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& A IMPORTÂNCIA DO CUIDADOR


DE IDOSOS NA ASSISTÊNCIA AO IDOSO

Miriam Scarpellini1
Marli Maria Loro2
Adriane Cristina Bernat Kolankiewicz3
Cleci Lourdes Piovesan Rosanelli4
Joseila Sonego Gomes5
Regina Célia Gollner Zeitoune6

RESUMO THE IMPOR


IMPORTT ANCE OF ELDERLY CAREGIVERS IN
ELDERLY
ASSIST ANCE TO THE ELDERL
ASSISTANCE Y
ELDERLY
O envelhecimento constitui-se em uma fase da vida do ser
humano e estatísticas tem evidenciado que, no Brasil, a popula- Abstract
ção idosa vem crescendo. Assim, o estudo visa analisar a produ-
The aging is a life stage of human and statistics has shown
ção científica nacional nos últimos cinco anos, acerca do cuidado
that, in Brazil, the aged population is increasing. So, the study
prestado pelos cuidadores na assistência ao idoso. É um estudo
want to analyze the national scientific production in last five
de revisão bibliográfica de artigos científicos, encontrados na
years, about care provided for caregivers in elderly assistance. It
base de dados online dos últimos cinco anos. A busca de apreen-
is a study of bibliographic review of scientific articles, found in
der a essência no conteúdo existente nos artigos analisados re-
online data base of last five years. The search of capture the
sultou em uma categoria nominada “Cuidado prestado ao idoso”.
essence in content of articles analyzed resulted in a category
Inúmeras alterações ocorrem decorrentes do processo de envelhe-
named “care provided to elderly”. Numerous changes occur deri-
cimento fazendo que o idoso necessite de alguém para auxiliá-lo
ving of aging process doing the aged needs someone to help in
em atividades do cotidiano. E, o cuidador, necessita desenvolver
daily activities. And, the caregiver needs to develop characteris-
características como habilidade, sensibilidade e empatia, bem
tics, ability, sensibility and empathy, as well to be trained to
como ser capacitado para que entenda o idoso para além da pato-
understand the aged over and above pathology that affect him. So,
logia que o acomete. Assim, a enfermagem necessita instrumen-
the nursing need to give instruments and support to caregivers to
talizar e dar suporte, aos cuidadores, para que desempenham o
develop quality care.
cuidado com qualidade.
Keywords: Aged; Elderly caregivers; Care; Aging.
Palavras-chave: Idoso; Cuidador de Idosos; Cuidado;
Envelhecimento.

1
Acadêmica do curso de Enfermagem da UNIJUI – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. E-mail:
miriam.scarpellini@unijui.edu.br
2
Enfermeira, Mestre em Educação nas Ciências, docente do Departamento de Ciências da Vida da UNIJUI. Rua 24 de Fevereiro, 1498,
Bairro São jose, Ijui – CEP 97800 000. E-mail: marlil@unijui.edu.br.
3
Enfermeira, Mestre em Saúde Coletiva, Docente do Departamento de Ciências da Vida da UNIJUI
4
Enfermeira, Mestre em Educação nas Ciências, Docente do Departamento de Ciências da Vida da UNIJUI.
5
Enfermeira, Mestre em Enfermagem em Saúde Pública. Docente do Departamento de Ciências da Vida da UNIJUI.
6
Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora da Escola de Enfermagem Anna Nery/UFRJ.

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REVISTA CONTEXTO & SAÚDE IJUÍ EDITORA UNIJUÍ v. 10 n. 20 JAN./JUN. 2011 p. 85-92
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INTRODUÇÃO tem potencial de gerar uma desqualificação no cui-


