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O nheengatu e as traduções:

panorama histórico e
recentes trabalhos
desenvolvidos por discentes
da USP
Marcel Twardowsky Avila
Língua Geral Amazônica (LGA)
• 1616 – início da colonização portuguesa no Grão-Pará: colonos,
missionários e índios aliados, vindos de Pernambuco e partes do
Maranhão, chegam à costa do Salgado e lá encontram indígenas do
povo Tupinambá.

• Século 17 - o tupi falado pelos tupinambás e povos aparentados


“expandiu-se pelos núcleos populacionais da Amazônia e para as
aldeias de repartição, para onde começaram a descer índios de
filiação tupi e não tupi, tornando-se uma língua de filiação
interétnica”. (FREIRE, 2011, p.117)
Língua Geral Amazônica (LGA)
• Até a década de 1720 “a política de Portugal [...] foi de opção
inequívoca pela língua geral, institucionalizada como norma de
uso colonial. (FREIRE, 2011, p.122)
• 1727: uma carta régia proibi o uso da LGA nas povoações e
aldeias de repartição, determinando que tanto os moradores
quanto os missionários deviam organizar o ensino do
português aos índios.
Língua Geral Amazônica (LGA)
• 1757: no período pombalino há a tentativa de efetivar a
“portugalização” da Amazônia. Os jesuítas são expulsos e a
língua geral é proibida.
• 1759: o governador Xavier de Mendonça Furtado escreve em
carta à metrópole, que tomou medidas providenciando “em
todas as povoações deste Estado, a introdução da língua
portuguesa, para que todos parecessem vassalos do mesmo
príncipe” (Abapp, apud FREIRE, 2011, p. 126)
Língua Geral Amazônica (LGA)
• Na mesma carta o governador “mostra-se escandalizado
porque, ao receber em sua casa, em Belém, uma família de
moradores portugueses, tentou estabelecer comunicação com
as crianças e descobriu ‘que, entendendo pouco português,
elas compreendiam e se explicavam bastante na língua tapuia,
ou chamada geral’. Sua surpresa aumentou quando ouviu dois
negros recém-chegados da Costa da África ‘falando
desembaraçadamente a sobredita língua [geral] e não
compreendendo nada da portuguesa’” (Abapp, apud FREIRE,
2011, p. 67)
Língua Geral Amazônica (LGA)
• Agosto de 1823: o Estado do Grão-Pará adere à independência
do Brasil.
• 1835-1840: Cabanagem - morrem durante os conflitos cerca de
40.000 pessoas, quase todos falantes de LGA. Esse número
equivalia a um quarto de toda a população recenseada do
Grão Pará (FREIRE, 2011, p. 244).
• Guerra do Paraguai (1864-1870): morrem mais de 1250
falantes de LGA (FREIRE, 2011, p. 244).
Língua Geral Amazônica (LGA)
• 1853: estabelecimento da primeira linha de vapores no rio
Amazonas.
– em 1853, o estabelecimento da primeira linha de vapores no Rio
Amazonas reduziu o tempo da viagem entre Belém e Manaus para
apenas oito dias. Até então, a duração mínima estimada era de 40
dias e a máxima, de até três meses, dependendo da época do ano
(BATES, 1979, pp. 91-2)
– Os vapores levaram para a região amazônica cerca de 500 mil
nordestinos, no período entre 1872 e 1910 (FURTADO, 1961, pp. 152-
53), todos portadores da língua portuguesa.
O estabelecimento da LGA no rio Negro

O relato do naturalista baiano Alexandre Rodrigues Ferreira (apud LAMARCA 2015, p.


65), que passou pelo rio Negro entre os anos de 1785 e 1786, sugere que a LGA ainda
não era então o idioma mais disseminado ao longo de todo seu curso:

Note-se, primeiramente, que os Manaus foram os gentios dominantes na parte


inferior, assim como os Barés na parte superior; donde vem que estas são as duas
línguas que falam os índios aldeados, sendo cada uma delas a geral do seu distrito.

