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TÓPICO
das Angiospermas:
a importância econômica e ecológica das plantas
Déborah Yara A. C. dos Santos
Fanly Fungyi Chow Ho
9.1 Introdução
9.2 Principais clados de angiospermas
9.2.1 Magnoliídeas
9.2.2 Monocotiledôneas
9.2.2.1 Araceae (Alismatales)
9.2.2.2 Orchidaceae (Asparagales)
9.2.2.3 Arecaceae (Arecales)
9.2.2.4 Bromeliaceae (Poales)
9.2.2.5 Poaceae (Poales)
9.2.3 Eudicotiledôneas
9.2.3.1 Rosídeas
9.2.3.2 Asterídeas
9.3 Polinização em Angiospermas
9.4 As plantas no nosso dia a dia
9.1 Introdução
Neste tópico, veremos um panorama geral sobre a classificação recente das angiospermas ba-
seado na proposta do Grupo de Filogenia de Angiospermas (“Angiosperm Phylogeny Group”
– APG) de 2009 e apresentaremos as características de algumas famílias relevantes. Abordaremos
a polinização em angiospermas mediante a caracterização das síndromes de polinização. Além
disso, estudaremos brevemente algumas das aplicações das plantas no nosso cotidiano.
Cabe ressaltar que a videoaula desta semana traz um tema complementar, com uma aborda-
gem evolutiva dos ciclos de vida dos grupos de plantas estudados na disciplina.
Já vimos, no primeiro tópico desta disciplina, que a história dos sistemas de classificação das
plantas, assim como para todos os seres vivos, no início agrupava espécies sem o devido cuidado
de refletir sobre o grau de parentesco entre elas.
Atualmente, a maioria dos botânicos adota o sistema de classificação proposto pelo Grupo
de Filogenia de Angiospermas (“Angiosperm Phylogeny Group” - APG), que tem por
base os princípios da sistemática filogenética. Os caracteres utilizados para a proposição dos
grupos nessa proposta são, em grande parte, dados moleculares obtidos pelo sequenciamento de
fragmentos de DNA. No entanto, caracteres morfológicos, anatômicos, fitoquímicos, ontoge-
néticos, entre outros, também são utilizados na circunscrição dos grupos.
Lembrando o que já estudamos no tópico anterior, sabemos que as angiospermas (ou plantas
com flores) formam o grupo mais diversificado de plantas que existe na Terra, sendo estimada
a existência de pelo menos 260.000 espécies vivas, que ocupam praticamente todos os habi-
tats da Terra. Apresentam grande variedade de hábitos de vida bem como grande diversidade
morfológica, tanto do seu corpo vegetativo quanto dos órgãos reprodutivos. No entanto, apesar
de tanta diversidade, formam um grupo monofilético que compartilha várias novidades evo-
lutivas como, por exemplo, a formação do ovário pelo dobramento do carpelo, encerrando os
óvulos dentro de um espaço protegido, maior redução dos gametófitos masculino e feminino,
formação de um tecido de nutrição triploide proveniente da dupla fecundação, entre outras
(se necessário, volte ao tópico anterior para relembrar todas as apomorfias das angiospermas).
Tradicionalmente, os representantes das angiospermas sempre foram agrupados em dois gran-
des grupos: o das monocotiledôneas e o das dicotiledôneas. Assim, nos sistemas de classificação
tradicionais, que vigoraram desde o século XIX até a década de 1990, as angiospermas consis-
tiam em duas classes: Magnoliopsida (ou Dicotyledoneae) e Liliopsida (ou Monocotyledoneae).
A definição dessas classes levou em conta os seguintes caracteres:
Magnoliopsida Liliopsida
Característica
(dicotiledôneas) (monocotiledôneas)
Número de cotilédones 2 1
Tabela 9.1
Entretanto, numa análise simples, percebe-se que tal classificação é artificial. Os quatro
primeiros caracteres da tabela acima, apontados como característicos de dicotiledôneas, são
simplesiomorfias, presentes também em muitas “gimnospermas”. Dessa forma, esses
Amborellales
Magnoliídeas
Chloranthales
Ceratophyllales
Monocotiledôneas
Eudicotiledôneas
Austrobaileyales
Nymphaeales
Figura 9.1: Hipótese filogenética das plantas com flores – Angiospermas
(Anthophyta). Fonte: Modificado de Tree of Life Web Project disponível
em <http://tolweb.org/tree/>; Elaborado por USP/Univesp.
