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Comunicação Breve
O período de latência e a cultura contemporânea
José Outeiral
Membro Titular, Didata, da SPP
Enunciado
Sigmund Freud ao estudar (1905) o desenvolvimento da libido definiu o conceito
de “período de latência”. Este conceito é, sem dúvida, um elemento importante
para a psicanálise e faz parte do corpo teórico e clínico que instrumenta nossa
atividade. Uma questão, entretanto, me tem feito pensar: Estará a cultura
contemporânea, chamada por alguns de “alta modernidade” e por outros de “pós-
modernidade”, produzindo elementos que incidindo sobre o “período de latência”
causam ‘turbulência” e modificam esse conceito e a própria clínica, parcialmente
ou, mesmo, de forma significativa? Teria a cultura tal influência? Será necessário
recontextualizar esse conceito de “período de latência”?
Comentários
Essas considerações que trago para a discussão, buscando as contribuições
freudianas, me levam a pensar que várias configurações clínicas que observamos
hoje podem ter relação com as rápidas e bruscas mudanças da cultura.
É possível, e não estou sendo original nessa idéia, de que estamos presenciando
uma pressão para a “desinvenção” de uma parte importante da infância, no caso
específico o “período de latência”. Para uma outra ocasião, mas no mesmo
sentido, poderá ser interessante discutir a expansão da adolescência que produz
o fenômeno da “adultescência”, condição que revela o desejo de uma parte
importante do mundo adulto, ocidental, urbano e contemporâneo, de “ser” ou ao
menos “parecer ser” adolescente. A mídia refere também aos “kidadults”,
indivíduos que cronologicamente são adultos, mas buscar vestir-se e portar-se
como crianças. Faltará, dessa maneira, adultos com que os adolescentes possam
estabelecer suas necessárias (e estruturantes) identificações.