Você está na página 1de 11

Rev Bras Anestesiol

1996; 46: 4: 302 - 312

Artigo de Revisão
Hipertermia Malígna*
Fernando Bueno Pereira Leitão, TSA 1; Thais Orrico de Brito Cançado 2

Leitão FBP, Cançado TOB - Malignant Hyperthermia

KEY WORDS: COMPLICATIONS: malignant hyperthermia

ipertermia malígna (HM) é uma síndrome zação e ao tratamento instituído de forma rápida
caracterizada por taquicardia, febre, rigidez e adequada 7.
muscular, taquipnéia, cianose e outros sinais de A síndrome foi descrita inicialmente na
estado hipermetabólico 1. O conceito acima foi Austrália, por Denborough e Lowell em 1960 8.
formulado a partir de estudos em famílias Era um jovem de vinte e um anos com fratura de
suscetíveis, determinando-se uma causa geneti- membro inferior, que estava mais preocupado
camente induzida para a síndrome 2. com a anestesia do que com a cirurgia pois,
A HM apresenta-se sob formas desde 1922, dez de seus parentes haviam mor-
variadas 3, podendo ter início agudo e fulmi- rido durante ou após a anestesia. Pensou-se em
nante ou se instalar insidiosamente 1. Pode ocor- uma causa geneticamente herdada 9-10 e não
rer no curso da primeira anestesia de um simplesmente uma decorrência de fatores ambi-
paciente suscetível; porém, em um terço dos entais 11-14. Aventou-se mecanismo genético,
casos ocorre nas anestesias subseqüentes 4. mediado por gene autossômico dominante sim-
Geralmente, a síndrome inicia-se pela ples, não ligado ao sexo, com penetrância redu-
exposição a agentes anestésicos variados 4, em zida e expressividade variável 4 . Alguns autores
pacientes cuja suscetibilidade não fora previa- acreditam que a síndrome não se ajusta a um
mente reconhecida 1. Os sinais podem aparecer sistema genético conhecido 10. Posteriormente
precocemente, logo após o início da anestesia, outros casos foram descritos em Winsconsin 15
ou podem aparecer na sala de recuperação pós e Toronto 9,16-18 .
anestésica, numa fase mais tardia 5,6. Em 1970 foram detectados níveis altera-
A taxa de mortalidade vem declinando dos de creatinofosfoquinase em indivíduos
devido ao reconhecimento de formas menos suscetíveis à HM 19 e identificadas respostas
graves, ao diagnóstico precoce pela monitori- contráteis anormais em músculos esqueléticos
su bm et i dos a es tí mu l os c om h al ota no e
* Trabalho realizado na Disciplina de Anestesiologia da Faculdade cafeína 20-23.
de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Em 1953, Ludvigsen descreveu a Sín-
1 Professor Associado de Anestesiologia da FMUSP
2 Ex-ME2 da Divisão de Anestesiologia do Hospital das Clínicas da drome do Estresse Porcino 24-27, onde qualquer
FMUSP situação de estresse a que os porcos suscetíveis
eram submetidos gerava uma síndrome de
Correspondência para Fernando Bueno Pereira Leitão
hipermetabolismo, resultando em morte dos ani-
Rua Horácio Berlinck 71 - Butantã
05505-040 São Paulo SP
mais ou carne inapropriada para o consumo 28
e que depois veio a ser considerada como
Apresentado em 28 de março de 1995 modelo porcino da HM.
Aceito para publicação em 14 de novembro de 1995 Em 1966, Hall descreveu HM induzida
por halotano e succinilcolina, também no
© 1996, Sociedade Brasileira de Anestesiologia porco 29. O modelo animal contribuiu para inves-