9.2.1 Magnoliídeas
Piperales
Canellales
Laurales
Magnoliales
Figura 9.2: Hipótese filogenética de Magnoliídeas, segundo Soltis, P.S.; D.E.
Soltis (2004). “The origin and diversification of Angiosperms”. American Journal
of Botany 91 (10): 1614–1626; Elaborado por USP/Univesp.
Em Laurales são reconhecidas sete famílias, sendo Lauraceae aquela com representantes
mais conhecidos. As espécies desta família são distribuídas em regiões tropicais até temperadas
moderadas, principalmente no sudeste da Ásia e na América tropical. São árvores ou arbustos
perenes, com glândulas portadoras de substâncias odoríferas, folhas alternas (raramente opostas),
flores pequenas com perianto indiferenciado, antera de deiscência valvar, ovário súpero com
um óvulo por carpelo. Espécies de importância econômica incluem várias fontes de madeira,
espécies aromatizantes como várias canelas (por exemplo, Cinnamomum zeylanicum) e louro
(Laurus nobilis), espécies medicinais (por exemplo, Cinnamomum camphora – cânfora), além de
espécies comestíveis (por exemplo, Persea americana – abacate) (Figura 9.3).
Para as Magnoliales são reconhecidas seis famílias, sendo uma das mais importante para a nossa
flora - as Annonaceae. Esta família tem alguns representantes muito conhecidos como fruta-do-
-conde, graviola e atemoia. Os representantes desta família são na maioria árvores, com folhas alter-
nas dísticas, flores bissexuadas, trímeras, estames numerosos, normalmente espiralados, com gineceu
apocárpico formado por vários pistilos espiralados, raramente sincárpico, fruto agregado. Esta família
apresenta distribuição principalmente tropical. Outra família importante da ordem é Magnoliaceae,
com distribuição tropical ou em regiões temperadas amenas, principalmente no hemisfério Norte.
Várias espécies são usadas como plantas ornamentais, caracterizadas por serem árvores ou arbustos,
folhas simples e estipuladas, flores solitárias com perianto petaloide indiferenciado, muitos estames e
pistilos isolados distribuídos espiraladamente num receptáculo alongado (Figura 9.3).
d
c
9.2.2 Monocotiledôneas
Commelinídeas
Zingiberales
Poales
Arecales
Dasypogonaceae
Asparagales
Liliales
Pandanales
Dioscoreales
Petrosaviales
Alismatales
Acorales
Figura 9.4: Hipótese filogenética para as monocotiledôneas, segundo APG III (2009); Elaborado por USP/Univesp.
Esta família apresenta cerca de 104 gêneros e 3.000 espécies, com representantes aquáticos
e terrestres, herbáceos ou lianescentes. É caracterizada por flores diminutas, reunidas em inflo-
rescência do tipo espádice, sustentada por uma bráctea vistosa chamada espata (Figura 9.5).
Seus membros apresentam distribuição em regiões tropicais e subtropicais, com várias es-
pécies de importância econômica como plantas alimentícias (taro – Colocasia esculenta), orna-
mentais (antúrios – Anthurium sp, costela-de-adão – Monstera sp.). A comigo-ninguém-pode
(Dieffenbachia sp.), espécie muito comum em casas e jardins, merece destaque por ser muito
tóxica. Esta espécie apresenta uma toxina nas suas folhas – dumbocaína – além de cristais em
forma de ráfides (parecidos com diminutas agulhas). A ingestão dessa planta provoca o rompi-
mento dessas células e a irritação da mucosa pela penetração desses cristais e injeção da toxina.
a b
Figura 9.5: Representantes das Arecaceae (Alismatales – Monocotiledôneas) a) Detalhe da inflorescência de um antúrio
vermelho (Anthurium andreanum). Note a espádice e a espata b) Vaso de comigo-ninguém-pode (Dieffenbachia sp). /
Fonte: Thinkstock
As orquídeas talvez sejam as plantas que mais encantam as pessoas. Esta é uma das maiores
famílias de angiosperma, com distribuição cosmopolita e cerca de 850 gêneros e 20.000 espécies
(excluindo os híbridos produzidos pelo homem). No Brasil, temos cerca de 200 gêneros e 2.500
espécies, sendo o bioma Mata Atlântica muito rico em representantes deste grupo (Figura 9.6).