dado e pode provocar estagnação ou ainda haver
involução do quadro clínico, o que pode acarretar
A preocupação com a velhice e com o envelhe-
sobrecarga para o cuidador.
cimento é tão antiga quanto a civilização. E, partin-
do dessa afirmação observa-se que o envelhecimento Nesse sentido, para Filho e Neto (2005), é de
constitui-se em uma fase da vida do ser humano. fundamental importância que o profissional que efe-
Além disso, percebe-se que a população idosa está tiva o cuidado com idosos esteja atualizado nas pe-
crescendo no Brasil. Segundo dados de projeção do culiaridades anatômicas e funcionais do envelheci-
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE mento, sabendo discernir com mais precisão os efei-
(2010) a cada nova publicação acerca do perfil dos tos naturais deste processo (senescência) das alte-
idosos no Brasil é revelada que a mesma vem au- rações produzidas pelas inúmeras afecções que pode
mentando, significativamente e representa um con- acometer o idoso (senelidade).
tingente de quase 15 milhões de pessoas com 60 Com vistas nessa necessidade de aprimoramen-
anos ou mais de idade, ou seja, 8,6% da população to profissional para o cuidado com o idoso, não se
brasileira. pode deixar de enfatizar a importância do cuidador
Calcula-se que até 2025, 15% da população to- de idosos na assistência dispensada ao mesmo. As-
tal seja de idosos. No entanto, os cuidados específi- sim, o objetivo da pesquisa é analisar a produção
cos em relação a esta população caracterizam-se científica nacional nos últimos cinco anos, acerca
ainda como precários, no que se refere à saúde pú- do cuidado prestado pelos cuidadores na assistên-
blica, pois o aumento da população idosa traduz-se cia ao idoso.
em maior número de doenças degenerativas, crôni-
cas do sistema cardiocirculatória, respiratória, neu-
ropsiquiátrico, digestivo e ósteo-articular (IBGE,
2010). METODOLOGIA
Além disso, a Pesquisa Nacional por Amostra
A pesquisa caracteriza-se como uma revisão bi-
de Domicílios, realizada pelo IBGE (2008), alude que
bliográfica. Para Minayo (2007), ela é vista como
um e meio milhão de idosos encontram-se fragiliza-
uma atividade básica das ciências na sua investiga-
dos no país. Para Pinto et. al. (2009) Idoso fragiliza-
ção e, também, no conhecimento da realidade. É
do é aquele com mais de 75 anos ou os com mais de
uma atitude e uma prática teórica de constante bus-
65 anos portadores de algum tipo de comprometi-
ca que define um processo incompleto e constante.
mento funcional.
Ou seja, a aproximação da realidade que nunca se
O crescimento da população idosa, além de mo- conclui, uma combinação entre teoria e dados.
dificações somáticas e psíquicas, próprias da idade,
De acordo com Lakatos e Markoni (2003), é pre-
tem movido o idoso a encarar novas circunstâncias,
ciso levar em consideração que uma pesquisa biblio-
como por exemplo, as baixas aposentadorias que
gráfica deve ser analisada pelo pesquisador de forma
refletem na redução dos recursos econômicos, bem
profunda, possibilitando descobrir novos caminhos.
como a perda de sua posição social. No entanto, a
Além disso, é necessário utilizar fontes diversas, co-
mais experimentada, sem dúvida alguma, é a limita-
tejando, cuidadosamente, as informações obtidas.
ção da sua capacidade física, biológica e cognitiva,
o que leva, por vezes, a pessoa necessitar de cuida- Já com relação às fontes de informações, im-
dos de terceiras, ou seja, de cuidadores. porta mencionar, que as mesmas foram coletadas e
analisadas de artigos científicos da área da saúde.
Os cuidados prestados ao idoso, em sua maioria,
são realizados por pessoas sem formação básica ade- A base de dados para construção deste estudo
quada, representado por um familiar ou uma pessoa foram publicações on-line da Scientific Eletronic
contratada, exclusivamente, para este fim. Tal fato Library on-line (SCIELO) e Literatura Latino Ame-