302 Revista Brasileira de Anestesiologia


Vol. 46 : Nº 4, Julho - Agosto, 1996
LEITÃO E CANÇADO

tigação da fisiopatologia da doença, apontando nóstico tardio por falta de monitorização mais
o músculo esquelético como o local da lesão e sofisticada (capnografia e teletermometria) e
auxiliou nas primeiras tentativas de tratamento tratamento retardado por não ser pronta e sufi-
com procaína, em 1971 30 e dantrolene, em ciente a disponibilidade do dantrolene 42.
1975 30. A partir de 1974, algumas desordens
musculares começaram a ser relacionadas com
HM 31. No entanto, as evidências de tal asso- Epidemiologia
ciação direta são insuficientes e conflitantes 32.
Ainda como causa desencadeante da A HM foi descrita em todos os grupos
HM, diversos agentes anestésicos e drogas étnicos 28,43-45. Antes da puberdade, crianças
foram citados: enflurano, isoflurano, cálcio, do sexo feminino e masculino são afetadas
digoxina, teofilina, anestésicos locais, blo- igualmente; após esta fase, os indivíduos do
q u e a d o r e s n e u r o mu s c u l a re s e óx i do n i- sexo masculino são mais acometidos 4,37. A
troso 1, 3,33-35. Na tentativa do reconhecimento incidência varia com a idade, mas as razões para
dos indivíduos suscetíveis, surgiram testes labo- isso não estão devidamente esclarecidas, talvez
ratoriais complexos, por meio de biópsia muscu- devido ao tipo de anestesia utilizada em diferen-
lar, para avaliação de sua sensibilidade a tes faixas etárias. Em crianças, ela é de 1:7.000
diversas drogas, como a cafeína, halotano, iso- a 1:14.000 anestesias. A grande maioria dos
lados ou em associação, potássio e succinil- casos está compreendida na faixa etária entre 3
colina. Uma tentativa de padronização dos e 30 anos 1, embora tenham sido descritos casos
testes para comparação dos resultados obtidos em idades extremas: 2 meses 4 e 78 anos 4.
em diferentes centros foi apontada pelo Grupo Estudos sobre a incidência da síndrome
Europeu da Hipertermia Malígna, em 1983. foram reportados em diversas partes do mundo.
Recentemente, um receptor específico A s e s t a t í s t i c a s d a Di n a m a r c a m e r e c e m
para a rianodina (alcalóide da Ryania speciosa) destaque 46. Entre os anos de 1978 e 1984, a
foi localizado no músculo esquelético 36, sendo fo rma ful mi nant e ne ste p aís oc orreu e m
considerado de importância no estudo da etiopa- 1:250.000 procedimentos anestésicos. Quando
togenia da HM, uma vez que integraria os pro- anestésicos inalatórios potentes foram usados
cessos iônicos relacionados ao cálcio. em associação com succinilcolina, a incidência
Na literatura nacional foram apresen- se elevou para 1:62.000 procedimentos 46.
tadas cuidadosas revisões sobre HM, em 1978 Espasmos do músculo masseter ocorreu em
e em 1984 37-38 respectivamente, quando até 1:12.000 procedimentos quando a succinilcolina
então apenas quatro trabalhos haviam sido pu- foi usada.
blicados. O primeiro caso descrito no Brasil ocor- A maioria dos indivíduos suscetíveis não
reu em 1975 durante cirurgia de estapedectomia apresentam anormalidade prévia. Contudo,
sob anestesia geral com halotano 39. Dez anos doenças músculo-esqueléticas parecem estar
após foi publicado um caso de HM desen- associadas em alguns casos 3 . A distrofia mus-
cadeada pelo uso de anestésico local tipo amida, cular de Duchenne é a que parece ter maior
durante cirurgia ortopédica 40. Em 1989 foi des- importância, aumentando o risco de HM quando
crito um caso de Síndrome de Larsen(alterações comparado com a população geral 47-50.
articulares múltiplas) associada à HM 41. No As condições listadas abaixo se asso-
mesmo ano, foi descrito outro caso onde salien- ciam à HM de alguma forma 1:
tou-se a importância do uso da capnografia do
gás expirado no diagnóstico precoce da HM 7 .
Em 1990 foi apresentado um caso crônico de evo- Associação evidente:
lução fatal, quando os autores citaram o diag- - distrofia muscular de Duchenne
- estrabismo

Revista Brasileira de Anestesiologia 303


Vol. 46 : Nº 4, Julho - Agosto, 1996
HIPERTERMIA MALÍGNA

Possível associação: - óxido nitroso


- hérnia - bloqueadores neuromusculares não
- hipermotilidade articular despolarizantes
- distrofia miotônica - anestésicos locais (alguns autores pre-
- cifoescoliose ferem excluir os anestésicos locais do
- hipertrofia muscular tipo amida)
- tórax de sapateiro
- micrognatismo Controversos:
- síndrome da Morte Súbita Infantil - cálcio
- osteogênese imperfeita - teofilina
- baixa estatura - potássio
- Síndrome de King Denborough - digoxina
- central core disease (doença do miolo) - cetamina
- anticolinesterásicos (todos)
Quanto à mortalidade, era superior a - atropina
76% em 1965 7, passando a 28% em 1979 7 e - glicopirrolato
atualmente está próxima de 10% nos EUA e na
Dinamarca 7,46. Su a d i mi nu i çã o re fl ete a Ainda quanto ao desencadeamento da
atenção mais acurada aos sinais da síndrome síndrome, existe uma diferença entre a forma
durante a anestesia. humana e a porcina. Nesta, a síndrome é facil-
mente desencadeada por estresse no animal
Agentes Desencadeadores acordado 59, enquanto que no homem ela é
observada durante a anestesia 60. Wingard e
A HM ocorre mais comumente quando Gatz 61 sugeriram que as freqüentes mortes
um paciente suscetível recebe halotano e suc- inexplicadas em famílias suscetíveis poderiam
cinilicolina 3. No entanto, agentes inalatórios po- ser decorrentes de episódios de HM em in-
tentes (halotano, isoflurano e enflurano) ou divíduos acordados. Gronert e col publicaram
succinilcolina isoladamente podem desen- um caso de HM em indivíduo acordado 62 e
cadear a reação 1. A duração da exposição aos concluíram que o controle emocional dos
agentes inalatórios também parece ser impor- homens limita a incidência e a gravidade dos
tante, não tendo sido descritos casos quando a episódios quando o indivíduo está acordado.
exposição a esses agentes foi menor do que
quinze minutos 1. Os casos de instalação re- Etiopatogenia
pentina da síndrome estão associados ao uso de
succinilcolina 1. A s p r i n c i p a i s d ro g a s r e- Os modelos experimentais como o do
lacionadas com a síndrome são: 1,3,51-58: porco têm mostrado que as alterações clínicas e
bioquímicas da HM apresentam grande similari-
Potencialmente desencadeadores: dade com as da espécie humana, sendo que o
- agentes anestésicos inalatórios comportamento do cálcio tem sido o mais es-
halogenados (todos) tudado. Assim, a elevação do cálcio plasmático
- succinilcolina é uma constatação apontada como conseqüente
aos mecanismos de liberação do íon contido no
Podem ser usados com segurança: retículo sarcoplasmático.
- barbitúricos (todos) As variações plasmáticas do cálcio têm
- opióides (todos) sido associadas com o receptor da rianodina que
- benzodiazepínicos (todos) se liga aos canais liberadores do íon, modulando
- droperidol esta atividade 63 . Este receptor é uma proteína

