBANO.// JOSÉ OCTÁVIO DE ARRUDA MELLO,EXPLICA COMO A
PARAÍBA SE TORNOU NO INÍCIO DA DÉCADA DE 60 UM POLO IMPORTANTE PARA A
REFORMA AGRÁRIA.// FUI AO APARTAMENTO DELE NO BAIRRO DE MIRAMAR, DA
CAPITAL JOÃO PESSOA ,// FUI RECEBIDA NA PORTA DE SUA RESIDÊNCIA NÚMERO 3001
E LOGO FOMOS AO SEU ESCRITÓRIO, UM QUARTO PEQUENO, MAS REPLETO DE
HISTÓRIA.// NELE ESTAVAM TODOS OS LIVROS QUE ESCREVEU SOBRE : SUA CAPITAL
JOÃO PESSOA E SUAS FIGURAS ILUSTRES. // AQUELE SENHOR MAGRO, 83 ANOS DE
IDADE, COM CAMISA POLO VERDE E UMA BERMUDA BEGE PEGOU UM DE SEUS
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OFF 13: NESTE PERÍODO/, QUEM GOVERNAVA O ESTADO NO ANO DE 1961/ ERA PEDRO
MORENO GONDIM//, EU VOU DEIXAR AQUI RAPIDINHO O JINGLE DA CANDIDATURA
DELE// E DEPOIS DE PASSAR ESSE JINGLE PRECISAMOS CONTAR QUEM FOI PEDRO//.
OFF 14: PEDRO ERA UMA FIGURA MUITO QUERIDA PELA POPULAÇÃO PARAIBANA//,
MAS O SEU GOVERNO ENFRENTOU FORTES MUDANÇAS/, A PROFESSORA MONIQUE
CITTADINO/, DO DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA
PARAÍBA/, VEM NOS EXPLICAR UM POUCO DA VIDA POLÍTICA DELE//.
Sonora de Monique falando de Pedro Gondim, como ele chegou no poder e seus trabalhos
OFF 15: EU QUERO QUE VOCÊS PRESTEM MUITO BEM ATENÇÃO NO DESENROLAR DOS
FATOS A PARTIR DE AGORA//. ESTAMOS EM 64//, NADA ESTAVA TRANQUILO PARA JOÃO
GOULART E PEDRO GONDIM//., E O BRASIL E A PARAÍBA VÃO PASSAR POR MOMENTOS
TURBULENTOS./ AS NARRAÇÕES A SEGUIR ESTÃO VINCULADAS A JORNAIS E COMO
ESSE PODCAST TEM O OBJETIVO/ DE ENTRELAÇAR OS JORNAIS DA ÉPOCA E AS
NARRATIVAS DOS PERSONAGENS DO PRESENTE/, É BOM FICAR BEM ATENTO!.//
OFF 16: DESDE QUANDO ASSUMIU O PODER EM 1963/ POR MEIO DO PLEBISCITO//,
GOVERNAR O BRASIL NÃO ESTAVA NADA FÁCIL PARA JANGO//. INCLUSIVE QUANDO
OS JORNAIS O GLOBO, O JORNAL DO BRASIL E O JORNAL, /TODOS DO RIO DE
JANEIRO/ JUNTAM-SE PARA CRIAR UMA REDE DA DEMOCRACIA,// OU MELHOR,// UMA
REDE QUE PREGAVA O CONSERVADORISMO E O ELITISMO//. SÓ PARA VOCÊ
ENTENDER O CLIMA VAMOS OUVIR O QUE A REDE DA DEMOCRACIA FALAVA//:
OFF 17: A MANCHETE DIZ “CLIMA ATUAL DO BRASIL FOI VIVIDO POR OUTRAS
VÍTIMAS DO COMUNISMO” A MATÉRIA FALA DE UM DISCURSO DO PLÍNIO SALGADO,
UM INTEGRALISTA, A VERSÃO BRASILEIRA DO FASCISMO, SEM MUITO APOIO
POPULAR. CRITICANDO O AVANÇO DO COMUNISMO E CONTRA O BRIZOLA, AQUELE
MESMO QUE FALEI LÁ NO INÍCIO SOBRE A REDE DA LEGALIDADE, PORÉM LENDO
ATENTAMENTE VOCÊ PERCEBE UMA CONTRADIÇÃO. VEJAM BEM NESSA PARTE
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Sonora: "CITANDO O ARTIGO 177 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL QUE AO SEU VER FOI
VIOLADO PELOS CHEFES MILITARES QUE DERAM COBERTURA AO COMICIO ILEGAL
DA CENTRAL DO BRASIL E O DEPUTADO JOÃO MENDES OCUPOU OS MICROFONES DA
“REDE DA DEMOCRACIA PARA FAZER IMPORTANTE PRONUNCIAMENTO , O LIDER DA
ADP, AFIRMOU AINDA QUE ENQUANTO VEMOS O TRABALHADOR EXPULSAR SUA
ENTIDADE DE CLASSE OS ELEMENTOS SUBVERSIVOS ENQUANTO O POVO
BRASILEIRO EM TODAS AS PARTES DO PAÍS COMBATE NAS RUAS ÀS CUSTAS DE SEU
PROPRIO SANGUE, AS BESTAS APOCALIPTICAS DO COMUNISMO DIABÓLICO, AS
FORÇAS ARMADAS TORNAM-SE GUARDIÃS DAQUELES QUE QUEREM VER O BRASIL
SOB GUANTE DE MOSCOU. ( aqui nesta leitura seria legal alguma voz grave para falar)
OFF 17: É…POREM ACHO QUE O JOÃO MENDES ERROU NO DISCURSO//. APESAR DE
UMA BOA PARTE DO EXÉRCITO SER JANGUISTA OU DE ESQUERDA//, NOS BASTIDORES
ERAM OS GOLPISTAS DE DIREITA QUE GANHAVAM FORÇA NESSE TABULEIRO DE
XADREZ/. E COMO NO JOGO, A PARTIDA SÓ É GANHA QUANTO TEMOS O XEQUE-
MATE//, E O REI, AH! O REI SERIA RENDIDO//.