Algumas décadas mais tarde, o panorama linguístico seria outro. Quando o naturalista
Alfred Russel Wallace (2004) esteve no alto rio Negro, em 1850, a língua já era falada
e compreendida naquela região.
Literatura Oral
• José Vieira Couto de Magalhães (1837-1898)
• Charles Frederick Hartt (1840-1878)
• João Barbosa Rodrigues (1842-1909)
• Antônio Brandão Amorim (1865-1926)
General Couto de Magalhães
(1837-1898)
• A língua viva atual é falada hoje em alguns lugares da província
do Pará, entre eles Santarém e Portel, no rio Capim, entre
descendentes de índios ou entre as populações mestiças ou
pretas, que pertenceram aos grandes estabelecimentos das
ordens religiosas. De Manaus para cima ela é a língua
preponderante, no Rio Negro, e muito mais vulgar do que o
português” (MAGALHÃES, 1876, p. XL).
Brandão de Amorim (1865-1926)
Mario de Andrade - Macunaíma
• — Essa eu caço! ele fez. E perseguiu a viada. Esta escapuliu fácil
mas o herói pôde pegar o filhinho dela que nem não andava quase,
se escondeu por detrás duma carapanaúba e cotucando o viadinho
fez ele berrar. A viada ficou feito louca, esbugalhou os olhos parou
turtuveou e veio vindo veio vindo parou ali mesmo defronte
chorando de amor. Então o herói flechou a viada parida. Ela caiu
esperneou um bocado e ficou rija estirada no chão. O herói cantou
vitória. Chegou perto da viada olhou que mais olhou e deu um
grito, desmaiando. Tinha sido uma peça do Anhanga... Não era
viada não, era a própria mãe tapanhumas que Macunaíma flechara
e estava morta ali, toda arranhada com os espinhos das titaras e
mandacarus do mato.
Dom José Lourenço da Costa Aguiar (1847-1905)
Dom José Lourenço da Costa Aguiar (1847-1905)
“É o nhihingatu ou nhehengatu, como escrevem outros, língua
usual e mui falada em vastas regiões do Amazonas, principalmente
nos vales do Rio Negro e Alto Solimões.
Há vilas, povoados e arraiais em que a população não se
comunica, senão por este idioma. O português só aparece quando
chega gente de fora.
Em nossas visitas pastorais verificamos que famílias inteiras e,
por vezes, numerosos grupos delas, assim como de aborígenes
mansos, em vasta proporção só conhecem o nhihingatu [...]”.
Dom Frederico Costa (1875-1948)
Dom Frederico Costa (1875-1948)
• “Pela primeira vez sentimo-nos como que exilados dentro da
nossa própria pátria; parecia-nos estar em outras terras, entre
povos estranhos. Ouvíamos falar ao redor e não entendíamos
[...]. E nossa preocupação de então era aprender a língua geral,
sem a qual, bem o percebemos imediatamente, inútil,
infrutífera, baldada seria a nossa viagem.” (COSTA, 1909, p. 23)
O nheengatu torna-se língua cooficial
no município de São Gabriel da
Cachoeira (SGC)
Apesar da expressiva diminuição no número de seus falantes, o
nheengatu continua sendo falado, sobretudo, na bacia do rio Negro, em
territórios do Brasil, da Venezuela e da Colômbia. Nessa mesma região,
no Estado do Amazonas, encontra-se o município de São Gabriel da
Cachoeira (SGC), no qual a Lei 145/2002, aprovada no dia 11 de
dezembro de 2002, concedeu ao idioma, junto ao tukano e ao
baniwa, a condição de língua cooficial do município.
São Gabriel da
Cachoeira (SCG)

