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Universidade Católica de Moçambique

Instituto de Educação à Distância

A RESPONSABILIDADE HUMANA EM RELAÇÃO A VIDA. INICIO DA VIDA,


IMPORTÂNCIA DE CONSERVAR A VIDA COMO DOM DE DEUS (INSTRUÇÃO
DONUM VITAE)

Lizete João Munacucha – Nº 808208761

Cursoː Licenciatura em Administração Pública


Disciplinaː Fundamentos de Teologia Católica
Ano de frequênciaː 2º ano
Turma: B
Grupo: 2º
Docente: Dr. Felisberto Rafael

Nampula, Julho, 2021


Critérios de avaliação

Classificação
Indicadores
Categorias

Nota do
Padrões Pontuação

Tutor
máxima Subtotal

Índice 0.5
Organizacionais
Estrutura

Aspectos

Introdução 0.5
Discussão 0.5
Conclusão 0.5
Bibliografia 0.5
Contextualização
Introdução

(indicação clara do problema) 2.0


Descrição dos objectivos 1.0
Metodologias adequadas ao objeto do
trabalho 2.0
Articulação e domínio do discurso
Análise e discussão

acadêmico (Expressão, escrita cuidada, 3.0


Conteúdo

coerência /coesão textual)


Revisão Bibliográfica Nacional e
Internacionais relevantes na área de 2.0
estudo.
Exploração de dados 2.5
Conclusão

2.0
Contributos teóricos práticos
em citações e Bibliografia Formatação
Aspectos
Gerais

Paginação, tipo e tamanho de letra, 1.0


parágrafo, espaçamento entre linhas.
Normas APA 6ª edição
Bibliográficas
Referências

Rigor e coerência das Citações 2.0


/Referencias Bibliográficas

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Folha para recomendações de melhoria: A ser preenchida pelo tutor
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Índice
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 4

2. DESENVOLVIMENTO .............................................................................................. 5

2.1 Existência Humana E Dasein ........................................................................................ 5

2.2 A Vida Humana como Centro a Tutela Jurídica ........................................................... 9

2.3 A Vida e a Dignidade Humana como Objeto do Direito ............................................ 11

2.4. A vida como pressuposto dos direitos da personalidade ............................................ 13

2.5. Diferentes concepções sobre ‘vida’ em audiência no Supremo Tribunal Federal ..... 14

2.5.1 Cristão ‘pró-vida’ ..................................................................................................... 14

2.5.2 Cristãs feministas ..................................................................................................... 15

2.5.3 Judeus e muçulmanos ............................................................................................... 17

2.6 A responsabilidade humana e a soberania de Deus.................................................... 17

2.6.1. O Sentido da Soberania de Deus ............................................................................. 17

2.6.2. Porque o Homem é responsável? ............................................................................ 18

2.6.2.1. O Decreto de Deus concernente ao pecado..................................................... 19

2.6.2.2. A Lei de Deus e não o seu Decreto Fixa o dever e a Responsabilidade do


Homem. ............................................................................................................................. 19

2.6.2.3. O motivo antes de o Homem pecar fá-lo Responsável. ....................................... 20

2.6.3. A Responsabilidade Humana e a Inabilidade Espiritual do Homem ...................... 20

2.6.4. A Responsabilidade Humana dependendo do conhecimento ................................. 21

3. CONCLUSÃO ........................................................................................................... 23

4. BIBLIOGRAFIA ....................................................................................................... 24

iii
1. INTRODUÇÃO

Uma nova ética, baseada numa relação de responsabilidade e fraternal, é um fator decisivo
para a nossa mudança de pensamento e de atitude existencial. Somos convidados a dar o
nosso “Sim”, perpetuador da espécie humana e reconhecedor de nossa fraternidade
responsável com as demais criaturas deste nosso universo. Um “Sim” vital, de escolha
preferencial pela vida. Somos interpelados a reconhecer nossa criaturalidade, descartando
nossa idéia mecanicista do universo ou do ser humano ou da natureza. Somos admoestados a
abandonar nossa ética antropocêntrica, da qual vem todos os nossos valores em detrimento
dos valores naturais e animais. De onde vêm nosso julgamento de tudo o que é e não é
humano. Antropocentrismo que expandiu o pensamento dominador e explorador de nossos
recursos naturais, como se eternamente existissem. Ou talvez aparecessem! De onde? Nosso
umbigo egoísta nunca quis responder. Somos convidados a pensar diferente, a pensar as
razões do pensar. A razão instrumental, com sua idéia ilimitada de progresso, não soube
conduzir-nos com sabedoria. Esta não reside somente no racional. Deparamo-nos, num
momento repentino de lucidez, com uma criação agonizante. E percebemos que nossa
tecnologia e ciência sabem pensar, mas não sabem curar feridas. Por fim, somos intimados a
gestar uma nova civilização planetária, a qual leve em consideração apenas um único e
essencial princípio: a vida. Resposta simples para uma complexa solução de uma complexa
questão.

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2. DESENVOLVIMENTO

2.1 Existência Humana E Dasein


Dasein é um termo alemão que, traduzido literalmente, significa ser-aí. Encontra-se,
entretanto, na tradução brasileira, a opção pela expressão "pre-sença".1 Segundo esta tradução
pre-sença (“pre” correspondendo a “Da” e “sença” a “sein”) permite a perspectiva de
processo e mobilidade tal qual evidenciada em Ser e Tempo, evitando a concepção de
localização, distante da idéia original do texto, que poderia ser suscitada pelo termo ser-aí. No
presente trabalho, entretanto, adotaremos o termo original Dasein. Mas, chamando a devida
atenção para o fato de que as citações, extraídas da tradução brasileira, deverão ser fiéis ao
termo que foi escolhido pela mesma.

Em Heidegger, Dasein é, precisamente, o modo peculiar de ser do homem, sua constituição


essencial. Dasein, não pode ser confundido com um sinônimo de ser humano; contudo, é
acertado afirmar: o homem é fundamentalmente Dasein. Portanto, segundo Heidegger, Dasein
é o processo de constituição ontológica do homem, o que lhe possibilita ser tal qual é,
conferindo-lhe uma primazia em relação aos demais entes que se encontram no mundo.

