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Título: O Gênero de Fantasia no RPG

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Tema: Espada e Magia
Categoria: Dicas
Tags: D&D, fantasia, fantasia medieval, alta fantasia, baixa fantasia, fantasia épica, fantasia
sombria, fantasia estranha, Conan, Era Hiboriana, Elric, Game of Thrones, Crônicas de
Gelo e Fogo, Lankhmar

Sempre que falamos de RPG, o primeiro gênero que vem a mente das pessoas é a fantasia
medieval ou simplesmente fantasia. Não por acaso, esse é o gênero dominante do primeiro
e mais famoso RPG de todos os tempos, o nosso querido D&D. Mas o que é que significa
exatamente esse gênero? Qual a sua origem? Quais suas características? Existem
variações? Essas e outras perguntas vamos procurar responder aqui hoje, com um foco no
RPG, ainda que a fantasia permeie diversas outras mídias, tais como o cinema, a literatura
e os quadrinhos.

Ficção fantástica: da sua origem aos dias de hoje


A fantasia é na verdade um gênero do que chamamos ficção especulativa. Por conta disso,
ela também é chamada de ficção fantástica. Ficção especulativa é qualquer história que se
passa em um universo inventado, que possui características distintas do mundo real. O que
difere a ficção fantástica da ficção científica é a explicação por detrás dos elementos
diferentes daquilo que conhecemos. Enquanto na ficção científica temos temas como
super-tecnologia, viagens espaciais, alienígenas e utopias futuristas, a fantasia é baseada
em temas sobrenaturais que costumam envolver magia, monstros e elementos comumente
inspirados nas nossas mitologias e folclores.

Embora a fantasia possa se inspirar em qualquer tipo de mitologia ou cultura real,


geralmente associamos os jogos de RPG à chamada “fantasia medieval”, que tem esse
nome justamente por ser baseada na Europa Medieval, onde temos cavaleiros, castelos,
mosteiros, florestas sombrias e senhores feudais mesclados com elementos marcantes das
mitologias célticas e nórdicas, tais como os elfos, anões, duendes, bruxas, anéis mágicos,
trolls, goblins, dragões, etc.

A fantasia moderna, que inspirou jogos como o D&D, certamente deve muito às obras de
escritores como J. R. R. Tolkien (Senhor dos Anéis), Robert E. Howard (Conan [link:
https://universorpg.com/espada-e-magia/noticias/conan-o-barbaro-na-literatura-cinema-e-rp
g/]), Fritz Leiber (Lankhmar), Michael Moorcock (Elric de Melniboné) e Robert Jordan (A
Roda do Tempo). Porém, a origem desse gênero é muito mais antiga e remonta à obras
clássicas da literatura, tais como As Mil e Uma Noites, Beowulf, Sir Gawain e o Cavaleiro
Verde, passando por histórias mais “infantis” como Alice no País das Maravilhas, Peter Pan
e as Crônicas de Nárnia. Por muito tempo, inclusive, as histórias de fantasia foram rotuladas
como literatura infanto-juvenil. Embora algumas séries literárias atuais famosas, como Harry
Potter (J. K. Rowling) e Percy Jackson (Rick Riordan) façam jus a esse rótulo, é inegável
que histórias como as Crônicas de Gelo e Fogo (George R. R. Martin) e The Witcher
(Andrzej Sapkowski) resgataram os aspectos mais sérios e dramáticos do gênero de
fantasia, como não se via a muito tempo.

Atualmente a fantasia pode ser dividida em diversos temas ou sub-gêneros, nem sempre
com diferenças bem claras. Veremos a seguir alguns dos tipos mais conhecidos e que
possuem maior influência nos jogos de RPG.

Alta Fantasia, Fantasia Heróica e Fantasia Épica


Na chamada “alta fantasia” a magia e as criaturas fantásticas são elementos
predominantes, que moldam o cenário fantástico. Isso não necessariamente significa que
magos, feiticeiros, bruxos e outros usuários de magia são comuns. Um bom exemplo é a
Terra Média do Senhor dos Anéis - magos e o uso da magia são extremamente raros, ainda
assim o cenário em si e as histórias que nele se desenvolvem dependem de objetos
mágicos e conceitos místicos, como fica claro com a Guerra do Anel, que envolve os anéis
de poder, os espectros do anel (Nazgûl) e uma misteriosa entidade de poder quase divino
(Sauron). A maior parte dos cenários de D&D aborda esse estilo, como é o caso de
Forgotten Realms, o cenário oficial da quinta edição.