*AQUI VAMOS INSERIR O COMÍCIO DE JOÃO GOULART COM OFF, É IMPORTE QUE O
OUVINTE CONSIGA OUVIR OS DOIS, POIS O PAPEL DO LOCUTOR É DE GUIA. (Comício da
Central do Brasil - Discurso completo (João Goulart, 1964))
OFF 21: A VIA SACRA DO JANGO APENAS ESTAVA COMEÇANDO//. EM POUCO MAIS DE
QUINZE DIAS/, ELE ENFRENTARIA A FÚRIA DO EXÉRCITO/ E A GOTA D´ÁGUA FOI O
APOIO À REVOLTA DOS MARINHEIROS NO AUTOMÓVEL CLUBE, NO DIA 30.// AQUELA,
COM UM TAL DE CABO ANSELMO/ QUE ANOS DEPOIS GEROU DÚVIDAS/ DELE SER UM
AGENTE DOS MILITARES INFILTRADO SÓ PARA ACELERAR O GOLPE//. DEIXO BEM
CLARO,// ANTES DE COMEÇAR A FALAR DO GOLPE EM SI DE ACORDO COM O LIVRO
DO JORNALISTA ÉLIO GASPARI/, “A DITADURA ENVERGONHADA”// DE FATO HAVERIA
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OFF 22: O QUE PARECIA SER MAIS UMA MENTIRA PARA O DIA DA MENTIRA, NA
VERDADE ERA MUITO SÉRIO. JANGO ESTAVA ENFRAQUECIDO, QUANDO NO DIA 02 DE
ABRIL, VIAJOU AO RIO GRANDE DO SUL E POR FIM AO URUGUAI, PARA SE AUTO
EXILAR, DEIXANDO A CADEIRA DA PRESIDÊNCIA VAGA. E VALE MUITO A PENA A
GENTE ENTENDER O CLIMA DA CÂMARA DOS DEPUTADOS NESSE DIA, AS FALAS
PASSAVAM UMA POR CIMA DA OUTRA E ESSE CLIMA MUITO INCERTO DAVA UM TOM
DOS PRÓXIMOS PASSOS QUE LEVARIAM O GENERAL CASTELLO BRANCO A SER O
NOVO PRESIDENTE ELEITO INDIRETAMENTE PELA JUNTA MILITAR NO DIA 11 DE
ABRIL.
OFF: BOM PESSOAL, ACHO QUE ATÉ AGORA A GENTE CONSEGUIU ENTENDER COMO
ANDAVA A CAPITAL DO PAÍS NAQUELES DIAS. MAS E A PARAÍBA? VAMOS DAR UMA
PASSADINHA PARA SABER COMO ESTAVA A MOVIMENTAÇÃO NO INÍCIO DOS ANOS
SESSENTA NO ESTADO?
OFF: O DIA 31 DE MARÇO FOI UMA QUARTA FEIRA TÍPICA EM JOÃO PESSOA, O CÉU
ESTAVA LIMPO, SEM SER NUBLADO. NADA COMBINANDO COM A ATMOSFERA PESADA
QUE SE ANUNCIAVA EM MINAS GERAIS, ENQUANTO MOURÃO MARCHAVA EM
DIREÇÃO AO RIO DE JANEIRO. NESSE MESMO DIA, AQUI NA PARAÍBA UM COMÍCIO NO
BAIRRO DE CRUZ DAS ARMAS, NA CAPITAL ERA PLANEJADO PELO PARTIDO
COMUNISTA,
OFF: NESTE MESMO DIA/, PEDRO GONDIM ESTAVA DEITADO NA SUA REDE/, NO
PRIMEIRO ANDAR/, NA SUA CASA NO BAIRRO DE MANAÍRA/, QUANDO MANUEL
BATISTA/, ALVOROÇADO GRITANDO “A REVOLUÇÃO SAIU GOVERNADOR”
APARECEU//. O MAIS ESTRANHO É QUE A CONSPIRAÇÃO GOLPISTA/ E OS ARES
ANTIDEMOCRÁTICOS JÁ CIRCULAVAM NOS BASTIDORES/, JOSÉ OCTÁVIO LEMBROU
DESTE MOMENTO.//
SONORA JOSÉ OCTÁVIO
PEDRO GONDIM
OFF: TEMPOS DEPOIS/, EM 1969/ ELE TERIA O MANDATO CASSADOS POR 10 ANOS/,
VOLTANDO AO PODER APENAS NOS ANOS 80//.