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ricano e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), posto. Observa-se ainda que resumos, dissertações
em um período de cinco anos, ou seja, 2005 a 2010. e teses não integraram o conjunto de artigos anali-
Os descritores utilizados para a coleta dos artigos sados.
foram: idoso, saúde do idoso, cuidador, cuidados. Após a busca destes artigos foi realizada a análi-
Os critérios de inclusão adotados são: ser publi- se que visa responder o objetivo do estudo. Confor-
cado no ano de 2005 a 2010; estar disponível online; me Minayo (2007), os artigos foram lidos, seleciona-
redigido em português; conter no mínimo dois dos dos, organizados e categorizados. A partir da análise
descritores selecionados. Salienta-se ainda que a dos seus conteúdos, realizou-se a interpretação e, a
busca foi realizada durante o período de abril e maio partir de então a elaboração do texto final.
de 2011. A seleção de artigos foi feita em conformi- Importante ressaltar que os artigos pesquisados
dade com o tema proposto, sendo descartados os para esse trabalho estão reunidos na tabela abaixo,
artigos que, apesar de constarem no resultado da em que são apresentados por: título, periódico, des-
busca, não apresentaram ligação com o tema pro- critor, autor, objetivo.
TÍTULO PERIÓDICO DESCRITOR AUTOR OBJETIVO
1.A importância do Revista Latino Idoso Moreira, Márcia Relatar a percepção de
cuidador no contexto Americana de Envelhecimento Duarte; Caldas, cuidadores de idosos que atuam
da saúde do idoso Enfermagem, 2007 Cuidadores Célia Pereira em instituições de amparo.
2. Cuidando de Escola Ana Nery de Cuidadores Silveira, Terezinha; Discutir a temática que mostra o
idosos altamente Enfermagem, 2006 Família Caldas, Célia idoso dependente de cuidados e a
dependentes na Pereira; Carneiro, capacitação do cuidador no
comunidade: um Terezinha Feres contexto domiciliar
estudo sobre
cuidadores familiares
principais
3. Cuidador de idoso Caderno de Saúde Enfermagem; Floriani, Ciro; Analisar como as famílias dos
com câncer avançado Pública, 2006 Cuidados Schramm, Fermin pacientes com neoplasia
Neoplasias escolhem os cuidadores.

4. O envelhecimento Revista Latino Idoso Garbin, Cléa; Analisar o envolvimento do


na perspectiva do Americana de Cuidados Sumida, Dóris; cuidador com seu trabalho,
cuidador de idosos Enfermagem, 2008 Enfermagem Moimaz, Suzely; levando em consideração a
Prado, Rosana; sobrecarga física e emocional à
Silva, Milene qual está exposto.
5. Cuidar em família: Revista Brasileira de Cuidador familiar Mazza, Márcia Investigar o cotidiano dos
análise da Crescimento e Idoso Rossetto; Lefèvre, cuidadores familiares de idosos
representação social Desenvolvimento Família Fernando com idade a partir de 70 anos e
da relação do Humano, 2005 Envelhecimento com incapacidade
cuidador familiar funcional.Particularmente, o
com o idoso objetivo foi compreender o que é
para esse cuidador familiar o ato
de cuidar e como ele vê esse
idoso objeto do cuidado.
6. Desvelando o Revista Brasileira de Cuidados domiciliares Rocha, Michel Descrever como os cuidadores
cotidiano dos Enfermagem, 2008 de saúde; Cuidadores; Patrick; Vieira, informais de idosos interpretam e
cuidadores informais Assistência a idosos. Maria Aparecida; constroem o seu cotidiano.
de idosos Sena, Roseni Mostrar como exercem o cuidar
Rosangela de. com amor, carinho e dedicação,
utilizando a fé e a espiritualidade
como busca do equilíbrio
biopsicossocial.
7. O cuidado no Revista Eletrônica Assistência Zem-Mascarenhas, Caracterizar a pessoa dependente
domicílio: a visão da de Enfermagem, domiciliar; Sílvia Helena; em atendimento domiciliar e seu
pessoa dependente e 2009 Cuidadores; Barros, Ana respectivo cuidador, conhecer as
do cuidador Serviços de Cláudia percepções dessa população
assistência domiciliar quanto à qualidade do serviço
prestado na assistência domiciliar
e conhecer como o cliente avalia
o cuidado prestado por seu
cuidador.
8. Ser cuidador de Revista de Envelhecimento; Bohm, Verônica; Dar a visibilidade para filhas

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8. Ser cuidador de Revista de Envelhecimento; Bohm, Verônica; Dar a visibilidade para filhas
idosos: sentimentos Gerontologia, 2010 Cuidador; Carlos: Sérgio cuidadoras.
desencadeados por Idoso Dependente Antonio
esta relação
9. Os sentidos e Revista de Ciência e Idosos; Cuidador; Maffioletti, Identificar o perfil dos cursos que
destinos do cuidar na Saúde Coletiva, Reabilitação Virgínia Lúcia objetivam preparar cuidadores
preparação dos 2006 psicossocial Reis; Loyola, para assistir pessoas idosas com
cuidadores de idosos Cristina Maria variados graus de dependência e
Douat; Nigri, comprometimento da autonomia.
Fortunée.
10. Aspectos éticos Revista de Idosos dependentes; Yamada, Kiyomi Analisar os aspectos éticos
envolvidos na Enfermagem UERJ, Cuidadores de idosos Nakanishi; Gomes, envolvidos na assistência a
assistência a idosos 2006 Mara Solange; idosos dependentes e seus
dependentes e seus Dellaroza, José cuidadores
cuidadores

