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INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA DE MOCAMBIQUE

Escola Superior de Direito

(Teoria Geral do Direito Cívil II)

NEGÓCIO JURÍDICO

Docentes: Mestre Gil Cambule e Dr Álvaro Duarte.

MAPUTO

2021
INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA EM MOÇAMBIQUE
Escola Superior de Direito

NEGÓCIO JURÍDICO

Trabalho científico apresentado á ISCTEM,

para curso de Direito, em Teoria Geral do Direito Cívil II.

Nome dos discentes: Adiana Matlombe – 20190394;

 Análcia Salatiel – 20180884;


 Lutina Manjate – 20190398;
 Nércia Parruque – 20191055;
 Reagan Miguel – 20190349;
 Shelsia Munguambe – 20170141.

MAPUTO

2021
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..........................................................................................................................4
CAPÍTULO I...................................................................................................................5
NEGÓCIO JURÍDICO ..................................................................................................5
1.Conceito...................................................................................................................................5
2.Classificação dos negócios jurídicos.......................................................................................5
2.1.1Negócios jurídicos unilaterais........................................................................................6
2.1.2 Negócios jurídicos bilaterais.........................................................................................6
3. Negócios inter vivos e negócios mortis causa.........................................................................6
4.Negócios consensuais ou não solenes e negócios formais ou solenes........................7
4.1Negócios consensuais ou não solenes................................................................................7
4.2Negócios formais ou solenes..............................................................................................7
5.Negócios reais..........................................................................................................................7
6.Negócios patrimoniais e negócios pessoais.............................................................................7
7.Manifestação do negócio jurídico no Direito moçambicano................................................9
CONCLUSÃO..........................................................................................................................10
BIBLIOGRAFIA......................................................................................................................11
INTRODUÇÃO

… “Negócio jurídico”, este é o tema abordado no presente trabalho.

Em virtude do tema, numerosos são os aspectos aqui versados , a saber : o conceito de


negócio jurídico, a classificação, e a manifestação do negócio jurídico no Direito
moçambicano.

Em primeiro lugar, abordamos o conceito de negócio jurídico, figura de relevante


referência no Direito Civil, é entendido como uma relação jurídica, constituída por uma
ou mais declarações de vontade, dirigida à realização de certos efeitos práticos.

Em segundo lugar, abordamos as classificações do negócio jurídico. Embora sejam


várias, o grupo preferiu abordar as que fazem parte do plano temático. O negócio
jurídico apresenta diversidades quanto ao seu fim e conteúdo, pode ser gratuito ou
oneroso, inter vivos ou mortes causa, formais ou solenes, entre outros “quod postea
videbimus”.

Em terceiro lugar, versamos sobre a manifestação do negócio jurídico no Direito


moçambicano, quais são os pressupostos para celebração de um negócio jurídico, a
capacidade para celebração de um negócio jurídico, o que a lei prevê em casos de
ilicitude, entre outros, fundamentando-nos com base legal.

Destarte, para a melhor compreensão, ilustramos exemplos em cada subtítulo abordado


neste trabalho.

METODOLOGIA

A metodologia aplicada no presente trabalho é baseada nos métodos técnico-científicos


e procedimentos utilizados no Direito no livro do Prof. Doutor Gilles Cistac, intitulado
“Curso de Metodologia Jurídica”.

Boa leitura!

3
CAPÍTULO I

NEGÓCIO JURÍDICO .
1.Conceito
Os Negócios jurídicos são actos jurídicos constituídos por uma ou mais declarações de
vontade, dirigidas à realização de certos efeitos práticos, com intenção de os alcançar
sob tutela do direito, determinado o ordenamento jurídico produção dos efeitos jurídicos
conformes à intenção manifestada pelo declarante ou declarantes.1

Podemos conceituar, ainda, objetivamente, como sendo facto voluntário, cujo núcleo
essencial é integrado por uma ou mais declarações de vontade, a que o ordenamento
jurídico atribui efeitos jurídicos concordantes, com o conteúdo das partes.

