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" Se vo cê realmente quiser aprender a relacionar-se
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com as pessoas - sejam da família, am igos, colegas
de trabalho, patrões, vizinhos - ou se não se sente
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3. EDIÇÃO A
bem em alguns ambientes soci ais, os pr incípios
cont idos neste livro poderão esclarecer as razõe s e'
"-7 m
trazer alguma esperan ça. "
A Arte de Relacionar-se com as Pessoas abre novas
portas de comunicações, por meio do s segu intes
capít u los:
Compreendendo as Pessoas, a Fim de Relacionar-
se com Elas
Comunícação: Como Você Díz as Coisas
A Importância dos Elogios e do Tato
Resolvendo as Diferenças
Relacionando-se com os Filhos - e Como Sua
Infância Afetou Você
Relacionando-se com os Neuróticos
Relacionando-se com as Pessoas Difíceis
Quando e Como Defrontar-se
Como os Sentimentos de Inferioridade e Medo
Prejudícam os Relacionamentos
Reações e Respostas
A Fórmula Para o Fracasso - e Para o Sucesso
Facetas do Amor
A Arte de Relacionar-se com as Pessoas oferece
novas perspectivas, para ma ior bem -estar, satis fação
e sucesso na vida , através de melhores rel aciona-
mentos no dia-a-d ia com as pessoas que são impor-
tantes em sua v ida. \!:)
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CECIL OSBORNE

a arte dez
relacionar-se
com as pessoas

3~ Edição

Tradução de Iosias Cunha de Souza


e
Roberto Alves de Souza
Todos os direitos reservados. Copyright © 1987 da
Junta de Educação Religiosa e Publrcações da Con-
venção Batista Brasileira. Direitos cedidos, mediante
contrato, pela Zondervan Publishing House, Grand
Rapids, Michigan, Copyright © 1980.
Publicado originalmente nos Estados Unidos da
América sob o título: The Art of Getting Along With
People

158.1
Osb-Art Osborne. CCecil C.
A arte de 'relacionar-se com as pessoas. Tradução de
Iosias Cunha de Souza e Roberto Alves de Souza. 3 a ed.
Rio de Janeiro. Junta de Educação Religiosa e Publicações.
1990.
240p.
1. Aconselhamento Psicológico. 2. Psicoterapia. 3. Psi-
cologia apl icad'a. I. Título.
CDD - 158.1

Código para pedidos: 25.206


Capa de Nilcéa Cardoso Pinheiro

Junta de Educação Religiosa e Publicações da


Convenção Batista Bras; leira
Caixa Postal 320 - CEP: 20001
Rua Silva Vale, 781 - Cavalcânti - CEP: 21370
Rio de Janeiro, RJ, Brasil

3.000/1990

Impresso em gráficas próprias.

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Sumário

Prefácio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
1. Compreendendo as Pessoas, a Fim de Rela-
cionar-secam Elas .-............ 9
2. Comunicação: Como Você Diz as Coisas. .. 25
3. A Importância dos Elogios e do Tato 43
4. Resolvendo as Diferenças 63
5. Relacionando-se com os Filhos - e Como
Sua Infância Afetou Você .. I • • • • • • • • • • •• 83
6. Relacionando-se com os Neuróticos .... "' 105
7. Relacionando-se com as Pessoas Difíceis .. 127
8. Quando e Como Defrontar-se . . . . . . . . . . .. 143
9. Como os Sentimentos de Inferioridade e
Medo Prejudicam os Relacionamentos .... 159
10. Reações e Respostas' I • • •• 177
11. A Fórmula Para o Fracasso - e Para o
Sucesso I ••••• I ., 195
12. Facetas do Amor I ••••• I •••••• 217 I • • • ••

Apêndice . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 233
Notas I 237
••••••••• I
Prefácio

Com que freqüência você tem permanecido acor-


dado à noite, relembrando, com sofrimento ou em-
baraço, um encontro em que você não se portou com
muito brilhantismo? Ou relembrando um encontro
que terminou mal? Com que freqüência você tem
desejado que pudesse reformular uma declaração
que saiu desajeitada? Ou pensou com tristeza em um
relacionamento que se findou desastrosamente?
Esses arrependimentos fazem. parte da natureza
humana. Mas é possível aprender a comunicar-se
mais efetivamente e a relacionar-se mais criativa-
mente com os outros, a ponto de reduzir ou eliminar
as ocasiões de arrependimento.
Jesus dedicou uma parte significativa de seu en-
sino ao assunto das relações humanas. Deus deseja
que os seus filhos se relacionem bem. Como em
qualquer outra arte, há necessidade de estudo e
prática para aprender-se \e aplicar-se os princípios
básicos do bom relacionamento com os outros. Este
livro trata dos princípios fundamentais em que se
baseia a interação humana. Você pode ter uma vida
mais satisfatória à medida que dominar esses con-
ceitos básicos.
• •
1
%<'«··rs"i·m!'~:s.wt@I;:::UE:::ll::::m:::Il:::ill!::3&l:!._~mcW:ii!

Com.preendendo as Pessoas,
a Fim de Relacionar-se COnl Elas
A paciência é a habilidade de aturar as pessoas que você
gostaria de desprv-ar. - Ulrike Ruffer

Uma senhora perguntou a um amigo de noventa e


um anos de idade por que ele havia decidido retirar-
se para uma pequena cidade do Estado de Indiana,
com cinco mil habitantes, ao invés de ir para India-
nápol is, onde haveria mais coisas para fazer e para
ver.
Ele respondeu: "Se um dia eu caísse morto no
centro de I ndianápolis, todas as pessoas simples-
mente passariam por mim e continuariam andando.
Se eu caísse morto aqui, também todos passariam
por mim e continuariam andando, mas diriam: 'lá
está o velho Tom Clark. ' Jl 1
O comentário engraçado, mas apropriado, desse
homem, indica uma faceta importante da natureza
humana: Todos nós desejamos ser notados. Ninguém
deseja ser ignorado ou esquecido ou morrer sem ser
reconhecido.
Todo ser humano tem uma necessidade funda-
menta\ dê ~~r amado e admirado, de ser especial. O
bebê anseia pelo amor total e completo dos pais,
Essa necessidade profunda, que mais tarde fica se-
pultada e em grande parte esquecida na "criança

9
interior do passado", jamais morre completamente.
Ela se revela no desejo que o adulto tem de reconhe-:
cimento, honras, popularidade - qualquer forma de
atenção positiva.
Talvez você não tenha esperança de se tornar
mundialmente famoso, mas deixe a sua imaginação
correr livre por um momento. A fantasia pode ser
divertida, se ela não se tornar uma substituta para a
realidade.
Você gostaria de descobrir a cura para o câncer?
Ou mesmo para o resfriado comum? Isso lhe traria
fama instantânea e beneficiaria a humanidade.
Você gostaria de ser o primeiro astronauta a descer
em algum planeta distante? Pense nos desfiles, na
adulação, nas ofertas de um bom emprego, na ri-
queza e na aclamação popular.
Você desejaria ser um artista famoso ou um filan-
tropo, cujo nome ficasse perpetuado na História? Um
magnata do petróleo fabulosamente rico ou um
conselheiro presidencial sábio e renomado, indo de
uma para outra capital deste planeta, a fim de trazer
a paz a este mundo conturbado? Um juiz gentil e
benevolente, pronunciando decisões sábias? Ou
talvez um dos poucos selecionados na ciência, arte
ou literatura para receberem o Prêmio Nobel?
Essas fantasias inofensivas são um vestígio da
infância, quando você provavelmente recebia amor e
adoração incondicionais. Mas agora você é um
adulto. Plop! A bolha de sabão estoura, e você está
de volta à luta diária, à realidade da vida.

Todos Nós Queremos Ser Importantes


As pessoas sentem uma necessidade universal de
serem importantes: se não forem famosas ou ricas,
pejo menos precisam ter amigos que pensem bem a
seu respeito; se não forem aclamadas, pelo menos
precisam ter algum significado.
Você pode relacionar-se bem com as pessoas se
reconhecer este fato básico e agir de acordo com ele:
Todas as pessoas desejam ser importantes.

10
Dirigindo da região de .São Francisco para as
montanhas, em minhas férias, parei num restaurante
de uma pequena cidade, para tomar café. Depois de
ter viajado uma hora, lembrei-me repentinamente
Que havia deixado meu casaco pendurado num cabi-
de da parede. Três semanas depois, voltando para
casa, parei no mesmo restaurante. Na verdade, espe-
rava nunca mais ver o meu casaco. Quando caminhei
para o balcão, para uma rápida xícara de café, olhei
para a parede. Lá estava meu casaco, pendurado
onde o havia deixado.
Quando a garçonete veio, para encher minha
xícara, sorriu e disse: "Lá está o seu casaco." Per-
plexo pelo fato de uma garçonete lembrar-se de uma
pessoa totalmente desconhecida depois de um espa-
ço de três semanas, congratulei-a por sua excelente
memória. Ela abriu um largo sorriso e disse: "Lem-
brei-me de você."
Toda vez que penso naquela cidade, lembro-me
daquela garçonete com o sorriso espontâneo e ami-
gável, e uma fantástica memória. Não tenho falta de
amigos. Particularmente não preciso ser lembrado
por uma garçonete do café de uma pequena cidade.
Mesmo assim ainda me lembro com prazer desse
acontecimento.

Necessidade de Reconhecimento
Cada um de nós anseia por reconhecimento. Todos
nós, desde o presidente dos Estados Unidos até o
terceiro auxiliar de zelador da Casa Branca, gostamos
de ser reconhecidos. Se você se lembrar disso, pode-
rá relacionar-se melhor com as pessoas.
Um meio importante de melhorar seu relaciona-
mento é tomar o propósito de gravar tanto os nomes
como as fisionomias. Isso exige um pouco de esfor-
ço, mas vale a pena, pois os nomes das pessoas são
importantes para elas. Vot:ê pode gravar os nomes se
os escrever e usar alguma forma de associação de
palavras para relembrá-Ios.

11
Quando encontrar uma pessoa pela primeira vez
certifique-se de que obteve o seu nome correto~
Repita-o algumas vezes durante a conversa e ao
despedir-se, ao invés de dizer: "Foi um prazer co-
nhecê-lo", diga: "Estou alegre por tê-lo conhecido,
Sr. Fulano." Não confie na memória. Escreva o
nome, se você espera encontrar a pessoa outra vez.
Em apenas alguns segundos pode escrevê-lo num
pedaço de papel. Se você o escrever e olhar para ele
outra vez, acabará por gravá-lo na memória.

o Bebê Recebe Amor Incondicional


Onde se origina nossa necessidade universal de
amor e atenção? Ela tem suas raízes na infância.
De modo geral, os bebês são amados incondicio-
nalmente. Não há necessidade de fazerem coisa
alguma, senão serem os lindos nenezinhos de seus
pais. Todos os carregam no colo, acariciam, falam-
lhes com voz meiga, os amam, adoram e fazem-lhes
as vontades.
Os bebês não precisam fazer coisa alguma para
merecerem esse amor. E privi légio deles serem ama-
dos e idolatrados, examinarem o mundo com um
olhar de admiração e apreciação, enquanto são
envolvidos por um abraço carinhoso.

O Centro do Universo
Naturalmente os bebês também crêem que são o
centro do Universo. Sem dúvida, durante toda a
infância eles são o centro das atenções. Eles choram,
e alguém vem correndo. Balbuciam algo, e as pes-
soas sorriem. Brincam com os dedos dos pés, e todos
correm à procura da máquina fotográfica. Todos os
admiram.
Este é o estado da "megalomania infantil", o senti-
mento que os bebês têm de que são todo-poderosos
- o que, em certo sentido, eles são durante o
período de completa dependência. Recebem aten-
ção exagerada, são aplacados, obtêm o que desejam.
Cada vontade que expressam é satisfeita.

12

L i. I L I ~ I •• 1 I .' I ,. 1..1. •.11. • I ~i


Mas que choque terrível quando a criança desco-
bre que esse estado eufórico não é permanente. Não
demora muito, e já se espera que elas aprendam a
andar, a falar e a usar o vaso sanitário ("Que peça
eles me pregaram com essa coisa!"). Cada dia surgem
novas exigências. Tão logo as crianças adquirem uma
habilidade, já têm que dominar outra. O mundo
também é cheio de "não faça" e transborda de "não
toque nisso!"
Que aconteceu com aquela época gloriosa quando
podiam fazer o que desejassem e nenhuma exigência
era feita? Antes eram constantemente adoradas.
Agora suas mãos recebem tapas quando se estendem
para tocar algo proibido. Ou então as pessoas as
olham com reprovação e gritam com elas. Que
mundo cheio de desapontamento é este! Elas são
atingidas por uma grande dose de realidade, e as
expectações e exigências não cessarão até que elas
cresçam.
I nevitavelmente, as crianças imaginam: "Por que
essa mudança repentina? Eu tinha o amor incondi-
cional e a adulação de papai e mamãe. De repente
tudo mudou. Eles me confundem com suas milhares
de expectações e proibições. Agora eles querem que
eu vá para o jardim de infância e depois para a
escola. Tenho que obedecer às pessoas e fazer coisas
que não quero. Eles interrompem minhas brinca-
deiras. Eu estava no Jardim do Eden, mas fui ex-
pulso."

Surge a Idade Adulta


Chega, então, o dia quando os jovens adultos se
formam na escola. Os país, que um dia os adoraram,
estão agora em algum lugar nas sombras do passado.
Os jovens adultos são empurrados para o palco da
vida sem terem qualquer chance de ensaiar seu
papel. Eles nem mesmo têm certeza do nome da
PQça ou c.omo ela irá se desenrolar; Será que serão
bem-sucedidos? Eles não o sabem. E um mundo as-
sustador, sem qualquer garantia. Depois de muito
tempo, estão vivendo por si só. Na adolescência

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almejaram a liberdade do controle dos pais. Agora
que a possuem, ela parece assustadora.
Essas crianças tornadas adultas anseiam pelos
Campos Elísios da infância - peja adoração e o amor
incondicionais, por serem supremamente importan-
tes para mamãe, papai e as demais pessoas. Mas tudo
isso está agora no passado. Agora têm que repre-
sentar seus papéis. Estão com medo - e às vezes
sentem-se solitários. Ocasionalmente sentem-se
deprimidos. _
Agora começa a busca pelo sucesso, felicidade e
realização, que vai durar por toda a vida. Esses alvos
foram apenas vagamente definidos para os jovens
.adultos e eles podem não ter uma visão muito clara
de como alcançá-los.
Parece que o sucesso se constitui em conseguir um
emprego, casar-se e formar uma família - ter dois
filhos, dois carros, um gato e um cachorro. Mas, no
processo de tentar conseguir esses supostos símbolos
de sucesso, as pessoas podem receber pouco amor
(elogio, reconhecimento e aprovação). Elas são to-
madas por uma vaga inquietação, para a qual não há
nome. Tornam-se cônscias, em momentos de silên-
cio, de um sentimento de perplexidade, e às vezes
são tomadas pela melancolia. Onde está toda a
alegria e felicidade que "eles" prometeram (Neles"
significam os livros, os filmes e os programas de TV)?
Se elas pararem demoradamente em sua estrada
ilusória para o sucesso, sentirão que alguma coisa
deve ter fal hado.
Assim, o grito silencioso se ergue: Ouçam-me,
apóiem-me, escutem-me, amem-me, toquem-me,
segurem-me, falem comigo. Quero sentir-me impor-
tante, quero significar alguma coisa.
Este é um desejo universal. Ninguém está livre
dele, embora ele possa ser negado e reprimido.

Três Tipos de Pessoas


O mundo parece conter três tipos básicos de seres
humanos: os perdedores, os aproveitadores e os
escol hedores.

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Os perdedores são os que, devido a uma mistura
infeliz de genes e meio ambiente, parecem incapazes
de conquistar algo neste mundo de apertos. Andam
tateando, infelizes, pela vida, cometendo erros que
levam ao desastre.
Os aproveitadores são os que usam outras pessoas
para alcançar seus próprios fins. Podem ser mani-
puladores afáveis e graciosos ou tiranos asquerosos e
exigentes.
Os escolhedores são as pessoas que estabelecem
seus próprios alvos na vida, traçam seu próprio
itinerário e têm tempo suficiente e energia de sobra
para estender a mão a outras pessoas, ao longo do
caminho. São ricamente recompensadas por isso,
pois multidões estão esperando, famintas, por essa
mão, esse toque, esse reconhecimento. Os escolhe-
dores não só alcançam seus alvos; eles carregam
outras pessoas consigo.

Jesus e as Relações Humanas ..


Jesus teve muito que dizer sobre o relacionamento
humano. Os capítulos 5, 6 e 7 de Mateus (e parte
do capítulo 6 de Lucas) contêm o Sermão do Monte,
que trata amplamente das relações e atitudes huma-
nas. Os psiquiatras Iarnes T. Fisher e lowell S.
Hawley escreveram:
Se você desejasse reunir a soma total de todos os artigos de
autoridade [â escritos pelos mais qualificados psicólogos e
psiquiatras sobre o assunto da história mental - se você
desejasse combiná-los e refiná-los, deixando fora os excessos
de verbosidade - se você desejasse... que esses trechos
autênticos de puro conhecimento científico fossem expressos
concisamente pelo mais capaz dos poetas vivos, teria um
resumo desajeitado e incompleto do Sermão do·Monte. 2

Observe quantos aspectos diferentes do relaciona-


mento humano Jesus aborda nesses três breves capí-
tulos. Estes são apenas alguns deles:
"Bem-aventurados os mísericordiosos, porque eles
alcançarão misericórdia."
"Bem-aventurados os pacificadores, porque eles
serão chamados filhos de Deus."

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"Ouvístes que foi dito aos antigos. Não matarás;
e, quem matar será réu de juízo. Eu, porém, vos digo
que todo aquele que se encolerizar contra seu
irmão, será réu de juízo; e quem disser a seu irmão:
Raca, será réu diante do sinédrio; e quem lhe disser:
Tolo, será réu do fogo do inferno. Portanto, se
estiveres apresentando a tua oferta no altar, e aí te
lembrar de que teu irmão tem alguma coisa contra
ti, deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai
reconciliar-te primeiro com teu irmão, e depois vem
apresentar a tua oferta."
"Concilia-te depressa com o teu adversário, en-
quanto estás no caminho com ele ... "
"0u vistes que foi dito: Olho por olho, e dente por ..
dente. Eu, porém, vos digo que não resistais ao
h omemmau ... "
"Ouvistes que foi dito: Amarás ao teu próximo, e
odiarás ao teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai
aos vossos inimigos, e orai pelos Que vos perse-
guem ... porque ele (Deus) faz nascer o seu sol sobre
maus e bons, e faz chover sobre Justos e injustos."
UMas, quando tu deres esmolas, não saiba a tua
mão esquerda o Que faz a direita ... "
"Não julgueis, para que não sejais julgados. Por-
que com o juízo com que julgais, sereis julgados; e
com a medida com que medis vos medirão a vós."
"Portanto. tudo o que vós quereis que os homens
vos façam, fazei-Iho também vós a eles; porque esta
é a lei e os profetas."3
Há muito mais nestes princípios inigualáveis que
Jesus enunciou. O Sermão do Monte não deve ser
meramente lido como matéria devocional; destina-se
a ser aplicado na vida diária.
Temos visto que há um anseio universal por ser
aceito, aprovado e amado. Jesus confirma o princí-
pio de que manifestar boa vontade para com as
pessoas resulta em melhor relacionamento. A conclu-
são óbvia é que seremos pessoas mais felizes, mais
realizadas, à proporção que dermos apoio às pessoas
e dernoristrarrnos agape, amor. Vejamos alguns pas-

16

I ~ li! I L ,'I I JI ,I I J I L;, al.1 ,.1,. ;,&. •.11 .1., li


sos práticos que podemos dar para conseguirmos
tudo isso.

A Maioria das Pessoas Não Tem Dignidade Própria


Pelo fato de poucas pessoas terem um senso bem
desenvolvido de dignidade própria, é importante
apoiá-Ias através de elogio e reconhecimento sin-
ceros. Certa manhã descobri, há alguns anos atrás,
como tantas pessoas têm pouca dignidade própria.
Era uma li nda manhã, fresca e clara, depois de um
longo período de chuva e neblina. Cada pessoa que
encontrei estava radiante. "Que bela manhã!" era a
saudação comum.
"Sim" - eu respondia - "e imagine, nós mere-
cemos isso!"
Esse comentário era recebido, sem exceção, com
um si lêncio enigmático e pensativo. Todos pareciam
duvidar de que realmente merecessem a beleza
daquela agradável manhã.
A maioria de nós tem alguma falta de dignidade
própria. Portanto, nem sempre achamos que mere-
cemos coisas boas. Nosso senso de dignidade pró- ~
pria, ou a falta dele, é adquirido na infância. Se 1
nossos pais não nos elogiaram e apoiaram de modo I
apropriado, e nos criticaram muito, crescemos sen- i
tindo-nos vagamente indignos. Os padrões que fo-
ram colocados muito alto, ou muito cedo, geraram o
sentimento: "Eu não estou à altura. Eu não sou
suficientemente bom."
A prova disso está na dificuldade que muitas
pessoas têm-de receber cumprimentos. Com o tem-
P9,-_ elas aprendem simplesmente a dizer: "Muito
obrigado." Mas a maioria das pessoas me diz que,
embora responda apropriadamente, é-lhe difícil crer
que o cumprimento seja sincero ou merecido.

Fazendo Elogio Sincero


Os elogios são sempre apreciados. E\og\e Quand?
alguém o merecer. Não espere por algo extraordi-
nário. Ao invés de esperar ocasiões para receber

17
elogios, fique à espera de oportunidades para ofere-
cê-Ias:
"Que I indo o seu vestido novo!"
"Gostei desse seu terno novo!"
"Achei interessante o seu novo penteado."
"Você precisa dar-me a receita disso. Está deli-
cioso!"
"Você fez um bom trabalho."

Dê Apoio às Pessoas
Num seminário de treinamento que eu estava lide-
rando, um homem se destacou de maneira significa-
tiva. Ele sempre procurava dar apoio às pessoas de.
um modo afetuoso e amigável. Na conclusão do
seminário, eu lhe disse:
- O senhor é uma das pessoas mais incentiva-
doras que já conheci. O senhor apreciou as pessoas
pelos comentários que fizeram, pela maneira como
comparti lharam e por sua própria maneira de ser.
Ele sorriu, agradecido:
- Obrigado. É que eu amo as pessoas.
Busque oportunidades para expressar apreciação
às pessoas por quem elas são e por aquilo que são.
Pare de esperar elogios; ofereça-os! "Dai, e ser-vos-á
dado."
Iohn Steinbeck fala de um senhor idoso que uma
tarde trouxe para casa uma grande viola baixo. Sua
esposa perguntou:
- Que é que você vai fazer com essa coisa?
- Vou tocá-Ia - ele respondeu.
- Você não sabe tocar instrumento algum! - ela
retrucou.
Toda noite ele gastava mais ou menos uma hora
com o dedo em uma corda, movimentando o arco
para a frente e para trás, produzindo uma única nota.
Dia após dia ele tocava aquele único som dolente.
Finalmente sua esposa disse:
- Sabe, querido, eu acho que as pessoas que
tocam esse instrumento movimentam os dedos de
um lado para outro nas cordas.

18
- Claro - ele replicou com desdém. - É que elas
• estão procurando o lugar. Eu jáo achei. .
Quando você soa a nota da apreciação e do
incentivo, você já achou a chave para um relaciona-
mento amplamente melhorado.
Ocasionalmente, as pessoas argumentam que se
sentem insinceras quando elogiam com muita fre-
qüência. Isto se deve à falta de prática. Qualquer um
que executa uma nova tarefa sente-se desajeitado de
início. Mas existe o importante antídoto contra este
sentimento: Nunca é hipocrisia dizer ou fazer o que é
apropriado. Com a prática, você começará a sentir-se
à vontade em fazer um elogio bem merecido ou
demonstrar reconhecimento às pessoas.

Todos Necessitam de Elogios


Algumas pessoas acham que muito elogio estraga
as crianças, tornando-as vaidosas. Mas, para cada
criança estragada por causa de muito elogio, dez mil
são arruinadas pela falta dele. Om pai ou mãe típicos
fazem dez ou vinte críticas para cada palavra de
elogio. A proporção deveria ser invertida.
A mesma coisa se aplica aos adultos. As pessoas
que não aceitam a si mesmas ou que realmente não
gostam de si mesmas acham difícil fazer elogios.
Certa feita uma senhora me disse que seu esposo
raramente ou nunca dirigia uma palavra de elogio
aos filhos ou a ela. Quando lhe perguntou por que
ele nunca elogiava qualquer pessoa da família, ele
disse: "Cada um tem o dever de agir corretamente
sem Que haja necessidade de receber um tapinha
nas costas por causa disso; mas quando alguém fizer
algo errado, vai ouvir de mim alguma coisa."
Os filhos tinham medo dele e se dispersavam, para
fugir dele, quando ele chegava do trabalho. A esposa
o aturava "por causa das crianças", mas acrescentou:
"A única contribuição que ele faz é trazer para casa o
pagamento. Se não fosse isso, eu me divorciaria
dele. "
Pessoas assim foram prejudicadas na infância e
parecem incapazes de funcionar como pais normais.

19
Cinco Princípios Básicos
Aqui estão cinco princípios importantes, que seria
bom memorizar:
1. Proporcione satisfação, e você acrescentará à
sua vida uma nova dimensão importante.
2. As pessoas gostam de quem gosta delas.
3. As pessoas gostam de quem as incentiva.
4. As pessoas sentem atração pelas personalida-
des positivas e incentivadoras.
S. As pessoas gostam de quem é capaz de gostar.
Houve uma séria crise nos negócios, e meu amigo
Mel estava preocupado; Havia um comentário de
que alguns executivos mais novos poderiam perder o
emprego. Acontecia que Mel era gerente de crédito
e trabalhava numa posição imediatamente abaixo do
tesoureiro da companhia, um homem que estava
perto de se aposentar.
Mel explicou-me: 1/0 tesoureiro vai se aposentar
dentro de dois ou três anos, e seria mais lógico que
ele fosse mandado embora. Mas ele possui muitas
ações da companhia, e este é um fator importante.
Ou eu vou para o lugar dele, ou perderei o meu
próprio.
Não me agradava pensar que Mel ficasse desem-
pregado, pois os empregos estavam raros na época.
Mel era uma das pessoas mais simpáticas e amá-
veis que já conheci. Ele sentia imensa satisfação em
fazer os outros felizes. Distribuía caixas de balas com
o pessoal do escritório quase que regularmente.
Sempre tinha uma palavra amiga para todos, desde o
office-boy até o diretor. Procurava não dar impor-
tância demasiada aos elogios que recebia, mas ofe-
recia-os generosamente, com verdadeira sinceridade.
Um dia Mel me procurou muito aliviado. A direto-
ria havia passado a tarde inteira discutindo sobre
qual dos dois empregados deveria ser despedido.
Finalmente, um membro da diretoria disse: "Olhem,
temos mastigado demais este assunto. É muito sim-
ples. De fato, o tesoureiro é dono de muitas ações.
E daí? Ninguém gosta dele. Todos gostam do Mel.
Eu proponho que o velho seja despedido e Mel seja o

20

,j 111 I I ,111 ,'"


tesoureiro." A votação foi unânime. E através dos
anos Mel continuou trabalhando em posição de des-
taque naquela corporação. O fator decisivo foi que
as pessoas gostavam dele.
Mel morreu há alguns anos. Seria próprio dele
estar em algum lugar do céu, ainda fazendo as
pessoas se sentirem melhor, colocando o braço ao
redor delas e expressando grandes quantidades de
amor e incentivo.
A fórmula é extremamente simples: Se as pessoas
gostam de você, quando outros fatores forem iguais,
você será escolhido. Se você concede satisfação às
pessoas, receberá de volta mais do que deu. O
princípio da satisfação é sempre muito importante.
Há alguns anos atrás, numa experiência de labo-
ratório, alguns eletrodos foram implantados nocen-
tro do prazer do cérebro de um rato. Pressionando
uma alavanca, o rato podia ativar o centro do prazer
e receber uma poderosa "carga de prazer". Depois de
aprender a pressionar a alavanca, ele passou a fazê-
lo continuadamente - sem parar para comer ou
beber. Ele continuou empurrando a alavanca, obten-
do um total de mais de oito mil cargas de êxtase, até
que caiu exausto!
Tem sido sugerido que as pessoas pagariam qual-
quer preço por esse aparelho. A única dificuldade
é que todo trabalho cessaria enquanto estivéssemos
apertando o botão da satisfação. (Falando secreta-
mente, penso que gostaria de tentar pelo menos uma
vez.)

Proporcione Satisfação
Uma saudação afetuosa, uma palavra apropriada
de elogio ou reconhecimento pode proporcionar
prazer e fazer uma pessoa sentir-se bem o dia inteiro.
A maioria das pessoas espera por isso, escondendo-se
nas sombras da vida até que alguém feliz, extrover-
tido, aprox\mQ-~Q \lata. oferecer algum amor. Mas 1
I
Jesus disse, com efeito: "Não, não! Estão fazendo "

tudo ao contrário. Se vocês derem, alguém dará de


volta a vocês em boa medida. As pessoas derrama..

21
rão coisas boas na vida de vocês até que não haja
mais lugar para recebê-Ias."
Uma das companhias que mais cresce na América
do Norte tem este slogan: "Encontre uma necessida-
de e preencha-a." Nas relações humanas o mesmo
princípio é válido: encontre uma necessidade huma-
na e preencha-a.
Sigmund Freud admitiu que o instinto sexual seja o
mais forte dos impulsos humanos. Alfred Adler dis-
cordou dele. Insistiu que a necessidade mais profun-
da seja o impulso de ser importante - a necessidade
de ser notado, de vencer o sentimento de inferiori-
dade e inutilidade.
A controvérsia ainda continua. Talvez os dois
impulsos sejam idênticos em força. O importante é
que ambos são poderosos. Se você pode ajudar uma
pessoa a vencer seus sentimentos de inferioridade
e auto-rejeição, se torna muito importante para essa
pessoa, pelo fato de ter-lhe concedido prazer.

Você Pode Ser Bem--Sucedido


Você pode ser um sucesso! Não desaprovo de
forma alguma a fama ou o sucesso financeiro, mas
estas são evidências relativamente pequenas de
sucesso. Uma pessoa realmente bem-sucedida é a
Que se tornou amorosa, incentivadora, que traz
fel icidade aos outros.
lembro-me de uma mulher que foi professora
durante muitos anos. Depois de se aposentar, se
ocupou em atividades "da igreja e da comunidade.
Ela simplesmente irradiava boa vontade. Nunca
aconteceu de encontrá-Ia e não sentir-me melhor,
pois ela incentivava a todos de modo tão sincero,
que era um prazer estar perto dela. Não criticava.
Para ela. a vida era muito curta para focalizar as
fraquezas das pessoas. Ela se concentrava nas boas
qualidades. Era uma pessoa comum com a capaci-
dade incomum de fazer 5=0m que todos se sentissem
bem consigo mesmos. E claro que ela era grande-
~ente admirada e amada por todos que a conhe-
ciam.

22
Uma jovem senhora, muito inibida, que tinha
dificuldade em falar com as pessoas pessoalmente,
resolveu escrever bilhetes de apreciação. Recebi um
deles. Dizia simplesmente: "Obrigada por ser você
mesmo. Eu o aprecio realmente. Afetuosamente,
------------_. 11

Emum número de nosso jornalzinho Yokefellows,


afirmei que desejaria que a boa vontade que existe
no Natal pudesse ser espalhada pelos doze meses do
ano e que, ao invés de receber um grande número de
cartões de Natal, eu apreciaria um bilhete em julho,
por exemplo, dizendo: "Eu o amo." Um pastor, amigo
meu, que estava em nossa lista de correspondência,
enviou-me um bilhete escrito a mão, no verão se-
guinte, dizendo: "Pode ser que eu não lhe envie um
cartão de Natal, mas neste verão desejo apenas que
você saiba que o aprecio muito." Senti um bem-estar
o dia inteiro.

Dois Sozinhos na Catedral


Certa vez fiquei metade de um dia na cidade de
Nova York, aguardando a hora de o avião partir.
Caminhei de meu hotel, dando a volta no quarteirão,
até a Igreja de São Bartolomeu, uma magnífica'
catedral episcopal. Não havia ninguém lá dentro, a
não ser um rapaz de cor, que estava sentado mais ou
menos na extremidade da sexta fileira de bancos, a
contar de trás para a frente. Sentei-me algumas filas
de bancos atrás dele, para um período de meditação.
Nós dois estávamos sozinhos naquele vasto santuá-
rio, construído para mil pessoas ou mais. Foi bom
apenas "descansar no Senhor" durante uma hora.
Comecei a sentir-me calmo e sintonizado com ele.
Finalmente o rapaz levantou-se para sair. Eu tam-
bém estava sentado na extremidade de meu banco,
e quando ele chegou perto, instintivamente estendi-
lhe a mão. Ele, também, instintivamente, segurou-a.
Sem parar sua caminhada, ele apertou minha mão e
eu a sua. Por um rápido momento, naquele aperto
.de mão firme, não éramos preto e branco, jovem ou
velho. Eramos um, num sentido indefinível e mís-

23
tico. Por um momento construímos uma ponte sobre
O abismo de nossa separação. Senti que, mesmo
sendo estranhos, nós nos amávamos um ao outro e
queríamos bem um ao outro. Senti que éramos um
em Cristo.
Permaneci na catedral por mais alguns minutos.
Quando me levantei, para sair, senti uma decisão
calma, um novo propósito, um levantar suave de um
fardo indescritível. Algo não planejado havia sido
planejado por si só e estava trabalhando dentro de
mim, sem que eu o dirigisse. A fração de segundo de
contato com a mão do jovem negro foi o clímax
daquela significativa meia hora de meditação.
A vida oferece muitos momentos assim - rápidas
oportunidades de alcançar as pessoas com uma
palavra, um gesto, um toque. Arrependo-me profun-
damente de momentos como esse que não aprovei-
tei. Lá estava aquela anciã na lanchonete, solitária,
de olhos tristes, debruçada sobre uma xícara de café,
observando o mundo com olhar vazio. Passei por ela
sem dar uma palavra, e arrependi-me depois que saí.
E aquele jovem assustado, tendo no olhar uma
mistura de medo, ansiedade e ira para com ninguém
em particular. Por que não aproveitei a oportunidade
para alcançá-lo com uma palavra ou um gesto?
Quando faço isso, alegro-me. Quando deixo de
fazê-lo, sinto-me diminuído e triste, por causa da
oportunidade perdida.
Toda pessoa está sofrendo sob algum tipo de
fardo. Quando você alcança essas pessoas com en-
tendimento, consideração e amor, é o mais rica-
mente recompensado. Vale a pena repetir as palavras
do Grande Doador, o Redentor do mundo: "Dai, e
ser-vos-á dado."

24

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• • •
2
\$11 I I !li I I!I I ' liIllllllilllllllllll:

Comunicação: Corno Você Diz


as Coisas
Há um modo de ouvir que sobrepuja todos os elogios. -
Joseph voa Llgné

Um monge estava caminhando no jardim do mos-


teiro durante um período de meditação. Encontrou
outro monge, que estava fumando enquanto cami-
nhava vagarosamente pelo pátio.
- Você obteve permissão para fumar durante a
meditação? - perguntou o primeiro monge.
- Sim, obtive.
- Mas eu perguntei se poderia fumar durante a
meditação, e não me permitiram.
- Você não se expressou apropriadamente. Você
perguntou se poderia fumar durante a meditação.
Eu perguntei se poderia meditar enquanto estivesse
a fumar. '
A maneira como você diz as coisas é tão impor-
tante quanto o que diz - às vezes, mais.

Usar de Inteira Franqueza Pode Ser Desastroso


As pessoas que se orgulham de serem inteiramente
tranças,de sempre dizerem exatamente o que pen-
sam, descobrem, mais cedo ou mais tarde. que isto
prejudica os relacionamentos. Há ocasiões para uma
atitude franca, sem rodeios, quando a verdade pura
tem Que ser expressa. De modo geral, no entanto, o

25
bom relacionamento com outras pessoas requer uma
atitude mais cuidadosa.
Às vezes o esforço para fazer e dizer o que é
apropriado resulta em fracasso.
Conta-se a história de um estudante de segundo
grau que ia sair pela primeira vez com a namorada
para um baile na escola. Sua mãe estava tentando
ajudá-lo a vencer o nervosismo, antes de ele sair de
casa. Então disse:
- João, tanto você como a menina poderão estar
um pouco nervosos nesta primeira vez que vão saír
sozinhos. Procure descontraí-Ia.
- Como posso conseguir isso, mamãe?
- Faça-lhe algum elogio. Isto sempre é apropria-
do. Vai aliviar a tensão e fazê-Ia sentir-se bem.
Após o baile, quando trazia a menina de volta no
carro, João percebeu, de repente, que não se lem-
brara de elogiá-Ia. Começou a rebuscar na mente
alguma coisa bonita para dizer. Finalmente saiu-se
com esta: "Certrudes. você não sua muito, apesar
de ser tão gorda. "
Boa tentativa, porém qual não foi o resultado.
Há uma sala de café em nosso Centro de Aconse-
lhamento de Burlingame, onde o pessoal do escri-
tório se reúne durante os intervalos para cafezinho
ou na hora do almoço.' Os clientes também usam a
sala. Constantemente deixam sobre a mesa xícaras
por lavar e cinzeiros com pontas de cigarros até o
meio. Foram afixados avisos, pedindo aos que usa-
vam a sala que esvaziassem seu cinzeiro e deposi-
tassem as xícaras e pratos sujos na pia, porém eram
ignorados. Então avisos maiores foram colocados,
mas também sem resultado.
Por fim pusemos um aviso que dizia: "Devido à
inflação, cada xícara de café custará um dólar. No
entanto, você não terá que pagar se lavar sua xícara e
colocá-Ia na bandeja, esvaziar seu cinzeiro no recep-
táculo que existe para esse fim e limpar sua sujeira
mais a de qualquer predecessor que tiver esquecido
de fazê-lo. Assinado, Comissão de Limpeza e Boa
Aparência, Oposta à Sujeira e Desarrumação."

26
o pessoal do escritório e _os visitantes o levaram a
sério, apesar do fraseado jocoso. Eas coisas melhora-
ram consideravelmente.
Pisque Três Vezes
Um homem que estava vindo consultar-se comigo,
num esforço para resolver um sério problema con-
jugai, admitiu que tinha dificuldade em controlar o
gênio. Ele era um perfeccionista, um disciplinador
duro para com os filhos, e freqüentemente perdia o
controle para com a esposa. O relacionamento fami--
liar estava em situação crítica.
Nada que sugeri fez qualquer diferença na conduta
desse homem. -
Finalmente eu disse-lhe: "Quero que você nunca
diga uma palavra a qualquer membro de sua famllia
sem que tenha piscado os olhos três vezes. Isso lhe
dará tempo para reformular aquilo que vai dizer.
Depois, expresse seu pensamento com o mesmo
cuidado que você teria se estivesse se dirigindo a
uma pessoa totalmente estranha pela primeira vez,
alguém que você pudesse não vir mais a encontrar.
Sua família deseja pelo menos a mesma consideração
que você dispensaria a um estranho."
Semana após semana ele me relatava que tentava,
mas simplesmente não conseguia pôr em prática o
meu conselho. A irritação e a ira vinham à tona antes
que ele pudesse lembrar-se da fórmula.
Então eu lhe disse: JlS e você não o conseguir, creio
que sua esposa irá divorciar-se de você." Um mês
depois, ela fez isso. Ele havia tentado, mas não o
suficiente.
Numa entrevista, sua esposa me havia dito que
amava o marido, mas simplesmente não podia
agüentar mais as suas explosões de raiva. Ele jamais
acreditara que ela iria cumprir a ameaça de pedir o
divórcio. Ficou arrasado quando isto aconteceu.

Hora de Pedir Desculpas


Certa vez vendi um carro a um amigo. Na hora de
levar o carro, ele disse que me pagaria dentro de

27
trinta dias. Alguns meses se passaram sem que eu
tivesse notícias dele. Nesse meio tempo, mudei para
outra cidade. .
Depois de uns seis meses, soube que ele havia
trocado o carro por um novo. Fiquei bastante irrita-
do, particularmente porque estava com pouco di-
nheiro naquela ocasião.-Es-crevi-Ihe uma carta um
tanto áspera, pedindo, em nome da decência co-
mum, que ele me pagasse o carro que havia vendido,
se não de uma vez, pelo menos em pequenos paga-
mentos mensais. Não houve resposta.
Algumas semanas se passaram, e fiquei envergo-
nhado da atitude brusca e peremptória que havia
tomado. Sentei-me e escrevi para o amigo um pedido
sincero de desculpas. Disse-lhe que minha ofensa
tinha sido maior que aquela de que eu o acusara, e
que ele poderia pagar-me quando lhe fosse conve-
niente.
Em resposta, recebi um cheque correspondente à
quantia total que ele me devia, junto com seu pedido
de desculpas.
Não ofereço este exemplo como urna fórmula para
fazer com que os caloteiros paguern seus débitos.
Sempre há uma possibilidade de que você não receba
o seu dinheiro sem dificuldade ou que não o receba
de modo algum. Meu único propósito, ao escrever a
segunda carta, foi limpar minha própria consciência
da culpa que senti por ter perdido o controle. Minha
causa foi justa, porém minha hostilidade, inade-
quada.

Hora de Franqueza Completa?


Até onde devemos ser sinceros ou francos? Deve-
mos dizer sempre toda a verdade? Certa vez Jesus
disse aos doze: "Ainda tenho muito que vos dizer;
mas vós não o podeis suportar agora. "2 Os discípulos
teriam ficado confusos se ele tivesse revelado verda-
des que naquele momento estavam além da com-
preensão deles.
Obviamente, há ocasiões de ficar-se calado - de
não se dizer coisa alguma - como quando Jesus

28

1;.1, L L~ .11 I L 'I L :i ·i I I J I il, "'1.1, I .,1; .lI .• II


estava diante de Pilatos, e este lhe perguntou: "Não
respondes nada? Vê quantas acusações te fazem."3
Porém Jesus nada disse, para admiração de Pilatos.
Quanto deve alguém confessar? Keith Miller tratou
deste assunto com elogiável propriedade em sua
coluna regular da revista Faith At Work (Fé em
Ação). Ele transcreve uma carta de uma correspon-
dente:
Prezado Keith: Estou com um sério problema. Há algum
tempo ouvi-o falar sobre sinceridade ou franqueza e concluí
que tenho sido fingida a vida inteira. Então decidi mudar minha
maneira de ser e comecei a confessar a todos exatamente o
que sinto a respeito deles e da vida. Meu esposo ficou horrori-
zado com algumas atitudes passadas que confessei, e, em
conseqüência, não estamos falando um com o outro. Passei a
dizer a verdade, mas tudo está-se desmoronando. Por favor,
envie-me sugestões via aérea.
Keith Miller respondeu assim:
Não sei o que a senhora me ouviu dizer sobre sinceridade ou
franqueza, mas deixe-me explicar o que pretendi dizer. Em
primeiro lugar, a confissão de pecados antigos pode ser saudá-
vel e não causar mal a ninguém. No entanto, há meios através
de que uma confissão irrefletida pode tornar-se muito destru-
tiva para um relacionamento. Quase sempre falo contra o tipo
compulsivo de confissão. E como vomitar sobre alguém. Pode
fazer aquele que se confessar sentir-se bem, mas não ajuda
muito àquele que o ouve.
Há alguns anos falei sobre a falta de sinceridade ou fran-
queza em minha própria vida, numa reunião com um grupo da
igreja. Após a reunião, um senhor idoso aproximou-se e disse-
me muito pensativo:
- O senhor falou diretamente para mim. Tenho sido insin-
cero e desleal durante anos, e vou mudar.
Ele parecia estar profundamente comovido com a sua deci-
são. Cerca de um mês depois, recebi um telefonema interurba-
no. Depois que a telefonista me identificou, ouvi duas palavras
agressivas vindas do outro lado da linha:
- Seu isso e aquilo!
Fiqueí.rnudo por uns instantes. Em seguida, perguntei:
- Quem esta falando?
Era o homem da reunião. Ele tinha voltado para casa e con-
fessado à sua esposa, entre outras coisas, que havia adulterado
várias vezes através dos anos. Era algo de que ela jamais sus-
peitara.
- Agora - disse a voz - ela estã sob os cuidados de um
psiquiatra, num hospital para doentes mentais. Você tem mais
alguma sugestão sobre sinceridade ou franqueza na vida cristã,
Keith?

29
Como resultado daquela reunião, concluí, de um modo que
jamais esquecerei, que a sinceridade não é o maior valor na vida
cristã e que, na verdade, a "frariquez.a" pode ser algo muito
egoísta, ou mesmo um modo de surrar as pessoas,. sob o
pretexto de se ser um bom crente. Os valores mais elevados são
o amor e o cuidado e uma pessoa pode ter de confessar
algumas coisas a Deus, perante seu pastor ou um irmão
achegado, ... mas não deve fazê-lo ao seu cônjuge, para não
destruir seu relacionamento. Os Alcoólicos Anônimos têm um
plano maravilhoso no sentido de que a pessoa confesse seus
pecados a uma terceira pessoa em que confie, e não àquela a
quem ofendeu, e que faça restituição à pessoa ofendida, exceto
quando a restituição possa ofender essa pessoa ou mais alguém.
Assim, apesar de ter experimentado o valor terapêutico da
confissão perante um amigo crente de confiança e apesar de
crer nisso, procuro ser cuidadoso, para não ferir outras pessoas,
apenas para desabafar o que está dentro do peito, e mesmo
seguindo esta regra, tenho cometido uma grande quantidade
de erros dolorosos. 4

Até Que Ponto Devemos Ser Francos?


A gerência de uma fábrica de tamanho médio
decidiu instituir um plano de seguro, em que o
empregador e os empregados dividiriam o custo
igualmente. O plano exigia 100 por-cento de parti-
cipação. Porém um homem rejeitou a proposta. Seu
chefe argumentou com ele, mas nada conseguiu.
O vice-diretor entrevistou o homem, e explicou
as vantagens do plano.
"Não creio em seguros", ele protestou. "Confio em
Deus, que vai cuidar de mim. O seguro demonstra
falta de fé."
Eventualmente, o diretor da firma pediu que o
homem fosse ao escritório central.
- Smithers - o diretor começou - vejo que o
senhor se obstina a não entrar neste plano de seguro.
Ou o assina, ou será despedido. Escolha.
- Está bem, senhor. Estou pronto a obedecer.
Onde devo assinar?
O diretor ficou abismado.
- O senhor fez pé firme neste assunto por vários
dias. Seu chefe e meu vice-diretor argumentaram
com o senhor, e ainda se recusou. O que o fez mudar
de idéia? - perguntou.

30

lU , I ·111 "., ,1111 ,I" ,. ,11 < I "~.


~ Bem, senhor - respondeu o empregado -
ninguém mo explicou de modo tão claroantes.
Sim, há tempo para firmeza, bem como para tato
e diplomacia. Há duas coisas que podem guiá-lo: o
princípio do cuidado amoroso e o princípio do que é
apropriado. As vezes só a experiência ou o conselho
sábio. pode ajudá-lo a decidir o Que convém.
Marie Curling narra um exemplo de excelente tato:
Jamie candidatou-se a uma parte ria peça teatral da escola.
Sua mãe disse-me que ele estava certo que entraria na peça,
porém ela temia que não seria escolhido. No dia em que as
partes foram escolhidas, fui com ela para apanhá-lo na escola.
Jamie correu para nós e seus olhos brilhavam de orgulho e
entusiasmo. Então ele disse:
- Fui escolhido para bater palmas e aplaudir. 5

Falar Demais
Sydney J. Harris escreve:
Certa noite encontrei uma mulher atraente e inteligente, cujo
único defeito era ser intoleráveL Ela queria ser estimada e
apreciada depressa demais. Co isso, pode-se dizer que "quei-
mau toda a carga, como um oguete de artifício", entre a sopa
e a sobremesa.
Um dos defeitos mais racterísticos de tais pessoas é sua
desesperada necessidade e impressionar. No entanto, as pes-
soas precisam ser desembrulhadas vagarosa e deliciosamente.
Aqueles que rebentam sua própria fita e rasgam o próprio papel
que os embrulha perdem a apreciação que estão tentando
conquistar .6

o princípio aqui é: Não tente com demasiado


empenho ganhar aceitação.

"Seguindo a Verdade em Amor"


O Novo Testamento emprega a linda frase: "se-
guindo a verdade em amor."? Precisamos pô-lo em
prática, quer "funcione", quer não. Isto é, mesmo que
a resposta seja negativa, é sempre correto aplicar o
princípio do amor em qualquer forma de comuni-
cação. .
A esposa que diz ao esposo: "Acho tão estúpido de
sua parte ficar noite após noite e todo fim de semana
assistindo aos programas esportivos e às asneiras dos
filmes de polícia e ladrão" não pode' esperar uma

31
resposta bondosa. Ela poderia obter uma resposta
melhor se dissesse: uQuerido, sinto falta de que você
converse comigo à noite e nos fins de semana. Eu
adoro quando fazemos alguma coisa juntos. Por que
não planejamos sair neste fim de semana?"
"Voçê nunca me leva para passear" ou "Você
sempre exige que eu o acompanhe" são frases que
melhor seria que fossem eliminadas. São palavras
bombásticas e se prestam mais para provocar uma
resposta rancorosa ou um silêncio mal-humorado do
Que um diálogo frutífero.
O esposo que critica a esposa por causa da comi-
da, penteado, arrumação da casa - ou qualquer
outra coisa - não a encontrará -tão afetuosa como
seria o caso se ocasionalmente lhe dirigisse alguns
elogios. A crítica é quase sempre destrutiva.

A Falta de Tato Pode Ser Destrutiva


Um diplomata americano, que trabalhou em vários
projetos com Madame Nhu, esposa do ex-presidente
do Vietnã do Sul, escreveu sobre um defeito fatal na
personalidade dela. Embora demonstrasse compai-
xão genuína pelo povo de seu país e trabalhasse
diligentemente para melhorar sua sorte, ela apresen-
tava uma completa falta de tato. Fez pronuncia-
mentos agressivos e violentos, que, anos depois,
contribuíram para derrubar seu marido, seu irmão e
ela mesma. Há mais pessoas que falham na vida por
causa de falta de tato do que por falta de capacidade.
As vezes os pais tratam seus filhos e filhas adultos
como se fossem crianças de dez anos. Um homem de
negócios bem-sucedido na faixa dos quarenta anos
contou-me que, quando foi visitar seu pai, depois de
alguns meses sem vê-lo, as primeiras palavras do pai
foram: "Seu cabelo está muito comprido. Você pre-
cisa cortá-lo!" Isto criou uma atmosfera de frieza,
que prejudicou a visita.
Na terapia de Integração PrimaI, fazemos os clien-
tes regredirem a várias idades, para reviverem expe-
riências traumáticas da infância. E comum a pessoa

32

.i ,111 i, I 11 I I "." ,I, I, I . I III " ,1111 "I,' i+ '11 >I ".
ter novamente a experiência de ouvir as repreensões
dos pais, repetidas seguidamente.
Um homem ficou ouvindo sua mãe pronunciar
estas frases: "Não sei o que vai ser de você" ; "As
vezes fico pensando por que fui ter você"; "Você s6
vai dar para o que não presta"; "Deus não o ama
quando você se comporta mal"; "Que é que vou
fazer com você?" e muitas outras frases deprecia-
tivas semelhantes.
Nenhum pai ou mãe jamais pretende que esses
julgamentos destrutivos sejam retidos na mente da
criança e abrigados profundamente no inconsciente.
No entanto, sabemos que nada jamais é totalmente
esquecido. Aquilo que os pais incutem, tanto de
positivo quanto de negativo, torna-se uma parte e
parcela da personalidade da criança.