Entretanto, não encontra-se em Heidegger tal primazia do homem equivalendo a um lugar de


poder e dominação, mas encontra-se a constatação de sua possibilidade própria, ou seja, seu
acesso ao sentido de ser. Afirmar, pois, que o existente humano é o ente que tem acesso ao
sentido de ser, significa dizer que o mesmo tem acesso ao sentido de si mesmo, a
possibilidade de compreensão em relação ao sentido de um outro ser humano, ao sentido dos
entes e das coisas de uma maneira geral. Esta seria, segundo o filósofo, a primazia do
existente humano por sua constituição ontológica (Dasein), que se revelaria,
fundamentalmente, na sua possibilidade em questionar.

Cabe ressaltar aqui que, em Heidegger, “ente” se refere a tudo, de uma maneira geral e em
sentido diverso. Por exemplo: as pedras, animais, casas, obras de arte, etc. Também: o que
lemos, falamos, entendemos, como nos comportamos, etc.. E igualmente o homem. Segundo
o filósofo, os entes em geral, estão no mundo no modo de "ser simplesmente dado"
("Vorhandenheit"). Já o homem, encontra-se numa posição privilegiada. Ele é essencialmente
Dasein, e sendo assim, engloba os demais entes em estruturas de referências, e o faz
questionando.

...visualizar, compreender, escolher, aceder a são atitudes constitutivas do


questionamento e, ao mesmo tempo, modos de ser de um determinado ente,
5
daquele ente que nós mesmos, os que questionam, sempre somos... Esse ente
que cada um de nós somos e que, entre outras, possui a possibilidade de
questionar, nós o designamos com o termo ‘pre-sença’.

Questionar é, pois, uma maneira de ser exclusiva do existente humano. As ciências, a


filosofia, a ética, a cultura, as artes e a linguagem por exemplo, constituem-se como modos de
ser do homem que busca, investiga, compreende, interpreta, cria, enfim, questiona. Portanto, a
constituição ontológica do homem (Dasein) é que torna possível a este construir a si mesmo
em sua trajetória existencial, e o que possibilita à humanidade edificar sua história.
Vimos que, segundo Heidegger, o existente humano, não é mais um ente no meio de outros
entes. Isto significa que à medida que existe ele “é”. Lidando e questionando a si mesmo, ele
se compreende e se revela, revelando assim, aos demais entes. É próprio ao existente humano
“ser” na medida que existe:
A pre-sença não é apenas um ente que ocorre entre outros entes. Ao contrário,
do ponto de vista ôntico, ela se distingue pelo privilégio de, em seu ser, isto é,
sendo, estar em jogo seu próprio ser. Mas também pertence à constituição de
ser da pre-sença a característica de em seu ser, isto é, sendo, estabelecer uma
relação de ser com o seu próprio ser. Isto significa, explicitamente e de
alguma maneira, que a pre-sença se compreende em seu ser, isto é, sendo. É
próprio deste ente que seu ser se lhe abra e manifeste com e por meio de seu
próprio ser, isto é, sendo. A compreensão do ser é em si mesma uma
determinação do ser da pre-sença. O privilégio ôntico que distingue a pre-
sença está em ser ela ontológica.

Cabe aqui esclarecer sobre os termos “ôntico” e “ontológico” utilizados pelo filósofo. Em
Heidegger o primado ôntico e o primado ontológico são possibilidades do existente humano de
compreensão e entendimento de si mesmo, do mundo, dos fenômenos e das coisas em geral.
Ônticamente o homem conhece de forma imediata, e ontologicamente tem o acesso ao sentido de
ser. Portanto, para Heidegger, o homem tem a possibilidade de conhecer sob estes dois aspectos,
porque ele mesmo é um ente determinado ônticamente pela existência (suas raízes
"existenciárias")5 e ontologicamente pelo ser (suas raízes "existenciais"). É tal determinação,
portanto, que possibilita ao existente humano um entendimento ôntico da realidade (por exemplo:
as ciências em suas especulações, hipóteses e teorias acerca dos entes em geral) e um
entendimento ontológico (uma reflexão sobre os conceitos, uma compreensão do sentido de ser).
Assim, Heidegger afirma que sob o ponto de vista de um conhecimento imediato (ôntico), o
existente humano se distingue dos demais entes. Este encontra-se numa situação de sempre ter de
ser, e existindo, revelar o sentido de ser. O existente humano, compreende a si mesmo,
compreendendo também o sentido das coisas em geral. Tal é a sua condição essencial (Dasein).
Isto o diferencia dos outros entes que se encontram instalados no mundo. É o existente humano,

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por sua vez, que encontra um sentido para si mesmo e compreende um sentido para as coisas em
geral.
Encontra-se em Heidegger a concepção de singularidade do homem. O homem é sempre ele
mesmo. Existir, e existência em Heidegger refere-se à existência humana, significa um
compromisso em ter de ser.
O ser que está em jogo no ser deste ente, é sempre meu. Nesse sentido, a pre-
sença nunca poderá ser apreendida ontologicamente como caso ou exemplar
de um gênero de entes simplesmente dados. Pois, para os entes simplesmente
dados, o seu ‘ser’ é indiferente ou, mais precisamente, eles são de tal maneira
que o seu ser não se lhes pode tornar nem indiferente nem não indiferente. A
interpelação da pre-sença deve dizer sempre também o pronome pessoal,
devido a seu caráter de ser sempre minha: ‘eu sou’, ‘tu és’.

Segundo Heidegger, o homem, não pode ser considerado como um objeto, um fato acabado.
Neste sentido o homem nunca poderá ser classificado, tomado como caso ou exemplar de um
gênero como fazemos por exemplo com as coisas em geral as pedras, as plantas e os animais.
O existente humano, no sentido que lhe dá Heidegger, distingue-se das pedras, das plantas,
dos animais e dos entes em geral. Uma cadeira, por exemplo, não tem em si mesma nenhum
sentido; é o homem que descobre sua necessidade idealizando-a, fabricando-a, dando-lhe uma
utilidade e um sentido. Uma cadeira apenas desempenha seu papel dentro da vida do existente
humano, porque é ele que lhe atribui um papel, englobando-a numa rede de relações.