Com as alterações, muitos idosos, em diversas


DISCUSSÃO DOS RESULTADOS situações, necessitam de alguém para auxiliá-los em
atividades que antes pareciam simples, tais como:
Ao analisar os artigos selecionados, identificou- se alimentar, tomar banho, caminhar, ler o jornal.
se que todos versam acerca da importância do cui- Nos dizeres de Yamada; Dellaroza; Siqueira (2006),
dador na assistência ao idoso. Estes destacam a
Garbin et. al. (2008), Moreira e Caldas (2007), Zem-
necessidade do cuidado destinado ao idoso, o qual,
Mascarenhas e Barros (2009) o envelhecimento
geralmente, encontra-se dependente necessitando
transforma pessoas ativas e produtivas em vulnerá-
de auxilio nas suas necessidades básicas.
veis e dependentes. O envelhecimento, quando
Em relação aos periódicos que compõem este acompanhado de limitações funcionais, exige cui-
estudo, observa-se que a maioria são específicos da dados em várias áreas, que precisam ser realizados
área da enfermagem, ou seja, Revista Latino Ameri- por profissionais habilitados para reconhecer os dis-
cana de Enfermagem, Revista da Escola Ana Nery túrbios típicos das doenças ligadas ao envelhecimen-
de Enfermagem, Caderno de Saúde Pública, Revista to e garantir atendimento adequado (GARBIN et.
Latino Americana de Enfermagem, Revista Brasilei- al. 2008).
ra de Crescimento e Desenvolvimento Humano, Acta
Paulista de Enfermagem, Revista Eletrônica de En- Importante mencionar, no entendimento do mes-
fermagem, Revista de Gerontologia, Revista de Ci- mo autor, que durante o processo de envelhecimen-
ência e Saúde Coletiva, Revista Enfermagem UERJ. to, não existem limites rígidos, com determinantes
cronológicos para cada etapa do envelhecer. A se-
No que se refere ao ano de publicação dos arti-
nescência dá lugar à senilidade, ou seja, ao surgi-
gos selecionados destaca-se que um artigo é do ano
mento de doenças de forma muito sutil.
de 2005; três de 2006; um de 2007; dois de 2008;
dois de 2009 e um de 2010. Com essa necessidade, advinda do processo de
Estes dados mostram que os estudos são recen- envelhecimento, Garbin et. al. (2008) afirmam que
tes e que há preocupação com a temática e, se bus- surge a figura do cuidador de idosos. Este, normal-
ca entender o cotidiano dos cuidadores de idosos no mente, é o porta-voz da família, a pessoa, primeira-
processo que envolve a assistência ao mesmo. mente, responsável pelo cuidado com o idoso. Por-
tanto, além de ser componente-chave no processo
Conforme Garbin; et. al. (2008) o Brasil é o sexto de cuidar, é também, fundamental no auxílio e ma-
país em população idosa e, com o avanço da idade,
nutenção desse cuidado.
ocorrem alterações no estilo de vida da população
idosa. Essas podem ser ocasionadas por problemas Moreira e Caldas (2007) enfatizam que o cui-
de saúde ou mesmo pelo processo fisiológico do dador pode ser uma pessoa da família ou não que,
envelhecimento. com ou sem remuneração, cuida do idoso doente

