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Didática da História na Alemanha e no Brasil: considerações sobre o ambiente de surgimento da

Neu Geschichtsdidatik na Alemanha e os desafios da nova Didática da História no Brasil

Sobre o autor
Introdução
1. A incorporação da didática da história ao ensino de história trouxe mudanças à primeira;
2. O problema do pouco acesso à literatura alemã;
3. Rüsen não inventou a didática da história e nem esta é, tampouco, homogênea;
4. É preciso situar os autores alemães aos quais se tem acesso em seus respectivos contextos históricos
– eles estavam respondendo questões do seu tempo;
5. Educação histórica (History Education) – anglo-saxã x Didática da história (Geschichtsdidatik);

Educação histórica Didática da História


A educação histórica se formulou como uma A didática da história era entendida não como uma
metodologia ou como um campo de pesquisa das metodologia ou um campo de pesquisa, mas como
ideias históricas de sujeitos em situação escolar, uma nova disciplina capaz de abarcar diferentes
com óbvias implicações didáticas para o ensino da metodologias.
história;

6. Saddi levanta como hipótese uma ressignificação brasileira da didática da história – influência do
pensamento já existente e das necessidades de respostas às nossas próprias carências;

Didática da história alemã: uma resposta à crise de legitimação da ciência histórica

1. Crise pós anos 60 – ser alemão depois de Hitler, depois de uma época com alto desemprego e
dificuldades para viver;
2. A Alemanha vinha de duas guerras e, a partir dos anos 1960, tratava-se de uma Alemanha ocupada e
dividida;
3. O governo da Alemanha Ocidental queria esquecer o passado recente do país e interpreta-lo como
um acidente;
4. O que gerou a crise alemã foi a mudança de sociedade, que demandava uma debate sobre esse
passado, mas que não foi posto, pelo menos pela história e pelo ensino de história;
5. A mesma história ensinada a Hitler continuava em vigor;
6. Renovação sociológica dos anos 1960 (Estevão Martins): aproximação do debate presente x História:
preocupação com o passado distante;
7. A perda de espaço da história nos currículos;
8. Anos 1960 – Historische Sozialwissenschaft (Escola de Bielefeld) – fundamentava-se na perspectiva
analítica da história, e não mais hermenêutica (historicismo);
9. “Ao mesmo tempo, no final dos anos 60 e início dos anos 70, Rüsen (1969) (1976) superava, com o
retorno a Droysen, a redução da teoria da história a um fator da pesquisa histórica. Tratava-se de
entender a teoria da história como Historik, isto é, como meta-teoria, como uma reflexão teórica sobre
a práxis historiográfica. Nesta reflexão teórica sobre a teoria, ganhava destaque a reflexão sobre os
fundamentos mundanos de toda e qualquer história, compreensão que colocava a didática da história
como uma preocupações relevante da ciência histórica.” p.138;

Algumas polêmicas entre os diferentes autores


Didática da História
Extremo 01 Centro Extremo 02
Posição liberal-conservadora Campo emancipatório
Didática da história teórica da Consciência histórica Didática da história crítico
formação comunicativa
Bergman, Pandel, Annette Kuhn Rüsen Jeismann, Rohfels

01. Consciência histórica (Geschichtsbewusstsein);


02. O eixo de distanciamento ou aproximação desses autores é o entendimento sobre qual é o objetivo
da didática da história e emancipação humana;

O objetivo da didática da história


Annette Kuhn Rohlfes
Negava qualquer tentativa de
História implica na reconstrução transformar a didática da história
das condições históricas de em uma defesa da ideia de
opressão (Ünterdrückung) na Consciência histórica revolução. Para ele, “a mudança
intenção de possibilitar a radical não é um valor absoluto.
superação (Überwindung) das A reforma cautelosa e a melhoria
mesmas do que existe” é “talvez a
solução mais humana”.