304 Revista Brasileira de Anestesiologia


Vol. 46 : Nº 4, Julho - Agosto, 1996
LEITÃO E CANÇADO

purificada constituída por 5.037 aminoácidos, hipercapnia. Podem também surgir taquicardia
conforme análise do retículo sarcoplasmático da ventricular, fibrilação e até assistolia.
musculatura esquelética do coelho 36. Apre- Rigidez muscular pode ou não estar pre-
senta duas partes principais: a região terminal sente, tendo sido classificadas dois tipos de sín-
do canal de cálcio, constituída por quatro sub- dromes, segundo esse parâmetro 20,66,23: a
unidades que o envolvem e uma região citoplas- síndrome rígida, que é a mais freqüente, ocor-
mática, sendo que esta é diretamente envolvida rendo em 75% dos casos 38 e a síndrome não
no processo de excitação e conseqüente acopla- rígida, que se manifesta sem apresentar taquip-
mento do cálcio 64,65. néia, taquicardia, disritmia, cianose e acidose 69.
Há uma semelhança aproximada entre o A hipertermia é um sinal de gravidade,
receptor da rianodina e o receptor nicotínico da podendo ocorrer elevação da temperatura de
acetilcolina na placa motora. O receptor ni- modo abrupto (um grau centígrado a cada cinco
cotínico apresenta uma estrutura heteropen- minutos) ou lenta, atingindo 43 oC ou mais 25.
tamérica enquanto o receptor da rianodina tem Seu rápido incremento não deve ser consi-
uma estrutura homotetramérica 64,65. As quatro derado sinal de pior prognóstic o. A i rre-
unidades monoméricas do receptor da rianodina versibilidade do quadro caracteriza a malig-
envolvem um poro central formando um canal nidade 10. Apesar da temperatura estar vincu-
liberador de cálcio. A porção terminal deste ca- lada ao nome da síndrome, a hipertermia pode
nal é considerada um local responsável pala não ocorrer, especialmente se a parada cardíaca
atividade liberadora de cálcio 65. A elevada con- se instalar logo no início da reação 3 .
centração do cálcio mioplasmático explica as Os sinais clínicos freqüentemente obser-
alterações clínicas da síndrome. vados são 3:

Quadro Clínico - hipercarbia 90%,


- taquicardia 90%,
Os sinais da HM podem ser divididos - taquipnéia 85%,
n a qu e l e s qu e p red i z em a vi n d a de uma - alteração da pressão arterial 85%,
catástrofe, isto é, rigidez muscular após injeção - disritmias (bigeminismo, extrassístole ven-
de succinilcolina e os demais que realmente tricular e fibrilação ventricular),
- cianose 70%,
caracterizam a síndrome.
- elevação da temperatura (30% dos pacien-
Se logo após a administração de suc-
tes com 43 oC),
cinilcolina se desenvolve rigidez do masseter
- livedose (pele com aspecto marmóreo),
pode-se fazer um diagnóstico presuntivo da sín-
- sudorese profusa ou pele intensamente seca
drome 10,66-68. A dificuldade ou impossibilidade
70%,
de intubação é marcante. Em paciente monitori-
- rigidez muscular ou fasciculação exagerada
zado o sinal precoce é a hipercapnia. 80%.
A taquicardia não deve ser confundida
com anestesia superficial 4. Um aumento da Exames Laboratoriais
freqüência cardíaca de menos de 90 bpm para
130 bpm, em menos de quinze minutos, sem Um paciente com HM apresenta tanto
causa aparente, é um sinal importante. A acidose metabólica como respiratória, devida à
cianose é devida à intensa extração de oxigênio aumentada produção de dióxido de carbono e
tecidual, característica de um estado hiper- ácido láctico. Apesar da PaCO2 elevada, a
metabólico. A baixa saturação de oxigênio é hipóxia pode não estar presente no início, obser-
visível no campo operatório. Disritmias, princi- vando-se PaO2 mais baixa posteriormente. A
palmente as de origem ventricular, decorrem da fração expirada de CO2 se eleva precocemente

