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panorama histórico e
recentes trabalhos
desenvolvidos por discentes
da USP
Marcel Twardowsky Avila
Língua Geral Amazônica (LGA)
• 1616 – início da colonização portuguesa no Grão-Pará: colonos,
missionários e índios aliados, vindos de Pernambuco e partes do
Maranhão, chegam à costa do Salgado e lá encontram indígenas do
povo Tupinambá.
Algumas décadas mais tarde, o panorama linguístico seria outro. Quando o naturalista
Alfred Russel Wallace (2004) esteve no alto rio Negro, em 1850, a língua já era falada
e compreendida naquela região.
Literatura Oral
• José Vieira Couto de Magalhães (1837-1898)
• Charles Frederick Hartt (1840-1878)
• João Barbosa Rodrigues (1842-1909)
• Antônio Brandão Amorim (1865-1926)
General Couto de Magalhães
(1837-1898)
• A língua viva atual é falada hoje em alguns lugares da província
do Pará, entre eles Santarém e Portel, no rio Capim, entre
descendentes de índios ou entre as populações mestiças ou
pretas, que pertenceram aos grandes estabelecimentos das
ordens religiosas. De Manaus para cima ela é a língua
preponderante, no Rio Negro, e muito mais vulgar do que o
português” (MAGALHÃES, 1876, p. XL).
Brandão de Amorim (1865-1926)
Mario de Andrade - Macunaíma
• — Essa eu caço! ele fez. E perseguiu a viada. Esta escapuliu fácil
mas o herói pôde pegar o filhinho dela que nem não andava quase,
se escondeu por detrás duma carapanaúba e cotucando o viadinho
fez ele berrar. A viada ficou feito louca, esbugalhou os olhos parou
turtuveou e veio vindo veio vindo parou ali mesmo defronte
chorando de amor. Então o herói flechou a viada parida. Ela caiu
esperneou um bocado e ficou rija estirada no chão. O herói cantou
vitória. Chegou perto da viada olhou que mais olhou e deu um
grito, desmaiando. Tinha sido uma peça do Anhanga... Não era
viada não, era a própria mãe tapanhumas que Macunaíma flechara
e estava morta ali, toda arranhada com os espinhos das titaras e
mandacarus do mato.
Dom José Lourenço da Costa Aguiar (1847-1905)
Dom José Lourenço da Costa Aguiar (1847-1905)
“É o nhihingatu ou nhehengatu, como escrevem outros, língua
usual e mui falada em vastas regiões do Amazonas, principalmente
nos vales do Rio Negro e Alto Solimões.
Há vilas, povoados e arraiais em que a população não se
comunica, senão por este idioma. O português só aparece quando
chega gente de fora.
Em nossas visitas pastorais verificamos que famílias inteiras e,
por vezes, numerosos grupos delas, assim como de aborígenes
mansos, em vasta proporção só conhecem o nhihingatu [...]”.
Dom Frederico Costa (1875-1948)
Dom Frederico Costa (1875-1948)
• “Pela primeira vez sentimo-nos como que exilados dentro da
nossa própria pátria; parecia-nos estar em outras terras, entre
povos estranhos. Ouvíamos falar ao redor e não entendíamos
[...]. E nossa preocupação de então era aprender a língua geral,
sem a qual, bem o percebemos imediatamente, inútil,
infrutífera, baldada seria a nossa viagem.” (COSTA, 1909, p. 23)
O nheengatu torna-se língua cooficial
no município de São Gabriel da
Cachoeira (SGC)
Apesar da expressiva diminuição no número de seus falantes, o
nheengatu continua sendo falado, sobretudo, na bacia do rio Negro, em
territórios do Brasil, da Venezuela e da Colômbia. Nessa mesma região,
no Estado do Amazonas, encontra-se o município de São Gabriel da
Cachoeira (SGC), no qual a Lei 145/2002, aprovada no dia 11 de
dezembro de 2002, concedeu ao idioma, junto ao tukano e ao
baniwa, a condição de língua cooficial do município.
São Gabriel da
Cachoeira (SCG)
Yanomani: Yanomani
Conformação da população de São Gabriel da
Cachoeira, segundo o censo de 2010 do IBGE
População Urbana Rural Total
Geral 19054 18842 37896
Indígena 11016 18001 29017
Indígena (%) 57,8 95,5 76,6
Fonte: (INSTITUTO BRASILEIRO..., 2012, p. 17; 2021 [2010])
As línguas indígenas dentro e fora das terras
demarcadas
A perda das línguas indígenas pela população autóctone que deixa as
terras demarcadas, em geral deslocando-se para centros urbanos, não é
algo particular a SGC. Segundo o censo do IBGE de 2010, 37,4% dos
indígenas brasileiros de 5 anos ou mais de idade declararam falar uma
língua indígena: dentro das terras indígenas, 57,3% e, fora delas,
somente 12,7% eram falantes de alguma dessas línguas (INSTITUTO
BRASILEIRO..., 2010).
O processo de obsolescência e morte de
uma língua
• A obsolescência (e a morte) de língua é mais uma consequência do
contato de línguas, resultado de deslocamentos de povos e
respectivos idiomas. Elas têm a ver com o contato, em dois sentidos.
Primeiro, a atrição da Língua1 com uma Língua2 mais poderosa ou
dominante. Segundo, e em consequência disso, o fato de os falantes
da Língua1 deixarem de usá-la, por pressão da Língua2 dominante.
Afora isso, uma língua pode desaparecer devido ao desaparecimento
da população que a fala (COUTO, 2009, p. 83).
O processo de obsolescência e morte de
uma língua
• Alguns autores afirmam que, primeiro, a língua perde léxico, depois
vem uma grande quantidade de empréstimos, seguidos de traços
gramaticais da L2. Geralmente, isso é seguido de uma simplificação
estrutural, sendo que os traços que se perdem não são substituídos.
Por fim, quando a transmissão dessa L1 às crianças é interrompida,
temos o termo do processo, a glototanásia. O processo gradual de
perda de domínios de uso, de falantes e de material linguístico é
chamado de atrição (attrition) (COUTO, 2009, p. 85, grifos do autor).
Vista aérea da comunidade Baniwa de Tucumã-Rupitá, às margens do Rio
Içana, Terra Indígena Alto Rio Negro, São Gabriel da Cachoeira,
Amazonas, 2008