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Resumo
Define-se como sistema de piso um conjunto de elementos (camadas) verticais ou inclinadas
cuja função é constituir um limite horizontal entre unidades habitacionais em edifícios,
cumprindo função de estrutura, vedação e tráfego. Por se tratar de um empreendimento de
padrão popular pertencente a um programa nacional de habitação, para que o projeto
apresente retorno financeiro é de suma importância a sua otimização, a fim garantir
qualidade e desempenho mínimos com os menores custos possíveis. Este estudo visa
apresentar resultados obtidos através de ensaios realizados conforme NBR 15575-3:2013 e
consequente adoção de nova configuração de sistema de piso para atingimento de
desempenho acúsitco mínimo. Foram ensaiados três sistemas distintos, com os quais através
da utilização de uma medotodologia de pesquisa aplicada foi possível determiniar índices e
parâmetros capazes de determinar que o Sistema 3 é a melhor solução a ser aplicada nos
Empreendimentos.
1. Introdução
Criado em pelo Governo Federal em 2009, o programa habitacional Minha Casa Minha Vida
tem como objetivo reduzir o déficit habitacional do Brasil, o qual mais de 90% é representado
pela população de baixa renda. Essa faixa da sociedade encontra dificuldades para obtenção
de financiamentos atrativos para aquisição da casa própria, então o Programa foi criado a fim
de proporcionar o acesso uma habitação digna para o cidadão. Em paralelo, esta política é
extremamente benéfica para o desenvolvimento da economia do País, pois mantém o mercado
da construção civil aquecido gerando milhões de empregos e movimentando grandes quantias
monetárias.
Devido à saturação do espaço físico nas cidades, é visível a preferência pela verticalização das
edificações nos grandes centros, o que torna o sistema de pisos protagonista no que se diz
respeito a conforme acústico. O grande problema é que ainda é bastante comum que a escolha
sistema ainda seja balizada pela capacidade de vencer vãos e pelo custo, enquanto o correto
seria fazer uma análise tratando o sistema como elemento de separação entre unidades
habitacionais.
frequência, devido ao movimento vibratório induzido pela excitação localizada. Este impacto
é capaz de causar desconforto acústico considerável.
2. Método
Os ensaios foram realizados no empreendimento Residencial Valle del Fiore, localizado na
cidade de Pelotas, Rio Grande do Sul durante o ano de 2015 e 2016 pelo Laboratório de
Materiais de Construção Civil – LMCC da Universidade Federal de Santa Maria.
As medições foram feitas seguindo os procedimentos descritos nas normas ISO 16283-
2:2014, ISO 717-2:2013, ISO 717-3:2013 e ISO 3382-1:2008. As aferições foram realizadas
em dormitórios de mesma área e volume, sobrepostos. Como local de fonte emissora de ruído,
a unidade habitacional superior permaneceu com porta e janela fechadas, assim como o
dormitório inferior, o qual foi receptor e teve a medição do ruído resultante.
Para classificação do desempenho acústico obtido, foram utilizados valores de referência
indicados na NBR15575-3:2013 para ruído de impacto (Tabela 2) e para ruído aéreo (Tabela
3).
Nível de
Elemento L'nT,w [dB]
desempenho
66 a 80 M
Sistema de piso separando unidades habitacionais autônomas posicionadas
56 a 65 I
em pavimentos distintos
≤ 55 S
Tabela 2 - Critério e nível de pressão sonora de impacto padrão ponderado, L’nT,w
Fonte: (ABNT, 2013)
D’nT,W Nível de
Elemento
(dB) desempenho
45 a 49 M
Sistema de piso separando unidades habitacionais autônomas de áreas em
50 a 54 I
que um dos recintos seja dormitório
≥ 55 S
Tabela 3 - Critérios de diferença padronizada de nível ponderada, D’nT,w
Fonte: (ABNT, 2013)
4
3. Instrumentação
Nos ensaios, foram utilizados os seguintes equipamentos:
Frequência L'nT
(Hz) (dB)
100 61,7
125 66,8
160 72,5
200 72
250 72,4
315 73,5
400 75,5
500 76,9
630 77
800 77,9
1000 77,5
1250 77,7
1600 77,8
2000 77,6
2500 76,3
3150 74,1
4000 70,9
5000 66,8
Tabela 4 - Resultados Sistema 1
Fonte: Relatório de Ensaio nº 98193 – LMCC/UFSM (2015)
5
Já o Sistema 2, o qual é composto por laje em concreto armado maciço, emulsão asfáltica e
piso cerâmico, apresentou valores (Tabela 5) e configuração de curva (Figura 4) semelhantes
ao Sistema 1:
Frequência L'nT
(Hz) (dB)
100 59,9
125 69,4
160 74,6
200 71,7
250 73,1
315 74,5
400 75
500 77,4
630 76,9
800 76,7
1000 76,8
1250 76,7
1600 76,2
2000 75,6
2500 73,3
3150 69,9
4000 64,1
5000 57,7
Tabela 5 - Resultados Sistema 2
Fonte: Relatório de Ensaio nº 100415 – LMCC/UFSM (2015)
6
Por fim, o Sistema 3 apresentou resultados (Tabela 6) e curva (Fgura 5) bastante diferentes
dos Sistemas anteriores, fato que evidencia a eficiência da utilização do conjunto piso
flutuante em mandeira e manta de polietileno.