Revista Brasileira de Anestesiologia 305


Vol. 46 : Nº 4, Julho - Agosto, 1996
HIPERTERMIA MALÍGNA

sendo diagnosticada com facilidade quando se - DHL aumentada


emprega monitorização com capnógrafo 7. A ga- - aldolase aumentada
sometria venosa se mostra mais alterada devido - mioglobina aumentada
à grande extração de oxigênio e produção de - catecolaminas aumentadas (até 30
dióxido de carbono pelo músculo, o potássio vezes)
sérico se eleva rapidamente e pode atingir níveis
cardiotóxicos. A combinação de hipóxia, hiper- A biopsia muscular geralmente é feita
carbia, acidose e hipercalemia pode precipitar do vasto externo ou da musculatura do campo
sérias disritmias. ope-ratório. A microscopia óptica da biópsia
Os níveis de creatinofosfoquinase são muscular revela fibras atróficas, esparsamente
geralmente normais, mas aumentam entre 6 e 12 degene-radas, às vezes com aspecto de puído
horas após o início da reação. Níveis máximos de traça e núcleos grandes e centralizados 42,71.
podem não ser atingidos nas 24 horas, mas A microcospia eletrônica revela membranas
valores superiores a 50.000 UI podem ser en- anormais com aumento de grânulos de gli-
contrados (nl = 50 UI) 8, sendo que valores iguais cogênio, agregação mitocondrial sob o sar-
ou superiores a 10.000 são diagnosticados. Os colema, arranjo irregular dos sarcômeros, perda
níveis de aldolase e cálcio plasmático também das bandas Z e retículo sarcoplasmático di-
se elevam. latado 42,71. Essas alterações histológicas, em-
A mioglobinúria decorrente de maciça bora nem sempre presentes, e quando
lesão muscular pode ser evidente quando causa presentes não patognomônicas, teriam valor
alteração da cor da urina, ou pode ser detectada quando associadas ao quadro clínico 38.
por meio de testes laboratoriais específicos 1 .
Avaliação da Suscetibilidade
Mioglobinúria isolada não é patognomônica de
HM, visto que ela pode aparecer após adminis-
A avaliação da suscetibilidade inclui
tração de succinilcolina (principalmente asso-
anamnese e exame físico para detecção de
ciada ao halotano) em pacientes saudáveis 60.
fraqueza muscular subclínica ou outras anor-
Os achados laboratoriais encontrados
malidades musculares 22. A anamnese deve
na fase aguda da síndrome são:
avaliar o passado anestésico do paciente e de
duas gerações anteriores. Se possível obter in-
Gasometria arterial:
- pH baixo (< 7) formações a respeito do tipo de anestesia e os
- PO2 baixo (aumento da diferença artério- agentes usados.
venosa) A medida da CPK sangüínea é uma
- PCO2 elevado (> 60 mmHg) avaliação de pouca confiabilidade. Deve-se ter
em mente que outras situações também são
Eletrólitos: responsáveis pela elevação da CPK, como in-
- K+ elevado júria muscular, queimaduras, infarto agudo do
- Ca++ elevado, com posterior queda pre- miocárdio, estresse emocional, exercício in-
cipitada tenso, punção venosa, algumas drogas, técni-
- Mg++ elevado cas de coleta e medida 72.
- Na+ diminuído Quando a CPK se encontra elevada e o
- Glicose elevada paciente apresenta história familiar positiva para
a síndrome, el e pode ser considerado
Plasma: suscetível, sem necessidade de outros exames
- lactato aumentado complementares 3. Quando o paciente é parente
- piruvato aumentado próximo de um indivíduo suscetível e a CPK é
- CPK aumentada normal em três medidas, faz-se necessária uma

306 Revista Brasileira de Anestesiologia


Vol. 46 : Nº 4, Julho - Agosto, 1996
LEITÃO E CANÇADO

biópsia muscular 3. Um terço dos pacientes inicialmente ser confundidas com HM são: dis-
susceptíveis tem CPK normal 73. trofia miotônica, neuralgia do trigêmio, sepsis,
O teste laboratorial mais aceito para con- feocromocitoma, tireotoxicose, rabdomiólise in-
firmar ou descartar um diagnóstico de HM é o da duzida por succinilcolina, administração de a-
contratura muscular com halotano e cafeína nestési co i ntratecal, estímulos durante a
22,74-76 . Fibras musculares de 1 cm são imersas anestesia superficial 1,3.
em solução de Krebs-Ringer a 37 oC, onde bor- Durante a indução da anestesia a sus-
bulha uma mistura de 95% de oxigênio e 5% de peita de HM é levantada quando ocorre rigidez
gás carbônico. As fibras são estimuladas eletri- muscular após administração de succinilcolina.
camente, até que se obtenha resposta su- Isto pode tornar a intubação difícil ou até im-
pramaximal. Quando o equilíbrio é obtido, a fibra possível 1.
é exposta ao halotano a 3,0%, registrando-se a Se a rigidez muscular não ocorre, o sinal
contratura. Em seguida, fibras adicionais são mais precoce que pode ser detectado é uma
expostas a doses crescentes de cafeína (0,5 a elevação da ventilação/minuto (quando o
32 mM) e contratura a 2,0 mM de cafeína e a paciente estiver em respiração espontânea) ou
contratura corresponde a 1 g (em relação à con- uma elevação do dióxido de carbono expirado, o
centração de cafeína que a produziu) são regis- que fez da capnografia uma técnica de funda-
tradas 2. Contraturas de 0,7 a 3,0% de halotano, mental importância 53. Estas alterações geral-
contraturas maiores do que 0,2 a 2 nM de mente são acompanhadas por taquicardia,
cafeína ou contratura de 1,0 g a menos que 4 taquipnéia, cianose e disritmias diversas. A
mM de cafeína indicam suscetibilidade. Em rigidez muscular pode ser um sinal precoce na
1983, o Grupo Europeu da Hipertermia Malígna forma de rigidez do masseter, ou um sinal tardio,
se reuniu na Suécia para padronização do teste na forma de rigidez muscular generalizada 1. A
da contratura e os critérios de interpretação febre pode ocorrer tardiamente indicando que a
foram uniformizados 77. reação está bem avançada 1. Se estas anormali-
Devido às dificuldades de técnica deste dades estiverem presentes, deve-se procurar
teste, foram propostas outras provas, que con- sinais de hipermetabolismo, acidose e hiper-
tudo não superaram a primeira. Entre elas pode- calemia. A gasometria do sangue arterial revela
mos citar o teste da fragilidade das hemácias 2 , acidose metabólica e acidose respiratória. No
depleção do ATP plaquetário 78 e a captação de sangue venoso, os níveis de oxigênio e dióxido
cálcio por linfócitos quando expostos ao halo- de carbono estarão mais alterados do que no
tano 2 e a eletromiografia 2. sangue arterial.
Sugere-se o diagnóstico de HM quando
BE < -5 e PaCO2 > 60 Torr sem explicação
Diagnóstico razoável 1. O consumo de O2 vai estar aumen-
tado bem como a produção de CO2, que pode
Conforme já referido, a HM é normal- ser facilmente medido com o capnógrafo 1.
mente um evento inesperado que pode aconte-
cer logo após a indução da anestesia, durante o
procedimento anestésico ou após ter terminado Tratamento
a exposição aos agentes anestésicos 1 .
Quando a instalação da síndrome é in- O tratamento da HM deve ser instituido
sidiosa deve-se estar atento para os diagnósti- logo na primeira suspeita. Deve-se iniciar pela
cos diferenciais, pois outras entidades clínicas remoção dos agentes desencadeantes. É funda-
podem apresentar sinais semelhantes, mental interromper a administração de todos os
causando equívocos. As situações que podem agentes inalatórios e a succinilcolina 1,3,38. A