Off 01: ( deixar baixo o som de máquinas de datilografia) Olá//, deixa eu dar uma pausa no
trabalho aqui na redação,/ para conversar com você uma história/ está ouvindo o som das
máquinas de datilografias, né?// vou precisar falar um pouquinho do meu trabalho/, ou
melhor/, como seria o meu trabalho nos jornais da Paraíba/ na década de 60/ vou até abrir a
porta para você entrar, só uns instantes//( enquanto falar essa parte vem um som de porta
aberta)
Off 2: Seja bem vindo, bem vinda ou bem vinde/ ao segundo episódio do Memórias de um
porão/ no episódio anterior,/ eu contei para você como estava a situação do país no início do
golpe militar//. E,/ se você ainda não ouviu,/ dá uma pausa aqui/ vai lá ouvir o primeiro
episódio/ e depois volte viu?// É importante a gente conhecer como andava esse estado e país/
para entender o trabalho dos meus colegas jornalistas que já já/ irei apresentar.// E se você,/ já
ouviu,/ vem comigo!//
Vinheta
Off 3 : Começo este episódio na Paraíba dos anos 60/, onde/ a informação midiática circulava
pelos seguintes jornais:// Correio da Paraíba/, A União, publicação vinculada ao governo do
Estado, /, O Norte, do grupo Diário dos Associados/, e A Imprensa ligado à Diocese
paraibana)/. Todos esses jornais tinham sede/ no centro de João Pessoa//, e os jornalistas
entrevistados por mim/disseram que o melhor lugar para descobrir pautas/ era o Ponto de Cem
Réis, justamente por ela ser uma praça central e estar localizada ao lado desses jornais //.Fora
da capital/, em Campina Grande/, o destaque era para O Diário da Borborema//. E as rádios/,
as de grande circulação eram a Arapuan e a Tabajara, / mantida pelo governo do estado.//
Off 4: E quem vai ajudar a narrar o episódio/, são dois jornais antigos e de grande
importância para a sociedade paraibana: O Norte e A União.// Foram nesses dois veículos que
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os jornalistas que eu vou apresentar aqui trabalharam e fizeram carreira//. Mas, antes de tudo,
eu preciso falar sobre as origens destes jornais, e pra isso a gente vai precisar voltar lá no final
do século XIX e no Inicio do Século XX//
Off 5: O jornal mais antigo da Paraíba/, A União/, surge 71 anos antes do golpe militar, em
1893//. Idealizado por Alvaro Machado/, governador do estado nos primeiros anos da
República Velha/, o jornal servia para trazer as informações realizadas pelo Alvarismo/,
afinal, toda instituição que se preze precisa mostrar serviço para comunidade//. a sede do
jornal é localizada no Distrito Industrial, da capital//. Ele fica às margens da BR 101, desde a
década de 70/, mas durante um bom tempo/ ele funcionou na Praça João Pessoa/, onde hoje,/
está o terreno do prédio da Assembleia Legislativa da Paraíba, no centro histórico da
capital//.
Off 6: De fato/, A União como jornal do estado estava muito bem localizada/, ao norte
avistamos o Tribunal de Justiça da Paraíba/, um prédio sumptuoso/, com uma fachada amarela
e uma arquitetura típica do início do século XX//, a leste deparamos com uma construção que
remete o período do Brasil Colonial/, antigamente pertencia aos jesuítas: a Faculdade de
Direito e ao seu lado, o Palácio da Redenção que curiosamente, também pertencia ao mesmo
grupo religioso.//
Off 7: Não é à toa que A União presenciou diversos momentos marcantes/ da nossa história://
como a cobertura do assassinato de João Pedro Texeira/. Quem ouviu o primeiro episódio
sabe que ele era o líder das Ligas Camponesas //. Mas como todo jornal atrelado ao governo
estatal tem sua visão/ a partir do grupo politico que está no poder, como era a União em
1964?//. A aproximação de Pedro Gondim/ com as classes conservadoras em março daquele
ano/, somado ao incidente da Faculdade de Direito e da Chacina de Mari//, fizeram com o que
o jornal passasse a adotar um discurso mais conservador/. Logo, no dia do golpe, em
primeiro de abril, a publicação apoiou e deu espaço para os golpistas//
Off 8: E o Jornal O Norte?// Fundado no ano de 1908,/ pelos irmãos Oscar e Orris Soares//,
tinha uma pegada mais moderna para os jornais da época//, principalmente,/ pela sua estrutura
gráfica e textual/, contrapondo o formato oficial da "União"//. Até então uma empresa
familiar/, sem apoios partidários/, sofreu forte repressão em 1939, durante o Estado Novo, e
saiu de circulação por mais de uma década, retornando apenas em 1950,/nas mãos de Ivan
Bichara como diretor geral e José Leal como diretor de redação//
Off 9: mas a sua sobrevida veio quando o paraibano Assis Chateaubriand resolveu incorporar
“O Norte”/ aos Diários dos Associados//.Antes do O Norte/, Chateau tinha na Paraíba/ um
outro braço de seu conglomerado de comunicação/, por meio do Diário da Borborema/, com
sede em Campina Grande//.