03. A consciência histórica como centro – não negava a emancipação (relação que estão para além do
critério da razão*);
04. Já havia um debate, a partir da consciência histórica, de que a história analisaria os processos de
formação de consciência histórica, mas também era uma produto dessa (o que Rüsen chama de
‘fundamentos do pensamento histórico’);

Consciência histórica
não sozinho o tema História, mas a relação entre o
campo temático História e o sujeito, que tem a ver
com a recepção da História. O objeto da didática
da história é assim o processo de mediação entre
Rolf Schörken (1972)
sujeito e objeto. Ele tem a ver por isto igualmente
com ambos os polos como também com o meio
histórico no qual este processo de mediação se
realiza.
resultado “(...) da recepção de toda forma de
História (...) na consciência dos indivíduos e dos
coletivos”
Bergmanm e Pandel (1975)
(Aqui, o sujeito recebe a história como algo
acabado, pronto)
Rüsen (2012) Para ele, a didática da história tem como objeto o
aprendizado histórico e não a consciência
histórica

O caráter disciplinar da História

Rüsen e Bergmann
Annette Kuhn Jeismann Rüsen e Bergmann
(1978)
(1978)
a didática era
inerente
ciência interdisciplinar que
à própria história,
sustenta tanto elementos de uma
Subdisciplina da devendo ser Subdisciplina das
Ciência da Educação crítico-
Ciência da História entendida como Ciências da
comunicativa como também de
uma subdisciplina Educação
uma Ciência da História crítica
da ciência
histórica.

05. A posição de Jeismann foi a que passou a ser aceita a partir do final dos anos 1970.

A didática da história no Brasil como didática da história peculiar

1- Metodologia/técnica de ensino (preocupa-se com o ‘como’ ensinar’


2- Ensino escolar da história (preocupa-se com o como ensinar história
na ‘escola’)
Didática da História no
Brasil 3- Uma área externa à Ciência Histórica escola que deve buscar em
outras áreas (especialmente na Pedagogia) os procedimentos e métodos
para definir como ensinar história nas escolas.
4- Campo de formação prático (e não uma área aprovada cientificamente)

01. Saddi aponta, no entanto, que as definições de didática da história, no Brasil, têm sido
progressivamente ampliadas:

Primeiramente, ela tem, paulatinamente, deixado de ser compreendida como uma mera
metodologia do ensino de História. Como afirma Cerri (2001, p. 110), ela compreende a “(...) a
1
necessidade de pensar e pesquisar os conhecimentos históricos em todo o tecido social, e as
interrelações que promovem entre si e o conhecimento erudito ou o escolar”.
Ela deixa de estar centrada exclusivamente no ensino escolar da história. Segundo Cardoso
2 (2008, p.158), “A Geschichtsdidaktik abrange mais do que a realidade escolar, ela estuda a
‘consciência histórica na sociedade’”.
Ocorre um questionamento da separação entre didática da história e ciência histórica.
No âmbito da metodologia do ensino, Schmidt (2009) tem questionado a pedagogização do
3 ensino de história, e, no âmbito da reflexão sobre a própria didática da história, tem se entendido
esta disciplina como uma parte inerente dos estudos históricos (CARDOSO, 2008), isto é, como
uma subdisciplina da ciência histórica. (SADDI, 2010).
4 a didática da história tem se fortalecido como uma disciplina científica
02. Ainda assim, há no Brasil uma série de indefinições sobre a didática da história – é uma disciplina
escolar ou vai além dela? Está alocada na história, na educação ou é autonôma?
03. Para Saddi, é uma sub-disciplina da ciência histórica;
04. Cardoso (a didática deve cuidar de todas as formas de história não científica) x Saddi (a história
científica também deve ser objeto da didática);
05. Destaque ao Sul e Sudeste nos debates sobre didática;
06.”uma didática da história comprometida com a análise da consciência histórica na sociedade deve,
segundo a própria literatura alemã, resolver problemas relacionados às carências de orientação das
diferentes culturas, sociedades, grupos e indivíduos que as produzem”
07. Trata-se, finalmente, de um conceito em construção no Brasil.

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