A Sabedoria Antiga
Aristóteles exortou seus companheiros atenienses
que fossem "misericordiosos para com as fraquezas
da natureza humana; que não considerassem as
ações do acusado tanto quanto suas intenções, nem
este ou aquele detalhe tanto quanto a história intei-
ra; que não perguntassem o que um homem é agora,
mas o que sempre ou geralmente tem sido... que
fossem pacientes quando ofendidos; que resolves-
sem uma disputa pelo diálogo, e não pela força".

Manipulador? ou Apenas Prático?


Um grupo de pais e mães que moravam ao lado de
uma rodovia estava alarmado com a imperícia e a
alta velocidade dos motoristas. Os apelos que fize-
ram às autoridades municipais e à polícia de nada
adiantaram. Finalmente, após uma reunião dos pais e
mães preocupados com o assunto, um aviso foi colo-
cado em dois cruzamentos próximos-: "Reduza a
Velocidade Para a Travessia de Nudistas." A veloci-
dade diminuiu a tal ponto que o tráfego quase parou.
A maneira como se expressa alguma coisa é muito
importante. Um amigo meu, que trabalhava- em

33
importação de velas, descobriu que um tipo caro
estava mudando freqüentemente a cor, de um doura-
do agradável para um verde desbotado. Ele recebeu
algumas reclamações, e começou a colocar uma
pequena faixa de papel impressa em cada vela. A
faixa dizia: /I Alguns de nossos fregueses estão dizen-
do que suas velas, com o tempo, estão mudando sua
cor para um verde antigo agradável. Enquanto não
podemos garantir que isso vai acontecer com a sua,
apenas esperamos que você aprecie, se acontecer."
Os puristas podem criticar a ética envolvida nisso,
mas o princípio permanece válido: A maneira como
você diz as coisas é sumamente importante.

Coloquem Espelhos

Donald J. White, editor financeiro da San Fran-


cisco Chronicle, escreveu sobre um arquiteto que
projetou um edifício de cinqüenta andares com
poucos elevadores. Os usuários estavam insatisfei-
tos. Eles tinham que andar para lá e para cá pelos
corredores de mármore do novo edifício, esperando
que os elevadores chegassem, para levá-los aos seus
escritórios.
O edifício começou a ter má reputação. Os prin-
cipais inquilinos ameaçaram mudar-se, visto que seu
investimento de milhões de dólares estava sendo
levado água abaixo só porque não havia número
suficiente de elevadores.
Chamaram um psicólogo, que se especializou em
pesquisa motivacional. O psicólogo sabia a resposta
desde o momento em que ouviu o problema, mas
esperou dois meses para apresentar a solução. Isto
fez com que sua pesquisa custasse 7.500 dólares.
"'Coloquem espelhos", disse ele aos proprietários.
As pessoas estão mais interessadas nelas mesmas do
IJ

que em qualquer outra coisa."


Espelhos foram instalados no corredor, onde os
usuários se aglomeravam para esperar os elevadores.
Eles ficavam ocupados por três minutos enquanto
aguardavam um elevador, observando-se a si mes-

34
mos ou os outros nos espelhos. O edifício foi salvo
do desastre financeiro. 8

Quem É Positivo Ganha Mais Pontos

Há quase sempre um jeito melhor de dizer ou fazer


alguma coisa. As pessoas que dizem as coisas ou
apresentam os fatos abertamente, afirmando que doa
a quem doer ou sirva a carapuça a quem servir,
pagam alto preço pela sua franqueza, com resultados
nulos.
Um homem que tinha sido muito pessimista, cuja
personalidade irradiava cinismo, que ele confundia
com sagacidade sardônica, disse .certa vez: "Eu cos-
tumava responder a quase tudo que as pessoas
diziam com a expressão: "Conversa fiada!' Não tinha
amigos e vivia solitário. Então decidi mudar. Quando
as pessoas me diziam as coisas, passei a dizer: IMara-
vilhoso!' Agora tenho todo tipo de amigos." Há poder
na afirmação positiva.

Interesse Próprio Não É Egoísmo

Quando você olha o retrato de um grupo em que


está incluído, que rosto olha primeiro? Certamente o
seu. Sua reação pode variar entre: "Oh, como estou
horrível!" e "Hum ... não estou nada mal!"
É bom lembrar que todos nós, sem exceção, esta-
mos mais interessados em nós mesmos - nossos
sentimentos, 'nossas reações, nosso futuro, como
parecemos aos outros - do que em qualquer outra
coisa ou pessoa. Sua dor de dente, por exemplo,
afeta você mais profundamente do que saber que
dois bilhões de pessoas vão dormir com fome hoje à
noite.
Esse interesse próprio não constitui, necessaria-
mente, egoísmo ou egocentrismo. É uma simples
evidência de que vivemos "dentro de nós mesmos".
Podemos sentir nossos próprios sentimentos, mas

35
apenas de modo vago os sentimentos e reações dos
outros.
Num recinto cheio de pessoas, cada uma está mais
cônscia daquilo que está pensando, sentindo, vendo
e experimentando do que de qualquer outra coisa.
A pessoa pode estar olhando ao redor, observando,
apreciando, falando, mas ainda assim continua mais
voltada para si mesma e para suas próprias reações.
Isso é verdade com todos nós.
É necessário um esforço extra para sairmos "de
dentro de nós mesmos"," para desviarmos nossa aten-
ção para alguém, ouvir de verdade e conceder apoio
sincero. Fazer isso é expressar carinho e cuidado, que
é uma faceta do amor. Isso acontece tão raramente
que, quando você o faz, causa uma profunda im-
pressão.
Ouça duas pessoas quaisquer conversando. Geral-
mente cada uma está preocupada com seus próprios
pensamentos e sentimentos ou opiniões. Se você
deseja relacionar-se bem com as pessoas - e aqui
está o ponto crucial de todo o problema - deixe de
preocupar-se consigo mesmo e dê atenção total à
outra pessoa!

Ouvir É uma Arte


John MacDonald enfatizou a importância da exce-
lente arte de ouvir. Ele fala de seu amigo, Meyer,
que conquista amigos de modo tão fácil como um cachorro
peludo pega carrapichos. Ele sorri e ouve com atenção, e seus
dois pequenos olhos azuis bri Iham de bom humor e interesse
pessoal. Ele tem a palavra certa para a hora certa, e é surpre-
endente como uma pessoa inteiramente estranha conta-lhe
coisas que jamais contaria a um parente achegado ou a um
psiquiatra. Nenhuma pessoa maçante, por mais clássica que
seja, consegue chatear Meyer _ Estar sempre interessado em
todas as pessoas é um grande talento. 9

Alguns Princípios Para Ouvir Melhor


Ouvir não é apenas escutar passivamente. É uma
experiência ativa de participação, em que você pres-

36

j'·I, • ,111.1 I -I .u I li, ,I I I . , re. ,"11, I, ,Ali" ..


ta verdadeira atenção àquilo que a outra pessoa está
dizendo.
Aqui estão alguns princípios que devem ajudá-lo
a tornar-se um melhor ouvinte:
Não interrompa a conversação. com comentários
assim: "Isto não foi nada", ou: "E, mas veja o que
aconteceu comigo."
. Não desvie o seu olhar da outra pessoa, a não ser
momentaneamente. Dê a ela atenção total.
Valorize os sentimentos dos outros. É recomen-
dável dizer algo como: "Sim, eu percebo o que você
quer dizer", ou: "Posso ver por que você se sente
assim", ou: "Deve ter sido uma grande experiência.
Diga-me mais a respeito."
Não interrompa.
Não procure competir com a história ou piada da
outra pessoa. Quando ele ou ela estiver contando um
caso, não deixe sua mente vagar, em busca de outro
que você possa contar. Quando você faz isso, seus
olhos se desviam da pessoa e sua atenção se dis-
persa. Você fica centralizado em si' mesmo e deixa de
ser um ouvinte atento.
Não critique. Você pode estar atacando o melhor
amigo da outra pessoa, suas convicções religiosas
ou partido político.
Faça perguntas apropriadas: "Que aconteceu de-
pois?" ou: "Como você se sentiu?" A prática vai
ensinar você a encontrar perguntas apropriadas.
Não discuta! As discussões dificilmente resolvem
alguma coisa e levam a outra pessoa a se defender
e discutir mais ainda. Se alguém pedir a sua opinião,
apresente-a, se parecer importante. No entanto,
fique só nisso. Não transforme a conversa em debate.
Isto não significa que você não tenha argumentos,
seja fraco ou insensível. Significa simplesmente que
tem bom senso.
Lembro-me de uma jovem senhora muito bonita
que procurou-me para falar de sua vida conjugal, que
estava se arruinando. Seu esposo acusava-a de argu-
mentadora sem esperança de cura. Ela disse firme-
mente: "Minha mãe me ensinou a lutar pelo que é

37
direito, e nada conseguira me deter!" Ela havia
confundido métodos com princípios.
Expliquei-lhe que não há qualquer mal em lutar
pelos princípios básicos - honra, integridade, mo-
ralidade - mas é altamente destruidor lutar por
causa de simples métodos, como quanto a fazer
alguma coisa desta ou daquela maneira. Ela não
aceitou minha observação e quis discutir comigo
sobre isso. Da última vez que tive notícias dela,
soube que está divorciada, não se casou novamente
e é uma jovem senhora bastante amargurada.

Você Não Precisa Tornar-se uma Vítima

Certa senhora escreveu o seguinte para a colunista


Abigail van Buren, escritora da conhecida coluna
"Dear Abby", a respeito de uma vizinha que estava
tornando-se antipática:

Essa vizinha costumava aparecer repentinamente em minha


casa, sem avisar. Às vezes eu estava recebendo a visita de uma
amiga ou de um parente, sem contar as vezes em que tinha
muito trabalho para fazer, e não dispunha de tempo para
receber uma visita. Senti-me frustrada e não sabia como fazer
com ela sem ferir-lhe os sentimentos.
Desesperada, finalmente expliquei-lhe que gostava muito
dela e valorizava sua amizade, mas havia vezes quando
desejava ficar a sós com meus amigos ou minha família e se
ela poderia fazer o favor de telefonar antes para saber se podia
fazer-me uma visita.
Ela foi muito compreensiva e agradeceu-me por ter sido
franca para com ela. Agora, me visita menos vezes e sempre
telefona antes de vir. Hoje, somos grandes amigas.

Ao tornar-se "ouvinte ativa", a pessoa abandona


automaticamente suas convicções ou perde sua
identidade. Aprende a simpJesmente focalizar a
atenção sobre a outra pessoa, demonstrando carinho
e interesse por ela. Isto traz grandes benefícios para o
seu relacionamento.
Wilson Mizner certa vez disse que "o bom ouvinte,
além de ser querido em toda parte, acaba aprenden-
do com a experiência". Calvin Coolidge afirmou:

38

·1 I~' I ,11 I ,','


"Nunca uma pessoa perdeu o emprego por ter sido
boa ouvinte." Levando-se em consideração como é
vital para relacionamentos humanos sadios, é sur-
preendente que o ouvir de maneira ativa seja tão
pouco praticado.

Não Fale Demais

Durante meu exercício de aconselhamento, falo


muito pouco. Geralmente, apenas ouço e de vez em
quando faço algumas perguntas pertinentes ao caso
tratado. Com exceção das situações raras em que a
pessoa está completamente fora de si - pensando
em suicídio, desesperada, completamente_ perdida
e desnorteada - dou poucos palpites. As vezes
pergunto: "Quais são as suas opções?" Na maioria
das vezes, a verdade está escondida em alguma parte
da mente da pessoa. Questionar e ouvir atentamente
podem freqüentemente revelar a solução, que está
oculta dentro da pessoa. .
Muitos maridos são péssimos ouvintes. Certa espo-
sa queixou-se a mim, dizendo que ela ouvia o que o
marido tinha para dizer do emprego, "mas quando eu
quero compartilhar assuntos de meu interesse, Que
fazem parte de' minha vida, ele não me dá a mínima
atenção. As vezes começa a ler o jornal ou liga a
televisão. Acho que conversar sobre cozinhar, aler-
gia do bebê e trabalho doméstico não é tão fasci-
nante para um homem, mas me sentiria mais querida
e amada se ele me desse ouvidos pelo menos por
alguns momentos."
- Ele costuma dizer que ama você? - perguntei.
- Sim, quando está afetuoso e quer fazer amor.
- Bem - eu disse - então, da próxima vez que
ele disser que ama você, responda o seguinte: "Tom,
também amo você. Mas sabe o que realmente me
faria sentir-me amada?" Ele vai perguntar o que é.
Aí diga-lhe que você se sentiria muito amada se ele
tirasse alguns minutos por dia apenas para ouvir -
mas ouvir mesmo - o que você tem para dizer-lhe.

39
Ele não pode ler seus pensamentos. Diga-lhe ouaís,
são as suas necessidades.
E funcionou mesmo.

A Fórmula Para o Sucesso


O General George C. Marshall certa vez apresen-
tou a seguinte fórmula como sendo importante para
os relacionamentos com as outras pessoas:
1. Preste atenção à história da outra pessoa.
2. Preste atenção à história da outra pessoa por
inteiro.
3. Preste atenção à história da outra pessoa em
primeiro plano.
Quando Jesus disse: "Dai, e ser-vos-á dado", ele
estava proferindo um princípio universal eterno. Dê
atenção e mostre interesse, e preocupação pela outra
pessoa, e a recompensa será muito maior, em com-
paração com o tempo que você dispensou.
A necessidade do ouvir é expressa de maneira
atraente nos seguintes versos:

Você Poderia Simplesmente Me Ouvir? ..


Quando lhe peço que me ouça e você começa a me dar con-
selhos, então não estâ fazendo o que lhe pedi.
Quando lhe peço que me ouça e você começa a dar palpites,
está pisando nos meus sentimentos.
Quando lhe peço que me ouça e você acha que precisa
tomar alguma providência para resolver o meu problema, então
falhou para comigo, por mais estranho que isso possa parecer.
Ouça-me! Tudo que lhe pedi foi que você me desse ouvidos,
e não que falasse ou agisse - mas simplesmente que me
ouvisse.
Conselhos não custam caro; com alguns trocados consegue-
se a opinião de colunistas renomados no jornal.
Posso élI!ir por mim m.esmo - não s0l;l indefeso; talvez esteja
desencorajado e fraquejando, mas não Indefeso.
Quando você faz algo por mim que posso e preciso fazer por
mim mesmo, está contribuindo para aumentar o meu temor e
inuti I idade.
Mas quando você aceitar como um simples fato que sinto
aquilo que sinto, não importa o quanto seja irracional, então

~ r. j , I .~ .m, I L 1i I I,. .1 L J I ,.. ,. . . I • ,~ .JJ L II


posso parar de tentar convencê-lo e prosseguir com esta tarefa
de compreender o que está por detrás deste sentimento irra-
cional. Quando isto se tornar claro, as respostas serão óbvias e
eu não precisarei de conselhos.
Sentimentos irracionais fazem mais sentido quando perce-
bemos o Que está por detrás deles.
Então, por favor, preste atenção e simplesmente ouça o que
tenho a dizer.
E, se quiser falar, espere, por um momento, a sua vez, e eu
Ihe darei ouv idos.
- Autor desconhecido

41
• • •
3
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A Importância dos Elogios e


do Tato
Posso viver dois meses inteiros com um elogio sincero.
- Mal'k Twain

Charlie Brown estava conversando com o pequeno


Linus, num desenho do "Peanuts". Ele disse:
- Você conhece aquela menina de cabelo aver-
melhado ali adiante?
- Bem, eu desejava entrar em contato e conver-
sar com ela, mas sentia-me tão bobo e desajeitado,
que não sabia o que fazer. Finalmente caminhei em
direção a ela e, não sabendo o que dizer, bati nela.
Muitas vezes damos respostas impróprias por-
que nos sentimos desajeitados ou inaptos.
A arte de relacionar-se bem com as pessoas envol-
ve a necessidade de se aprender a ter tato. Isso
envolve fazer uma afirmação ou uma pergunta de
modo diplomático e apropriado.

Fazendo um Cirurgião Falar

Certa vez, numa recepção de casamento, sentei-


me perto de um famoso cirurgião. Embora jamais nos
tivéssemos encontrado, reconheci-o por ter visto seu
retrato e por ter ouvido algumas coisas a seu respei-
to, através de um de seus colegas.
Apresentei-me e ele resmungou uma resposta não
muito amistosa. Fiz comentários sobre o casamento.

43
Ao que apenas acenou com a cabeça e disse algo
quase inaudível. A idéia de ficar sentado ao lado de
uma pessoa rude e fechada durante meia hora não
me agradou. Então eu disse:
- Doutor, um amigo meu, que o conhece bem,
contou-me que o senhor sofre do pior tipo de bursite
conhecido na história médica.
Ele virou-se para mim com os olhos brilhantes de
prazer e disse:
- Sim, é verdade r Vou falar-lhe a respeito.
Durante os quarenta minutos seguintes fui infor-
mado de todos os detalhes de sua horrível enfermi-
dade. Ele contou como, no meio de uma difícil
intervenção cirúrgica, uma dor súbita e excruciante
o atacara, tendo um assistente que terminar a opera-
ção. Embora não estivesse particularmente interes-
sado nos múltiplos detalhes de sua bursite, eu estava
interessado nele.
Quando a recepção aoabou- o cirurgião apertou
minha mão firmemente e agradeceu-me por ser
maravilhoso conversador. Eu apenas havia feito um
ligeiro cornentário sobre sua bursite.
Alguns puristas, ou legalistas, insistem que este
tipo de comportamento é manipulador, mas é pre-
ciso que se diga mais uma vez que agir apropriada-
mente não sigriifica ser manipulador ou hipócrita.
O cirurgião tinha necessidade de compartilhar seus
sintomas raros com alguém. De minha parte, senti a
necessidade, por um momento, de estabelecer um
relacionamento com um homem muito interessante.
Um homem ganhou de sua sogra um presente de
Natal inteiramente inadequado. Ele olhou para o
presente por alguns instantes, sem poder dizer pala-
vra. Depois recuperou-se e disse: "Foi muito gentil de
sua partef Eu jamais teria comprado isso para mim e
sei exatamente o lugar onde posso cofocá-Io!" En-
quanto sua sogra estava radiante de satisfação, a
esposa, agradecida, esboçava um sorriso de aprecia-
ção. Ela estava enviando a mensagem: "Querido,
você saiu-se muito bem, e eu o amo por isso!"

44

L j i ;..... I , I ., ~&. ,JI, . . . . ~,


Passatempo Favorito Como Iniciador de Conversa
Harry, um amigo, era vendedor de um serviço
financeiro. Certa vez ele disse-me que durante vários
meses tentara uma entrevista com o presidente de
um banco. O homem recusava-se a recebê-lo. Sa-
bendo que o presidente estava incluído na publica-
ção Quem É Quem, ele foi à biblioteca e fez sua
pesquisa. Entre outras coisas, descobriu que seu
freguês em potencial cultivava nenúfares (tipo de
planta aquática) como passatempo favorito. Então
leu tudo sobre nenúfares. Pouco tempo depois foi ao
banco e casualmente viu o presidente conversando
com um dos caixas. Quando os dois encerraram a
conversa, meu amigo chamou o presidente pelo
nome e perguntou-lhe:
- Diga-me, qual é o preço dos nenúfares no
mercado hoje?
O presidente sorriu e replicou:
- O que você sabe sobre nenúfares?
- Não muito, mas gostaria de aprender alguma
coisa.
- Venha,.. ao meu escritório. Gostaria de conversar
com voce.
Eles conversaram sobre nenúfares durante meia
hora. Depois o presidente do banco falou:
- Diga-me, você é representante da firma Stan-
dard and Poor Investment Service, não é? Fale-me
sobre o seu trabalho.
Meia hora depois a venda estava consumada.
Manipulador? De modo nenhum. O freguês tinha
necessidade de falar sobre seu passatempo favorito
e meu amigo satisfez esta necessidade.

Como Você Diz as Coisas


Para ilustrar a importância do fraseado apropriado,
Ken Ruble apresenta alguns exemplos de como não
se deve construir uma frase:
"Por acaso seu nome é Doe Livingstone?"
"Não atire até que eles cheguem bem perto."
IIHá oitenta e sete anos atrás, nossos ancestrais

45
pensaram algo completamente novo sobre liberdade
e igualdade."
"Enfrentamos os inimigos, e eles não são tão duros
assim."
A estas frases poderí amos acrescentar:
"Vim, vi e realmente venci um valentão."
"Ignore os torpedos, e continue avançando."
Estas frases dizem o mesmo que os famosos origi-
nais, mas certamente não produzem o mesmo im-
pacto.

Morda a Língua!
Quantas vezes você disse algo de modo inadequa-
do e, em conseqüência, desejou morder a língua?
Não tente lembrar-se de todas as ocorrências. Seria
muito penoso. Apenas aprenda a evitar desastres
semelhantes no futuro.
Primeiramente, deixe a afirmação ou a pergunta
atravessar sua mente, depois revise-a, a fim de
verificar se está correta. Os quinze bilhões de células
do cérebro trabalham com incrível rapidez. Com a
prática, você pode aprender a controlar e reformular
numa fração de segundo aquilo que deseja dizer.
Simplesmente pisque os olhos uma ou duas vezes,
e isso lhe dará tempo suficiente para encontrar um
modo melhor de se expressar.
Um homem que retornava de uma pescaria não
muito bem-sucedida carregava meia dúzia de peque-
nos peixes numa linha. No cais, ele encontrou um
companheiro com um grande peixe. A regra estabe-
lecida entre os pescadores é cada um não fazer
alarde de seus peixes grandes e lamentar a falta de
sorte dos outros.
O homem que trazia os peixes pequenos, vendo o
grande peixe que o outro carregava, disse: "Só um,
hein?" Ambos riram.
Por motivos que nunca se tornaram claros para
muitos homens, a maioria das mulheres rejeita com
veemência a idéia de aparecer em qualquer lugar
com um vestido igual ao de outra. lembro-me de que
estava passeando pela rua, há muitos anos atrás,

46

'I I I .• I I j j. ." II ' I ' 'i' .,,1,11


com minha então futura esposa. Ela estava usando
um lindo vestido novo. Nisso, veio em nossa direção
uma jovem com um vestido idêntico. Achei interes-
sante e falei: "Veja, um vestido igual ao' seu."
Naquele instante, a outra jovem estava ladd a lado
conosco e disse, contorcendo os lábios: "Eu /comprei
o meu primeiro, queridinha." Nada bom. .
Uma resposta melhor foi a de uma mulher, conhe-
cida por seu vasto guarda-roupa, que encontrou
outra, numa festa de luxo, usando uma duplicata de
seu vestido. As duas mulheres se entreolharam por um
momento, com um olhar frio e avaliador. Então a
primeira, chegando mais perto, disse para a outra:
"Quero dar-lhe os parabéns por seu excelente gosto."
Isso quebrou o gelo e ambas riram. Elas levaram tudo
na brincadeira e denominaram-se "as gêmeas" duran-
te aquela noite.
A maneira come' você diz as coisas é de grande
importância, se deseja relacionar-se bem com as
pessoas.

Como Fazer Inimigos e Afastar Amigos


Aqui estão algumas maneiras de se fazer inimigos
e afastar amigos:
1. "Vou dizer-lhe o que eu acho que você deve
fazer."
Esta é uma presunção arrogante de sabedoria supe-
rior. Ninguém é tão sábio a ponto de sair por aí
dizendo a todos o que eles devem fazer; e se alguém
fosse suficientemente sábio para fazer isso, teria
conhecimento bastante para evitar dar conselhos não
solicitados, que, de qualquer forma, raramente são
aceitos.
2. IIMeu conselho para você é ... "
A questão é a mesma do caso anterior.
3 . _"A grande verdade sobre este assunto é ... " _
E mesmo? Então você alcançou a verdade afinal? E
possível, mas não é provável. Você vai ser uma
pessoa solitária.
4. "Vou mostrar-lhe onde você errou."
Desse jeito você está falando com um ex-amigo.

47
Ou então com um masoquista que adora apanhar.
A arrogância intelectual desse tipo geralmente brota
de uma mistura peculiar de ignorância e inferiori-
dade.
5. "'Estou-lhe dizendo isso para o seu pró~rio bem."
Esqueça isso! Ninguém lhe pediu conselho. Quem
sabe o que é bom para mim? Não consigo fazer
metade das coisas que são para o meu bem e que sei
que deveria estar fazendo.
6. IISe u problema, pelo que posso ver... "
Mais uma de um distribuidor internacional de
arrogânc ia.
7. Você não pediu meu conselho, mas ..."
Pare aí mesmo! Se eu quisesse sua opinião, a teria
solicitado.
8. "Você está salvo?"
Não, realmente não. Não estou completamente
salvo do medo, de ressentimentos, sentimentos de
inferioridade e sentimento de culpa. Sua pergunta é
ofensiva, embora eu aprecie o seu cuidado. Jesus não
andou fazendo esta pergunta. Na verdade, ele per-
guntou: "Queres ficar são?" Se por acaso você souber
como posso ficar são, diga-me! Realmente o preciso
saber.
9. "Olhe, deixe-me mostrar como se faz isso."
Aprecio seu desejo de ajudar, mas lamento profun-'
damente sua maneira de falar, como se possuísse
alguma habilidade técnica que fizesse você ser
superior.
10. "Agora veja como eu teria procedido ... "
Muito obrigado! Passei por uma experiência difícil,
fiz o melhor que pude, e falhei. Você chega agora
para oferecer conselhos depois que tudo já passou.
Não gosto de sua atitude.
11. "Estava .tudo ótimo (serviço, comida, arranjo de
flores, sermão, ou qualquer outra coisa), mas há
apenas uma coisa que eu teria feito um pouco
diferente.
Agradeço-lhe por nada. Você não está me ajudan-
do, embora pense que esteja. Você está-se mostran-

48

su I L ,. I • o. . J .;1 t i il I , d I _I , :. I I IA. 11 ~ ~ ,. u. '


do superior, num esforço de compensar seus senti-
mentos de inferioridade em outras áreas.
12. "Isso é interessante. Veja, por exemplo, o meu
caso... "
Olhe para os meus olhos, amigo. Logo agora que
comecei a dizer alguma coisa, você entrou na con-
versa e quer dominar o assunto. Não, eu não vou
tomá-lo como exemplo.
Há milhares de frases desastrosas, rudes -e inapro-
priadas. Uma pessoa sensível aprenderá, de experi-
ências malsucedidas, como proceder de modo con-
veniente em relação às pessoas.
Conversa Sofisticada "Versus" Simplicidade
Em nossa sociedade tecnológica muitas pessoas
têm a tendência de insistir no uso de um falatório
pseudotécnico, num esforço de impressionar os
outros com sua erudição ou proficiência técnica. Por
exemplo, a diretora de uma escola na Calif6rnia
escreveu uma carta aos pais dos alunos, dizendo:
1/0 Programa de Prêmios aos Alunos de Oakland
oferece um processo particular, pelo qual os estu-
dantes que demonstrarem qualidades de excelência
através de expressão talentosa de capacidade aca-
dêmica... ", e assim por diante. Ela estava se esfor-
çando para dizer que o programa era um meio de
homenagear os alunos que se destacassem. S6 isso.
Outro exemplo de palavr6rio tecnol6gico ameri-
cano: " ... um conjunto de arranjos para produzir e
criar filhos, cuja viabilidade não está assentada na
presença consistente dentro da família, de um ho-
mem atuando como marido e pai." Esse cavalheiro,
lutando para parecer erudito, está tentando dizer que
o papai está fora de casa a maior parte do tempo.
Nada mais que isso.
Um exemplo mais sucinto e impressionante que jã
vi, dessa maneira de escrever, foi uma inscrição num
para-choque de carro, Que dizia: "Evite obnubiJa-
ção. ," Um escritor de palavrórios diria a mesma coisa
assim: "Tanto quanto possível, por causa da falta de
oportunidades educacionais disponíveis a alguns

49
seguimentos da população, parece melhor evitar a
utilização técnica e redundância para expressar
idéias que podem ser expressas através de uma
terminologia menos complexa."
As vézes uma linguagem obscura pode ser usada
para encobrir o sentido real, como no caso de um
homem que estava preenchendo um longo formulá-
rio em consultório médico. Chegou à parte onde ele
deveria indicar a causa da morte de seu pai. Ele ficou
em dúvida se deveria dizer ou não que seu pai fora
enforcado como ladrão de cavalos. Depois de con-
siderável ponderação, escreveu: "Meu pai morreu
num espetáculo público, onde era o convidado de
honra, quando a plataforma sob os seus pés cedeu
repentinamente. "
Leia o Sermão do Monte, em Mateus, ou a história
da criação, em Gênesis, ou o discurso de Lincoln em
Cettysburg, e maravilhe-se com a linda simplicidade
e brevidade da fraseologia. Em geral, é a mente
pequena, com monumental complexo de inferiori-
dade, que usa as maiores palavras. Diga as coisas de
modo simples.
A Mentira Branca É Sempre Justificável?
Muitas pessoas insistiriam em dizer que jamais
mentem ou que o fazem apenas em raras ocasiões.
Outras admitiriam uma ocasional "mentira branca"
inocente. Mas o psicólogo social Jerald Hallison
calcula que a pessoa americana comum mente apro-
ximadamente vinte vezes por dia, incluindo mentiras
brancas e desculpas do tipo: "Perdoe o atraso. Eu
estava ocupado no escritório."
Que faz você quando lhe servem urna refeição
ordinária (ou até execrável) e lhe pedem, na saída,
para dar sua opinião? Você pode exclamar que "foi
uma noite maravilhosa", apesar do barulho que
vinha do Quarto das crianças e do cachorro repelen-
te, suplicando migalhas durante a refeição?
Que diz você quando se encontra com o pastor na
porta da igreja, depois de ouvir um sermão fraco?
lDizer apenas "bom dia" seria o mais apropriado.)

50
Ao ver um bebê peja primeira vez, é costumeiro
exclamar-se: "Que linda criança!" Mas o que pode
você dizer quando, como ocasionalmente acontece,
o bebê não é nada atraente? (Que tal dizer; "Ter um
bebê é maravilhoso! Você deve estar muito orgu-
lhosa.")
Que diz você quando visita, no hospital, um amigo
que obviamente está morrendo ou com aparência
deplorável?
Se sua casa fosse invadida por uma quadrilha de
rapazes fortes, você diria: "Meu marido está lã em
cima e não há dinheiro em casa"?
Os médicos às vezes dão placebos (pílulas de
açúcar), em projetos de pesquisa, dizendo ao paci-
ente que estão administrando medicação forte. Serão
essas mentiras justificáveis pelo interesse da ciência?
Em centenas de situações diárias, a franqueza
absoluta seria um desastre.
Há, no entanto, duas conseqüências na mentira
deliberada, habitual. Uma é o prejuízo possível que
alguém pode trazer para outra pessoa pelo fato de
dar falso testemunho. A outra é o grande prejuízo
causado à personalidade daquele que consistente-
mente profere mentiras. Conheci várias pessoas que
eram mentirosas patológicas. Isto é, elas mentiram
tanto, que não podiam distinguir entre a verdade e a
mentira. A pena para os mentirosos consistentes é
que eles passam a crer em suas próprias mentiras.
Algumas pessoas mentem mesmo quando seria van-
tajoso para elas falar a verdade.

Evitar "Versus" Fugir

É sempre permissível, a uma autoridade governa-


mental, mentir. no interesse da segurança nacional?
Ou a um médico mentir quando um paciente lhe
pergunta de modo direto: "Será que vou melhorar?"
O exemplo de Jesus é iluminador. Nem sempre ele
respondeu a perguntas diretas. Ele não fugiu, mas às

51
vezes evitou entrar numa discussão que não seria
proveitosa.

Convenções Sociais IIVersus" Mentiras Maliciosas


Existem centenas de mentiras ou pequenos exage-
ros, como, por exemplo: "Foi um prazer conhecê-
lo." Deveríamos chamá-los de inofensivos? Quando
você diz isso a alguém que jamais voltará a encon-
trar e por quem não tem qualquer interesse especial,
trata-se de uma grande mentira. Você não está nem
um pouco alegre em conhecê-lo. Este é apenas um
dos incontáveis pequenos exageros socialmente
aceitos. O legalista chamaria isso de mentira. Mas,
traduzido, "Foi um prazer conhecê-lo" significa, em
geral, apenas um "olá", com um aperto de mão.

o Poder de um Elogio Sincero


John Ruskin, o ensaísta inglês, escreveu que os
maiores esforços da raça humana têm sido sempre
marcados pelo amor ao elogio. A razão, natural-
mente, é que o elogio sincero nos dá firmeza.
Restaura nossa confiança e - entre outras coisas -
ajuda-nos a remover as dúvidas que temos do nosso
próprio valor.
Iack Denton Scott enfatiza a importância da oca-
sião certa de se fazer um elogio: "Um dos elogios
que me parece ter sido feito no momento certo foi o
de um amigo à minha esposa. Ele esperou até depois
do jantar, pouco antes de salr, disse: 'Qualquer hora,
quando você tiver oportunidade, gostaria que me
desse sua receita para permanecer esbelta. Pensei
nisso durante todo o tempo do jantar.' Minha esposa
deliciou-se com isto por uma semana." 1
Há uma grande diferença entre a bajulação e o
elogio. A bajulação foi definida como lIelogio exces-
sivo, que se faz por motivos não confessáveis". O
elogio é "urna expressão de apreciação que se ofere-
ce sinceramente, sem qualquer pensamento de van-
tagem pessoal". Mesmo assim, em certo sentido,
tanto o que faz o elogio quanto o que recebe saem

52
oI L i :; L i ~; ": . . . I • .• 11 L ~.
lucrando. O que o recebe é incentivado e o que
elogia é beneficiado, pois a pessoa sempre se sente
melhor quando faz um elogio sincero.
A afirmação bíblica de Que melhor coisa é dar do
que receber poderia ser parafraseada assim: Aquele
Que dá levado por um motivo certo lucra mais do que
aquele que recebe.

As Crianças Necessitam Tremendamente de Elogio

As crianças obtêm seu senso de valor próprio


especialmente de seus pais. Elas não têm como saber
se são inteligentes ou medíocres, bonitas ou feias,
incapazes ou competentes, a não ser que os pais lhos
digam. Infelizmente, uma criança comum provável-
mente recebe de dez a cinqüenta repreensões para
cada bocado de elogio.
"Olha o que você fez!"
"Pelo amor de Deus!"
"Largue isso ai!"
IIJá falei mil vezes com você!"
"Como você é desajeitado!"
"Veja, você fez isso de novo!"
"Não sei o que vai ser de você!"
E assim por diante, uma lista sem fim. A criança
que recebe uma barreira sólida de crítica cresce,
quase invariavelmente, sem um senso adequado de
dignidade própria. A crítica provoca dúvida pessoal
e, em última análise, resulta em um profundo senti-
mento de inferioridade.
David, como qualquer criança normal de dez anos
de idade, detestava cortar a grama. (E sempre mais
divertido brincar, ler, ver televisão ou simplesmente
ficar à toa do Que suar em cima de um cortador de
grama num dia quente.) Ele também detestava passar
o ancinho na grama antes de cortá-Ia e recolher
detritos que pudessem obstruir o cortador. Numa tar-
de de sábado muito quente, ele entrou em casa com
um olhar apreensivo.
- Papai, o cortador de grama quebrou.
- Vamos dar uma olhada.

53
Eles foram e o pai descobriu que um galho havia
ficado preso entre a lâmina e a ferragem.
- Não está quebrado, David. Vou retirar o que
está atrapalhando.
Ele o fez e disse:
- David, talvez seja melhor recolhermos esses
pequenos galhos que o vento arrancou das árvores.
Parece que eles obstruem o cortador de grama.
Juntos, eles recolheram uma grande quantidade de
galhos e pequenos gravetos. Depois, o pai disse:
- Sabe, David, creio que esta foi uma das vezes
em que você cortou melhor a grama. Está lindaf E foi
a única vez que o cortador ficou obstruído.
David ficou radiante. Ele esperava ser repreendido
e, ao invés disso, foi elogiado. Depois daquele dia
ele sempre procurou limpar a grama cuidadosamente
antes de a cortar.

Elogio "Versus" Crítica

É sempre mais proveitoso elogiar do que criticar.


Um elogio motiva mais boa vontade do que a
reclamação. As pessoas agem melhor em resposta a
um incentivo do que a um comentário negativo.
Um elogio não deve ser destruído por um Umas":
"É um bom trabalho e eu o aprecio muito, mas há
uma coisa que você não fez muito bem." O limas"
tira todo o prazer do elogio; rouba-lhe a eficiência.
Uma jovem recém-casada convidou os pais para
jantar. Ela havia-se esforçado para que aquela fosse
uma ocasião muito especial. Quando os pais estavam
saindo, a mãe disse: "Foi uma noite agradável,
querida, e o jantar estava ótimo, só que você deixou
a carne cozinhar um pouco mais do que deveria."
Naturalmente aquilo estragou a noite da filha.
O educador John Dewey disse certa vez que o
anseio mais profundo da natureza humana é o desejo
de ser importante. As crianças que são continua-
mente criticadas não podem sentir-se importantes
diante de seus pais. Elas crescem com ~profundos
sentimentos de inferioridade.

54

I~ i J .11 I ~ li I , ;g I j ; I ... ,.li. ~_ L~ - - I I ..Lo.oi. ••


É Muito Mais Fácil Criticar do Que Elogiar
Há várias razões por que nós, os seres humanos,
achamos tão fácil criticar. Em primeiro lugar, porque
o mundo é muito imperfeito e há muito que criticar.
Estava assistindo a um casamento com minha
esposa, Isabel. logo que entramos na igreja, fiquei
pasmado com o esquema gritante das cores no
santuário. Fiquei igualmente estarrecido com a ar-
quitetura. Tive a impressão de que o projeto desse
edifício grande e tão caro tinha sido traçado por uma
comissão nas costas de um envelope com um toco de
lápis. As cores se desencontravam horrivelmente. O
local do coro, se é que se pode dar-lhe esse nome,
apresentava uma incrível confusão de ângulos des-
necessários. Tentei desviar minha mente da atitude
de crítica e concentrar-me na música. Foi uma idéia
infeliz, pois a organista não tocava bem.
Quase sem mover os lábios, minha esposa sus-
surrou: "Que coisa horrível!" Recordando esse episó-
dio objetivamente, posso ver que não estávamos
sendo excessivamente críticos. Tudo estava ruim
mesmo.
Quando a cerimônia começou, pude desviar mi-
nha atenção da arquitetura que me distraía e das
cores desencontradas para a festa de casamento.
A noiva estava encantadora. A cerimônia, obvia-
mente planejada pelo jovem casal, foi singular, cheia
de sentimento e tocante. Foi uma ocasião bela,
apesar de a comissão de arquitetura e construção ter
tido tão mau gosto ao construir aquele recinto.
Sim, há coisas de que se reclamar, defeitos óbvios
em edifícios, nas pessoas e na sociedade. Deixar de
reconhecê-los seria uma atitude tola e uma demons-
tração de falta de discernimento. Mas falar desneces-
sariamente sobre eles seria inadequado e destrutivo.
As pessoas têm muitos defeitos. Nossa sociedade
corrupta clama contra a injustiça, o pecado e o
acúmulo de grandes e pequenos horrores. Não pode-
mos ignorar estas coisas, mas podemos evitar o
desenvolvimento de uma atitude negativa, de lamen-
tação e crítica. I

55
Uma segunda razão, mais séria ainda, que nos leva
a criticar, é que temos a tendência de projetar os
nossos próprios defeitos sobre os outros. Posso reco-
nhecer algumas de minhas próprias faltas, mas quan-
do não mais posso suportar a autocrttica, um meca-
nismo automático, conhecido como projeção, entra
em funcionamento. Começo, inconscientemente, a
ver faltas nos outros como meio de justificar minhas
próprias deficiências.

Sou Essa Pessoa

Cada vez encontro-me refletido em quase todas as


pessoas que conheço. As pessoas que encontro dia-
riamente têm problemas e falhas humanas óbvias.
Mas, no escuro, numa noite silenciosa, quando não
consigo dormir, minhas dez mil falhas e fracassos
aparecem diante de mim como fantasmas do passa-
do. Com uma espécie de tenacidade perversa, desfi-
Iam pela minha mente; e então, com a clareza
induzida pelo relaxamento, percebo que os defeitos
que tenho observado nos outros não passam de
reflexos de meus próprios defeitos. Os defeitos deles
são os meus, até certo grau.
Nem sempre tenho agido com integridade total;
não tenho sido completamente honesto. Talvez al-
gumas de minhas próprias falhas tenham sido tão
aparentes ou óbvias quanto às deste homem ou
daquela mulher, mas pode ser que eu tenha tido
vantagens maiores. Conheço a verdade há mais
tempo, a aprecio mais, e por isso sou culpado,
mesmo que meus defeitos tenham sido menos gri-
tantes.
Em cada pessoa que aconselho vejo espelhado um
de meus próprios defeitos. Sou diferente apenas no
grau ou maneira específica pela qual manifesto a
imperfeição. Eu sou essa pessoa.
Os indivíduos mais críticos são os que sentem mais
ódio de si próprios. As pessoas de espírito de crítica
encontram dificuldade em fazer elogios. Estão tão
imbuídas em sentimento de culpa e autocondena-

56

.• l J i I y. ,li.' j I .• II I I.
ção, de que não têm consciência, que não têm como
perceber as necessidades das outras pessoas. Vivem
num isolamento solitário e crítico, desejando se
afirmar. Mas é difícil elogiar uma pessoa de espírito
de crítica.

Esqueça a Argumentação, Procure os Pontos em


Comum

São raras as vezes em que uma argumentação não


pode ser evitada. Mas, em geral, as discussões não
levam a qualquer resultado positivo. Constroem bar-
rei ras, ao i nvês de pontes.
Um sábio afirmou: "Nunca discuta com uma mu-
lher irada, um bêbado ou um religioso fanático." Ou,
por falar nisso, não discuta com qualquer outra
pessoa sobre o que quer que seja, se você' puder
evitá-lo. Não há nada a ganhar quando se desaponta
um adversário. Nem é essa' a maneira de fazer
amizades.
Certa feita, me envolvi numa discussão amistosa
e até chistosa com um membro da diretoria de uma
companhia, sobre' um assunto de pouca relevância.
Sua posição parecia ser tão obviamente errada (a
opinião do adversário sempre parece ser errada) que
caí na tolice de prosseguir com a discussão. Final-
mente, ele deu uma risada e disse: "Não posso
responder aos seus argumentos, mas ainda estou
convencido de que estou certo." A maioria das
discussões termina mais ou menos assim, ou pior,
com ambas as partes convencidas de que a outra
pessoa ou é medíocre ou intransigente. O que você
faz ao envolver-se numa discussão é poluir o ambi-
ente com emoções negativas, construir uma barreira
e convencer a outra pessoa de que você estã mal-
informado ou simplesmente não entende. Será: que
vale a pena isto?
Se você quiser relacionar-se bem com as pessoas,
evite discussões. Isto não quer dizer que você tinha
que concordar com tudo que os outros têm a dizer.
Significa que é uma pessoa esperta demais par-a se

57
envolver numa discussão inútil, em que ninguém
conseguirá levar vantagem.

Discussões Entre Marido e Mulher


No decorrer de uma sessão de aconselhamento
com um homem e sua esposa, pedi que apresentas-
sem o tipo de discussão que os dois costumam ter.
Após alguns minutos de reflexão, acabaram recor-
dando-se de uma ocasião quando foram ao teatro,
e, ao voltarem para casa, descobriram que alguém
havia deixado o fogão elétrico ligado, com uma
panela em cima, que havia derretido em algumas
partes e deixado um cheiro horrível na cozinha. A
discussão desenrolou-se mais ou menos assim:
Esposa: - Misericórdia! Você deixou o fogão
ligado, e agora olhe s6! Nunca vamos conseguir tirar
este cheiro horrível da casa!
Marido: - Eu? Não fui eu quem deixou o fogão
ligado. Foi você.
Esposa: - Não se faça de inocente. Foi você quem
ia fazer café depois do jantar e colocou a água para
ferver. Não se lembra? Foi você quem esqueceu de
desligar o fogão.
Marido: - Não senhora, tenho certeza de que
desliguei isso quando terminei de fazer o café. Eu
usei o queimador pequeno, e como você bem pode
ver, é o grande que está ligado há três horas.
Esposa: - Não é verdade. Você usou o queimador
grande só para ferver uma panelinha de água, o que é
uma grande burrice. Você sempre faz isso.
Marido: - Que nada.
Esposa: - Claro que faz! Até perdi a conta de
quantas vezes já lhe disse para não fazer isso!
Marido: - Está bem, você sempre tem razão ...
Esposa: - Você está concordando que estou certa.
Marido: - Não, estou apenas concordando que há
uma ligeira possibilidade de que talvez eu tenha
deixado o fogão ligado.
Esposa: - Ligeira possibilidade f É uma conclusão
mais do que provada.

58

.• m I I ,.111 ,j J
Marido: (que não gosta de estar errado, mas
detesta ser levado a discutir): - Talvez você tenha
mesmo razão.
Esposa: - Você não crê realmente -nisso. Está
querendo apenas me apaziguar.
Marido: Pode ser.
Esposa: - Mas isso é tolice. Você é o culpado e
sabe muito bem disso.
Marido: - É (ele sai em direção ao banheiro e
fecha a porta, enquanto ela, furiosa, limpa a cozinha
e joga fora a panela inutilizada).
Agora vamos analisar o acontecido. O Que se tirou
de positivo? Nada. Ela ainda estava convencida de
que estava certa. Ele levou uma "bronca", e não
podia, nem iria, continuar a falar com ela pelo
menos durante dois dias seguidos.
As pessoas cuja auto-estima é fraca precisam
vencer, numa discussão, a qualquer custo. Perder
significa uma perda de Identidade. A pessoa que tem
uma fraca identidade precisa sempre estar "certa",
do contrário, vai sentir-se rebaixada. Uma pessoa
assim confunde opiniões com sua própria pessoa:
"Ofenda minha opínião e você estará me ofendendo
também. Critique meus pontos de vista, meus filhos,
meu lar, meu emprego, meus amigos, minhas idéias
políticas, minha religião ou meus animais de estima-
ção, e você estará criticando a mim também." Uma
pesso-a- assim tem pouca ou nenhuma identidade,
além desua aparêncía externa.
No caso do marido e de sua esposa, nenhum dos
dois tinha uma auto-estima apropriada, e ambos
achavam que precisavam vencer na discussão.
A pessoa que tem um senso forte de identidade
pode ouvir uma crítica a sua religião, suas idéias
políticas, seus amigos ou suas opiniões sem sentir-se
particularmente ameaçada. Pode avaliar a pessoa
que critica como sendo mal-informada, "'diferente",
ou simplesmente alguém que gosta de entrar em
discussões.
Qual a reação apropriada para com urna pessoa
que gosta muito de discutir? Existem várias opções
positivas.

59
Se for uma situação em que você pode omitir-se
prontamente, então ouvir com um ....Hum-m-m" oca-
sionai pode ser suficiente. Se for provável que o
encontro vá se estender por algum tempo, então o
apropriado seria fazer perguntas. Por exemplo, se
fosse o caso: ....Você acha, então, que há uma cons-
piração comunista para tomar o poder do governo?"
(Isto será o bastante para manter a outra pessoa
falando por tempo indeterminado. A conversa não
será retardada. Pessoas paranóicas ou fanáticas - o
que pode ser a mesma coisa - raramente deixam de
ter assunto ou esperam uma resposta.)
Mas se você tem fortes convicções religiosas e
alguém afirma que Deus é um mito e que o cristia-
nismo é a pior coisa que já aconteceu com o mundo
civilizado, talvez sinta a necessidade de defender a
sua fé. Por quê? O cristianismo existe há muito
tempo e já sobreviveu a uma gama extensa de críticas
e oponentes equivocados. E continuará assim. Sua
defesa raivosa não servirá à causa do cristianismo,
nem fará com que a outra pessoa mude de idéia .
....Não é exatamente esta a maneira como encaro o
assunto, mas respeito sua opinião", esta seria uma
resposta apropriada. Assim, você terá mostrado a sua
posição em relação ao assunto. Além do mais,
discutir durante uma hora sobre isso não levará a
coisa alguma, a não ser provar que você caiu na
armadilha de uma discussão inútil.
Discussões não resolvem coisa alguma. Quando
uma conversa proveitosa descamba para uma discus-
são, então esta é uma boa hora para não envolver-se
ou "sair fora". O silêncio pode ser uma resposta pra
valer.
Alguns pastores têm tantas dificuldades nos rela-
cionamentos quanto os membros da congregação.
Esta é uma das razões por que a média de tempo
durante o qual um pastorado é exercido numa s6
igreja seja de mais ou menos três anos.
Existe uma citação bastante conhecida, que diz
que quando um novo pastor assume o pastorado de
uma igreja, a congregação responde com: "Bendito
o que vem em nome do Serihor." No segundo ano, a

60
/

reação é: "Com que autoridade fazes estas coisas?"


Ao final do terceiro ano, se não mais cedo, o brado
que se levanta é: "Crucifica-o!"
Não é fácil agradar a uma congregação inteira,
mas alguns pastores não são especialistas em estabe-
lecer relacionamentos criativos. Podem ter estudado
grego e hebraico, aprendido os nomes dos dezenove
reis do Rei no do Sul e ter-se tornado peritos em
assuntos esotéricos da doutrina eclesiástica,. mas
ainda não ouvi falar no seminário que
,.
contenha
,. ,.
em
seu programa um curso que ensine os pnncipros
básicos de relacionamentos interpessoais. Talvez
uma matéria destas seja um tanto mais prática do
que m-emorizar os nomes de todos os lugares onde os
filhos de Israel pararam no caminho à Terra Prome-
tida.
Os pastores são apenas seres humanos, e sua
consagração ao ministério não lhes confere qualquer
capacidade particular de serem bons ouvintes ou de
validarem os sentimentos de outras pessoas. Nem um
diploma do seminário concede-lhes isenção da ne-
cessidade de usarem de tato. O efeito de um sermão
poderoso no domingo de manhã pode ser anulado
por um comentário descuidado na segunda-feira ou
por uma resposta defensiva durante uma reunião da
liderança.
Seja você pregador ou professor, pai ou assistente
social, motorista de caminhão ou professor univer-
sitário, homem de negócios, comerciante ou dona-
de-casa, a sua vida pode ser melhorada imensuravel-
mente se aplicar alguns dos princípios antigos enu-
merados na Bíblia e validados pela experiência hu-
mana.
Eu poderia oferecer um texto como prova de cada
método e princípio enumerados neste capítulo, mas
isto é tão importante quanto o teste do pragmatismo.
Em poucas palavras, este é o conceito de que a prova
final de um método é se ele funciona ou não. E você
nunca saberá se estes princípios funcionam ou não,
se não os experimentar.

61
• • •
4

Resolvendo as Diferenças

Ele havia adquirido. de alguma dor primai, um terror


de revelar qualquer emoção, a fim de que não fosse inter-
pretada como fraqueza ou, o que é pior, entusiasmo.
- Germaine St.~Cloud
Depois de trinta e cinco anos de prática, eu me pergunto:
UQ que é necessidade para as mulheres?' - Slamund
Freud

Se tem idade suficiente para saber o que era um


batedor de tapete, você já deixou de ser jovem.
Numa época que já vai tão longe,' que é difícíl
recordar sem sentir dor - será isso artrite ou nostal-
gia? - as pessoas costumavam bater tapetes. É uma
arte que desapareceu.
Nos primeiros anos deste século, ninguém possuía
tapetes que iam de uma parede a outra, com exce-
ção, talvez, das pessoas muito ricas. Se muito prós-
peras, as pessoas tinham tapetes que mediam dois
metros e meio por três e meio, ou no máximo três e
meio por cinco e meio. Os aspiradores de pó ainda
não tinham sido inventados; a última moda era a
va~soura para tapetes. Assim, os tapetes ficavam
SUJOS.
Para resolver o problema, levava-se os tapetes para
o fundo do Quintal, onde eles eram pendurados na

63
corda de secar roupa. A seguir, a pessoa tomava um
batedor de tapetes, feito de arame envergado em
forma de uma raqueta de tênis, e batia no tapete até
que se levantassem enormes nuvens de poeira cin-
zenta. As pessoas batiam naqueles tapetes com
sentimento de vingança! Um ano de poeira acumu-
lada flutuava em direção ao céu, enquanto a dona-
de-casa em ação dava pancada. E, com a poeira,
como não poderia deixar de ser, ia-se uma grande
quantidade de ira e frustração acumulada, que não
poderia ser libertada de outra maneira.