Frequência L'nT
(Hz) (dB)
100 61,5
125 65,9
160 71,8
200 72,6
250 69,8
315 67,8
400 66,3
500 61,2
630 60,2
800 58,3
1000 52,1
1250 46,6
1600 44,1
2000 41,1
2500 37
3150 36,3
4000 32
5000 28,3
Tabela 6 - Resultados Sistema 3
Fonte: Relatório de Ensaio nº 98193 – LMCC/UFSM (2015)
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Seguindo o método sugerido pela norma ISO 717-2, o Sistema 3 expôs um nível de pressão
sonora impacto-padrão ponderado de 62dB, bastante inferior aos Sistemas 1 e 2.
Frequência D'nT
(Hz) (dB)
100 30,7
125 38,7
160 33,4
200 37,1
250 35,9
315 38,6
400 39,6
500 39,2
630 42
800 43,6
1000 47,1
1250 48
1600 48,7
2000 49,4
2500 51,2
3150 55,3
4000 57,7
5000 61,1
Tabela 7 - Resultados do Sistema 1
Fonte: Relatório de Ensaio nº 98190 – LMCC/UFSM (2015)
8
Frequência D'nT
(Hz) (dB)
100 30,9
125 39,4
160 33,5
200 35,2
250 34,3
315 38,2
400 39,3
500 38
630 41,5
800 42,5
1000 46,2
1250 48
1600 48,4
2000 48,8
2500 52,1
3150 54,7
4000 57,5
5000 60,1
Tabela 8 - Resultados do Sistema 2
Fonte: Relatório de Ensaio nº 100416 – LMCC/UFSM (2016)
9
Finalmente ao analisar o Sistema 3, percebe-se uma pequena alteração nos valor D’nT na
frequência de 500Hz (ponto de início de comportamento ascendente) em relação aos outros
dois sistemas. Neste, o desempenho mínimo não foi alcançado.
Frequência D'nT
(Hz) (dB)
100 25,1
125 33,7
160 32,8
200 35,9
250 36,8
315 36,7
400 35,5
500 34,6
630 38,8
800 42
1000 47,5
1250 49,7
1600 50,2
2000 50,1
2500 52,5
3150 56,1
4000 59
5000 60,9
Tabela 9 - Resultados do Sistema 3
Fonte: Relatório de Ensaio nº 98192 – LMCC/UFSM (2015)
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L'nT,w Nível de
Tipo de Laje
(dB) desempenho
Não
Sistema 1 83 apresentou
desempenho
Sistema 2 80 Mínimo
Sistema 3 62 Intermediário
Tabela 10 - Classificação de Desempenho
Os resultados juntos (Figura 9) evidenciam que os sistemas compostos por piso cerâmico
apresentaram baixo desempenho, enquanto o sistema composto por piso em madeira e manta
de polietileno apresentou um ótimo resultado, dentro do nível intermediário de desempenho
da NBR 15573-3:2013. Embora o baixo desempenho, o Sistema 2 antigiu ou nível de
desempenho mínimo determinado pela NBR, devido à existência de uma camada de cerca de
1,5mm de emulsão asfáltica. Essa camada de material resiliente isolador entre laje e piso
cerâmico foi o grande diferencial para obtenção de melhor desempenho frente ao Sistema 1.