A cadeira por si mesma não toma nenhuma iniciativa. Já os animais estão inscritos num
âmbito instintivo como parte integrante de um ecossistema. Não que o existente humano
esteja fora desse ecossistema, ao contrário, é também parte integrante dessas interconexões,
mas tem a possibilidade de compreender e interpretar a rede dessas relações favorecendo-a ou
até, como temos presenciado, conspirando contra ela. Para o animal, seu sentido de ser, e sua
participação nesse ecossistema, lhe passa desapercebido. O animal, assim como os demais
entes da natureza, simplesmente vive, está cumprindo despreocupadamente seu destino. Já o
existente humano não é indiferente a si mesmo. A partir do instante em que ele se encontra no
mundo vê-se na tarefa de ser. Na tarefa de escolher, de buscar, de enfrentar ou se retrair frente
a uma situação, de se alegrar ou se entristecer etc.. O homem ou existente humano, pelo fato
de estar imerso no Dasein, e constituir-se ontologicamente como Dasein, está-no-mundo.
Mundo aqui, entendido como um espaço de dominação temporal, no qual o homem, percorre
as etapas do caminho que o leva até o seu próprio ser.

O que constitutivamente caracteriza o homem, portanto, é sempre seus modos possíveis de


ser. É próprio à ele fazer relações, atribuir significados, fazer referências, simbolizar. Em
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termos heideggerianos: articular o “é”. Os entes em geral, “simplesmente são”, precisamente,
por não terem acesso ao sentido de ser. O carro “é” mas não existe, uma rosa “é” mas não
existe. Os entes simplesmente dados vivem circunscritos às suas realidades previamente
definidas sem a possibilidade de interrogar tal condição. Passam a vida inadvertidamente, não
interrogam e não buscam, vivem simplesmente desempenhando um papel determinado dentro
do mundo. Pelo fato do Dasein possibilitar a maneira peculiar do ser humano existir, é que
este pronuncia, articula e revela o mundo.

Cabe aqui chamar atenção para o uso que Heidegger faz do termo “existência” (“Existenz”)8.
A tradição filosófica ou metafísica concebe um dualismo entre essência e existência. Na
metafísica, essência refere-se a origem, possibilidade, subjetividade, interioridade, idéia ou
causa. Já existência tem o sentido de reflexo, realidade, objetividade, exterioridade,
manifestação ou efeito. Na filosofia tradicional existência tem um sentido bem distinto
daquele da filosofia de Heidegger. Naquela fala-se de existência como determinação de uma
condição a priori, enquanto que nesta, existência refere-se a uma peculiaridade do ser
humano. Na acepção tradicional pode-se falar da existência de uma mesa ou um beija-flor,
assim como de Maria e Pedro.

Entretanto, Heidegger toma o termo existência, não em contraposição a essência, como na


tradição metafísica, mas em sua acepção etimológica de eksistere (preposição ek + o verbo
sistere), que tem o sentido de abertura, um movimento de dentro para fora.

Portanto, existência em Heidegger, diz respeito, especificamente, à existência humana,


relativa ao Dasein:

A ‘essência’ da pre-sença está em sua existência. As características que se


podem extrair deste ente não são, portanto, ‘propriedades’ simplesmente
dadas de um ente simplesmente dado que possui esta ou aquela
‘configuração’. As características constitutivas da pre-sença são sempre
modos possíveis de ser e somente isso. Toda modalidade de ser deste ente é
primordialmente ser. Por isso o termo ‘pre-sença’, reservado para designa-lo,
não exprime a sua quididade como mesa, casa, árvore, mas sim o ser.

O homem é o único ente dentre todos os entes que, em sua existência, encontra-se sendo,
essencializando-se, criando-se, entretanto, nunca de forma definitiva. Na existência do
homem está sempre em jogo o seu próprio ser. Isto quer dizer que o existente humano nunca
está completamente definido, como por exemplo, uma mesa. A mesa é criada e tem seu
destino e uso pré-determinados. Já o existente humano, a partir do momento que nasce, nunca

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estará completamente acabado. Ao contrário, estará sempre na tensão de seu próprio porvir,
de fazer a si mesmo ou deixar de se fazer, de escolher ou não escolher, enfim, de viver.

Segundo Heidegger, por estar no Dasein, o homem encontra-se sempre diante de si mesmo. E
sempre diante de uma possibilidade, um risco. Portanto, existir significa encontrar-se no
Dasein, e nesta aventura, o homem encontra-se na condição de assumir ou não assumir
responsabilidade.

A pre-sença é sempre sua possibilidade. Ela não ‘tem’ a possibilidade apenas


como uma propriedade simplesmente dada. E porque a pre-sença é sempre
essencialmente sua possibilidade que ela pode, em seu ser, isto é, sendo,
‘escolher-se’, ganhar-se ou perder-se ou ainda nunca ganhar-se ou só ganhar-
se ‘aparentemente’. A pre-sença só pode perder-se ou ainda não se ter ganho
porque, segundo seu modo de ser, ela é uma possibilidade própria, ou seja, é
chamada a apropriar-se de si mesma.
Segundo Heidegger, o ser humano enquanto Dasein, terá sempre o caráter de ser ele mesmo,
ainda que escolha não escolher, fugindo de si mesmo numa impropriedade. Tanto no modo de
ser da propriedade (assumindo sua responsabilidade enquanto existente), quanto no modo de
ser da impropriedade (não assumindo responsabilidade enquanto existente), é o homem em
seu ser que está em jogo. Para o filósofo, é esta condição do homem, a de ter de ser sempre
ele mesmo, que possibilita o modo de ser da propriedade e da impropriedade. O homem existe
como Dasein, portanto, sempre existe num destes dois modos, mesmo quando numa
indiferença para com eles.

O homem é o ente que encontra-se numa condição de sempre ser convocado a si mesmo.
Pode-se afirmar que este é seu “lugar” – o “ethos”. O contexto ético que verifica-se em
Heidegger, portanto, refere-se a uma ética da responsabilidade, do engajamento, de um dar-se
conta do homem diante de si mesmo, do outro e do mundo circundante. A ética em Heidegger
encontra-se inscrita na apreensão da peculiaridade do homem (Dasein). Em comprometer-se
diante de sua própria condição humana, assumindo-a responsavelmente com todas as suas
implicações.

2.2 A Vida Humana como Centro a Tutela Jurídica


Ao lado dos conceitos sobre “paz”, “amor”, “vida” é umas das poucas palavras que também
provocam unanimidade. Ou pelo menos provocavam, até a revolução biotecnológica,
mormente na seara da manipulação genética. “Amor” e “paz”, entretanto, não são conceitos

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capazes de despertar polêmica. Já o conceito sobre o que seja a “vida”, já não se tem mais a
resposta de forma pronta e acabada.