Off 10: Localizado antigamente na Rua Duque de Caxias/, no centro de João Pessoa, o prédio
fica em frente a Igreja da Nossa Senhora da Misericórdia/. Anos depois/, iria ser transferido
para Avenida Dom Pedro II/, ainda no centro da Capital//. Atualmente, uma parte do que já foi
O Norte pertence à TV Manaíra/ filiada a TV Bandeirantes/ e a outra,/ é uma ocupação
organizada pelo MST chamada “Terra Livre”//
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Off11: O Norte/, tinha uma pegada mais conservadora na sua linha editorial/. Com o golpe
militar de 64/, a postura de neutralidade foi a escolhida/, com a presença de mais colunistas e
cronistas, para driblar problemas com a censura.//
Off 12: Para o jornal funcionar a gente precisa dos jornalistas, certo?//.Eu vou perguntar uma
coisa:// para você o que faz um jornalista?// vou dar 10 segundos para você pensar ( aqui um
silêncio de 10 segundos)// Já pensou?// O jornalista é aquele profissional responsável por
apurar uma informação/ e, no fim,/ levar até a população-isso a grosso modo/, pois o
jornalista é muito mais que apenas um emissor das informações//
Off 13: Antes de sermos Jornalistas/, às vezes/, é na infância que as palavras nos fascinam,/ e
foram elas -as palavras-/ que levarem Evandro Nóbrega e Gonzaga Rodrigues a um dia
pensar:// Por que não seguir o universo mágico da escrita? //
Off 14: Ambos saíram do interior do estado/, nas décadas de 50 e 60/ Para seguir a profissão
de Jornalista era necessário ter algumas habilidades:// datilografar e o apreço pela escrita. Em
meio às entrevistas com os jornalistas eles me contaram como eram as redações eram
quando eles começaram a trabalhar://
Off 15: O chumbo é um dos metais mais pesados encontrados na natureza/, ele é o elemento
usado para fundir as letras do Linotipo/, mas também é encontrado nas munições das armas//.
É nessa guerra entre o peso da escrita e das balas,/ que o Jornalismo viveu nos anos da
Ditadura Militar//. Entre o silêncio e as invasões nas redações dos jornais.// E se eu falar que a
censura dos jornais não começou em 1969 como a gente acredita?
Off 16: Aqui na Paraíba a história começa bem antes do primeiro de Abril de 1964/, na
verdade, semanas antes do golpe//, com a demissão de seis jornalistas da A União: uns por
estarem envolvidos com a confusão na Faculdade de Direito/ outros por apoiarem os
estudantes agredidos pela polícia//. Esta situação culminou na ruptura entre a Associação
Paraibana de Imprensa - a API - e o governo do estado//. Era muito comum jornalistas da
época almoçarem com políticos ou figuras ilustres para obterem informações em primeira
mão/. Vamos ouvir a nota da API no Correio da Paraíba em 10 de março de 1964?//
Sonora do Trecho do Jornal: “Considerando a ofensa a que a classe foi submetida pelo regime
de intolerância política e garroteamento das liberdades de pensamento e ação facultadas pelo
exercício de cidadania, asseguradas pelas leis maiores da República, a ASSOCIAÇÃO
PARAIBANA DE IMPRENSA, recomenda aos seus filiados a abstenção total aos almoços
semanais promovidos pelo governo. Julga este órgão que esta altura tal conveniência já não
tem condições de ser preservada”
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Off 17: A API semanas mais tarde/, seria invadida quando o golpe militar fosse instaurado/,
havia acusações da associação disseminar o comunismo na Paraíba/, livros de cunho
cominista foram aprendidos do dia 31 de março a 01 de abril/ e, o seu presidente/, Adalberto
Barreto foi preso//.
Off 18: Falar que em 64/ a imprensa vivia uma relação de tolerância com os militares não era
de toda mentira/, para desespero do general Golbery do Couto Silva// que não via com bons
olhos a imprensa não ter regras para falar sobre o regime//. Mas foi apenas em dezembro de
1968, numa fatídica sexta-feira 13,/ que Costa e Silva e seus ministros decretaram na calada
da noite o golpe dentro do golpe/, ou melhor, o AI-5//. Vamos sintonizar na Voz do Brasil
rapidinho aqui para ouvir o que o ato quer dizer, eu to curiosa e você?//
Off 19: É neste ambiente hostil/ que os brasileiros iriam viver pelo menos até 1979/, quando o
ato foi extinguido,/ pelo então presidente General Ernesto Geisel//.Visita dos censores nas
redações,/ reportagens saindo de última hora/ e no lugar delas, poemas de Camões, receitas de
bolo, era dessa forma que o Jornalismo iria tentar sobreviver e/, como nas leis da evolução do
naturalista inglês Charles Darwin:// só sobrevive aquele que consegue melhor se adaptar ao
ambiente//.