Revista Brasileira de Anestesiologia 307


Vol. 46 : Nº 4, Julho - Agosto, 1996
HIPERTERMIA MALÍGNA

suspensão da administração do óxido nitroso metabólica e respiratória, hipercalemia e


pode ser necessária devido à hipóxia que pode níveis elevados de catecolaminas. In-
ocorrer por aumento do consumo de oxigênio e sulina e glicose podem ser necessárias
dificuldade de ventilação devido à rigidez mus- para correção da hipercalemia 38.
cular. Se possível, outro aparelho de anestesia 5) Alguns autores recomendam esteróides
deverá ser usado, a fim de substituir o circuito, em grandes doses 38.
a cal sodada, o canister e o vaporizador. Se um
sistema circular estiver sendo usado, deverá ser A terapia adicional decorre dos valores
trocado por um sistema sem reinalação. A hiper- de hemogasometria, temperatura, tipo de disrit-
ventilação com oxigênio a 100% é vital 1,3,38 . mia, tono muscular e débito urinário. Devem ser
O c irurgi ão deve ser avisado ime- realizados exames laboratoriais para
diatamente a fim de não iniciar a cirurgia, ou seguimento posterior do paciente (CPK, aldo-
apressar seu término se já tiver sido iniciada. lase, Ca, K, Be, mioglobina).
A essa altura, as medidas a serem
tomadas dependerão do tipo de cirurgia a que o Tratamento Específico
paciente está sendo submetido. No caso de
cirurgia de emergência, a técnica anestésica A diminuição dos índices de mortalidade
deve i ncluir agentes como opióides, ben- da HM é conseqüência do emprego do dan-
zodiazepínicos, bloqueadores neuromusculares trolene, um derivado hidantoínico, lipossolúvel,
não despolarizantes, enquanto o tratamento da sintetizado em 1967 pelo laboratório Norwich-
HM estiver sendo efetuado. Eaton-Pharmaceuticals. Em 1975, Harrison em-
pregou-o com sucesso no tratamento da HM
porcina 30. Desde então, pesquisas se avoluma-
Tratamento Inespecífico ram e atualmente está definitivamente com-
provada sua eficácia na profilaxia e tratamento
1) Controle da temperatura - se a temperatura da síndrome 80,81.
estiver elevada, tentar diminuí-la por todo O exato mecanismo de sua ação ainda
e qualquer meio disponível: resfriamento está incerto, mas parece que o dantrolene di-
da superfície corporal com lavagem vesi- minui os elevados níveis de cálcio intracelular,
cal, gástrica, retal e/ou peritoneal 79. O reduzindo o estímulo para a contração muscular
resfriamento deve cessar quando a tem- e, o excessivo metabolismo 82 . Sua atuação,
peratura baixar a 38 oC, sob pena de provavelmente, ocorre nas próprias células mus-
hipotermia inadequada 1. culares ao invés das junções neuromusculares.
2) Controle da acidose metabólica; deve-se Muitos estudaram seu efeito no retículo sarco-
administrar bicarbonato de sódio na dose plasmático mas devem existir efeitos diretos so-
de 2 a 4 mEq.kg-1 38. bre a membrana muscular.
3) Controle do débito urinário; sondagem vesi- Seu emprego como tratamento de emer-
cal e medida rigorosa da diurese per- gência deve ser instituído imediatamente após o
mitem monitorar o débito urinário, diagnóstico e a primeira dose de 1 a 2 mg.kg-1
prevenindo insuficiência renal aguda e por via venosa. Se necessário, esta dose pode
necrose tubular aguda, bem como avaliar ser repetida a cada 5 ou 10 minutos, num total
possível mioglobinúria 1. A diurese deve de 10 mg.kg-1. Dependendo da gravidade do
ser mantida em 2 ml.kg-1.h-1 através de quadro, é prudente administrar dantrolene no
sobrecarga líquida e diuréticos (manitol e pós operatório 1 (infusão de 1 a 2 mg.kg-1 a cada
furosemida) 38. 4 horas) até alcançar a estabilidade do quadro
4) Controle das disritmias cardíacas: disrit- clínico. Assim que possível passar para admi-
mia s po dem oc orrer p or aci dose nistração oral.

