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Tirem-me Tudo – Azeite Gallo

Tirem-me a vista,

Tirem-me, para sempre, a luz de Lisboa,

Tirem-me as encostas do Douro, o Tejo e o Alentejo,

Tirem-me a calçada dos passeios e os azulejos da parede,

Tirem-me o ouvido,

Tirem-me, para sempre, o choro da guitarra e o pranto do fadista,

Tirem-me os pregões das mulheres do Bulhão e a pronúncia de Norte a Sul,

Tirem-me a fúria de espuma das ondas e o grito do golo,

Tirem-me o tacto,

Tirem-me, para sempre, o sol de inverno a bater na cara,

Tirem-me o barro a ganhar forma entre os dedos,

Tirem-me o rosto queimado da minha Mãe e a mão áspera do meu Pai,

Tirem-me tudo isto, mas não me tirem o gosto,

Porque se eu ainda for capaz de saborear a alheira a rebentar de sabor,

Ou o bacalhau com todos a nadar em azeite,

Serei capaz de dizer,

Se não me tirarem a fala,

Que estou em Portugal!

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