As Orchidaceae consistem de ervas epífitas ou terrestres. Nas epífitas, as raízes aéreas apre-
sentam velame (se necessário, volte ao tópico 5 desta disciplina). Apresentam flores reunidas em
inflorescências ou solitárias. Normalmente, apresentam seis tépalas, sendo uma delas localizada
no verticilo mais interno, bastante distinta das outras e é chamada de labelo. As flores dos
representantes desta família apresentam muitas especializações associadas, em muitos casos, com
estratégias de polinização muito especializadas. Muitas espécies apresentam parte do androceu
adnato ao gineceu, formando uma estrutura denominada ginostêmio. Em muitos casos, os
grãos de pólen não são liberados isoladamente, mas sim formando um grande conjunto chamado
polínea, que funciona como a unidade de dispersão do pólen.
a b
As Arecaceae, única família da ordem, contêm cerca de 190 gêneros e 2.000 espécies, com
distribuição predominantemente pantropical. No Brasil, existem 43 gêneros e cerca de 200
espécies (Figura 9.7).
As palmeiras apresentam, normalmente, caule do tipo estipe, podendo em alguns casos ser sub-
terrâneos. Apresentam folhas simples ou compostas e inflorescências do tipo panícula, subtendida
por uma bráctea (espata) normalmente lenhosa. As flores são em geral pouco chamativas, unisse-
xuadas, em plantas monoicas. O tipo mais comum de fruto é a drupa, ocorrendo raramente bagas.
Representantes desta família são muito usados como plantas ornamentais, na alimentação
(coqueiro – Cocos nucifera, palmito-juçara – Euterpe edulis, açaí - Euterpe oleracea, pupunha – Bactris
gasipaes), além de outras aplicações (carnaúba – Copernicia prunifera – fornecedora da cera de car-
naúba; babaçu – Attalea speciosa – óleo de babaçu; buriti – Mauritia flexuosa – fonte de vitamina A).
a b
Esta família apresenta distribuição neotropical, com exceção de uma espécie que ocorre
na África ocidental. Apresenta cerca de 60 gêneros e 3.000 espécies, ocorrendo no Brasil 40
gêneros e 1.200 espécies. São muito comuns em florestas úmidas como a Mata Atlântica, onde
constituem uma das famílias de epífitas mais importantes (Figura 9.8).
As Bromeliaceae são ervas terrestres ou epífitas, com folhas alternas e espiraladas, frequente-
mente formando rosetas. Apresentam flores normalmente vistosas, reunidas em inflorescências
racemosas. Um exemplo muito comum desta família é o abacaxi (Ananas comosus).
a c
As Poaceae são uma das famílias mais importantes para o homem no que se refere à alimen-
tação em todo o planeta. A esta família pertencem todos os cereais verdadeiros como: milho
(Zea mays), cevada (Hordeum vulgare), arroz (Oryza sativa), trigo (Triticum aestivum), aveia (Avena
sativa), cana-de-açúcar (Saccharum officinarum), entre outros (Figura 9.9).
São plantas herbáceas, geralmente rizomatosas, podendo ser lignificadas como os bambus.
Apresentam folhas com bainha muito desenvolvida e aberta, e com lígula. As flores, peque-
nas, estão reunidas em inflorescências do tipo espigueta, com duas brácteas na base, chamadas
glumas. Cada flor também é subtentida por um par de brácteas, sendo a inferior e mais externa
chamada lema e a superior, pálea (Figura 9.10). O fruto típico da família é a cariopse, com
uma semente completamente aderida à parede do fruto.
Você lembra?
Pense na espiga do milho. Cada grão de milho corresponde a um fruto do tipo cariopse
e não a uma semente. O sabugo, então, corresponde ao que seria o eixo da inflorescência,
agora eixo da infrutescência (conjunto de frutos).