308 Revista Brasileira de Anestesiologia


Vol. 46 : Nº 4, Julho - Agosto, 1996
LEITÃO E CANÇADO

O dantrolene se apresenta na forma portador de HM. Para sua surpresa, houve uma
liofilizada e cada frasco contém 20 mg da droga, interrupção brusca dos sintomas, passando-se a
3 mg de manitol e hidróxido de sódio. Cada pesquisar o uso desta droga.
frasco deve ser diluído em 60 ml de água desti- Clark e col 37 observaram que a dose
lada. Após diluição forma-se uma solução al- necessária de procainamida, para impedir con-
calina (pH = 9,5) que pode causar esclerose de traturas musculares anormais, está muito além
veias periféricas. Sua validade, no estado liofili- das doses preconizadas como seguras. A pro-
zado, é de dois anos 83. cainamida, portanto, é considerada ineficiente
Para profilaxia, alguns autores preconi- no tratamento da síndrome clínica. Ela é útil no
zam administração de dantrolene na dose de 2 tratamento de disritmias durante um episódio
a 3 mg.kg-1 , três vezes ao dia, pelo menos um agudo, sendo mais segura que a lidocaína.
dia antes da cirurgia 42. Outros indicam uma
dose única de 2,5 mg.kg-1 um pouco antes da
indução da anestesia, como sendo suficiente Complicações
para prevenir os efeitos da HM 80. Parece haver
uma correlação entre o nível sangüíneo de dan- Não ocorrendo reversão do quadro, as
trolene e o efeito terapêutico. Após adminis- complicações sucedem-se em cascata:
tração de 2,5 mg.kg-1, por via venosa durante 2
horas, o nível sangüíneo terapêutico é mantido - aumento da liberação de tromboplastina
por 6 horas 83. A meia vida do dantrolene permite tecidual
que sejam administradas doses com intervalos - hemólise
de 6 horas 83. Recomenda-se que seja adminis- - sangramento da incisão
trado profilaticamente em pacientes suscetíveis - insuficiência renal aguda
ou suspeitos, nas seguintes situações: - hipertermia
- hipercalemia
- paciente muito agressivo - edema muscular, cerebral e pulmonar
- cirurgia muito extensa e lesiva da muscula- - parada cardíaca e morte
tura esquelética
- se a cirurgia ou anestesia são associadas O comprometimento de diversos impor-
com queda de pressão arterial, queda de tantes setores do organismo faz-se, assim,
O2, aumento de CO2 e ácido lático secundariamente às condições iniciadas na fibra
- se o paciente vai ser submetido à anestesia muscular esquelética.
para odontologia ou obstetrícia sob anes- Em decorrência da gravidade da HM, é
tesia parcial com anestésico local do tipo indiscutível que todo anestesiologista esteja
amida apto a diagnosticar e tratar esta síndrome que é
sempre de alto risco para o paciente, sendo
Os efeitos colaterais decorrente de seu necessário dispor de dantrolene para uso
uso incluem náuseas, diarréia, desconforto ab- rápido.
dominal, tontura, diplopia, disartria, sensação de
edema na língua e discreta elevação do potás-
sio 1. Pacientes referem fraqueza muscular após
administração de dantrolene. Deve ser adminis- Leitão FBP, Cançado TOB - Hipertermia
Malígna
trado com cautela em pacientes pediátricos, em
idosos e naqueles com doenças neuromuscu-
lares 1.
Beldavs e col 37 usaram procainamida UNITERMOS: COMPLICAÇÕES: hipertermia
malígna
para corrigir uma taquicardia ventricular num

Revista Brasileira de Anestesiologia 309


Vol. 46 : Nº 4, Julho - Agosto, 1996
HIPERTERMIA MALÍGNA

REFERÊNCIAS 19. Issacs H, Barlow MB - Malignant hyperpyrexia


during anaesthesia: possible correlation with sub-
01. Benca JF, Rockoff MA - Malignant hyperhermia - clinical myopathy. Br Med J, 1970;1:275-277.
Adv Anesth, 1988;5:237-260. 20. Britt BA, Endrenyl L, Frodis W - Comparison of
02. Heiman-Patterson - Malignant hyperthermia. Semi- effects of several inhalation agents on caffeine
nars in Neurol, 1991;11:810-812. induced contractures of normal and malignant hy-
03. Groner GA - Malignant hyperthemia. Anestesio- perthermic skeletal muscle. Can Anaesth Soc J,
logy, 1980;53:395-423. 1980;27:12-16.
04. Ryan JF - Malignant hyperthermia. ASA Refresher 21. Kallow W, Britt BA, Peter P - Rapid Simplified
Courses in Anesthesiology, 1976; 4:8796. Techniques for Measuring Caffeine Contracture for
05. Ryan JF, Popper EM - Malignant fever during and Patients with Malignant Hyperthermia. In: Interna-
following anesthesia. Anesthesiology, 1970; tional Symposium on Malignant Hyperthermia,
32:196-201. 2,1978. New York, Grune and Stratton, 1978;339-
06. Scheitzer O, Howland WS, Ryan GM et al - Hyper- 350.
pyrexia in the post-operative period. Anesth Analg, 22. Kallow W, Britt BA, Richter A - The caffeine test
1971;50:906-914. of isolated human muscle: relation to malignant
07. Joaquim E, Yamashita A, Amaral J et al - Hiperter- hyperthermia. Can Anaesth Soc J, 1977;24:678-
mia malígna - diagnóstico precoce com cap- 694.
nografia de gás expirado. Diferentes quadros 23. Nelson TE, Flewellen EH - Malignant hyperthermia:
clínicos no mesmo paciente (relato de caso). Rev diagnostic tests and inheritance. Anesthesiology,
Bras Anestesiol, 1989;39:11-20. 1980;53:250.
08. Denborough MA, Lovell RRH - Anaesthetic deaths 24. Briskey EJ - Etiological status and associated
in family. Lancet, 1960;2:45. stu-dies of pale, soff, exudative porcine musculare.
09. Britt BA, Locher WG, Kalow W - Hereditary aspects Adv Food Res, 1964;13:89-178.
of malignant hyperthermia. Can Anaesth Soc J, 25. Hall GM Lucke JN, Lister D - Malignant hyperther-
1969;16:89-98. mia. Pearls of swine? Br J Anaesth, 1980;52:165-
10. Crocker BD, Okumura F, Mc Guaig DI et al - 171.
Temperature monitoring during general anaesthe- 26. Nelsson TE, Jones EW, Hendrickson RL - Porcine
sia. Br J Anaesth, 1980;52:1223-1229. malignant hyperthermia: observations on the oc-
11. Brow RC - Hyperpyrexia and anaesthesia. Br Med curence of pale, soff, exudative musculare among
J, 1986;2:1526. susceptible pigs. Am J Vet Res, 1974;35:347-350.
12. Burford GE - Hyperthermia following anesthesia - 27. Winstalney M - A cure of stress. New SC, 1979;
consideration of control of body temperature du- 84:593-596.
ring anesthesia. Anesthesiology, 1940;1:208-216. 28. Mongensen JV, Milfildt BB, Hanel HK - Preopera-
13. Moschoowitizs AV - Heat stroke as a postoperative tive excitment and malignant hyperthermia. Lan-
excitement and malignant hyperthermia. Lancet, cet, 1974;1:461.
1974;1:461. 29. Hall LW, Trim CM, Woolf N - Further studies of
14. Moschoowitz AV- Post operative heat stroke. Surg porcine malignant hyperthermia. Br Med J, 1966;
Gynecol Obstet, 1961;23:443-451. 2:1305.
15. Henscel EO, Locher WG - The Wausau Story - 30. Harrison G - Control of malignant hyperpyrexic
Malignant Hyperthermia in Wisconsin. In: Henschel, syndrome. In MHS swine by dandrolene sodium.
EO - Malignant Hyperthermia Current Concepts. Br J Anaesth, 1975;47:62-65.
New York, Appleton-Century-Crofts, 1977; 3-7. 31. Mouds RFW, Denboroug MA - Myopathie and
16. Baumgarten R, Reynolds W - Early detection of malignant hyperpyrexia. Br Med J, 1974;3:520.
malignant hyperthermia (case report). Anesthesi- 32. Britt BA - Recent advances in malignant hyperther-
ology, 1985;63:123. mia. Anesth Analg, 1972; 51:841:850.
17. Britt BA, Kallow W - Malignant hyperthermia: aetio- 33. Britt BA - Malignant hyperthermia. Can Anaesth
logy unknown. Can Anaesth Soc J, 1970;17:316- Soc J, 1985;32:666-677.
330. 34. Flewellen E, Nelson N - Is theophyline, aminophyl-
18. Gordon RA - Malignant hyperpyrexia during ge- line, or caffeine contraindicated in malignant hy-
neral anaesthesia. Can Anaesth Soc J, 1966; 13: perthermia susceptible patients? Anesth Analg,
415-416. 1983;62:115-118.