Facto jurídico (lato sensu) – Facto jurídico voluntário ou ato humano – ato jurídico
(lato sensu) – lícito – negócio jurídico.

A sequência supra, representa o corolário da existência do negócio jurídico, como


conceituamos, o negócio jurídico é um facto jurídico, pois, é um ato humano relevante,
esta relevância traduz-se na produção de efeitos jurídicos, obrigações, deveres,
direitos, etc.

A ordem pública propõe que os negócios jurídicos sejam lícitos.

2.Classificação dos negócios jurídicos

A doutrina apresenta diversas classifições do negócio jurídico, no entanto,


apresentaremos aqui as que se configuram mais importantes. Ora vejamos2:
a) Negócios unilaterais e negócios bilaterais; b) Negócios inter vivos e negócios mortis
causa; c) Negócios consensuais (não formais/não solenes) e negócios não consensuais;
(formais/solenes); d) Negócios reais; e) Negócios patrimoniais e negócios pessoais; f)
Negócios onerosos e negócios gratuitos; g) Negócios de mera administração e negócios
de disposição.

2.1. Negócios jurídicos unilaterais e negócios jurídicos bilaterais.

1
PINTO, Carlos Alberto da Mota, Teoria Geral do Direito Civil, 4ª edição: Coimbra Editora, 2005, p.379.
2
A classificação aqui apresentada é a que consta do plano temático da disciplina de Teoria Geral do
Direito civil para o ano letivo de 202 A 0 do ISCTEM.

4
De acordo com prof. Mota Pinto, o critério que está por detrás dessa classifição
tem a ver com o número e modo de articulação das declarações integradoras do
negócio3.

2.1.1Negócios jurídicos unilaterais

Nos negócios unilaterais, há uma declaração de vontade ou várias declarações,


mas paralelas formando um só grupo4, ou seja, só há um lado ou uma parte, constituída
apenas pelos declarantes. Exemplo: Doação (vide o artigo 940 do Código civil);
testamento (vide o artigo 2179 do Código civil); ou a renúncia a prescrição (vide o
artigo 302 do Código civil).

2.1.2 Negócios jurídicos bilaterais

Nos negócios bilaterais, há duas ou mais declarações de vontade, de conteúdo


oposto, mas convergentes, ajustando-se na sua comum pretensão de reduzir resultado
jurídico unitário, embora com um significado para cada parte. Exemplos: Compra e
venda (vide o artigo 874 do Código civil); contrato de trabalho (vide o artigo 1502 do
Código civil).

3. Negócios inter vivos e negócios mortis causa

Os negócios jurídicos inter vivos são aqueles que produzem efeitos em vida das
partes, entre os vivos5. Exemplo: Os contratos em geral são realizados para que seus
efeitos sejam produzidos dessa maneira.6

Nos negócios jurídicos mortis causa os efeitos somente ocorrerão após o


falecimento de alguma das partes envolvidas. Exemplo: o testamento, que só produzirá
efeitos após o falecimento do testador.

3
PINTO, Carlos Alberto da Mota, op. cit., p.385.
4
Ibidem. p.386.
5
PINTO, Carlos Alberto da Mota, et al. op. cit., p.389.
6
CASTRO, Paulo Roberto Ciola de. Direito Civil-Negócio jurídico.2018. Londrina : Editora e Distribuidora
Educacional S.A. p. 16

5
4.Negócios consensuais ou não solenes e negócios formais ou solenes.
4.1Negócios consensuais ou não solenes.

Os negócios jurídicos consensuais ou não solenes são aqueles que podem ser
celebrados por quaisquer meios declarativos aptos a exteriorizar a vontade negocial, a
lei não exige uma forma7. Torna-se importante destacar que no nosso direito como regra
geral os negócios jurídicos são consensuais, de acordo com o artº 219º do CC (Princípio
da liberdade declarativa ou liberdade de forma).