Por mais de dois mil anos, a resposta a essa definição inquietava apenas aos filósofos. Hoje,
porém, a ciência mexeu fundo nesse conceito. Expressões como “proveta” e “manipulação
genética” estão cada vez mais presentes no cotidiano. E a pergunta sobre o que é “vida”, e
quando ela começa, tornou-se uma polêmica que guiará boa parte da sociedade em que se
vive daqui pra diante.

Certo é que a resposta sobre a origem de um indivíduo será decisiva para determinar-se se,
por exemplo, o aborto é crime ou não. E se é ético manipular embriões humanos em busca da
cura para doenças como mal de Alzheimer e deficiências físicas.

O professor de bioética da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Dr. José Roberto
Goldim declara que “ter embriões estocados em laboratório é um evento tão novo e diferente
para a humanidade que ainda não tivemos tempo de amadurecer essa idéia”.

A história da vida, ou saber onde começa a vida, é pergunta tão antiga quanto a arte de
perguntar. Platão (2001) a fez, em seu livro “A República”, onde defendeu a interrupção da
gestação em todas as mulheres que engravidassem após os 40 anos. Esse filósofo tinha a idéia
de que casais deveriam gerar filhos para o Estado durante um determinado período. Mas
quando a mulher chegasse a uma idade avançada, essa função cessava e a indicação era clara:
o aborto.

Então, para Platão, não havia problema ético algum nesse ato, pois acreditava que a alma
entrava no corpo apenas no momento do nascimento. A tolerância ao aborto não significava
que as sociedades clássicas não enfrentavam polêmicas em torno dessa questão. Aristóteles,
contemporâneo e discípulo de Platão, afirmava que o feto tinha vida, e estabelecia até a data
do início: o primeiro movimento no útero materno. No feto do sexo masculino, essa
manifestação aconteceria no 40º dia de gestação. No feminino, apenas no 90º dia.

Aristóteles acreditava que as mulheres eram física e intelectualmente inferiores aos homens e,
por isso, se desenvolviam mais lentamente. Como naquela época não era possível determinar
o sexo do feto, o pensamento aristotélico defendia que o aborto deveria ser permitido apenas
até o 40º dia da gestação. Tal teoria sobreviveu ao cristianismo adentro; foi defendida por
teólogos fundamentais do catolicismo, como São Tomás de Aquino e Santo Agostinho, e
acabou alçada a tese oficial da Igreja para o surgimento da vida.

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Como cientistas e teólogos não conseguiam concordar sobre o momento exato, Pio 9º decidiu
que o correto seria não correr riscos e proteger o ser humano a partir da hipótese mais
precoce, ou seja, a da concepção na união do óvulo com o espermatozóide.

Adorno (1993) escreve que o direito francês antigo e o Código de Napoleão adotaram esse
princípio romano, implicitamente, fazendo com que a personalidade do feto não fosse uma
ficção legal, mas, ao contrário, uma realidade aceita pela lei, que considerava a criança como
existente desde a sua concepção.

A opinião atual do Vaticano sobre o aborto, no entanto, só seria consolidada com a decisão
dos teólogos de que o primeiro instante de vida ocorre no momento da concepção, e que,
portanto, o zigoto deveria ser considerado um ser humano independente de seus pais.

Segundo Dom Cifuentes (2005) “a vida, desde o momento de sua concepção no útero
materno, possui essencialmente o mesmo valor e merece respeito como em qualquer estágio
da existência. É inadmissível a sua interrupção”.

Até séculos atrás, eram apenas as crenças religiosas e hábitos culturais que davam as respostas
a esse debate cheio e possibilidades. Hoje, a ciência tem muito mais a dizer sobre o início da
vida. E, conseqüentemente, o direito vem concomitantemente abrindo uma gama de teses
doutrinárias para dirimir, ou ao menos chegar-se a um conceito sereno para o que seja então o
“início da vida”.

Para Chaves (1994)

Quem poderá definir essa pulsação misteriosa, própria dos organismos


animais e vegetais, que sopita inadvertida nas sementes de trigo encontradas
nos sarcófagos de faraós egípcios e que germina milagrosamente depois de
dois milênios de escuridão, que se oculta na gema de uma roseira que mãos
habilidosas transplantam de uma para outro caule, que lateja, irrompe e
transborda na inflorescência de milhões de espermatozóides que iniciam sua
corrida frenética à procura de um único óvulo, a cada encontro amoroso?

2.3 A Vida e a Dignidade Humana como Objeto do Direito


A legislação de praticamente todas as sociedades, apesar de suas características culturais
próprias, assegura tutela jurídica à proteção da pessoa humana, impondo normas à
sobrevivência física, bem como primando pela sua dignidade. A dignidade da pessoa é um

11
valor ético universal e um dos fundamentos da própria existência de qualquer sociedade
organizada juridicamente.

Direito à existência, ou direito à vida, significa ter o direito de estar vivo, de defender a
própria vida, de permanecer vivo; é o movimento espontâneo contrário ao estado morte. Tanto
é assim, que a própria legislação penal pune todas as formas de interrupção violenta do
processo vital, e se considera legal que um indivíduo defenda sua própria vida contra qualquer
agressão, sendo legítimo até mesmo se chegue, para isso, tirar a vida de outrem, no chamado
“estado de necessidade”.

O Pacto Internacional sobre Direitos Civil e Políticos de 1966, em seu artigo 6º, III, refere-se
ao direito à vida, dispõe que “o direito à vida é inerente à pessoa humana. Este direito deverá
ser protegido pela lei, e ninguém poderá ser arbitrariamente privado de sua vida”.

Nesse enunciado observam-se 3 elementos: 1. que o direito à vida é inerente da pessoa; 2. que
é um direito protegido pela lei; 3. que ninguém poderá ser privado de sua vida de forma
arbitrária.

A vida, portanto, é o direito mais precioso do ser humano, não podendo ser a mesma ceifada
de nenhum homem.

Silva (1999) diz que “houve desejo por parte de comissões constitucionais a inclusão do termo
“direito a uma existência digna”, mas isso traria riscos de que sua significação chegasse a
níveis impróprios, tendo sido, ao final, desprezado”.

Moraes (1999) preleciona ser “o direito a vida o mais fundamental de todos os direitos, já que
se constitui em pré-requisito à existência e exercício de todos os demais direitos”.