Pancadas no Tapete e Divórcio


Talvez possamos culpar o vilão que inventou o
aspirador de pó pelo elevado índice de divórcios.
Pois agora não há mais batedor de tapete ao alcance
da mão para golpear um tapete sujo durante uma
hora ou mais. Portanto, acabou-se a terapia de
descarregar indignação acumulada. Naturalmente,
isto é uma mera brincadeira. No entanto, todos nós
prec isamos ter algum meio de descarregar nossas
frustrações.
O golfe é um substituto fraco. Golpear uma peque-
na bola de golfe uma vez em cada ponto muito
distante um do outro é uma terapia pobre. Caminhar
é um bom exercício e correr é ainda melhor, mas o
máximo que podem fazer é proporcionar apenas um
alívio temporário para a tensão.
A pergunta básica é: Como os maridos e as esposas
- ou qualquer pessoa de qualquer sexo - podem
encontrar meios satisfatórios de se verem livres de
frustrações acurnufadas e resolverem as diferenças?

A Maioria dos Homens Detesta Procurar Ajuda Pro-


fissional

o
medo que o homem tem de revelar qualquer
emoção, porque isto pode ser interpretado como
fraqueza - ou, o que é pior, entusiasmo - é muito
grande. O indivíduo do sexo masculino não deve ser

64

,I I I .• I 1'1 ' Mil • I " ,.I ·11· I· ,•.


censurado. Ele é produto de coerções sociais, que
começam cedo na infância.
"Você já é um rapazinho, e um rapaz não chora."
"Quem chora é maricas."
"Seja homem, e enxugue estas lágrimas."
Assim os pais pressionam os meninos, levando-os
a crer que as lágrimas são sinais de fraqueza. Quando
as lágrimas cessam, muitas outras emoções também
são reprimidas.
Os adultos podem se zangar e até gritar uns com os
outros. Os meninos não podem ficar zangados, pelo
menos não com os pais. O papai pode gritar com a
mamãe e com o pequeno David, mas ele não pode
ficar zangado nem gritar com seus pais. A lei psico-
lógica da terra é: "Meninos não têm sentimentos."
Os meninos recebem uma lavagem cerebral que os
leva a crer que demonstrar sentimento é não ser
homem.
O resultado disso é que a maioria dos homens
persistentemente se recusa a procurar conselheiros
matrimoniais. "Somos adultos; nós mesmos vamos
cuidar disso! Ninguém vai me dizer como devo dirigir :
minha vida" - esta é a racionalização que os
homens fazem.

A Maioria das Esposas Inicia Aconselhamento Ma-


trimonial
A experiência dos conselheiros matrimoniais, psi-
cólogos e psiquiatras é que pelo menos dois terços do
aconselhamento matrimonial são iniciados pelas
esposas. Alguns terapeutas acham que a proporção
é de quatro quintos.
Isso nos traz ao assunto do relacionamento entre
marido e mulher e, em última análise, às diferenças
entre homens e mulheres em nossa cultura.
Algumas feministas desconsideram as diferenças
biológicas mais óbvias entre os sexos e olham para as
,. que são aparentes como culturalmente determina-
das. A Dr a Alice S. Rossi, professora da Universidade
de Massachusetts-e autoridade nas funções do ho-

65
mem e da mulher na sociedade, discorda desse
conceito. Ela escreve:
Há uma tendência de se confundir diferenças com desigual-
dade. No que diz respeito a homem e mulher, diferença é um
fato biológico, enquanto igualdade é um conceito político,
ético e social. Nenhuma regra da natureza ou de organização
social diz que os sexos têm que ser os mesmos ou fazer as
mesmas coisas para serem iguais nos aspectos social, político
e econômico.
Os homens, que em média são mais altos e mais fortes ...
do que as mulhe-res, geralmente as superam em trabalhos de
construção e combate militar; as mulheres geralmente superam
os homens na formação de intensos laços emocionais com
recém-nascidos e crianças pequenas... e esta diferença tem
sido a base para o sistema familiar. 1

Ela salienta que nem todas as mulheres têm um


instinto maternal forte, e que os homens podem
tornar-se pais amorosos e ternos. Mas, em média, "os
homens e as mulheres diferem em sua predisposição
para cuidar de bebês, e em sua habilidade para
aprender esta arte de cuidar... a vinculação do
homem é aprendida socialmente". 2

Diferenças de Sexo
Encaremos o fato de que os homens e as mulheres
são diferentes em vários aspectos. Aqui estão apenas
alguns que os psicólogos e pesquisadores têm do-
cumentado nos últimos anos:
Durante o dia, os homens enxergam melhor do que
as mulheres.
As mulheres têm um paladar mais sensível e são
mais sensíveis ao tato em todas as partes do corpo.
Os homens são menos sensíveis ao calor extremo e
mais sensíveis ao frio extremo.
As mulheres têm melhor audição, especialmente
nos níveis mais altos, e, ae 85 decibéis para cima,
qualquer som parece duas vezes mais alto para elas
do que para os homens.
Os homens, mesmo quando crianças, tendem a ser
mais interessados nos objetos do que nas pessoas.
As mulheres sobressaem nas habilidades verbais e
são melhores em destreza manual.

66

ll-i I i .•1 m 1.1 ,11 I n .


/ -.--

/
,.

Os homens sobressaem em uma ampla variedade


de habilidades relacionadas com a percepção de
profundidade no espaço, uma habilidade que dá a
eles uma tendência para atividades mecânicas.
As mulheres processam informação com mais
rapidez, especialmente em tarefas (como a neuro-
cirurgia) que exigem escolhas rápidas.
Os meninos se distraem mais facilmente com
objetos novos, e isso, combinado com seu maior
comportamento exploratório, sugere um tipo de
curiosidade que conduz ao sucesso em atividades de
solucionar problemas que exigem manipulação.
As mulheres estão mais interessadas em pessoas,
e, quando crianças, são mais atentas aos sons e seu
significado emocional.
Os homens exibem mais ousadia.
As mulheres têm mais ernpatia.J
Muitas destas características podem ser vistas em
crianças, e assim há razão para se questionar a
alegação de que elas são determinadas cultural-
mente.

Homens Que Se Casam com Suas Mães


George e Marilyn(*) tinham graves conflitos matri-
moniais e vieram ao nosso centro em busca de
aconselhamento. Ficou claro rapidamente que Geor-
ge estava tentando obter de sua esposa o amor que
jamais recebera de sua mãe. De fato, inconsciente-
mente, ele estava tentando fazer dela sua mãe.
De acordo com uma descrição imparcial de Mari-
lvn, a mãe de George era a Bruxa Malvada do Oeste
- sem amor, exigente e totalmente irracional. Geor-
ge admitia que sua mãe era às vezes um pouco irra-
cional, mas ele negava persistentemente Que ela não

(*) Os nomes de todos os aconselhados foram mudados, mas as


histórias são verdadeiras.

67
lhe houvesse dado amor na infância. No entanto, seu
comportamento demonstrava que ele ainda estava
tentando conquistar o seu amor, e, como fracassava,
esforçava-se por consegu i-lo de Mari Iyn.
Mostrei-lhe isso, mas ele negou-se a aceitá-lo:
"Não, é amor adulto qu~ preciso receber de Marilyn.
Não sou mais criança. E ridículo dizer-me que mi-
nhas necessidades infantis não satisfeitas ainda estão
atuando."
George concordou em tentar a Integração Primai,
para ver se poderia descobrir as raízes de seu proble-
ma. Na primeira sessão, ele regrediu à infância e
começou a chorar com voz de criança pequena. Ele
estava revivendo uma antiga dor do tempo quando
era menino pequeno, e suplicava à mamãe que o
amasse.
Quando já estava chegando ao final da sessão, ele
começou a ficar com raiva e gritava com a mãe. Por
algum tempo bateu no tapete e finalmente berrou:
"Eu. a odeio, mamãe, eu a odeio!" Subitamente,
parou, abriu os olhos e disse em tom de acusação:
"Você colocou isso em minha mente! Você e essa
música péssima que estava tocando. Eu não odeio
minha mãe; ela é uma ótima mulher. Não quero mais
saber disso ." E, levantando-se, retirou-se da sala.
George foi a única pessoa, dentre centenas de
aconselhados, que recusou continuar a terapia da
Integração Primai, depois de tê-Ia iniciado. Ele re-
cusou-se a falar mais sobre o seu casamento, i nsis-
tindo que podia resolver o problema. A última vez
que vi sua esposa, ela estava procurando um bom
advogado.
Embora não sendo necessariamente típico, o com-
portamento ridículo de George ilustra um problema
que freqüentemente encontramos: o de um homem
já adulto que recebeu pouco ou nenhum amor de sua
mãe e agora espera recebê-lo de sua esposa. A
frustração e a ira que ele expressa para com sua
esposa é a fúria reprimida que sentia, enquanto
criança pequena, quando precisava de amor numa
forma em que sua mãe não lho dava.

68
A Ira no Casamento
As emoções são um dom de Deus. Entre elas,
encontra-se a ira, que é basicamente um instinto de
sobrevivência. Naturalmente, a ira pode ser usada
destrutivamente. Mas sentir ira não é mais errado do
que sentir alegria, contentamento, felicidade ou
solidão, e expressá-Ia apropriadamente pode ser um
ato criativo.
David e Vera Mace, que criaram a Associação de
Casais para Enriquecimento do Casamento, escre-
vem:
I nfel izmente, muitas pessoas conhecem apenas duas ma-
neiras de tratarem a ira - dando vazão a ela ou abafando-a.
Os crentes em geral, e as mulheres crentes em particular,
têm-se tornado hábeis em "engolir" sua ira; e consideram isso
um comportamento virtuoso. Infelizmente, abafar a ira é como
engolir veneno. Leva você a ficar doente, e seus efeitos quase
sempre demor am a desaparecer. Mas isso não é o pior de tudo.
Pessoas casadas que habitualmente engolem sua ira tornam-se
incapazes de demonstrar afeto e ternura. Se você sufoca
emoções negativas, bloqueia 9 canal através de que também
fluem as emoções positivas. E por isso que, depois de uma
briga, às vezes o casal é capaz de tornar-se mais amoroso.
Mas este não é o melhor meio de promover o amor. 4
O casal David e Vera Mace sugerem um terceiro
meio de tratar com a ira, envolvendo três passos. O
primeiros é reconhecer sua ira de um para com o
outro. Eles salientam que é tão aceitável dizer:
"Estou com raiva", quanto afirmar "Estou cansado"
ou "Estou com fome".
O segundo passo é renunciar a ira. Não há nada de
valor que se possa ganhar em uma disputa aos gritos.
Quando a hostilidade se expressa em recriminação
cheia de ira, muita coisa é dita sem querer, que fica
difícil de esquecer ou perdoar. Você pode dizer:
"Quando você faz isso, eu fico muito aborrecido!"
mas não significa que você vai atacar.
A terceira sugestão apresentada pelo casal Mace é
procurar ajuda.
Para muitos; isto pode parecer uma rendição fraca. Mas
pedir ajuda e, na verdade, ~m meio muito poderoso de levar a
causa da ira a ser investigada e esclarecida. Se~ lhe disser que
estou com raiva de você e desejo sua ajuda para resolver isso,
estou lançando um desafio. Estou indjcando que não pretendo
lutar, e assim você não precisa empunhar sua espada ou arma

69
carregada. Mas também estou indicando que estou bastante
preocupado com você, tanto que desejo agir em torno da
situação que produziu a ira, a fim de que a barreira que existe
entre nós possa ser retirada. E, se você aceitar o meu convite,
é provável que algo muito criativo venha a surgir. 5

Maneiras Simples de Solucionar Problemas Com..


plexos
Meia dúzia de pequenos problemas equivale a um
grande problema no casamento. Aqui estão algumas
sugestões que podem trazer grandes dividendos.
1. Tenha consideração para com a outra pessoa.
"Antes sede bondosos uns para com os outros,
compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como
também Deus vos perdoou em Cristo."6 Geralmente
se ensina este verso às crianças na Escola Bíblica
Dominical. Deveria ser o texto do sermão mais ou
menos em cada quatro domingos, pois tem a ver com
o problema de todas as relações humanas.
Ter consideração envolve coisas simples, como:
"Posso ajudá-lo?"
"Deixe que eu o pegue para você."
"Descu Ipe-me."
"Eu estava errado." (Isto não é fácil de se dizer.)
"Querida(o), fique na cama por mais cinco minu-
tos. Vou trazer-lhe uma xícara de café." (Isto não
precisa acontecer,. necessariamente, todas as ma-
nhãs, mas o que há de errado em fazer disso um
gesto ocasional de amor? Você gostaria que ele ou
ela fizesse isso com você. Por que você não começa
a fazê-lo?)
2. Os esposos poderiam ter mais consideração e
preocupação em expressar afeto, sem que isso
conduzisse, necessariamente, ao sexo.
Esta é uma necessidade feminina universal, mas a
maioria dos homens, em nossa cultura, falha consis-
tentemente nesta área.
3. Tanto as esposas como os esposos poderiam
esforçar-se por parecerem mais atraentes uns
para os outros.
Uma esposa que tem pouco cuidado com sua
aparência enquanto está em casa leva desvantagem

70

j, " , ·1 I I ·u I Ijl ' .11 • 1" Il 'li I~i


;'
/

quando comparada com outras mulheres que o seu


marido encontra. Um peignoir envelhecido ou rolos
no cabelo na hora errada fazem pouco para gerar
sentimentos ternos e afetuosos.
Igualmente, um marido que roda pela casa nos fins
de semana com uma camiseta de malha surrada e
uma barba por fazer não está demonstrando consi-
deração amorosa.
4. Os cônjuges podem mostrar consideração,
esperando para desabafar apenas quando o
outro estiver preparado para ouvir.
Se um dos cônjuges teve um dia ruim, seria uma
boa idéia esperar até depois do jantar para apresentar
ao outro as suas frustrações. E mais fácil para o
ouvinte receber más notícias quando já se alimentou
e está razoavelmente descontraído.
5. Não espere "ocasiões especiais" para fazer
alguma coisa agradável ao seu cônjuge.
Se a esposa cozinha na maioria das vezes, o
marido pode ganhar muitos pontos levando-a com
mais freqüência para jantar fora. Não precisa ser um
restaurante luxuoso. As vezes, sair apenas para co-
mer um hambúrguer ou uma pizza pode ser um alívio
para uma esposa cansada e superocupada. Também
mostra uma consciência de quanto trabalho ela faz
na cozinha e o reconhecimento de que ela necessita
de uma folga.
Ao mesmo tempo, a esposa não deve esperar flores
e outras surpresas sem fazer coisas semelhantes para
o marido. Se ele gosta de futebol, ela poderia
fazer-lhe uma surpresa, dando-lhe os ingressos para
ir ver seu time favorito Jogar. Se ele gosta de música,
oferecer-lhe convites para um concerto que ele iria
apreciar, e assim por diante.
6. Ouça! Apenas ouça, sem dar conselhos, sem
que seus olhos fiquem vagando na direção da
TV ou das manchetes do jornal.
E não deixe que seus olhos se desviem. Esforce-se
por dar atenção completa, pois o amor não é apenas
-
- e, açao.
emoçao:

71
7. Seja pontual.
Uma pessoa habitualmente atrasada é um desas-
tre. uma imposição, irritante. Alibis e racionaliza-
ções não resolvem, depois de algum tempo. Ser
pontual é um modo de estabelecer e manter bons
relacionamentos.
8. Assuma sua parte de responsabilidade.
Seja no trabalho doméstico, cuidando dos filhos,
tratando do jardim, mantendo os registros da família,
ou outra qualquer atividade, nunca se esqueça de
cumprir a sua parte. Aliás, faça a sua parte e mais
15 por-cento. (Acrescente os 15 por-cento, PC?rque
sempre haverá esta diferença entre o que voce e a
outra pessoa acham que você deve fazer.)

A Ira Oculta Provoca Depressão


A esposa de Iack estava internada num hospital
psiquiátrico. Três psiquiatras haviam assegurado a
ele Que sua esposa nunca mais se recuperaria. Duran-
te os vários anos em que havia estado internada na-
quela instituição, ela não havia mostrado o menor
sinal de melhora. Buscando encontrar um apoio
moral, Jack compareceu a uma reunião de um grupo
de homens que estava liderando, sob o patrocínio da
Yokefellow.
Jack era um médico com bastante prática, uma
boa mente e um senso de humor sarcástico. Também
era um homem profundamente perturbado. Men-
cionava sua ambivalência repetidas vezes no grupo.
Ele não queria divorciar-se de sua esposa, uma
esquizofrênica sem cura. No entanto, precisava de
uma mãe para o seu filho pequeno.
Numa reunião em grupo da Yokefellow, conduzida
de maneira apropriada, a pessoa compartilha senti-
mentos, não fatos. Não é permitido aconselhar.
Ninguém pode dizer: "Você não pode sentir-se
assim", pois trabalhamos com base na suposição de
que todos os sentimentos são válidos. Os membros
do grupo observam a regra da confidência: nada
daquilo que é dito entre o grupo é mencionado fora

72
das sessões. Outra regra básica envolve um alvo de
trinta minutos por dia de leitura, meditação e oração.
De início, nosso grupo supôs que o problema era
única e exclusivamente a condição mental irreme-
diável da esposa de Jack. Todos nós sentíamos pena
de Jack e compaixão por Margareth, a quem não
conhecíamos.
Passaram-se alguns meses, e então descobrimos a
raiz do problema de Jack. Ele havia-se categorizado
como sendo um marido bom demais. Esta era a causa
da doença mental de sua esposa e a razão funda-
mentai da ansiedade dele próprio.
Iack podia sorrir - com tristeza - mas nunca ria.
Aliás, ele raramente expressava alguma emoção -
ira, amor, ódio ou medo. Não que estivesse isento
de sentimentos. Ele simplesmente os havia enterrado
tão profundamente que não mais percebia a sua
existência.
Passei a almoçar ocasionalmente com jack e co-
mecei a compreendê-lo melhor. Ele tinha uma mente
fria e analítica, que podia devastar qualquer afirma-
ção que achasse não ser perfeitamente lógica. Tam-
bém possuía uma arrogância intelectual calma, uma
atitude julgadora, que manifestava de vez em quan-
do. Considerava as emoções como sendo esquisitas e
um tanto ridículas. Sempre enunciava as palavras
sem pressa, de uma maneira melancólica e ligeira-
mente sarcástica.
Entre outras coisas, Iack compartilhou comigo que
sentia desprezo pelo tipo de livros que sua esposa lia.
Comecei a perceber por que Margareth havia caído
em profunda depressão. Compreendi que este tipo de
menosprezo silencioso expressado através dos anos
podia levar a pessoa primeiramente ao desespero,
depois à insanidade.
Há um axioma psiquiátrico que diz que não se
pode expressar ira e sentir-se deprimido ao mesmo
tempo. Margareth não podia expressar sua ira, por
duas razões: ela não era uma pessoa irada, e seria
difícil ficar zangada com Jack- ele era "bonz inho
demais". Mas ele podia ser mansamente devastador

73
com um sorriso brando. Margareth simplesmente não
foi capaz de viver à altura deste protótipo simpático
e lógico de intelectualidade. A saída que encontrou
foi cair em depressão, que é geralmente a hostilidade
voltada para o interior.
Iack sentiu-se bem no grupo. Passou a tirar meia
hora por dia para ler, meditar e orar. Começou a
compreender algumas coisas sobre a personalidade
humana que nunca compreendera antes. Podíamos
perceber que ele estava mudando, passando do lado
frio do espectro emocional para o lado quente.
Iack visitava sua esposa regularmente, e embora
pudéssemos apenas presumir o que se passava pela
mente e natureza emocional daquela mulher, os
resultados líquidos foram maravilhosos. Margareth
começou a recuperar-se, e antes mesmo do final do
ano já estava inteiramente curada. Isto, apesar dos
pronunciamentos de três psiquiatras de que ela
nunca mais se recuperaria. A mudança operada em
Iack havia sido o remédio para a cura.

Maridos Que São IIBonzinhos" Demais


o marido "bonz irrho" demais poucas vezes se
permite sentir ou expressar suas emoções. Um ho-
mem assim tem muito medo de sua ira, e, ao invés de
expressá-Ia, ele simplesmente faz cara feia ou torna-
se rígido e frio, ou então sardônico. Conheci várias
esposas que terminaram num consultório psiquiá-
trico em resposta a maridos como estes. Em tais
instâncias, geralmente é a esposa que se sente em
falta e por isso culpada, enquanto o marido perplexo
recebe a simpatia de amigos e parentes.
A esposa de um homem deste tipo geralmente
sente-se culpada quando fica irada ou faz uma
crítica. Afinal de contas, ele é um marido tão bom e
todos que o conhecem simplesmente o adoram. Ele
geralmente é um hóspede simpático e muitas vezes
uma figura destacada na comunidade. Mas na maio-
ria dos casos, é justamente ele quem precisa mais de
psicoterapia.

74

i Ih· I ., " ,..


Roger era uma variação deste caso. Um homem
muito gentil, reservado e até tímido, ele veio ao
Centro de Aconselhamento de Burlingame porque se
envolvera numa briga de um restaurante. Ele havia
ficado tão furioso Que foram precisos seis policiais
para segurar o homem e colocá-lo no carro de
polícia. Esta não era a primeira vez em que havia se
metido numa briga. Roger recebeu a pena de liber-
dade condicional, com a condição de que fizesse
uma psicoterapia.

Era difícil de acreditar que uma pessoa tão gentil,


retraída e passiva pudesse causar um tumulto tão
explosivo e violento. Mas, no decorrer de suas ses-
sões de Integração Primai, comecei a compreender
a razão, à medida que ele revivia as feridas primais
sofridas na infância - os vários espancamentos de
um pai sádico, o abandono de sua mãe e centenas de
outras feridas de natureza variada.
Nas sessões primais, a pessoa geralmente experi-
menta, em primeiro lugar, as dores que sofreu na
infância, ou seja, a Dor PrimaI. 7 Depois vem o
temor, misturado com a Dor. Seguem-se a ira e a
resposta de sobrevivência à dor, que é dada por
Deus. No caso de Roger, a ira, quando finalmente
aparecia, manifestava-se de maneira violenta. Da-
mos raquetas de tênis para nossos clientes, para que
possam bater no chão ao se sentirem irados ou
frustrados. Durante uma das sessões, quase no final,
Roger quebrou duas raquetas de tênis, batendo con-
tra a parede. As raquetas pareciam pequenas lascas
de lenha quando ele terminou.
"Fez-me tanto bem", ele disse mais tarde, " saber
que eu tinha permissão - sem estar bêbado - para
mandar meu pai parar de me perturbar, de gritar com
a minha mãe e de expressar toda aquela ira enterrada
que tem estado em fermentação bem lá no fundo de
minha estrutura emocional durante todos estes anos.
Eu não fazia a menor idéia de que ela estava lá.
Puxa, mas que alívio! E agora sinto-me mais relaxado

75
do que em qualquer outra ocasião de minha vida. Eu
nem sabia que estava tão tenso até que descarreguei
toda aquela amargura e aquele ódio. Agora vejo por
que tenho agido com tanta hostilidade nos relacio-
namentos que tive com várias mulheres que namorei.
Tudo tornou-se bem claro nas sessões de terapia. Era
a ira que eu sentia por minha mãe, só que transferida
para aqueles relacionamentos."
A passividade gentil de Roger havia escondido um
verdadeiro vulcão de ódio reprimido, que havia
distorcido todos os seus relacionamentos e estava
ameaçando fazer com que ele acabass·e na prisão.
Quando lidou com este ódio, deixando que se mani-
festasse num ambiente apropriado e permitindo a si
mesmo que sentisse algumas dores do passado, ele
tornou-se uma pessoa normal, ao invés de neurótica.
Muitas pessoas acham que porque algum evento
ocorreu há vinte ou quarenta anos atrás, a emoção
ligada a este evento também reside no passado. No
entanto, agora podemos saber, e demonstrar, sem a
menor dúvida, que mesmo que o evento tenha
acontecido no passado, os sentimentos referentes a
esse evento ainda estão dentro de nós. Se estas
emoções são a ira, o temor e a dor, e não são
expressos ou descarregados, então podem estar
certos de que estes sentimentos ainda estão causan-
do danos presente.
Um de nossos ajudantes na Integração PrimaI, cuja
própria terapia livrou-o de muitas feridas antigas e
padrões de comportamento neurótico, fez uma colo-
cação esplendorosa: "Cacla lágrima reprimida é um
prisma pelo qual dores da infância são distorcidas."

Sabedoria do Dia-a-Dia

Uma grande medida de sabedoria prática é apre-


sentada diariamente no jornal pela renomada colu-
nista Abigail van Burerr, em sua coluna conhecida
como "Dear Abby". Em dois dias sucessivos, ela

76

U, i L,. l l , :., ,1_. ... I I ,. II ~ l~ I I 4j __ .4-.. ~~.


escreveu dez mandamentos incisivos para as esposas
e dez para os maridos. Estão relacionados abaixo:
Para as Esposas
1. Não fique falando para ele sobre os outros
homens com quem você poderia ter-se casado.
2. Não mostre antes do café da manhã as contas a
serem pagas.
3. Não tente iniciar uma conversa enquanto ele
esteja lendo ou assistindo a um jogo na televisão.
4. Não tente corrigi-lo na frente de outras pessoas.
5. Não tente provocar ciúmes nele.
6. Não fale mal dos parentes dele.
7. Não coloque uma camisa sem botão na gaveta
dele.
8. Não telefone para ele no trabalho, a não ser que
seja absolutamente necessário.
9. Não use a lâmina de barbear dele.
10. Não ameace deixá-lo, a não ser Que você tenha
um lugar melhor para onde ir.
Para os Maridos
1. Jamais se esqueça do aniversário dela, do ani-
versário de casamento, do Natal ou do Dia dos
Namorados.
2. Não fique falando das garotas bonitas lá do
escri tório.
3. Não pegue alguma coisa para ler enquanto ela
está falando com você.
4. Nunca traga um amigo para o jantar sem pri-
meiro avisá-Ia.
5. Não saia com o carro dela sem depois repor a
gasolina.
6. Se você sabe que vai chegar atrasado em casa,
telefone e avise a ela.
7. Não tente provocar ciúmes nela.
8. Cuide de sua aparência durante o fim de sema-
na.
9. Se você sabe que está errado, não seja teimoso;
confesse o seu erro.
10. Jamais vá dorm ir sem antes dizer que você a
ama.

77
É claro que outros problemas surgirão em qualquer
casamento e não podem ser solucionados por estas
vintes dicas de sabedoria conjugal. Mas qualquer
casamento pode ser melhorado se estas instruções
simples forem obedecidas fielmente.

o Marido Perfeccionista
Certo homem, que podia ser classificado como
perfeccionista, era casado com uma mulher bastante
relaxada e espontânea. Ao chegar em casa certa
noite, encontrou uma sala cheia de brinquedos de
crianças, passou por cadeiras e mesa empilhadas de
roupa s uja e adentrou uma cozinha toda bagunça-
da. Ao olhar em volta de si, comentou, dirigindo-se
à esposa: "A casa não só está uma bagunça, e, se a
polícia fosse chamada, certamente diria que há
evidência de que houve uma luta aqui."
Sendo uma pessoa um tanto rígida, este homem
havia escolhido uma esposa Que era mais espontânea
e extrovertida. No entanto, ela não era uma pessoa
muito organizada, e largava isto, para fazer aquilo,
depois largava aquilo, para fazer outra coisa mais
interessante. Ela inconscientemente o havia esco-
lhido porque ele era muito organizado e sempre
parecia estar com tudo sob controle.
Agora ele estava sentindo: "Eu queria uma pessoa
espontânea, não alguém relaxada." E ela pensava:
"Eu Queria alguém que estivesse com tudo sob con-
trole - sempre competente, mas não demasiado
eficiente. "
A solução para o dilema deles, é claro, era um
acordo, paciência e tolerância, juntamente corn. um
esforço para se ajustarem, aos poucos, às necessi-
dades um do outro.

Algumas Razões Inconscientes Pelas Quais as Pes-


soas Escolhem Seus Cônjuges
Basicamente, as pessoas casam-se para suprirem as
suas necessidades. Mas são raras as vezes em que
têm consciência plena das razões que as levaram a

78
escolher o cônjuge que escolheram. Aqui estão al-
guns exemplos que ilustram as muitas e complexas
razões desta escolha.
Certa mulher, cujo pai era um tirano e com quem
não se relacionava bem, casou-se com um homem
muito passivo, porque tinha um- medo inconsciente
de que um homem de caráter mais forte pudesse
provocar aquele temor que ela sentia na infância.
Outra mulher, que tinha um relacionamento de
séria incompatibilidade com o pai, casou-se com um
homem que tinha certas características físicas e
emocionais parecidas com as do pai, num esforço
inconsciente de reviver o relacionamento fracassado
e "corrigi-lo". .-
Certa jovem, que descreveu seu pai como sendo
"absolutamente maravilhoso, amável, carinhoso e
bom". casou-se com um homem bastante maduro e
em muitos aspectos uma pessoa admirável. Aos
olhos dela, no entanto, ele nunca conseguiu chegar à
altura do pai, que, para ela, era uma pessoa extraor-
dinariamente maravilhosa. Ela despendeu muito
tempo e energia, tentando fazer dele uma cópia
exata do pai. Estes estorços o perturbaram e por
pouco não levaram ao divórcio.
- Certo homem cuja mãe era dominadora e cumpul-
siva casou-se com uma mulher afetuosa e carinhosa.
Como ele nunca havia expressado a ira oculta que
sentia pela mãe, acabou descarregando-a sobre a
esposa, e quase arruinou o casamento. Depois de
dezoito anos de casado, ele descobriu, através da
terapia intensiva, que sua ansiedade e tensão exces-
sivas tinham raiz naquele ódio que sentia pela mãe e
que não fora extravasado.
Um homem muito gentil e carinhoso, que recebeu
pouco ou nenhum amor da parte da mãe, casou-se
com uma jovem meiga, passiva e assustada, que
estava pronta para fazer tudo que ele desejasse.
Quando ela teve coragem bastante para cursar uma
faculdade à noite e arranjar um emprego, o casa-
mento quase foi desfeito. Esta mulher, acostumada
aos afazeres da casa, havia-se transformado numa

79
pessoa silenciosamente eficaz e segura de si, que não
tinha mais a intenção de receber ordens de ninguém.
Foram necessárias várias horas de terapia para fazer
com que o c asarnerrto se acertasse. -
Casamento - O Relacionamento Mais Difícil
Um autor de uma biografia de Clark Gable citou
que o ator teve cinco esposas durante sua vida,
sendo que quatro delas tiveram um total de dezesseis
maridos durante suas vidas. Ele havia se divorciado
três vezes, ficado viúvo uma vez e sido amante "mais
vezes do que se possa calcular ou avaliar".
Ainda existem milhares de mulheres hoje cujos
corações disparam quando vêem Clark Gable, o
grande amante, nas telas.
Infelizmente, homens atraentes demais e mulheres
fabulosas e lindas, em geral, não têm um casamento
estável. Casamentos de boa qualidade são edificados
sobre o amor, companheirismo, boa vontade e ma-
turidade, além de compromisso, fidelidade e inte-
gridade.
Apesar das muitas previsões de que a família norte-
americana, em geral, está desaparecendo, ela está
em tão boa forma quanto em qualquer outra era do
passado. Como prova disso, Mary Io Bane apresenta
as seguintes estatísticas:
Mais famí lias têm dois pais hoje (82 por-cento) do que nos
dias coloniais (70 por-cento).
O que o divórcio faz nas famílias hoje, a morte fazia no
passado. Enquanto o índice de morte tem caído, o divórcio tem
aumentado, mas a rnaioria das pessoas divorciadas casa-se
novamente, tendo um casamento que perdura.
Não há prova de que as mães do passado, que trabalhavam
o dia inteiro sem a ajuda de máquinas, dedicavam mais tempo
aos filhos do que as mães que trabalham fora nos dias de hoje. 8
É muito bom ter fé na família de nossa sociedade-
hoje em dia e do futuro, mas também creio no
divórcio como um último recurso, quando é a única
solução para uma situação intolerável. Ann landers
afirma: "Quando o casamento se estraga, e não
existe mais amor, respeito ou lealdade, creio que é
ridículo tentar mantê-lo, como se fosse algo quebra-
do que pudesse ser facilmente recuperado colando-

80
se os pedaços. Ou, quando uma das partes quiser
desistir, por Qualquer razão, creio que é melhor
dissolver o casamento com o máximo de dignidade e
graça possível." 9 .
~ Já vi muitos casamentos doentios recuperando-se.
As vezes a causa da irritação é um problema finan-
ceiro, incompatibilidade sexual ou um conflito en-
volvendo parentes. Estes são basicamente "proble-
mas conjugais" e muitas vezes podem ser resolvidos
tranqüilamente. Mas problemas graves de persona-
lidade são outra questão. Neste caso, o mais indi-
cado seria fazer urna terapia intensiva, como a de
I ntegração PrimaI. É surpreendente o índice de casa-
mentos que voltam a funcionar quando o problema
de personalidade é resolvido. Quando existe um
pouco de esperança, por menor que seja, creio que
se deve tentar manter o casamento e fazê-lo voltar a
dar certo.

81
• •
11M!IIlBllIllI 111111 i11! 11111 lBUII IIIIIIIIIIIIIIHIIIUB
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Relacionando-se com. os Filhos e


COIllÓ Sua Infância Afetou Você

A mãe sente mistura de amor e ressentimento, afeição e


ira para com seu filho, mas não tem consciência disso.
- Nancy Friday

Já foi dito que existem três modalidades quanto a


fazer alguma coisa: faça-o você mesmo, peça a
alguém para fazê-Ia ou proíba seus filhos de fazê-Ia.
Uma mãe jovem estava olhando um certo brinque-
do que ia comprar para seu filho.
- Este aqui não é muito complicado? - pergun-
tou ao vendedor.
- Este aí, madame - respondeu o vendedor - é
um brinquedo educacional, desenhado para preparar
a criança para a vida no mundo complicado de hoje.
De qualquer maneira que montar o brinquedo, estará
errado.
As crianças, eventualmente, podem ser maravi-
lhosas, irritantes, encantadoras, maldosas, manipu-
latórias, agradáveis e enlouquecedoras.
Um psicólogo jovem e brilhante escreveu um livro
intitulado Ten Commandments For Parents (Dez
Mandamentos Para os Pais). Três anos depois ele e
sua esposa tiveram um filho, e ele revisou o livro e
publicou-o sob o título Ten Suggestions For Parents
(Dez Sugestões Para os Pais). Depois que tiveram o

83
quarto filho, tornou a reeditar o livro, usando o título
Ten Possible Hints For Parents (Dez Possíveis Dicas
Para os Pais).
Estudos recentes mostraram que as crianças dife-
rem grandemente já a partir do momento do parto.
Durante as primeiras semanas, algumas crianças são
brilhantes, bem-humoradas e alerta, enquanto outras
parecem ser sem graça e apáticas. Algumas das
crianças estudadas dormiam profundamente durante
a noite, enquanto outras choravam e faziam pirraça e
acordavam a toda hora. À medida que cresciam, os
bebês no grupo continuavam a mostrar as mesmas
diferenças gerais de temperamento. As crianças
irrequietas continuaram a chorar e fazer pirraça;
as crianças bem-humoradas e "f'áce is" continuaram
tratáveis.

As Crianças Nascem Diferentes

Existe uma diferença constitucional básica entre as


crianças. A hereditariedade tem uma parte vital em
determinar a disposição e natureza geral da criança.
Certa criança gosta de ser acaric iada, enquanto
outra, por nenhuma razão aparente, recusa-se a ficar
no colo e remexe-se para sair do colo da mãe.
Felizmente, este tipo de criança é uma minoria.
Os pais são muitas vezes compreensivelmente
confundidos por uma criança "clif ic i l". E até mesmo
as crianças mais receptivas podem trazer problemas
desafiadores para os pais à medida que crescem.
Alguém já definiu um pai como uma pessoa que dá
aulas sobre nutrição apropriada para um garoto que
tem mais de dois metros de altura e come batatas
fritas, hambúrgueres e bebe coca-cola. Ser pai às
vezes pode ser uma experiência frustrante.
Certo observador da antigüidade escreveu: "Nos-
sos jovens hoje em dia gostam de luxo. São mal-
educados, não gostam de autoridade e adoram bater
papo, ao invés de fazer exercícios. Não mais se
levantam quando os mais idosos entram na sala.
Contradizem seus pais, fazem tagarelices diante de

84
visitas, engolem sua comida rapidamente e tiranizam
seus professores" (Sócrates, quinto século a.C.}.
As coisas não mudaram muito desde então. Mas o
problema básico e principal foi intensificado pelo
poder impressionante da televisão. Um estudo recen-
te revelou que a criança verá em média umas treze
mil mortes violentas na televisão durante os anos de
formação. Um relatório de cinco volumes, que
custou 1 milhão e 800 mil dólares, feito pelo Depar-
tamento Médico dos Estados Unidos, indica que a
carnificina da televisão já causou, sem dúvida algu-
ma, um comportamento agressivo da parte de muitas
crianfas, ~onfirmandoaquilo Que já sabíamos.

Satisfação Infantil
Muitas pessoas olham para a sua infância como
tendo sido uma época feliz, ou pelo menos de alegria
inigualável. Sigmund Freud comentou sobre isto:
Quando o adulto recorda sua infância, ela lhe parece como
uma época de regozijo, em que a pessoa se contenta com o
momento e olha para o futuro sem aspiração ou desejos. E por
esta razão que tem ciúmes de seus filhos. Mas os próprios
filhos, se pudessem informar-nos ... provavelmente fariam rela-
tórios diferentes. Parece que a infância não é aquele idllio em
que nós posteriormente a transformamos, mas, pelo contrário,
nela, as crianças, através dos anos, têm tido vontade de se
tornarem grandes e imitar os adultos ... Uma criança é absoluta-
mente egoísta; sente seus desejos de maneira intensa e luta sem
remorsos para satisfazê-los, principalmente contra seus com-
petidores, outras crianças, e antes de tudo contra seus irmãos
e irmãs. Declaro seriamente como sendo a minha opinião que
uma criança é capaz de avaliar a desvantagem que a espera por
causa de um irmão que vai nascer. 1

A observação de Freud agora está sendo validada


de maneira nova e impressionante. Através do uso da
terapia de I ntegração Primai no Burlingame Counse-
ling Center, já fizemos centenas de adultos retorna-
rem à infância. Eles reviveram episódios esquecidos
de sua infância, pri ncipalmente os traumáticos, com
a mesma intensidade e clareza que os acontecimen-
tos originais. Ficam quase sempre surpresos com os
incidentes reprimidos que revivem. No processo de
experimentar estes eventos, podem ver como suas

85
vidas presentes estão sendo afetadas por eles e
descarregar a ansiedade que foi criada pelos traumas.

Crianças e o Tempo
Se já é difícil ser pai, é mais desc onoertante ainda
ser uma criança pequena. Por exemplo, as crianças
pequenas não têm noção de tempo. Ainda não
aprenderam a dividir os I im ites de sua existência em
minutos, horas e dias. O "agora" para o infante,
chorando por sua mamadeira, é para sempre. Não há
passado, não há futuro, apenas o interminável pre-
sente. Até mesmo uma criança de quatro anos de
idade tem nenhuma ou pouca idéia do que significa
uma semana.
Quando nosso filho tinha quatro anos de idade,
sua mãe planejou levá-lo para visitar sua avó em Los
Angeles, a quatrocentas milhas de distância. Por
motivos de força maior, foi impossível ir naquele
sábado em particular. Então dissemos a Mike que
poderia ir na semana seguinte. Para ele, a semana
seguinte poderia ser no século seguinte. Por isso, no
sábado para quando a viagem havia sido primeira-
mente planejada, quando ninguém estava olhando,
Mike dirigiu-se à estação mais próxima e pegou o
primeiro trem. (Aconteceu que foi na direção certa,
senão ter~a acabado em São Francisco.)
Encontraram-no umas doze horas depois em São
José, onde foi retirado do trem e devolvido a nós.
Promessa era promessa, ele achava, e para quebrá-Ia
e adiar a viagem por uma semana - mês, ano,
século, para sempre - era um furo de contrato.
Poucos adultos reconhecem a confusão de uma
criança com relação ao tempo e a centenas de outros
conceitos dos adultos. A maioria não pode perceber
os sentimentos de desamparo ou falta de compre-
ensão, por parte das crianças, daquilo que pode
parecer um dos fatos mais simples da vida.
Censurar uma criança por não compreender, cha-
má-Ia de estúpida, irracional, irresponsável ou casti-
gá-Ia porque não consegue entender idéias e termos
adultos é desastroso para sua personalidade.

86

1.1 I I,
"Por outro lado", diz o psicoterapeuta de crianças,
Dr. Haim Ginott, "a superproteção é tão perigosa
quanto a falta de proteção. As crianças precisam ser
submetidas ao máximo que puderem suportar dentro
de sua capacidade, pois choques duros as esperam e
elas precisam estar preparadas para eles... Cada
idade e cada criança é capaz de suportar alguma
confusão e desilusão, e deve haver uma insistência
gentil, mas firme, para que ela as enfrente. Esta é
uma linha de conduta dlficil. mas pais preocupados e
sensíveis podem segui-la."2
Psicologistas de crianças concordam com este
princípio geral: Se uma criança se sente amada,
quase qualquer coisa que você fizer será bem aceita.
Se a criança não se sente amada, virtualmente ne-
nhuma técnica de criar os filhos será eficaz. E uma
das maneiras mais certeiras de fazer com que a
criança não se sinta amada é manter uma barreira
i nsistente e d iári a de críticas:
"Quantas vezes já o disse a você?"
"Quando é que você vai aprender?"
"Ah, pelo amor de Deus!"
"Mas o que é que está errado com você!"
"Use sua cabeça!"
"Não está me ouvindo?"
"Então você quer ficar aí e dizer-me Que ... "
E assim por diante. Uma dieta contínua de críticas,
que a criança percebe como sendo um ataque, vai
corroer sua auto-estima e aleijá-Ia emocionalmente.
Um resultado da perda de auto-estima pode ser um
comportamento aberrante: uSe não posso ter o amor
deles, vou atrair a atenção fazendo alguma coisa
má." Repressões contínuas por parte dos pais e
críticas podem ser a causa principal de comporta-
mento destrutivo.

A Crítica É Destrutiva
O l?r. Haim Cinott tem mais conselhos sadios para
os pais:
Procure lidar com a situação, não com a pessoa. Não ataque
a pessoa, como aconteceu com Larrv, de dez anos, que

87
quebrou um copo. Mãe: "O que é que há de errado com você?
Quantas vezes prec íso dizer-I he para ter mais cuidado?" Pai:
"Não é culpa dele. Ele é um desastrado. Nasceu assi rn ."
Tais críticas atacam a raiz da personalidade da criança: a
sua auto-estima. Uma criança pode acreditar em seus pais e
passar a agir conforme foi tachado. Se é chamada de "desas-
trada", vai comportar-se como tal. Recomendação: "O copo
quebrou. Precisamos de uma vassoura. O leite derramou, preci-
samos de um pano. ".3
Lembro-me de uma situação familiar que era triste
de ser observada. Uma mãe, que falava demais e era
dominadora, e um pai, excessivamente passivo,
tinham dois filhos. A filha era extrovertida e espon-
tânea, mas o filho mais novo, patologicamente tími-
do e retraído. Sua mãe apontava para ele em público
e dizia: "Clarence é tão tímido. Não fala muito."
Com isto ele retraía-se mais ainda para dentro de si
próprio e tentava desaparecer. Estava obviamente
sofrendo agonia em virtude do comentário em voz
alta, feito por sua mãe, de que ele era de alguma
maneira anormal. Ouvi sua mãe fazer comentários
parecidos com relação às deficiências dele pelo
menos uma dúzia de vezes.
Crianças Que Roubam e Mentem
Quando as crianças mentem constantemente, não
é porque resolveram tornar-se indivíduos em quem
não se possa confiar. Provavelmente aprenderam a
fazer isto como uma defesa contra acusações ou
ameaças constantes.,
Recordo-m.e quando ainda era criança como inva-
riavelmente reagia a qualquer acusação com uma
mentira. Eventualmente, mentia até mesmo quando
era vantajoso, para mim, falar a verdade, e depois
sofria as agonias de sentimento de culpa por causa da
mentira. Mais tarde, aprendi como um pai que
acusava muito havia feito com que me tornasse
defensivo e ansioso para evitar o castigo .
. Também roubava as coisas. Não sabia por quê;
simplesmente o fazia. Não era porque não havia
aprendido a diferença entre Naquilo que é meu e o
que é seu". Sempre sentia-me particularmente cul-
pado, mas sentimentos de culpa pareciam ser um

88
castigo de menor importância contra a vantagem de
roubar qualquer coisa. Muitos anos depois descobri
que estava simplesmente pegando as coisas - mui-
tas vezes coisas que particularmente não queria ou
de que não precisava - como um substituto do
amor.
Pais cujos filhos são perpetuamente desonestos
precisam indagar a si mesmos o que possam estar
fazendo para provocar tal comportamento.
Um jovem que abandonou a faculdade e foi envia-
do a mim para ser aconselhado disse: "Meus pais
sempre estabeleceram um padrão tão alto, que eu
possivelmente nunca poderia agradá-los. Se tirasse
média B, exigiam a média A. Se tirasse a média A,
exigiam que me envolvesse em atividades no cam-
pus. Eu não podia vencer, por isso abandonei a
faculdade." Ficou em silêncio por alguns minutos,
e então acrescentou:
"Minha mãe sempre me comparava com alguns
dos filhos das amigas dela. Fiquei pensando que
todos eles estavam destinados a estarem na Suprema
Corte, a andarem na lua ou escreverem livros best-
sellers. Sabia que nunca seria bom o bastante para
satisfazer minha mãe, por isso deixei de tentar. É
inútil."
Todos os pais querem que seus filhos "tenham
sucesso". Mas quando o padrão é colocado muito
alto, o filho sente que a única maneira em que
poderá vencer é pelo fracasso. Um menino que está
no ginásio, cujos pais brigam com ele todas as noites
para que prepare seus deveres escritos para. serem
entregues na hora certa, consegue derrotá-los por
colocar o seu trabalho escrito na lata de lixo no
caminho para a escola no dia seguinte.

Não Espere Mudanças Instantâneas


Às vezes, pais que aprendem princípios mais efi-
cazes de criar os filhos e mudam seus métodos ficam
perplexos quando não há uma melhora instantânea
no comportamento. Talvez uma criança tenha sido
rebelde ou retraída, ou talvez mentido ou roubado.

89
o fato de os pais terem --parado com suas acusações
ou substituírem a censura pelo incentivo não é
garantia de que a personalidade da criança será
alterada imediatamente. Assim como levou algum
tempo para que ela desenvolvesse tais características
indesejáveis, levará algum tempo para ela conseguir
relacionar-se com os pais, que mudaram sua abor-
dagem.
Haim Ginott diz:
Quando você sabe que seu filho ficou reprovado em algum
exame, não pergunte: "Você passou no exame? Tem certeza?
Falar mentira não vai ajudar. Sua professora contou-nos a
verdade." Alguns pais deliberadamente fazem estas perguntas,
para ver se a criança vai falar a verdade - para "ensinar-lhe
honestidade". E melhor dizer: "Sua escola informou-nos que
você não passou no exame. Estamos preocupados. Estamos
pensando como podemos ajudá-lo." Diga aos seus filhos que
não há necessidade de mentir. Você está preparado para ouvir
verdades agradáveis da mesma maneira que verdades desa-
gradáveis.4

Crianças Relaxadas
Uma certa pequena porcentagem de crianças pa-
rece ter gosto pela ordem desde o nascimento. As
outras parecem ter o ~to ide que a desordem
vem logo depois da santidade. I nsistência, bajula-
ção, ameaças, promessas, chantagens, um bom
exemplo - todas estas coisas parecem não ter efeito
sobre uma criança cuja vida é dedicada à desordem.
Um adolescente escreveu esta carta para a colu-
nista Abigail van Buren:
"Querida Abby: A resposta que você deu para a mãe que
tinha uma batalha constante com seus filhos adolescentes
porque não queriam deixar seus quartos arrumados está errada.
Sou um menino de dezesseis anos que vim morar com meu
pai e minha madrasta no último verão. Antes de vir para cá,
por causa da bagunça, tinha que pular de minha porta para
minha cama (se é que podia encontrá-Ia). Agora meu quarto
fica tão arrumado e em ordem que parece ser a sala de
operações de um hospital.
Lutei enquanto pude, mas meu estômago e minha madrasta
finalmente venceram. Não podia tomar café enquanto minha
cama não estivesse arrumada. Ela colocou uma cesta de roupas
em meu ban heiro e nada era lavado se não estivesse dentro
dessa cesta. Tudo que era deixado no chão era colocado numa

90

1< l . I ~h L LI •
caixa na garagem, e eu tinha que ir até lá para pegar as coisas
de novo.
Ainda bem que minha madrasta não fez o que você aconse-
lhou outras mães a fazerem, que é: 'Não diga mais nada. Man-
tenha as portas deles fechadas e entre em seus quartos apenas
para mudar os lençóis da cama e arrumá-Ias uma vez por sema-
na. Quando se cansarem de viver naquela bagunça, acabarão
arrumando tudo: (Assinado), Orgulhoso do Quarto e Bem-
Alimentado. //

Gostaria de encontrar esta madrasta esperta. Sua


solução foi bem mais criativa do que a maneira
padronizada. Brigar, reclamar e fazer tratos não são
técnicas usadas no mundo em geral. Usar tais méto-
dos com uma criança não a prepara para a vida. A
solução da madrasta foi baseada na maneira como
funciona o mundo - não por ameaças e chantagens,
mas simplesmente à base de causa e efeito.' No caso
dele, ela havia anunciado as conseqüências bem
baixinho: "Quando sua cama não estiver arrumada,
não haverá café. Quando suas roupas não estiverem
dentro da cesta, não haverá roupas limpas." Esta é
mais ou menos a maneira como o mundo opera.

Conselhos dos Filhos Para os Pais


Alguns dos melhores conselhos que os pais podem
obter é dos próprios filhos. Uma professora da quarta
série do 1° grau pediu que seus alunos fingissem que
eram Ann Landers dando conselhos aos pais sobre
como criar seus filhos. Aqui estão alguns dos boca-
dos preciosos de sabedoria que resultaram:
"Não fique sempre dando ordens. Se você sugerir
alguma coisa, ao invés de dar uma ordem, farei esta
coisa mais prontamente."
"Não fique mudando de idéia sobre o que você
quer que eu faça. Resolva-se e mantenha esta reso-
lução."
"Cumpra suas promessas, tanto as boas como as
más. Se você prometer uma recompensa, deve con-
cedê-Ia. Se você prometer um castigo, deve apli-
cá-Ia."
"Não me compare com outra pessoa, principal-
mente com um irmão ou irmã. Se você me considerar

91
melhor ou mais i ntel igente, então alguém se sentirá
ferido. Se você me considerar pior ou menos inteli-
gente, então eu serei o ferido."
"Deixe que eu faça o máximo possível por mim
mesmo. Esta é a maneira como aprendo. Se você
fizer tudo para mim, nunca serei capaz de fazer coisa
alguma por mim mesmo."
"Nã o corrija meus erros diante de outras pessoas.
Diga-me como posso melhorar quando ninguém está
por perto."
....Não grite comigo. Isso faz com que eu grite de
volta e não quero ser uma pessoa que fique gritando."
"N'ão conte mentiras em minha presença e nunca
me peça que conte mentiras para ajudar você. Isso
faz com que eu pense coisas más sobre você e que
meu conceito sobre mim mesmo seja baixo, mesmo
se estou fazendo um favor a você."
"'Quando eu fizer alguma coisa de errado, não
tente fazer com que e~ tenha que contar a você por
que fiz isto ou aquilo. As vezes eu próprio não sei por
que o fiz."
....Não me dê tanta atenção quando eu disser que
estou com dor de barriga. Fingir que estou doente
pode ser uma boa maneira de livrar-me de coisas que
não quero fazer ou de ir a lugares onde não quero ir."
IIQuando você estiver errado sobre alguma coisa,
confesse-o. Isso não vai diminuir minha opinião
sobre você. Simplesmente fará com que eu também
o confesse quando estiver errado."
....Trate-me da mesma maneira como você trata seus
amigos. Então serei seu amigo e você meu. Só porque
as pessoas estão relacionadas umas às outras não
quer dizer que não podem ser amáveis umas com as
outras."