Esta família apresenta cerca de 700 gêneros e 10.000 espécies de distribuição cosmopolita,
sendo no Brasil encontrados cerca de 170 gêneros e 1.500 espécies. Além do enorme uso
na alimentação, muitas espécies são utilizadas na ornamentação, chamadas em conjunto de
gramas, além de espécies de bambus. Espécies importantes de uso medicinal são o capim-limão
(Cymbopogon citratus) e citronela (Cymbopogon martinii). Além disso, as gramíneas são muito
importantes como componente principal na vegetação de campos de todo o mundo.
a b
a b
Figura 9.10: Esquema da inflorescência a) e da flor de uma gramínea b) Flor de
uma gramínea. / Fonte: http://www.mhhe.com/biosci/pae/botany/botany_map/
articles/article_43.html. Acesso em: 25/06/2012; Elaborado por USP/Univesp.
9.2.3 Eudicotiledôneas
No grupo das Eudicotiledôneas (ou Tricolpadas) estão incluídas as espécies de grupos ca-
racterizados por apresentarem flores tetrâmeras e pentâmeras ou, mais raramente, dímeras. Este
grande grupo é sustentado por vários marcadores moleculares além do pólen com três aberturas
como novidade evolutiva. Aqui são encontradas cerca de 75% de todas as angiospermas, ou
190.000 espécies descritas. A Figura 9.11 apresenta uma hipótese filogenética simplificada
para as eudicotiledôneas, de acordo com a proposta mais recente do APG III.
Ranunculales
E
Proteales
U
Trochodendrales
D
Gunnerales I
C
O
Rosídeas T
I
L
Santalales E
D
Caryophyllales Ô
N
E
Figura 9.11: Hipótese filogenética
simplificada das eudicotiledôneas, segundo
Asterídeas A
o APG-III; Elaborado por USP/Univesp. S
9.2.3.1 Rosídeas
Neste grupo, encontramos famílias com corola dialipétala ou mesmo sem corola (flores
apétalas) e com óvulos crassinucelados (i.e., com mais de uma camada de células nucelares).
Estes dois últimos estados de caráter representam com certeza simplesiomorfias. Prováveis si-
napomorfias do clado das Rosídeas são a presença de estípulas na base das folhas e a redução
do endosperma nas sementes. A Figura 9.12 mostra um cladograma com as relações entre as
ordens que fazem parte deste grupo.
Fabales
Rosales
Fagales
Cucurbitales
Malpighiales
Fabidae Oxalidales
Celastrales
Zygophyllales
Geraniales
Myrtales
Malvidae
Crossosomatales
Picramniaceae
Huerteales
Brassicales
Malvales
Sapindales
Figura 9.12: Cladograma com as relações entre as ordens de Rosídeas após APG-III.
/ Fonte: Simpson, M.G. 2010. Plant Systematics. p. 312; Elaborado por USP/Univesp.
a. Fabaceae (Fabales)
Ao lado das Poaceae, representantes desta família estão entre os muito importantes para
o homem, principalmente na alimentação. Fabaceae (ou Leguminosae) é a família dos grãos
como feijão (Phaseolus vulgaris), soja (Glycine max), ervilha (Pisum sativa), grão-de-bico (Cicer
arietinum), entre tantos outros. Além da importância econômica, as leguminosas (como são
popularmente conhecidas) têm um papel relevante na ciclagem do nitrogênio, considerando
a associação comum com bactérias fixadoras de nitrogênio atmosférico do gênero Rhizobium
(para relembrar esse ciclo, volte ao tópico 5 da disciplina Bioenergética e ciclos da natureza).
As espécies desta família são árvores, arbustos ou lianas, normalmente de folhas alternas e
geralmente compostas, com estípulas. Apresentam flores vistosas, geralmente bissexuadas e, em
geral, com hipanto, cálice e corola pentâmeros, com estames em dobro com relação ao número
de pétalas. O ovário é súpero e unicarpelar (muito raramente formado por mais carpelos) e o
fruto geralmente é do tipo legume, havendo também outros tipos (Figura 9.13).
Volte ao tópico 8 e releia a definição de um fruto do tipo legume. Não confunda a definição cien-
tífica desse tipo de fruto com o conhecimento popular. Chamamos popularmente de legumes várias
outras partes da planta que não são frutos como, por exemplo, cenoura, brócolis, batata, entre outros.
