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G_EL212A_2021S2 - Política Educacional : O. E. Brasileira.

Ana Julia Bacce Kuhl - 188356

Direito à educação - Diversidade: o Programa Escola sem Partido.

O programa Escola sem Partido se define como um representante dos interesses


dos estudantes e pais contrários à chamada “doutrinação ideológica” presente nas
instituições de ensino (NAGIB, 2016). Por meio de um projeto de lei que tramita nas
câmaras municipais, assembleias legislativas e até no congresso nacional, o movimento
defende que seja aficionado nas salas de aulas um cartaz com uma lista, elaborada pelo
programa, de “deveres do professor”. Os ditos deveres elencam uma série de exigências
que, em tese, determinam neutralidade política, ideológica e partidária aos docentes,
prevendo sanções de natureza civil e penal. Dessa forma, de acordo com os defensores do
movimento, o projeto atuaria contra a doutrinação política de esquerda e a “usurpação do
direito dos pais dos alunos sobre a educação moral dos seus filhos”. (PROGRAMA
ESCOLA SEM PARTIDO, 2018 s/n).
Duramente criticado por professores e especialistas em educação, que afirmam
que o projeto culpabiliza e ameaça a liberdade dos educadores, inúmeras
insustentabilidades podem ser observadas na proposta do programa. Mesmo sendo
sinalizado na esfera judiciária - em particular pelo Supremo Tribunal Federal - como
inconstitucional, o projeto de lei continua sendo proposto e aprovado na esfera legislativa,
evidenciando o descompasso e a desarmonia entre os poderes (ASSIS, 2018). Ainda no
âmbito jurídico, existe a contradição presente no suporte normativo do projeto, que se
baseia em determinados trechos da Constituição - contrapondo os próprios artigos citados,
a lista de deveres dos professores viola a liberdade de consciência, de pesquisa e de
divulgação do pensamento, além de atuar contra a garantia de pluralidade das atuações
políticas prevista na própria Constituição (art. 206, III CRFB/88).
Do ponto de vista prático as proposições apresentadas esbarram na realidade da
sala de aula. Ao defender o ensino dos conteúdos curriculares de forma exclusiva, o projeto
inibe uma discussão relacionada ao contexto dos estudantes, atrapalhando o debate, a
abordagem de temas atuais e a discussão de ideias. Em diversas situações, inclusive, a
neutralidade se torna imoral: como um professor poderia se manter neutro diante de
colocações graves como o nazismo, o fascismo e o racismo? Até mesmo a soberania dos
princípios familiares, colocada como incontestável pelo programa, tem o direito de ser
questionada caso contrarie os direitos humanos e os valores defendidos pelas Constituição.
É notável que o programa, apesar de se posicionar como apartidário e isento, tem
como real objetivo impedir a propagação de discursos progressistas e garantir a hegemonia
da perspectiva conservadora, atuando apenas contra as pautas de esquerda - esse ponto
fica claro ao observarmos suas implicações e ideias subentendidas, além dos partidos e
figuras favoráveis ao movimento. O Escola Sem Partido vê o aluno como uma figura
passiva, sem opinião, ao defini-los como uma “audiência cativa” em oposição direta à figura
de “transmissor de conteúdo” do professor, estabelecendo uma visão pedagógica
ultrapassada baseada em hierarquias, sem levar em conta o aluno como um agente
construtor do seu conhecimento. Ao colocar o professor sob vigilância e suspeita
constante, o movimento cria um uma sensação de desconfiança, destruindo o diálogo e a
segurança existente entre a escola e a família, dificultando, assim, a construção de uma
educação integral e democrática.
Direito à Educação – Povos Indígenas: A trajetória da Educação Escolar Indígena no Brasil.

As mudanças nas políticas de educação indígena no Brasil ao longo dos anos


demonstram as relações de poder presentes em cada época, tal como os interesses do
Estado em cada período. Ainda no Brasil Colônia, o principal objetivo dos jesuítas na
educação indígena era a dominação, imposta por meio de um ensino desprovido de caráter
escolar e voltado exclusivamente para a catequese dos povos. A definição do indígena
como inferior e selvagem, que permeou pelos séculos seguintes à colonização, repercutiu
num ensino pautado na aculturação e na resolução do “problema do índio”, que tinha como
objetivo "torná-los humanos e civilizá-los'' (BRANDÃO, 1986). Posteriormente, já no início
século XX, inicia-se um segundo momento da educação indígena, com a criação do Serviço
de Proteção ao Índio, programa baseado em ideários positivistas de progresso que visava
uma assimilação dos povos. Por meio do SPI, o Estado buscava integrar os indígenas à
economia e promover união nas regiões de fronteira estratégicas para o país (OLIVEIRA,
NASCIMENTO, 2012), sem levar em conta os aspectos culturais e as diferenças entre os
grupos étnicos ao estimular o abandono das línguas e dos costumes nativos.
Mais tarde, em plena ditadura militar, o SPI foi substituído pela Fundação Nacional
do Índio (Funai), programa pautado pela estratégia de integração dos indígenas à
nacionalidade, ainda vinculado à ideia de civilização dos povos. Todavia, o novo programa
apresentou uma importante mudança ao identificar a importância do ensino das línguas
nativas no processo de alfabetização, firmando parceria com o Summer Institute of
Linguistics (SIL) que atuou no processo de criação da escrita de diversas línguas e
possibilitou a criação do curso de formação de monitores bilíngues, em 1970, onde os
próprios indígenas atuavam como professores auxiliares. A presença do professor nativo foi
fundamental para o processo de elaboração de uma política de educação escolar dos índios
e para o advento de novos agentes políticos durante os anos seguintes, onde houve a forte
presença de movimentos e organizações.
Após a participação indígena no processo constituinte de 1988, foram conquistados
novos direitos, como o direito à escolas diferenciadas e o ensino do próprio idioma com
processos pedagógicos integrados às culturas nativas. A partir de 1991, a educação
indígena passa a ser vinculada ao Ministério da Educação, desencadeando uma série de
mudanças, como a criação de novas leis e setores, além da inclusão de professores e
lideranças indígenas na condução dos projetos. Em 1996, com a Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional foi estabelecido, pela primeira vez, uma educação escolar bilíngue e
intercultural aos povos indígenas, finalmente levando em consideração a especificidade e a
diferenciação. Nos dias de hoje, segundo os dados do Censo Escolar 2006 Inep/MEC
existem cerca de 10.800 professores indígenas atuando no ambiente escolar,
representando mais de 90% dos docentes nas escolas das aldeias.
A longa trajetória da educação escolar indígena brasileira evidencia os progressos
conquistados ao longo do tempo por meio da luta dos povos nativos, que transformaram um
espaço antes baseado em proselitismo e aculturação numa educação que viabiliza a
manutenção da língua e dos saberes. A transmissão da cultura ocidental envolve inúmeras
problemáticas, contudo, possibilita que os povos indígenas defendam seus direitos de forma
mais simétrica, compreendendo as engrenagens do sistema e das instituições. Apesar de
todos os avanços, inúmeros obstáculos ainda deverão ser superados nos próximos anos,
como as políticas de coordenação e execução realizadas pelas secretarias Estaduais, para
que as progressões aconteçam de maneira prática

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