Pais Que Gritam com os Filhos


Uma das coisas mais difíceis de serem compreen-
didas por uma criança é por que os pais poclern gritar
com ela, mas ela não pode gritar com eles. E como
um menino novo o colocou: "Tenho que mostrar
respeito para com meus pais, mas eles não me

92
respeitam. Gritam comigo o tempo todo. Ficam com
raiva de mim, mas, se fico com raiva deles também,
então sou castigado, e dizem que sou uma criança
má. Não consigo compreender isto."
Nem eu. Não há menos razão para que os pais
respeitem os filhos do que há para que os filhos os
respeitem. Aliás, podem existir até mais razões para
respeitar a criança, pois a personalidade da criança
está sendo formada a cada dia, e uma enxurrada de
acusações e rebaixamentos irados cria uma persona-
lidade neurótica.

Vivendo à Altura das Expectativas

Um grupo de psicólogos educacionais de Harvard


escolheu uma escola pública perto de São Francisco
e fez testes de inteligência com estudantes de uma
série. Escolheu a esmo um grupo de crianças que ia
desde as menos' inteligentes às mais brilhantes e disse
aos professores que este grupo compunha o elemen-
to de inteligência mais alta. Um ano depois voltou e
fez outro teste de inteligência com o grupo inteiro
daquela série. Foi descoberto que os membros da-
quele grupo em particular haviam aumentado seu
Q.I. em média de dois a vinte e cinco pontos naquele
curto período, bem mais do que as outras crianças.
Esta experiência ilustra claramente a "teoria das
expectativas realizadas". Os professores esperavam
que as crianças "inteligentes" tivessem um desem-
penho bom, deram-lhes atenção especial, incentiva-
ram-nas e trataram-nas com afeição e respeito. Até
mesmo as crianças menos brilhantes no grupo rea-
giram de maneira extraordinária a estas expectativas.
Uma 'experiência realizada mais tarde, em Oklaho-
ma, confirmou que estes resultados não eram únicos.
Diant~ disto, podemos verificar que, quanto mais
uma criartça é tida como sendo pouco inteligente ou
vagarosa, Sendo tratada como tal, menos ela tem
motivação para lutar contra estas circunstâncias.
Muitas crianças simplesmente desistem de se esfor-
çar e procedem da pior maneira que se possa esperar.

93
Os "intocáveis" na índia, quando eram olhados
com desprezo, pareciam ser incapazes de subir até o
nível tido em vista para eles. Mas quando Mahatma
Gandhi aboliu este preconceito, muitos deles prova-
ram serem bem capazes. Hoje muitos deles ocupam
postos governamentais importantes.
O mesmo princípio parece ter vigorado quando
Jesus deu a Simão o nome de Pedro (Na Rocha").
Numa hora em que Simão demonstrava uma insta-
bilidade emocional considerável, Jesus lhe disse:
"Pots também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta
pedra edificarei a minha igreja, e as portas do hades
não prevalecerão contra ela.o s Pedro mais tarde
tornou-se o líder da igreja em Jerusalém. É claro que
Jesus fez mais do Que mudar o seu nome. Ele o
aceitou e o perdoou, mesmo diante de sua negação
enfática no fi nal.

Os Professores Também Afetam as Crianças


Para que aos pais não seja atribuída uma medida
excessiva de culpa e para que não se sintam culpados
sem necessidade, deve ser enfatizado que forças fora
do lar também têm uma influência muito grande no
desenvolvimento de uma criança. A principal entre
elas é a escola.
Naomi White, uma professora, compartilhou o
seguinte:
"Iá ensino no ginásio há dez anos. Durante esse
tempo passei tarefas para um assassino, um evange-
lista, um pugilista, um ladrão e um imbecil, entre
outros.
"'O assassino era um menino quieto, que sentava
na primeira fila e olhava para mim com olhos azuis-
claros; o evangelista, sem dúvida o menino mais
popular da escola, representava o papel principal na
peça dos juniores; o pugilista almoçava perto da
janela e nos intervalos soltava uma gargalhada rouca
que espantava até mesmo os gerânios; o ladrão era
sedutor, alegre, e tinha uma canção nos Jábios; e o
imbecil se assemelhava a um animal de olhos peque-
nos, sempre procurando as sombras.

94

.1. I ,,' L lo i ,-, ; I. , ,Ia j I J J. li. I ~~


"O assassino aguarda a pena de morte numa peni-
tenciária estadual; o evangelista descansa no cemi-
tério da igreja da vila desde o ano passado; o
pugilista perdeu um olho numa briga em Hong Kong:
o ladrão, se ficar na ponta dos pés, pode ver, da
prisão municipal, as janelas de meu quarto; e o
imbecil de olhos gentis hoje bate a cabeça contra
uma parede acolchoada no asilo estadual.
"Todos estes alunos sentaram em minha classe e
olhavam para mim com expressão grave por cima de
carteiras marrons gastas. Devo ter sido uma grande
ajuda para eles - ensinei-lhes o esquema de rimas
dos sonetos elisabetanos e como diagramar uma
sentença. "
O sistema escolar, com seus dez mil fatos irrele-
vantes e listas infinitas de guerras e reis, também leva
sua parte de culpa quando as coisas não dão certo.
Professores com uma classe de trinta a trinta e cinco
alunos não podem fazer da escola uma fonte de
constante alegria, mas, em muitas instâncias, pode-
riam fazer uma trabalho melhor. Aquilo que um
professor (ou conselheiro, ou pregador, ou pai) real-
mente é pode ser bem mais importante do que aquilo
Que ele ou ela ensina.
A Imagem Paterna
Um jovem queixou-se a mim que sua nova esposa,
que também era jovem, não o respeitava. Perguntei
como ela revelava esta falta de respeito.
Ela não faz aquilo que eu ordeno.
Você acha que ela deve obedecer a você?
E claro! E assim que deve ser, não é?
Diga-me como era o relacionamento de seus
pais.
Papai dizia a mamãe o que fazer e ela o fazia.
Ele era o patrão, da maneira que deve ser, e não
aturava respostas nem de mamãe nem de nós, cri-
anças.
Nada que eu dissesse podia convencê-lo de que os
casamentos sadios não se baseiam na obediência por
parte do marido ou da mulher. Seu pai, a quem
admirava e temia, era seu padrão. Seus relaciona-

95
mentos com mulheres eram baseados naquilo que
havia visto e experimentado durante aqueles dezoito
anos em casa. Pelo que podia ver, havia funcionado
com seus pais, e não havia outra maneira. Não podia
aceitar o meu conceito de casamento. Sua esposa
divorciou-se dele, é claro.
O poder de um padrão não pode ser superesti-
mado. No entanto, aquilo que a criança percebe
em casa e na escola fornece a base para padrões
de comportamento que duram a vida inteira.
Um estudo de professores revelou que na classe
eles todos tendiam, até certo grau, a lidar com as
crianças precisamente da mesma maneira que seus
pais lidavam com eles quando eram ainda pequenos.
Mais e mais casos de crianças espancadas estão
aparecendo, e a sociedade fica com razão horrori-
zada diante de tais ocorrências de brutalidade.
Muitas autoridades condenam a idéia de qualquer
castigo físico. Mas existem exceções.
H. C. Caldwell afirma:
Uma palmada sem comentário vale por mil palavras. Nosso
organismo foi constituído de maneira a aprender através de
interações concretas com a realídade. As mães dos animais
castigam seüs filhotes fisicamente, quando necessário, e eles
acabam aprendendo. Nada clareia a situação tão rapidamente
para uma criança problemática do que uma rápida palmada no
traseiro, assim como não há nada que confunda, fragmente e
perturbe tanto uma criança quanto a censura verbal transmitida
como "raciocínio" ou ameaças. 6

A Crítica É Destrutiva
Criticar destrói uma criança, e ameaças e repro-
'fações constantemente reiteradas a desmoralizam.
E melhor condensar as lições para três sentenças ou
menos; passando disso, você estará falando sozinho.
Repetir, explicar e ameaçar é frustrar a criança além
das medidas.
As crianças podem cometer os maiores desatinos
imagináveis. Quando eu ai nda era criança-;--nossa
família morou durante vários anos numa fazenda nos
arredores de uma cidade. Ao lado dos oitenta acres
a leste ficavam as matas, onde eu caçava com uma
espingarda de calibre 22 e com armadilhas.

96
Certo domingo resolvi sair e examinar uma arma-
dilha que havia deixado na floresta. Mamãe sugeriu
que eu mudasse de roupa. (Naqueles dias distantes
os meninos vestiam suas melhores roupas aos domin-
gos, para irem à igreja.) Assegurei-lhe que não sujaria
minhas roupas.
Quando alcancei minha armadilha, encontrei nela
um gambá imóvel. Um cheiro indistinto cercava a
área. Para certificar-me se o gambá estava morto,
peguei um pau de uns dois metros e cutuquei-o.-
I nfelizmente, o lado traseiro do gambá estava apon--
tando diretamente para mim. Ao ser cutucado, reto-
mou os sentidos e, em ataque, soltou um jato de gás.
Foi horrível! Eu já havia sentido o cheiro de gambás
antes, mas nunca a uma distância de dois metros
nem Quando eu era o alvo. O mau cheiro era intole-
rável.
Fiquei perambulando pela mata durante uma meia
hora, esperando que a maior parte do cheiro se
dissipasse, e finalmente retornei para casa. Infeliz-
mente, o vento estava atrás de mim. Quando cheguei
a uns cem metros da varanda, onde minha família
estava reunida, ouvi a exclamação de meu pai:
"Minha nossa, filho! O que aconteceu com você? Vá
tirar estas roupas. Não, não entre em casa. Vá para
trás .do celeiro. Vou levar outra roupa para você."
Mesmo com um banho e roupas limpas, algum
fedor permaneceu. Não fui bem-vindo para jantar
com os outros. Jantei sozinho e ponderei sobre
minha estupidez. É assim que as crianças aprendem
'-... .......
\
não
. .tanto pela admoestação quanto pela expe-
(lencla.\·
Posso dizer em favor de meus pais que nunca mais .
se referiram ao assunto de novo. Não há necessidade /
de se dizer ao perdedor, num encontro com um
gambá, que ele cometeu uma bobagem.

A Importância do Contato Corporal


Um dos aspectos mais importantes de lidar com
crianças é o do contato corporal. Crianças pequenas
precisam ser acariciadas, pegas no colo e tocadas o

97
r • , l I ~-......-_: "'>t'

rn.áxirn o jaos sive l. Um letreiro em pára-chçque dizia:


VOCÊ JA ABRAÇOU SEU FILHO HOJE? E uma boa
pergunta, e a tragédia é que ela precisa ser posta em
prática. Crianças pequenas derivam conforto e segu-
rança vasta ao serem seguradas no colo. Quando isto
não acontece, elas muitas vezes não se sentem
queridas e amadas. Palavras nunca podem tomar o
lugar de colo e carícias.
Das centenas de pessoas que participaram da
Integração Primai no Burlingame Counseling Center,
a maioria reexperimentou a dor da necessidade de ser
pega no colo. Reviveu a experiência de olhar com
anseio para um dos pais, esperando que a mamãe ou
o papai dissesse: "Venha cá, querido, sente aqui no
meu colo."
Uma cena muitas vezes repetida é a seguinte:
A pequena Susie está lá de pé olhando anelante para
o papai, que está sentado na poltrona, lendo o
jornal. "Quero sentar no colo do papai, mas ele está
ocupado. Tenho medo de perturbá-lo."
- Você não pode pedi-lo a ele? - pergunta o
terapeuta.
Não, tenho medo.
- Como você se sente?
- Triste, solitária. Fico triste porque papai nunca
me pega no colo. Está muito ocupado. Ele não me
ama.
Estes sentimentos são expressos, com freqüência,
de muitas maneiras, por pessoas que não têm me-
mória de que desejaram que seus pais as pegassem
no colo ou de que anelaram receber a sua atenção.
Os filhos percebem o amor dos pais através do
contato corporal. Precisam desesperadamente de
grandes quantidades de carícias e abraços, para
adquirirem um senso de segurança de maneira não-
verbal.
Crianças mais velhas, grandes demais para senta-
rem em colos ou serem acariciadas na cama, adqui-
rem sentimentos de segurança e amor através de um
toque firme e gentil, um abraço sobre o ombro ou um
abraço antes de irem dormir.

98

,i ll~ I I; i •
A Ridicularização É Destrutiva

Rir de uma criança pode ser desastroso. É perce-


bido como sendo uma ridicularização, e crianças
pequenas podem ser incrivelmente sensíveis a isto.
Ocorreu-me certo dia que em algum ponto de
minha infância eu havia me desligado de meus pais.
Voltei atrás até aquela época, para ver o que havia
acontecido, e revivi um acontecimento típico. Eu
havia feito alguma pergunta que para meus pais
parecia ser engraçada. Eles riram.
Agora posso ver que o riso deles não tinha a
intenção de ser uma ridicularização, mas, em minha
sensibilidade de criança, tornei aquilo como tal.
Naquele momento, uma voz dentro de mim disse:
"Nunca mais vou perguntar coisa alguma a vocês."
E eu nunca mais perguntava, se podia evitá-lo.
Aprendia de outras fontes. Em parte, por causa do
conflito ("Preciso perguntar, mas não vou"), desen-
volvi um gaguejo.
Nunca, mas nunca ria ou ridicularize uma criança,
não importa qual seja a ocasião.
Crianças desobedientes e desordeiras são difíceis
de serem amadas. Algumas crianças, desde o nasci-
mento, são difíceis de serem enfrentadas, e os pais
podem quase ser levados à loucura pelas suas exi-
gências irracionais e comportamento destrutivo.
A ironia é que as crianças precisam mais do amor
quando estão comportando-se da pior maneira.
Apesar da evidência alarmante de moral deca-
dente e comportamento violento por parte dos jo-
vens, é animador saber que esta não é a' históría
completa. Uma pesquisa recente, feita cornvinte e
quatro mil alunos do segundo grau, nos Estados
Unidos, revelou a seguinte informação:
Setenta por-cento disseram que nunca tiveram
relações sexuais, e uma maioria citou padrões morais
como uma razão disto. Quase a metade dos alunos
disse que nunca bebeu cerveja e 61 por-cento nunca
experimentaram bebidas alcoólicas fortes. Quase 88
por-cento nunca usaram drogas de qualquer forma;

99
85 por-cento nunca fumaram e 8 por-cento haviam
deixado de fumar.
É preciso dizer, no entanto, que estes vinte e
quatro mil alunos foram escolhidos pelos seus dire-
tores, conselheiros ou líderes de organizações com
base na liderança, participação escolar e em ativida-
des comunitárias e resultados acadêmicos. Em outras
palavras, estes eram os melhores alunos.

Poupe a Criança

Se o casamento estiver arruinado, poupe a criança.


O divórcio está aumentando num ritmo alarmante,
e quando há um divórcio os filhos são quase que
invariavelmente feridos.
É tolo dizer que os pais devam permanecer juntos
sob qualquer e toda circunstância por causa dos
filhos, e igualmente tolo insistir que um casamento
malsucedido é tão destrutivo para as crianças que
um divórcio é sempre preferível. Tais generalizações
são amplas e simplistas demais.
A psicóloga Marjorie T. Toomin acha que os pais
nunca devem divorciar-se antes que os filhos tenham
de seis a sete anos de idade, baseada na tese de que a
divisão do lar cria muita insegurança nos filhos. Se a
mãe precisa aceitar um emprego fora de casa, ela
acha que a situação fica pior ainda.
Mas idades de seis a doze anos também são
cruciais. Se o qivórcio parece ser inevitável, os filhos
precisam conservar o máximo possível de raízes -
morar na mesma casa (ou pelo menos na mesma
vizinhança), freqüentar a mesma escola e ter os
mesmos amigos.
Alguns filhos de pais divorciados experimentam
sentimentos de culpa, acreditando que foram eles os
responsáveis pela divisão do casamento. Um filho
havia desobedecido ao seu pai, que logo depois
deixou sua família. O menino ficou pensando se ele
tinha sido a causa disto. Tendo visto várias matanças
na televisão, pensou que talvez seu pai voltaria e o
mataria. Outras crianças concluem: "Mamãe, se

100
você deixou o papai, também pode me deixar, e,
então, o que farei?"
Não existem soluções fáceis, respostas simples.
O mesmo princípio se aplica para filhos de divorcia-
dos quanto para todos os outros filhos: Se eles se sen-
tem amados, não serão irreparavelmente destruídos
pela adversidade. Se não se sentem amados, até mes-
mo acontecimentos de menor importância podem
devastá-los.

Não Se Sinta Assim!

Pense nas muitas maneiras em que os pais negam a


seus filhos o direito de se sentirem da maneira como
sentem. São cinco horas da tarde e Jimmy, de seis
anos de idade, está olhando, enquanto a mamãe tira
uma torta do forno.
- Quero um pedaço de torta.
- Agora não. Está quase na hora do jantar. Você
pode comer um pedaço na hora da sobremesa.
Susie, de cinco anos, vê alguma coisa no balcão de
brinquedos que gostaria de ter. ,Mamãe diz:
- Isto não é para você. E para crianças mais
velhas.
- Mas eu o quero! - grita Susie.
- Pare com isto já, está me ouvindo?
Jimmy e Susie começam a se empurrar e Susie
acaba caindo. Mamãe diz:
- Veja só o que você fez. Diga a ela que está
arrependido e peça desculpas.
- Ela pegou minha bala.
- Peguei coisa nenhuma.
- Susie, peça desculpas a Iirnrnv por ter pego a
bala dele. Jimmy, peça desculpas a ela por tê-Ia
empurrado.
Ambas as crianças gritam:
- Não quero pedir desculpas!
- Mas você tem de fazê-lo. Anda, faça o que eu
digo e peça desculpas!
Dessa maneira os pais recusam-se a deixar que os
filhos "possuam" seus próprios sentimentos. Dizer

101
, .... " ....- ,.. I'

a uma criança para não sentir qualquer coisa não


altera o sentimento; ele ainda está lá.
Deveria a mãe permitir que Jimmy comesse um
pedaço de torta antes do jantar? Ou deveria ela
permitir que Susie tivesse todos os brinquedos que
desejasse? É claro que não. Mas quando você diz às
crianças para deixarem de sentir da maneira como
estão sentindo, você está pedindo que renunciem a
posse de uma parte delas mesmas - sua própria
experiência ~ nterior.
Deixar que as crianças "possuam" seus próprios
sentimentos não significa permitir que façam tudo
que desejam. Existe uma grande diferença entre parar
um ato e ditar emoções. O comportamento precisa
ser limitado freqüentemente. Estamos apenas falan-
do sobre a liberdade de sentir, não da liberdade de
agir.
Ao dizer para Jimmy que ele não receberia um
pedaço de torta antes do jantar, mamãe estava
pedindo que ele tivesse os mesmos sentimentos que
ela. Seria bem melhor dizer: "Esta torta está com um
cheirinho bom, não está? Gostaria de pegar um
pedaço para mim, mas vamos jantar logo logo, e
acho que nós dois vamos ter que esperar." Desta
maneira, ela validaria os sentimentos do filho, ao
invés de repudiá-los, mas determinaria limites.
Ao dizer para as duas crianças que pedissem
desculpas e se sentissem arrependidas por aquilo que
fizeram, ela estava tentando fazer com que sentis-
sem aquilo que ela achava que deviam sentir. Isto era
uma negação dos sentimentos legítimos delas. Susie
queria um pedaço da bala de jimmy (um sentimento
válido) e Jimmy ficou furioso quando ela pegou a
bala (também um sentimento perfeitamente legí-
timo). A mãe estava ditando o que eles deveriam
sentir, e fazendo com que se sentissem culpados por
terem tido algumas emoções perfeitamente normais.
A mãe faria bem melhor em dizer:
"Suste, eu sei que você queria um pedaço da bala.
Compreendo isto. Mas você comeu sua bala toda
e depois pegou a de Jimmy. Isto não se faz. E Jimmy,

102
eu sei que você não gostou que a Susie tenha pego a
sua bala, mas não se deve empurrar ou bater em
alguém." Dentro de dez minutos ou menos eles
estariam brincando juntos na maior felicidade, e
"possuindo" seus sentimentos. 7
Muitas crianças transformam sua hostilidade con-
tra elas em asma, vômitos, acidentes contínuos e te-
mores exagerados. A criança excessivamente "boa" e
extremamente tímida muitas vezes esconde sua forte
agressividade porque aprendeu ser tal sentimento
inaceitável. Tal criança evidentemente evita o envof-
vimento com outras crianças, para que o que sente
não se manifeste.
Dorothv C. Briggs observou que:
A criança que aprende que a hostilidade traz desaprovação
fica com medo de seus próprios impulsos agressivos. Crianças
com menos de seis anos de idade acreditam que desejos
agressivos - que o irmão menor desapareça, por exemplo -
se tornarão em fatos. Podem ser excessivamente dóceis, para
negar seus desejos para si mesmos e para outras pessoas. A
diferença entre a realidade e a fantasia não é clara para a
criança pequena. Mesmo quando ela não transforma seus
desejos agressivos em atos, se acha uma criança "má", Você
precisa ensinar efetivamente a diferença entre sentimentos
hostis e atos hostis. 8
A arte de compreender crianças, incluindo sua
própria criança interna do passado, pode ser domi-
nada. Requer algum tempo e esforço, mas é uma
parte que será ricamente recompensada.

103
• •
6

Relacionando-se com os
Neuróticos
Eles são os verdadeiros discípulos de Cristo, não os que
sabem mais, mas os que amam mais. Frederlck Sponhelm,
o ancião

Existe, é claro, uma distinção nítida entre um


neurótico e um psicótico. Já foi dito que um psicó-
tico acha que dois mais dois são cinco, enquanto um
neurótico sabe que dois mais dois são quatro e odeia
isto. Outra citação comumente usada para fazer a
distinção é que o neurótico constrói castelos no ar, o
psicótico habita neles e o psiquiatra recebe o alu-
guei.
Um psicótico é uma pessoa que está fora de
contato com a realidade. Um neurótico é alguém que
consistentemente sente ou faz algo em excesso.
O exagero é a marca do neurótico.
o Viciado no Trabalho
Don era um trabalhador compulsivo. Passava uma
hora e meia diariamente em viagem de casa para o
trabalho e vice-versa, acrescentava oito horas no
escritório, trazia uma maleta do escritório para casa
e trabalhava uma ou duas horas cada noite. Plane-
java férias, mas alguma coisa quase sempre inter-
feria. Quando conseguia tirar algum tempo de folga,
nunca conseguia ficar realmente relaxado. Nada o
satisfazia, a não ser o trabalho.

105
A origem desta neurose pode residir em diversos
fatores: pais exigentes ou perfeccionistas; um senti-
mento profundo de insegurança e inferioridade, que
é compensado através da execução com êxito de um
trabalho; um sentimento de culpa forte, mas parcial-
mente reprimido, ou qualquer combinação destes.
Existem várias outras possibilidades.
Como é que se lida com um trabalhador compul-
sivo? Raciocinar com uma pessoa dessas é mais do
que inútil. O problema não está no raciocínio dela,
mas, sim, em suas emoções; e as emoções não
respondem à lógica.
Literalmente, não existe coisa alguma que você
possa dizer ou fazer para mudar uma pessoa assim.
Um homem como Don pode argumentar que ele está
"'fazendo tudo isso pela famíl ia", para "progredir".
O viciado no trabalho sempre encontrará alguma
lógica por trás de sua compulsão.
A terapia a longo prazo é a única resposta. Mas a
terapia da fala geralmente não serve para resolver
problemas como este, já que virtualmente todo tipo
de compulsão está arraigado na infância. Uma tera-
pia intensiva como a Integração Primai é geralmente
indicada. E claro que o trabalhador compulsivo
raramente vê a necessidade de se submeter à terapia.
O viciado no trabalho sofre uma das poucas neuroses
que podem passar por uma virtude aos olhos da
sociedade.

o Perfeccionista
era compulsivamente perfeccionista. Sua
Fred
mesa e suas gavetas eram bem-arrumadas, assim
como suas roupas, seu armário e carro. Tudo dele
permanecia em perfeita ordem. Ficava irritado ou
muito ansioso quando as coisas não se apresentavam
apropriadamente organizadas.
Geralmente um homem como ele é casado com
uma mulher bem menos meticulosa; e quando a
perfeccionista é a mulher, ela quase sempre é casada
com um homem menos meticuloso. I nconsciente-
mente, a pessoa perfe<.:cionista procura um parceiro

106
/
que não seja tão rigoroso; e o indivíduo menos meti-
culoso inconscientemente procura uma pessoa mais
ordeira.
A esposa de Ted queixou-se a mim que ele criti-
cava a maneira como ela comia milho na espiga.
- Como é que ele quer quer você faça?
- Eu o como ao comprido. Ele insiste que devo
comê-lo de maneira circular, indo em volta da
espiga, o que diz ser mais organizado e eficiente.
Eu disse a Ted para guardar suas sugestões perfec-
cionistas para o escritório, onde lida com decimais e
problemas técnicos o dia todo. Ele tentou, mas inti-
mamente se sentia incomodado com a personalidade
mais descontraída de sua esposa.
Certo marido cometeu o erro de reorganizar a
cozinha inteira de sua casa enquanto a esposa estava
passando alguns dias fora. Ela levou três dias para
superar a sua indignação e trazer a cozinha de volta
ao normal. Eu disse a ele, numa sessão de aconse-
lhamento, Rara ficar fora da cozinha, a não ser que
fosse convidado a entrar e para deixar que a esposa
tomasse todas as decisões finais com relação a
móveis, decoração e outras arrumações dentro de
casa.
- Eu só queria ajudar - ele disse.
- Não se meta no ninho dela - respondi
senão vai entrar em apuros.
Assim como com o viciado no trabalho, a insis-
tência e a lógica poucas vezes conseguem alguma
modificação no perfeccionista. Ele pode ser induzido
a parar de reclamar sobre qualquer que seja a coisa
que não esteja arrumada apenas por um simples ato
de desejo, porque, na verdade, não terá mudado por
dentro.

o Comprador Compulsivo
Mariorie era uma ~ompradora compulsiva. Pert~n­
cia à mesma categoria gera\ que Dol' e Fred, tambem
compulsivos, embora de maneiras diferentes. Mar-
jorie comprava as coisas simplesmente porque esta-

107
vam em liquidação. Seu marido reclamava inutil-
mente argumentando que nada apresenta vanta-
. a pessoa não precisa
gem se . daquilo.
, . insistia que
Ela
as coisas que comprava seriam necessarras.
Marjorie fazia compras compulsivas para lidar com
sua ansiedade profundamente arraigada. Não estava
completamente a par dessa ansiedade e por isso não
poderia resolvê-Ia. Comprar coisas aliviava sua ten-
são interna momentaneamente, mas dentro de
pouco tempo a velha compulsão estava de volta, tão
forte quanto antes.
A ansiedade de Marjorie vinha de sua infância.
Existiam algumas tensões do casamento também,
mas estas apenas reforçavam os traumas internos da
infância que já perduravam por trinta anos e eram a
causa de sua neurose principal.

A Obsessão

Arlene era afligida por pensamentos obsessivos.


Um pensamento entrava em sua mente e dava voltas
e mais voltas, de maneira repetitiva, como um
esquilo numa gaiola. Quanto mais tentava afastar a
idéia de sua consciência, mais ela se aprofundava.
Alguns de seus pensamentos eram de natureza
sexual, enquanto outros tinham a ver com sua auto-
destruição ou automutilação. Nada em sua vida
cotidiana era suficientemente sério para explicar
esses pensamentos não rac ionais.
No caso de Arlene. a terapia em grupo a longo
prazo e mais algum aconselhamento individual aju-
daram-na a livrar-se de quase todos os pensamentos
obsessivos. Ocasionalmente eles retornavam, porém,
ela se tornou capaz de lidar com eles facilmente. Foi
ensinada a não tentar expulsar uma idéia para fora de
sua mente, mas a aceitá-Ia e depois substituí-Ia
passivamente por outro pensamento ou atividade
física. No processo da terapia, Arlene também lidou
com seus traumas de infância e conseguiu livrar-se
deles.

108 /1
/ o Mentiroso Compulsivo
Henry era um mentiroso patológico. Mas geral-
mente não estava cônscio de que estava mentindo.
O castigo dos mentirosos é que finalmente não
podem distinguir a verdade da falsidade, e acabam
acreditando em suas próprias mentiras. Pessoas
como estas têm sentimentos profundos de inferiori-
dade e insegurança. Este tipo de neurose, como
outros, tem sua origem na infância.
Henry recebera uma educação falha, o que fez
com que se sentisse deficiente. Tinha, porém, muita
força de vontade e uma habilidade considerável, que
lhe forneceram a possibilidade de sucesso. Mas não
eliminaram seus sentimentos de inferioridade. Num
esforço para impressionar as pessoas, Henry distorcia
as coisas exageradamente. Depois começou a mentir
sobre seus negócios. Suas mentiras por fim o enre-
daram, e terminou na bancarrota. Algum tempo
depois, morreu num acidente automobilístico.

A Insônia
Francine sofria de insônia. Não era incomum ela
passar três ou quatro noites dorm indo apenas uma ou
duas horas, e depois passar doze horas sob o efeito
de sedativos.
, . No caso dela não havia apenas uma,
mas varias causas.
A infância de Francine foi seriamente marcada por
brigas entre seus pais, e ela havia sido molestada
sexualmente por um vizinho. A terapia de Integração
Primai ajudou-a a descobrir as raízes de seu padrão
irregular de sono. Também serviu para revelar que
ela guardava em seu intimo grande ódio justificável,
que tinha dificuldade em expressar.
Insegurança infantil, traumas e sentimentos de
culpa, juntamente com situações de vida corriquei-
ras que produzem ansiedade, podem causar uma
insônia séria. Algumas universidades mantêm clíni-
cas de sono, onde o problema às vezes é resolvido
com sucesso. Geralmente, a terapia a longo prazo é
indicada.

109
Comedores Compulsivos
Clara era uma comedora compulsiva. Estava com
quase quarenta quilos acima do peso normal. Fazer
dietas era inútil no caso dela, já que as raízes de sua
compulsividade estavam bem atrás em seu passado.
A comida era o tranqüilizante de Clara. literalmente
comia para manter seu nível de ansiedade baixo.
A lógica, ameaças, chantagens e palavras também
provaram ser de nenhuma eficácia no caso dela, pois
não atacavam a causa básica de sua neurose.
Vários indícios foram descobertos na terapia de
I ntegração Primai. Clara havia sido molestada sexual-
mente quando ainda era criança, o que fez com que
temesse sua sexualidade. Chegou a ver que ganhou
peso, em parte, para que, num esforço inconsciente,
não parecesse atraente aos homens. Além disso,
havia experimentado insegurança considerável
Quando ainda criança. Estava agora enchendo-se de
comida como um substituto do amor.

o Alcoólatra
Peter era um alcoólatra. Sua esposa e quatro filhos
haviam perdido virtualmente todo o respeito por
ele. Manifestou o propósito de recorrer aos Alcoóli-
cos Anônimos, mas apenas para impressionar o juiz
na corte do divórcio. Como todos os alcoólatras,
Peter mentia sobre bebedeira. Afirmava direta e
categoricamente que não havia bebido, quando esta-
va obviamente bêbado.
Peter era um crente, e uma parte de sua natureza
anelava fervorosamente fazer a vontade de Deus em
sua vida. Tinha habilidades genuínas e uma persona-
lidade encantadora, e, quando ainda jovem, havia
demonstrado que teria um futuro promissor, mas
seus esforços frenéticos para "ser importante" mais
seu alcoolismo impediram que tivesse uma vida
decente.
A terapia intensiva revelou uma infância turbu-
lenta. Havia tido um pai ausente e uma mãe que não
o amava. Peter estava inconscientemente tentando

110
fazer de sua esposa uma substituta de sua mãe e ao
mesmo tempo tentando controlar a vida dela. Enco-
rajamos a sua esposa para que freqüentasse as reu-
niões da organização dos Alcoólicos Anônimos que
trabalha com as famílias dos alcoólatras. '
Infelizmente, súplicas e lágrimas não tiveram
efeito sobre Peter. Ele não podia admitir a possibili-
dade de enfrentar a vida sem o álcool para amortizar
a ansiedade que o dominava. Sua esposa acabou
divorciando-se dele.
Ocasionalmente, um alcoólatra resolve seu pro-
blema com a bebida. Allen era uma dessas pessoas.
Allen era casado com uma esposa jovem e encan-
tadora. Desfrutava de uma esplêndida posição e
ganhava bem, e possuíam uma bonita casa num
bairro elegante. Então ele começou a beber exces-
sivamente. Muitas vezes bebia durante horas após o
trabalho, depois ligava para a esposa para que fosse
buscá-lo na cidade. Ela, pacientemente e sem recla-
mar, ia buscá-lo o levava-o para casa.
Nada conseguiu induzir AlIen a freqüentar as
reuniões dos AA. Finalmente, quando perdeu seu
emprego e sua saúde estava seriamente ameaçada,
entrou para uma instituição de tratamento mental.
Ficou lá durante uns seis meses.
Quando saiu, AlIen teve dificuldades para encon-
trar um emprego. Sua esposa passou a trabalhar, para
sustentá-los. Por fim, desesperado, começou a beber
escondido, e dentro de pouco tempo estava bebendo
excessivamente outra vez.
Num impulso repentino, telefonei para ele certo
dia e disse:
- Allen, vou para um retiro de fim de semana que
fica a uns cento e cinqüenta quilômetros daqui. Você
gostaria de ir comigo?
Ele respondeu:
- Deus deve ter feito com que você telefonasse.
Estou desesperado.
Allen parecia ter gostado do fim de semana,
embora eu não esperasse que a experiência por si só
viesse a fornecer a resposta que ele estava prec isan-

111
do. No entanto, conheceu uma mulher encantadora,
que compartilhou abertamente o fato de que era uma
alcoólatra recuperada. Ela disse-lhe que era membro
fiel dos AA, e que fora a única coisa que conseguira
salvar o casamento e a sanidade dela. Allen foi
tocado pelo entusiasmo da mulher e começou a
freqüentar as reuniões dos AA com ela. Parou de
beber, e dentro de alguns meses encontrou outro
emprego. Um ou dois anos depois obteve uma
grande promoção e estava a caminho do progresso
novamente.
As pessoas que constituem a sociedade dos AA
afirmam, categoricamente, que um alcoólatra pre-
cisa chegar ao último extremo, para admitir que
precisa de ajuda. Este último extremo pode ser a
perda do emprego, da família, da casa ou da saúde,
ou todas estas coisas juntas.

o Falador
O falador compulsivo fala demasiadamente para
descarregar uma carga de ansiedade excessiva. Como
em outras formas de neuroses, a origem geralmente
está escondida em experiências da infância. Quase
sempre existem sentimentos de insegurança e de
inferioridade, juntamente com uma personalidade
que tende a ser fortemente agressiva. Assim como o
alcoólatra problemático sente a necessidade de
beber, para enfrentar a vida, o falador compulsivo
precisa falar, para manter o nível de ansiedade baixo.
Uma pessoa assim pode não ser inferior, mas sente-se
inferior ou inapta.
Ocasionalmente o falador compulsivo é também
fanfarrão, levando os ouvintes a comentarem sobre a
forte personalidade que ele possui. Mas na verdade é
bem o oposto. O gabola falador, não importa qual
seja a sua posição na vida - presidente de corpora-
ção ou simples trabalhador - tem uma personali-
dade fraca.
Tais pessoas têm pouca autoconfiança. Podem ter
alcançado sucesso em algum tipo de trabalho ou até
mesmo acumulado uma fortuna ou títulos ou graus,

112
mas sua posição agressiva e egocêntrica grita para o '
mundo: "Sinto-me incapaz, inseguro, apesar dos
meus feitos. Dê-me ouvidos, dê-me atenção, ao
dizer-lhe que sou uma grande pessoa. Preciso de sua
aprovação, para poder sustentar o meu ego." Têm
sede de ser a atração principal e sentem um grande
senso de perda quando não o são.

o Debatedor
E há o debatedor, que discute cada ponto, na espe-
.rança de que as outras pessoas sejam obrigadas a
concordar com ele. Esse indivíduo geralmente tem
pouca autocrítica e uma disposição consideravel-
mente agressiva. Se for educado, o debatedor pode
argumentar com menos veemência e mais elegância.
Se não for educado, fingirá possuir um conheci-
mento de coisas que nunca poderia em verdade ter.
Carlos era um bom crente, correto e compassivo.
Amava sua família e era bom para com os amigos.
Mas quando discordava de alguém, discutia ardorosa
e veementemente sem fim. Sua educação era muito
limitada e lia muito pouco. Não tinha a base e a
sabedoria para apresentar um argumento razoável.
E, no entanto, gritava quando se via encurralado em
um debate: "Não conteste a minha palavra' Sei o
que estou dizendo!"
Carlos tinha uma auto-imagem fraca. Por causa
disso, nunca era capaz de admitir que possivelmente
poderia estar errado.

Os Que Nunca Admitem Estarem Errados


Um amigo meu queixou-se a mim com tristeza:
- Sou casado há quarenta anos. Nenhuma vez
durante este tempo todo minha esposa disse: UEu
estava errada" ou "Desculpe-me".
Respondi:
- Meu amigo, não conheço sua esposa, mas
tenho certeza de que ela recebeu muito pouca
aprovação e amor por parte dos pais dela. Seu senso

113
1 ".:!.,

de autocrítica é muito baixo. Confessar um erro a


deixaria arrasada. Precisa estar sempre certa, ou
sentirá uma perda terrível de estima própria. Dê a ela
muita aprovação e mostre-lhe reconhecimento sin-
cero. Ela precisa disso desesperadamente.
- E quanto ao fato de ela nunca confessar que
está errada? - perguntou.·
- Conviva com isto. Na idade dela, nunca irá
mudar. Demonstre para com ela o máximo possível
de preocupação e compaixão, como se ela fosse
diabética ou tivesse um coração fraco.

Os Que Se Consideram a Autoridade em Tudo

Idêntico ao debatedor é o que se considera uma


autoridade em virtualmente todas as coisas. Ele pode
não debater ou argumentar, mas insistirá em parecer
uma autoridade em tudo.
lembro-me de ter ouvido uma conversa em que
uma mulher discorria com uma conhecida austra-
liana sobre certas coisas do país desta última. A
mulher que estava falando nunca estivera na Austrá-
lia, mas havia, aparentemente, lido um pouco sobre
sua flora e fauna. Então pôs-se a falar a respeito com
muita pretensão, o que divertiu a ouvinte.
A pessoa que se considera uma autoridade em
tudo raramente faz perguntas. Fazê-lo írnpl icaria
falta de conhecimento, e por causa de um ego fraco
ela precisa sempre ensinar ou informar.
Uma maneira criativa de tal indivíduo compensar
seu sentimento profundo de insegurança, que é a
raiz do problema, é desempenhar o papel de profes-
sor. Isto lhe permite instruir e informar, assegurando,
assim, algum relaxamento da ansiedade. No entanto,
não constitui uma cura.
A pessoa que se considera uma autoridade e que
enfrenta um sério sentimento de insegurança pode
hesitar em pedir informações quando está procuran-
do um endereço numa parte desconhecida da cida-
de. Se for forçada a procurar ajuda, pode dizer:

114

t• j, I.ll 1 11.1.
- o número 185 da Rua Chestnut fica nesta área,
não é? E preciso seguir alguns quarteirões no sentido
norte para encontrá-lo, exato?
- Não, fica a uns seis quilômetros ao sul, e você
precisa dobrar à esquerda no próximo sinal.
- Certo. E exatamente como eu pensava.
Isto parece ser tão ridículo quanto absurdo, mas já
conheci um grande número de neuróticos amáveis
que passaram pela vida assim. Seu fraco senso de
autocrítica exigia que permanecessem como sendo a
autoridade onisciente.

A Presunção
A pessoa presunçosa apresenta uma neurose séria.
Certo conto retrata um psiquiatra que diz para um
paciente novo:
- Não conheço o seu problema em particular,
então vamos começar do princípio.
Paciente:
- Está bem. No princípio criei os céus e a terra.
A presunção, que é uma manifestação de orgulho
ou vaidade, constitui uma compensação para senti-
mentos fortes de insegurança. As vezes é parcial-
mente escondida sob uma camada de intelectual-i-
dade. Este problema emocional pode afligir um
presidente de corporação, motorista de caminhão,
ministro, vendedor, construtor de casas, enfim, pes-
~soas de qualquer nível de vida. r

Sócrates certa vez ouvia um orador na Agora e


finalmente o fez calar com o seguinte comentário:
"Posso ver sua presunção, Antístenes, através dos
furos de sua manta." Embora fingisse humildade, a
presunção do homem era visível em todo o seu modo
de ser. O orgulho é difíci I de ser encoberto.
Existem vários graus de orgulho, vaidade e pre-
sunção. Ou talvez seria melhor dizer que estes são
aspectos diferentes da mesma neurose. Por exemplo,
CJ rei da $uazilândia (Ngwane), que tem oitenta e
nove anos de idade e cujo país é mais ou menos do
tamanho de Nova Jersey, já arrogou a si os seguintes
títulos, além do de rei: O leão, O Sol, A Via-láctea,

115
o Mestre em Armas, O Obstáculo ao ~ Inimigo, A
Boca Que Não Fala Mentiras, O Corpo Miraculoso
Que Cria Penas no Inverno Enquanto Outros Estão
Sem Plumagem e A Mandíbula Que Tritura Todos os
Ossos.
Um conhecido meu, com aproximadamente a
minha idade, havia conquistado, por sua inegável
boa memória, vários graus de distinção merecidos.
Eu já o havia observado em seu próprio lar, onde se
apresentava como um homem expansivo, amável e
falador, com uma grande medida do complexo de
professor/autoridade. Quando me fez uma visita,
essa tendência revelou-se exagerada. longe de casa
suas inseguranças profundas manifestavam-se atra-
vés de falar compulsivamente e de outras maneiras.
A certa altura, ele disse expansivamente, com as
pontas dos dedos juntas: ...'Sabe, hoje- de manhã tive
um pensamento brilhante. Quero que você pegue um
pedaço de papel e um lápis para anotar isto. É que
quando escrevemos as coisas temos a tendência de
gravá-Ias melhor."
Sorrindo para mim mesmo, peguei um pedaço de
papel e preparei-me para anotar a jóia intelectual
que ele me havia prometido. Era longe de ser abalá-
vel. Ouvi seu discurso, proferido com ar de autori-
dade, por bastante tempo, até que, constrangido e
um pouco sem paciência, desafiei-o em certo ponto
de maneira um tanto dura.
I nstantaneamente ele se retraiu e sua voz mudou.
Parecia estar contrito e pedindo desculpas. O fato de
eu ter desafiado uma afirmação absurda havia furado
o balão de seu orgulho inflável, e agiu por algum
tempo como um garotinho machucado. Eu podia
compreender isto, pois é na infância que todas as
nossas tendências neuróticas começam.

Acanhamento e Timidez
Existem também as pessoas anormalmente tími-
das. O Dr. Phillip G. Zimbardo, professor de psico-
logia social na Universidade de Stanford e autor de
quatro livros sobre o assunto da timidez e problemas

116
de personal idade relacionados a ela, afi rma que
quarenta por-cento dos americanos consideram-se
tímidos, o que representa uns 84 milhões de indiví-
duos. Diz que isto inclui não apenas pessoas co-
muns, mas um número substancial de celebridades
também.
Entre os notáveis que confessam ser tímidos, por
mais surpreendente que seja, estão pessoas como
o ex-Presidente dos EUA, Carter e senhora, o Príncipe
Charles, Warren Beatty, Catherine Deneuve e um
grande número de atletas profissionais. A lista tam-
bém inclui personalidades como Carol Burnett, Bar-
bara Walters e muitos outros, que não transmitem a
mínima impressão de timidez.
A pesquisa do Dr. Zimbardo indica que a causa
básica de timidez aparenta serem os relacionamentos
que tivemos com outras pessoas, tanto na infância
quanto depois. Mas algumas pessoas que eram tími-
das quando ainda criança superam isto e não se
consideram tímidas quando adultas.
Há indivíduos que são tão tímidos que não ousam
ir receber seus cheques de auxílio-desemprego. Um
grau menor de timidez em algumas pessoas faz com
que deixem de fazer perguntas. Certo homem de
grande sucesso, que não causa a mínima impressão
de timidez, disse-me que no supermercado ele tem
que obrigar-se a perguntar a um empregado onde
determinado artigo pode ser encontrado.
Os tímidos imaginam que outras pessoas estão
sempre avaliando o que estão fazendo, quer estejam
jogando golfe, descendo a ala central da igreja ou
cortando a grama. Geralmente se policiam muito.
Uma mulher encantadora de cinqüenta anos disse-
me que havia caminhado por certa rua durante três
semanas, todos os dias, mas que não tinha a mínima
idéia de como era a rua, porque sempre andava com
os olhos voltados para o chão.
Tal comportamento não se origina na vaidade, mas
no temor de julgamento, condenação ou crítica. Pais
que julgam ou criticam, sentimentos de rejeição na
infância e o temor de ser julgado culpado ou errado

117
1'-" r ''f -r ,. r~ I I .l oj. .. ,!,.

geralmente são a origem da timidez. Às vezes ela é


intensificada pelo exemplo de um pai tímido ou
temeroso.
Uma pessoa pode atingir alvos significativos e ser
considerada altamente bem-sucedida e, no entanto,
ser possuída de uma timidez subjacente. Algumas
pessoas agressivas escondem sua timidez atrás de um
comportamento rude, enquanto outras mantêm uma
fachada fria e arredia. As mais passivas tendem a
retrair-se do contato social o máximo possível.
Vencer a timidez não é fácil, porém existem vários
princípios que são fundamentais para consegui-lo.
O primeiro é o princípio do "aja como se fosse", de
William James: Faça a coisa que você tem medo de
fazer e com o tempo os seus sentimentos alcançarão
suas emoções. Funciona da seguinte maneira:
A pessoa tímida planeja como aproximar-se de
outra pessoa. O primeiro passo será apresentar-se,
por exemplo, a uma pessoa não conhecida da igreja
ou em qualquer acontecimento social. O próximo
passo, depois da apresentação, será fazer perguntas
apropriadas. Uma lista de tais perguntas deve ser
elaborada antes da hora e memorizada. Falar sobre a
outra pessoa desvia a atenção, da pessoa tímida, de
si mesma e assim reduz a inibição.
Em alguns casos, um conselheiro competente -
psicólogo ou psiquiatra - pode ajudar a elaborar um
programa como este.
Ao relacionar-se com pessoas tímidas, nunca se
deve referir-se ao fato de elas se sentirem assim.
Afirmar: "Você é um tanto tímido, não é?" é a mesma
coisa que dizer a uma pessoa pouco atraente: "Você
é um bocado feia, hein?"
Muitas vezes uma pessoa tímida é casada com um
parceiro mais extrovertido. Geralmente o mais extro-
vertido é quem fala mais. Isso não constitui proble-
ma se é mutuamente aceito. Mas se um cônjuge
mostra-se amigo e extrovertido e toma Tiderançã a.
em todas as situações, deixando o outro na sombra,
isso pode causar um problema.

118

L. , LI ~ I l.,.
Os Procrastinadores
Os procrastinadores formam uma categoria espe-
cial. Podem ser normais em todos os outros sentidos,
mas passam a vida inventando desculpas por estarem
atrasados e fazendo na quinta-feira aquilo que ha-
viam prometido fazer na segunda. A procrastinação é
um defeito de personalidade que não pode ser pron-
tamente resolvido, principalmente pela recrimina-
ção. Críticas, recompensas "e castigos também são
inúteis.
Algumas destas pessoas foram coagidas dema-
siadamente quando crianças, e a única maneira que
achavam para vencer era pela rebeldia. Ao invés de
optarem pelo desafio aberto, aprenderam a rebelar-
se contra a pressão pela procrastinação.
Outras pessoas parecem ter adquirido a caracterís-
tica devido a uma falta de disciplina. Não sendo
obrigadas a fazer as coisas em determinada hora,
nunca tendo aprendido o que. deveriam fazer nem
quando deveriam fazê-lo, quer quisessem ou não,
acabaram desenvolvendo o hábito de adiar as tarefas
e escolherem o caminho de pouca resistência. Outras
ainda parecem adquirir esta tendência através da
osmose, isto é, por seguir o exemplo de um pai ou
irmão mais velho.
O procrastinador sofre até certo ponto, mas geral-
mente não tanto quanto seus associados ou sua
família. Conviver com uma pessoa destas pode ser
exasperante. Às vezes, um procrastinador quieto e
bem-humorado é casado com uma pessoa que tem
uma personalidade dinâmica e que é bem organi-
zada. Se ambos estão razoavelmente satisfeitos,
então existe um relacionamento simbiótico perfeito.
Mas a procrastinação geralmente causa problemas
sérios. O cônjuge que nunca paga as contas antes de
estarem há muito vencidas, ou que é tão desorga-
nizado que roupas sujas ficam empilhadas pela casa
toda, pode encontrar razões para seus atrasos habi-
tuais, mas viver com tais pessoas relapsas pode ser
tremendamente irritante. Como regra básica, apenas
uma terapia profunda resolverá o problema.

119
Todo mundo conhece a nobre exortação: ....Não
deixe para amanhã o que pode fazer hoje", mas
poucas pessoas sabem que o autor deste dito sábio
era o elegante lorde Chesterfield, um dos maiores
procrastinadores de todos os tempos. Nunca chegou
a casar-se com a mãe de seu filho e tinha o hábito de
deixar que dignitários o aguardassem por longo tem-
po na sala de espera. Seu provérbio famoso sobre não
adiar as coisas era certamente um esforço, a curto
prazo, para exorcizar seu próprio demônio de pro-
crastinação.
Certo general romano foi apelidado de "Cuntador"
(Adiador) porque estava sempre adiando as batalhas
até o último momento possível.
Em muitas instâncias, as táticas de adiamento são
um esforço para evitar uma tomada de decisão. Se
uma criança se vê castigada ou criticada por cometer
erros, procura, como solução, adiar qualquer tomada
de decisão o máximo possível, para evitar a temida
reação dos pais. Esta reação por parte da criança é
totalmente inconsciente, é claro.