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ou dependente no exercício de suas atividades diá- Reforçam ainda que, muitas vezes, quem ocupa
rias, acompanhamento aos serviços de saúde e o lugar de cuidador é o próprio familiar. No entanto,
demais serviços requeridos do cotidiano, como a o familiar vivencia a sobrecarga física e emocional
ida a bancos ou farmácias. No entanto, conforme desse cuidado. Isso porque a família funciona, na
os autores citados estão excluídas as técnicas e maioria dos casos, como uma totalidade, em que
procedimentos identificados com as de profissões cada indivíduo desempenha um papel que irá influ-
legalmente reconhecidas, particularmente, na área enciar no todo. A partir do momento em que um
da enfermagem. membro desse grupo adoece e não cumpre mais
esse papel definido, a organização anterior sofre uma
Nesse caso, Rocha; Vieira; Sena (2008) defi-
alteração que desencadeia uma crise, obrigando a
nem que os cuidadores podem ser divididos em: cui-
reestruturação de papéis.
dadores formais e cuidadores informais. Os cuida-
dores formais prestam cuidados no domicílio com Rocha; Vieira; Sena (2008) corroboram afirman-
remuneração e com poder decisório reduzido, cum- do que a família passa a ter uma co-responsabilida-
prindo tarefas delegadas pela família ou pelos pro- de, no momento em que ocorrem alterações nas
fissionais de saúde que orientam o cuidado. São pro- condições de vida de um dos seus integrantes, prin-
fissionais capacitados para o cuidado, contribuindo cipalmente no caso de adoecimento. Os familiares
de forma significativa para a manutenção da saúde são os primeiros a reconhecer essas necessidades
das pessoas cuidadas. Esses cuidadores têm, em e a oferecer os cuidados essenciais aos idosos que
geral, formação de auxiliar ou técnico de enferma- se tornam dependentes.
gem, com conhecimento orientado para o cuidado
Conforme comentam Floriani e Schramm (2005)
em saúde dos portadores de patologia física ou men-
é o familiar, no papel do cuidador do idoso que rece-
tal, em função do atendimento de necessidades es-
be toda a sobrecarga física, psíquica, social e, tam-
pecíficas.
bém econômica. Os autores inferem ainda que, essa
Já, os cuidadores informais são os familiares, sobrecarga é vivenciada pelo cuidador numa repeti-
amigos, vizinhos, membros de grupos religiosos e tividade diária incessante, muitas vezes, durante anos,
outras pessoas da comunidade. São voluntários que somando-se com atividades cotidianas, quase sem-
se dispõem, sem formação profissional específica, pre solitárias e sem descanso.
a cuidar de idosos, sendo que a disponibilidade e a Por outro lado, Mazza; Rosseto; Lefere (2005)
boa vontade são fatores preponderantes. dizem que é na família que o idoso tem o seu mais
Conforme Moreira e Caldas (2007) com o pro- efetivo meio de sustentação e pertencimento, em
cesso de envelhecimento da população e consequente que o apoio afetivo e de saúde se faz necessário e
aumento do número de idosos, que vivenciam um pertinente. Quando a família está impossibilitada de
processo de doença crônica e incapacitante, tornan- prestar assistência, o idoso fica exposto a situações
do-se dependentes, cresce, também a preocupação de morbidade significativa sob vários aspectos tan-
com quem vai cuidar do idoso, muitas vezes, que se to físicos, como psíquicos ou sociais.
encontra acamado e necessitando de cuidados in- Yamada; Dellaroza; Siqueira (2006) mostram que
tensivos. a família desempenha papel importante em qualquer
Silveira; Caldas; Carneiro (2006) afirmam que estágio da existência humana, entretanto, assume
com a necessidade de um cuidador é preciso que particular importância no início e final da vida. Ne-
este possua características especiais para que pos- les são percebidos com maior intensidade estados
sa oferecer uma assistência adequada ao idoso. Os de fragilidade e vulnerabilidade das pessoas.
referidos autores inferem que habilidade, sensibili- Os autores enfatizam que, nesse sentido, a aten-
dade e empatia são características que parecem ção ao idoso está intimamente relacionada à pre-
fazer parte da personalidade de quem cuida, mas sença do cuidador, ou melhor, da pessoa que, no
tomam mais expressão no ato de cuidar. espaço doméstico, realiza ou ajuda o idoso a desen-