310 Revista Brasileira de Anestesiologia


Vol. 46 : Nº 4, Julho - Agosto, 1996
LEITÃO E CANÇADO

35. Groonert G, Ahern C, Milde J et al - Effect of CO2, 52. Chalstrey LJ, Edwards GB - The use of pan-
calcium, digoxine, and potassium on cardiac and curonium bromide in the pig. Br J Anaesth, 1972;
skeletal muscle metabolism in malignant hyper- 44:91-92.
thermia susceptible swine. A nesthesiology, 53. Denboourgh MA - Etiology and pathophysiology of
1986,64:24-28. malignant hyperthermia. Br Int Anesth Clin, 1978;
36. Takeshima H, Nishimura S, Matsumoto T et al - 17:11-13.
Primary structure and expression from comple- 54. Moore D - Ester or amide local anesthetics in
mentary DNA of skeletal muscle ryanodine recep- malignant hyperthermia: who knows? Anesthesio-
tor. Nature, 1989;339:439-445. logy, 1986;64:294-296.
37. Silva Jr, Conceição MJ - Hipertermia malígna - 55. Popta TA, Hanesch ECJ, Nasser JG - Masseter
Revisão. Rev Bras Anestesiol, 1978; 28:426-435. spasm after pancuronium. Anesth Analg, 1980;
38. Xavier L - Síndrome de hipertermia malígna - 59:509-511.
Revisão. Rev Bras Anestesiol, 1984; 3461-3469. 56. Reco SB, Strobel GEJ - An in vitro model of
39. Pereira JB, Castro DL, Lucchesi NO - Hipertermia malignant hyperthermia: differential effects on in-
malígna durante cirurgia de estapedectomia. Rev halation anaesthetics on caffeine induced muscle
Bras Anestesiol, 1975;25:3-12. contratures. Anesthesiology, 1978;48:254-259.
40. Almeida NM - Hipertermia malígna - relato de dois 57. Roervik S, Storner J - Ketamine induced acidosis,
casos. Rev Bras Anestesiol, 1985; 35:3:191-193. fever and creatinekinase rise. Lancet, 1974;
41. Mendes F, Vier E, Moretti M - Hipertermia malígna 3:1384.
durante cirurgia ortopédica - relato de um caso. 58. Waterman PM, Alben MS, Smith RP - Malignant
Rev Bras Anestesiol, 1989;39:3:203-206. hyperthermia: case report. Anesth Analg, 1980;
42. Harrison G, Sounders SJ, Biebuyck JF - Anaes- 59:220-221.
thetic induced malignant hyperthermia and a 59. Lister D, Hall GM, Lucke JN - Malignant hyperther-
method for its prediction. Br J Anaesth, 1969; mia: a human and porcine stress syndrome? Lan-
41:844-955 . cet, 1975;1:519.
43. Barlow MB, Isaacs H - Malignant hyperpyrexial 60. Wingars DW - Malignant hyperthermia: a human
deaths in a family - report of three cases. Br J stress syndrome. Lancet, 1974; 2:1451.
Anaesth, 1970;42:1072-1076. 61. Wingard DW, Gatz EE - Some Observations on
44. Kawave M, Morio M, Ohtani M - Statistical review Stress Susceptible Patient. In: Aldrete, JA, Britt,
of malignant hyperthermia in Japan. Hiroshima J BA - International Symposium on Malignant Hyper-
Anaesth, 1979;15 Suppl.:49-54. thermia. New York, Grune and Stratton, 1978; 363-
45. Risk SF- Malignant hyperthermia in a nego. Br J 372.
Anaesth, 1973;45:233. 62. Gronert G, Thompson R, Onofrio B - Human malig-
46. Ording H - Incidence of malignant hyperthermia in nant hyperthermia awake episodes and corretion
Demark. Anesth Analg, 1985;64: 700-704. by dantrolene. Anesth Analg, 1980;59:377-378.
47. Brownell A, Paasuke R - Malignant hyperthermia in 63. Casson H, Downes H. - Ryanodine Toxicity as a
Duchenne Muscular Dystrophy. Anesthesiology, Model of Malignant Hyperthermia. In: Aldrette, BA,
1983; 58: 180-182. Britt, BA - Second International Symposium on
48. Kelfer HM, Singer WD, Reynolds RN - Malignant Malignant Hyperthermia. New York, Grune and
hyperthermia in a child with Duchenne Muscular Stratton, 1978;3-10.
Dystrophy. Pediatrics, 1983;71;118-119. 64. Smith JS, Imagawa T - Purified ryanodyna receptor
49. Miller ED, Sanders DB - Anesthesia-induced from rabitt skeletal muscle is the calcium release
rhabdomyolysis in a patient with Duchenne Mus- channel of sarcoplasmatic reticulum. J Gen
cular Dystrophy. Anesthesiology, 1978;48:146- Physiol, 1988;92:1-26.
148. 65. Imagawa T, Smith JS, Coronado R et al - Purified
50. Rosemberg H, Patterson TH - Duchenne Muscular ryanodine receptor from skeletal muscle sarco-
Dystrophy and malignant hyperthermia: another plasmatic reticulum is the calcium permeable pore
warning. Anesthesiology, 1983;59:362. of the calcium release channel. Biological Chem-
51. Andragna M - Medical protocol by habit - the istry J, 1987;262:16636-16643 .
avoidance of amide anesthetics in malignant hy- 66. Hoech Jr GP, Jones GO - State of contracture in
perthermia susceptible patients. Anesthesiology, malignant hyperthermia. Anesthesiology, 1971;
1985;62:99. 35:231-233.