Ciúme e Possessividade
Quase todos nós somos capazes de ter ciúme até
certo grau. Uma pessoa, porém, que exibe ciúme
intenso é neurótica e da mesma forma miserável. O
ciúme e a possessividade geralmente andam juntos.
Assim como as outras tendências neuróticas, suas
origens residem no passado. Os sentimentos de inse-
gurança, dependência e inferioridade, que consti-
tuem a raiz do ciúme, podem fazer com que uma
pessoa aja de maneira pouco racional ou até mesmo
bizarra.
Certo homem era tão possessivo e ciumento com
relação à sua esposa Que não permitia que ela fosse
ao supermercado sozinha, com medo de que acaba-
ria flertando com o caixa. I ntrometia-se em todas as
conversações telefônicas dela e exigia saber com
quem estava falando. Sentia-se abandonado se ela
não estivesse ao seu lado quase que constantemente.
Na terapia de I ntegração Primai, reviveu a dor que

120
sentiu aos três anos de idade quando sua mãe
morreu.
Certa mulher questionava com seu marido intensa-
mente quando ele chegava de uma viagem de negó-
cios. Perguntava persistentemente sobre seus atos
durante todas as noites que estava fora. A inquisição
geralmente ocorria durante o jantar da primeira noite
depois que ele tinha retornado. Esse homem me
disse: "Já cheguei ao ponto de odiar estes interroga-
tórios. Ela mansa, mas insistentemente, quer saber
tudo que fiz durante determinada noite. Meu Deus,
tenho de forçar minha memória para reconstituir o
que fiz em cada momento. Nunca fui infiel à minha
esposa e não pretendo ser, mas se ela continuar com
este ciúme absurdo, simplesmente não sei o que
acabarei fazendo ... "
Um diálogo com esta mulher revelou o fato de que
seus pais haviam-se divorciado quando ela ainda era
bem pequena. O pai tinha partido, "ido embora",
foi a frase que usou. Por isso, sentia um temor
profundo e irracional de que seu marido também
"fosse embora". A criança interna ainda estava
presente.
Nenhuma medida de lógica ou razão diminuirâ o
ciúme. A mente consciente não tem controle direto
sobre tais emoções.
Pessoas que são um tanto normais em todos os
outros sentidos podem sentir-se inseguras, ciumentas
ou profundamente feridas sob certas condições. Urn
homem compartilhou comigo uma lição dolorosa
que aprendeu a respeito disso.
"Compartilho tudo com minha esposa", me disse.
"Quando falo com ela sobre um homem que admiro,
então está tudo bem, é claro. Mas certa vez, quando
cometi o erro de elogiar uma moça muito bonita, que
era alguns anos mais nova do que ela, então ficou
silenciosa por três dias. Eu podia sentir que estava
ferida. Ela nunca confessava ser uma pessoa ciumen-
ta, mas aprendi com isso a nunca elogiar outra
mulher na presença dela. Este é o ponto fraco de
minha esposa." Embora isto não constitua uma ten-

121
dência neurótica séria, poderia ser classificado como
ciúme tendo sua origem na insegurança.
Podemos relacionar-nos melhor com as pessoas se
compreendemos por que agem de determinada ma-
neira. Aqui está uma lista de algumas defesas comu-
mente usadas para disfarçar neuroses:
A repressão, que é um processo em que pensamen-
tos, sentimentos ou ações ameaçadores são profun-
damente enterrados no subconsciente. São "esque-
cidos", mas podem ser ativados e experimentados de
novo.
A negação, que é uma defesa comumente usada.
Quando um pensamento ou sentimento aparenta ser
inaceitável, a pessoa usa a negação para repudiar o
pensamento ou sentimento ameaçador e assim evitar
a ansiedade.
A projeção, que é outro processo inconsciente
pelo qual um indivíduo pode repudiar pensamentos,
idéias ou motivos indesejáveis. Para fazer isto é
necessário atribuir essas idéias ou sentimentos a
outra pessoa: "Não sou eu quem gosta de você; é
você quem não gosta de mim."
A projeção opera nas vidas diárias da maioria das
pessoas, em uma ocasião ou outra. Um gerente de
escritório descreveu um empregado que de vez em
quando começava a gritar, irado, sobre coisas insig-
nificantes. Quando era repreendido e ordenado a
parar de gritar, gritava de volta: "Eu não estou
gritando, você é que está e não vou aturar isto."
Sinceramente acreditava que não estava gritando.
A racionalização, que é outro mecanismo interes-
sante, utilizado por quase todas as pessoas, às vezes.
Reagimos baseados em nossas emoções, depois
inventamos uma explicação útil e aparentemente
razoável para justificar nossos atos. Isto faz com
que não sintamos a ansiedade resultante do amor-
próprio rebaixado. Não podemos pensar bem de
nós mesmos se não agimos de maneira racional.
O fracasso pode ser racionalizado:
"Não tive tempo de terminar o serviço."
....Fui interrompido, senão teria terminado."

122
"Já fiz o trabalho todo de meu curso de filosofia,
isto é, menos a tese. Tenho estado ocupado demais
para começá-Ia."
liAs pessoas (referindo-se a si mesmas) não seriam
desonestas quanto ao seu imposto de renda se os
políticos não fossem todos uns ladrões."
A promiscuidade sexual pode ser racionalizada
com a desculpa de que "Hoje o sexo é livre. Todo
mundo o pratica."
A formação de reações, que é uma defesa incons-
ciente contra a ansiedade. Quando temos uma ati-
tude ou sentimento ameaçador demais, então adota-
mos exatamente a atitude oposta e a tomamos como
nossa.
Uma jovem estava usando de todos os seus encan-
tos para chamar a atenção de um rapaz muito
atraente. O rapaz não mostrou qualquer interesse.
Quando ela sentiu que as suas emoções não seriam
correspondidas anunciou para as suas amigas que
simplesmente não podia aturá-lo: "Ele é o rapaz mais
convencido que já conheci. Não gostaria de ser sua
namorada nem se fosse o último homem que esti-
vesse sobre a terra. Eu o odeio." Conseguiu conven-
cer a si mesma que isto era verdade, mesmo que mais
ninguém o acreditasse.
A transferência, que é outra maneira de lidar com
a ansiedade. Um homem é desprezado por seu
patrão. Não seria aconselhável responder à altura,
por isso subjuga sua ira até chegar em casa. No jantar
explode por causa da maneira como a carne foi
cozida. Sua esposa mais tarde briga com um dos
filhos mais velhos, que por sua vez bate em seu
irmão menor, por uma razão qualquer. A criança
menor então dá um chute no gato. Daí a expressão
"chutar o gato", usada nos EUA.
Pessoas i nseguras, com senti mentos de i nferiori-
dade, muitas vezes transferem o seu ódio para grupos
minoritários. Uma mulher que foi aterrorizada por
seu pai pode desabafar seus sentimentos sobre o seu
marido. O brigão da escola que não pode expressar
seu ódio contra os pais talvez descarregue sua frus-

123
tração em cima de crianças menores. E assim por
diante.
A regressão, que é um retorno do comportamento
adulto para uma conduta infantil do passado, num
esforço de evitar uma situação desagradável. Alguns
filhos, sentindo-se inseguros, retornarão ao compor-
tamento infantil num esforço inconsciente de obter o
amor incondicional recebido quando ainda peque-
nos. Uma criança mais velha sob tensão pode retor-
nar à atitude de chupar o dedo. Os adultos fogem da
tensão da vida diária se dedicando a jogos, fazendo
bolas de neve e envolvendo-se em brincadeiras rui-
dosas, em suma, comportando-se como crianças
mais uma vez. Isto é chamado de "regressão a
serviço do ego". Não é prejudicial e fornece um
relaxamento momentâneo da tensão.
A compensação, que é um processo inconsciente
pelo qual a pessoa pode esconder uma fraqueza ou
deficiência por enfatizar um aspecto mais desejável
da personalidade. Alguém pode compensar seus
sentimentos de inaptidão aprendendo a destacar-se
em alguma área. Alfred Adler, o homem que deu
origem à expressão "complexo de inferioridade",
compensou sua dificuldade de relacionar-se social-
mente obtendo boas notas na escola. Isto pode ser
um mecanismo de grande ajuda quando usado apro-
priadamente.
A intelectualização, que é um mecanismo incons-
ciente pelo Qual nos protegemos contra a sensação
do impacto completo de nossas emoções. Analisando
uma situação e usando os nossos poderes intelec-
tuais, defendemo-nos contra os sentimentos. O siste-
ma escolar enfatiza a aptidão escolar à custa do
desenvolvimento emocional. A maioria das pessoas
educadas temem suas emoções e usam este meca-
nismo consistentemente. A perda da espontaneidade
é o preço que pagam por isto.
As fobias, que servem para proteger aiguém de
situações, pensamentos ou sentimentos ameaçado-
res. A fobia é simplesmente um temor irracional. Um
homem com uma compulsão de lavar as mãos e um

124
temor exagerado de contaminação descobriu, atra-
vés da terapia, que a sua fobia originou-se de uma
experiência sexual pela qual sentia grande culpa. Foi
então levado a ver que o seu temor irracional tinha
raízes mais profundas, que se estendiam até a sua
infância. Havia sido uma criança doentia e era
protegido demais por sua mãe, que tinha um temor
tremendo de germes.
Existe uma variedade de fobias, uma ou duas
dúzias sendo as mais comuns. É mais do que inútil
tentar convencer uma pessoa a deixar de ter uma
fobia irracional.
Cada um dos mecanismos citados é uma defesa
contra alguma ameaça real ou imaginária ao indiví-
duo. Rir, chorar, xingar, fumar, beber, assistir à
televisão, falar demais, trabalhar ou socializar-se
compulsivamente podem todos ser considerados
como defesas. Algumas são mais aceitáveis do que
outras e servem-nos bem. Outras podem ser des-
trutivas.
Quando compreendemos por que as pessoas agem
de determinada maneira, podemos relacionar.. nos
com elas mais eficazmente. E quando reconhecemos
que todos somos neuróticos até certo grau, então
podemos compreender melhor por que Jesus nos
disse: "Não julgueis, para que não sejais julgados."

125
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Relacionando-se COIn as
Pessoas Difíceis
Sê mui gentil hoje, porque todas as pessoas que encontra-
res estarão carregando um fardo quase que insuportável.
- Michelle Flaubert

A única coisa que lembro ter aprendido na quarta


série foi uma das fábulas de Esopo.
Parece que o sol e o vento tiveram uma discussão
sobre qual dos dois era mais forte. O vento falou do
poder de seus furacões, enquanto o sol fazia alusão
ao seu poder de evaporar água dos oceanos e lagos.
A discussão estava sendo de pouco proveito até que
avistaram um homem caminhando pela rua vestindo
um casaco pesado.
O sol desafiou o vento a fazer com que o homem
tirasse seu casaco. Então o vento soprou, fazendo
sobrevir um grande vendaval, mas o homem apenas
segurou seu casaco com mais firmeza sobre seu
corpo. o sol então disse: "Deixe-me tentar." Saiu de
trás de uma nuvem e projetou seus raios com uma
intensidade silenciosa. Dentro de alguns minutos o
homem tirou seu casaco e carregou-o sobre seu
braço. Assim, proclamou Esopo, o poder superior do
sol si lencioso foi demonstrado.
Não li mais a história desde os nove anos de idade.
Mas da maneira como a recordo, a essência desta
simples fãbula é que a força do silêncio pode muitas
vezes superar o ruído estrondoso.

127
Uma Discussão Infrutífera
Uma jovem certa vez veio me ver para discutir
sobre religião. Anunciando que era uma católica
romana fervorosa, passou a desafiar algumas crenças
protestantes bem definidas. Recordo aquele encon-
tro como tendo sido consideravelmente embaraçoso,
pois foi um exercício inútil. Deixando de perceber
que ela não tinha vindo para desafiar meus pensa-
mentos religiosos, mas, sim, porque estava insegura
quanto aos seus próprios pensamentos nessa área,
deixei que me levasse para uma discussão fútil.
A princípio fui razoavelmente discreto e consegui
lidar facilmente com ela. Pouco depois, quando
desafiou minhas crenças religiosas, encontrei-me
caminhando para a defensiva. Comecei a debater
com a jovem - uma reação genuinamente irracio-
nal. Depois de meia hora de discussão infrutífera, a
moça levantou-se e declarou em um tom bastante
zangado: "Estou mais convencida do que nunca que
nós, os católicos, é que estamos certos!"
Meu grande erro foi querer defender a posição dos
protestantes. Não precisava de mais defesa do que a
sua própria teologia catól ica. Deveria ter pedido à
jovem que me explicasse algumas coisas sobre sua
crença que eu não compreendia completamente.
Com isso, estou convencido, ela teria compartilhado
comigo em que pontos jaziam sua incerteza e con-
fusão religiosa. Depois eu poderia ter focalizado
nossos pontos de crença em comum. Sendo bem
mais novo naquela época, no entanto, eu não tinha o
bom senso que vem com a experiência e a idade.
Uma discussão direta quase nunca resolve as COI-
sas. E às vezes pode ser desastrosa.

Um Vendedor Relutante

Certa vez queríamos comprar várias casas do lado


oposto da rua de, nossa igreja. O primeiro proprie-
tário aceitou prontamente a nossa oferta; assim tam-
bém o segundo. ~s o terceiro causou problemas.

128
o dono da propriedade, um homem aposentado, era
um colecionador dedicado de bugigangas. Quando
perguntei se gostaria de considerar a venda de sua
casa, levou-me para o porão e mostrou-me uma
variedade incrível de objetos antigos que havia
adquirido durante cinqüenta anos de procura por
barganhas. Havia dúzias de artefatos de encana-
mento, a maioria em péssimo estado, móveis usados,
que havia comprado em liquidações, e quarenta
variações diferentes do que parecia ser puro lixo.
Para ele, era uma coleção inestimável. "Se fosse me
mudar", disse, "teria que transportar todas as minhas
coisas vai iosas, e isto custaria uma pequena fortuna.
Já pensamos em nos mudar para uma casa menor,
mas não estou em boas condições de saúde e fico
cansado só de pensar em ter que transferir todo este
material!" Então eu lhe disse que podia compreendê-
lo, pois também era colecionador.
Algumas semanas depois, por acaso avistei o ho-
mem no quintal da frente, aparando alguns arbustos.
Então disse-lhe:
- Meu amigo, estive pensando naquela coleção
que o senhor tem no porão; talvez exista uma
solução.
- Sim, qual é?
- Conversei com minha comissão, e concorda-
ram em contratar uma meia dúzia de homens e o
maior caminhão de transportes da cidade para trans-
ferir sua coleção sem qualquer despesa para o senhor.
Seu rosto iluminou-se. Então pegou minha mão e
começou a apertá-Ia efusivamente.
- O senhor faria isto por mim? Ora, que coisa
maravilhosa! Vou contar à Sara. Ela está querendo
mudar-se e isto realmente a deixaria encantada.
Alguns dias após, veio me dizer que estariam
dispostos a aceitar a nossa oferta. Três meses depois,
quando mudaram, sua esposa convenceu-o de que
não haveria espaço na casa nova para a sua "cole-
ção" preciosa. Deixaram tudo no porão e pagamos
150 dólares para transportá-Ia para o despejo de lixo.

129
A paciência e a transação adequada geralmente são
as que funcionam melhor.

Falta de Habilidade em Vender

Talvez você já tenha passado pela experiência de


alguém tentar vender-lhe uma coisa que você não
queria ou converter você para alguma religião ou
ideologia ou fazer você mudar de idéia. Isto deixou
você irritado ou zangado, não é? Trata-se de falta de
habilidade em vender e um hábito detestável quando
as pessoas tentam obrigar você a aceitar a merca-
doria delas, suas idéias ou qualquer coisa que parti-
cularmente não quer.
Alguns anos atrás, eu estava para comprar um
carro novo. O vendedor e eu havíamos chegado a um
acordo quanto ao preço e ele havia começado a
redigir o contrato. De repente parou e disse:
- Acho que é melhor checar isto com o gerente
de vendas. Volto já.
Voltou alguns minutos depois com seu patrão, que
explicou que o vendedor havia sido muito generoso.
Teriam que ·cobrar mais 300 dólares.
Os dois estavam sendo um pouco astutos demais,
insistentes de modo mui sutil e demasiadamente
persuasivos. Era óbvio que tentavam aplicar um
velho truque de vendagem. Eu havia encontrado o
carro de que gostava, com os devidos acessórios.
Já o tinha experimentado, e gostado dele. Havia
passado várias horas no balcão de vendas e já
preenchera meu cheque. Estava vendido, e eles
sabiam disso. Então prepararam a armadilha.
- Desculpem-me - eu disse - mas não aprecio
seus métodos. Devolvam meu cheque, porque agora
não vou comprar este carro por preço nenhum.
Então começou o debate de venda, os argumentos
frenéticos; mas peguei meu cheque de volta, rasguei-
o e fui embora.
No dia seguinte o vendedor estava em meu escri-
tório, tentando mais uma vez. Haviam resolvido que
poderiam aceitar minha oferta, afinal de contas.

130
- Não, desculpe-me ~ disse-lhe. - Vou com-
prar meu carro em outra agência. Sinto-me afrontado
por suas táticas de venda.
O vendedor ficou um tanto surpreso. Afinal de
contas, geralmente o método funcionava; o que
havia feito de errado?
Tenho um amigo que é corretor imobiliário. Talvez
nunca chegue a ser rico, mas sempre terá meu
respeito e minha admiração. É muito humilde e
nunca tenta "vender" uma casa ou algum negócio.
Quando se trata de um investimento, ele primeiro
quer saber a renda geral do cliente, quanto tempo
pretende ficar com a propriedade e uma dúzia de
outras coisas. Depois passa um tempo considerável
com sua máquina de somar. Finalmente se apresenta
com uma ou duas páginas de dados. Pode mostrar
que, em sua faixa de renda, tal negócio não seria um
bom investimento para você. Neste caso, pede mais
tempo para ver se encontra alguma coisa que sirva
melhor aos seus propósitos. Nunca insiste, nunca
discute.
Que prazer é fazer negócios com uma pessoa como
esta! Acho que deve dormir bem à noite, pois tem
uma consciência tranqüila. Todos o admiram.

Acertando as Contas
Quando ainda estudante, ensinei durante algum
tempo num curso noturno, preparando pessoas es-
trangeiras para o exame de cidadania, a ser realizado
por um examinador federal. A maioria dos estudantes
era constituída de pessoas de origem humilde. Todos
que estudaram no curso em que ensinei foram apro-
vados pelo examinador.
Durante certo exame no edifício federal, uma
mulher muito arrogante, usando vários diamantes,
apareceu com os meus outros alunos e foi interro-
gada pelo examinador. Era uma canadense muito rica
que havia-se negado a freqüentar as minhas aulas,
porque as pessoas "não eram do mesmo nível social
que ela", como disse ao examinador. Como a mulher
não pôde responder às perguntas sobre os Estados

131
Unidos e sua forma de governo, o examinador recu-
s-ou-se a aprová-Ia. Ficou muito indignada. Numa
fúria histérica, declarou que possuía uma grande
influência e faria com que ele fosse demitido.
Quando todas as pessoas já tinham se retirado, o
examinador disse-me: "Ela terá que freqüentar suas
aulas ou receber aulas particulares. Se você resolver
dar-lhe aulas particulares, quero que cobre dela 50
dólares por hora."
Telefonei para a mulher um ou dois dias depois e
ofereci-me para dar-lhe aulas particulares, acrescen-
tando que poderia garantir que passaria. Ela concor-
dou em ter as aulas comigo.
Uma vez por semana, durante três meses, vinha às
aulas, em seu Rolls-Royce, dirigido por um chofer.
Eu passava duas horas com ela em cada sessão.
Ambos estávamos fazendo um bom negócio: eu
precisava do dinheiro e ela precisava tornar-se uma
cidadã americana.
A mulher era inteligente e estava muito determi-
nada a não ficar reprovada em sua próxima prova.
Aliás, aprendeu tão rapidamente que tive de traba-
lhar duro para encontrar coisas para que memori-
zasse. Dei-lhe aulas de educação cívica, como se ela
fosse fazer um exame final de um curso de universi-
dade. Aprendeu cerca de cinco a seis vezes mais do
que qualquer candidato a cidadão era obrigado a
saber.
No dia do exame, o examinador a surpreendeu e
perguntou gentilmente:
- A senhora recebeu aulas particulares?
- Sim. Estuciei bastante.
O examinador, sorrindo, trocou comigo um olhar
de entendimento.
- Muito bem. Agora fale-me sobre a senhora e o
Canadá.
Durante quinze minutos ouviu embevecidamente,
enquanto a mulher falava de seu próprio país. De-
pois, com um sorriso enigmático, disse:
- Tenho certeza de que a senhora sabe tudo que
um cidadão americano é obrigado a saber, por isso
pode agora fazer o juramento.

132
Não fez uma pergunta sequer sobre história ame-
ricana ou educação cívica. A mulher olhou para ele
perplexa e indignada, depois fez o cheque e mo
entregou.
Ela havia-se tornado uma cidadã americana, eu
recebi meu dinheiro e o examinador teve sua vingan-
ça muda. Havia feito com que ela estudasse bastante,
com minha conivência voluntária, e depois não
deixou que exibisse sua sabedoria recém-adquirida,
de educação cívica americana. Mas será que foi
vingança? Talvez ele simplesmente tenha ensinado
uma lição valiosa a ela: que não se pode ameaçar um
funcionário federal e ficar impune.

Rancores Tendem a Ter o Efeito Oposto


Vingar-se de alguém não é uma atitude conveni-
ente. Envolve guardar rancores e um rancor não
passa de "ódio congelado que ficou rançoso". As
energias de uma pessoa podem ser melhor empre-
gadas de outras formas.
Iirn negava que guardava rancores con~asua mãe,
ql!e tinha apenas guinze .anos quando ele asceu. Ele
fOI uma criança Indesejada, ela o trata ,sempre
abominavelmente. Aos nove anos, [im decidiu que
teria sucesso sozinho, e o conseguiu. Tornou-se um
homem de negócios extraordinariamente\ bem-suce-
dido e uma pessoa encantadora. Mas seus poucos
contatos com a mãe sempre terminavam desastrosa-
mente. "Ela é maluca", disse, sem rancor. "Não
posso suportar conversar com ela nem mesmo pelo
telefone."
Numa série de sessões de Integração Primai, Ilrn
reviveu um pouco de sua trágica infância. Muito
tinha a ver com coisas que havia esquecido comple-
tamente. Aos três anos de idade, depois quatro,
cinco, sete e oito. No processo de relembrar vários
eventos, pôde expressar suas dores, depois seu temor
e finalmente sua ira - ira legítima e violenta, que
não sabia que abrigava.
Já no final, Iirn perdoou sua mãe. Pensava que
havia feito isto antes, mas tinha sido a nível intelec-

133
tua'. Agora perdoou-a ão fundo de sua natureza
emocional. Mais tarde disse: "Ainda não quero ficar
perto dela. Já sei o que vou fazer: mandar passagens
de avião para ela e para meu pai adotivo e pagar a
estada deles no Havaí por duas semanas."
As feridas antigas foram enfim curadas, a ira
dissipada. Iirn não sentia qualquer afeição por sua
mãe, apenas o amor agape. Havia cumprido o man-
damento de Jesus: "Amai os vossos inimigos, e orai
pelos que vos perseguem." 1

O Desastre Deles e a Min_~/Dor de Cabeça


Parece terrivelmente egocêrrtrfc o. mas a verdade
é que a minha dor .de cabeça é mais real para mim
do que uma tragédia terrível em algum país dis-
tante. A dor de coluna ou problema de sinusite
que assola você de vez em quando provavelmente o
incomoda mais do que ter conhecimento de que
umas 100 mil pessoas desabrigadas dormem nas ruas
de Calcutá todas as noites ou que a metade da
população do mundo irá dormir com fome esta
noite.
Isto não significa que não temos sentimento, mas
apenas que é da natureza humana estarmos mais
preocupados com nós mesmos e com os nossos
problemas do que com as outras pessoas.
Por isso, quando você parar de se concentrar em si
próprio e dar atenção sincera a outra pessoa, terá
feito algo de realmente significativo por essa pessoa.
Algumas pessoas acham isto muito difícil de se fazer.
Um ministro que eu não havia visto por uns dez
anos fez-me uma visita certo dia. Estava todo eufó-
rico, tendo acabado de voltar da Terra Santa.
"Osborne , você precisa ir à Terra Santa! Será o
ponto alto de sua vida. Vai por mim, planeje a
viagem." Passou mais uns quarenta e cinco minutos
insistindo eloqüentemente que a viagem mudaria
minha vida.
Dei uma olhada em volta de meu escritório. Estava
cheio - realmente lotado - de lembranças que havia
trazido comigo de oito viagens diferentes à Terra

134
Santa. Havia quarenta peças de vidro antigo, datadas
do ano 100 a.C. a 200 d.C.; cerâmica feita entre os
anos 2000 a.C. e 50 d.C., e vários objetos de alguns
dos sessenta e pouco outros países que visrtel,
Mas meu amigo não enxergou esses objetos. Não
estava com a mente em meu escritório; estava na
Terra Santa, ou em seu mundo privado. Eu não
queria estragar o dia dele, dizendo quantas vezes
havia visitado a Terra Santa, por isso ouvi atenta-
mente enquanto ele me falava sobre todos os lugares
sagrados que havia visitado. Ele estava tão dentro de
si que só conseguiu enxergar a si próprio.
Se você quiser relacionar-se bem com as pessoas,
não "corte o barato" delas. Não mostre onde estão
erradas ou quando estão sendo egoístas demais.
Apenas ouça atentamente.

Fazer Gozações e Ridicularizar


Uma jovem disse-me que seu pai adorava fazer
gozações com ela quando ainda era criança. Um de
seus truques prediletos consistia em estender-lhe as
duas mãos fechadas. "Se você puder adivinhar em
que mão está, então pode ficar com o que estiver
dentro", dizia.
"Mas eu nunca acertava em que mão estava a
surpresa", ela disse. "Só depois que observei o truque
centenas de vezes foi que percebi que nãQ tinha
coisa alguma em qualquer das duas mãos; papai
estava apenas brincando de maneira sádica. Com
isso aprendi a nunca confiar nele, depois a descon-
fiar dele e agora o odeio."
A gozação pode ser muito dolorosa para uma
criança. O sarcasmo entra na mesma categoria,
assim como a ridicularização. Uma criança nunca
deve ser ridicularizada, aliás, nem qualquer pessoa,
de qualquer idade.
A ridicularização e o sarcasmo são ambos uma
especie de hostilidade disfarçada. "Mas estava ape-
nas brincando; você não pode agüentar uma brinca-
deira?" é a resposta típica da pessoa que utiliza a
ridicularização disfarçada de humor. O insulto é

135
acrescentado à ferida pela insinuação de que você é
sensível demais e não tem senso de humor.
Como Provar Sua Superioridade
Você pode provar sua superioridade por nunca
tentar demonstrá-Ia. Não há nada de errado em
vencer, mas há definitivamente algo de errado em
querer provar sua superioridade em tentar vencer
constantemente.
Harold, um amigo que sempre me convidava para
ir à sua casa, adorava jogos de todos os tipos: tênis,
malha, dardos e vários outros. Gostava de praticar
esses jogos aos sábados à tarde. Certo dia joguei tênis
com ele e perdi. Risonhamente, tirou seus dardos.
Perdi de novo. Depois realizamos mais três ou quatro
jogos, nos quais ele era bem treinado. Finalmente
pediu-me para experimentar pingue-pongue. Acon-
tece que é um dos poucos jogos que sei jogar bem.
Deixei que fizesse um ponto no primeiro jogo, por
generosidade. Com isto parou de sorrir e guardou o
equipamento.
Harold não sabia perder. Nunca mais pegou seu
equipamento de pingue-pongue para jogarmos.
Tínhamos que jogar os jogos em que ele era mestre.
Já que eu em particular não me importava perder,
Harold adorava jogar comigo.
Não Existem Bons Perdedores
Já foi dito que não existem bons perdedores,
apenas bons atores. Há alguma verdade nisto, mas
algumas pessoas demonstram sua vaidade quando
detestam perder. Pode ser um jogo ou uma conversa,
mas não pense que você tem que ganhar. Ganhe o
relacionamento, não o duelo ou jogo. Tome a visão a
longo prazo. Prove sua superioridade por recusar-se a
demonstrá-Ia.
Ganhar o Argumento e Perder o Amigo
Hubert era presidente de uma corporação nacio-
nal. Tinha uma mente bri~hante, mas um relaciona-
mento difícil. Certa noite, num 'jantar em nossa casa,
envolveu outro presidente de corporação e mais dois

136
executivos de primeira classe numa discussão acalo-
rada. Os outros homens rebatiam seus argumentos
ridículos discretamente, e por fim recusaram-se a
continuar a discutir o assunto.
A esposa de Hubert ficou morrendo de vergonha.
Algum tempo depois disse-me que resolvera nunca
mais aceitar encontros sociais com seu marido, por-
que sempre deixava os outros convidados aborre-
cidos e estragava a noite dela.
Qual é a vantagem de ter sucesso financeiro, se
você não pode ter sucesso em qualquer outro sen-
tido? Hubert não possuía amizades sólidas e seu
casamento estava em ruínas. Era rico e infeliz.
Maneiras Inofensivas e Destrutivas de Compensar
A pessoa que não sabe perder, o tipo que gosta de
discutir, o gabola e o falador compulsivo estão todos
procurando compensar seus sentimentos profundos
de inferioridade. . .as existem maneiras relativa-
mente inofensivas de compensar feridas da infância.
Enquanto fazia uma visita a um homem em seu
escritório, comentei sobre três ursinhos de pelúcia
alinhados sobre sua mesa. Meu amigo deu uma
risada e explicou:
- São presentes recentes para a minha coleção .:
Tenho trinta e dois deles em casa.
Perguntei:
- Quer falar-me sobre isto?
Deu mais uma risada.
- Claro, sei a razão por que coleciono os ursi-
nhos. Quando ainda era pequeno foi o único brin-
quedo que me deram. Meus pais não acreditavam em
brinquedos, mas ficaram encantados com -um ursi-
nho de pelúcia, e me deram de presente. Eram
religiosos fanáticos e não admitiam a comemoração
do Natal, mas fizeram uma pequena exceção: cada
Natal pegavam meu ursinho de pelúcia, mandavam-
no limpar, consertar, e embrulhar, e davam-no de
novo como presente. Não havia árvore de Natal, é
claro, e mais nenhum presente. Mas agora posso ter
todos os ursinhos de pelúcia que quiser. Estou com-
pensando minha privação da infância.

137
Embora tenha dado uma risada, a memória de sua
infância privada transpareceu por trás de seu gesto.
Mais tarde, naquele dia, esse homem levou-me
para o aeroporto num Cadillac. Comentei sobre sua
nova aquisição. Ele disse:
- Ah, tenho dois deles, assim como um terceiro
carro.
Olhei para ele com um olhar de surpresa.
- Claro. Estou compensando mais uma vez. Meu
pai não me elogiava. Temia que ficaria muito con-
vencido. Mas quando tinha dezessete anos comprei
um Cord de segunda mão, um dos carros mais
atraentes já construídos. levei meu pai para dar uma
volta nele e cheguei a cem quilômetros por hora.
Depois ouvi quando ele disse para minha mãe: "O
rapaz tem um bom carro e levou-me para dar uma
volta maravilhosa." Foi o único elogio, se é que você
pode chamar isto de elogio, que recebi dele.
- Então você ainda está comprando carros na
esperança de ganhar alguma aprovação?
- E mais ou menos isto, mas eriquanrosouber por
que estou agindo assim e puder pagar "estará tudo
bem comigo. '
Mais uma vez deu uma risada. Estava rindo do
absurdo manifesto naquilo tudo, na pequena brinca-
deira consigo mesmo e apreciando sua habilidade de
compensar, agora na idade adulta, uma parte de sua
privação na infância.

Cinqüenta e Dois Cartões de Crédito


No aeroporto, enquanto tomávamos café, uma
conhecida do homem que acabo de mencionar abriu
sua bolsa. Então ele disse à mulher:
- Mostre para ele seus cartões de crédito.
Com isto a mulher pegou vários plásticos de guar-
dar cartões de crédito e espalhou-os na mesa, diante
de mim. Contei cinqüenta e dois. Ambos riram e eu
disse:
- Muito bem, existe uma história por trás disto
tudo. Fale-me a respeito.
Era uma história breve, mas significativa.

138

oi• • I I .. lo I L.l
A mulher tinha sido criada em grande pobreza. Seu
pai fora capaz de expressar amor apenas em termos
financeiros.
- Por isso, para mim, o dinheiro é igual ao amor
- ela disse. - Eu tinha que gastar tudo que ganha-
va, quando ainda criança, para ajudar mamãe e
papai. Agora tenho estes cinqüenta e dois cartões de
crédito, um talão de cheques e algum dinheiro que
carrego comigo. Além disso, deixo um ou dois dóla-
res de lado cada dia numa conta especial. Esse
dinheiro não pode ser gasto, embora possa ser em-
prestado. Assim, tenho uma grande sensação de
segurança financeira que não tinha quando era cri-
ança. Sei perfeitamente por que mantenho todos
estes símbolos de segurança financeira.
Se você sabe que está compensando alguma priva-
ção antiga da i nfância e pode sorrir para si próprio,
tal compensação pode ser um mecanismo psicoló-
gico relativamente inofensivo, contanto que não fira
outras pessoas ou interfira de maneira significativa
em sua própria vida.
O Problema Familiar
Relacionamentos com familiares ocorrem de todas
as formas, dimensões e intensidades. Muitas vezes
existem complicações dentro de complicações.
O Dr. Wayne W. Dyer escreve:
Numa palestra recente, pedi a todas as 800 pessoas do
auditório Que citassem as cinco situações mais comuns em que
sentiam-se vitimadas. Oitenta e três por-cento das situações
eram relacionadas com as famílias das vítimas. Imagine 56, algo
parecido com oitenta e três por-cento de sua vitimação pode
estar ocorrendo por causa de sua incapacidade de lidar com
membros de sua famíl ia. Que acabam controlando ou mani-
pulando você. E você também deve estar fazendo a mesma
coisa com eles.
As coerções familiares típicas citadas foram: ser obrigado a
visitar parentes, a fazer contatos telefônicos, a levar as pessoas
para conhecerem lugares, ter pais. filhos e cunhados impli-
cantes I parentes irritantes, ter que arrumar as coisas depois que
todas as pessoas foram embora. iazerem você de "empregado",
não ser respeitado ou apreciado por outros membros da
família, perder tempo com pessoas íngr atas.. não ter pr ivací-
dade por causa de exigências familiares, e assim por diante. 2

139
Gertrude, a mais nova de seis filhos, aos trinta e
nove anos ainda solteira, havia decidido tomar conta
da mãe idosa. Os outros irmãos estavam casados e
tinham seus próprios filhos, por isso parecia ser a
coisa mais lógica para ela fazer. Mas aos quarenta e
um anos Certrude decidiu casar-se. Sua mãe, agora
em estado físico muito precário e bem velhinha,
sentiu-se ameaçada pelos achaques que começaram
a aparecer. Passou a reclamar de enfermidades
vagas, mas persistentes.
Gertrude apelou a seus irmãos e irmãs, pergun-
tando se ficariam incomodados em receber a mãe
pelo menos por alguns meses. Responderam com vá-
rias desculpas: não tinham espaço; estavam atraves-
sando problemas financeiros; Gertrude ainda não ti-
nha filhos e estava, portanto, em melhores condições
de cuidar dela. A discussão prosseguiu durante algu-
mas semanas, pessoalmente e pelo correio. Os irmãos
de Gertrude apresentaram uma frente un ida: era res-
ponsabilidade dela, porque era" a mais nova e não
tinha fi lhos.
Gertrude escondeu seu ressentimento e prosseguiu
com os planos de casamento. A mãe recusou-se a ir à
cerimônia, insistindo que não estava se sentindo
bem. Duas irmãs compareceram, mas principal-
mente porque foram convidadas para serem damas
de honra. Os relacionamentos estavam tensos.
Gertrude, sua mãe e seu novo marido, Jack, esta-
beleceram-se juntos numa pequena casa e por algum
tempo a mãe fez um grande esforço para ser gentil.
Mas dentro de um ou dois meses tornou-se crítica e
passou a retirar-se para seu quarto imediatamente
após o jantar. Fazia as outras refeições em seu
quarto. Jack começou a sentir-se pouco à vontade e
. Gertrude estava ficando deprimida, de tanto escon-
der seu ressenti mento.
Iack sugeriu gentilmente que se promovesse uma
reunião de família para ver o que poderia ser feito.
Quatro dos irmãos e irmãs de Gertrude, juntamente
com seus cônjuges, disseram que não participariam.

140
Ela então anunciou que pretendia- colocar sua mãe
num asilo de velhos.
Houve uma recriminação instantânea por parte de
todos: "Corno é que você pode fazer urna coisa
destas com a nossa mãe? Ela morreria dentro de um
mês, num lugar desses. Depois de tudo que fez por
você! E claro Que nós não podemos tomar conta dela
por motivos que você compreende claramente. Mas
você, sem filhos, certamente deveria ser capaz de
tomar conta dela até o fim ...", e assim por diante.
Gertrude começou a ter sentimento de culpa pela
sua ira escondida. Cada vez mais deprimida, pro-
curou aconselhamento.
Depois de ter ouvido a história, o conselheiro
perguntou:
- Quais são as suas opções?
Ela não podia pensar em nenhuma. O conselheiro
então apontou várjas. Ela poderia deixar a situação
como estava e viver em seu estado de depressão. Sob
tais circunstâncias, havia a possibilidade de que seu
marido perdesse o i nteresse por ela e a deixasse.
Ou poderia tentar dialogar com seus irmãos e irmãs.
- Não, isto está fora de cogitação - explicou. -
Não há mais esperança. Não quero ter mais nada a
ver com eles.
A terceira alternativa era colocar a mãe no asilo.
- Mas vão me odiar por isso - protestou Ger-
trude.
Eles amam você agora?
Dizem que sim, mas ...
- Mas o quê?
- Não agem de acordo.
- O que é Que você quer: paz de espírito e uma
solução viável, ou prefere prender-se à ilusão de que
seus irmãos e irmãs realmente se importam com
você?
A sessão durou mais meia hora. Gertrude final-
mente resolveu colocar sua mãe num asilo de ve-
lhinhos.
Quando a mãe recebeu a notícia, protestou, dizen-
do que não iria. Os irmãos e irmãs e seus cônjuges

141
.,...., I 1 ".,.- ?" ,-

protestaram que ela não podia fazer isto com a mãe


dela. Mas Gertrude foi; nflexível.
A mãe foi colocada num abrigo de velhinhos. Em
poucos meses estava sentindo-se bem melhor, diri-
gindo o programa de recreação e fazendo devocio-
nais para a classe feminina de estudos bíblicos com
energia suficiente para conseguir irritar os diretores.
Quando lhe disseram que teria que parar de tumul-
tuar o ambiente com suas fofocas e queixas, do con-
trário seria mandada embora, ela tornou-se bem dó..:'
cil e começou a gostar de sua nova vida.
Gertrude e Jack ainda têm relações deterioradas
com os irmãos, porém ela já aprendeu que isto é
problema deles. Chegou a ver que o ressentimento
dos irmãos tinha sua origem principalmente no pró-
prio sentimento de culpa deles.
Talvez nunca haja uma solu-ção feliz para estes
relacionamentos deteriorados. Gertrude trata seus
irmãos educadamente, recusa-se a discutir, e manda-
lhes cartões de Natal todos os anos. Diz: "Você pode
escolher os seus amigos, mas herda os seus parentes.
A porta está aberta se os meus quiserem se reconci-
liar comigo. Se o fizerem, será maravilhoso. Se não o
fizerem, não será fatal. Sou fel iz em meu casamento
e a vida e boa."
Seria bom se todas as histórias tivessem um final
feliz como nos livros e no cinema. Mas a vida não é
assim. Às vezes não há solução perfeita, e temos que
fazer o melhor que pudermos e ficar satisfeitos com
isto.
Um homem, dirigindo pela área rural de West
Virginia, parou para pedir instruções a um menino de
macacão sentado numa cerca. O motorista pergun-
tou:
- Você viveu aqui sua vida toda?
O menino mastigou um pedaço de capim por um
momento, depois disse solenemente:
- Não, apenas até agora.
- Você tem o resto de sua vida para resolver seus
problemas e alcançar alguns de seus alvos. Dê o
melhor de si, e não se preocupe com o resto".

142
• •
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Quando e COlnO Defrontar-se


o tigre não declara sua "tígritude" antes de saltar. Ele
a declara na elegância do salto. - Wolfe Soylnka, dra-
maturgo nigeriano

Um médico amigo meu comprou um carro novo


muito caro. Logo na primeira semana em que já
estava de posse do automóvel, apareceu um defeito
grave, por isso levou-o de volta ao vendedor, para ser
consertado. Duas semanas depois, mais defeitos
surgiram. Durante os três meses seguintes o veículo
foi para a oficina mais Quatro vezes.
Certo dia os freios falharam quando sua esposa
estava dirigindo o carro. Ela evitou um acidente por
sorte e reflexos rápidos. Meu amigo pediu que o
vendedor mandasse um caminhão de reboque para
apanhar o carro e reclamou seriamente sobre a situa-
ção. O vendedor não pareceu incomodado, mas
concordou em consertar o sistema de freios defei-
tuoso. Três dias depois de ser consertado, os freios
voltaram a falhar.
Desta vez meu colega telefonou para o vice-presi-
dente executivo encarregado de vendas em Detroit.
De maneira clara, fria e cuidadosa explicou sua
experiência com o veículo. Depois disse:
- No momento, o carro parece estar funcionando
satisfatoriamente, depois de ser consertado várias
vezes pelo vendedor um tanto indiferente. Mas

143
quero que o senhor saiba que, se eu ou qualquer
membro de minha família for ferido devido ao mau
funcionamento deste automóvel, então vou proces-
sar sua companhia e exigir um milhão de dólares de
indenização.
O vice-presidente ficou alarmado.
- Doutor, ouça, não dirija esse carro! Repito, não
dirija esse carro. Alugue um outro e mande a conta
para nós. Terei um outro novo para o senhor dentro
de uma semana. Mas lembre-se, não dirija esse carro!
Por que meu amigo obteve resultados? Primeiro,
fez a coisa apropriada em reclamar com quem fizera
a transação, ao invés de com um mecânico, cada vez
que o automóvel apresentou algum defeito. Depois,
não perdeu a calma, esbravejando, nem fez exigên-
cias. Mas quando se tornou patente que o carro que
comprara era uma armadilha e que o vendedor local
não iria remediar a situação, tomou uma atitude
concreta e se dirigiu diretamente ao superior.
Quando se fala em confrontação, as pessoas são
classificadas em cinco categorias gerais:

1. Os Acusadores
Estes indivíduos são grandes críticos e encontram
falhas em tudo, recusando-se a aceitar qualquer
culpa de sua parte. Tendem a fazer o jogo da
confusão, enquanto as outras pessoas se retraem,
para evitar suas acusações iradas. No entanto, se
forem desafiadas com firmeza, geralmente emude-
cem, depois de oferecerem uma certa resistência.

2. Os Apaziguadores
Os apaziguadores farão virtualmente qualquer
coisa para evitar uma confrontação. Pedem descul-
pas por estarem vivos e se encolhem diante da menor
insinuação de crítica. São insinuantes e têm uma
forte necessidade de receber a aprovação de todos.
Tais indivíduos não suportam a rejeição e irão a
quaisquer extremos para evitá-Ia.

144
3. Os Instrutores
Estas pessoas têm uma grande necessidade de
informar e ensinar e são grandes intelectualizadores.
Estando fora de sintonia com suas emoções mais
profundas, são insensíveis aos sentimentos do pró-
ximo. Orgulham-se da habilidade de "superar" as
emoções e vivem pela cabeça e nunca pelo coração.

4. Os Evasivos
Estas pessoas têm a sutileza de confundir o assun-
to. Empregam evasivas para evitar uma confrontação
direta. Muitas vezes usam um palavreado embolado,
para obscurecer o assunto, na esperança de que ele
seja evitado.
5. Os Que São Objetivos
Estas pessoas são francas e diretas e enfrentam um
assunto objetivamente, sem ficarem aborrecidas.
São sucintas e lógicas, usam de tato e têm consi-
deração para com os sentimentos dos demais. Não
acusam, e simplesmente expõem os fatos da maneira
como os enxergam.
Indivíduos assim farão quase qualquer coisa para
evitar uma confrontação. Têm uma necessidade tão
grande de serem amadas que um encontro direto
torna-se uma situação traumática.

o Confronto Aborrecido
Existe uma razão i nteressante por que algumas
pessoas ficam aborrec idas e esbravejam durante uma
confrontação. Os apaziguadores, que temem genui-
namente uma confrontação, vêem apenas duas
opções: recuar ou atacar. Ceralmente recuam, mas,
quando o temor ou a frustração as domina, sentem a
necessidade de confrontar. Não podem fazer isto
sem estarem muito zangadas. Temendo seu oponen-
te e a ira dele, estas pessoas podem ficar iradas de
modo i nconven iente.
Certa mulher muito amável, que trabalhava para
.. mim, entrou furiosa em meu escritório e começou a

145
~" r 'f r' '"

gritar comigo. Fez todos os tipos de acusações sobre


como era tratada injustamente, reclamou por não ter
...
recebido um aumento e disse-me em alta voz Que
não ia mais aturar isto.
Quando finalmente acalmou-se um pouco, eu
falei:
- Acho que muito daquilo que a senhora disse é
verdade. Terei o maior prazer em discutir tudo isso
com a senhora. Mas será que poderia me dizer
por que está tão zangada?
Ela pensou por alguns instantes, ainda com a
respiração ofegante, e finalmente respondeu, um
tanto hum i Idemente:
- Acho que meu problema é que não teria a
coragem de simplesmente entrar aqui e pedir um
aumento se não fosse impelida pela indignação.
Estive acumulando esta ira durante três dias inteiros,
e agora o senhor me deixou encabulada ao concor-
dar comigo. .
Deu uma risada.
Eu disse:
- Sim, estive pensando sobre este assunto de dar
um aumento à senhora, porque realmente o merece.
Ao que ela replicou:
- Obrigada, e desculpe-me por ter ficado tão
irada. Não estou zangada com o senhor, mas comigo
mesma, por me sentir com tanto medo.

Dirija-se ao Seu Superior


Se você tem uma queixa sobre a maneira como foi
tratado por uma firma de negócios, não fale com um
balconista ou empregado. O vendedor geralmente
está pouco interessado no fato de você estar satis-
feito ou não. Leve sua reclamação ao seu superior.
Ele pode ser o chefe de departamento, o gerente de
vendas ou o vice-presidente. Quando se trata de uma
firma de menor porte, talvez seja necessário marcar
um horário com o dono.
Não entre furiosamente, fazendo muitas acusa-
ções. Explique o problema calmamente. Leve o seu
recibo de pagamento ou qualquer outra documenta-

146
ção com você. Prepare uma lista escrita de todas as
suas reclamações.
Não ameace levar o seu caso a outro lugar. En-
quanto o dono ou responsável não quiser perder um
freguês e preferir contar com a sua boa vontade, a sua
ameaça não tem cabimento. Além disso, o coloca na
defensiva.
Na Califórnia, como em alguns outros estados,
existe um Departamento de Assuntos do Consumi-
dor. Como um último recurso, quando as negocia-
ções não dão certo, os fregueses insatisfeitos escre-
vem para o órgão, descrevendo os fatos pertinentes.
No entanto, é sempre melhor tentar resolver as
questões primeiro com o chefe de departamento ou
quem quer que seja a pessoa responsável.
Embora você tenha sido maltratado por uma firma
ou um indivíduo, certas palavras devem ser evitadas,
tais como "devia". Dizer a um adulto o que devia
fazer poucas vezes contribui para um relaciona-
mento satisfatório.

É Inútil Tentar Mudar as Pessoas


Só Deus sabe quantos maridos e esposas já perde-
ram horas e anos incontáveis tentando- mudar um ao
outro.
Numa sessão de aconselhamento, uma mulher me
falou, com amargura patente, de sua luta de trinta e
cinco anos, tentando modificar seu marido. "Não
tem jeito", reclamou. "O senhor já o conhece; viu
como é fraco e sem pe-rsonalidade. Tenho que fazer
tudo. -É um péssimo pai e um mau esposo. Quero o
·divórcio."
O marido era um tanto passivo, estava claro que
havia-se casado, inconscientemente, com uma forte
figura maternal. Mas senti que ele se mostrava muito
menos do homem que era antes de casar-se. Trinta e
cinco anos de críticas hostis haviam-no deixado emo-
cionalmente paralisado. Queria escapar dos ímpetos
emocionais dela tanto quanto ela queria livrar-se de
um marido incapaz. O problema deles foi resolvido
somente depois de um aconselhamento extensivo,

147
quando ela concordou em parar com os ataques de
crítica e ele aprendeu a tratá-Ia como esposa, ao
invés de como a mãe dominadora que temia quando
era criança.
Parece-nos evidente que muitas pessoas precisam
ser modificadas. Algumas são bem estranhas, não é?
Mas você está perdendo o seu tempo ao tentar
modificá-Ias. Mudanças básicas na personalidade de
um adulto não podem ser efetuadas enquanto a
pessoa não quiser mudar; e os seus esforços para
fazer com que ela mude geralmente farão com que
fique aborrecida, sendo uma abordagem antipro-
dutiva.
É impossível você transformar:
- uma pessoa tímida em extrovertida.
- um intelectualizador em pessoa genuinamente
sensível.
- um falador compulsivo em indivíduo quieto e
moderado no falar.
- um indivíduo precavido em uma pessoa ousada
e audaciosa.
- uma pessoa impetuosa em outra mais caute-
losa ou cuidadosa.
- um indivíduo que gasta incontroladamente em
pão-duro.
- um pão-duro em alguém que seja generoso,
mão-aberta.
Pessoas como estas podem mudar, mas não como
resultados de seus conselhos ou suas críticas. Você
não pode fazer com que as outras pessoas tenham os
mesmos sentimentos que você, que possuam as
mesmas idéias, preocupações e atitudes que você.

Como as Nossas Personalidades São Desenvolvidas


Pense no número incrível de fatóres complexos
que estão envolvidos na formação de uma persona-
lidade. Em primeiro lugar vem a caracterização gené-
tica. No ato sexual que precede a concepção, milha-
res de espermatozóides são liberados, cada um com
uma molécula ADN (ácido desoxiribonucléico) dife-
rente, carregando o código para as características

148
físicas, mentais e emocionais. Apenas um dos esper-
matozóides alcançará o óvulo. Após a fertilização,
há uma combinação de moléculas ADN carregando
muitos fragmentos de informação codificada, que
determinará de antemão se a criança será alta ou
baixa, tímida ou agressiva, de olhos azuis ou casta-
nhos, e assim por diante. literalmente, centenas de
outras características são predeterminadas.
Durante os nove meses de gestação, os estados
'físico e emocional da mãe exercem efeito sobre a
criança que está para nascer. Aquilo que a mãe sente
é transmitido ao feto. Os medicamentos que toma, o
equilíbrio de minerais e vitaminas na comida que
come, tudo afetará o feto.
E depois há o fato do nascimento - um dos
acontecimentos mais traumáticos que esta vida nova
talvez experimente. Para alguns, é uma experiência
terrível; para outros, simplesmente um episódio
assustador, à medida que deixam o calor e a seguran-
ça do útero, para emergir fria, faminta e assustado-
ramente numa sala que é uns vinte a vinte e seis
graus mais fria do que o útero.
Através dos anos, à medida que a criança se desen-
volve, passando pela infância e finalmente chegando
à juventude, enfrenta e ajusta-se a uma combinação
de circunstâncias e influências que nenhuma outra
pessoa na terra já experimentou. Todos esses indiví-
duos são únicos e dia após dia suas personalidades
estão sendo formadas de maneiras complexas.
O ser emocional-intelectual-físico básico está bem
definido na época em que as crianças completam
seis anos de idade. Aos quatorze anos, as caracte-
rísticas básicas de sua personalidade estão solidifi-
cadas. Podem mudar muitas de suas idéias e atitu-
des, à medida que se desenvolvem, mas a estrutura
fundamental está agora solidamente firmada.
E você esperava, com algumas palavras bem esco-
lhidas, efetuar uma mudança radical na personali-
dade de alguém? Pode abandonar este pensamento.
As modificações ocorrem na personalidade humana,

149
mas quando ocorrem é porque, provavelmente, o ser
envolvido resolveu mudar.
Nós, seres humanos, temos um interesse inato de
permanecermos da maneira que somos. O pensamen-
to de uma mudança radical de personalidade é toma-
do como uma ameaça pelas pessoas em geral. A dor
- emocional, circunstancial ou física - é uma gran-
de motivadora. A palpitação depressiva da frustração
ou a punhalada afiada de uma crise pode proporc io-
nar em nós o ímpeto de mudar. Mas poucas outras
coisas farão isto.
Fazendo com Que as Pessoas Mudem de Idéia

Embora seja praticamente impossível efetuar uma


mudança básica de personalidade em outra pessoa,
às vezes é possível convencer alguém a adotar um
modo de agir que não esperava adotar.
Certa mulher de meu conhecimento queria que seu
marido fosse mais do que um simples vendedor, pois
ela apreciava uma vida cara e sentia atração pelos
acontecimentos sociais. Por vários anos tentou
convencê-lo a participar do mundo dos negócios.
O marido contraiu grandes empréstimos de seu se-
guro de vida e colocou uma segunda hipoteca na
casa deles. Pegaram grandes quantias de dinheiro
emprestado de seus pais. Finalmente abriram um
negócio. Dezoito meses depois caíram em bancarro-
ta. Levou onze anos para que se recuperassem finan-
ceiramente. A mulher muito convincente tornou-se
mais triste e sábia.
Recordo-me de um pai e mãe que tinham altas
expectativas para seu filho, que era um tanto pacato.
Usavam as recompensas comuns para notas boas e os
castigos para as más. O filho era um aluno razoável,
mas não particularmente dotado. Seu pai esperava
que tentasse entrar para o time de futebol. O jovem
esforçou-se um pouco, mas desistiu no final do
primeiro ano. Depois de dois anos na faculdade,
abandonou os estudos e~ filiou-se a um grupo reli-
gioso, onde é agora um discípulo passivo e obediente
de um líder religioso carismático.

