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<<CAPA>>

Vanessa Fernandes, em criança, mostrava bastante interesse em tudo o que


era atividade desportiva, aliás com 6 anos tinha já uma notória destreza física.
O pai inscreveu-a na natação, no Sporting de Espinho, com o objetivo de lhe
proporcionar uma formação desportiva completa. Aos 3 anos comprara-lhe a
primeira bicicleta, com rodinhas, e aos 4 ela já usava para ir de casa para a
oficina, que fica a cerca de um quilómetro. Com 9 anos, o pai levou-a a um
professor de atletismo na Maia, que ficou surpreendido com ela e a fez entrar
em várias provas. Vanessa tomou-lhe o gosto. Ia ao Porto, a Braga, a Aveiro,
corria e ganhava. Por incentivo de uns amigos dos pais, Vanessa participou na
sua primeira competição de triatlo em Peniche, aos 13 anos. Competição que
ganhou, sucedendo-lhe muitas mais vitórias, assim começou a dar nas vistas e
aos 15 anos foi convidada pela Federação de Triatlo a entrar para o Centro de
Alto Rendimento do Jamor. Vanessa Fernandes começou a participar em
campeonatos europeus de juniores aos 16 anos, pouco depois de ter ido viver
para o Centro de Alto Rendimento (CAR) do Jamor, por convite da Federação
de Triatlo de Portugal, e aos 17 obteve a primeira medalha europeia de
bronze. Em 2003, com 18 anos, era campeã europeia júnior, mas já há um ano
que participava nas competições a Taça do Mundo de elites. Ainda tinha 18
anos quando ganhou a sua primeira competição da Taça do Mundo de elites,
em Madrid. Em 2004 ficou em 8º lugar nos Jogos Olímpicos de Atenas, e a
partir daí começou a colecionar vitórias no circuito da Taça do Mundo. Em
2006 foi segunda nos Mundiais de Lausanne, e em 2007 tornou-se campeã do
Mundo. Entre 2006 e 2007, aliás, ganhou 20 medalhas de ouro em
competições de alto nível. Taças do Mundo ganhou, ao todo, 20. Além de 4
vitórias no Campeonato da Europa de sub-23, e duas nos campeonatos do
Mundo de Duatlo. Só no ano de 2006, o mais produtivo da sua carreira,
conquistou onze vitórias, 6 das quais em Taças do Mundo. Em 2008 obteve a
medalha de prata nas Olimpíadas de Pequim, e depois começou a crise.
Oficialmente, teve várias lesões e problemas de motivação. Os resultados
pioraram. Em 2009 decidiu abandonar o CAR e regressar a casa, em Perosinho.
Rompeu com Sérgio Santos, o treinador da Federação, com quem tinha ganho
tudo, e começou a trabalhar com Paulo Colaço, um técnico do Porto.

Em 2006, aos 21 anos, Vanessa ganhara mais medalhas do que qualquer outra atleta da sua
idade, contudo isso teve várias consequências e um preço enorme na vida da atleta. Existia
uma pressão extrema e crescente, visto que, o esperado por parte dos jornalistas,
treinadores, família, o país inteiro era a vitória. Havia o Campeonato do Mundo, os Jogos
Olímpicos. Os objetivos eram cada vez mais ambiciosos, desmesurados. Era preciso ser a melhor do
mundo.

Vanessa superava-se. Estava cada vez mais em forma, cada vez mais rápida, cada vez mais magra. E
adoeceu. “Eles precisam das medalhas, por isso não reconhecem que uma pessoa está doente”, diz
Maria Areosa. “Ela era a galinha dos ovos de ouro”.

A doença de vanessa foi descoberta em 2006, mas mantida em segredo. A sua doença começou a
ser tratada por estruturas médicas da Federação, mas não obteve resultados e tentou um psiquiatra,
contudo, também não resultou.