Silva (1999) ensina:

[...] a vida humana, objeto do direito assegurado no artigo 5º, caput, integra-se de
elementos materiais (físicos e psíquicos) e imateriais (espirituais); e que a vida é
intimidade conosco mesmo, saber-se e dar-se conta de si mesmo, um assistir a si
mesmo e um tomar posição de si mesmo. Por isso é que ela constitui a fonte
primária de todos os outros bens jurídicos. De nada adiantaria a Constituição
assegurar outros direitos fundamentais, como a igualdade, a intimidade, a
liberdade, o bem estar, se não erigisse a vida humana num desses direitos.”

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Para Azevedo, o princípio jurídico da dignidade, como fundamento da República, exige como
“pressuposto a intangibilidade da vida humana. Sem vida, não há pessoa, e sem pessoa, não
há dignidade”.

Canotilho, trazendo conhecimentos acerca do Direito Constitucional Português, ensina:

[...] a primeira função dos direitos fundamentais – sobretudo dos direitos,


liberdades e garantias – é a defesa da pessoa humana e da sua dignidade
perante os poderes do Estado (e de outros esquemas políticos coactivos). Os
direitos fundamentais cumprem a função de direitos de defesa dos cidadãos
sob uma dupla perspectiva: 1. constituem, num plano jurídico-objectivo,
normas de competência negativa para os poderes públicos, proibindo
fundamentalmente as ingerências destes na esfera jurídica individual; 2.
implicam, num plano jurídico-subjectivo, o poder de exercer positivamente
direitos fundamentais (liberdade positiva) e de exigir omissões dos poderes
públicos, de forma a evitar agressões lesivas por parte dos mesmos (liberdade
negativa).

2.4. A vida como pressuposto dos direitos da personalidade


Todos os direitos da personalidade decorrem da existência, ainda que pretérita, da vida e esta,
por sua vez, deve ser preservada sempre em relação ao seu caráter biológico e também ético.
Assim, o direito à vida é a causa de existência dos demais direitos personalíssimos, dada a sua
importância, concebendo-se que o homem não vive apenas para si, mas para cumprir com
determinada função na sociedade.

Por direitos da personalidade, entende Amaral (1999):


[...] são os direitos que, em sendo direitos subjetivos, conferem ao seu titular
o poder de agir na defesa dos bens ou valores essenciais da personalidade,
que compreendem, no seu aspecto físico o direito à vida e ao próprio corpo,
no aspecto intelectual o direito à liberdade de pensamento, direito de autor e
de inventor, e no aspecto moral o direito à liberdade, à honra, ao recato, ao
segredo, à imagem, à identidade e ainda, o direito de exigir de terceiros o
respeito a esses direitos.

Da mesma forma, conceitua-o Gagliano & Filho (2002): “aqueles que têm por objeto os
atributos físicos, psíquicos e morais da pessoa em si e em suas projeções sociais”.

Szaniawski (1993) afirma que “os bens inerentes à pessoa humana, denominados de direitos
da personalidade são: a vida, a liberdade e a honra, entre outros”.

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Souza1993, inclui também os “direitos especiais de personalidade”, quais sejam: vida,
integridade física, liberdade, honra, bom nome, saúde e repouso; e bens interiores da
personalidade: a vida, a integridade física e a identidade.

A idéia central para disciplinar os direitos da personalidade é a de uma esfera extrapatrimonial


do indivíduo, ou seja, um parâmetro não redutível pecuniariamente, como a vida, a
integridade física, a intimidade, a honra, entre outros. Em outras palavras, direitos subjetivos
que não se podem comprar com dinheiro.

2.5. Diferentes concepções sobre ‘vida’ em audiência no Supremo Tribunal Federal

A maioria dos cristãos defendeu que a vida se origina no momento da concepção, quando o
espermatozoide encontra o óvulo, devendo ser protegido e ter garantido o direito ao
nascimento.

No entanto, também houve manifestações a favor da interrupção da gravidez, como da pastora


luterana Lusmaria Campos Garcia e da socióloga Maria José Rosado, da organização
Católicas pelo Direito de Decidir, que falaram em nome da autonomia feminina. Segundo
elas, além de uma questão religiosa, trata-se de uma realidade que impõe riscos à própria vida
das mulheres, que também merecem ser ouvidas e defendidas.

2.5.1 Cristão ‘pró-vida’

Pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Ricardo Hoerpers e o padre
José Eduardo de Oliveira iniciaram as exposições, reiterando a postura da entidade “em
defesa da integralidade e inviolabilidade da vida”. O primeiro reclamou dos rótulos de
“fanáticos e fundamentalistas”. Já o segundo acusou a audiência de ser “parcial” e
“inconstitucional”, pois, segundo ele, não houve igualdade de tempo e representantes entre os
grupos contra e a favor.

“Onde está o fundamentalismo religioso em aderir aos dados da ciência que comprovam o
início da vida desde a concepção? Onde está o fanatismo em acreditar que todo atentado
contra a vida é um crime? Em dizer que queremos políticas públicas que atendam à saúde das
mães e dos filhos? Por isso, a CNBB reitera sua posição em defesa da vida humana com toda

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a sua integralidade, dignidade, inviolabilidade, desde a sua concepção até a morte natural”,
declarou dom Ricardo.

Para o padre José, nunca houve controvérsia legal sobre o assunto. “A controvérsia foi
artificialmente fabricada no voto do habeas corpus redigido pelo ministro (Luís Roberto)
Barroso, ex-advogado de organizações que defendem a descriminalização do aborto”, acusou
o religioso católico, afirmando também que o STF não pode legislar sobre o assunto e que o
artigo 5º da Constituição “estabelece a inviolabilidade do direito à vida”.

Com base no mesmo princípio, de que a vida começa na fertilização, a médica Sílvia Maria de
Vasconcelos Palmeira Cruz, representando o Conselho Nacional do Laicato do Brasil (CNLB)
na Arquidiocese de Aracaju, comparou o direito ao aborto a uma “sentença de morte”. “Dizer
que avançamos para o grupo de países desenvolvidos é uma tentativa de enganação”, segundo
ela, já que o Brasil teria diferenças culturais e educacionais que impediriam a comparação
com países europeus, por exemplo. “Diferentes técnicas moleculares vêm comprovando a
autonomia do zigoto. Estamos reivindicando uma autonomia, mas queremos retirar a
autonomia deste ser?”, questionou a médica católica.