150

I, • ih l li, I . ,

Não é difícil dominar pessoas quietas, passivas ou
dependentes. Uma personalidade forte pode facil-
mente tomar conta de uma conversa. Os pais, em
geral, têm poucos problemas em superar ou coagir
um filho. Mas a tragédia pode ser o resultado de
forçar as opiniões ou os padrões das outras pessoas.
Como pode alguém estar absolutamente certo sobre
o que é bom para o próximo? Muitos problemas pre-
cisam ser resolvidos através de comunicação des-
contraída.
Às vezes um debate franco consegue ser mais
produtivo do que a confrontação: "Vamos sentar e
falar sobre o problema e ver quais são as opções.
Você defende um ponto de vista, eu outro; depois de
algum tempo mudaremos nossos pontos de vista,
para ver se podemos ter algumas idéias que sejam
favoráveis." Esta é uma abordagem muito melhor em
muitas instâncias do que o método dominador e
obstinado.

Faça de Seu Inimigo um Aliado


Durante a Segunda Guerra Mundial, quando a
gasolina era racionada e os cupons obrigatórios, um
conhecido meu precisava desesperadamente de mais
gasolina para atender às suas chamadas de negócios.
Dirigiu até um posto de gasolina e disse:
- Encha o tanque.
Quando o empregado se aproximou para pedir os
cupons de racionamento de gasolina, Harry estava
em pé ao lado do carró.
- Tem os cupons? - perguntou o empregado.
Tirando uma pistola automática 32, Harry disse:
- Aqui está o meu cupom. Agora afaste-se, por-
que vou sair em disparada.
Assim que se virou para entrar no carro, o dono do
posto, de dois metros e pouco de altura, se pôs atrás
dele e bateu-lhe na cabeça com uma chave inglesa
pesada. Harry caiu desmaiado e chamaram uma
ambulância.
Mais tarde, a esposa de Harry pediu-me que o
visitasse no hospital. Encontrei-o deitado na cama

151
numa sala fechada a cadeado. Pálido e humilde,
tanto quanto fraco, olhou para mim e disse:
Acho que fiz uma grande burrice, não é?
- Como é que se se-nte? - perguntei.
- Meio tonto. Aquele cara deve ter batido em
mim com bastante força. O que você acha que farão
comigo?
- Por assalto a mão armada? Isto é um delito
grave. Mandam as pessoas para 5an Quentin por essa
falta.
- É ... E o que vai acontecer a minha esposa e
filhos?
Prometi-lhe que veria o que poderia fazer.
Harry não era o homem mais inteligente da cidade.
Aliás, era meio obtuso, mas no fundo uma pessoa
bem-intencionada. O que ocorrera é que preocupa-
ções financeiras haviam subido à cabeça dele mo-
mentaneamente. Eu achava que seria uma falha
terrível por parte da justiça mandá-lo para San
Quentin. Ele precisava de cuidados psiquiátricos
mais do Que de uma sentença de prisão.
Alguns dias depois telefonei para o procurador
local, a fim de marcar um encontro. Ele não era
exatamente um inimigo, mas estava para ficar do
outro lado da cerca, e eu queria tê-lo como um
aliado. Pedi à esposa de Harry que viesse e trouxesse
os dois filhos para irem comigo ao cumprir minha
pequena rn iss ão. No dia do encontro, uma esposa
frágil e assustada e dois meninos amedrontados en-
traram no escritório do procurador comigo.
- 5r. Blanchard - comecei - precisamos de sua
ajuda. O senhor está informado sobre Harry, que
assaltou um posto de gasolina recentemente. Está no
hospital com a cabeça quebrada. Sei que é seu dever
processá-lo, pois fez uma coisa i legal. No entanto,
conheço a reputação do senhor como sendo um
homem justo e bondoso. Por isso quero sua opinião
sobre um advogado para defender Harry. O senhor é

152
obrigado a processá-lo, mas sei que quer o melhor
para todos os envolvidos.
"Se Harry for para San Quentin, seu negócio será
fechado e a família dele terá que entrar na lista da
previdência social. Minha opinião é que Harry pre-
cisa mais de tratamento psiquiátrico do que de uma
sentença de prisão. Será que o senhor não poderia
me dar os nomes de dois ou três advogados que
gostaria de recomendar?

Fazendo com Que as Pessoas Fiquem Preocupadas


Juntamente com Você

o procurador olhou para o teto por alguns ins-


tantes.
- Bem - disse - temos o Frank Iones... mas
não, ele e o juiz não se dão bem. Vamos tentar Larry
Ballentine. Sim, creio que ele faria um bom trabalho.
As duas crianças, agarradas à mãe, não compre-
endendo o que estava acontecendo, puderam pelo
menos perceber que era alguma coisa ruim. Eu tinha
pena de ter que envolvê-Ias nisto, mas queria que o
procurador as visse.
O caso-nunca -chegou a julgamento. O procurador
pediu que u~""'Jsiql)iat~a apontado pela corte entre-
vistasse Harryno/hospltal. Houve uma recomenda-
ção de liberdade condicional, e Harry estava de volta
a casa depois que se recuperou do ferimento.
Este episódio, de certo modo, foi uma confronta-
ção. Não houve manipulação ou discussão. Mas com
um pouco de raciocínio e um apelo aos sentimentos
do procurador, Harry foi devidamente liberto de uma
sentença de prisão. Nunca mais se meteu em apuros
de novo.
Posso lembrar de centenas de vezes quando disse
ou fiz a coisa errada numa confrontação, e de, outras
vezes quando meu desempenho foi algo abaixo do
ideal. Mas sempre sinto-me satisfeito com meu apelo
feito ao procurador.
A personalidade humana consiste, grosso modo,
de quatro quintos de emoção e um quinto de inte-

153
lecto. Isto significa que-as nossas decisões são feitas
à base de 80 por-cento de emoção e apenas 20
por-cento de intelecto. Entrar numa confrontação,
ou até mesmo numa discussão, sem levar em conta
as emoções, é ser apenas 20 por-cento eficiente na
maneira de lidar com as pessoas. Ao apelar à natu-
reza emocional do procurador, bem como ao seu
senso básico de honestidade e justiça, a justiça foi
feita.

Relacionando-se com a Oposição


Franklin Delano Roosevelt certa vez relatou como
lidou com um senador que causava problemas. Certa
ocasião, quando este senador teimoso estava atra-
palhando uma legislação vital, Roosevelt descobriu
que o homem era um ávido colecionador de selos, e
então usou este conhecimento para sua grande van-
tagem.
Certa noite, quando Roosevelt estava trabalhando
em sua própriacoleçâo de selos, telefonou para o
senador, pedindo a sua aluda. Encabulado, o sena-
dor foi até lá e trabalharam juntos por algumas horas.
No dia seguinte, quando o voto por chamada foi
feito, o senador votou de modo favorável.
A lição aqui é bem importante. Em nenhum mo-
mento, durante aquela sessão fi latél ica, qualquer um
dos homens chegou a mencionar suas diferenças
sobre a legislação. Haviam simplesmente conhecido
melhor um ao outro, e o "inimigo" tornou-se "amigo".

Alguns IINão Faça" Práticos

Aqui estão alguns "Não faça" que devem ser


lembrados quando se está lidando com um oponen-
te, quer a pessoa seja um inimigo ou meramente
alguém a quem você quer persuadir.
1. Não espere que o raciocínio ou a discussão
erradique uma neurose profundamente arraigada.
O mentiroso, o glutão, o falador ou o beberrão
compulsivo nunca pode ser dissuadido de seu modo

154

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I I I .' . I· i ."1 I . I , ,J.L I. ~l .. ,
de agir pela insistência ou pelo raciocínio. Aborda-
gens como as seguintes são inúteis:
"Não percebe que está arruinando sua saúde?"
"Será que você não pode ver que dominou a
conversa com a sua mania de falar demais?"
"Tudo que tem de fazer para perder peso é parar de
comer tanto."
"Não se preocupe tanto. Apenas aprenda a rela-
xar. "
2. Não tente em demasia atrair a atenção, o riso
ou o aplauso.
Você ganhará mais amigos se aprender a ser um
bom ouvinte e deixar que as outras pessoas também
brilhem.
3. Não espere que as outras pessoas o cumprimen-
tem.
Você pode aprender a ser mais extrovertido por
abrir-se, dar o primeiro passo, ser o primeiro a
cumprimentar as outras pessoas. Uma das pessoas a
quem estava aconselhando me disse:
- Quando entro numa sala cheia de pessoas, se
ninguém vem correndo para cumprimentar-me, fico
aborrecida. Sei que isto é ridículo, mas não posso
fazer nada com relação a este problema. .
- Alguma vez é a senhora que cumprimenta as
pessoas?
- Não. Sou tímida demais.
- A senhora acha que as outras pessoas é que têm
o dever de virem cumprimentá-Ia?
- Sim, não é estúpido? Mas é o que acho.
Esta mulher teve que aprender a forçar-se a -ir ao
encontro, a cumprimentar os outros primeiro.
4. Não se filie ao "circulo vicioso" de fofoqueiros
e assassi nos do caráter.
Pessoas enfadonhas falam de pessoas, pessoas
inteligentes discutem idéias e pessoas que querem se
desenvolver falam sobre o que pensam.
5. Não tente fazer com que as pessoas se compro-
metam a fazer mais do que podem realizar esponta-
neamente.

155
Talvez tenham sucesso, mas não se sentirão à
vontade e possivelmente passarão a detestá-lo por
isso.
6. Não domine a conversa.
Dê uma chance aos outros e você será amado pelo
que você é, ao invés de evitado pela maneira como
tomou conta da conversa.
7. Não seja uma pessoa ,'negativa e crítica.
As pessoas são atraicias por uma personalidade
positiva e repelidas por uma negativa.
8. Não tenha medo de confessá-lo quando está
errado.
Nada é mais ridículo do que alguém que está
obviamente errado insistir veementemente que está
com a razão. Esta é uma maneira certa de perder
influência e credibilidade.
9. Não tenha medo de ser gentil.
A pessoa forte pode sustentar a gentileza.
10. Não subestime a importância de ser um bom
ouvinte.
Um Monólogo Gravado
Uma jovem senhora em grande tensão com relação
ao seu casamento marcou um horário para vir me
ver. Sentou-se, ligou seu gravador e anunciou que
não queria perder uma palavra sequer daquilo que eu
iria dizer. Pedi-lhe que me falasse sobre seus proble-
mas. Então ela começou a falar e continuou sem
interrupção por uns cinqüenta minutos.
Quando o seu horário estava chegando ao fim,
perguntei:
- Quais são as suas opções?
Citou três.
- Qual delas parece-lhe ser o modo de agir mais
razoável a ser adotado? - perguntei.
- O terceiro - disse sem muita hesitação. Sorriu
e respirou fundo. - Acho que encontrei a resposta.
Depois desligou o gravador, disse o quanto apre-
ciou minha ajuda e foi embora.
Este exemplo não é tão incomum. Muitas vezes
faço perguntas investigadoras e às vezes ofereço

156
sugestões alternativas como possi-bilidade. No caso
acima, a jovem tinha necessidade de esclarecer o seu
próprio pensamento diante de um ouvinte interes-
sado.
Sua mãe havia passado várias horas dando-lhe
conselhos e fazendo-lhe recomendações. Seu esposo
fez-lhe súplicas e promessas em meio a choro. Outro
homem, por quem pensava estar apaixonada, havia-
lhe apresentado várias opções. Mas mais ninguém
havia ouvido a moça. Finalmente ela achou que
encontrara a resposta em seu íntimo.
Aprender a ser um bom ouvinte é tão importante
quanto saber quando e como confrontar uma pessoa.
Existem a hora e o lugar certos para ambas as coisas
no âmbito incrivelmente complexo das relações
humanas.

Você Tem Direitos

o psicólogo Manuel J. Smith mostra que todas as


pessoas têm certos direitos importantes. Chama-os
de "Uma Lista de Direitos Assertivos":
1. Você tem o direito de julgar seu próprio com-
portamento, . pensamentos e emoções, e de
assumir a responsabilidade por eles e as suas
conseqüências.
2. Você tem o direito de não oferecer razões ou
desculpas para justificar o seu comporta-
mento.
3. Você tem o direito de julgar se tem ou não a
responsabilidade de encontrar soluções para
os problemas de outras pessoas.
4. Você tem o direito de mudar de idéia.
5. Você tem o direito de cometer erros - e ser
responsável por eles.
6. Você tem o direito de dizer: "Eu não sei."
7. Você tem o direito de não sentir nenhuma
obrigação para com a boa vontade de outras
pessoas, antes de lidar com elas.
8. Você tem o direito de não ser lógico ao tomar
decisões.

157
9. Você tem o direito de dizer: "Não compre-
endo."
10. Você tem o direito de dizer: IINão me im-
porto. "
Você tem o direito de dizer não, sem sentir-se
culpado. 1

158

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Como os Sentimentos
de Inferioridade e Medo
Prejudicam os Relacionamentos

A maior descoberta de nossa geração é que os seres huma-


nos, ao mudarem as atitudes internas de suas mentes.
podem mudar o aspecto exterior de suas vidas. - William
James

Durante uma viagem de outono pelos estados


nordestes dos Estados Unidos, o guia turístico con-
tou-nos uma história verdadeira sobre uma mulher de
meia-idade que havia participado da excursão ante-
rior. Certa manhã a mulher reclamou de não ter
dormído bem. Perguntaram-lhe se a cama era des-
confortável.
- Bem, este não era o problema real - respon-
deu. - Quando fui para meu quarto ontem à noite,
não havia quaisquer móveis lá dentro, nem mesmo
uma cama. Por isso, dormi no chão, e minhas costas
estão me matando de dor.
O guia turístico ficou chocado:
- Por que a senhora não falou comigo ou recla-
mou com a recepcionista na portaria? - perguntou.
- Bem, o senhor sabe - exp\\COU a mu\her -
nunca fui pessoa de reclamar e simplesmente não
queria aborrecer ninguém.

159
Isto parece incrível, mas é uma ilustração excelen-
te de até que extremos algumas pessoas vão para
evitar provocar uma confrontação ou fazer uma
cena.
Vários livros sobre o assunto já foram escritos e
uma variedade de cursos a respeito oferecidos em
anos recentes. Muitas pessoas poderiam se beneficiar
com tais cursos.
A Maioria das Pessoas São Tímidas
Alguns anos atrás, no programa de televisão A
Câmera Escondida, foi apresentada uma longa fila de
pessoas esperando pacientemente diante da caixa de
um supermercado. De repente, um rapaz apressado,
carregando uma sacola de compras, foi passando à
frente de todas e se pôs no início da fila. Vários
circunstantes olharam para ele de cara feia, mas
todos aceitaram a conduta do rapaz sem qualquer
protesto. Ninguém o desafiou. Toleraram seu com-
portamento atrevido, sem qualquer reclamação
verbal. Alguns resmungaram consigo próprios, mas
ninguém fez coisa alguma.
Esta cena foi apresentada, é claro, para mostrar
como as pessoas se comportam em tais situações.
Por que tantos seres humanos têm medo de fazer
valer os seus direitos? Parece que estamos divididos
em quatro classificações gerais.
Existem aqueles que, como a mulher de meia-
idade que dormiu no chão, toleram pacientemente
quase qualquer coisa sem reclamação.
Outra categoria consiste dos que resmungam um
pouco, mas não fazem um protesto verbal na hora
em que estão sendo tratadas de maneira rude ou
injusta.
Um terceiro grupo é formado por uma minoria que
reage fortemente numa situação dessas e começa um
conflito verbal ou físico.
Um grupo menor ainda, quando enfrenta-situações
como a da Câmera Escondida, insistirá discreta mas
firmemente que a pessoa atrevida volte para o fim da
fila.

160
Tanto a maneira como fomos tratados quando
crianças quanto o exemplo que nossos pais deixaram
têm rrruit o a ver com o modo como reagimos em
situações como esta.
Minha tendência costumeira, como da maioria das
pessoas, é de tolerar uma certa medida de des con-
forto, comportamento ousado ou tratamento rude -
ficando furioso por dentro _. antes de reclamar ou
exigir meus direitos. Quando finalmente faço uma
reclamação, pode ocasionalmente ter a tendência de
ser uma reação exagerada.

o Direito de Reclamar
Num certo outono, rninha. esposa Isabel e eu
estávamos ern um grande hotel na cidade de Nova
York. Quando chegou a madrugada, o quarto ficou
frio e procurei, sem sucesso, encontrar alguma ma-
neira de ligar o aquecedor. Pensando que o aquece-
dor finalmente começaria a funcionar, ficamos espe-
rando. Porém nada aconteceu.
finalmente procurei a recepção e rne mandaram
procurar o técnico. Assim fiz, e ele me disse que não
podia ligar o aquecedor antes que a temperatura
baixasse para um determinado ponto. Então eu res-
pondi: "Meu am ig o . não pretendo pagar pelo privi-
légio de dormír com frio hoje à noite. Quero o aque-
cedor funcionando. Respondeu então que não tinha
I!

autor i zação para isso.


Desl iguei o telefone e fiquei resmungando um
pouco, cada vez com mais frio. Finalmente chamei o
téc nico de novo e perguntei-lhe quem poderia auto-
rizá-Ia a ligar o aquecedor. Disse que o gerente-
assistente poderia faz ê-Io.
Consegui entrar em contato com o gerente-assIs-
tente. Seu comportamento no telefone era parecido
com o do típico recepcionísta de hotel: reservado,
frio, moderadamente insolente e um tanto indife-
rente. (Deve haver uma escola onde as pessoas são
treinadas a ser especificamente reservadas. Muitas
vezes tenho a im pres s o. quando estou entrando ou
ã

saindo de até mesmo 05 melhores hotéis, que os

161
/

recepcionistas. nos vários balcões, ficam muito irri-


tados quando são interrompidos, dando a impressão
de que se sentem enfadados com aquele emprego, e
estão ansiosos que se vá embora.)
Eu disse ao gerente-assistente que estávamos com
frio e pedi se ele não poderia, por favor, autorizar o
técnico a ligar o aquecedor. Brusca e defensivamen-
te, afirmou que havia acabado de mandar o técnico
ligá-lo. Tradução: Agora que há uma queixa, farei
/I

alguma coisa a respeito." Dentro de pouco tempo


nosso Quarto estava sendo aquecido.
Mais tarde, uma arrumadeira do hotel veio até a
porta, para trazer toalhas, e disse: "Ah. vocês aqui
estão com o aquecedor ligado' Todos estavam recla-
mando." Haviam reclamado com ela, mas nenhuma
das pessoas havia feito a reclamação onde era neces- .
sário fazê-Ia: com a gerência. Por que a maioria dos
seres humanos é tão contrária a reclamar os seus
direitos?
Medo de Não Ser "Bonzãnho"
Algumas pessoas ligam o fato de se ser condes-
cendente com se ser longânimo e fazer disso uma
virtude cristã.
O apóstolo Paulo insistiu que os efésios fossem
"longânirnos", 1 mas uma tradução melhor da palavra
é pacientes. Ele nos diz que, num encontro com
Pedro, "resisti-lhe na cara, porque era repreensível". 2
Ele era enérgico quando necessário, mas incrivel-
mente paciente.
Deixar que desrespeitem, abusem e maltratem
você não é uma virtude. É um defeito de persona-
lidade muito grave. Tolerar uma dificuldade insupor-
tável sem reclamar é certamente elogiável, mas não
reagir diante da injustiça é uma fraqueza.
As nossas racionalizações são numerosas:
"Não quero criar caso; as coisas vão melhorar."
fi\} ou to\erar isto; as coisas não estão tão más
assim."
"Não quero entrar em discussão."
Mas estas não são as verdadeiras razões.

162
/1
,,

Basicamente, temos tanto medo de não sermos


"bonzinhos" - o que quer dizer de não sermos
condescendentes - e precisamos tão desesperada-
mente ser estimados e amados que toleramos a falta
de consideração e os maus-tratos, ao invés de pro-
testar.
A bordo de um navio, numa viagem de cruzeiro, o
comissário distribuiu entre nós, os passageiros, um
papel sugerindo a quantia de gorjeta que lhe devería-
mos dar. Aparentemente, algumas pessoas no grupo
não deram uma quantia grande o .bastante para
satisfazê-lo, por isso recusou-se a devolver os nossos
passaportes antes que houvéssemos pago o que ele
requeria. Vários de nós pagamos o que faltava e
resolvemos o problema calmamente.
Depois de ter chegado em casa, meditei sobre este
tratamento injusto. Finalmente informei o ocorrido
ao agente de viagens, que fez uma reclamação à
companhia de navios. Fomos informados depois que
o comissário fora despedido. O meu erro foi não ter
reclamado imediatamente ao comandante do navio,
mas talvez uma ação atrasada seja melhor do que
nada.
Um amigo meu - uma pessoa amável e gentil,
mas muito franca e aberta - estava presente numa
reunião denominacional que eu presidia e que dura-
ria o dia inteiro. Um funcionário do governo havia
estado falando sem parar durante uma hora e meia.
A platéia se encontrava enfadada e cansada. Pude
notar que o orador estava querendo evitar uma
medida controversial e, numa tentativa de consegui-
lo, falava s~m parar, até a exaustão.
Finalmente, sem esperar que o homem chegasse a
um ponto final ou até mesmo a uma pausa, meu
amigo levantou-se é disse bem alto: "Isto aqui está
me matando, e vou para casa." E se retirou sorratei-
ramente. O orador rapidamente resumiu e concluiu
seu discurso, aparentemente interminável.
Mais tarde parabenizei meu amigo por sua coragem
e sutileza. Nunca mais esqueci o alívio que apareceu
nos rostos dos conferencistas enfadados quando ele

163
expressou os sentimentos deles todos de modo con-
veniente. Meu amigo tinha sido o único que teve a
coragem de protestar contra a oratória absurda.
No fundo, em tais problemas, está o fato de que a
maioria das pessoas sente algum grau de inferiori-
dade ou inépcia, o que se manifesta através da
timidez. Poucas pessoas gostam de fazer uma cena
ou começar uma discussão turbulenta. Mas existem
maneiras silenciosas de levantar-se firmemente a
favor de si mesmo ou de seus direitos. Ninguém
precisa tolerar a insolência, ineficiência ou estu-
pidez.

Até Que Ponto Devemos Tolerar?


No balcão de determinada lanchonete, observei
que não havia mais ovos mexidos na bandeja. Eu
disse-o à moça encarregada. Ela então respondeu
insolentemente:
- Tem o bastante aí.
Eu repliquei:
- Fragmentos, restos. Quero ovos.
Ela deu de ombros e começou a afastar-se com
indiferença.
Pequei-a pelo braço e perguntei-lhe calmamente:
- Qual é o seu nome?
Seus olhos se abriram desmesuradamente e disse:
- Carol.
<Tirei minha caneta e anotei-o. Ela saiu rapida-
mente para a cozinha e retornou imediatamente com
uma bandeja bem grande de ovos mexidos.
Não é de meu feitio fazer coisas como esta. Prefiro
a paz e a harmonia e não gosto de aborrecer nin-
guém. Isto vem de minha infância, quando aprendi a
não reclamar ou responder ou pedir as coisas. Esta
fita insidiosa ainda está tocando, e consigo silenciá-
la apenas por um ato deminha vontade.

"Pe d·I... B uscas..;


. Ba t·
el... II
Jesus disse: "Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e acha-
reis; batei, e abrir-se-vos-á." 3 Isto geralmente é visto

164

.1, I I,
I

i como significando que devemos pedir a Deus. Mas o


seu significado não é apenas este. Minha interpreta-
ção pode estar aberta a questionamento, mas creio
Que é bem possível que Jesus estava citando um
princípio mais amplo, que pode ser aplicado às
relações humanas, assim como às relações entre os
seres humanos e Deus.
Vamos supor um momento Que Jesus está sugerin-
do, em parte, Que a pessoa deve estar preparada para
pedir os seus direitos, para buscar até que um
caminho seja encontrado, para bater em várias
portas, até que a persistência traga resultados. A per-
sistência silenciosa pode ser uma virtude quando é
apropriada.

Pedir Favores
Um meio para fazer amizades, é pedir que as
pessoas façam um favor a você. f óbvio que isto
precisa ser feito com cuidado. Não-estou sugerindo
que sejamos manipuladores, usando as pessoas para
os nossos próprios fins.
Lembro-me de um homem, em minha igreja, que
parecia ser bem reservado. Não estava claro para
mim se não gostava de mim ou se apenas era
acanhado. Quando eu soube que gostava de jardina-
gem, pedi-lhe, certo dia, se poderia dar uma olhada
em meu jardim qualquer sábado à t~ad e me dar
alguns conselhos sobre o que fazer é / relação a
alguns lugares onde não cresciam pl itasvConcor-
dou imediatamente. Veio até nossa casa e quando
começou a falar sobre jardins - um assunto sobre
Que estava bem-informado - ele se animou. Tor-
namo-nos amigos. Como acontece com muitas
pessoas, sua aparente reserva, muitas vezes inter- /
pretada como rancor, simplesmente escondia sua
falta de confiança em si próprio.
Tais pessoas geralmente são solitárias e anelam
pe\a. ac.Q\tação. fariam quase qualquer coi.sa para ter
uma personalidade espontânea e extrovertida.
Ninguém se sente ofendido quando perguntam sua
opinião sobre alguma coisa. A maioria das pessoas

165
fica satisfeita em ajudar você. Isto as coloca na
posição superior de doador, enquanto você está na
posição de receptor.
I nfelizmente, muitas pessoas com um complexo
de inferioridade profundo parecem ser incapazes de
pedir ajuda, ou até mesmo pedir qualquer coisa.
Sentem-se sem valor. 1/ Ah, não farão coisa alguma
por mim", é o que acham.
A exceção para esta regra é o sanguessuga huma-
no, que não pode aceitar o amor, mas está sempre
pronto a pedir e pedir e pedir, infinita e lamentosa-
mente. Presentes e favores são a única forma de
amor que estas pessoas estão aptas a receber.
Nas relações humanas, existem ocasiões para o
"dai, e ser-vos-á dado", e ocasiões para o "pedi. e
ser-vos-á dado". Estas são verdades universais, para
nos ajudarem em nossos relacionamentos com outras
pessoas.

Quando Gestos Amáveis São Rejeitados


Nosso avião havia parado em Atenas, para se
reabastecer, no caminho para Jerusalém. Quando
levantei para dar uma breve caminhada, olhei para
trás, onde estava um casal que parecia ser ameri-
cano. Disse-lhes, enquanto me levantava:
- Vejo que os senhores são americanos.
O homem continuou olhando friamente para a
frente; a mulher, com um sotaque britânico áspero,
respondeu-me vagamente:
- Não somos não.
Ambos viraram sua cabeça e olharam pela janela.
O homem que estava sentado ao meu lado era um
vendedor inglês muito conversador. Perguntei-lhe:
- O que é que torna tão difícil começar uma con-
versa com algumas pessoas inglesas?
- Ah, isto é muito fácil de explicar - respondeu-
me. - Muitas têm medo. Não sabem como começar
uma conversa. Não são tapadas; são apenas inibidas,
e dariam qualquer coisa para serem extrovertidas
como eu, por exemplo. Tive que aprender a ser mais

166
espontâneo por causa de meu trabalho, mas alguns
de nós nunca dominamos esta arte.
Mais tarde, virei-me para o casal e disse, meio
chistosamente:
- . Desculpem-me por ter pensado que fossem
americanos.
A mulher respondeu friamente:
- Não é necessário.
Diante disso, meu amigo inglês comentou:
- Não adianta. Algumas pessoas simplesmente
não sabem como relacionar-se. Que pena!
Sentimentos de i nferioridade e o temor estão inse-
paravelmente ligados. Medo de fracasso, de parecer
ridículo, de críticas, de rejeição, estão todos relacio-
nados a um sentimento básico de inferioridade.

Os Temores Mais Comuns

Existem outros temores que limitam nossa eficiên-


cia. Alguns pesquisadores interrogaram três mil pes-
soas sobre seus piores temores. Muitas citaram mais
de um receio. Aqui estão os resultados da pesquisa:

Porcentagem
Os Maiores Temores Que os Citou
1. Falar diante de um grupo 41
2. Alturas 32
3. Insetos e bichos 22
4. Problemas financeiros 22
5. Água profunda 22
6. Doença 19
7. Morte 19
8. Voar 18
9. Solidão 14
10. Cães 11
11. Dirigir/andar de carro 9
12. Escuridão 8
13. Elevadores 8
14. Escadas rolantes 5

167
Se você tem algum temor particular, dentre os Que
aparecem nesta lista, una-se ao nosso clube. Nosso
número de membros é muito grande.
O receio de falar diante de um grupo vem do temor
de ser ridicularizado, de fracassar, de as atenções
se concentrarem em você. Pode também resultar
de sua atenção estar voltada para você mesmo.
O medo de alturas tem uma série de origens: medo
de "cair moralmente"; uma deficiência verdadeira no
senso de equilíbrio de uma pessoa; pânico da infân-
cia levado para a vida adulta, e muitas outras.
O temor excessivo de água pode ter sua origem
num episódio que quase resultou em afogamento;
num temor profundo de emoções (a água simboliza
as emoções), ou no fato de se ter sido forçado a
nadar em uma idade tenra demais.
O temor de elevadores ou de outros espaços
pequenos, fechados (claustrofobia), muitas vezes se
origina num episódio específico (como ficar tranca-
do dentro de um armário). As vezes pode ser resul-
tado de alguma experiência esquecida da infância.
Há uma razão para tudo, e ninguém precisa ficar
com vergonha de um temor aparentemente irra-
cional.

A Inferioridade "Versus" Sentimentos de Inferiori-


dade

Já que há uma necessidade universal de se signi-


ficar alguma coisa, de se ser importante, amado,
admirado, aceito e aprovado, é óbvio que há uma
quantidade enorme de sentimento de inferioridade
sendo experimentada por aí. Uma certa pessoa talvez
não seja inferior em qualquer sentido; os seus amigos
e associados podem considerá-Ia a pessoa mais admi-
rada e bem-sucedida em sua área. Mas testes psico-
lógicos revelam que, muitas vezes, indivíduos com
grande potencial sofrem de sentimentos de inferio-
ridade. Uma pessoa pode ser grandemente admira-
da, e, no entanto, sentir-se incapaz e temerosa em
certas situações.

168

Ih I; I I " I I.' ,. I ' ali I II 1 .. 1 L I, I ~l


A Transitoriedade da Fama
A fama, que é tão ardentemente perseguida por
alguns, pode ser uma coisa muito instável e transi-
tória. Raquel Welch, um símbolo sexual dos anos
sessenta, reclamou que "os símbolos sexuais são
figuras vulneráveis e trágicas que ocupam um lugar
no mercado da miséria". Uma atriz de televisão
muito famosa declarou que "quando você é uma
celebridade, é totalmente uma vítima".
No entanto, como Susan Margolis certa vez obser-
vou: "Os que têm talentos, assim como os pertur-
badores ao nosso redor, estão lutando para alcançar a
fama da mesma maneira como os primeiros ameri-
canos lutaram para sobreviver."
Algum cínico já comentou que, numa sociedade
futura, todos serão famosos por quinze minutos.

o Mexerico e o Sentimento de Inferioridade

Fiquei tremendamente impressionado, alguns anos


atrás, pela reação de um grande homem a um
mexerico insidioso. Um jornal de louisville, Ken-
tucky, havia imprimido alguns mexericos grosseiros
sobre o Dr. E. Y. Mullins, então presidente do
Seminário Teológico Batista do Sul dos EUA. Durante
o horário de capela, no dia seguinte, abriu a sessão
para perguntas.
Um estudante perguntou-lhe:
- Dr. Mullins, como o senhor se sente em relação
às coisas terríveis que a imprensa está dizendo a seu
respeito?
Sua resposta foi clássica:
- Essas pessoas mergulharam na lata de lixo de
suas imaginações e cataram migalhas a seu próprio
I!osto. Qual é a próxima perguntai
O corpo estudantil ficou surpreso durante a\guns
instantes pela brevidade e força de sua resposta,
depois começou a aplaudi-lo calorosamente.

169
A Cobiça e o Mexerico
Uma ilustração dramática e um tanto assustadora
do poder do mexerico saiu numa reportagem da
revista Time:
Alguém disse a alguém que Mabel Sheehan, com 72 anos,
que morava sozinha com o seu cachorro num bairro da classe
-oper ár ia em Filadélfia havia comprado um carro para uma
amiga. Outra pessoa ouviu dizer que ela havia pago várias
viagens a Porto Rico para outras amígas. Nada disso era
verídico, informou a polícia mais tarde.
Mas as pessoas na vizinhança começaram a conjecturar
quanto dinheiro a senhora possuía guardado em sua modesta
casa. Alguém arriscou 35 mil dólares. Outra pessoa disse que
seria maís. Havia até rumores de uma quantia de 45 milhões de
dólares. Nada disso era verídico. Sua única renda era o cheque
da Previdência Social no valor de 247 dólares e sua única eco-
nomia consistia de um enterro pago antecipadamente. Mas
quando os rumores começaram a espalhar-se... uma multidão
de 300 curiosos juntou-se em frente à sua casa.
Foram necessários 100 policiais, montados em cavalos e
aparelhados contra multidões para proteger a casa contra
depredação. Um curioso perguntou: "Se não existe qualquer
dinheiro lá dentro, por que é que estes policiais estão vigiando
a casa?"
A Sra. Sheehan fugiu para um convento, a fim de garantir sua
segurança, 19 pessoas foram presas e a polícia passou o dia
inteiro persuadindo a multidão de que os rumores eram talsos.é
Eis O que é a natureza humana e em que pode dar o
mexerico.
Aparentemente, não há limite para a tendência
humana de mexericar, especular e intrometer-se na
vida dos outros. Alguém escreveu para a coluna
"Querida Abby" e relatou que uns vizinhos haviam
comprado uma casa muito cara, pagando em dinhei-
ro vivo. Que pareciam estar muito esquisitos. Não
tinham televisão, segundo o filho menor, e apenas
um carro ocupava a garagem feita para dois. A mãe e
os filhos pegavam o ônibus e raramente iam a
qualquer outro lugar, a não ser à igreja. A esposa não
usava jóias nem roupas extravagantes, e os filhos não
podiam ter brinquedos relacionados com guerra ou
violência. "Será que pertencem a algum culto rei i-
gioso fanático?" perguntou o autor da carta.
A colunista respondeu: "Talvez apenas tenham
dinheiro vivo, padrões conservadores, principias

170
morais - altos e ideais pacifistas. Eles me parecem
vizinhos ideais."

Lidando com Sentimentos de Inferioridade


A cobiça, avareza, ciúme, possessividade, insegu-
rança, desconfiança, todas estas emoções têm suas
raízes nos sentimentos de inferioridade nos seres
humanos. O triste é que, em certo grau, grande ou
pequeno, todos nós sofremos desta doença. Sentir-se
inferior faz parte da condição humana.
Se você quiser ajudar pessoas que sofrem de
sentimentos de inferioridade e enfrentam todos os
problemas que resultam desta dificuldade, existem
certas falhas que precisam ser evitadas.
Primeiro, não faça nenhum esforço para modificá·
las. Você não pode mudar outras pessoas, seja pela
ação direta ou indireta. Tentar fazer isto apenas fará
com que fiquem aborrecidas. No entanto, algumas
podem mudar em resposta a uma atitude franca e
amável de sua parte.
Segundo, ajude as pessoas de acordo com as suas
condições, não as delas. Você é o único que sabe
Quanto tempo, energia, dinheiro, amor ou simpatia
tem disponível. Algumas pessoas que pedem um
empréstimo precisam aprender a lidar com um orça-
mento e viver de acordo com a sua própria renda. As
que pedem simpatia ou amor ou atenção talvez sejam
poços sem fundo que nunca poderão ser preenchi-
dos. Tais pessoas precisam de terapia intensiva.
Terceiro, conselhos podem ou não ser recomen-
dáveis. Algumas pessoas pedem conselhos, mas os
contrariam, respondendo a cada conselho com um
"Sim, mas ... "
Aquelas que são insensíveis ou indiferentes viram
as costas para as pessoas que pedem ajuda. Os
compassivos acabam muitas vezes presos num esfor-
ço infrutífero e infinito, tentando a~u~á-Ias. Certa
mulher relatou que na\1\a ouvido sua vizinha, de uma
a três horas por dia, durante dois anos, derramar
sobre ela as dificuldades que estava enfrentando no
casamento. O problema nunca foi resolvido, é claro.

171
A pessoa precisa determinar a melhor maneira de
usar os recursos de tempo, energia e compaixão, e
não cair na armadilha de um "sapador" masoquista.
O masoqutsta é uma pessoa que inconsciente-
mente deriva o prazer da dor. Um masoquista psíqui-
co pode ser propenso a acidentes, perturbações,
doenças, fracassos ou juízos temerários. Tais pessoas
anseiam pela felicidade e se sentirem realizadas. No
entanto, internamente acham que não o merecem e
atraem problemas, literalmente falando. Quando
recebem ajuda para sair de um desastre, logo acabam
envolvendo-se em outro. As causas são complexas,
mas uma fonte freqüente é um sentimento profundo
de inferioridade, que parece atrair as dificuldades.
Quando você lidar com uma pessoa destas, não
gaste suas energias tentando resolver o problema
dela. O que tais indivíduos precisam desesperada-
mente é de terapia intensiva.

Tipos Diferentes de Orgulho

o falso orgulho, um esforço para compensar pro-


blemas profundos de inferioridade, muitas vezes
origina-se numa infância distorcida. Mas existe outro
tipo de orgulho que deve ser considerado. Hans Selye
comenta a respeito:
O orgulho por excelência... é um sentimento biológico
primevo; não se limita apenas à nossa espécie. Até mesmo um
cão de caça fica orgulhoso em trazer sua presa intata; dê só
uma-olhada para a cara dele e verá que o trabalho que realizou
o deixou contente. Uma foca de apresentação fica manifesta-
mente satisfeita quando recebe aplausos. Apenas a tensão da
frustração, da falta de propósito, pode estragar a satisfação do
desempenho... O homem precisa de reconhecimento. Não
pode tolerar a censura constante, pois é isto, mais do que
qualquer outra coisa, o causador de tensão, que torna o
trabalho frustrante e prejudicial para ele. 5

O orgulho de se ter feito um trabalho satisfatoria-


mente, num empreendimento de valor, de se ter
alcançado um objetivo há muito desejado é uma
emoção digna. Quer o chamemos de satisfação,

172

I , ,h I \".; I i ; I. I· .11 I , l ,I lo., ,U


/
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, .. - ~,.,~-'.
c· .... -

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/
sensação de bem-estar, prazer ou sentir-se realizado
quanto ao que fazemos, dá no mesmo. Porém, é
claro que qualquer virtude levada a extremos ou ao
ridículo torna-se um vício.
Ser excessivamente presunçosa pode suscitar a
inveja ou ira de outras pessoas. Um homem que
aparentemente atraía constantemente a sorte disse:
"Quando alguém me parabeniza pela minha sorte,
geralmente respondo com: 'Sim, mas preciso segurar
firme o emprego que tenho, já que os negócios não
vão bem no momento.' As pessoas sentem-se melhor
quando ouvem que tenho problemas. Não quero que
elas tenham inveja de mim.Há uma certa dose de
hostilidade contida na inveja, e não quero isto."

Sucesso sem uma Educação Formal

Muitas vezes já ouvi pessoas lamentarem o fato de


não terem uma educação de nível superior, argu-
mentando que se tivessem estudado numa faculdade
as coisas seriam bem diferentes. Isto não é necessa-
riamente o que ocorre. lembro a estas pessoas que
Eleanor Roosevelt nunca estudou em qualquer facul-
dade. Nem Grover Cleveland, loseph Conrad ou
Amélia Earhart. Kahlil Gibran não teve uma educa-
ção secundária nem Ernest Hemingway, Rudyard
Kipling, H. L. Mencken, lohn D. Rockefeller, George
Bernard Shaw, Dylan Thornas ou Harry S. Truman.
Nunca ouvi u-se qualquer uma destas pessoas lamen-
tar isto.
Entre os que abandonaram os estudos ao estarem
fazendo o segundo grau incluem-se pessoas proemi-
nentes como Henry Ford, George Gershwin, lack
London, Rod McKuen, Steve McQueen, Will Rogers,
William Sarayan, Frank Sinatra e Wilbur e Orville
Wright. Ray Kroc, fundador e presidente do Mc-
Oonald'S, também abandonou os estudos ao fazer o
segundo grau. .
No entanto, isto não deve servir de incentivo para
se abandonar os estudos. Quanto mais educação a

173
pessoa receber, melhor. No entanto, o fato de não se
ter recebido uma educação não precisa ser um
impedimento ao sucesso.

o Grande Empecilho
Os nossos sentimentos de inferioridade ou inca-
pacidade, o medo do fracasso ou rejeição constituem
um empecilho maior do que não ter uma educação.
Na sociedade de hoje, prati-camente qualquer pessoa
que quiser obter uma educação pode adquiri-Ia, mas
nem todas acham tão fácil assim superar um senti-
mento debilitador de inferioridade.
Existem pessoas tão bem constituídas de uma
combinação afortunada de hereditariedade, ambi-
ente e determinação que terão sucesso com ou sem
uma educação formal.
a tipo de determinação e habilidade inata de-
monstrada pelo Almirante Hvrnan Rickover permitiria
a quase qualquer pessoa ser bem-sucedida. O Almi-
rante Rickover é o pai do submarino nuclear, sem o
qual os EUA seriam uma nação muito vulnerável.
Contra a oposição poderosa do Congresso e das altas
patentes da Marinha, lutou sozinho pela coristruçêo
do primeiro submarino movido a energia nuclear. As
vezes lutava absolutamente sozinho. Era, e em certas
horas ainda é, um homem muito impopular. E, no
entanto, ainda está alfinetando onde é necessário -
pressionando, insistindo, exortando.
Para explicar por que continua a lutar por mais de
trinta anos por sua visão de uma marinha cujos
principais navios de guerra sejam movidos a energia
nuclear, o Almirante Rickover conta uma história
estranha e tocante, uma parábola sobre um ancião
filósofo, que veio a uma cidade para salvar os
habitantes de seus pecados. No começo, receberam-
no bem e lhe deram ouvidos. Mas aos poucos
viraram-lhe as costas. Certo dia, uma criança per-
guntou ao sábio por que ainda insistia - será que
não podia ver que sua missão não tinha esperanças?
Como Rickover conta, o filósofo respondeu: "No
início, eu pensava que poderia mudar os pensamen-

174

I' , Ih J L, i _, l I. ". I •• j I 1 .. ,. I .•
tos dos homens. Se continuo a clamar, é apenas para
evitar que os homens modifiquem os meus."

Apenas Seres Humanos Constroem Computadores


O computador Cvber 76 pode realizar doze mi-
lhões de operações por segundo. Custa treze milhões
de dólares. Ficamos pasmos com tal desempenho.
Afinal de contas, nenhuma mente humana pode
igualar os feitos desse computador. Mas, para que
não nos humilhemos demais perante um pedaço de
metal, lembremo-nos disto: Só uma mente humana
pode conceber e construir uma máquina como esta.
Não importa quão limitada seja uma pessoa quanto
ao seu intelecto, educação ou oportunidade, a sua
mente pode fazer muitas coisas que um computador
de treze milhões de dólares não pode.
Além disso, ele é feito à imagem de um computa-
dor i nábi I de um - geração anterior, e nós somos
feitos à imagem de Deus, um pouco abaixo dos
anjos. Somos imortais, e estaremos vivendo e cres-
cendo e cantando louvores a Deus, enquanto o
computador mais requintado da terra estará enfer-
rujando nas ruínas de uma cidade cujo nome terá
sido há muito esquecido.
Regozije-se com isto, meu amigo. "Daquele a
quem muito é dado, muito se lhe requererá."6 O
corolário disto é que se você fosse menos dotado,
menos seria requerido de você. Utilize aquilo que
tem e não se rebaixe perante aqueles Que têm uma
educação mais elevada, os grandes feitores e os que
gozam de fama. Nos céus todos seremos separados
de nossos feitos e julgados com base naquilo que
somos e como vivemos em relação ao nosso poten-
cial, considerando-se nossas limitações e imper-
feições.
Regozije-se! Você é uma pessoa normal. Talvez
seja inferior apenas aos seus próprios olhos.

175
10

Reações e Respostas
Um filósofo é alguém que dá conselhos a outras pessoas
sobre problemas que ele não teve. - WUUam R. Lewis

Minha esposa Isobel e eu viajávamos de Tóquio


para Nikko num daqueles trens japoneses incrivel-
mente velozes e eficientes. lamas conhecer um
templo famoso.
Depois de já termos percorrido um bom caminho,
uma atendente de bordo muito simpática serviu chá,
um costume que achei maravilhoso. Gostei tanto do
chá servido na pequena xícara que chamei a jovem
atendente e perguntei se poderia tomar mais um
pouco. Sua reação inicial de surpresa logo transfor-
mou-se num olhar confuso. Percebi imediatamente
que meu pedido havia contrariado algum costume
social de no mínimo nove mil anos de tradição. Sem
saber ao certo o que havia feito de errado, aguardei,
para ver o que ia acontecer.
Uma conferência foi convocada às pressas no fim
do vagão. Dois rapazes e a moça que nos havia
atendido conversavam em tom de agitação. Senti
que a tal gafe que eu cometera inadvertidamente
devia ter sido bem grande.
Depois de uma longa. discussão, um dos atenden...
tes aproximou-se de mim e disse. um tanto enver-
gonhado:
- Desculpe, senhor, mas, se quiser outra xícara
de chá, será necessário que pague por ela.

177
Pelo jeito, ele sentia-se muito constrangido por ter
que me passar esta informação, pois não parava de
mexer com as mãos em sinal de nervosismo. Aparen-
temente, esta era a primeira vez que este problema
grave havia surgido em sua vida e ele não estava tão
certo sobre como enfrentá-lo.
Sorri para ele e disse:
- Ora, não há problema algum - e entreguei-lhe
uma nota de um dólar. Sua expressão foi de perplexi-
dade e então me dei conta de que eles não estavam
acostumados a dar troco, já que uma xícara de chá
era complementar à passagem e nunca haviam co-
brado a mais por ela. Mas, após outra conferência de
cúpula, às pressas, no fim do vagão, um preço foi
estabelecido e o atendente trouxe para mim alguns
ienes, enquanto a moça servia mais um pouco de
chá.

Situações Imprevistas
Como você lida com uma situação que não lhe é
famíliar?
Poucas pessoas privilegiadas estão tão seguras de
si e reagem com tamanha espontaneidade que con-
seguem enfrentar qualquer problema ou situação
imprevista com calma e segurança. Os outros que
não somos assim, digamos.. temos umas 120 situa-
ções catalogadas, que podemos enfrentar. Por expe-
riência, sabemos como reagir quando elas se apresen-
tam, porque surgem com tanta freqüência que não
trazem qualquer problema para nós. Mas quando
deparamos com a situação de número 121, que não
está em nossos registros, reagimos de maneira que
variam entre surpresa e pânico.
Quando nossos padrões ou modo de pensar são
desafiados subitamente por algo estranho, a máquina
mental sofre um curto-circuito e causa uma confusão
tremenda. Nossas reações podem ser variadas, de-
pendendo das circunstâncias.
Eu estava para comprar um carro novo e pela
primeira vez na vida resolvi pagar por ele em dinhei-
ro vivo. O único problema foi que o veículo estava

178
pronto para ser entregue mais cedo do que eu
esperava e o dinheiro que eu precisava não estaria
disponível antes de noventa dias. Uma das poucas
maneiras que um banco tem de ganhar dinheiro é
pelo empréstimo. Então fui à agência do banco que
cuidava de meu dinheiro fazia uns quarenta anos e
expliquei meu caso. Só que houvera uma grande
mudança de gerentes do banco, e tive que tratar com
um gerente novo. Ele olhou-me com calma e fria
indiferença.
Lembrei da história do homem que estava queren-
do fazer um empréstimo bancário. O banqueiro tinha
um olho de vidro, do qual muito se orgulhava. O
olho parecia natural, mas, pelo visto, o homem
precisava de uma certeza. Então propôs ao cliente:
- Façamos o seguinte. Um dos meus olhos é de
vidro. Se o senhor adivinhar qual é, faço-lhe o
empréstimo.
O cliente, sem hesitar, respondeu:
- E o esquerdo.
- Certo! Mas como o descobriu?
- Foi fácil - ele disse. - É o que tem uma
aparência mais amistosa.
O gerente com quem eu falava não tinha olho de
vidro, e não demonstrava calor nem amizade. Quan-
do expliquei a situação, ele disse:
- Para um empréstimo destes, o senhor teria que
preencher uma declaração financeira.
- Olha - argumentei - é um simples emprésti-
mo de noventa dias, para comprar um carro. Para -pre-
encher o tipo de declaração financeira que o senhor
está pedindo, eu levaria no mínimo duas horas, e não
tenho tempo disponível.
Eu já estava ficando irritado.
- Desculpe-me - ele respondeu - mas temos as
nossas regras.
- Meu amigo - insisti - sou cliente deste banco
há mais de Quarenta anos. Faz trinta anos que moro a
dois quarteirões daqui e estou muito bem empre-
gado. Eu nem cogitaria de preencher uma declaração
financeira desta espécie.

179
E fui embora, fervendo de raiva por dentro.
Quando entrei no carro, pense; comigo: "Ora, que
maneira imatura de reagir. Ter ficado tão indignado
foi um absurdo." A reação do banqueiro também foi
tão absurda quanto a minha, mas, se eu encontrasse
aquele homem numa atividade social ou na igreja,
me sentiria bastante tolo.
Então percebi o que havia acontecido. Para come-
çar, eu vinha sofrendo um problema de coluna que
me incomodava muito. Também estava com pressa,
pois já me encontrava atrasado para outro encontro.
E o mais importante de tudo era Que fiquei descon-
certado com uma situação que nunca havia enfren-
tado antes. Em razão de todos estes fatores, reagi de
maneira imprópria.
Em situação como esta, raramente se trata de uma
questão de quem está certo ou errado. A questão é:
Será que a reação foi apropriada?