Vanessa continuou a participar em todas as provas ignorando a doença. Em 2007 venceu a


classificação global da taça do Mundo, em Hamburgo. Nunca trabalhara a um ritmo tão intenso.
“Vanessa competiu em Pequim e nas provas anteriores já doente”, diz o presidente da Federação.

Segundo os médicos, a doença não foi provocada pela prática desportiva, mas era potenciada por
ela. E, no entanto, continuou a prática da sua modalidade normalmente ou até com ritmo mais
intenso. Vanessa começou a sentir se desgastada e começou a perder a vontade de competir, mas
não lhe deixaram descansar.
A sua doença era principalmente evidenciada pela pressão que lhe era submetida a cada prova que
passava juntamente com uma importância crescente

“Nós entrámos no triatlo porque éramos boas, e alguém nos mandou para ali. Não foi propriamente
uma opção”, diz Maria, que em 2004 decidiu abandonar o desporto, durante 4 anos. Afirma ainda
que o esperado era ela aguentar, porque ela ganhava sempre, mas por causa da pressão existe uma
altura que é mais fácil continuar do que desistir.

Vanessa em 2008 tinha à sua frente a medalha de ouro em Pequim que seria o sonho de todos,
incluindo o seu. Contudo Vanessa perdeu a vontade de lutar por esse sonho, mas mesmo assim, fê-
lo em nome dos portugueses.

As expectativas em Vanessa eram tremendas, e esta obteve a medalha de prata. Após os jogos,
Vanessa perdeu completamente a vontade de treinar e competir. Nunca mais ganhou nenhuma
prova. Fazia treinos de duas horas de bicicleta a chorar do princípio ao fim. Começou a decadência
da atleta no mundo do desporto, esta começou a faltar aos treinos e a inventar desculpas para não
ir. Para tentar divertir-se começou a sair a noite com a irmã, mas esta apercebeu-se que Vanessa
não estava bem, que não tinha amigos. Afirma “Ela queria sair comigo e os meus amigos, para
disfarçar o mal-estar. Queria distrai-se, mas estava completamente desorientada”.

Vânia tornou-se sua confidente. “Não quero mais o desporto”, dizia-lhe Vanessa, a chorar. “Eu já não
ando a fazer isto por nada nem por ninguém. Só quero ser uma pessoa normal, ter um emprego
normal”. E assim Vanessa afastou-se da sua grande carreira no desporto

http://blogues.publico.pt/reporterasolta/o-que-correu-mal-a-vanessa-fernandes/

Consequências da especialização desportiva precoce


Apesar de ser visto por muitos como uma oportunidade de colocar um determinado atleta num
patamar superior aos restantes da mesma idade, a especialização precoce acarreta inúmeras
consequências. Muitas vezes, o atleta é sujeito a um aumento da exigência e complexidade do
treino, contudo, este aumento não será adequado à sua idade, muito menos à sua saúde física e
psicológica.

Algumas das consequências mais comuns relacionadas à especialização precoce de um atleta numa
determinada modalidade desportiva são: lesões, desgaste físico ou emocional/psicológico, que por
sua vez, provocará, em alguns casos, incapacidade funcional e cognitiva. Por vezes, de modo a
dedicar um maior tempo à modalidade, os atletas abandonam a escola, visto que vêm o desporto
como sendo um futuro promissor. Em casos mais extremos, a especialização precoce pode levar a
um abandono da modalidade que costuma praticar, ou até mesmo do desporto em geral.

O treinador, de certo modo, acaba por ser aquele que, em conjunto com os pais, possui mais
responsabilidade relativamente a este assunto. Os treinadores devem sempre respeitar as etapas de
formação dos atletas, através da elaboração de treinos adaptados às capacidades de cada um,
respeitando, acima de tudo, os limites físicos, psicológicos e cognitivos.

https://psicologia-do-desenvolvimento-humano.webnode.pt/especializacao-precoce-no-desporto/

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