O pastor Douglas Roberto de Almeida Baptista, falando em nome da Convenção Geral das
Assembleias de Deus, subiu ainda mais o tom e afirmou que os autores e defensores da ADPF
em questão buscavam “autorização legal para matar inocentes no ventre materno”. Ele
também destacou o mesmo artigo 5º da Constituição Federal e dispositivos do Código Civil
que, segundo ele, “põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro”.

2.5.2 Cristãs feministas

Falando em nome do Instituto de Estudos da Religião, a pastora Lusmarina listou argumentos


bíblicos que não se opõem à descriminalização do aborto. Segundo ela, “há séculos, um
cristianismo patriarcalizado é o responsável por penalizar e legitimar a morte de mulheres”,
reproduzindo a misoginia para controlar os corpos femininos.

“As inquisições contra mulheres continuam, mesmo que travestidas com outras faces e
formas. Outrora, foram as fogueiras reais; hoje, as fogueiras simbólicas, mas não menos

15
perversas, que persistem através de um poder religioso que age contra a dignidade das
mulheres, via poder político, e se mantém institucionalmente”, disse Lusmarina, que foi
categórica em afirmar que a bíblia “não condena o aborto”.

“O aborto não é condenado na bíblia, pois não é considerado nem pecado nem crime no
período neotestamentário ou dentro da lei mosaica. Também não há determinação bíblica
acerca de quando a vida começa”. De acordo com a pastora luterana, são apenas duas
menções no Velho Testamento, e apenas uma, ainda mais breve, no Novo Testamento.

Ela destacou que a argumentação religiosa mais importante contra o aborto está baseada no
quinto mandamento. Segundo ela, porém, o “não matarás”, nos tempos bíblicos, já não tinha
aplicação universal. “Esse mandamento não tinha caráter universal, não tinha aplicação
universal. Podia-se matar os estrangeiros, inimigos de Israel e mulheres adúlteras. De maneira
nenhuma, esse mandamento se refere aos embriões.”

Ela também evocou a laicidade do Estado como garantia para as liberdades religiosas. “Um
Estado laico não é um Estado ateu, mas um estado que não confunde os conceitos de crime e
de pecado, e nem se orienta por sanções religiosas. Mulheres, vocês são pessoas amadas,
dignas e livres, para escolher seu presente, decidir o seu futuro, planejar a sua vida e a de sua
família. É essa dignidade que o Estado Brasileiro está chamado a decidir. Às vezes é preciso
decidir contra majoritariamente para produzir a justiça e implementar a paz.

Já a professora em Ciências da Religião da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo


(PUC-SP) Maria José Rosado Nunes, integrante do grupo Católicas pelo Direito de Decidir,
lembrou declarações do papa Francisco, que considera o aborto um pecado, mas disse: “Quem
sou eu para julgar”, e admitiu que os padres oferecessem o perdão às mulheres que abortaram
e se sentiam culpadas. “O que o papa fez foi colocar-se em outro lugar, o do pastor, que não
julga, compreende, perdoa e oferece compaixão.”

Ela também afirmou que o aborto é questão de justiça social e racial. “Não é preciso recorrer
a dados e pesquisas para sabermos que a clandestinidade atinge prioritariamente mulheres
pobres e negras, vítimas de procedimentos inadequados, maus tratos ou mesmo prisão. São

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elas as primeiras vítimas. Em um país de histórico escravocrata e mentalidade racista, esta é
mais uma violência contra a população negra.”

2.5.3 Judeus e muçulmanos

A diversidade de visões sobre o tema também se deu entre os não cristãos representados. Para
o rabino Michel Schlesinger, representante da Confederação Israelita do Brasil (CIB), a
“pergunta crítica” está relacionada a escolher a vida. “Qual vida? De quem? Qual o aspecto da
vida?” Segundo ele, a tradição judaica entende que, durante a gravidez, “não existe vida
completa e autônoma”, sendo diversos os casos em que o aborto é permitido, inclusive até
mesmo durante o parto, se houver riscos para a mãe.

Já o professor Mohsin Ben Mousa Al Hassani, da Federação das Associações Muçulmanas do


Brasil (Fambras), afirmou que o Islã “anda junto com o Cristianismo e ao Judaísmo na
preservação da vida humana”, mas, ainda assim, há diferenças. Segundo ele, de acordo com a
jurisprudência islâmica, até o 6º dia o embrião não é considerado vida, mas apenas uma
“mistura de água e sangue”, permitindo portanto o aborto. Depois disso, até as primeiras
semanas, a prática só é aceita se a gestação for em decorrência de estupro e , após os
primeiros quatro meses, só em caso de risco de vida para a mãe.

2.6 A responsabilidade humana e a soberania de Deus


2.6.1. O Sentido da Soberania de Deus
A soberania absoluta de Deus quer dizer o mesmo que Paulo afirma em Efésios 1:11, onde ele
fala de Deus como de um que “faz todas as coisas segundo o conselho de Sua vontade?. Isto
ensina o mesmo que a Confissão de Fé de Filadélfia, quando diz: !Deus decretou nEle mesmo,
desde toda a eternidade, pelo mais sábio e santo de Sua própria vontade, livre e
imutavelmente, todas as coisas quantas venham a passar”. Outras passagens que ensinam a
soberania absoluta de Deus são como segue:

“Quem não entende por todas estas coisas que a mão do Senhor faz isto? Em cuja mão está a
alma de tudo quanto vive e o fôlego de toda a carne humana.” (Jó 12:9,10).

“Jeová estabeleceu o Seu trono nos céus e o Seu reino domina sobre tudo” (Salmos 103:19).

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“Tudo quanto o Senhor quis, fez, nos céus e na terra, nos mares e em todos os abismos”
(Salmos 135:6).

“Quem é aquele que diz e assim acontece, quando o Senhor o não mande. Porventura da boca
do Altíssimo não sai o mal e o bem?” (Lamentações 3:37,38).

“Formo a luz e crio as trevas; faço a paz e crio o mal; eu, o Senhor, faço todas estas coisas”
(Isaías 45:7).

“Sou Deus e não há outro como Eu, que anuncio as coisas desde o princípio e desde a
antiguidade as coisas que ainda não sucederam; que digo: O meu conselho será firme e farei
toda a minha vontade” (Isaías 46:9,10).