Esse tipo de fantasia possui algumas variações comuns, como a fantasia heróica e a
fantasia épica, que se confundem em alguns aspectos. Na fantasia heróica os protagonistas
são poderosos, extremamente hábeis ou simplesmente muito sortudos, desempenhando
papéis importantes na história de seu mundo, enfrentando inimigos lendários e fazendo
parte de sagas que serão lembradas por muito tempo. Um cenário de D&D que exemplifica
bem esse tipo é Dragonlance e os heróis da Lança, que moldaram a história do mundo de
Krynn.

Já na fantasia épica os protagonistas não necessariamente tomam parte em feitos


fabulosos, mas presenciam acontecimentos de proporções épicas, como grandes guerras,
cataclismos globais e intervenções divinas. Um bom exemplo aqui é cenário nacional de
Tormenta 20, assolado por grandes guerras e pela infestação demoníaca da Tormenta.

Baixa Fantasia, Espada e Magia


Na baixa fantasia a magia é bem mais limitada e discreta, podendo ser até mesmo ausente.
Criaturas fantásticas são extremamente raras e quando existem muitas vezes são seres
míticos únicos, que só são encontrados em regiões distantes ou fazem parte de lendas.
Cenários desse tipo geralmente são muito similares a Europa Medieval, onde intrigas
políticas, disputas territoriais e conflitos religiosos são os principais elementos que movem a
história do mundo. Aqui os protagonistas geralmente são soldados, ladrões, nobres ou
simples camponeses que estão apenas tentando sobreviver numa austera e implacável
realidade.

O cenário mais conhecido que pode ser considerado baixa fantasia é o mundo das Crônicas
de Gelo e Fogo, que deu origem a série Game of Thrones e possui inclusive um RPG
próprio (Guerra dos Tronos RPG, da Editora Jambô). Nos primórdios do D&D, as histórias
possuíam um certo “sabor” de baixa fantasia, pois itens mágicos eram extremamente raros,
os magos eram bastante limitados comparados com as edições mais novas e a letalidade
das aventuras podia ser bastante elevada. Apesar disso, o D&D nunca teve um cenário
típico de baixa fantasia.

Uma variação da baixa fantasia é o gênero de “Espada e Magia” ou “Espada e Feitiçaria”,


que marcou a literatura pulp dos anos 20 e 30. Aqui a magia até pode ser bastante
presente, mas geralmente é algo proibido ou perigoso, sendo comum que usuários de
magia sejam os vilões (por exemplo, o feiticeiro Toth-amon é um dos inimigos recorrentes
nas histórias de Conan). Os protagonistas geralmente são guerreiros, ladrões ou piratas,
que lutam bravamente, desbravando territórios selvagens, buscando tesouros em ruínas
esquecidas ou ainda se esgueirando pelo submundo de cidades decadentes.

Os melhores exemplos desse tipo de aventuras podem ser encontrados na Era Hiboriana
de Robert E. Howard (tratada no RPG “Conan: Adventures in an Age Undreamed Of”, cuja
tradução está em financiamento coletivo pela New Order [link: https://www.catarse.me/conan]) e
no cenário de Lankhmar, de Fritz Leiber (já foi um cenário de AD&D e hoje conta com uma
adaptação para Savage Worlds, disponibilizado em português pela RetroPunk).

Fantasia Sombria e Fantasia Estranha


Quando o gênero de horror
[link:https://universorpg.com/bau-do-mestre/dicas/o-genero-horror-e-o-rpg/] encontra a
fantasia o resultado é a fantasia sombria. Nesse tipo de fantasia encontramos todos os
elementos tradicionais (monstros, magia, masmorras, etc), porém o clima das histórias é
mais pesado, sendo comuns sentimentos de medo, desolação, abandono e opressão. O
tipo de horror mais comumente associada à fantasia é o horror gótico, onde criaturas como
demônios, vampiros, lobisomens e zumbis representam uma ameaça significativa para os
personagens. O combate direto dificilmente é uma opção, pois os seus inimigos sempre
estarão em maior número ou serão mais poderosos.