As Fabaceae apresentam distribuição cosmopolita, com cerca de 650 gêneros e 18.000 espé-
cies. Para o Brasil são descritos cerca de 175 gêneros e 1.500 espécies.
a c
d e f
Figura 9.13: Representantes de Fabaceae a) Vista geral de uma Mimosa sp. b) Detalhe da inflorescência com indicação da
corola de uma flor e dos estames c) Bauhinia blakeIana d) Vista do ápice de um pé de feijão (Phaseolus sp.) e) Detalhe da
flor f) Campo de cultivo de soja (Glycine max). / Fonte: a e b) Fungyi Chow c e f) Thinkstock d e e) Déborah Santos
b. Euphorbiaceae (Malpighiales)
Alguns representantes desta família são muito populares entre nós, como o bico-de-papagaio
ou poinsétia (Euphorbia pulcherrima), a coroa-de-cristo (Euphorbia millii), a mandioca (Manihot
esculenta), a mamona (Ricinus communis), entre outros (Figura 9.14).
Esta família tem representantes desde arbóreos até herbáceos, às vezes com espécies de apa-
rência semelhante a cactos. Geralmente apresentam látex. Apresentam inflorescência do tipo
racemo, às vezes muito reduzida, formando uma estrutura semelhante a uma única flor deno-
minada ciátio. São plantas com flores não vistosas, unissexuadas, aclamídeas ou monoclamídeas,
havendo espécies monoicas e dioicas.
As Euphorbiaceae apresentam distribuição pantropical e incluem cerca de 300 gêneros e
6.000 espécies. No Brasil temos cerca de 70 gêneros e 1.000 espécies. Entre as espécies com
importância econômica, cabe destacar a seringueira (Hevea brasiliensis), nativa da Amazônia, que
teve um papel muito importante nos ciclos econômicos do nosso país.
a c
Figura 9.14: Representantes de Euphorbiaceae a) Plantação de seringueira (Hevea brasiliensis) b) Detalhe da extração do látex
c) Mamona (Ricinus communis) d) Coroa-de-cristo (Euphorbia millii). Note a inflorescência do tipo ciátio e as brácteas vistosas e)
Euphorbia canariensis. Observe a aparência semelhante a um cacto. / Fonte: Thinkstock
c. Myrtaceae (Myrtales)
As espécies de Myrtaceae são normalmente árvores ou arbustos com tronco esfoliante.
As flores são geralmente vistosas, bissexuadas, diclamídeas com as peças do cálice e corola em
número de 4-5. Apresentam estames normalmente em número muito maior que o de pétalas.
O ovário é ínfero, com placentação axial e muitos óvulos.
Esta família apresenta distribuição predominantemente pantropical e subtropical, sendo
muito expressiva nas regiões neotropicais e na Austrália. Inclui cerca de 130 gêneros e 4.000
espécies, sendo no Brasil encontrados 26 gêneros e 1.000 espécies. Em termos econômicos,
destaca-se o eucalipto (Eucaliptus spp), com muitas espécies cultivadas para obtenção de madeira
para usos diretos ou para fabricação de papel. Do cravo-da-índia (Syzygium aromaticum), uma
especiaria bastante utilizada na culinária, são utilizados os botões florais ricos em óleos voláteis.
Muito populares como espécies alimentícias são a goiabeira (Psidium sativa), a jabuticabeira
(Myrciaria cauliflora), a pitangueira (Eugenia uniflora), entre outras (Figura 9.15).
a b
9.2.3.2 Asterídeas
Ericales
Garryales
Gentianales
Lamiales
Solanales
Boraginaceae
Aquifoliales
Escalloniales
Asterales
Dipsacales
Figura 9.16: Cladograma com as relações Paracryphiales
entre as maiores ordens de Asterídeas
após APG-III. / Fonte: Simpson, M.G. Apiales
2010. Plant Systematics. p. 372; Elaborado
por USP/Univesp. Bruniales
a. Lamiaceae (Lamiales)
As Lamiaceae (ou família das mentas) apresentam cerca de 236 gêneros e, pelo menos,
6.500 espécies. No Brasil ocorrem 28 gêneros e aproximadamente 350 espécies. Apresentam
distribuição cosmopolita. Muitas espécies são aromáticas, usadas para fins medicinais e/ou na
culinária; por exemplo, a lavanda (Lavandula angustifolia), a erva-cidreira (Melissa offiinalis), o
orégano (Origanum vulgare), o alecrim (Rosmarinus officinalis), a hortelã (Mentha spp.), entre
outros (Figura 9.17).