“Todos os senhores da terra são tidos como nada e, segundo a Sua vontade, faz com o exercito
do céu e os moradores da terra; não há quem lhe possa estorvar a mão e lhe diga: Que fazes?”
(Daniel 4:35).

“Naquele tempo, respondendo Jesus, disse: !Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra,
que ocultaste estas coisas aos sábios e inteligentes e as revelaste aos meninos” (Mateus
11:25).

“Respondeu-lhe Jesus: Não terias tu nenhum poder contra mim, se do céu não te fora dado”
(João 19:11).

“Compadecer-me-ei de quem me compadecer e terei misericórdia de quem eu tiver


misericórdia, de sorte que não é do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se
compadece; porque diz a Escritura a faraó: !Para isto mesmo te constituí, para em ti mostrar o
meu poder e para que o meu nome seja anunciado em toda a terra. De sorte que se compadece
de quem quer e endurece a quem quer” (Romanos 9:15-18).

2.6.2. Porque o Homem é responsável?


A pergunta é, então, como pode o homem ser responsável por suas ações quando tudo que ele
faz foi ordenado e decretado por Deus? Não é isto uma pergunta nova: é no mínimo tão velha
como o Novo Testamento e, provavelmente, mais velha. Paulo antecipou esta pergunta aos
seus leitores quando ele escreveu o admirável capítulo nono de Romanos. Disse ele: “Dir-me-
ás então: Porque se queixa ele ainda? Porquanto, quem resiste a sua vontade?” E a resposta de
Paulo foi: “Mas antes, ó homem, quem es tu que contestas contra Deus? Porventura a coisa
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formada dirá ao que a formou: Porque me fizeste assim? Ou não tem o oleiro poder sobre o
barro, para da mesma massa fazer um vaso para honra e outro para desonra?” Paulo, bem se
vê, ao mencionar esta pergunta e sua resposta, mostra, conclusivamente, que ensinou a
soberania absoluta de Deus. Na verdade, as suas palavras precedentes ensinam, claramente,
isso. Paulo deu a resposta que deu porque antecipou a pergunta como vinda de um objetor.
Quando ela vem como de um reverente inquiridor, ela merece consideração mais minuciosa.
A resposta de Paulo teve de ser mais breve porque o seu tempo e propósito não permitiram
uma discussão mais longa. O nosso tempo permite e o nosso fim requer uma discussão mais
completa.

O homem é responsável por suas ações, não obstante o fato que Deus decretou tudo quanto
venha a passar, ao menos por três razões:

2.6.2.1. O Decreto de Deus concernente ao pecado

Deus decretou que o pecado viesse ao mundo, por motivos que são inteiramente conhecidos
somente dEle, mas Ele decretou que o pecado viesse pela própria livre escolha do homem.
Deus não compele o homem a pecar, mas permite-o. O homem, e não Deus, é a causa
eficiente do pecado e por essa razão o homem é responsável.

Antes de passar adiante, é preciso ser observado que nenhumas objeções podem ser trazidas
contra a afirmação que Deus decretou o pecado viesse ao mundo que não possa ser trazida
contra a permissão atual do pecado por Deus, a menos que o objetor assuma a posição que
Deus foi impotente para impedir a entrada do pecado. Isto seria uma negação da onipotência e
soberania de Deus e renderia o objetor indigno de consideração aqui. A onipotência e
soberania de Deus nos ensinam que o que quer que Deus o permita Ele o permite porque Ele
quer fazer assim. E desde que Deus é imutável, sua vontade tem sido sempre a mesma: o que
Ele quer em qualquer tempo Ele tem querido desde toda a eternidade. Portanto, Sua vontade
iguala ao Seu propósito e o Seu propósito iguala ao Seu decreto.

2.6.2.2. A Lei de Deus e não o seu Decreto Fixa o dever e a Responsabilidade do Homem.
A Lei de Deus é o guia e o padrão do homem. Isto é à vontade revelada de Deus. O decreto de
Deus é a Sua vontade secreta. O homem nada tem a fazer com isto, exceto saber e reconhecer
os fatos concernentes. “As coisas secretas pertencem as Jeová, nosso Deus, mas as reveladas a
19
nós pertencem e aos nossos filhos para sempre, para que façamos todas as palavras desta Lei”
(Deuteronômio 29:29).

2.6.2.3. O motivo antes de o Homem pecar fá-lo Responsável.


Porque o homem peca? É porque ele quer, porventura, fazer a vontade de Deus? Não, nunca
assim. Porque os homens crucificaram a Cristo? Porque creram que Deus O mandará para
morrer como uma porta-pecado? Não. Foi porque eles O odiaram. Crucificaram-O através de
motivos ímpios. É assim sempre que o homem peca. O pecado procede do amor do homem as
trevas (João 3:19).

2.6.3. A Responsabilidade Humana e a Inabilidade Espiritual do Homem


Uma outra pergunta concernente a responsabilidade do homem é: Como pode o homem ser
responsável por não obedecer inteiramente à Lei de Deus e por não receber o Evangelho,
quando o ouve, se ele por natureza não pode fazer ambas as coisas? Para prova da inabilidade
espiritual do homem vide os capítulos sobre Pecado e Conversão.

A resposta a esta pergunta é que o homem pode ser responsável pelo que ele não pode fazer
somente na suposição de ele ser culpado por sua inabilidade. E é um fato que o homem é
culpado por sua inabilidade espiritual. Não é que ele, individualmente, por seu próprio ato
pessoal, deu origem à inabilidade, porque ele nasceu com ela; mas todo homem pecou em
Adão e assim deu origem à sua inabilidade espiritual. Que todo homem pecou em Adão é o
verdadeiro ensino de Romanos 5:12: “Portanto, assim como por um homem entrou o pecado
no mundo, pelo pecado a morte, assim a morte passou a todos os homens porque TODOS
PECARAM”. “Pecaram” no grego está no aoristo, o qual expressa ação passada distinta. A
passagem fá-lo referir-se à participação de todos os homens no pecado de Adão.