• Com área de 109.185,00 km², SGC é o terceiro


maior município brasileiro, atrás de Alta Mira-PA e
Barcelos-AM. Seu território é maior do que o de
alguns países, como Portugal, Hungria ou Austria
São Gabriel da Cachoeira (SCG) e
municípios vizinhos
23 grupos étnicos, filiados a 4 famílias linguísticas:

Tukano Oriental: Bará, Barasana, Desana, Karapanã, Kotiria/ Wanano, Kubeo,


Makuna, Miriti-tapuia, Pirá-tapuia, Siriano, Yukano, Tuyuca

Aruak: Baniwa, Baré, Kuripako, Tariana, Werekena

Nadahup: Nadöb, Dâw, Hupda, Yuhupde

Yanomani: Yanomani
Conformação da população de São Gabriel da
Cachoeira, segundo o censo de 2010 do IBGE
População Urbana Rural Total
Geral 19054 18842 37896
Indígena 11016 18001 29017
Indígena (%) 57,8 95,5 76,6
Fonte: (INSTITUTO BRASILEIRO..., 2012, p. 17; 2021 [2010])
As línguas indígenas dentro e fora das terras
demarcadas
A perda das línguas indígenas pela população autóctone que deixa as
terras demarcadas, em geral deslocando-se para centros urbanos, não é
algo particular a SGC. Segundo o censo do IBGE de 2010, 37,4% dos
indígenas brasileiros de 5 anos ou mais de idade declararam falar uma
língua indígena: dentro das terras indígenas, 57,3% e, fora delas,
somente 12,7% eram falantes de alguma dessas línguas (INSTITUTO
BRASILEIRO..., 2010).
O processo de obsolescência e morte de
uma língua
• A obsolescência (e a morte) de língua é mais uma consequência do
contato de línguas, resultado de deslocamentos de povos e
respectivos idiomas. Elas têm a ver com o contato, em dois sentidos.
Primeiro, a atrição da Língua1 com uma Língua2 mais poderosa ou
dominante. Segundo, e em consequência disso, o fato de os falantes
da Língua1 deixarem de usá-la, por pressão da Língua2 dominante.
Afora isso, uma língua pode desaparecer devido ao desaparecimento
da população que a fala (COUTO, 2009, p. 83).
O processo de obsolescência e morte de
uma língua
• Alguns autores afirmam que, primeiro, a língua perde léxico, depois
vem uma grande quantidade de empréstimos, seguidos de traços
gramaticais da L2. Geralmente, isso é seguido de uma simplificação
estrutural, sendo que os traços que se perdem não são substituídos.
Por fim, quando a transmissão dessa L1 às crianças é interrompida,
temos o termo do processo, a glototanásia. O processo gradual de
perda de domínios de uso, de falantes e de material linguístico é
chamado de atrição (attrition) (COUTO, 2009, p. 85, grifos do autor).
Vista aérea da comunidade Baniwa de Tucumã-Rupitá, às margens do Rio
Içana, Terra Indígena Alto Rio Negro, São Gabriel da Cachoeira,
Amazonas, 2008

Fonte: Beto Ricardo - ISA


Vista aérea da área urbana de São Gabriel da Cachoeira-AM
Vista aérea da cidade de Manaus
O processo de obsolescência e morte de
uma língua
• Tradicionalmente, os linguistas têm considerado a perda lexical como
o principal signo de decadência de uma língua. Embora isso não seja
inteiramente verdadeiro, não deixa de fazer certo sentido. Com
efeito, perder grande parte do léxico, mesmo mantendo a gramática,
vai em direção à falta de autoestima dos falantes e,
consequentemente, de atrição da língua [...] (COUTO, 2009, p. 88).
A perda do léxico tradicional no
nheengatu