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volver suas atividades de vida diária e atividades prestação de serviços desregulamentada, bem como
instrumentais de vida diária, com o objetivo da pre- uma carência de uma rede de serviços públicos es-
servação de sua autonomia e de sua independência. pecializada, e a exigência de minimizar custos.
Yamada; Dellaroza; Siqueira (2006) corroboram Nesse contexto, para Yamada; Dellaroza; Siqueira
afirmando que a forma como a família se estrutura (2006) prestar cuidado ao idoso, neste contexto, exige
e como são designados os papéis entre seus mem- atenção e respeito a seus valores morais. Ao reali-
bros, contribuem para que o idoso seja bem ou mal zar procedimentos, o cuidador deve atentar para não
cuidado. A família, por vezes, experimenta o pre- expô-los, desnecessariamente, respeitando sua pri-
conceito que a sociedade manifesta sobre o enve- vacidade e intimidade, lembrando que idosos, espe-
lhecimento, pois considera os idosos pessoas impro- cialmente os do sexo feminino, sentem-se, por ve-
dutivas, decadentes e inconvenientes, abandonan- zes, constrangidos em receber cuidados de pessoas
do-os à sua própria sorte, sem prestar-lhes cuida- do sexo oposto, especialmente, se os cuidadores
dos básicos de higiene e alimentação necessários forem muito jovens.
para a sobrevivência, o que, caracteriza situação de Da mesma forma, os autores referem ainda que
abandono. os profissionais da saúde que irão instrumentalizar
Vale ressaltar, o que afirmam Zem-Mascarenhas os cuidadores devem prestar esclarecimentos de
e Barros (2009) que os cuidadores de idosos são maneira clara e em linguagem acessível sobre pro-
desafiados por inúmeras demandas, previsíveis ou cedimentos a serem realizados no idoso. Em situa-
não, em função da diminuição da capacidade funci- ções em que o idoso possui limitações para decisão
onal do idoso, aliada a presença de múltiplos fatores autônoma deve o profissional solicitar a colabora-
inerentes ao ato do cuidado, as quais são geradoras ção de familiar que melhor prive da intimidade do
de ônus para a família. Com isso, observa-se que o paciente.
cuidado com o idoso deve ser realizado por pessoas Não é correto que o profissional, segundo Ya-
capacitadas, habilidosas e que possam entender o mada; Dellaroza; Siqueira (2006) imponha quaisquer
mesmo para além da patologia que o acomete. opções sem prestar esclarecimentos e possibilitar
Floriani e Schramm (2005) demonstram que o que idosos e familiares façam suas próprias esco-
cuidador seja ele familiar ou profissional contrata- lhas. Do ponto de vista ético, a tomada de decisão
do, é elemento fundamental na difícil tarefa de pro- compartilhada, envolvendo idosos, familiares e ou-
porcionar um envelhecimento mais saudável e com tros profissionais é a conduta mais adequada. Deci-
menor comprometimento funcional. sões manifestadas, antecipadamente, por idosos em
caso de impedimento para futuras decisões autôno-
Maffioletti; Loyola; Nigri (2006) apontam o sur-
mas devem ser respeitadas por profissionais e fa-
gimento do cuidador formal como uma nova cate-
miliares.
goria profissional, sob a exigência dessa nova mo-
dalidade de assistência para os idosos e não pode Bohm; Carlos (2010) assinalam que cuidar é
ser entendida como uma resultante exclusiva das muito mais que um simples ato. Cuidar, na verdade,
pressões do campo gerontológico. é uma atitude. E essa atitude requer conhecimento
e responsabilidade, mas também, afetividade, do ser
Na verdade, ela se inscreve, para o mesmo au-
humano para com ser humano. Assim, o cuidador
tor, no campo do cuidar, apesar das resistências que
tem encontrado, porque há compatibilidade entre a deve, antes de tudo, saber e querer cuidar do outro
nova mentalidade e a estrutura social, numa lógica semelhante, que não é igual, e que, temporariamen-
interna que lhe dá sustentação. Também, segundo te, está incapacitado funcionalmente.
os autores, há uma pressão social e econômica que Segue os referidos autores apontando que só o
obriga os membros da família a se inserirem no trabalho e o ato de zelar, não torna um indivíduo
mercado de trabalho, uma demanda e uma oferta cuidador. É necessária a união do trabalho com a
que se inscrevem na fragmentação dos saberes, da disponibilidade e capacidade de ouvir o outro, sen-

