TEMA: A evolução jurídica das normas atinentes aos critérios de
inimputabilidade penal da criança e do adolescente infrator, no território brasileiro, desde o Brasil colônia até os tempos atuais, estabelecendo as normas internacionais que influenciaram na aquisição e no reconhecimento dos direitos do adolescente infrator.
Decorrente de um contexto histórico tortuoso, o menor, como eram
chamados, eram, em sua maioria, submetidos às mesmas penalidades impostas aos adultos, sendo esta realidade modificada a partir de marcos regulatórios e discussões progressivas.
No contexto internacional, como forma exemplificativa, nos idos do
século XIX, com parâmetro nas Ordenações Filipinas, crianças e adolescentes eram responsabilizadas por atos praticados a partir dos 7 (sete) anos de idade, sendo eximidas das penas de morte e reduções penais quando comparada as penas impostas aos adultos.
Ao tratarmos da evolução histórica no território brasileiro, as primeiras
legislações acerca da inimputabilidade da criança e do adolescente surgem com os Códigos Penais do Império e da República de 1830 a 1890, quando estabelecem que aos menores de dezoito anos que viessem a pratica atos infracionais, seriam responsabilizados por tal, e quanto os menores de quatorze teriam outra forma de responsabilização, como a inserção em casa de recriação.
Embora as sanções aplicadas aos menores infratores tivessem um
caráter punitivo, diferente dos dias atuais que visam a ressocialização da criança e do adolescente, a criminalidade deste público crescia ano após ano. Necessário então a criação de um juízo que tratasse exclusivamente deste assunto, criado então em 1923 o “Juizado de Menores” e após este marco sobreveio a criação do primeiro Código de menores em 1927. Ao longo dos anos, diversas leis foram criadas com o objetivo de punir as crianças e adolescentes abandonados. Surge assim o Código de Menores de 1979, pautado na Doutrina da Situação Irregular. Importante destacar que tanto o Código de 1927 e o de 1979 tinham por foco o menor abandonado e o menor delinquente. Nesta época, além do menor não ser protegido em sua integralidade, tinha como regra a institucionalização dos menores, ou seja, o rompimento dos vínculos familiares.
Com o passar dos anos, a evolução social, aperfeiçoamento das leis
existentes e aprimoramento dos direitos humanos, foram criadas regras específicas para a criança e o adolescente.
Em 1988, com o advento da Constituição Federal, a criança e do
adolescente ganham um status de vulnerável e consequentemente passa a ser de obrigação da Família, Estado e Sociedade assegurar os seus direitos. A criança e o adolescente passam a ser sujeitos de direitos.
A Assembleia Geral das Nações Unidas, em 1990 publicou regras
mínimas para crianças e adolescentes que cometessem atos infracionais, em razão da sua vulnerabilidade social, utilizando-se de princípios norteadores para aplicação das medidas sócio-educativas. O Brasil utilizou desses parâmetros e princípios norteadores para dar seguimento em sua legislação, visando proteger e garantir os direitos da criança e adolecente infrator.
Com o surgimento do Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA -
em 1990, as regras antes existentes passaram a ser exceção. O Estatuto visa assegurar o direito à criança e adolescente que estejam abandonados, ao delinquente e aquele que está em situação de vulnerabilidade (risco pessoal ou social). O ECA deixa de tratar como menor e passa a se intitular como criança (12 anos incompletos) e adolescente (12 a 18 anos).
A regra era a institucionalização dos menores – rompimento dos
vínculos familiares. Com o surgimento do ECA, essa regra passa a ser exceção, devendo o estado, através de políticas públicas, manter a criança no seio familiar. Notório o avanço na legislação e na sociedade quanto aos menores vulneráveis que dependem dos seus familiares, da sociedade como um todo e de políticas públicas hábeis a preencherem uma lacuna histórica de descaso frente a este público. Infelizmente, embora existam políticas públicas, muitas vezes estas não se mostram suficientes para conter um crescente avanço na criminalidade deste público, levando a discussões acirradas quanto a redução da maioridade penal.