• Caso a sociedade necessite, basta fazer empréstimos linguísticos: o


contato cultural com outros povos, o conhecimento de novos
conteúdos ou a descoberta de realidades até então desconhecidas
são o motor da elaboração de novos conceitos e da produção de
novas palavras (Alkmim 2001, p. 41).
• Hoje, a língua geral tem que lutar cada dia desesperadamente contra
a influência cautelosa, mas eficaz do português. O Sr. Epaminondas,
já bem idoso (mais de 70 anos), tem muito menos empréstimos
novos no seu falar do que o Sr. Marcelino (40 anos). O primeiro
continua a empregar [a] palavra tetama enquanto o segundo só vai
dizer “cidade” (GRENAND; FERREIRA, 1989, p. XIII, grifo do autor).
A perda do léxico tradicional no
nheengatu
• O processo de escrita das histórias por nós educadores foi um
desafio, principalmente na língua nheengatu. Em português nós já
estamos mais acostumados. O próprio narrador usava muitos
empréstimos do português. A tradução de algumas palavras, do
português para o nheengatu, é muito difícil e envolveu pesquisa, um
colega perguntando para o outro e debatendo. [...] Muitas palavras
não são mais usadas e, quando escrevemos coletivamente,
aprendemos juntos muitos termos que alguns não conheciam na
própria língua que falamos, por exemplo, iwikuim (areia/praia) ou
ipawa (lago) (LEETRA INDÍGENA. n. 17, 2015, p. 14).
Imposição da língua portuguesa ao
longo dos últimos séculos
Edilson Kadawawari Martins, 36 anos (em 2005), um líder do povo
Baniwa que passou oito anos no internato, relata que
nossos pais podiam nos visitar uma vez por mês e, se não falássemos
com eles em português, nós éramos punidos ficando sem almoço ou
sendo colocados de castigo em um canto. Na sala de aula era a mesma
coisa: se você falava nheengatu, eles batiam nas palmas das suas mãos
com uma palmatória de pau-brasil ou pediam para você ficar de joelhos,
de frente para a classe, por 15 minutos (ROHTER, 2005, s/p, tradução
nossa).
Em avaliação feita em 2018, alguns elementos comuns e esperados em
cidades bi- ou multilíngues não eram ainda encontrados em SGC

• A sinalização de rua era feita exclusivamente em português. (AVILA;


MILTON, 2019, p. 88)
• Não há nenhum tipo de serviço de interpretação em qualquer
repartição pública, centro de saúde ou hospital. (AVILA; MILTON,
2019, p. 89)
• Seria muito interessante também haver um serviço de interpretação
no Banco do Brasil, na casa lotérica e nos demais postos de
recebimento de vencimentos e de valores referentes a programas
sociais, como o Bolsa Família. (AVILA; MILTON, 2019, p. 89)
• Nas escolas primárias municipais Professor Tiago Montalvo e
Dom Miguel Alágna há uma hora de aula de nheengatu por
semana. Atualmente não há aulas de tukano ou baniwa. Os colégios
estaduais, por sua vez, descartaram as línguas indígenas. (AVILA;
MILTON, 2019, p. 89)
Em avaliação feita em 2018, alguns elementos comuns e esperados em
cidades bi- ou multilíngues não eram ainda encontrados em SGC

• Na rádio municipal já houve, há cerca de dez anos,


programação em línguas indígenas, mas posteriormente as línguas
perderam espaço na programação. Hoje apenas o programa de
saúde, que vai ao ar toda quarta-feira, é transmitido nas três línguas
cooficiais (NBT). Eventualmente músicas cantadas nesses idiomas
são tocadas também pela rádio, como as canções do grupo local
Marupiara. (AVILA; MILTON, 2019, p. 89)
• Boa parte dos comerciantes em SGC são de fora da cidade, muitos
do Nordeste do Brasil. Em geral, escuta-se as línguas indígenas nas
margens da cidade: na feira municipal, nos subúrbios, nos portos,
nas casas de apoio aos moradores de comunidades do interior e nas
feiras semanais para a venda de produtos da roça. (AVILA; MILTON,
2019, p. 89)
Medidas que podem adiar ou impedir o desaparecimento da(s)
comunidade(s) linguística(s) de nheengatu.

