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A Teoria da Evolução sob Escrutínio

Parte 6
O Verdadeiro Motivo de Darwin Ter Ido Estudar Artes (Teologia)

Por Walson Sales

Charles Darwin precisava de uma profissão com urgência, a única questão


era: qual profissão? Já que ele havia abandonado a medicina? Era verdade que a
família Darwin havia produzido também advogados e militares, mas Charles era
deficiente na autodisciplina exigida por essas profissões. Havia, porém, uma rede de
segurança para impedir que um segundo filho se tornasse irresponsável: a Igreja da
Inglaterra. A Igreja Anglicana, gorda, complacente e corrupta, vivia luxuosamente de
seus dízimos e dotações, como fazia já havia um século. Paróquias eram
rotineiramente leiloadas pela oferta mais alta. Uma excelente “habitação” rural com
uma espaçosa residência paroquial, alguns acres para alugar ou cultivar e talvez um
bom “celeiro de dízimos” para manter em bom nível as taxas locais, no valor de
centenas de libras por ano, poderiam facilmente ser comprados como
investimento por um cavalheiro com as possibilidades do dr. Darwin, pai de
Charles, e mantido para seu filho. Isso era estímulo suficiente para um jovem
subscrever praticamente qualquer credo. Quando Charles estivesse devidamente
educado e ordenado, assumiria o cargo. Estaria estabelecido pela vida inteira.
Entre a pequena nobreza que conhecia tão bem, ele desfrutaria proeminência social,
renda constante e mais tarde uma herança vultosa. Isso já havia acontecido antes na
família. Tanto o tio como o meio-avô do dr. Darwin, pai de Charles, haviam sido
párocos de Nottinghamshire e poucos anos antes o tio Josiah instalara seu
próprio sobrinho como vigário de Maer. Mesmo agora, um primo de Darwin, William
Darwin Fox, estava se preparando para a igreja no Christ’s College, em Cambridge.
Isso resolvia a questão. Charles, se não mantinha a fé em uma tradição da família,
manteria em outra. Deveria ser enviado para a formação em artes e se preparar para
a ordenação (DESMOND & MOORE, 2001, p. 66, 67).

Em Cambridge, ele obteve treinamento eclesiástico, na esperança de que,


como pároco de alguma província, conseguisse respeitabilidade, renda e tempo
livre para perseguir seus interesses na ciência natural (GUNDLACH, 2018). Ser
um pároco rural se adequaria a ele perfeitamente, e não só nos aspectos
recreacionais. Isso lhe daria mais tempo para seguir os passos [evolucionistas]
de Grant. Havia, desnecessário dizer, a pequena questão de sua fé. Ele tinha
dúvidas levemente perturbadoras sobre aquilo em que de fato acreditava. Edimburgo
expusera-o a todo tipo concebíbel de não-ortodoxia (DESMOND & MOORE, 2001,
p. 67).

Desde então Darwin começou a mergulhar nos livros de apologistas


cristãos Exposition of the Creed do bispo Pearson e o Evidences of Cristianity de John
Bird Sumner. Este o deixou mais impressionado. Charles não achou nada a que
objetar em Sumner e nos ooutros livros. Nada em que não pudesse dizer que
acreditava. E em outubro foi aceito como pensionista do Christ’s College, um
graduando pagador de todas as taxas. Teria que encarar os Clássicos que houvera
desprezado antes, pois nem sequer conseguia recordar o alfabeto grego, muito
menos conjugar um verbo. O pai de Charles pagou um professor particular de grego
e logo Charles estava decifrando a forma optativa e lutando com a crase e por volta
do natal já estava traduzindo pequenos trechos de Homero e do Novo Testamento
(DESMOND & MOORE, 2001, p. 68).

As horas de lazer não eram apenas dedicadas aos jogos. Todos se


associavam a clubes de debates com tópicos quentes. Alguns deles debatiam
amplamente sobre a fornicação, divisão de trabalho e até a tensa questão de se a
humanidade descendera de uma linhagem. Pessoas que acusavam a igreja de
hipocrisia, falso moralismo, por reduzir o cristianismo a um aprendizado mecânico e
por fracassar as necessidades morais e intelectuais da geração em ascensão, ou seja,
eles mesmos. Apesar de tudo, lá pelo final do perído letivo, Darwin estava muito
animado com a História Natural, como nunca estivera antes. Ele sabia que havia
encontrado seu nicho. O pai de Charles estava certo, a Igreja era o lugar ideal para
ficar. (DESMOND & MOORE, 2001, p. 76, 79).

Fontes citadas:

DESMOND, Adrian; MOORE, James. Darwin: A Vida de um Evolucionista


Atormentado (Tradução Cyntia Azevedo). 4ª edição revisada e ampliada. São
Paulo: Geração Editorial, 2001
GUNDLACH, Bradley J. Charles Darwin. In COPAN, Paul [et all] (organizadores).
Dicionário de cristianismo e ciência: obra de referência definitiva para a
interseção entre fé cristã e ciência contemporânea. (tradução Paulo Sartor
Jr). 1. ed. - Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2018.

Próximos textos:

 A Teoria da Evolução sob Escrutínio - Parte 7 - Darwin, O Erudito


“Exemplar” no Curso de Artes (Teologia)

 A Teoria da Evolução sob Escrutínio - Parte 8 - Darwin e a Igreja Anglicana


– contexto político

 A Teoria da Evolução sob Escrutínio - Parte 9 - Darwin Seguindo Para o


Encerramento do Curso

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