As espécies são ervas ou arbustos, com flores vistosas, bissexuadas e zigomorfas; cálice e corola
com as peças fundidas em seus respectivos verticilos, estames 2 ou 4, ovário súpero, bicarpelar.
a b
b. Bignoniaceae (Solanales)
As espécies de Bignoniaceae são árvores, arbustos ou lianas, com folhas opostas, geral-
mente compostas, sem estípulas. Apresentam flores vistosas, gamossépalas e gamopétalas,
zigomorfas, com 4 estames, ovário súpero, bicarpelar e bilocular. Frutos em geral cápsulas,
raramente baga. Sementes aladas.
Esta família apresenta cerca de 120 gêneros (32 no Brasil) e 800 espécies (350 no Brasil),
com distribuição pantropical. Algumas espécies nativas muito importantes são o ipê ou
pau-d’arco (Tabebuia spp.), o jacarandá-mimoso (Jacaranda mimosifolia), a caixeta (Tabebuia
cassinoides) (Figura 9.18).
a b
c. Solanaceae (Solanales)
Os membros desta família são ervas, arbustos ou pequenas árvores. Apresentam folhas alter-
nas, simples, flores geralmente vistosas, bissexuadas, actinomorfas, com cálice e corola pentâme-
ros, gamossépalos e gamopétalos, respectivamente. Os estames são normalmente 5, o ovário é
súpero, bicarpelar e bilocular, geralmente pluriovulados.
A família possui distribuição cosmopolita, principalmente na região neotropical. Tem cerca
de 150 gêneros, sendo 32 encontrados no Brasil, e 3.000 espécies (350 no Brasil).
Muitos representantes desta família são conhecidos pelo seu alto valor econômico; por
exemplo, a batata-inglesa (Solanum tuberosum), o tomate (Solanum lycopersicum), o fumo (Nicotiana
tabacum), as pimentas e os pimentões (Capsicum spp.), entre outros. Muitas espécies acumulam
alcaloides e, por isso, são conhecidas como tóxicas, como a beladona (Atropa belladona), a trom-
beteira (Brugmansia spp.) e a datura (Datura stramonium) (Figura 9.19).
a d
d. Asteraceae (Asterales)
Asteraceae é a maior família das eudicotiledôneas, com cerca de 1.600-1.700 gêneros e
24.000-30.000 espécies e distribuição cosmopolita. No Brasil ocorrem cerca de 250 gêneros e
2.000 espécies (Figura 9.20).
Esta família é formada por ervas, arbustos, lianas ou árvores com flores reunidas em uma
inflorescência do tipo capítulo, que muitas vezes, em conjunto, lembram uma flor única. Alguns
capítulos podem apresentar flores distintas, sendo as mais periféricas as flores do raio e as mais
internas as flores do disco. Normalmente, as flores são bissexuadas, com as peças do cálice
transformadas em estruturas plumosas, corola pentâmera, gamopétala, estames 5, ovário ínfero,
bicarpelar, unilocular com um único óvulo.
Muitas asteráceas são ornamentais; por exemplo, o crisântemo (Chrysanthemum spp.), a dália
(Dalia x hybrida) e o girassol (Helianthus annuus); outras são comestíveis como a alface (Lactuca
sativa), a chicória (Cichorium intybus) e a alcachofra (Cynara scolymus); outras medicinais, como
a carqueja (Baccharis trimera), a camomila (Matricaria recutita), o guaco (Mikania spp.), a estévia
(Stevia rebaudiana), entre outros. Algumas espécies desta família são invasoras como, por exem-
plo, o dente-de-leão (Taraxacum officinale) e o picão-preto (Bidens pilosa).
a b
c d
Figura 9.20: Exemplos de Asteraceae a) Plantação de alcachofras (Cynara scolymus) prontas para colheita.