Revista Brasileira de Anestesiologia 311


Vol. 46 : Nº 4, Julho - Agosto, 1996
HIPERTERMIA MALÍGNA

67. Rosemberg H, Fletcher J - More about masseter hyperthermia in Sweden. Acta Anaesthesiol
spasm and malignant hyperthermia. Anesthesio- Scand, 1986;30:693-696.
logy, 1985;62:212. 76. Rosemberg H, Reed S - In vitro contracture
68. Rosemberg H, Reed BS, Heimann T - Masseter tests for susceptibility for malignant hyperther-
spasm, rhabdomyolsis and malignant hyper- mia. Anesth Analg, 1983;62:415-420.
py r e x i a. A n es t hes io l og y ( A S A ab s t r ac t s ) , 77. Ellis F, Halsall P, Ording H et al - A protocol for the
1980;53:3-248. investigation of malignant hyperpyrexia suscepti-
69. Kallow W, Britt BA, Chan FY - Epidemiology and bility. Br J Anaesth, 1984;56:1267-1269.
inheritance of Malignant Hyperthermia. Br Int 78 Giger U, Kaplan R - Halothane induced ATP deple-
Anesthesiol Clin, 1979; 17:119-139. tion in platelet from patients susceptible to malig-
70. Vinod Malhotra - Malignant hyperthermia - Fun Sun nant hyperthermia and from controls. Anes-
F Yao, Artusio JF 358-367. thesiology, 1985;63:311-315.
71. Kiskida T, Kito S, Itoba E - Morphological studies 79. Digby Leigh M, Lewis Jr GB, Herbert W - Success-
of biopsed muscle of malignant hyperthermia. Hi- ful treatment of malignant hyperthermia. Br Med J,
roshima J Anaesth, 1979;15 (suppl):131-137. 1974;3:493.
72. Aldrete JA, Padfield A, Solomon CC - Possible 80. Flewellen E, Nelson T - Prophylatic and therapeutic
predictive tests for malignant hyperthermia during doses of dantrolene for malignant hyperthermia.
anesthesia. JAMA, 1971;215:1465-1469. Anesthesiology, 1984;61:477.
73. Isaacs H, Barlow MB - The genetic background to 81 Hall GM - Dantrolene and the treatment of malignant
malignant hyperpyrexia revealed by creatine phos- hyperthermia. Br J Anaesth, 1980;52:847-848.
phokinase estimations in assymptomatic relatives. 82. Chastrey L J, Edwards GB - The use of pan-
Br J Anaesth, 1970; 42:1077-1083. curonium bromide in the pig. Br J Anaesth, 1972;
74. Fletcher JE, Rosemberg H - In vitro interaction 44:91-92 .
between halothane and succinylcholine in human 83. Britt BA - Dantrolene. Can Anaesth Soc J,
skeletal muscle: implications for malignant hyper- 1984;31:61-75.
thermia and masseter muscle rigidy. Anesthesio-
logy, 1985;63:190-194.
75. Rankev E, Fletcher R - Investigation of malignant

312 Revista Brasileira de Anestesiologia


Vol. 46 : Nº 4, Julho - Agosto, 1996

Você também pode gostar