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tindo-o, sem possuí-lo, sem tirar-lhe sua autonomia Rocha; Viera; Sena (2008) completam afirmando
e independência. O cuidado para o cuidador deve que o cuidar é mais que um simples ato. Representa
ser um trabalho prazeroso, sem sofrimento. uma atitude de ocupação, de preocupação, de res-
Nesse sentido, Rocha; Viera; Sena (2008) apon- ponsabilização e de envolvimento afetivo com o ou-
tam que ter cuidado com alguém é um sentimento tro. O cuidado perpassa toda a existência humana
inerente ao ser humano, ou seja, é natural da espé- com ressonâncias em diversas atitudes importantes.
cie humana, pois faz parte da luta pela sobrevivên-
cia e, também, do cotidiano dos cuidadores infor-
mais de idosos.
CONCLUSÃO
Assim, os cuidadores necessitam estar atentos à
rotina do cuidado, para que as ações repetitivas, ao A análise dos artigos estudados permitiu visuali-
longo do tempo, não diminuam o vinculo afetivo entre zar aspectos que envolvem o cuidador de idosos e
o cuidador e o idoso. Também, o cuidador de idoso, evidencia-se que o cuidador é a pessoa que presta
deve atentar para dar ênfase aos cuidados preventi- cuidados a alguém, assumindo a responsabilidade
vos, com vistas a evitar complicações futuras. de cuidar, de dar suporte ou assistir o paciente, po-
Sobre isso os mesmos autores apontam que o dendo ser um profissional de saúde, nominado de
cuidador de idosos é aquele que põe a necessidade cuidador formal, ou um membro da família, ou outra
do outro em primeiro lugar e, pressionado por ne- pessoa que assuma os cuidados por alguém, nomi-
cessidades imediatas, esquece-se de si mesmo, por- nado cuidador informal.
que o cuidado constante toma praticamente todo o Nesse sentido, muitas vezes, a atitude de cuidar
seu tempo, as suas forças, o seu lazer e até suas de um idoso com limitações pode impor ao cuidador
emoções. Assim, a rotina diária que determina os sobrecarga e conflitos, assim, cabe aos profissionais
afazeres do cuidador exclui a sua vontade ou prefe- de saúde implantar programas de suporte social à
rência. Abre mão de sua vida para aquele de quem família, voltados para a realidade desses cuidadores.
está cuidando, principalmente se o cuidador for um
familiar. Faz-se necessário, ainda que os profissionais de
saúde ofereçam aos cuidadores, orientações neces-
Além disso, para esse autor, o cuidador familiar sárias ao cuidado, principalmente em relação às pes-
sofre, se fere, perde, se entrega e se desgasta. Ocor- soas portadoras de doenças crônicas não transmissí-
re a desestruturação de sua vida. Nesse sentido, o veis de quem estão cuidando, que ferquentemente
cuidar de um idoso dependente exige muito mais acometem idosos. Devem, ainda, proporcionar aten-
que tempo, carinho, disponibilidade, abnegação de ção à saúde dos cuidadores, considerando que a ati-
uma “outra vida”. vidade de cuidar de um idoso dependente, é desgas-
Zem-Mascarenhas e Barros (2009) corroboram tante e implica riscos à saúde mental do cuidador.
enfatizando que o cuidado não é estático, pois como Assim, a saúde física e mental do cuidador é tão
a vida e o processo de envelhecimento, o cuidado é importante quanto à do ser cuidado. Nesse sentido,
dinâmico e pode-se pensar em um guia de condu- é preciso preservar ambas, para que possam pres-
tas, mas não um protocolo rígido, engessado, em que tar um atendimento adequado, contribuindo assim,
o cuidador tenha a segurança que só o realizar de para a qualidade de vida destes, levando em consi-
determinada tarefa, garanta o cuidado necessário. deração que muitos deles sofrem vivenciam situa-
Bohm; Carlos (2010) reiteram ainda que cuidar ções estressantes.
não é apenas zelar por um corpo físico. Cuidar vai Para tanto, profissionais de saúde, em especial o
além e perpassa pela observação da palavra não enfermeiro deverá promover ações sistematizadas,
dita, por meio dos sinais do corpo, muitas vezes, frá- organizadas e metodologicamente apropriadas, com
gil, debilitado, outras vezes, contido, desacostumado o intuito de prevenir agravos à saúde do cuidador e
a manifestações afetivas. do “ser” cuidado.

Revista Contexto & Saúde, Ijuí • v. 10 • n. 20 • Jan./Jun. 2011


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