Muitos autores reconhecidamente de horror flertam com a fantasia em algumas de suas


histórias, tais como Edgar Alan Poe (A Máscara da Morte Rubra), H. P. Lovecraft (o ciclo
das Dreamlands), Clark Ashton Smith (o ciclo da Hyperborea) e Stephen King (A Torre
Negra). Um escritor atual que tem feito bastante sucesso com a fantasia sombria é Mark
Lawrence, com sua Trilogia dos Espinhos.

No RPG o cenário mais famoso de fantasia sombria certamente é Ravenloft, que nasceu
como uma aventura de horror gótico para AD&D e se popularizou tanto que foi relançado
em diversas edições de D&D, além de ter sido expandido como um cenário completo no
suplemento Domínios do Medo. Existem também jogos dedicados exclusivamente a esse
sub-gênero, tais como Shadow of the Demon Lord (Editora Pensamento Coletivo) e
Accursed (baseado em Savage Worlds e trazido em português pela RetroPunk).

Existe também uma variação deste tema, que é a fantasia estranha. A fantasia estranha
tem esse nome por fugir completamente dos estereótipos de fantasia, que são quase
sempre inspirados em algum tipo de mitologia. A fantasia estranha possui sempre alguma
quebra de paradigma, fazendo com que o leitor / jogador seja surpreendido com um evento
inesperado, arquitetura bizarra ou criatura indescritível, que provoca a sensação de
estranhamento, de algo fora do lugar, ou até mesmo alienígena. Alguns exemplos são o
protagonista improvável das histórias de Michael Moorcock (Elric é um mago / espadachim
albino de uma raça quase extinta - os melniboneanos), muitas das criaturas encontradas
por Conan em suas aventuras (que são claramente inspiradas pelo horror cósmico de
Lovecraft) e a cidade multiplanar de Sigil, que possui o formato de um toróide flutuando
sobre uma montanha de altura infinita (o ponto de partida do cenário de Planescape,
lançado para AD&D).

Além dos RPGs de Conan (já citado anteriormente), de Elric (o mais recente é Elric de
Melniboné, da Mongoose Publishing, sem versão em português) e do cenário Planescape,
temos alguns outros títulos focados na fantasia estranha, como Lamentations of the Flame
Princess (sem versão em português) e Numenera (Editora New Order). O primeiro é
baseado nas regras do D&D antigo e possui uma temática pesada e perturbadora. Já o
segundo extrapola a ficção científica para o lado místico, quando a ciência é tão avançada
que se confunde com a magia.

Fantasia científica
Como acabamos de ver, Numenera é um cenário de ficção científica que está mais próximo
da fantasia, dada a impossibilidade dos personagens compreenderem exatamente como
funcionam os dispositivos nesse cenário. Mas temos também casos onde os elementos da
fantasia “invadem” a ficção científica, coexistindo lado a lado, numa espécie de crossover.

Um exemplo clássico é Star Wars [link:


https://universorpg.com/hyperdrive/sistemas/o-melhor-rpg-de-star-wars/], onde temos
blasters e naves espaciais ao lado dos poderes místicos da Força, dominada pelos Jedis e
Siths. O jogo Destiny [link:
https://universorpg.com/hyperdrive/adaptacoes/vex-para-o-bestiario-de-destiny-rpg-usando-
as-regras-do-dd-5a-edicao/ ] também combina armas e armaduras futuristas com a Luz e a
Treva, que são princípios mais metafísicos do que científicos.

No mundo dos RPGs propriamente ditos, temos o clássico Shadowrun (Editora New Order),
também considerado “fantasia urbana”, por trazer elementos típicos da fantasia (orcs,
dragões, magos) para um cenário cyberpunk. Outro exemplo é o cenário de Spelljammer
(lançado para o AD&D), que levava a temática de fantasia para o espaço.

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