Reações Conjugais Para com Tacos de Golfe

Às vezes não é uma situação estranha que nos


deixa desc oncerrados. mas, sim, uma familiar que
riurrc a resolvemos.
A situação: John abre a porta, tacos de golfe na
mão, pronto para sair para seu jogo de golfe matu-
tino, corno faz ia todos os sábados. Com um certo
toque de aspereza, Mary diz: "Iohrr. você não levou a
lata de lixo para a lixeira, e disse que a levaria. Pedi a
você duas vezes ontem à noite, lembra-se?"
O problema: Mary tem que ficar em casa com três
crianças, enquanto John está fora, se divertindo com
seus amigos no campo de golfe. Verbalmente, ela o
incentiva a jogar golfe, já que ele precisa de um
pouco de recreação. Mas no inconsciente, ela de-
testa ficar em casa enquanto ele se diverte. O lixo é
um pretexto. Ela carrega bolsas de compras enormes
diariamente que são muito mais pesadas do que a
lata de lixo, e John sabe disso.
John, parado na porta, escondendo seu senti-
mento, percebe que o lixo era apenas uma maneira

180

4· I; I I.
indireta de Mary colocar pedras no caminho de seus
planos para o sábado de manhã. Ele também se
recorda de que havia seis semanas que vinha prome-
tendo consertar a bicicleta de um de seus filhos,
fazer uns reparos na porta da garagem e trocar uma
torneira que estava vazando. Ele sente indignação e
culpa, por isso fica parado. Para ele, a raiva era a
emoção mais evidente, de que estava mais cônscio.
Quais as suas opções?
Opção número um: Ele poderia dizer com hosti-
lidade visível: "Ora, leve você mesma o lixo. Você
não é aleijada e sabe muito bem que está fazendo
isto só porque não gosta que eu jogue golfe aos
sábados." I sto não resolveria a questão. Esta opção
simplesmente não levava em conta seus sentimentos
de culpa em relação às tarefas domésticas que ele
deixara de cumprir. Além do mais, Mary ficaria
indiferente e distante quando ele voltasse mais tarde,
se esta fosse a opção escolhida.
Opção número dois: Ele poderia levar o lixo para a
lixeira, sem dizer uma palavra, mas deixando que sua
expressão facial e atitude demonstrassem a hostilida-
de que sentia. Esta opção também não seria muito
boa. Não contribuiria para a solução do problema de
a esposa estar sempre colocando obstáculos diante do
jogo de golfe. E também não faria nada a respeito dos
sentimentos da ira e culpa dele, por ter negligencia-
do suas tarefas domésticas.
Opção número três: Pausa. "'O que estou sentindo?
Estou com raiva. Os rapazes estão esperando por
mim; já estou atrasado. Por que estou com raiva?
Porque Mary sempre faz isso e porque tenho evitado
fazer estas pequenas e desprezíveis tarefas de reparos
que detesto. Não tenho tempo para discutir com ela
agora. Vou jogar fora o lixo e procurar não demons-
trar que estou zangado, já que não tenho tempo para
discutir com ela agora. Conversaremos logo mais
quando eu voüar ."
Aquela noite:
- Como foi o jogo de golfe, querido?
Não muito bom. Errei muito e meu escore ficou

181
abaixo da média. Acho que foi porque eu ainda
estava aborrec ido com o lixo.
- O lixo? (Com muita inocência.)
- É. Fiquei realmente chateado hoje de manhã
quando você me chamou na hora em que eu estava
de saída e levantou o assunto da lata de lixo. Sincera-
mente, senti que era a sua maneira habitual de
expressar contrariedade em relação ao fato de eu sair
para jogar golfe aos sábados, enquanto você é obri-
gada a ficar em casa com as crianças. Mas também
reconheci que me senti culpado por ter tirado o dia
para jogar golfe quando há tanta coisa em casa para
ser consertada e que prometi consertar, como, por
exemplo, a bicicleta do Jerry, a torneira quebrada e a
porta da garagem. Por isso é que estou com raiva de
mim mesmo e de você. Mais ainda de mim mesmo,
acho.
- Mas, John, eu Já havia pedido para você jogar
fora o lixo e você havia prometido e ...
- Olhe, você está certa, eu simplesmente es-
queci. A culpa é minha. Detesto jogar o lixo fora
tanto quanto você. Está aí o meu problema. Agora,
acho que precisamos conversar um pouco sobre esta
sua mania de concordar que preciso de um pouco de
recreação, e depois inventar mil e um obstáculos,
como se não gostasse que eu jogue golfe. Vamos
conversar sobre as suas necessidades de recreação
também. Se você não tem tempo o bastante durante
a semana, enquanto as crianças estão na escola,
então posso passar algum tempo com as crianças no
fim de semana e deixar que você tenha uma folga.
Esta abordagem pode levar a uma discussão que
ajuda a resolver o problema principal.
Aqui estão os princípios envolvidos na solução de
um conflito como este:

1. Aceite o fato de que você está zangado. Não há


nada inerentemente mau em sentir-se zangado. O
erro está em expressarmos a nossa ira de maneira
destrutiva.

182

ili I l j .~ •• J I ~ oi • ,. ,J
2. Pare; espere. Deixê passar algum tempo, para
que você possa acalmar-se e pensar, antes de res-
ponder.
3. Aceite sua própria responsabilidade. Se você
teve parte da culpa, reconheça-o.

Reações à Dor e à Rejeição


Certa conselheira, em conversa sobre sua infância,
contou-me que sua família havia sido excluída da
igreja por causa de uma discussão religiosa. Quando
ela ainda era pequena, havia surgido uma contro-
vérsia teológica, envolvendo seu pai e outros líderes
denominacionais. Ele havia afirmado, do púlpito,
que o ato de redenção foi completado quando Jesus,
crucificado, disse as seguintes palavras: "Está con-
sumado." Mais tarde, ele foi contestado por líderes de
sua denominação, que criam que a redenção só
estava completada quando a lança havia perfurado
o Cristo, e ele morreu. Houve uma discussão calo-
rosa.
Eu já conhecia bem esta mulher e me senti à
vontade para começar a rir. Depois ela riu também,
e ficamos nós dois rindo bastante do antigo desenten-
dimento teológico. Finalmente, perguntei-lhe:
- Como a senhora se sentiu quando sua família foi
excluída?
- Muito mal - respondeu. - Senti-me rejeitada,
condenada e muito solitária. Fiquei mais chateada
por causa de papai. Ele ficou arrasado.
- Isto aconteceu há muitos anos. Como a senho-
ra se sente agora?
Ela sorriu.
- É claro que está tudo bem agora. Não sinto
nada, a não ser pena daquela gente inflexível. Hoje
posso até rir disto. O tempo realmente cura tudo,
não é?
Então, a reação i nicial fora de dor e rejeição.
Depois, a força curadora do tempo havia resolvido
tudo. Ou será que não?
Durante uma de suas sessões de Integração Primai,
alguns dias mais tarde, esta mulher retrocedeu aos

183
doze anos de idade e reviveu o acontecimento.
Inicialmente, houve lágrimas e dor. Ela sentiu um
pouco da rejeição que ela própria não se havia
permitido experimentar na época. Depois veio a ira
- salutar, intensa, íntegra e curadora. Na vida diária
ela era discreta e bastante reservada, mas, durante
suas sessões de Integração Primai, dava vazão a toda
a ira acumulada. que havia sido reprimida por mais
de quarenta anos.
"Mas isto foi maravilhoso!" ela disse no final da
sessão. "Eu não fazia idéia de que este rancor todo
estava guardado dentro de mim. Imagine só o que ele
me tem feito, tanto emocional quanto espiritual-
mente, durante estes anos todos." Ela havia viajado
mais de 16 mil quilômetros para livrar-se do sofri-
mento emocional indefinido. A dor e a ira que ela
descarregou em uma sessão foi parte de sua cura.
É verdade que o tempo cura, mas a nível cons-
ciente. No entanto, isto não quer dizer que a ferida
original é necessariamente erradicada. Esta mulher
foi ensinada pelo pai a perdoar e esquecer, e foi
justamente isto que ela fez, esforçando-se ao máxi-
mo em sua habilidade consciente. Mas a nível in-
consciente, sua estrutura emocional ainda guardava
um pouco da dor que ela fora incapacitada de
admitir que sentira na ocasião.
Por que ter o trabalho de desenterrar feridas de
quarenta anos atrás? A resposta, claro, é que estas
não são feridas mortas. A dor do passado deixada de
lado permanece, a menos que seja tratada eficaz..
mente na época. Além disso, guardar emoções repri-
midas requer uma medida considerável de energia
psíquica. Isto produz tensão sobre a personalidade,
que pode resultar em sintomas emocionais ou físicos.
Quando o salmista ora: "Pur ifica-rne tu dos (erros)
que me são ocultos", 1 ele está pedindo para ser
purificado de feridas e fracassos ocultos, que não
consegue identificar. Deus perdoa os nossos peca-
dos, sejam eles lembrados ou esquecidos; mas nós
não nos perdoamos por termos falhas escondidas.
E preciso tratar delas de maneira adequada, para o

184

'I' I I I " I ~ I I I" "I I 'I i,' ~ i; ; ~j " I


bem de nossa própria saúde mental, emocional e
espiritual.

Receber Ordens
Como você reage ao receber uma ordem? Todos
precisamos aprender a obedecer ordens. Quando
criança, éramos obrigados a obedecer aos nossos
pais e professores. Quando começamos a trabalhar,
recebemos ordens do patrão, que nem sempre levou
nossos sentimentos em consideração. Recebemos
ordens do governo, seja local, estadual ou federal.
Até mesmo as placas de sinalização emitem suas
ordens silenciosas e nós as obedecemos por instinto.
O sinal vermelho transmite uma ordem silenciosa, e
nós a acatamos.
O mundo viveria em caos se não existissem ordens
a obedecer. O resultado seria a anarquia. Por causa
disso, a maioria de nós preferimos obedecer ~s leis da
sociedade e a quaisquer instruções emitidas pela
pessoa ou firma que nos emprega. No entanto, nem
todas as pessoas gostam de receber ordens.
Lembro-me de uma jovem bem-humorada que
trabalhou por um curto período em nosso escritório.
(Não sou eu quem contrata ou demite o pessoal do
escritório. Esta tarefa cabe à minha diretora-assis-
tente, que a executa muito bem.) A certa altura,
durante o período experimental, a Sra. Baker deu à
jovem algumas ordens que ela não obedeceu. Qll.an-
do a Sra. Baker pacientemente apontou a falha, a
jovem empregada disse, em tom de petulância:
"Bem, isto é apenas uma questão de opinião."
Depois desta falha e uma seqüência de outras, a
jovem foi dispensada. Ela não havia aprendido uma
regra básica que se aplica a todo e qualquer empre-
gado: É preciso obedecer às ordens. Isto não quer
dizer que você precisa concordar com elas. Todos
têm o direito de achar que uma ordem não passa de
tolice, ou" podem até sugerir outras alternativas. Mas
você não tem o direito de desobedecê-Ias.

185
Ser Despedido Não Tem Graça Nenhuma
No tempo em que eu trabalhava para poder pagar
os meus estudos, fui empregado durante algum tem-
po de uma loja conhecida no centro de Chicago. Eu
trabalhava de manhã, das oito e meia ao meio-dia,
e assistia às aulas à tarde. Passávamos os primeiros
trinta minutos de serviço arrumando a mercadoria,
para começar a receber os fregueses às nove horas.
Logo percebi Que, para arrurnar a mercadoria, não
era necessário que os quatro que trabalhávamos na
seção ficássemos lá. Esta tarefa podia ser facilmente
executada por uma ou duas pessoas. Já que eu tinha
que acordar cedo para poder chegar à hora, adotei o
hábito de tomar café na loja. Eu batia o cartão às
B~30, trabalhava um pouco, arrumando a mercado-
ria, e depois subia para a lanchonete, a fim de tomar
o meu café rapidamente. Afinal de contas, não havia
trabalho a ser feito; a mercadoria se encontrava toda
no lugar. Eu não estava lesando ninguém, ou pelo
menos achava que não. Mas eu estava tomando café
durante o horário de trabalho.
Depois do Natal, quando chegou a época de
dispensar alguns funcionários, você deve supor que
fui mandado embora. E fui mesmo. Minha ficha de
vendagem era boa, mas faltava integridade em mi-
nha atuação. Eu vinha utilizando o horário de traba-
lho da companhia em meu próprio proveito. A
palavra adequada é lesão. Eu não estava seguindo as
orcíerts da companhia. Fui despedido, e bem que o
merecia.

Submissão aos Superiores

Algumas pessoas têm uma formação tal que detes-


tam profundamente todo tipo de autoridade sobre
elas. Possivelmente tais pessoas aprenderam que,
para sobreviver, é preciso obedecer às ordens do
patrão, mas, no fundo, elas sentem ódio por isso.
Este ressentimento pode tomar várias formas.
Alguns empregados que obedecem a todas as
ordens submissamente no trabalho às vezes demons-

186
tram todo o rancor que sentem quando chegam em
casa, descarregando tudo em cima de seu cônjuge
ou filhos.
Às vezes as pessoas que tiveram pais rigorosos ou
autoritários exprimem sua hostilidade contra a auto-
ridade rejeitando a autoridadé de Deus. Estas pessoas
não têm consciência da fonte de seu ressentimento e
podem tornar-se atéias e discutir veementemente
sobre a hipocrisia, tão evidente em muitos crentes.
Se forem mais passivas, talvez simplesmente se re-
cusem a envolver-se com qualquer religião.
Como já foi mencionado anteriormente, toda ten-
dência e excessos têm sua origem na infância. Por-
tanto, quando descobrimos algum comportamento
aberrante ou excessivo em nós mesmos, talvez valha
a pena procurar em nossa infância, a fim de desco-
brirmos a causa.
I nfelizmente, a tendência universal de racionali-
zarmos o nosso comportamento pode impedir que
façamos uma introspecção clara e objetiva em nós
mesmos. Geralmente, precisamos da assistência
objetiva e qualificada de um amigo para dar anda-
mento a este processo.

o Passado Ainda Reside em Nós


Henry, um homem bastante simpático, de trinta e
poucos anos, não gostava de ir à igreja com sua
esposa, porém sempre a acompanhava porque ela
era muito insistente. Ele sempre sentia uma dor de
cabeça aguda no domingo à tarde. A causa do
distúrbio foi revelada durante uma de suas sessões de
, terapia primai.
Quando Henry tinha seis anos de idade, seu pai
morreu num acidente. Sua avó lhe havia dito o
seguinte: "Deus levou seu pai; ele agora está com
Jesus." Para o menino de seis anos, isto fazia de Deus
um assassino. Henry precisava de um pai; não queria
que seu pai ficasse com Jesus. No enterro, ele sequer
chorou. Durante uma sessão de terapia primai, Henry
experimentou mais uma vez a sensação há muito
esquecida. "Se eu chorar, minha irmã e minha mãe

187
também o farão. Preciso ser forte diante delas.
Preciso ser um homenzinho, como minha avó me
disse, e homem não chora."
Desde que reviveu este trauma da infância, Henry
não mais se queixa de ter de ir à igreja nem sofre mais
de dor de cabeça.
Nossas respostas e reações, por mais que as expli-
quemos racionalmente, têm raízes que retrocedem
até a infância. Jeanne havia sido internada duas
vezes, por algum tempo, por causa de suas crises
emocionais. Uma vez ela tentou cometer suicídio e
quase o conseguiu. Em outra ocasião, ela saiu do
trabalho e dirigiu, sem rumo, até a gasolina acabar.
Depois telefonou, desesperada, para um pastor local
e pediu que ele a fosse buscar. Foi esse ministro
quem fez menção de nós para ela. \
Durante o tratamento, Jeanne reviveu dois if\ci-
dentes completamente reprimidos de ter sido moles-
tada sexualmente. Depois, com uma intensidade que
a deixava paralisada, a Jovem reviveu as brigas errtre
seu pai e sua mãe. Finalmente lamentou a morte de
seu pai, a quem amava, temia e odiava. Jeanne
agora está bem e vive normalmente.

Quando o Divórcio É Justificado


Certa mulher telefonou-me de outro estado e falou
por mais de uma hora. Ela havia lido um de meus
livros e achava que sua complicada situação con-
jugai podia ser resolvida por uma conversa pelo
telefone, o que era puro engano.
O seu marido, que se Idizia crente, sempre batia
nela, quando ela ousava 'discordar de suas opi n iões
doutrinárias. Ele era professor de uma classe da
Escola Bíblica Dominical, composta, em sua maior
parte, de moças, e costumava passar várias noites
aconselhando estas jovens em suas casas, muitas
vezes até bem tarde. Ele espancava seus filhos sem
piedade, quando crianças. A mulher mencionou
meia dúzia de exemplos de crueldade variada, de
reações estranhas e de instabilidade emocional por
parte dele.

188

I ~ , I ~ I ;, I "I I ,I ; . " I.. ~. ~I ;·i ·~L ~ ~. i


Os fi lhos já estavam crescidos e ela ti nha um
emprego, mas não estava certo se devia pedir o
divórcio ou não. Ela queria saber a minha opinião.
A uma distância de centenas de quilômetros e
tendo ouvido a história contada apenas por ela,
senti-me incapaz de dar qualquer conselho especí-
fico. Mas comuniquei-lhe uma convicção minha:
- Se a senhora teme por sua segurança física, tem
todo o direito de pedir que ele se retire. Se o seu
bem-estar emocional está sendo ameaçado, então
não tenha medo de se separar.
- Mas eu não admito o divórcio - ela replicou.
- E eu não creio que se possa admitir pecado,
sofrimento e dor - respondi - mas essas coisas
são realidades. Existem doenças e acidentes, da
mesma maneira como maridos desequilibrados
emocionalmente. Se a senhora acha que ele está
agindo de maneira irracional, então é importante que
se salve a si mesma.
Então indiquei-lhe um de nossos assistentes trei-
nados que morava mais próximo a ela e encorajei-a a
procurar um conselheiro profissional.

Quando o Juízo Racional É Difícil


Às vezes uma pessoa pode ficar tão desnorteada
que não é capaz de tomar uma dec isão racional.
Uma jovem mãe, cujo marido morrera, contou que
os pais de seu esposo estavam sendo verbalmente
agressivos com os seus filhos. A jovem viúva estava
planejando levar as crianças para outro estado, onde
havia conseguido um emprego. A avó, com medo de
perder o contato com seus netos, dísse para um
deles: "Se você for para lá, vai morrer-dentro de seis
meses." O garoto ficou -apavorado e perguntou:
"Mamãe. isto é verdade? Vou morrer?" /
Havia várias outras instâncias de/instabilidade
emocional por parte "dos avós. A mãe, conseqüente-
mente, proibiu os avós de visitarem os netos en-
quanto continuassem a ameaçá-los ou injuriá-los
verbalmente.
Eu disse-lhe:

189
- Nas circunstâncias que a senhora mencronou.
tinha todo o direito de fazer isto.
Ela respondeu:
- Oh! muito obrigada! Mas todas as pessoas com
quem já falei insistiram que o meu dever moral é
deixar que meus filhos visitem seus avós.
Conselhos de amigos, parentes e vizinhos podem
confundir uma pessoa inteligente,- de maneira que
ela perca a capacidade de fazer um juízo racional.

Lidando com o Preconceito

Clyde era um homem que odiava três coisas:


judeus, negros e pessoas discriminadas, nesta ordem.
Ele tinha uns trinta empregados em sua firma. Certo
dia anunciou-me que os negros eram irremediavel-
mente preguiçosos, irresponsáveis e desonestos.
Como deve uma pessoa reagir a uma afirmação
destas?
Perguntei a Clyde em que estava baseando sua
afirmação. Descobri que sua experiência com negros
era limitada ao contato que ele tinha com três
empregados. Com base nisto, ele havia feito algumas
generalizações sobre todos os negros. Eu queria
dizer-lhe que sua experiência com os negros era
limitada demais para fazer um juízo válido. Tive
vontade de perguntar-lhe se teria tirado as mesmas
conclusões baseado numa experiência negativa com
três irlandeses, três luteranos ou três esquimós.
No entanto, eu sabia que esta abordagem não
adiantaria nada. Considerei que não era eu a pessoa
responsável por mudar os pensamentos dele. Além
do mais, ele tinha o direito à sua própria opinião,
mesmo que eu não concordasse com ela.
Finalmente eu disse: "Fui criado na fronteira do
México. Todos os mexicanos que conheci entraram
no país ilegalmente, vindo pelo rio Grande. Eram
trabalhadores fugindo da pobreza intensa. Formei
meu conceito sobre os mexicanos como um todo
baseado no contato limitado que tive com estes
poucos mexicanos afligidos pela pobreza. Mas depois

190
/
de ter visitado o México várias vezes e ter conhecido
muitas cidades, mudei completamente meu conceito
em relação aos mexicanos. Então fiquei envergonha-
do de minha opinião anterior, que fora baseada em
evidência incompleta.
Minha amizade com Clyde permaneceu intata,
mas duvido que teria sido assim se eu tivesse atacado
seus pontos de vista e o acusado de ter preconceito
racial.

A Síndrome do Marido Aposentado


Certa mulher escreveu para a famosa colunista
Abigail van Buren, reclamando de seu marido da
seguinte maneira:
Quer ida Abby:
Meu marido tem 72 anos e está aposentado, mas sua tarefa
agora tem sido tornar minha vida insuportável. Antes, ele
viajava muito, por causa do trabalho. Passei muitas noites de
solidão, imaginando onde ele estaria e quando chegaria em
casa.
Agora não consigo fazer com que ele saia de casa. Até preciso
inventar alguma coisa para ele fazer.
Não consigo mais agüentar a presença dele! Sinto até um
enjôo no estômago quando ele vira a chave da porta, ao chegar:
Depois de ter lido o jornal pela manhã, ele me segue por toda
parte da casa, supervisionando, enquanto eu cozinho e cuido
da casa. -
Se uma amiga minha aparece para tomar chá, ele se mete e
monopoliza a conversa.
Meu Deus, estou tão farta dele que a morte para mim seria
um alívio bem-vindo!
Envelhecendo em Indiana
Minha esposa afirma que algumas de suas amigas
que têm maridos aposentados fazem a mesma recla-
mação. Como pode uma esposa apoquentada reagir
a tal situação?
Certo marido, que não estava aposentado, mas
que trabalhava em casa, seguia sua esposa constan-
temente por toda parte da casa, até mesmo ao
toalete. Quando ela exigia um pouco de privacidade
e se trancava no banheiro, ele arrastava sua poltrona
e ficava esperando, junto à porta, lendo o jornal.
Quando ela saía, ele perguntava: "Por que demorou
tanto?"

191
Muitas vezes pode ser proveitoso compreender a
formação da personalrdade deste tipo de homem. Ele
é uma pessoa passiva. ou senão uma mistura de
pessoa passiva- e agressiva. Embora talvez tivesse
demonstradO características no trabalho, parte de
sua personalidade é passiva. Muitas vezes isto é o
resultado de um relacionamento distorcido com a
mãe. Também pode ser que este homem tenha sido
mfmado demais ou perdido a mãe quando ainda
pequeno. Um homem destes pode ter tido um pai
passivo, desajustado ou ausente. Por isso, ele pro-
cura inconscientemente fazer de sua esposa uma
mãe e depende dela para obter orientação e apoio.
No entanto, ele não percebe isto e negaria tudo, se
fosse indagado a respeito.
Há um lado positivo e um lado negativo em
relação a homens desse tipo. Primeiro, o lado nega-
tivo. Eles não mudam com facilidade. Geralmente,
não adianta discutir, argumentar ou usar a lógica
para com eles. A esposa de um homem desses,
levada a quase um ponto de indiferença por um
marido insistente, apegado e dependente, pode ficar
tão irritada que se torna agressiva e rejeitada. Isto
agrava a situação. O marido então sente-se rejeitado
e pode recolher-se ao silêncio, ferido e tristonho,
para voltar a perseguir sua esposa quando se recu-
perar.
No errtanto. existe alguma esperança. Enquanto as
chances de cura definitiva são remotas, já conheci
várias esposas que resolveram o problema, até certo
grau, encontrando ocupações para si fora de casa.
Duas delas, quando não agüentavam mais tanta
amolação, simplesmente viajavam. Uma tinha pa-
rentes no leste e ia visitá-los durante uns dois ou três
meses seguidos. Outra arranjou um emprego de meio
expediente. Ainda outra, arrumava a casa o mais
rápido que podia e saía para trabalhar como volun-
tária no hospital local. Mais outra entrou para um
clube feminino de bridge, Que se reunia Quas vezes
p~r ~emana', EI~ também passava bastante tempo na
biblioteca pubhca.

192

. I
Estas atitudes parecem medidas de fuga? Pois são
exatamente isso. Quando uma situação intolerável
não pode ser melhorada de outra maneira, então a
pessoa pode optar por estas alternativas.
Uma possibilidade criativa, na verdade, é buscar a
cooperação de um pastor conhecido e compartilhar
o problema com ele. Se ele tiver um espírito inova-
dor, poderá encontrar, 'ou até inventar, uma ocupa-
ção para o homem aposentado.
Recordo-me de um grupo de pessoas aposentadas,
inclusive vários homens, que vinham para a secreta-
ria de nossa igreja todas as quintas-feiras pela ma-
nhã, sentavam na biblioteca e dobravam os boletins
de domingo e os informes semanais. Poderíamos ter
adquirido uma máquina para realizar esta tarefa, mas
tal providência teria privado essas pessoas adoráveis
de fazerem sua contribuição semanal e aproveitarem
para conversar.
A mente humana busca finais felizes. Automatica-
mente procuramos uma solução amigável para qual-
quer problema. O triste fato, no entanto, é que às
vezes esta solução não existe. Em nossos relaciona-
mentos humanos, é comum adotarmos uma atitude
realista, parecida com a do governo americano em
relação a Cuba e ao Oriente Médio.
Cuba.cpor ser um local próximo e adequado para
servir de base-a mísseis e submarinos russos, é
uma ameaça à segurança dos Estados Unidos. Por
ora, "parece que não existe solução viável para o
problema.
No Oriente Médio, talvez não surja uma solução
definitiva nos próximos cinqüenta anos ou mais. Um
acordo de paz remendado entre o Egito e Israel criou
tantos problemas quantos ajudou a resolver.
Israel é e continuará a ser molestado por terroristas
palestinos, e o Egito adquiriu a eterna inimizade de
seus vizinhos árabes por ter feito as pazes com Israel.
I\contêce a me~ma coisa com os relacionamentos
humanos. Às vezes não há uma solução simples.
Isto faz-me lembrar o caso da mulher que ficou
aleijada por causa de artrite reumática. Tinha ela um

193
marido agradável, mas dominador. Alguns meses
depois que ele morreu, ela ficou completamente
curada de sua moléstia. A repressão si lenciosa de seu
ressentimento havia causado a artrite. O alívio veio
só depois que ele morreu. A personalidade da mulher
mudou completamente, e ela passou a ser uma
pessoa radiante e bem-humorada.
Também me lembro de um jovem marido que em
poucos anos tornou-se passivamente um fracassado e
sem esperança, anulado por uma esposa crítica,
autoritária e exigente. Isto pode ocorrer com um ou
com o outro dos cônjuges.

A Difícil Primeira Lição


Existe uma história conhecida em que Nasrudin
pergunta a um professor de música quanto ele cobra
para ensinar a tocar flauta.
- Dez moedas de ouro pela primeira lição - diz
o mestre - e uma moeda de ouro para cada lição
seguinte.
- Neste caso - responde Nasrudin - começarei
com a segunda lição. 2
A história demonstra a relutância comum dos seres
humanos em enfrentar a primeira lição, que é sempre
a mais difícil. No caso de relações humanas, esta
lição consiste em aprender a adquirir paciência,
compreensão e sabedoria - uma gama inteira de
novas habilidades. Difícil? Sim. Mas vale a pena.

194
11

A Fórmula Para o Fracasso - e


Para o Sucesso

Quando você se interessa por aquilo que faz - seja editar


um pequeno jornal ou ter um pequeno comércio ou ser
psiquiatra ou escrever um romance - se não for uma
atividade criminal, então você é um ser humano bem-
sucedido, pouco importa se o seu nome é popular no país
inteiro ou desconhecido na próxima esquina. - H. B. Fox

Vamos considerar alguns passos simples e eficazes


- digamos, "dez medidas infalíveis" - de se des-
truir relacionamentos. Através dos anos, tenhoobser-
vado que muitas pessoas utilizam estes métodos com
uma eficiência incrível.
1. Nunca faça concessões.
Se você valoriza seus próprios métodos e idéias,
agarre-se a eles. Não se entregue. Não apenas em
assuntos de moralidade e integridade, mas também
onde princípios e métodos de qualquer natureza
sejam envolvidos, mantenha-se l\rmet
Conheci um homem que em outros aspectos era
inteligente e talentoso, mas que perdeu quatro colo-
cações esplêndidas no trabalho, uma atrás da outra.

195
Ele acabou se arruinando porque nunca aprendeu a
distinguir entre princípios e métodos. Ele atacava um
simples procedimento de maneira tão ferrenha quan-
to faria em se tratando de um princípio moral de
grandes dimensões. Era um fracasse porque não
sabia fazer concessões.
2. Faça concessões em demasia.
As pessoas que sentem a necessidade de- agradar
a qualquer custo e não têm bastante força -de caráter,
comumente tendem a fazer concessões em demasia.
Farão qualquer coisa para evitar uma confrontação.
Stanley sentia uma necessidade excessiva de agra-
dar. Tendo recebido muito pouco amor durante a
infância, ele estava disposto a fazer qualquer coisa
para receber aprovação quando adulto. Ele era o
verdadeiro .Nhomem do sim" que concordava com
tudo que as outras pessoas diziam. Ele sempre re-
fletia a opinião da última pessoa com quem tinha
conversado. Stanley conseguiu ganhar a vida traba-
lhando num cargo de pouca importância numa gran-
de corporação, onde cuidava das responsabilidades
rotineiras que não exigiam qualquer iniciativa.
3. Acerte as contas!
Não deixe que as pessoas passem você para trás.
Se você for ofendido, revide. Se o criticarem, mande-
os logo calarem a boca! Ou, se você não gosta de
enfrentar as pessoas frente a frente, junte o maior
número de amigos ou simpatizantes que puder;
conte-lhes como você foi tratado mal e traga-os para
o seu lado. Assim, mesmo que você seja um ele-
mento intolerante no trabalho ou em sociedade, não
terá deixado a ofensa por menos.
Certa vez, alguns líderes membros de uma igreja,
sem pastor na época, me chamaram para ajudar a
resolver um problema sério. A igreja estava sendo
dividiçJa por causa de alguns boatos. Dois grupos
haviam começado a se estranhar devido a maledicên-
cias surgidas entre os membros. Ninguém sabia quem
havia começado a confusão toda, mas todos coricor-
.dararn Que a igreja não sobreviveria se a situação
persistisse.

196

',,·1··,.··,· . > I I.
Já que eu não tinha tempo nem vontade de desco-
brir o(s) culpado{s), aconselhei ao grupo que pas-
sasse algum tempo em oração silenciosa. Eu disse:
liA pessoa que causou o problema talvez seja alguém
possuído de sinceridade e devoção, mas muito peri-
gosa. Não vamos procurar descobrir quem é esta
pessoa. Vamos apenas orar e pedir uma solução."
Após o período de oração silenciosa, encerrei a
reunião, pedindo a orientação e intervenção de
Deus.
No dia seguinte, uma mulher me telefonou, agi-
tada:
- Aconteceu uma coisa! Alguns de nós suspeitá-
vamos que a fonte dos falsos rumores era uma certa
senhora da igreja, mas não queríamos fazer acusa-
ções. Hoje pela manhã eu soube que o marido dela
foi transferido de repente. Poderá isto ser a resposta à
nossa oração?
- Vamos aguardar, para ver.. se as coisas se acal-
mam - eu disse.
E, de fato, tudo se acalmou. Uma grande paz se
assentou sobre a congregação, como se fosse trazida
milagrosamente. A raiz do problema fora eliminada.
Só restava esperar '1ue esta mulher não agisse de
forma parecida em outra igreja.
Uma investigação posterior revelou que ela havia-
se sentido severamente criticada por outro membro
da igreja. Numa tentativa de se vingar, convocara o
maior número possível de pessoas para tomarem o
partido dela e iniciado rumores dtrigidos ao "ini-
migo" dela. Assim, os membros da Igreja foram to-
mando partidos e a congregação sofreu todos ?s
tipos de prejuízo. Na verdade, .pessoas assim sa?
enfermas emocionalmente e precisam buscar o auxi-
lio da psicoterapia urgentemente.
A vingança é o petisco mais saboroso que o Diabo
oferece. Talvez a pessoa até se sinta bem ao vingar-
se, mas o ódio é a mais corrosiva de todas as
emoções. É como um ácido que corrói seu próprio
recipiente.

197
4. Sinta-se superior, destruindo-as outras pessoas.
A razão principal de as pessoas se tornarem exces-
sivamente críticas é para se sentirem superiores. Se
você consegue encontrar uma falha no próximo,
adquire uma sensação momentânea de superiorida-
de. Mas há um axioma na psicologia que diz que a
pessoa que mais critica é a que se sente mais inferior.
Pessoas deste tipo são geralmente evitadas por todos,
menos pelos iguais a elas.
Cwen era membro de igreja fervorosa e tratava de
suas crenças doutrinárias com bastante rigidez. Infe-
lizmente, sua maneira pomposa, porém triste, de
criticar a ideologia teológica de seu pastor atraiu um
pequeno círculo de mulheres cujos pensamentos
legalistas refletiam os dela. Sua atitude de crítica
dividiu a igreja. Sentindo-se um tanto inferior, por
não ter uma educação formal, ela adquiriu um status
temporário com seus ataques "'com base bíblica" ao
seu pastor. -
5. Aprenda a atacar.
A melhor defesa é o ataque, e é por isso que
algumas pessoas são tão agressivas.
Eis uma lista já elaborada, pronta para ser utilizada
por maridos ou mulheres:
"Voc.ê nunca me leva a lugar algum."
"'Você nunca me ajuda a cuidar dos afazeres
domésti cos."
"'Você só sabe assistir à televisão."
"Por que você nunca me ajuda a tomar conta das
crianças?"
"'Você só sabe me i m portu nar ."
"'O que você faz o dia inteiro, hein?"
"0 dinheiro não cresce embaixo da cama!"
"Você não é a mesma pessoa com quem me casei."
"Por que você não pode ser igual a fulano?"
E estas servem para as crianças (não se esqueça de
elevar o tom da voz):"
"Veja só o Que você fez!"
II'Se você fizer isto mais uma vez ... "
II'Pare com isto já!"

198
· "O que tenho de fazer para você tomar jeito,
hein?"
"Espere só até seu pai chegar em casa. f i
Esta abordagem tem a garantia de infernizar a vida
de qualquer um.
6. Não hesite em dar muitos palpites.
Se você acha que as pessoas estão erradas, diga
isso a elas. Diga a elas exatamente aquilo que você
acha que devem fazer. Como poderão saber se você
não lho disser? As pessoas não gostam de ouvir
palpites Que não são solicitados, mas não deixe que
isto incomode você. Você tem uma obrigação moral
de espalhar a sua sabedoria e experiência para o
maior número de pessoas possível. O fato de outras
pessoas não terem a capacidade de lucrarem com os
seus conselhos apenas demonstra quão tolas podem
ser.
7. Diga logo o que você acha.
Não enrole; tenha coragem para expor suas con-
vicções. Comunique logo seus pensamentos às pes-
soas. Se você perder alguns amigos, azar o deles. Se
eles não conseguem agüentar a verdade, é problema
deles.
Você não precisa mimar as pessoas; ter um pouco
de tato é coisa para molengas. Seja absolutamente
franco e sincero sempre. Se você acha que os seus
vizinhos não estão criando os filhos de maneira
adequada, diga isto a eles. Compartilhe com eles os
benefícios de sua própria experiência. Alguém pre-
cisa dizer a eles o que precisam ouvir. Não é neces-
sário você medir as palavras. Talvez, em conseqüên-
cia, você venha a ser uma pessoa bastante solitária,
mas este é o preço que se paga para ser uma pessoa
inteiramente franca.
8. Se .....você tiver uma queixa legítima, guarde-a
para voce mesmo.
Nunca deixe uma pessoa saber que você tem uma
reclamação válida; guarde-a para si próprio. Você-
não quer ferir os sentimentos de outras pessoas, por
isso, reprima os seus próprios sentimentos. Mesmo se·
fizer sua reclamação com bastante tato, talvez as

199
pessoas não gostem, e então você perderá um amigo.
Ou talvez alguém fique aborrecido com você.
(Os números 7 e 8 são dois extremos. Ambos são
fatais em qualquer relacionamento.)
9. Procure fazer com que todos concordem com
você.
Quando encontrar pessoas que discordam de você
sobre qualquer assunto - seja religião, política, 0U a
maneira como as coisas são feitas em seu grupo -
procure corrigi-Ias. Você tem uma visão mais clara
das coisas do que essas pessoas, e elas precisam
conhecer os fatos corretos. Não desista. Mantenha o
seu ponto de vista. Se você for derrotado na discus-
são e perder um amigo com isso, paciência, as coisas
são assim mesmo.
10. Espere que eles venham falar com você. Não
se exponha.
Muitos indivíduos não sabem mostrar amizade. Se
não falarem com você primeiro, não se preocupe.
Algumas pessoas são assim mesmo. Não queira .se
apresentar; deixe que os outros tomem a iniciativa.
Se qtnserern formar novas amizades, deixe que eles
mesmos façam o esforço. Por que sempre tem que
ser você a pessoa a tomar a iniciativa?

Conflitos Familiares
O Or. Wayne W. Dyer comenta o seguinte sobre
discussões familiares:
Virtualmente, todos os conflitos são gerados com base no
pensamento seguinte: USe você fosse como eu, então eu não
teria que me aborrecer tanto." Esta é uma idéia errônea, porque
as pessoas nunca serão como você quer que elas sejam; na
verdade, você está dizendo para si próprio: USe você tão-
somente pensasse como eu, então eu não teria que me
aborrecer tanto", ou senão: "Por Que você não pode fazer as
coisas da maneira que eu desejo?" 1

o Dr. Dver então apresenta uma lista de vinte


fatores que geram confl itos no lar. São eles:
A conta bancária
Seu quarto está desarrumado
Jogar o lixo na lixeira

200 .

Ih I I, i " t+-tl'·
Fazer as tarefas domésticas
Visitar os pais
Comparecer a festas, funerais e casamentos
~avaralouça
Contas altas demais
Escolher um local para passar o feriado
Você é muito retraído
Você chegou tarde de novo
Seu comportamento no passado (O deslize que
você cometeu ano passado. Você não fez uma
pintura nova na casa no último verão.)
- Características de personalidade (Você é muito
tímido, preguiçoso, desajeitado, agressivo, medroso,
etc.)
- Você não é a mesma pessoa com quem me
casei
Quero mais liberdade
Você não me dá atenção
Beber, fumar e outros hábitos pessoais
Você não está cumprindo seu dever de casa
Você me deixa envergonhado (a)
- Não tenho tempo só para mim ... Quero mais
privacidade 2
Alguns destes pontos podem parecer insignifican-
tes; mas três deles formam um problema, cinco
podem causar uma briga e dez levarão a uma crise.

Pais Esbravejadores

Certa mãe, muito jovem, comentou comigo, numa


sessão de aconselhamento: "Como eu detestava a
maneira como minha mãe gritava conosco! Resolvi
que quando eu me tornasse mãe, não gritaria com
meus filhos, mas seria paciente e compreensiva. No
entanto, hoje percebo que grito com meus filhos da
mesma maneira como ela gritava comigo; e quando
não agüento mais meus filhos, fico zangada e brigo
com meu marido. E então ele fála alto 'comigo
também. Que tipo de exemplo estamos dando aos
nossos filhos? Por q'le agimos desta maneira, quando
sabemos que não deveria ser assim?"

201
Falar Sobre o Amor - ou Vivê-lo
Tolstoi era um homem que sempre falava sobre
uma vida de amor. Mas sua esposa escreveu o
seguinte sobre ele: "Ele transmite tão pouco calor
genuíno; sua bondade não vem do coração; mas
apenas de seus princípios. Suas biografias relatam
que ele ajudou os trabalhadores a carregar baldes de
água, mas ninguém sabe que ele nunca deu descanso
à sua esposa e, durante-os tri nta e dois anos que
vivemos juntos, jamais deu um copo de água ao seu
filho nem passou cinco minutos sequer tomando
conta do bebê, para me dar uma chance de descan-
sar um pouco de minhas muitas ocupaçõea.v-'
O Princípio do Amor
Quase todo crente conhece a mensagem contida
em I Coríntios 13:4-7, 13. Diz o seguinte:
O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor
não se vangloria, não se ensoberbece, não se porta inconveni-
entemente, não busca os seus próprios interesses, não se irrita,
não suspeita mal; não se regozija com a injustiça, mas se
regozija com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera,
tudo suporta .... Agora, pois, permanecem a fé, a esperança,
o amor, estes três; mas o maior destes é o a m o r , '
Milhões de pessoas que crêem fervorosamente
neste princípio têm encontrado dificuldades para
vivê-lo. O comentário crítico, a atitude de provoca-
ção e a resposta rude escapam antes de poderem ser
evitados.
Não acredito muito em uma experiência de con-
versão que não converta a língua. Uma esposa/
mãe que esbraveja e um marido/pai que grita e briga
constantemente são exemplos fracos do cristianismo
em sua base. Crianças que aprendem sobre amor e
tolerância, mas convivem com o oposto seis dias por
semana, serão mais influenciadas pela experiência
que têm dentro de casa. Para as crianças, aquilo que
ouvem não é tão eficaz quanto aquilo que observam.
Medidas Que Trazem o Sucesso
O sucesso precisa ser definido em termos dos alvos
que você estabelece. Um homem cuja ambição na

202

.1 I I. I ,
vida fosse ter uma loja de iscas na beira da praia
poderia considerar-se bem-sucedido se alcançasse
esse alvo. Se, por outro lado, ele estivesse determina-
do a juntar 'um milhão de dólares antes de completar
trinta anos de idade e arrecadasse apenas setecentos
mil, então talvez ele se sentisse um fracassado.
A mulher que aspira ser cabeleireira e futuramente
ter seu próprio salão pode considerar-se um sucesso
se alcançar esse alvo. Mas se ela não real izasse sua
ambição de escrever um romance que fosse um
bestseller, então se consideraria um fracasso.
Não adote o padrão comum de sucesso, que o
define apenas em termos de dinheiro, fama ou
posses. Estabeleça seus próprios alvos.
Um homem, velho, sem amigos, que sofria terri-
velmente de desnutrição e estava completamente
louco, em conseqüência de fobias apavorantes, mor-
reu há alguns anos. Trata-se de Howard Hughes, que
foi um dos homens mais ricos do mundo. Será que
alguém o consideraria um sucesso hoje em dia?
- Uma jovem estrela do cinemae símbolo sexual dos
anos cinqüenta, cujo nome era conhecido no mundo
inteiro, cometeu suicídio no auge de sua carreira.
Até aquele instante trágico, centenas de mulheres
adorariam trocar de lugar com ela. Trata-se de Mari-
lvn Monroe, que havia sido uma órfã excessivamente
maltratada, cuja beleza a havia alçado ao pico de
um sucesso que ela não conseguiu manejar.
Folheando uma edição da revista New Yorker num
consultório médico, deparei com um anúncio atraen-
te, que dizia: "Você só terá chegado à cidade quando
ficar hospedado em um de nossos hotéis." Com base
neste modelo, o sucesso é medido de acordo com o
hotel Que você escolher.
Lin Yutang certa vez escreveu: "Depois de fazer-
mos os devidos descontos em prol da necessidade de
termos alguns super-homens em nosso meio -
exploradores, conquistadores, grandes inventores,
grandes presidentes, heróis que mudam o curso da
História - o homem mais feliz ainda é aquele de
classe média que tenha adquirido uma medida mo-

203
desta de independência econômica, que tenha feito
um pouco, mas só um pouco, pela humanidade e
que seja mais ou menos conhecido na comunidade
em Que vive, mas não conhecido dernais ,":"
Quando você terá alcançado o sucesso?
Quando emagrecer quinze quilos? For um bom
pai? Comprar aquela casa nova? Conseguir uma
promoção há muito esperada? Quando não tiver mais
dívidas? Ou será quando largar seus maus hábitos?
Quando seus filhos estiverem crescidos e você tiver
viajado pelo mundo inteiro? Quando você tiver escri-
to um livro e for morar numa casa de praia?
Quaisquer que sejam suas ambições específicas na
vida, se você seguir os dez passos seguintes, será
uma pessoa de maior sucesso.
1. Julgue os outros com bondade.
Geralmente, nós nos julgamos de acordo com os
ideais que temos, e às outras pessoas com base em
suas ações. Há uma grande discrepância entre estas
duas maneiras de procedermos. G. B. White trata
esta tendência de maneira extravagante:
"Eu sou ordeiro e organizado; você é um tanto
intrometido; e ele é um indivíduo desagradável.
"O meu cachorro é manso e amigo; o seu incomo-
da todo mundo; os deles serão processados pelo meu
advogado.
"Eu não pretendo me matar de tanto trabalhar;
você é um tanto preguiçoso; ele é um malandro.
"Eu tive um pequeno desentendimento com a
fiscalização do Imposto de Renda; você acrescentou
algumas deduções duvidosas; ele foi desmascarado
pelos 'federais'."S
Jesus lançou uma injunção surpreendente: "Não
julgueis, para que não sejais julgados. Porque com o
juízo com que julgais, sereis julgados; e com a
medida com que medis vos medirão a vós."?
Isto quer dizer que, se minha avaliação das pes-
soas é severa, eu também serei julgado pelo mesmo
critério. Serei tratado de maneira generosa no dia do
juízo final apenas se eu for generoso ao julgar as
pessoas. Se eu quiser clemência na contagem final,

204

, , I~ I ,I' I " I ~I I" I, ·111 I .1 I '. ~ I, 'I,j


preciso e ibir esta atitude em minhas relações com as
pessoas a ui na terra.
Quand deparo com alguém cuja conduta seja
reprováv I, fico conformado ao considerar que, se eu
tivesse os pais que essa pessoa teve, os mesmos genes
e uma xperiênc ia de vida idêntica, talvez fosse
bastante arecido com ela.
Abrah m lincoln fez, a respeito do assunto em
questão, uma colocação sucinta. Segundo Herndon,
seu bióg afo e colega na advocacia, Lincoln certa vez
afirmou ue: "Nenhum homem deve ser elogiado por
aquilo q e ele faz ou censurado por aquilo que fez
ou deix u de fazer, já que somos todos filhos da
condiçã , das circunstâncias, do ambiente, da edu-
cação, os hábitos adquiridos e da hereditarieda-
de ... " 7 S ja compreensivo-ao falar de outras pessoas.
Relacio ar-se bem com o próximo sign ifica per-
doá-lo.
2. Nã se esq ueça de agradecer, mas não espere
isso de utras pessoas.
Certo homem fabuloso, pastor de uma igreja gran-
de e inf uente, contou-me que havia recomendado
vi nte e ete homens diferentes para serem pastores
em vári 5 igrejas. Em todas as instâncias, os homens
foram a eitos. Porém nenhum deles sequer lhe es-
creveu ara agradecer-lhe.
Antes de tornar-se juiz, Samuel liebowitz era um
procura ar criminal famoso. Ele certa vez revelou
que ha ia livrado setenta e oito homens da cadeira
elétrica Nenhum deles se deu ao trabalho de agra-
decer-I e.
Jesus curou a doença de dez leprosos. Apenas um
voltou ara expressar sua gratidão.
Os e ernplos acima não são casos isolados, é
apenas m comentário sobre um aspecto da natureza.
human . Foi o Dr. Samuel Johnson que disse: liA
gratidã é um fruto de cultivo todo especial; você
não a e contra entre as pessoas de um modo geral."
Se voc.... ajudar o próximo, deixe que esta virtude seja
sua pró ria recompensa. Faça-o pelo prazer de aju-
dar, m s não espere agradecimentos.

205
Por outro lado, se alguém ajudar você - por ser
um amigo fiel ou por oferecer ajuda numa hora difícil
de sua vida - não se esqueça de agradecer a essa
pessoa. Você será apreciado se assim o fizer, porque
expressões como esta são muito raras.
Na sua oração, quanto tempo você leva pedindo e
quanto tempo para agradecer a Deus? Não que Deus
necessite de nossa gratidão, mas revelamos peque-
nez de espírito se pedimos demais e agradecemos
pouco.
Marco Aurélio, um dos poucos homens sábios a
reinar no Império Romano, escreveu em seu diãrio:
"Hoje vou encontrar-me com pessoas que falam
demais, pessoas egoístas e ingratas. Mas não ficarei
surpreso ou perturbado, pois não consigo imaginar o
mundo sem indivíduos assim."
Se você der um pouco de si em favor de outrem,
faça-o pelo simples prazer de ajudar. Procure não
notar se os beneficiados se preocuparam de expressar
sua gratidão.
3. Aprenda a aceitar críticas sem ofender-se.
Dale Carnegie, cujos livros se venderam aos mi-
lhares, relata um episódio, do início de sua carreira,
em que um repórter do New York Sun compareceu a
uma reunião demonstrativa de sua classe de educa-
ção para adultos e ridicularizou o trabalho. Carnegie
diz o seguinte:
Como fiquei furjosof Tomei aquilo como um insulto pessoal.
Telefonei para o relator da Comissão Executiva do 5un e prati-
camente exigi que publicasse um artigo mencionando os fatos,
ao invés de ridicularização.
Depois fiquei envergonhado da maneira como agi. Percebo
agora que a metade das pessoas que adouiriram o jornal nunca
chegou a ler o artigo. A outra metade que leu o artigo consi-
derou-o uma fonte âe diversão inocente, sendo que as que lhe
deram alguma atenção esqueceram tudo depois de algumas
semanas ...
As pessoas não estão pensando em mim e você nem se
importa com o que dizem a nosso respeito. Estão pensando em
si mesmas - antes de tomar o café da manhã, depois do café
da manhã, e continuam assim até dez minutos após a meia-
noite. Estariam mil vezes mais preocupadas com uma peguena
dor de cabeça que as incomoda do que com a notícia de sua
ou de minha morte. 8

206

I "I ~ I;, DI I ,. I I t ~ i, '~i


Você fica ofendido quando as pessoas criticam
você? Você fica terrivelmente aborrecido quando os
outros não compreendem o que quer dizer ou quan-
do alguém com malícia altera os fatos? O único ser
humano perfeito que já existiu foi traído por um de
seus discípulos, negado por outro, questionado por
um terceiro e incompreendido por todos os outros.
Os líderes religiosos ciumentos não apenas critica-
ram-no, mas também insistiram que seus milagres de
cura eram real izados pelo poder de Satanás. Sobre
certa ocasião, durante seu ministério, temos o se-
guinte relato: "Muitos dos seus discípulos voltaram
atrás e não andavam mais com ele."9 Ele foi "des-
prezado e rejeitado dos homens". 10 Se tudo isso
aconteceu ao próprio Jesus, não há Qualquer razão
para acharmos que não devamos ser criticados e
rejeitados.
Acho muito interessante acompanhar as pesquisas
de popularidade dos diversos presidentes. Não existe
uma maneira de qualquer presidente receber a apro-
vação do eleitorado como um todo. Sempre haverá
gente que não concorda com ele ou até mesmo o
odeia. Se ele conseguir a aprovação de 55 a 60
por-cento dos eleitores, pode considerar-se afortu-
nado. A única maneira possível de evitar a censura
ou incompreensão é ocultar-se nas sombras, não
expressar opiniões e Jazer o melhor que puder para
ser ignorado.
4. Dê importância às necessidades de outras pes-
soas. «
Lembre-se de que uma das necessidades funda-
mentais do ser humano é sentir-se importante.
Há alguns anos atrás, uma grande firma industrial
realizou uma série de experiências para encontrar
uma maneira de aumentar a produtividade de seus
empregados. Os empregados, é claro, tomaram co-
nhecimento disto. Primeiro, foi instalado um sistema
de música no Jocal de trabalho. A produtividade
aumentou. Algumas semanas depois, acabaram com
a música. A produção continuou melhorando.
Depois instalaram um tipo novo de iluminação.