4.2Negócios formais ou solenes

Os negocios formais ou solenes são aqueles que dependem de alguma


formalidade prevista em lei, como essencial para sua concretização. Exemplo: O
testamento, para ser válido, deve estar revestido de formalidades ou solenidades
previstas em lei.8

5.Negócios reais

Os negócios reais são aqueles em que, para o acto ficar perfeito, além de uma
manifestação de vontade das partes, formal ou não, se exige a prática de um acto de
entrega da coisa que é objecto do negócio 9. Essa entrega materia da coisa diz-se
tradição. Desse modo, nesses negócios a perfeição depende, além da declaração, da
tradição da coisa que nele é objecto. Exemplo: depósito (vide o artigo 1185 do Código
civil), mútuo (vide o artigo 1142 do Código civil).

6.Negócios patrimoniais e negócios pessoais

Os negócios jurídicos pessoais são negócios cuja disciplina não tem que atender à
disciplina dos declaratários e aos interesses gerais da contratação, mas apenas à vontade
real, psicológica do declarante.Isto é, não há vontade real da parte, não há liberdade
contratual. Exemplo: casamento (veja-se o artigo 7 da Lei n.º 10/2004, de 25 de
Agosto).

7
Os negócios consensuais firmam-se com simples acordo de vontades.
8
CASTRO, Paulo Roberto Ciola de. op.cit. p. 16.
9
FERNANDES, Luís A, teoria geral do direito civil, V. II, parte II. pag. 206

6
7.Negócios onerosos e negócios gratuitos

A distinção dos negócios jurídicos em onerosos e gratuitos tem como critério o


conteúdo e finalidade do negócio nos termos que a seguir se evidenciam10.

Nos negócios onerosos as partes combinam o pagamento, que comumente


ocorre em dinheiro. Exemplo: um contrato de compra e venda, no qual o vendedor se
compromete a entregar algo (prestação) e o comprador se compromete a pagar um valor
(contraprestação). Exemplo: um contrato de compra e venda, no qual o vendedor se
compromete a entregar algo (prestação) e o comprador se compromete a pagar um valor
(contraprestação).

Nos negócios gratuitos as partes não pactuam qualquer espécie de pagamento


pela prestação realizada. Exemplo: doação pura, na qual o doador nada exige em troca
da parte que receberá o benefício.

8.Negócios de mera administração e negócios de disposição

A utilidade da distinção, está relacionada com a restrição por força da lei ou


sentença, dos seus poderes de gestão patrimonial dos administradores de bens alheios,
ou de bens próprios e alheios, ou até nalguns casos (inabilitação), de bens próprios, aos
actos de mera administração ou de ordinário administração11.

Os actos de mera administração ou de ordinária administração, são os


correspondentes a uma gestão comedida e limitada, donde estão afastados os actos
arriscados, susceptíveis de proporcionar grandes lucros, mas também de causar
prejuízos elevados. São os actos correspondentes a uma actuação prudente, dirigida a
manter o património e aproveitar as sua virtualidades normais de desenvolvimento,
“mas alheia à tentação dos grandes voos que comportam risco de grandes quedas12”.

Exemplo: A e B, celebraram contrato de locação (arrendamento) de uma casa


localizada no bairro da polana caniço, na qual ficou acordado que B tem o direito de
morar na casa A, durante dois anos. Não pode B sem autorização de A efectuar
modificações da casa. (art. 1024 do Código civil).

10
PINTO, Carlos Alberto da Mota, op. cit.,399.
11
PINTO, Carlos Alberto da Mota, op. cit.,p. 406.
12
Ibidem. p.407-8.

7
Ao invés, actos de disposição são os que, dizendo respeito à gestão do
património administrado, afectam a sua substância, alteram a forma ou a composição do
capital administrados, atingem o fundo, a raiz, o casco dos bens. São actos que
ultrapassam aqueles parâmetros de actuação correspondente a uma gestão de prudência
e comedimento sem riscos13.

Exemplo: É o caso de Z que decidiu doar a sua viatura de marca toyota-runex


ao seu melhor amigo X. Nada impede esse negócio na medida em que Z tem plena
disposição sobre a viatura.