Mas, como participamos no pecado de Adão quando não estávamos nascidos quando ele
pecou? Pensamos que não podemos fazer melhor do que dar em resposta as seguintes palavras
de A. H. Strong: “Deus imputa o pecado de Adão imediatamente a toda a sua posteridade em
virtude daquela unidade orgânica da espécie humana pela qual a raça toda existiu ao tempo da
transgressão de Adão, não individualmente senão seminalmente, nele como seu cabeça. A
vida total da humanidade estava então em Adão; a raça por enquanto tinha o seu ser somente
nele. Sua essência ainda não estava individualizada; suas forças ainda não estavam
distribuídas; as faculdades que agora existem em homens separados estiveram então

20
unificadas e localizadas em Adão; a vontade de Adão foi entrementes a vontade da espécie.
No ato livre de Adão a vontade da raça revoltou-se contra Deus e a natureza da raça
corrompeu-se. A natureza que possuímos agora é a mesma natureza que se corrompeu em
Adão; não a mesma meramente em qualidade senão a mesma fluindo para nós continuamente
dele. O pecado de Adão nos é imputado imediatamente; logo, não como algo a nós estranho,
mas porque é de nós, nós e todos outros homens tendo existido como uma pessoa moral, ou
um todo moral, nele, e como o resultado daquela transgressão, possuindo uma natureza
destituída de amor a Deus e inclinada ao mal” (Systematic Theology, pág. 328).

2.6.4. A Responsabilidade Humana dependendo do conhecimento


Preciso é ficar acentuado que o homem é responsável somente enquanto ele conhece ou tem
dentro do seu alcance o conhecimento do que é justo. O pagão é responsável de reconhecer a
Deus porque, e somente porque, “o que de Deus se pode conhecer nele esta manifesto; porque
Deus lho manifestou. Porque as Suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o Seu
eterno poder, como a Sua divindade, se entendem e claramente se vêem pelas coisas que estão
criadas, para que fiquem inescusáveis” (Romanos 1:19,20). Quanto a atos de conduta externa,
o pagão é responsável somente pela violação de tais princípios de justiça como sua própria
consciência reconhece. !Todos quantos sem Lei pecaram, sem Lei também perecerão?, isto é,
aqueles a quem a Lei escrita de Deus não se fez conhecida perecerão, mas não perecerão pela
condenação da Lei escrita. Como então serão julgados? Os versos que seguem a citação supra
mostram que serão julgados pelo seu propósito paradigma de justiça; não serão acusados de
transgressões, exceto aquelas contra sua própria consciência. Vide Romanos 2:12-15.

Do acima é evidente que os pagãos não serão acusados do pecado de incredulidade ou


rejeição do Evangelho; todavia perecerão. Mostra isto que é o pecado em geral que condena
primariamente. A rejeição do Evangelho não traz condenação ao homem: ela somente a
manifesta e aumenta a penalidade que será infringida por causa dela.

O fato de a responsabilidade humana depender do conhecimento explica porque serão salvos


as criancinhas agonizantes e os imbecis natos: estão uns e outros mentalmente cegos aos
princípios da justiça e, portanto, não são responsáveis. Esta é a espécie de cegueira que os
fariseus pensaram ter Jesus dado a entender em João 9:39. E Jesus, percebendo os
pensamentos dos seus corações, disse-lhes: !Se fosseis cegos (no sentido que tendes em
mentes), não teríeis pecado? (João 9:41). Só há três espécies de cegueiras: física, mental e
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espiritual. Os fariseus não suposeram, certamente, que Jesus quis dizer que estavam
fisicamente cegos e, certamente, Cristo não quis dizer na sua resposta que eles não estavam
espiritualmente cegos. Vide João 12:37-40; 2 Cor. 4:3,4. Jesus podia ter querido dizer apenas
uma coisa e essa é que, se estivesse mentalmente cegos, não teriam pecado. As crianças e os
imbecis são mentalmente cegos, como já se disse, e não são, portanto, responsáveis por sua
conduta. É por esta razão que cremos que serão salvos pelo sangue de Cristo sem o exercício
da fé no corpo. Contudo, desde que têm uma natureza pecaminosa, devemos crer que lhes será
necessário ser regenerados e trazidos assim à fé em Cristo. A Bíblia fá-lo claro que isto é
necessário antes que alguém se ajuste à presença de Deus, mas ela não nos diz quando terá
lugar com referência as crianças e aos imbecis. Somos da opinião que terá lugar na hora de
separação entre espírito e corpo na morte.

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3. CONCLUSÃO

A vida humana é o maior talento que Deus concedeu ao homem. A vida não é simplesmente o
viver um dia após o outro. A vida é muito mais do que isso! A vida humana é sagrada e
inviolável em todas as suas fases e situações. A vida é um bem indivisível. A vida humana faz
parte de um plano divino. Deus Pai preparou um plano maravilhoso para a vida de cada
pessoa criada e deseja que ela seja feliz. A vida humana tem muita importância para Deus. É
em Deus que o ser humano encontra o sentido da sua vida. Quando nos damos conta de que
Deus tem um plano para nós, entendemos o motivo de vivermos. Deus quer que todos os seus
filhos progridam e se tornem mais semelhantes a Ele. O tempo que passamos na Terra dá-nos
a oportunidade de desenvolver-nos e progredir. Este talento precisa dar muitos frutos, não
pode ser enterrado. A vida do homem encerra uma infinidade de graças, de potencialidades. A
partir dela o homem pode desenvolver-se, crescer, experimentar as suas capacidades,
contribuir para o crescimento da humanidade e do mundo.

Receber a vida de Deus, é receber um corpo e uma alma, utilizar o livre arbítrio para escolher
entre o bem e o mal, ter a capacidade de tornar-se mais semelhante ao Pai e colaborar com o
desenvolvimento dos nossos irmãos; do cuidar do outro enquanto pessoa confiada por Deus à
sua responsabilidade.

A vida humana tem em si mesma uma valor inestimável. A vida humana é sempre um bem,
mas infelizmente a maioria das pessoas não consegue reconhecê-lo. É imprescindível, para
que o homem conduza de forma correta, sua vida e a daqueles por quem é responsável,
conhecer o valor da vida humana. As ameaças que hoje a vida humana está sujeita acontecem
pelo fato de o homem não saber quem é, nem para que foi criado e qual o sentido de sua vida.
Existem alguns aspectos importantes que revelam a grandeza e o valor precioso da vida
humana. Entre eles estão o fato de que a vida humana é um dom de Deus, de que o ser
humano foi criado à imagem e semelhança de Deus, de que Jesus assumiu a vida humana e de
que a vida humana é o alvo da misericórdia de Deus.

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