207
A eficiência aumentou ainda mais' Não demo-
rou muito e a iluminação original foi restaurada.
No entanto, a produtividade continuou a subir.
Em outra experiência, as mesas foram mudadas de
posição, de forma a contribuírem para uma maior
eficiência. O moral elevou-se, assim como a produ-
ção. Dentro de algumas semanas, as mesas foram
coloçadas em suas posições originais. Os resultados
demonstraram ainda outra melhora impressionante.
Isto causou grande surpresa. Não importava o que
a companhia fizesse, os funcionários melhoravam o
rendimento. Foram feitas várias outras mudanças
importantes e menores. Em cada instância, a produ-
tividade aumentou e o moral também subiu.
Finalmente, as pessoas que realizavam a experiên-
cia perceberam que não eram as mudanças efetiva-
das a razão responsável pelo aumento da produtivi-
dade. Era o fato de que as mudanças faziam os
funcionários sentirem que eles eram importantes.
A necessidade de senti r-se i mportante é demons-
trada numa reportagem sobre um homem Que passou
trinta e seis dias e noites dentro de uma jaula de uns
cinco metros com cobras venenosas. Ele explicou
que fez isso porque queria ver seu nome no Guinness
Book of World Records. * Num mundo em que a
maioria dos seres humanos tem poucas chances de
tornar-se famosa, as pessoas farão qualquer coisa
para atrair a atenção. Dê atenção às pessoas, para
que elas se sintam importantes.
5. Enfrente as intervenções com criatividade.
Você está ocupado com alguma tarefa que é
importante para você e aparece uma série de inter-
rupções. Seu tempo é limitado e você tem prazos a
cumprir. E então outras pessoas se intrometem em
seu tempo. A não ser Que você tenha o dom da
paciência i limitada, logo fica tenso, depois irritado e

* Livro que registra todas as rnarores façanhas do mundo. (N.


do T.)

208

I , .. I ~ I j,
finalmente exasperado. Isto acontece muito com
pais de crianças ainda pequenas. E acontece com
todos nós às vezes.
Mas a própria freqüência destas interrupções tal-
vez seja uma Indicação de seu valor como indivíduo.
As únicas pessoas que são interrompidas são aquelas
cuja vida e trabalho seja de alguma importância. As
Interrupções são evidências de sua indispensabili-
dade.
Por natureza, não aprecio nem tolero interrupções
com paciência infinita. Se meu pensamento ou meu
serviço é Interrompido freqüentemente, minhas
energias se esgotam mais rapidamente do que se
estivesse trabalhando por horas a fio. Minha cabeça
diz que as pessoas que interrompem meus compro-
missos têm o direito de fazê-lo ou que precisam de
mim ou de um conselho meu. Mas minhas emoções
demonstram que fico bastante irritado. Este é um
defeito grave de minha parte. No entanto, à medida
que procuro corrigi-lo, mais percebo que estou
obtendo algum progresso, embora modesto.
6. Aprenda a valorizar o silêncio e a brevidade.
Existem muitos oradores de valor que são respei-
tados, mas também é verdade que lia silêncio vale
ouro". Existe grande sabedoria em saber quando
permanecer em si lênc io. I nfel izrnente. muitas pes-
i

soas nunca adquirem esta 'sabedona.


Num artigo sobre a taciturnidade, Iames Thom
escreveu o seguinte:
Queremos sugerir algo adicional ao currículo habitual das
universidades; um curso que ensine às pessoas quando devem
guardar silêncio. Este curso podia ser chamado de: Silêncio
I, ou talvez de Reticência Básica ou senão de Circunspecção
Social.
Pois, para cada vez que nos arrependemos de ter ficado cal~­
dos, existem dez em que nos arrependemos de ter falado. EIS
algumas razões comuns por que as palavras nos metem em
apuros:
1) Não expressamos aquilo que queremos dizer; 2) Falamos
no momento errado; 3) As pessoas reagem não ao que disse-
mos, mas aquilo que acham que dissemos.
Durante nosso curso sobre guardar silêncio, pudemos fazer
referência às palavras de Thomas Carlyle: "Falar é grandioso,
mas guardar silêncio é mais grandioso ainda." E Plutarco:

209
"Aquele que não sabe se calar nunca poderá ser um orador
eficiente." E concluímos com a seguinte máxima: "Em boca
fechada, não entra rnosca.v U
Recordo-me de uma reunião de líderes da igreja em
que um assunto controvertido fora posto em discus-
são. O debate estava sendo conduzido de maneira
bastante exaltada, com vários líderes pedindo a
palavra, para apoíar ou contrariar a proposta. Final-
mente, um homem idoso, de cabelos brancos e
rnrn t o afável, chamado C. V. Johnson, levantou-se e,
unindo as pontas dos dedos, disse, em voz branda e
pausadamente: JlÉ bem possível que eu esteja enga-
nado, mas ... " E então pôs-se a fazer uma análise
profunda do assunto. A proposta apresentava algu-
mas virtudes, a seu ver, mas' ele também tinha
algumas objeções a fazer. Em seu breve sumário, ele
conseguiu esclarecer o problema, medir os prós e os
contras, e depois concluiu: "Portanto, gostaria de
sugerir que a proposta seja rejeitada, pelos motivos
há pouco mencionados." A votação foi unânime e, a
meu ver, não poderia ser de outra maneira. Este
homem havia permanecido em silêncio durante duas
horas, enquanto a discussão se realizava, e conse-
guiu trazer esclarecimento e sabedoria sobre o assun-
to em três minutos.
Um amigo meu, em resposta a 'uma crítica bas-
tante dura, replicou, em atitude meditativa: "Obriga-
do. Aprecio sua observação. Vou pensar sobre isso."
A pessoa que o havia criticado ficou desconcertada.
O silêncio ou a brevidade pode ser uma resposta
poderosa.
7. Faça sempre um pouco a mais.
Iames E. Byrnes, secretário de estaclo na adminis-
tração do Presidente Franklin D. Roosevelt , certa vez
disse o seguinte: /~'
/

Eu ainda era jovem quando percebi que a maioria das


diferenças entre as pessoas comuns e as grandes podem ser
explicadas por quatro palavras: e um pouco mais."
U

As pessoas mais importantes faziam tudo que se esperava


delas, e um pouco mais. Eram amáveis e atenciosas para com
as outras, e um pouco mais. Cumpriam suas obrigaçOes e res-

210

c"l,
ponsabilidades de maneira Justa e honesta, e um pouco mais.
Estavam sempre prontas a ajudar os amigos, e um pouco mais.
Podia-se contar com elas numa emergência, e um pouco
mais. 12 .

o acontecimento particular mais importante de


minha vida, fora o de escolher minha esposa, foi a
ocasião em que me ofereci para trabalhar sem rece-
ber qualquer coisa em troca.
Eu era o aluno mais jovem e inexperiente do,
seminário. Já tinha dois empregos de meio expe-
diente, mas, certo dia, num impulso inexplicável, fui
conversar com o editor de um jornal da denomina-
ção. Disse-lhe que Queria escrever alguns artigos. Ele
respondeu:
- Filho, nosso orçamento está bastante apertado
e então estamos precisando de outro escritor no mo-
mento.
- Compreendo - falei - mas não estou espe-
rando qualquer pagamento. Quero apenas escrever
algumas coisinhas. Tenho algumas idéias que gosta-
ria de apresentar.
- Sente-se, meu jovem - respondeu-me.
Quero conversar com você. Você é a primeira pessoa
que jamais entrou aqui e ofereceu-se para trabalhar
de graça. Traga algumas amostras do tipo de idéias
que você pretende transmitir e vou considerar sua
proposta.
Alguns dias mais tarde, apresentei pequenos tre-
chos do assunto que tinha em mente. Ete gostou, e
daquele dia em diante concedeu-me duas páginas
inteiras em cada edição. Alguns meses depois o
editor mostrou-se interessado em meu futuro e le-
vou-me para conversar com um líder denomina-
cional.
- Iohn - ele disse - arranje uma igreja para este
jovem. Ele precisa de um pouco de experiência.
O lider deu um jeito de encontrar uma pequena
igreja para mim, e durante os dois anos seguintes,
adquiri experiências valiosas, que não poderiam ser
obtidas de nenhuma outra forma.
O conceito de "e um pouco mais" é importante.

211
Ele pode mudar sua vida, se for aplicado como um
pri ncípio vitalício.
8. Tome o propósito de aceitar-se e amar-se a si
mesmo.
O amor-próprio, quando vivenciado de maneira
adequada, não é egoísmo. Você deve amar-se a si
mesmo como a seu próximo. Você não só tem o
direito de amar-se a si mesmo. como se espera que
você o faça. Porque você só pode amar outra pessoa
até o grau em que você se ama a si próprio.
Recordo-me de uma jovem que havia abandonado
o estudo ginasial por rebeldia. Posteriormente,
casou-se com um jovem muito habilidoso. Juntos,
exerciam uma grande influência na igreja que fre-
qüentavam. Infelizmente, devido ao seu complexo
de inferiorrdade e sua natureza contenciosa. a esposa
exercia uma influência negativa sobre os demais. o
que acarretava permanentes discórdias. Essa mulher
tornou-se o centro principal de falatório e dissensão
e acabou envolvendo até mesmo seu simpático
marido. que sempre procurava defendê-Ia. Sua fa-
chada exterior atraente ocultava um espírito hostil e
rancoroso. Ela e seu marido foram virtualmente for-
çados a sair da igreja, por causa da influência de
discórdia que transmitiam, e ela ainda causou sérios
desentendimentos em outra igreja. Como essa jovem
não havia aprendido a amar-se a si mesma. não sabia
relacionar-se com as outras pessoas. a não ser com
intensa possessividade ou hostilidade agressiva.
Procure sempre alcançar o alvo de aceitar-se a si
mesmo: suas responsabilidades, forças, virtudes e
fraquezas. Encare suas limitações com uma tolerân-
cia simpática e bem-humorada.
9. Aceite suas emoções como sendo válidas.
Todos os nossos sentimentos são válidos. No
entanto. muitas pessoas que foram criadas por pais
que lhes davam pouco incentivo ou que tiveram um
passado religioso excessivamente legalista tendem
a rejeitar certos sentimentos e de tachá-los de
"maus" .

212

r- , .~ I , I' i. li·,~-"' ..;.. ,_-.:.0=. , ~".


As duas emoções mais fortes que Deus nos deu são
o desejo sexual e a ira. Por causa da força e do
potencial de destruição que representam, a socieda-
de estabeleceu algumas regras e regulamentos para
direcionar a sexualidade e a agressão para canais
criatívos.
Muitas escolas dão alguma instrução sobre o
aspecto biológico da sexualidade. No entanto, os
lados emocional e espiritual do assunto geralmente
são tratados de maneira inadequada.
São poucos os pais que conseguem conversar
sobre este assunto com facilidade e habilmente com
seus filhos. Mas a propagação de alguns livros sobre
o assunto está tornando esta tarefa um pouco mais
simples. Todas as bibliotecas públicas têm livros
sobre a sexualidade humana e quase todas as livrarias
possuem uma variedade de títulos. Devido à impor-
tância do impulso sexual, precisa-se ler muito sobre o
assunto.
Em nosso centro de aconselhamento, temos depa-
rado com um fato surpreendente: conquanto a maio-
ria das mulheres tenha lido bastante sobre a sexua-
lidade humana, a maioria dos homens leu muito
pouco ou até nada a respeito. Há uma tendência ge-
neralizada entre os homens de pensarem: "Sei tudo
sobre o assunto", o que geralmente fica aquém da
verdade.
A ira vem .de Deus e por isso tem uma origem
divina. Precisamos aceitar nossa ira como é: um
instinto de sobrevivência. Expressar a hostilidade
pode ser tanto desaconselhável quanto válido, de-
pendendo das circunstâncias; mas sentir esta emo-
ção é normal. O Novo Testamento adota a seguinte
postura: "l rai-vos, e não pequeis ... " Aqui está o
reconhecimento do fato de que ficamos irados às
vezes. O verso continua: "Não se ponha o sol sobre a
vossa ira." Num verso subseqüente, lemos o seguin-
te: "Toda a amargura, e cólera, e ira, e gritaria, e
blasfêmia sejam tiradas dentre vós, bem como toda a
malícia."14 Todos estes aspectos estão relacionados

213
com uma atitude vingativa, maliciosa e hostil -
não com a emoção da ira, que é normal.
Jesus ficou irado em mais de uma ocasião. Paulo e
Barnabé tiveram uma discussão tão áspera que se
separaram e Pedro e Paulo tiveram um duelo verbal
acalorado em Jerusalém, sobre um assunto impor-
tante.
Aceite o fato de que Deus deu a você a capacidade
de sentir-se irado, mas aprenda a controlar a ira, para
que não se torne destrutiva.
Aceite suas outras emoções - até mesmo as que
pareçam ser negativas - como sendo características
humanas normais também. Se elas aparecem exces-
sivamente, então talvez você precise de algo que vai
desde o autocontrole até a terapia intensiva. Mas
aceite as emoções em si mesmas como sendo uma
realidade. Já que a repressão leva à obsessão, você
pode tornar-se obsessivo ou dado a fobias, se não
aceitar as suas emoções.
10. Aceite a vida.
A vida não é fácil, como já foi dito antes. Ninguém
afirmou que seria fácil, mas a vida é preferível à
morte.
A aceitação não implica em aprovação. Não pre-
cisamos gostar das dificuldades que encontramos,
mas precisamos aceitá-Ias como fatos.
Existem três passos importantes para a solução de
qualquer problema: consciência, aceitação e ação.
Vamos examinar estes três passos.
Precisamos ter consciência do problema antes de
resolvê-lo. Isto pode sigrrific ar entrar em contato
com emoções mais profundas, ao invés de negá-Ias.
Nunca minta a você mesmo sobre seus sentimentos.
A negação não adianta nada e pode ser bastante
destrutiva.
Em seguida, precisamos aceitar a situação. Isto
não quer dizer que precisamos gostar dela. Eu não
gosto de alguns aspectos da vida: matanças, morte,
violência, pobreza, fome, injustiça, guerra, e muitas
outras coisas. Mas aceito todas elas como realidade.

214

J L I I
Também não gosto de "alguns aspectos da m'inha
personalidade, mas preciso reconhecer que possuo
estas característi cas.
Em terceiro lugar, precisamos decidir qual a ação
a ser posta em prática, o que pode_ incluir fazer uma
análise do problema, aprender a disciplina, elaborar
planos de longo prazo ou procurar aconselhamento.
Embora possamos ser vítimas dos pecados da so-
ciedade como um todo, temos condições de triunfar,
se reconhecermos, durante nossa vida inteira, as leis
que regem o Universo. Deus quer que você seja uma
pessoa bem-sucedida e ele oferece o seu poder, amor
e orientação para ajudá-lo a alcançar este alvo.

215
• •
12
t-5q'p"~i~:

F acetas do Amor

Ame a inteira criac.io de Deus como um todo, bem como


cada grão de areia. Ame cada folha, cada raio de luz. Ame
os animais. ame as plantas. ame cada coisa em separado.
Se você amar cada coisa, perceberá o mistério de Deus
em seu todo; e quando tiver percebido isto, daí em diante
crescerá cada dia, até o entender de modo mais completo;
até chegar. afinal, a amar o mundo inteiro com um amor
que então será amplo e universal. - Fedor Dostoievsld

Certa vez, durante uma palestra, eu disse, para um


grupo de pessoas, o seguinte:
- Não somos responsáveis uns pelos outros. Te-
mos a responsabilidade de expressar amor ao próxi-
mo, mas não somos responsáveis por ele.
Uma senhora interrompeu-me perguntando:
- Mas e quanto ao ensinamento de Jesus, que
nos instrui que somos os guardadores de nossos
irmãos?
Procurei esclarecer, da maneira mais branda pos-
sível, que Jesus não havia mencionado coisa alguma
a respeito de sermos guardadores de outrem.
- A passagem a que a senhora está-se referindo
se encontra no livro de Gênesis - eu disse. - Caim

217
havia matado seu irmão Abel, e quando Deus lhe
perguntou: "Onde está Abel, teu irmão?" ele retru-
cou: "Não sei; sou eu o guarda do meu irmão?" -
Houve um momento de silêncio. Então perguntei à
senhora que havia levantado a questão: - A senhora
gostaria que alguém ficasse tomando conta da se-
nhora?

Ajudando um Alcoólatra
Um alcoólatra, chamado Bob, aparecia em meu
escritório de vez em quando, pedindo dinheiro para
conseguir um lugar onde dormir e algo para comer.
Sentindo uma vaga inquietação e emoções variadas,
eu sempre lhe dava algum dinheiro. Mas sabia que
não estava resolvendo o seu problema básico.
Minha secretária, cujo marido era um alcoólatra
recuperado, certo dia me disse:
- É claro que o senhor sabe que não está ajudan-
do este moço em nada, não é?
- Sim, m3S não sei o que mais fazer. Ele se recusa
a procurar os Alcoólicos Anônimos. Quando aparece
aqui com fome e sem ter onde morar, o que posso
fazer?
- O senhor estaria agindo com mais amor se não
lhe desse dinheiro - ela respondeu. - Ele nunca
conseguirá recuperar-se enquanto rião ficar em pâni-
co e completamente desesperado. E preciso que ele
chegue ao último extremo.
Eu sabia que minha secretária tinha razão. Da
próxima vez que Bob apareceu, eu disse, de maneira
gentil, porém firme, Que sentia muito, mas não podia
fazer outra coisa por ele senão encaminhá-lo a um
centro de recuperação para alcoólatras. Ele soltou
alguns palavrões e saiu furioso.
Eu não estava ajudando 80b quando lhe dava
algum dinheiro. Estava tentando equivocadamente
ser responsável por ele, a curto prazo, ao i nvés de
demonstrar amora longo prazo.
Mais tarde, eu soube que Bob, faminto e desespe-
rado, havia juntado algumas esmolas para chegar até
São Francisco, a uns trinta e poucos quilômetros de

218

I
distância. Como não conseguiu arrecadar mais di-
nheiro lá, procurou uma instituição de recuperação
de alcoólatras. Não demorou muito e conseguiu um
emprego, juntou algum dinheiro e pegou um ônibus
de volta para sua casa em Georgia.
Pessoas bondosas e compassivas podem ser facil-
mente induzidas a sentirem-se responsáveis por
pessoas que, na verdade, não são de sua responsa-
bilidade.

Ajude com Base em Suas Próprias Condições


Se você quiser ajudar o próximo, faça-o com base
em suas próprias condições. Você é a única pessoa
que pode saber quanto tempo, energia, solidariedade
e dinheiro tem disponível.
Fui criado de maneira a ser bastante complacente,
por isso, durante muitos anos, senti que era minha
obrigação ajudar toda e qualquer pessoa que me
pedisse ajuda. Alguma força indefinida, mas pode-
rosa, dentro de mim, não permitia que eu dissesse
"não" às pessoas. Já ocorreu de me perguntarem:
"O que você vai fazer amanhã à noite?" e depois
ficarem ao meu lado, aguardando, enquanto eu
consultava minha agenda. Nunca gostei muito disso,
mas ainda precisava fazer um esforço tremendo para
não responder a uma intromissão na minha vida.
Finalmente aprendi, de um amigo mais velho,
sábio e dotado de tato, uma maneira de evitar o
"não" e ao mesmo tempo rejeitar um pedido, caso
fosse inconveniente. Este amigo era uma pessoa
amável e gentil, a quem todos admiravam. Ele nunca
se comprometia a fazer mais do que podia resolver
convenientemente, e, no entanto, nunca dizer "não"
às pessoas. Com um sorriso amável, ele consentia
quando possível, ou, se não, dizia: "Eu adoraria, mas
já tenho outro compromisso nesse dia."
Eu suspeitava de que às vezes o compromisso era
com a esposa ou, se não, com um bom Jivro, embora
ele estivesse envolvido em muitas atividades e desse
muito de si generosamente. Mas ele sabia quando e
como evitar assumir mais do que poderia fazer.

219
Embora ainda me encontre por vezes atarefado
demais, não consigo calcular os inúmeros compro-
missos que pude rejeitar, graças à fórmula encontra-
da por meu amigo: "Eu adoraria, mas ... "
Em certa ocasião, Jesus, mostrando muito amor,
recusou-se a dar ouvidos à sua mãe e a seus irmãos.
Eles haviam penetrado em meio à multidão e como
não conseguissem aproximar-se mais, enviaram um
mensageiro para dizer a Jesus que desejavam falar
com ele. Quando disseram que sua mãe e seus
irmãos queriam vê-lo, ele disse: "Quem é minha
mãe? e quem são meus irmãos? .. Pois qualquer que
fizer a vontade de meu Pai que está nos-céus, esse é
meu irmão, irmã e mãe." 1
O amor não significa ser responsável pelas pes-
soas. Devemos simplesmente amá-Ias, cuidar delas e
fazer o que acharmos o mais indicado, de acordo
com as circunstâncias.

Os Médicos e Suas Atitudes


o Dr. David Wheatley, um médico inglês, fez uma
experiência com um grupo de pacientes que sofriam
de ansiedade aguda. Estavam todos sendo tratados
por médicos diferentes, mas que utilizavam cal-
mantes de propriedades bastante parecidas.
Os melhores resultados foram observados nos
pacientes cujos médicos eram geralmente otimistas
e encorajadores. Resultados um pouco menos satis-
fatórios foram obtidos no caso dos pacientes cujos
médicos se mostravam relativamente indiferentes.
Foram péssimos os resultados observados nos paci-
entes cujos médicos exibiam um grau considerável
de pessimismo com relação ao resultado. Em outras
palavras, a atitude do médico evidenciou-se como
tendo um papel importante na cura do paciente.
Os calmantes produziram alguns resultados, mas o
ingrediente mais importante foi a atitude dos médi-
cos que mostravam um cuidado genuíno, pois o
cuidado é uma faceta do amor.

220
Médicos Que Deixam a Pessoa Esperando
Certa vez marquei uma consulta para fazer um
exame físico de rotina com um médico que me fora
muito bem recomendado. Quando cheguei ao con-
sultório, tive que esperar durante quarenta minutos,
após os quais disse à recepcionista que tinha outro
compromisso e que seria melhor voltar em' outra
ocasião. Ela então marcou outro horário.
Na vez seguinte, fiquei esperando durante vinte e
cinco minutos. Comecei a ficar um pouco irritado, já
que considerava meu tempo tão importante quanto
o do médico. Anunciei para a recepcionista que teria
de voltar outro dia, já que eu havia reservado apenas
um tempo Iim itado para a consulta. Ela me disse que
talvez seria melhor marcar a próxima consulta logo
após o almoço, já que o médico voltava do almoço
precisamente à uma hora. Então, concordei.
Uma semana seguinte, à uma hora, eu estava na
sala de espera. Quando deu 1:15, levantei-me e disse
para a recepcionista que infelizmente não podia
esperar mais. Ao me retirar do consultório em dire-
ção ao estacionamento, ela veio correndo atrás de
mim:
- Ele está chegando neste exato momento.
Olhei em direção à calçada. O médico vinha muito
calmamente se aproximando da porta do edifício. Já
era 1: 18. Eu disse:
- Diga a ele que vou procurar outro médico.

Perdendo a Paciência na Sala de Espera


Embora este tipo de médico seja uma minoria,
existem alguns que mostram uma falta de considera-
ção pelo tempo do paciente. Ser obrigado a esperar
durante vinte a quarenta minutos numa sala de
espera, com nada para ler, senão algumas edições
antigas de revistas, não faz muito bem à paciência da
pessoa, a não ser, é claro, que ela sinta mesmo
vontade de afastar-se do trabalho, para descansar um
pouco, ou de fugir das exigências incessantes de
crianças pequenas. Ou se alguém for parecido com

221
minha esposa, Isobel, Que tem o dom da infinita
paciência com tipos de comportamento neuróticos
ou irracionais.
O que isso tem a ver com relacionar-se com as
pessoas? Muito. As pessoas ficam bastante irritadas,
e muitas vezes iradas, por terem de esperar. Roubar o
tempo das pessoas é equivalente a roubar dinheiro
ou propriedade. Existe nisto uma diferença muito
pequena.
Se você realmente se importa com o bem-estar de
seu próximo - e consideração é um aspecto impor-
tante do amor - terá o cuidado de ser consistente-
mente pontual. É óbvio que existem aquelas emer-
gências ocasionais que tornam isto impossível, mas
o fato de você ser uma pessoa Que sempre chega
atrasada acaba s ign ifi cando para a que espera: "Real-
mente não me importo com o fato de que você teve
que esperar. O meu tempo é mais importante do que
o seu ."

Fazendo e Recebendo Elogios


O amor do Novo Testamento - agape - não tem,
necessariamente, a conotação de gostar ou sentir
afeição. Não temos uma palavra, em nosso vocabu-
lário, que defina precisamente seu significado, mas
esse tipo de amor pode ser descrito como uma
preocupação positiva e incondicional pelo bem-estar
de outrem.
Com isso em mente, a pessoa que ama - no
sentido agape da palavra - elogia freqüentemente.
Você quer ser amado, você quer ser elogiado, você
espera ser aprovado pelas outras pessoas. O mesmo
ocorre com o seu próximo. Por isso, se você real-
mente deseja ser apreciado, não hesite em fazer
elogios em ocasiões devidas. A maioria das pessoas é
criticada tanto que não é provável que sofra de um
excesso de aprovação.
Os elogios nunca devem ser seguidos de um
"rnas ... "
"Vooê geralmente faz um bom trabalho, mas desta
vez fiquei um pouco desapontado, porque ... o

222

i .• ,1 iIt I I: ~
"Esta roupa está muito bonita, mas você acha que
está adequada para ser vestida no dia ... ?"
E muito mais fácil lidar com um elogio sincero ou
uma crítica franca do que com uma mistura de
ambos.
Muitas pessoas sentem dificuldades para aceitar
elogios naturalmente. Muitas vezes sentem uma
necessidade de retribuírem: '/lObrigado. Fico muito
contente, mas o seu vestido também é lindo." Não é
necessário responder' de maneira equivalente. Dizer
"muito obrigado" já é o bastante.

O Intelecto e as Emoções
Nós, seres humanos, atuamos muito mais a nível
emocional do que intelectual. O intelecto explica o
Que as emoções decidem, mas ele não passa de mera
partícula num mar de emoções.
Já que somos mais motivados por nossos senti-
mentos do que por simples fatos, nossos relaciona-
mentos serão melhores se fizermos com que as
pessoas se sintam bem em relação a si mesmas.
Vamos considerar alguns erros que elas cometem e
que fazem com que as outras pessoas não se sintam
bem em relação a si mesmas.
A crítica é bastante destrutiva. Qualquer espécie
de crítica, não importa o cuidado com que é ex-
pressa, é percebida pelo receptor como sendo uma
agressão. Podemos até ter a intenção de ser constru-
tivos e rotular a crítica assim, porém ela sempre
transmite a idéia de agressão para a pessoa criticada.
Iack Denton Scott certa vez escreveu o seguinte:
Um pai sensato sempre procura elogiar o filho quando o
merece. Conheço uma mulher que tem um filho de doze anos.
O rapaz acha que enxugar a louça para a mãe é uma grande
honra. Tudo começou por causa de um elogio. Certa noite,
quando ele estava enxugando uma travessa grande de vidro
com um pouco de má vontade, ela escorregou de suas mãos e
caiu na chão, fazendo-se em mil pedaços. Um silêncio pairou
no ar. Então sua mãe disse: "Roberto, de todas as vezes que
enxugou a louça para mim, esta é a primeira vez que você
quebra alguma coisa. Acho que você bateu uma espécie de
recorde em não Quebrar nada." A expressão de ansiedade
sumiu do rosto do menino e ele sorriu. Daquele dia em diante,

223
ele nunca mais reclamou de ter que enxugar a louça. É como
aconselha certo psicólogo: "Elogie as virtudes. e você terá
poucos vícios a condenar .".2
As crianças precisam desesperadamente de elo-
gios, mas os adultos também necessitam ser elogia-
dos. Uma das necessidades mais profundas do ser
humano é sentir-se importante. As pessoas reagem
melhor aos elogios do que às críticas.
Jamais se deve criticar alguém em público ou
mesmo fazer um comentário afrontoso. Se você
quiser ser genuinamente detestado, pratique o ato
aniquilador de humilhar as pessoas publicamente. Se,
alguém precisa ser corrigido, faça-o em particular.
A Diplomacia Como uma Faceta do Amor
Benjamin Franklin, aquele velho e sábio filósofo,
cientista e diplomata dos tempos coloniais, tinha
muito a dizer sobre o tato, já que ele era um mestre
no assunto. Foi por causa de seu tato que foi
enviado à França como diplomata especial.
Franklin afirmou que não é sensato ser-se dogmá-
tico. Ao invés disso, devemos iniciar nossos comen-
tários com frases parecidas com a seguinte: "Ê bem
possível que eu esteja errado, mas ... " O dogmatismo
irrita as pessoas e pode provocar brigas. E contra-
produtivo. O ouvinte é menos capaz de concordar
com um comentário dogmático do que com um
expresso com tato.
Focalizando em Outras Pessoas Como uma Faceta do
Amor
Outro aspecto do agape diz respeito a deixar que a
outra pessoa se sinta importante. Chamar a atenção
para os seus próprios feitos, suas capacidades e suas
posses pode causar inveja. Se você quiser fazer
amizades, focalize sua atenção nas realizações de
outrem.
Eu estava presente a um acontecimento social e
sentei-me ao lado de um homem bastante simpático.
Já que provavelmente estaríamos juntos durante a
próxima hora ou mais, perguntei-lhe quais eram os
seus hobbies prediletos. Ele me disse que interessava-

224

I: I , ,I II1 I , I, I .; ,
se por genealogia. Ora, uma das coisas menos fas-
cinantes neste mundo para mim é saber quem gerou
quem. Contudo, para ser amável, pedi-lhe que me
falasse de suas pesquisas genealógicas. Ele falou
durante uma hora e quinze minutos, sem parar, e
quase nem prestou atenção a uma apresentação
musical no outro lado da sala.
Eu não estava muito interessado pelo que ele me
dizia, mas achei o homem espetacular. Ele havia
viajado muito, para realizar suas pesquias, inclusive
a muitos países que eu havia visitado, por isso,
compartilhamos nossas opiniões. Era eu quem fazia o
maior número de perguntas. No geral, aqueles seten-
ta e cinco minutos foram interessantes.
Achei curioso Que em nenhum momento, durante
nosso bate-papo, aquele homem fizesse qualquer
pergunta sobre minha ocupação ou meus passatem-
pos, nem sobre qualquer outra coisa a meu respeito.
Ele estava completamente imerso em seus próprios
interesses. Eu não chamaria isto de uma caracterís-
tica ideal, mas é uma tendência humana normal.
O que teria eu a lucrar se contasse a este homem
todas as minhas experiências de viagem dos últimos
trinta e cinco anos? Eu não teria trazido a menor
satisfação para ele, se tivesse discorrido sobre mi-
nhas próprias experiências ou meus interesses. Meu
objetivo principal era proporcionar uma conversa
agradável. E no final das contas, acabei aprendendo
alguma coisa.
Um aspecto importante do tato é a habilidade de
fazer com que as pessoas se abram, ou seja, deixar
que elas falem. Mas se você tem sentimentos profun-
dos de inferioridade e insegurança, então talvez sinta
uma grande necessidade de informar, de instruir, de
dominar a conversa. Mas quais são as vantagens para
você, se assim fizer?
Apontando os Erros de Outras Pessoas
Geralmente, apontar os erros de outras pessoas
traz poucos benefícios. Posso citar algumas ocasiões
no passado em que errei por tê-lo feito.

225
Durante uma palestra que eu estava realizando,
certa mulher desafiou alguma afirmação que fiz e
tentou provar, através de uma citação do apóstolo
Paulo, que as mulheres deviam ser obedientes e
submissas a seus maridos, uma opinião um tanto
quanto surpreendente para a época presente. Levei
um tempo considerável tentando esclarecer um
pouco o pensamento dela, só que ela não queria
esclarecimentos. Mostrou-se inflexível. Consegui
apenas tirar-lhe o interesse da palestra. Tenho certe-
za de que essa mulher não prestou mais atenção a
qualquer outro comentário que fiz durante o fim de
semana inteiro. Estava convencida de que eu não
acreditava na Bíblia.
Uma maneira mais jeitosa de responder seria a
seguinte: "Então a senhora acha que todos os ensina-
mentos de Paulo sobre as mulheres há dois mil anos
atrás se aplicam às relações domésticas de nossa
cultura nos dias de hoje?" Eu podia tê-lo afirmado
sem concordar com sua interpretação particular da
Bíblia. Tinha ela todo o direito à sua própria opinião.

o Amor Cristão Inclui o Perdão

Duvido que alguém possa ser uma pessoa amável


sem saber perdoar aos outros.
Existe uma história sobre um velho fazendeiro que
vinha disputando um pedaço de terra com seu vizi-
nho por mais de trinta anos. Esse homem idoso sabia
que estava prestes a morrer. Achando-se, em dado
momento, com o ânimo mais calmo e um pouco
mais sossegado, pediu à sua esposa que chamasse o
vizinho.
Quando seu velho inimigo se assentou, o ancião,
quase morrendo, disse com voz fraca e trêmula:
"Abner. você e eu estamos disputando este pedaço
de terra há mais de trinta anos. Eu disse algumas coi-
sas bastante desagradáveis a você, e queria que você
aceitasse minhas mais sinceras desculpas. Eu só
quero fazer-as pazes com você antes de morrer. Você
me perdoa?" .

226

i! ~ . • L ~,I I, I ... j ~ L.' I .1 M, lo ; 1,.1 • I L


Abner ficou comovido e confessou que estava
disposto a fazer exatamente a mesma coisa. Aperta-
ram-se as mãos.
E então o ancião apoiou-se no cotovelo e, balan-
çando o dedo em riste, disse em tom ameaçador:
"Mas ouça aqui, Abner, se eu levantar dessa cama,
pode esquecer tudo isso Que acabei de clizer!"
Jesus deixou bem claro que Deus não pode per-
doar-nos se não perdoamos nosso próximo do fundo
do coração. É claro que isso significa a profundeza
de nosso ser, a um profundo nível emocional. E não é
tão fácil de se fazer Quanto parece.
Durante uma sessão de Integração Primai, uma
jovem recém-casada começou a reviver vários aspec-
tos esquecidos de sua infância. Ela não tinha memó-
ria consciente de qualquer acontecimento traumá-
tico, mas os sintomas emocionais que demonstrava
indicavam que algumas recordações escondidas
ainda a incomodavam.
Dia após dia ela reviveu a dor de um pai ocupado
demais e uma mãe fria e insensível, que sempre lhe
assegurava: "Amamos muito você, querida." A dor e
a angústia por nunca ter recebido carinho nem ter
sido pega no colo, por ter tido que dormir num
canto isolado da casa, por ter-se sentido ferida, irada
e com medo, sem .saber por que, manifestaram-se
com lágrimas e prantos: ./
"Mamãe, por favor, me pegue no colo; não olhe
para mim desse jeito... "
"Papai, posso sentar no seu colo? .. "
"Não quero ir à escola, porque ninguém gosta de
mim; eles me odeiam ... "
E assim prosseguiu, dia após dia, enquanto sua
infância sofrida era revivida ,
Então ela explodiu com raiva de seus pais. A ira
incontida que expressava havia sido alimentada por
anos de carência emocional por parte de pais insen-
síveis e sem tato. Após algumas horas expressando
essa ira, ela voltou a chorar; "Mas mamãe, papai, eu
amo vocês. Perdoem-me por não ser digna do amor
de vocês; eu o com preendo." E então se calou. "'

227
Finalmente, de volta à sua condição adulta, ela
disse: "Posso ver agora que eles não eram capazes de
amar ninguém. Não sofro mais pela falta de amor de
meus pais. Sinto-me bastante aliviada, purificada.
Tenho a sensação de que uma vida inteira de dor e ira
foi desfeita. Sinto que finat'mente os perdoei. Posso
perceber o quanto eles, por sua vez, foram feridos e
danificados por seus pais. Eu até os amo agora.
Deram o melhor de si, fizeram o melhor que pude-
ram. Que alívio!"
E então acrescentou: "Pensei tê-los perdoado há
muitos anos atrás, e creio tê-lo feito ao limite
máximo de minha capacidade. Mas percebo agora
que era um perdão a nível intelectual e não do fundo
de meu coração." A I ntegração Primai foi uma
experiência profundamente religiosa e curadora para
ela.

Os Culpados Não Conseguem Amar Integralmente


Phyllis, uma mulher trabalhadora, era bondosa,
gentil, simpática, eminentemente moralista e decen-,
te - e sofredora também. Sem saber ao certo o que
procurava, ela iniciou-se na terapia de Integração
Primai e fez uma descoberta fantástica.
Phyllis havia feito uma descrição de si mesma
como sendo excessivamente passiva e de uma com-
placência i ncorrigível. Essa tendência a deixava insa-
tisfeita, porém ela não conseguia livrar-se da com-
pulsão de fazer a vontade dos outros.
Durante uma de suas primeiras sessões de terapia,
Phyllis reviveu a morte de seu irmão caçula, pela
qual se sentia responsável. Quando seu irmão nas-
ceu, Phvllis sentiu-se negligenciada e deixada de
lado, desejando, assim, que ele morresse.
Para uma criança com menos de seis anos de
idade, é bastante difícil distinguir entre fato e f arrta- I

sia. Naquela tenra idade ela não sabia o significado


de "morte". Simplesmente queria que seu irmão
sumisse do caminho, pois ele havia tomado o lugar
dela. Quando seu irmão morreu, Phyllis achou que o
havia matado.

228

l Ili I ,I j, I , I s . ·1" 111 I .1 I '. Mi I; i ~j


Numa das sessões, ela gritou para seus pais: "Eu
serei boazinha. Eu serei como vocês querem. Farei
tudo que mandarem. Nunca mais serei. uma garota
má!" E daquele momento em diante ela nunca mais
desobedeceu, nunca se rebelou, nem mesmo durante
a adolescência. Sua passividade havia sido fixada aos
cinco anos de idade, quando ela sentiu a dimensão
enorme de seu "crime". Como pessoa adulta, ela era
literalmente incapaz de desobedecer ou desagradar
a outra pessoa. Seu juramento de infância estava
sendo vivido até quando Phyllis alcançou a maturi-
dade.
A "culpa" de Phyllis foi finalmente dissipada atra-
vés da terapia. O fato de a culpa ter sido falsa não
havia diminuído sua necessidade inconsciente de
castigar-se. A estrutura emociona-t--cfe- uma pessoa
não distingue entre a culpa verdadeira e a falsa.

Os Deprimidos Não Conseguem Amar


Muitas das pessoas que vêm ao Burlingame Coun-
seling Center (Centro de Aconselhamento de Burlin-
game), de várias partes dos Estados Unidos e de
outros países, sofrem de depressão.
Arlene, uma pessoa simpática e risonha, mas que
sofria de depressão, estava enfrentando dificuldades
no casamento.
A certa altura, durante a terapia, ela me disse que.
não gostava de palhaços. Perguntei-lhe: "Será que
isto não é porque a senhora usa um rosto falso, como
um palhaço, e que por detrás deste sorriso pintado
está chorando?" Ela achava que não.
Então contei-lhe a famosa história do homem que
foi se consultar com um psiquiatra porque estava
profundamente deprimido. Ao encerrar a sessão, o
psiquiatra disse:
- Antes de nosso próximo encontro, gostaria que
o senhor fosse ao circo. Há um palhaço maravilhoso
lá. Seu nome é Totó, o Palhaço. Talvez o seu número
possa deixá-lo um pouco mais animado.
O homem replicou, com uma melancolia infinita:
- Eu sou Totó, o Palhaço.

229
Arlene demonstrou surpresa durante alguns instan-
tes, depois começou a chorar. Ela também era Totó,
o Palhaço, com uma fachada externa bonita e alegre,
mas com uma ferida profunda por dentro.
Quando desabafou sua Dor Primai, Arlene pôde
voltar a agir normalmente pela primeira vez em
vários anos.
Quantas Pessoas Se Importam Se Você Vive ou
Morre?
Quantas pessoas realmente se importam real e
genuinamente se você viver mais tempo ou morrer,
sem contar os membros mais próximos de sua famí-
I ia?
Geralmente, há uma correlação entre o número de
pessoas que você ama e o número das que amam
você. Não amamos os outros indiscriminadamente.
Em geral amamos os que são capazes de serem ama-
dos. Se você tem o costume de dar apoio às pessoas e
expressar boa vontade, você está em condições de
ser amado e, conseqüentemente, outras pessoas
amarão você. O ditado de Jesus, "Dai, e ser-vos-á
dado",3 tem uma relação clisttrrta com o que diz
respeito a demonstrar amor. E preciso dar, para
receber.

O Que É o Verdadeiro Amor


É relativamente fácil "amar" coisas abstratas,
corno, por exemplo, a paz, multidões com fome ou
até mesmo toda a humanidade. Também amar aque-
les que nos amam é fácil. O problema verdadeiro
reside em amar a pessoa miserável que mora na casa
ao lado. Como você pode amar um homem que
espanca a esposa, o fofoqueiro malicioso, o esnobe
arrogante, o hipócrita declarado? São estes a quem
Jesus se referia quando disse: "Arriai a vossos inimi-
gos." Um inimigo é qualquer pessoa por quem você
sente inimizade.
O tipo de amor que Jesus ordena que mostremos
não é uma emoção. Não tem nada a ver com
simpatia ou afeição. O Que devemos expressar para

230

1- I' , 111 I ,L", L ~ I I. .. • • L l • oU, I J


com as pessoas insuportáveis é boa vontade incon-
dicional. Todos sabemos que isto não é fácil. Mas
por mais que você seja doutrinariamente puro, que
você ame a Palavra de Deus, ou que sua vida seja
repleta de virtudes, você não tem o direito de gabar-
se de sua religião se não faz um esforço para amar as
pessoas menos amáveis do mundo, principalmente
as que já lhe fizeram algum mal.
O cristianismo não é meramente uma questão de
crenças, mas, sim, de obediência aos mandamentos
específicos de Jesus, como, por exemplo: "Amai a
vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam,
bendizei aos Que vos maldizem, e orai pelos que vos
caluniam."4 Crer apenas não é o bastante. O manda-
mento de Jesus inclui a ação e uma atitude correta.
Quando você tiver começado a levar Jesus a sério e
aprendido a expressar o seu amor da maneira como
ele ordena, não será apenas um de seus discípulos
amados. Estará se relacionando bem com as pessoas
ao seu redor e será amado por elas. Não é isso que
você realmente deseja?

231
APÊNDICE
Mais de seis milhões de americanos receberam
algum tipo de ajuda através da psicoterapia num ano
recente, apesar da evidência crescente de que "a
psiquiatria não tem mais valor do que o uso de
placebos ou um passatempo". 1
Uma pesquisa realizada na cidade de Nova York,
no decorrer de dez anos, intitulada Mental Health in
the Metropolis (Sanidade Mental na Metrópole),
revelou que "aproximadamente 80 por-cento dos
adultos demonstraram alguns sintomas de distúrbios
mentais, com um em cada quatro sendo até preju-
dicado por isso." 2
A Com issão Presidencial Para Sanidade Mental
afirmou que um quarto de todos os americanos sofre
de stress emocional agudo, e também advertiu que
aproximadamente 32 milhões de americanos pre-
cisam de ajuda psiquiátrica profissional.
Corte estes números pela metade, se você, os
considera exagerados, e ainda representarão um
contingente enorme de pessoas que precisam de
algum tipo de terapia.
Mais alarmante ainda é o fato de que vários
psiquiatras estão reconhecendo que a psicoterapia
freudiana "não é mais científica do que ai frenologia
ou astrologia". 3 Esta afirmação foi feita pelo. Dr.
Alfred M. Freedman, diretor do Departamento de
Psiquiatria da Faculdade de Medicina de Nova York e
antigo presidente da Associação Americana de
Psiquiatria. .
Uma reportagem da revista Time informou:
Os sintomas dos males da psiquiatria são bastante aparentes.
Nos EUA há 27 miJ psiquiatras exercendo a profissão; emcom-
paração com os 5.800 em 19SO. Mas agora a prática da terapia
não atrai muito as pessoas. Hoje apenas 4 a 5% dos formandos
de medicina seguem a carreira da psiquiatria, contra 12% em
1970. Um doutor afirma: liA psiquiatria não é o que aparenta

233
ser ." E se a psiquiatria é realmente um tratamento médico, por
que os seus praticantes não conseguem obter resultados cien-
tíficos razoáveis como os outros médicos?
Os próprios psiquiatras reconhecem que sua profissão tem o
sabor de atquimia moderna ... cheia de termos complicados,
obscurecimento e mistificação, mas pouquíssimo conheci-
mento verdadeiro. O julgamento sobre Patty Hearst foi um
vexame típico ... um grupo de psiquiatras destacados' afirmou
categoricamente que Hearst estava enferma, enquanto outro
grupo insistia que não.
O psiquiatra Eugerie E. Levitt acredita que a psicoterapia é
eficaz para aproximadamente um em cada cinco casos. O
Dr. Paul E. Meehl, antigo presidente da Associação Americana
de Psicologia, afirma que "apenas uma pequena porcentagem
dos pacientes é beneficiada pela terapia ... e nossa capacidade
para ajudar, hoje em dia, é, na. verdade, bastante limitada". 4
Tais afirmações refletem o pensamento do Or. O.
Hobart Mowrer, que também foi presidente da Asso-
ciação Americana de Psicologia. Ele revelou que o
próprio Freud, antes de morrer, confessou que a
eficácia terapêutica da psicoterapia é muito fraca
e que servia mais como um instrumento de pesquisa.
Em anos recentes, foi conduzida pelo menos uma
dúzia dp estudos por psiquiatras que queriam des-
cobrir o grau de eficácia de seus colegas de profissão.
Eles descobriram, sem qualquer exceção, que place-
bos (pílulas de açúcar) ou um passatempo provaram
ter a mesma eficácia do tratamento psiquiátrico.
Martin Gross cita um exemplo estarrecedor dos
vícios da psiquiatria:
Dois psicólogos da Universidade de Oklahoma contrataram
um ator para represerrtar-o papel de um homem dotado de uma
sanidade mental excepcional. Ele manifestou apenas algumas
ansiedades de pouca importância, como, por exemplo, peque-
nos desacordos com sua esposa sobre temas como freqüentar
a igreja e certos aspectos da criação dos filhos. Os pesquisa-
dores gravaram uma entrevista com o ator e apresentaram a
fita para dois grupos diferentes de psiquiatras.
O primeiro grupo foi informado de que o paciente morava
numa casinha simples e ganhava pouco mais que um salário
mínimo.
O outro grupo foi informado de que o homem tinha duas
casas espetaculares, uma delas situada numa grande metrópole
-e a outra mais afastada, no campo. Ele era supostamente um
industrial rico, havia estudado em escola particular, e se
formara em uma universidade famosa.

234

·1 ,'I' I II ,•. I •.. , ~, I" .11 I .1 i, ,I- & I 11,1


I nfelizmente, o diagnóstico psiquiátrico não foi baseado em
sintomas, mas em classe social. O grupo que foi informado de
que o homem era da classe de baixa renda fez um diagnóstico
afirmando que ele era mentalmente insano, demonstrando,
assim, uma prognose muito fraca.· .
Os psiquiatras Que ouviraO\ a versão de que ele era rico
acharam-no um homem normal. Quando souberam que era
tudo uma farsa, Os psiqu iatras ficaram estupefatos com seu
desempenho incrivelmente fraco. 5

Os registros mostram que o índice de suicídio entre


psiquiatras é sete vezes mais alto do que o da
população em geral.
Hoje existem mais de cem tipos diferentes de
psicoterapias, que variam entre a abordagem-padrão,
que é a freudiana, até a técnica de banhar-se nu em
um balneário. Infelizmente, nenhuma pesquisa re-
velou qualquer evidência de que uma das aborda-
gens seja melhor que qualquer outra. Com base nas
descobertas de alguns psiquiatras, podemos dizer,
acertadamente, que daqui a cinqüenta. anos a abor-
dagem freudiana estará extinta.
Alguns estudos demonstraram que certos tipos de
meditação, se praticados consistentemente, podem
aliviar muitos sintomas físicos e emocionais tempo-
rariamente. No entanto, quando se deixa de fazer a
meditação, os sintomas reaparecem.
De 1957 até hoje, a Yokefellows, Inc. [á ajudou,
aproximadamente, 70 mil pessoas a alcançarem ma-
turidade emocional e espiritual. O processo envolve
uma abordagem grupal, utilizando alguns recursos
psicológicos, para descobrir os bloqueios da perso-
nalidade. Existem grupos em todos os estados dos
EUA, mas não em cada cidade. 6
Para pessoas com problemas de personal idade
profundamente arraigados, a I ntegração Primai é,
sem dúvida, o método mais eficaz. 7Este processo
envolve reviver os traumas mais profundos da infân-
cia com a mesma intensidade que o evento original.
Este tratamento é realizado sem a utilização de
hipnose ou drogas. Feridas primais enterradas há
muito tempo, que distorcem a personalidade e pre-

235

judicam o desenvolvimento de relacionamentos cria-


tivos, são vividas novamente e integradas à persona-
lidade adulta.
O livro Now Vou Can Stop Hurting (Agora Você
Pode Deixar de Sofrer), da autoria do Dr. Cecil G.
Osborne (Word Books, 1980), explica este processo
em detalhes consideráveis.

No Brasil, a Yokefellows (Companheiros de


Jugo) está sediada no seguinte endereço: Caixa
Postal 10-2449 - CEP 70849 - Brasília - DF.

236

I, . I ,j . '1, .' j i' /, ,~ l I -..." ".-, .~_.J.' __ ... J i ~ _.,,' .


I

NOTAS

CAPíTULO UM
1. Reader's Digest (setembro de 1978).
2. [ames T. Fisher, A Few Buttons Missing: The
Case Book of a Psychiatrist (Philadelphia; lippin-
cot, 1951).
3. ~ateus 5:7, 9, 21-25, 38, 39, 43-45; 6:3, 7:1
2,12 i

CAPíTULO DOIS
1. O endereço do Burlingame Couseling Center
(Centro de Aconselhamento de Burlingame) é
19 Park Road, Burlingame, CA 94010.
2. João 16: 12
3. Marcos 15:4
4. Revista Faith at Work.
5. Revista Guideposts (setembro de 1978).
6. Field Newspaper Syndicate (27 de abril de 1978).
7. 'Efésios 4: 15
8. San Francisco Chronicle (7 de maio de 1978).
9. [ohn D. MacDonald, A Deadly Shade of Gold
(Greenwich, Conn.: Fawcett, 1978).
CAPíTULO TRÊS
1. Iack Denton Scott, "Count Your Compliments",
em Reader's Digest (abril de 1976).
CAPíTULO QUATRO
1. Revista Human Nature (junho de 1978).
2. Ibid.
3. Revista Faith at Work (setembro de 1976).
4. Ibid.
5. Ibid.
6. Efésios 4: 32 I

7. A palavra "Dor" está escrita com letra maiúscula


porque este tipo de trauma primai precisa ser dis-
tinguido da dor ftslca-ordlnárta.
8. Mary Io Bane, Here to Stay: American Families

237
in the twentieth Century (New York: Basic
Books, 1978).
9. Ann Landers, in Family Circle.
CAPíTULO CINCO
1. Nandor Fadar e Frank Gaynor, Freud: Dictionary
of Psychoanalyis (Greenwich, Conn.: Fawcett,
1976).
2. Haim Ginott, Between Parent and Child (New
York: Avan, 1973).
3. Ibid.
4. Ibid.
5. Mateus 16:18
6. H. C. Caldwell, Psychotherapy (New York ; Grave
Press, 1968).
7. Dorothy C. Briggs, Your Child's Self-Esteem: The
Key to His life (Garden City, N. Y.: Doubleday,
1970).
CAPíTULO SETE
1. Mateus 5:44
2. Wayne W. Oyer, Pulling Your Own Strings (New
York: Funk and Wagnalls, 1978).
CAPíTULO OITO
1. Manuel J. Smith, When I Say No, I Feel Guilty
(New York: Bantam, 1975).
CAPíTULO NOVE
1. Efésios 4:2
2. Gálatas 2: 11
3. Lucas 11:9
4. Revista Time (março de 1978).
5. Hans Selye, Stress Without Distress (Phf lacíe l-
phia: Lippincott, 1974).
6.. Lucas 12:48
CAPíTULO DEZ
1. Salmos 19:12
2. Edward E. Thornton, "Lord, Teach Us to Pray",
em Review and Expositor (Segundo Trimestre de
1979).
CAPíTULO ONZE
1. Wayne W. Dyer, Pulling Your Own Strings (New

238

~ i ,
I ,J 'f - t' I, , , I j I ,','

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