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INTRODUÇÃO AO
NOVO TESTAMENTO
MARCELO DA SILVA CARNEIRO
1a Edição
São Paulo – 2020
PRESIDENTE DA ASSEMBLEIA GERAL DA IPIB:
João Luiz Furtado
PRESIDENTE DA FECP:
Assir Pereira
DIRETOR DA FATIPI:
Reginaldo von Zuben
COORDENADOR DO EAD:
César Marques Lopes
AUTOR:
Marcelo da Silva Carneiro
REVISÃO:
Dorothy Maia
EDIÇÃO:
Reginaldo von Zuben e César Marques Lopes
Reservados todos os direitos desta edição. É proibida a reprodução total ou parcial dos textos e do
projeto gráfico desta obra sem autorização expressa de autores, organizadores e editores.
APRESENTAÇÃO
Módulo 1
O CONTEXTO DO NOVO TESTAMENto
Módulo 2
JESUS, O EVANGELHO E OS EVANGELHOS
Módulo 3
PAULO E A MISSÃO AOS GENTIOS
Módulo 5
O APOCALIPSE E O CÂNON DO NOVO TESTAMENTO
1. O Apocalipse de João..........................................................................146
2. A canonização do Novo Testamento ..................................................163
Módulo 1
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curiosidade
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BÍBLIA Introdução ao NT
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analogias bem interessantes: a) A alegoria que ele faz sobre lei e graça
a partir da história de Abraão, Sara e Agar (Gl 4.21-31; Rm 4.1-12); b)
Falando da situação do povo judeu em relação aos gentios, em Rm 11.1-
10, Paulo cita vários textos do Antigo Testamento, aplicando-os a esta
situação de forma analógica; c) Em sua argumentação sobre o pecado,
em Rm 3.10-18, Paulo faz uma combinação de Salmos, para elaborar um
retrato da situação do pecador. Em outros textos do NT também encon-
tramos analogias interessantes: a) Em Hebreus há vários casos. Ao tratar
do descanso final escatológico, o autor faz uma analogia com o descanso
sabático apresentado no Êxodo (3.7-4.11); b) A analogia entre Jesus e o
sumo sacerdote (5.1-10); c) Melquisedeque e Jesus (7.1-28); d) O santuá-
rio e o sacrifício de Cristo (capítulo 9). No livro do Apocalipse, os 144 mil
são uma analogia às 12 tribos de Israel, numa nova perspectiva (7.1-8).
em síntese
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2.1. O helenismo
O helenismo pode ser definido como um fenômeno que afetou todos
os povos conquistados pelo macedônio Alexandre, o Grande, cuja domi-
nação direta foi de curta duração (334-323 a.C.), mas que permitiu a seus
sucessores governar em diferentes províncias por séculos, até a ascensão
do império romano, no século I a.C.
O termo “helenismo” vem de Hélade, forma como a Grécia era deno-
minada na época. Indica a influência que os gregos tiveram no modo de
vida dos povos conquistados no Oriente. Quando Alexandre executou sua
campanha de conquista, construiu cidades no estilo grego, difundindo a
língua, a arquitetura e o modo de vida grego. Depois de uma geração de
dominação, de forma impressionante os povos orientais viviam de modo
bastante similar aos gregos.
Para a história dos judeus, e posteriormente dos cristãos, a princi-
pal marca que o helenismo deixou foi a tradução do Antigo Testamento
hebraico para o grego, que ficou conhecida como Septuaginta (LXX). A
comunidade judaica em Alexandria, Egito, solicitou ao rei Ptolomeu II Fi-
ladelfo (284-247 a.C.) ajuda para realizar a tradução dos livros hebraicos,
posto que muitos judeus já tinham dificuldade em entender a língua dos
antepassados. Segundo a tradição, setenta e dois sábios de Israel (daí o
nome Septuaginta, também conhecida como Versão dos Setenta) foram
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BÍBLIA Introdução ao NT
curiosidade
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2.2. A apocalíptica
A apocalíptica foi um movimento que surgiu por volta do século IV a
III a.C. e reinterpretou as profecias e a sabedoria a partir do momento
histórico em que os judeus estavam vivendo, em especial na Palestina e
no Egito. Ela surgiu como resposta a crises sociais decorrentes de difíceis
momentos políticos pelos quais passavam o povo judeu na Palestina e
até fora dela. O prof. Júlio Zabatiero sintetiza a mentalidade apocalíptica
judaica em três aspectos: a) um dualismo anômalo (fora de padrão), pois
o mundo material e espiritual convivem de forma conflituosa; b) expecta-
tiva pela chegada do reino de Deus; c) a presença e o papel do Messias,
que podem ser sintetizados na figura do “Filho do Homem” escatológico.