OFF 20: O Norte e a União não seriam totalmente diferentes das outras redações//. As visitas
dos militares eram tão comuns que eu até prefiro que Gonzaga Rodrigues e Evandro Nóbrega
contem para gente como era//
Off 21: Agora imagina além de toda essa cena,/ você recebe no seu lugar de trabalho um
telegrama falando dos assuntos que podiam e não podiam entrar nos jornais,/ e se não
seguisse o combinado era chamado para conversar com os milicos/ ou o diretor levava um
puxão de orelha deles//. É o que lembram Evandro e Gonzaga://
Off 22: Enquanto ouvia essa história narrada pelos meus entrevistados /fiquei muito curiosa
para saber como os jornais faziam para noticiar essas pautas//. Então, durante os meses de
pesquisa para o Memórias, resolvi visitar os acervos de jornais antigos na Casa Fundação José
Américo, localizada no Bairro de Cabo Branco, na Capital, para observar como eram as
estruturas textuais destes jornais. Numa breve olhada a gente registra algumas coisas:// uma
delas são as manchetes/, muitas delas enaltecendo atividades militares.// No dia 8 de janeiro
de 69, A União disse: “Albuquerque Lima vê no AI-5 poderoso instrumento”/. Basicamente, o
general não acreditava que o AI-5 fosse um instrumento de perseguição, mas sim de
segurança,/ e que todos os brasileiros deveriam apoiá-lo.// Afinal o que importava era a defesa
da nação//. Mas alguém avisou ao Albuquerque que a história não foi bem assim? e que o
AI-5 além de censurar os jornais, iria matar, desaparecer com brasileiros Eu espero que sim//
Off 23: Como falei ainda neste episódio/, sobre o posicionamento do O Norte/ e sua escolha
por um editorial neutro/, para minha surpresa, enquanto pesquisava nos acervos na Fundação,
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Trecho lido por narrador: “ Não foi sorte de Márcio, mas da Câmara. Isto se viu pelas reações
da cidade ante a notícia do arquivamento do processo. Ninguém perguntava “Márcio
ganhou?”, mas sim “a Câmara negou?”
A posição da Câmara, seu comportamento, sua reação era isto que constituia dúvida,
indagação e até mesmo transe na consciência comum. Quando irrompeu a noticia no ar havia
como que uma satisfação incrédula, dessas de quem passou no exame sem fazer boas provas
“Será que negou mesmo?”. Daí se afirmar que o povo queria saber mais da Camara do que do
Márcio , embora tenha sido ele o grande salvado e os srs. Djalma Marinho e Daniel Krieger as
grandes aparições.
Jornal O Norte, 15 de Dezembro de 1968.
Off 24: O Jornalista vive da liberdade de expressão/, ela ajuda a fomentar a lógica de que
todas as partes devem ser ouvidas/ e têm direito de resposta//. Numa ditadura/, nunca o
jornalismo poderia e pode fazer o seu papel: o de contestador social//. O jornalismo incomoda
governos autoritários/ e se incomoda é porque está fazendo bem o seu trabalho//.
Off 25: Durante a vigência do AI-5/ o Jornalismo ficou vedado/, amarrado/ , perdeu seu
fôlego/. As rádios, como a Arapuan/, mesmo com o seu diretor Otinaldo Lourenço
declaradamente conservador e/,seu apreço pela informação,/ tiveram suas atividades
encerradas em 1969/. Enquanto,/ em Campina Grande, o jornal “O Rebate”/, foi invadido em
Agosto de 1964 por dez militares/ levando todo o acervo do jornal para o quartel de
Exército//. Até hoje não sabemos o que aconteceu com esse material.
Off 26: Em 69 o jornalismo foi regularizado como profissão pela lei Federal Nº 9-7-2/69/,
nela consta as atividades designadas à profissão/ dois anos antes em 67, o Marechal Castelo
Branco, com Lei Nº 5250/97/ falava sobre a regularização da imprensa e ironicamente de
forma até democrática//
Off 27: Enquanto as bases jornalísticas iam se formando/ nas leis/, era inegável a
perseguição aos jornalistas no cotidiano//. O medo de escrever algo/, pois a possibilidade de
ser preso por conta de alguma posição no jornal, ah isso sim tinha/! a autocensura nunca foi
tão bem descrita como foi por Gonzaga Rodrigues neste trecho//.