Segundo Bistafa (2011), essa solução consiste na aplicação de um material resiliente isolador
entre a laje estrutural e o contrapiso criando uma base antivibratória entre eles com finalidade
de amortecer a onda sonora.
absorver boa parte das vibrações provocado na laje superior, sendo uma condição
essencial área um bom desempenho no isolamento, a não formação de ligações entre
o piso e a estrutura. A queda de objetos em pisos flutuantes provocam vibrações,
onde uma onda de flexão se propaga por todo o piso, havendo transmissão para a
laje suporte através do recheio elástico utilizado, com amortecimento mais ou menos
grandes de acordo com a natureza e espessura do material. (NEUBAUER,2009:23)
D'nT,w Nível de
Tipo de Laje
(dB) desempenho
Sistema 1 45 Mínimo
Sistema 2 45 Mínimo
Não
Sistema 3 44 apresentou
desempenho
Tabela 11 - Classificação de Desempenho
Os três sistemas apresentaram comportamento semelhante, o que pode ser evidenciado pelos
resultados acima. Analisando suas respectivas curvas (Figura 11), essa semelhança fica
bastante clara entre os Sistemas 1 e 2 até 500Hz e depois entre os Sistemas 1, 2 e 3, a partir
deste trecho. Ao observarmos o Sistema 3, percebe-se uma queda do valor de D’nT em
500Hz, assim com um valor mais baixo no ponto de 125Hz.
A partir desta intepretação, é possível concluir que por se tratar de propagação de ruído aéreo,
o simples fato do Sistema 3 ser dotado de menor massa do que os Sistemas 1 e 2 faz com que
a isolação seja menor, não atingindo o desempenho.
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A aplicação do produto deve ser feita homogeneizada através de trincha sobre o substrato
nivelado (Figura 13). Deve-se também atentar para a ligação laje-parede (Figura 14), pois se
trata de um local onde a incidência de pontes acústicas é muito comum, conforme Bistafa
(2011), qualquer ponto de contato pode ocasionar ponte acústica, o que acarreta em perda
parcial do isolamento. Para que isto não ocorra é necessário que o material resiliente envolva
o contrapiso não só em sua interface contrapiso/laje, mas também em sua interface
contrapiso/paredes.
Todavia após estudo de custos (Tabela 12), embora a solução apresentada acima se de fácil
aplicação, a mesma foi considerada inviável financeiramente para empreendimentos desse
padrão.
Somado ao valor monetário mais elevado, a opção pelo piso flutuante foi visto pela
Construtora como um diferencial de mercado, visto que a grande maioria dos
empreendimentos de mesmo padrão oferecida pela concorrência possui em seus projetos a
utilização de piso cerâmico.
O fato do Sistema 3 ter atingido isolação necessária ao ruído de impacto e não ter atingido ao
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ruído aéreo, se deu pelo fato de possuírem características distintas quanto a sua forma de
propagação. Enquanto o ruído de impacto é transmitido através da rigidez do sistema
(revestimento + laje estrutural), o revestimento em laminado funciona como um sistema de
piso flutuante (massa-mola-massa) (Figura 15) desconectando assim a rigidez do revestimento
(laminado) com a laje estrutural, e, portanto ganhando considerável melhora em seu
desempenho.
O isolamento do ruído aéreo, para sistemas homogêneos, dá-se através da lei das massas, ou
seja, quanto maior a massa (kg/m2) melhor o desempenho do isolamento ao ruído aéreo.
Conforme descrito acima, a solução para que a adoção do Sistema 3 seja eficaz, foi preciso
que se aumentasse a espessura da camada sólida “laje suporte”. Já que os ensaios foram
realizados considerando Sistemas compostos por lajes maciças em concreto aramado de
8,5cm, optou-se por elevar esta espessura para 10cm, afim de aumentar a massa do principal
elemento separador.
8. Considerações Finais
Buscando manter-se apta a fazer parte do programa de habitação Minha Casa Minha Vida,
praticando preços competitivos no mercado, a Construtora precisou realizar ensaios de campo
para determinação de uma tecnologia de Sistema de Pisos eficiente, capaz de atentar aos
requisitos mínimo da NBR 15575-3:2013. Após os ensaios, concluiu-se que o Sistema 1 (o
qual vinha sendo adotado anteriormente) não apresentava desempenho suficiente de isolação
ao ruído de impacto. Já o Sistema 2 obteve desempenho tanto à isolação ao ruído de impacto
quanto ao ruído aéreo, porém seu custo inviabilizaria a manutenção da Construtora dentro do
mercado.
9. Referências
BISTAFA, Sylvio R. Acústica aplicada ao controle do ruído. 2 ed. São Paulo: Blucher,
2011.