• Demarcação e proteção de terras indígenas.


• Tradução e interpretação em nheengatu.
• Diversificação dos domínios de uso do idioma: escola, livros, rádio,
televisão, teatro etc.
• Elaboração de materiais para ensino e aprendizagem do nheengatu:
métodos de ensino, dicionários, gramáticas etc.
• Implementação efetiva de medidas oficiais condizente com o
multilinguismo em SGC e cidades vizinhas.
Algumas características dos trabalhos de tradução com o nheengatu

• Tradução como um dos meios de fortalecer um idioma: diversificar os


domínios de uso do idioma etc.
• Tradução como meio para a consolidação de uma literatura em
nheengatu.
• Tradução em paralelo a estudos linguísticos e lexicais.
• Pesquisas lexicais: utilização de palavras em desuso; elaboração de
ferramentas lexicográficas.
Os modelos éticos de Andrew Chesterman

• Ética do serviço: é o tipo de ética estabelecido pelo vínculo comercial


entre um cliente e um tradutor. O cliente contrata o tradutor, e este
deve seguir suas prescrições, ou seja, deve ser leal ao compromisso
firmado com seu contratante.
• Ética baseada numa norma: pauta-se pelo respeito às expectativas
que os leitores da cultura-alvo têm com relação à tradução. O
tradutor deve levar em conta o papel da tradução nessa cultura. O
que é entendido nesse contexto cultural por uma “boa tradução”?
• Ética da representação: é aquela que se relaciona à fidelidade que o
tradutor deve ter para com o texto fonte ou para com as intenções de
seu autor.
Os modelos éticos de Andrew Chesterman

• Ética da comunicação: não se trata da preocupação com o modo


como se representa, mas sim com a comunicação que se estabelece
por meio da fronteira linguística/cultural. Chesterman (2001, p. 141,
tradução nossa), mencionando a contribuição de Pym para o
esclarecimento desse aspecto ético, escreve:
para Pym, o objetivo da comunicação transcultural é o
benefício mútuo decorrente da cooperação, e o objetivo
ético da tradução é promover a cooperação intercultural
entre as partes que se veem como “Outro”. Um tradutor
ético, portanto, traduz de maneira a otimizar essa
cooperação.
Os modelos éticos de Andrew Chesterman: Ética da comunicação

• Um tradutor ético também deve decidir, observa Pym, que, em


algumas ocasiões, seria mais benéfico definitivamente não traduzir,
mas recomendar outras formas de comunicação, como aprender a
outra língua (CHESTERMAN, 2001, p. 141, tradução nossa).
• Nota-se, portanto, o papel utilitário da tradução na definição desse
modelo de ética: o ato tradutório é um dos possíveis “meios” para se
atingir um “fim”, ou seja, o objetivo último relaciona-se de forma um
tanto indireta com a tradução, já que ele pode ser atingido,
eventualmente, por outros caminhos.
A tradução como meio de fortalecimento de um idioma e enriquecimento
de seu sistema literário

• Susan Bassnett (2003) discorre sobre a função de enriquecimento


que era atribuída à tradução pelos romanos, direcionada, sobretudo,
às obras gregas, que serviam de modelo para os escritores de Roma.
Segundo Bassnett (2003, p. 82), “o princípio subjacente de
enriquecer a língua e a literatura nativas através da tradução fez com
que a ênfase fosse colocada nos critérios estéticos do produto na
língua de chegada, e não nas noções mais rígidas de ‘fidelidade’”.
A tradução como meio de fortalecimento de um idioma e enriquecimento
de seu sistema literário

• A autora complementa a explicação desse conceito de tradução com


o fato de os romanos letrados serem capazes de ler as obras originais,
em grego. Nesse contexto,
para os tradutores romanos, a tarefa de transferir um texto
de uma língua para outra pode ser entendida como um
exercício de estilística comparada, uma vez que não lhes era
exigido “dar a conhecer” nem a forma nem o conteúdo per
se, e consequentemente não tinham de se sujeitar à
estrutura do original (BASSNETT, 2003, p. 83).
A tradução como meio de fortalecimento de um idioma e enriquecimento
de seu sistema literário