Off 28: No episódio de hoje falamos sobre a história dos jornais paraibanos e ouvimos as
memórias dos jornalistas Evandro Nóbrega e Gonzaga Rodrigues sobre a rotina jornalística
durante os anos de chumbo da ditadura militar. No próximo episódio desta temporada/,
vamos tocar no assunto mais sombrio do regime:// as torturas e as prisões//. Como eram elas?/
Onde os presos políticos iam ser encarcerados?/ Quem foram os jornalistas perseguidos
durante o regime e como foi essa perseguição?//
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Off 29: este podcast faz parte do trabalho de conclusão de curso, o meu tcc em jornalismo,
pela Universidade Federal da Paraíba//, com a orientação da professora Patricia Monteiro//,
eu, Rayanne Melo, assino a produção e o roteiro//. a edição é de Nael Viana //. a vinheta deste
episódio foi feita pelo músico Baza. Os vídeos deste episódio foram retirados do Youtube/, os
jornais lidos são do Acervo Digital do Jornal da União/ e, o acervo do O Norte encontra-se na
Casa Fundação José Américo/. O trecho contendo a nota da Associação Paraibana de
Imprensa, faz parte do livro “Populismo e o golpe de Estado na Paraíba” da historiadora
Monique Cittadino// A voz que você ouviu narrando a nota da API é Juarez Neto, a coluna
de Politica do Jornal O Norte é narrada pelo filho de Gonzaga Rodrigues, Paulo Emauell//
Off 30: Esse Podcast tem um Instagram @memoriasdeumporao/, com mais informações sobre
o assunto deste episódio/ Lá você também você pode encontrar curiosidades sobre a Ditadura
Militar/, além de bastidores dessa produção/. Eu me despeço por aqui, até a próxima!//
Aviso: Este episódio contém violência física, psicológica e moral,/ Não é aconselhado para
quem tem algum gatilho sobre esse assunto,/ quando estiver mais calmo, venha conferir./O
importante é a sua saúde mental e você está bem/ o episódio vai continuar aqui, esperando
você o ouvir.//
BG: Sons de tanques na rua e pessoas correndo, barulho de cavalos ( depois ir em fad out o
som dos cavalos aos poucos) .(Em Fad in,) o som de casa arrombada com livros ou objetos
jogados no chão. ( sai em fad out ) para ir direto a sonora
Off 1: Bem vindo/, bem vinda/ e bem vinde ao último episódio do Memórias de um porão//,
caso não tenha ouvido/ os dois primeiros episódios/, dá uma pausa aqui/ e vai lá conferir//. No
primeiro episódio,/ fizemos um passeio histórico pelos eventos anteriores à ditadura militar/,
tanto no Brasil quanto na Paraíba//. No segundo episódio,/ conhecemos a história dos Jornais/
A União e O Norte/, além do trabalho dos jornalistas/ sob forte censura e sua relação com os
militares//. O último episódio,/ desta temporada é dedicado a Imprensa paraibana/ trago
histórias não narradas por muitos:// a tortura e a perseguição//. Eu peço que você escute bem /
o que irá ser contado daqui para frente/ e no final eu explico o porquê! Vem comigo?//
Vinheta do podcast
Off 2: Antes de começar esse episódio/ trouxe um trecho de um depoimento /de Frei Tito,
frade da ordem dominicana ligado ao guerrilheiro Carlos Marighela e a guerrilha Ação
Libertadora Nacional (ALN) /comentando as torturas sofridas por ele no Departamento de
Ordem Política e Social, o DOPS/, em São Paulo./ Esse depoimento aconteceu no Chile /e foi
justamente nesse momento que os exilados contavam ao mundo os crimes contra a
humanidade cometidos pelo Estado brasileiro.//
Off 3:A escolha por esse áudio é extremamente proposital//. Quando criança/, num livro de
história que ganhei da minha vizinha/, Dona Elza/, tinha uma carta//, agora não me recordo
com clareza se a autoria [ era de Frei Tito ou de Frei Beto/, ambos da ordem dominicana.//.
Mas lembro exatamente do conteúdo/, a mensagem dizia que um deles tinha sido torturado a
noite toda/, seu corpo nu estava cheio de hematomas/, horas antes tinha apanhado e levado
socos/, e choques elétricos//. Totalmente ferido/, a angústia de estar preso e a custo de quê?//
Essa é a pergunta que fica/ e talvez sem resposta concreta para até hoje.//
Off 4: Hoje/, a minha geração conhece ainda muito pouco do que foi a ditadura militar no
país,/imagina num estado como a Paraiba?// A tortura está na nossa história desde sempre/, os
indios quando capturados pelos colonizadores eram vitimas de tortura/, e um país com maior
circulação da população escrava negra,/como foi o Brasil não estaria de fora: //chicotadas/,
palmatórias/ e multilações pelo corpo/, tudo com o olhar sub-serviente da elite e do Estado
brasileiro//.
Off 5: Essa elite que/, em 64 iria dar brecha para os militares apoderar do país por mais de
vinte anos//. Não somente a elite/, a imprensa/, a igreja também//- é meus caros cristãos/,
Jesus foi crucificado e sabe a crucificação?// Ela era uma das milhares formas de tortura
realizada pelo Imperio Romano//. E, por isso,/ precisamos sempre lembrar disso quando pedir
“Intervenção Militar”//.
*seria interessante um sobe som aqui de protesto recente com pessoas pedindo intervenção,
seguida de algum comentário de jornalista/jornal (globo, globo News etc) comentando essa
situação ((mas vc decide se funciona...))
Mas como o mundo dá voltas cada setor seria perseguido pela ditadura ao longo do regime//.