As partes comestíveis são a base da inflorescência e a base das brácteas b) Detalhe das flores da
alcachofra. Note que, neste tópico, temos somente flores do disco c) Flor de gerbera (Gerbera sp.) com
capítulo com flores do disco e flores do raio d) Campo de girassol (Helianthus annuus). / Fonte: Thinkstock
Em muitas flores, o gineceu e o androceu ocorrem na mesma flor. Eles podem amadurecer
na mesma época ou em épocas diferentes. Quando o amadurecimento acontece na mesma
época pode haver autopolinização e autofecundação, o que pode ser vantajoso em regiões onde
é baixa a ocorrência de agentes polinizadores como, por exemplo, em regiões frias. No entanto,
mesmo que o amadurecimento seja simultâneo, a maioria das espécies evita a autofecundação
através de mecanismos de incompatibilidade genética entre o grão de pólen e o carpelo (que
contém o óvulo com o gameta feminino). Nas espécies em que o amadurecimento do gineceu
e do androceu ocorre em épocas diferentes, há sempre a polinização cruzada.
Na maioria das angiospermas, a polinização ocorre com a participação de agentes polini-
zadores bióticos ou abióticos. Cerca de 80% da polinização em angiospermas é biótica, com a
participação de insetos ou de outros animais.
Na polinização abiótica, não há pressão seletiva para flores coloridas ou perfumadas, pois
não há atração de polinizadores. A maioria das flores desse tipo de síndrome é pequena, verde
e pouco vistosa.
A polinização abiótica ocorre majoritariamente pelo vento. Neste caso, as características
da planta relacionadas com a polinização são conhecidas como síndrome de anemofilia. As
flores costumam ser pouco atrativas, pequenas, numerosas e frequentemente unisexuadas. Os
estigmas são grandes, bem expostos e com ramificações em forma de pelos ou penas a fim de
facilitar a intercepção do grão de pólen. Nessas flores, a produção de pólen é abundante, pois
é uma forma de compensar a inespecificidade da polinização, onde muitos pólens podem se
desviar e nunca fecundar uma flor. Além disso, para ser transportado pelo vento, o pólen deve
ter uma superfície lisa e ser leve ou possuir sacos aéreos que facilitem a sua dispersão. A ane-
mofilia é comum em várias espécies de Poaceae (exemplo: grama) (Figura 9.21A), Fagaceae
(exemplo: carvalho), Betulaceae (exemplo: bétulas) e Salicaceae (exemplo: álamo e salgueiro).
Em determinadas épocas do ano, é possível perceber no ar uma abundante quantidade de grãos
de pólen, na maioria das vezes percebidas por pessoas alérgicas.
a b
c d e
A água também é outro agente polinizador abiótico, mas em menor proporção. Nesse caso
temos a síndrome de hidrofilia. Essa síndrome ocorre em plantas aquáticas com flores na
superfície da água ou submersas (Figura 9.21B). As características das flores são muito seme-
lhantes àquelas com anemofilia. Em geral, os estigmas, os pólens ou as flores masculinas flutuam
na superfície da água para facilitar a fecundação. Nesses casos, o grão de pólen é longo e se
enrosca nos estigmas que estão submersos.
As flores polinizadas por agentes bióticos, insetos ou animais, possuem características para
atrair seus agentes polinizadores. Tais atributos podem sinalizar a ocorrência de alimento ou
simular a presença de parceiros sexuais, atraindo o animal até a flor. Por exemplo, algumas
flores têm estruturas que se assemelham a vespas fêmeas (Figura 9.21C). Na tentativa da vespa
macho de copular com a imitação de parceira, os grãos de pólen se aderem ao corpo do macho,
que os levará até outra flor em uma nova tentativa de cópula. Da mesma forma, os animais que
procuram alimento dentro da flor acabam levando consigo o pólen de uma flor para outra.