• No caso no nheengatu, as traduções visam, através da ampliação de


seus contextos de uso, o fortalecimento do idioma. O escopo mais
amplo e geral dessas traduções não é o de facilitar o acesso de seus
falantes a obras literárias específicas, já que o pouco costume em
lidar com a variante escrita do nheengatu faz com que os próprios
falantes do idioma tenham, frequentemente, menos dificuldade de
ler e escrever em português do que em sua língua materna.
• Esse aspecto contextual pode ser percebido como um elemento a
favor de escolhas tradutórias que se desprendam da estrutura do
original, quando estes afastamentos resultarem em melhorias no
texto em língua-alvo.
Referências
ALKMIM, T. Sociolinguística. Parte I. In: MUSSALIM, F & BENTES, A. C.
(Org.). Introdução à Linguística: domínios e fronteiras. Vol. 1. São Paulo:
Cortez, 2001.
AVILA, Marcel Twardowsky; MILTON, John.” Tradução, interpretação e
multilinguismo na municipalidade de São Gabriel da Cachoeira (AM)”.
Muiraquitã: Revista De Letras E Humanidades, 7(1), pp. 84-100, 2019.
BATES, Henry Walter. Um naturalista no Rio Amazonas. Belo Horizonte:
Itatiaia; São Paulo: Edusp. 1979.
COSTA, Frederico. Carta pastoral de D. Frederico Costa, Bispo do
Amazonas a seus amados diocesanos. Ceará: Typ. Minerva, 1909, pp.
157-248.
COUTO, H. H. do. Linguística, ecologia e ecolinguística: contato de
línguas. São Paulo: Ed. Contexto, 2009.
Referências
EDWARDS, William Henry. A voyage up the River Amazon including a
residence at Pará. New-York: D. Appeton & Company, 1847.
FREIRE, José Ribamar Bessa. Rio Babel: a história das línguas na
Amazônia. 2.ed. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2011.
FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. 4.ed. Rio de Janeiro:
Fundo de Cultura, 1961.
GRENAND, Françoise; FERREIRA, Epaminondas Henrrique. Pequeno
dicionário da língua geral. Manaus: Secretaria da Educação do Estado
do Amazonas (Seduc), 1989.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Censo
demográfico 2010 - Caracterísicas gerais dos indígenas - Resultados do
universo. Rio de Janeiro: IBGE, 2010.
______. Os indígenas no censo demográfico 2010 – primeiras
considerações com base no quesito cor ou raça. Rio de Janeiro: IBGE,
2012.
Referências
LAMARCA, Eric Tadeu. Alexandre Rodrigues Ferreira e sua Viagem ao Rio
Negro. 2015. 117f. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-
Graduação em Literatura Brasileira, Faculdade de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015.
LEETRA INDÍGENA. n. 17, v. 1. Edição Especial: Escola Kariamã conta
umbuesá. São Carlos-SP: Universidade Federal de São Carlos,
Laboratório de Linguegens LEETRA, 2015.
MAGALHÃES, José Vieira Couto de. O Selvagem. Rio de Janeiro:
Typographia da Reforma, 1876.
ROHTER, Larry. Language Born of Colonialism Thrives Again in Amazon.
In: The New York Times, 28 agost. 2005. Nova York: The New York Times
Company, 2005.
RONDON, Frederico. Pelo Brasil Central. São Paulo - Rio de Janeiro –
Recife - Porto Alegre: Companhia Editora Nacional, 1938.
Referências
WALLACE, Alfred Russel. Viagens pelo Amazonas e Rio Negro. (Notas de
Basílio de Magalhães). Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial
(Edições do Senado Federal ; v. 17), 2004.

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