Off 6: Voltando a 64, Ainda no dia 2 de abril/, quando na calada da noite,/ os militares já
começaram a caça pelos inimigos políticos como:// militantes e ex-militantes do Partido
Comunista Brasileiro o PCB/, políticos ligados às causas sociais/ – governadores como
Seixas Dória de Sergipe, Miguel Arraes do Pernambuco/, foram perseguidos/, tiveram os
direitos políticos cassados por dez anos.//
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Sonora: Trechos do AI-1 E AI-2 ( sensação de tempo passando com esses atos)
(Nesse momento será uma representação do dia da prisão dele, não será narrado pela
apresentadora, seria uma simulação contada por ele mesmo)
Off 8: Os casos de torturas pelo país/, logo, /sairiam de Pernambuco e se espalhariam por todos os
estados.// Na Paraíba,/ assim que o golpe foi parar nas ruas/, diversos líderes sindicais/, das ligas
camponesas ,/simpatizantes/ e políticos ligados a essas causas/ foram procurados pelos militares
golpistas.//
Off 9: É nesse grupo de simpatizantes /que a nossa história começa/, ele era Jornalista/, com seus
colegas de profissão Biu Ramos/, Gonzaga Rodrigues/ e João Manuel de Carvalho/ estava no
grupo de profissionais/ que cobriam e acompanhavam as lideranças políticas das Ligas
Camponesas /em comícios pelo interior do estado da Paraíba//. Simpatizante sim/, pelas causas
sociais//, socialista, não//. Sua escrita era ácida/, de comentários pertinentes, esse era o Jório Lira
Machado/, ou melhor, Jório Machado/, jornalista responsável por um dos veículos mais críticos da
ditadura nos anos 70, O Momento.
Off 10: Jório faleceu em 2003/, num acidente de carro perto de Santa Luzia/, municipio do Cariri
da Paraíba//. Mas anos antes de falecer fez um livro de memórias/ “ 1964: A Opressão dos
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quartéis",/ quem vai nos narrar os momentos de prisão e angústia do Jório, será o filho dele,
Cristiano Machado://
Off 11: Onde estava Jório às 21H/ no dia 31 de março /e ao lado de quem?//
Off 12: Nos primeiros dias de abril 64/, Jório foi preso no 15º RI/,o Décimo quinto Regimento de
Infantaria, um dos lugares de tortura e prisão dos ditos “inimigos da Revolução de 64” ( entre
muitas aspas)//. O lugar era visto por muitos que foram levados para lá/, como insalubre/,
localizado na Avenida Cruz das Armas,/ no Bairro de mesmo nome/, em João Pessoa/.
Off 13: E quem comandava o lugar na época era Ednardo D’Ávila/, um coronel que anos depois/,
seria um general no governo Geisel.// Inclusive,/ ele estaria ligado à morte do Jornalista Vladimir
Herzorg, mas sobre isso eu falo mais no Instagram deste projeto, lá no final eu te digo o arroba pra
você ir lá conferir.//. Voltando para o assunto, a truculência e as torturas eram comuns no
regimento/. É no xadrez nº 2/, num lugar extremamente apertado/ que Jório foi chamado/, pois em
instantes,/ iria para uma nova prisão:// Fernando de Noronha//.
Off 14: De João Pessoa para o Recife/, atualmente é uma viagem de 115 quilômetros, e
aproximadamente duas horas/, mas em 64/, não tinha uma estrada asfaltada como hoje/, e o
percurso que era em terra de barro semi batido/ levou cinco horas//, tudo isso na companhia de
quatro soldados e um fuzil//.
Off 15: No Recife deram uma parada no Quartel General/, e de lá, às 5 da manhã,/ foram enviados
para a Ilha de Fernando de Noronha//. É preciso constar aqui duas coisas: //Um, Fernando de
Noronha servia de prisão desde o período imperial/ , o exílio da ilha era uma prisão militar e/,
depois, de alguns prisioneiros comuns/, e por fim,/ apenas a ilha deixaria de ser prisão um bom
tempo depois: em 1967//.
Off 16: Ao chegar a Ilha/, ele foi recebido pelo coronel Ibiapina//. Em Fernando de Noronha, Jório
ficou preso numa cela muito pequena/, onde mal cabia uma cama direito //
Off 17: Na mesma noite, ao chegar em Fernando de Noronha/, foi escolhido para dar "um
passeio”/, uma chuva grossa cobria o local/, saindo da sua cela//:
Off 18: Jório poderia até suspeitar de uma tortura física/, mas não eram esses os planos de Ibiapina
para ele.//
Sonora: Jório sendo mandado pelo Ibiapina até a rampa e sua saída
Off 19: Ficar preso em Noronha trazia algumas situações inusitadas/, como por exemplo quais
eram suas únicas paisagens://
Off 20: Mas o isolamento também trazia a falta de comunicação/, nesse trecho Jório relata a
primeira e única carta que recebeu da sua esposa enquanto esteve em Noronha://
Off 21: Alguns meses depois/, Jório seria transferido para o Recife novamente/, indo para o
Quartel General/, localizado no Bairro de Boa Vista/, na Rua do Hospício/, no coração do Recife
Antigo/. Ao invés de uma movimentação de presos políticos/, hoje a sede abriga um Hospital
Geral do Exército//.
Off 22: Horas depois/, ele seria levado para a 1ª Bateria/ do 3º Grupo/ de Artilharia / de Costa
Mecanizada ( Informação a confirmar) , esse nome todo pode ser dito pela sigla (1/3º
GACosM),em Olinda//. Nos arquivos militares/, o lugar era conhecido como "Colônia de Férias
“//. Eram férias nada agradáveis// ,visto que, muitos dos presos eram submetidos a torturas
psicológicas//. Novamente, a visão do Jório seria o barulho das ondas do mar.// Sim/, a sede
ficava no Bairro Novo de Olinda//. Ao norte,/ viamos a praia do quartel, nome bem sugestivo
até//.