Na síndrome de entomofilia, a polinização ocorre com a participação de insetos. Os
insetos são, sem dúvida, os agentes polinizadores mais comuns. Muitas das flores possuem pétalas
azuis, vermelhas ou amarelas e/ou produzem odores característicos. Esses atributos atraem os
insetos, pois eles percebem muito bem essas cores e esses odores, diferentemente das aves, que
têm o olfato pouco desenvolvido e enxergam cores brilhantes como o vermelho. A síndrome
de entomofilia pode receber diferentes nomes dependendo do tipo de inseto polinizador. Por
exemplo, a polinização por abelhas é a melitofilia ou himenopterofilia; a polinização por
moscas é a miofilia ou sapromiofilia; a polinização por borboletas é a psicofilia; a polini-
zação por besouros é a cantarofilia. As abelhas são os insetos polinizadores mais importantes
(Figura 9.21D). Elas dependem do néctar ou do pólen para sua alimentação e as flores atraem
seus polinizadores mediante fragrâncias doces e cores brilhantes, especialmente o amarelo e
o azul. As abelhas não percebem o vermelho, mas enxergam a radiação ultravioleta, facilitan-
do assim a visualização de guias de néctar, padrões coloridos especiais que funcionam como
“pegadas” visíveis só sob luz ultravioleta e auxiliam os insetos a localizar os nectários. Flores
polinizadas por moscas são grandes e alongadas, avermelhadas e carnosas, com odor semelhante
a carne podre (Figura 9.21E). A síndrome de psicofilia está associada a flores vistosas, coloridas
e fragrantes. Geralmente, tubulares e curvadas, possíveis de alcançar os nectários por meio de
probóscides (Figura 9.21F).
f h g
A síndrome de ornitofilia ocorre com a participação de aves. Nela, as flores comumente são
grandes, com tons vermelhos, alaranjados ou amarelos brilhantes, cores muito chamativas para as
aves e pouco perfumadas. Além disso, as flores produzem muito néctar, que ajuda a suprir o inves-
timento energético dos pássaros polinizadores. Em muitos casos, as pétalas dessas flores se fundem
e formam um tubo floral curvado, que se ajusta ao formato do bico do pássaro (Figura 9.21G).
Existem ainda flores polinizadas por agentes noturnos, como morcegos - quiropterofilia, e
mariposas - falenofilia. Essas flores são pouco coloridas, mas exalam odores característicos, que
atraem seus polinizadores e geralmente abrem à noite. Os morcegos se alimentam do néctar e
do pólen das flores que costumam polinizar, geralmente, plantas com flores solitárias, grandes e
rígidas, pois facilitam o animal a se agarrar a ela (Figura 9.21H).
Madeira
A madeira ou xilema secundário pode ser classificada como hardwood (madeira dura) ou softwood (madeira
macia). A primeira é encontrada, principalmente, em eudicotiledôneas e a segunda, em coníferas.
A estrutura da madeira das coníferas é caracterizada pela ausência de vasos e pela pequena quanti-
dade de parênquima axial. O sistema axial é constituído por traqueídes longas. No entanto, alguns
gêneros, como por exemplo o Pinus, apresentam um parênquima no sistema axial associado aos
canais resiníferos, os quais são espaços intercelulares relativamente grandes nesse parênquima.
Figura 9.22: Corte transversal de um caule, mostrando os anéis de crescimento. / Fonte: Thinkstock
Desconstruindo Conceitos
Muitas pessoas acham que somente em espécies de regiões temperadas é possível distinguir os anéis
de crescimento. Engano! Pesquisadores do Departamento de Botânica do Instituto de Biociências
têm demonstrado, há algum tempo, que plantas tropicais apresentam anéis de crescimento bem
distintos. No entanto, essa diferença na atividade do câmbio vascular parece estar mais associada à
ocorrência de uma estação seca e outra chuvosa, ao invés de verão ou inverno.
Considerações finais
Neste tópico, estudamos de maneira bastante simplificada a proposta mais re-
cente de classificação das angiospermas, detalhando alguns grupos.Vimos também
as diferentes síndromes de polinização e apresentamos brevemente algumas das
aplicações das plantas no nosso cotidiano.
Referências Bibliográficas
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do curso para atualização de professores dos ensinos Fundamental e Médio (ISBN
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Souza,V.C. & Lorenzi, H. 2008. Botânica sistemática. 2ª Ed. Instituto Plantarum de Estudos
da Flora Ltda, Nova Odessa.
Glossário
Atactostélico: Com diversos feixes vasculares dispersos no caule.
Corola Dialipétala: Com pétalas livres umas das outras.
Epífitas: Que crescem em cima de outras plantas.
Espermatófitas: Plantas com sementes.
Flores Gamopétalas: Com as pétalas unidas entre si, em toda a extensão ou, pelo menos, na base.
Lígula: Pequena saliência da folha das gramíneas na junção do limbo e bainha.
Simplesiomorfias: Caráter homólogo plesiomórfico compartilhado.