7.Manifestação do negócio jurídico no Direito moçambicano

No ordenamento jurídico moçambicano, a figura “negócio jurídico”, é versada no


Código Civil.Vide o artigo 217 ao artigo 294.
Para Pablo Stolze, negócio jurídico “é a declaração de vontade, emitida em obediência
aos seus pressupostos de existência, validade e eficácia, com o propósito de produzir
efeitos admitidos pelo ordenamento jurídico pretendidos pelo agente.”
Ora, a partir desta definição, podemos discernir que, no âmbito do negócio jurídico
existem pressupostos, exigências, e requisitos que devem ser seguidos para
celebração de um negócio jurídico. Moçambique não foge a regra, aplicando diretrizes
para celebração de um negócio jurídico válido, é o exemplo da capacidade jurídica,
existência de vontade da/s parte/s, observância de forma legal “quando prevista em lei”,
entre outros. 

Os requisitos legais do objecto negocial são formulados no artigo 280 do Código civil,


das quais, possibilidade física ou legal, determinável, lícito, conforme com a ordem
pública, conforme os bons costumes.  
Isto é , para a existência de um negócio jurídico, é necessário que haja declaração da/s
parte/s, pois, sem declaração, não há negócio jurídico. O artigo 217 versa sobre os tipos
de declaração, a saber, declaração expressa e declaração tácita. 

Quanto a forma, o legislador cedeu aos que celebram o negócio a liberdade de forma, ou
seja, é permitido aos interessados fixarem livremente o conteúdo do negócio, embora
dentro dos trâmites legais. 
Por exemplo: se um empresário necessita de alguém para exercer a administração de sua
empresa enquanto está ausente, mas possui empregados muito resistentes à autoridade
de um mandatário, pode haver a celebração de uma compra e venda resolúvel da
sociedade que tem por escopo a mera transferência dos poderes de administração (ao
invés de celebração de contrato de mandato).

13
PINTO, Carlos Alberto da Mota, op. cit., p.408.

8
Existem também pressupostos para a realização do negócio jurídico: capacidade
jurídica. Segundo o artigo 130 do Código civil, o que tem 21 anos adquire capacidade
plena de exercícios de direitos, ficando habilitado a reger a sua pessoa e a dispor dos
seus bens. Os incapazes também podem realizar o negócio jurídico, desde que estejam
devidamente representados ou assistidos. 
Resumindo, para que o negócio jurídico tenha validade deve seer firmado por agente
capaz:
• Pessoa que tenha no mínimo 21 anos, com capacidade plena;
• Pessoa absolutamente incapaz, devidamente representada;
• Pessoa relativamente incapaz, assistida pelo seu assistente;
• Pessoa jurídica.

CONCLUSÃO

Em virtude do que foi acima mencionado, conclui-se que , os negócios juridicos


são actos juridicos que visam a produção de efeitos jurídicos. A sua importância
manifesta-se na circunstância de esta figura ser um meio de auto ordenação das relações
jurídicas de cada sujeito de direito. Está-se perante o instrumento principal de realização
do princípio da autonomia da vontade ou autonomia privada.

Há alguns casos em que os efeitos do negócio não se produzem


instantaneamente, produzem em momentos diversos. Cada tipo negocial tem as suas
modalidades de produção de efeitos.

Desse modo, percebe-se que o negócio jurídico constitui o acto de estrutura


complexa exigindo um estudo mais apurado do seu regime que, como é óbvio, não
esgota com o estudo aqui apresentado.

De outro lado, pela sua complexidade, os negócios jurídicos apresentam diversas


classificações, que evidenciam as multiplas manifestações na ordem juridica
moçambicana em concreto.

9
BIBLIOGRAFIA

1.Obras de referência

 FERNANDES, Luís A, teoria geral do direito civil, V. II, parte II.

 PINTO, Carlos Alberto da Mota, Teoria Geral do Direito Civil, 4ª edição:


Coimbra Editora, 2005.

 CASTRO, Paulo Roberto Ciola de. Direito Civil-Negócio


jurídico.2018. Londrina : Editora e Distribuidora Educacional S.A.

2.Legislação

 Código Civil.

 Lei n.º 23/2019 de 23 de Dezembro

 Lei n.º 10/2004, de 25 de Agosto.

10

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