Off 23: O prédio foi demolido/, no lugar existe hoje Shopping Patteo//. Posteriormente, o nome
seria mudado para o 4º Batalhão do Exército de Polícia/, com sede no Bairro do Curado, no
Recife//.
Off 24: Em seu livro de memórias, Jório retrata como eram as instalações do lugar e sua impressão
ao chegar//:
Off 25: Jório logo foi liberto tempos depois//. Ao voltar para casa/, talvez a pior forma de
silenciamento/ tenha sido a falta de oportunidades de emprego/, mesmo sendo um excelente
profissional//. Até entrou em cargos como:// assessor de imprensa na Saelpa, antiga companhia
estatal de energia elétrica do estado / e como Chefe de Gabinete da Secretaria de Comunicação do
governo João Agripino,/ este último por ter sido indicado, na verdade/, mas não conseguia ficar
por muito tempo/, pois,/ sua passagem pelas prisões sempre eram vistas com desconfiança.//
Como o selo de um eterno subversivo.//
Off 26: Não foi apenas Jório que passou por essa situação/, José Octávio seria destituído de seu
cargo/, para minha surpresa/, pois, quando fui o entrevistar/ não estava prevista essa revelação.//
Atualmente, em março de 2023 ele está para receber uma indenização do Estado//.
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Off 27: Ter escolhido começar com os jornalistas/, parte no princípio que/, o jornalista produz a
informação, dá às fontes o direito de terem a sua história contada. E quando sob censura ou
conveniência dos jornais elas não foram contadas?// Como futura jornalista/ enxergo nesse
produto /, um lugar onde cada grupo marginalizado durante a ditadura merece, sim,/ ter a sua
história contada//. Nas próximas temporadas de Memórias de um porão iremos saber um pouco
mais sobre cada grupo e o que aconteceu com eles.//
Off 28: Cada jornalista entrevistado, citado,/ todos passaram por um jornalismo de combate/, em
homenagem nesse momento, eu cito Biu Ramos que escapou de ser preso por causa do
racismo,mas aquele homem miúdo e amante das palavras iria nos presentear com um dos livros
mais fortes sobre a criminologia na Paraíba// e como eles nos abalaram/, o que falar do João
Manuel de Carvalho? Isso eu vou deixar com o filho dele/, Anísio/, falar de um momento
marcante do jornalista que era antes de mais nada um agitador de multidões://
Off 29: No início deste episódio pedi para vocês prestarem bem atenção no que seria dito durante
ele, atualmente os fantasmas da ditadura ainda perseguem o país. A imprensa brasileira, que
durante os últimos anos foi atacada por apenas fazer o seu trabalho: o de informar. Fomos
humilhados, silenciados e muitas vezes descredibilizados. Memórias é um projeto de resgate para
pelo menos tentar evitar que a história se repita, mas como diria meu professor de história
Petrônio Osias quando eu fazia o ensino médio em 2012 ,um país que não conhece a sua história é
fadado a repetir o erro.
Off 30: este podcast faz parte do trabalho de conclusão de curso, o meu tcc em jornalismo, pela
Universidade Federal da Paraíba//, com a orientação da professora Patricia Monteiro//, eu,
Rayanne Melo, assino a produção e o roteiro//. a edição é de Nael viana //. a vinheta deste
episódio foi feita pelo músico baza. Os videos sobre o AI-I e AI-2/ e o depoimento de Frei Tito
foram retirados do Youtube/, as memórias narradas por Cristiano Machado/, foram retiradas do
livro 64: A Opressão dos quartéis//. A leitura do depoimento de Gregório Bezerra foi feita por
Thiago Felix
Off 30: Esse Podcast tem um Instagram @memoriasdeumporao/, com mais informações sobre o
assunto deste episódio/, também você pode encontrar curiosidades sobre a Ditadura Militar/,
bastidores/. Eu me despeço por aqui, até a próxima!//
/
A partir daqui vem um BG com a Música Sentinela do Milton Nascimento em Fad in
Sonora: Audio dos alunos de jornalismo citando os jornalistas presos, perseguidos durante a
ditadura militar) que lindo!! De arrepiar!
DECLARAÇÃO DE AUTORIA
Matrícula: 20180083651
Professor (a) orientador (a): Profª Drª Patricia Monteiro Mendes Cruz
Declaro, a quem possa interessar, que o presente trabalho é de minha autoria e que
responderei por todas as informações e dado nele contidos, ciente da definição legal de
plágio e das eventuais implicações.
TERMO DE RESPONSABILIDADE
Eu,Rayanne Carla de Melo Silva, aluno (a) regularmente matriculado (a) no Curso
de Jornalismo, matrícula 20180083651, na disciplina Trabalho de Conclusão de
Curso II, assumo total responsabilidade sobre o Trabalho de Conclusão de Curso
de minha autoria e autorizo sua divulgação na web, assim como seu
armazenamento na forma que dispuser a UFPB.