Observação: vale a pena reler a exposição sobre apocalíptica do Guia
“Introdução ao Antigo Testamento” (Zabatiero, p. 113-137).
Entre os cristãos o único Apocalipse que foi canonizado é o de João.
Mas existem diversos outros apocalipses, como de Paulo, de Pedro e de
Tomé. Um estudo mais aprofundado, no entanto, demonstra que pratica-
mente todos os livros do Novo Testamento contêm ideias apocalípticas,
como nas concepções sobre o “Filho do Homem”, presentes no sermão
“profético” de Jesus (Mc 13.1-37 e paralelos). Retomaremos esse tema no
Módulo 5, de forma mais profunda.
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em síntese
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Política na Palestina
A política romana na Palestina, no período do século I d.C., foi bas-
tante tumultuada, com muitos impostos e pressão sobre as camadas mais
pobres da sociedade. Apesar disso, os judeus gozavam de liberdade para
praticar sua religião e não eram molestados pelos governantes do alto es-
calão. Entretanto, os soldados de nível inferior tendiam a ser intolerantes
com as práticas judaicas de prescrição alimentar e de pureza, o que trazia
conflitos pontuais entre os romanos e as autoridades judaicas. Entre altos
e baixos, houve várias mudanças na forma de governo no território da
Palestina, que demandaria espaço para um estudo mais profundo. Ainda
assim, podemos resumir alguns pontos importantes.
Herodes Magno foi rei de todo o território israelita, sob as benesses
de Roma, com quem sabia lidar politicamente. Após sua morte, em IV
a.C., os romanos dividiram o território em quatro províncias ou tetrarquias
(quatro reinos). A Judeia ficou sob o governo direto de Roma, exceto no
curto período de Agripa I, neto de Herodes, que unificou a Palestina sob
seu reinado. A Galileia, que compunha outra área com a Pereia, ficou sob
controle de herdeiros de Herodes Antipas, o que mais tempo dominou,
de 4 a.C. a 39 d.C. A partir do ano 48 d.C., Agripa II torna-se inspetor do
Templo, até porque as províncias passaram a ter mais controle de Roma,
para evitar possíveis rebeliões.
Após a guerra judaico-romana de 66-74 d.C. (falaremos mais sobre
ela no Módulo 2), com a queda do Templo e o fim do governo sacerdotal,
a Palestina passou a ter status similar ao de outras províncias, e o judeus
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curiosidade
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BÍBLIA Introdução ao NT
Economia na Palestina
Além do imposto do César, para quem vivia na Palestina havia outros
tributos e situações que mexiam com a economia: o templo, o dízimo e as
taxas, além da exigência dos exércitos de ocupação por alimentos, faziam
com que muitas pessoas não tivessem o básico para viver e se escravi-
zassem ou mendigassem por comida. É fácil compreender que a situação
econômica afetava diretamente a social.
A maior parte da população era camponesa, poucas famílias domina-
vam as cidades e se mantinham com status e poder graças a boas rela-
ções com Roma. Esse foi, sem dúvida, um dos fatores de maior desgaste
na Palestina, e acabou por provocar a revolta de 66 d.C.
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BÍBLIA Introdução ao NT
tos da vida, como forma de expressar respeito aos deuses e aos poderes
sobrenaturais. Havia os augures, sacerdotes que observavam o clima e
os sinais no movimento das aves (daí augúrio, como pressentimento) e
haruspices que liam as entranhas dos animais (daí auspícios). Entretanto,
os romanos suspeitavam da magia e de práticas religiosas místicas, as
quais consideravam como superstição.
O maior fenômeno religioso do mundo romano, porém, era o sincretis-
mo, a possibilidade de elementos de uma religião também fazerem parte
de outra. Um exemplo é o da devoção da deusa Diana ou Ártemis em
Éfeso, cujo templo é considerado uma das sete maravilhas do Mundo An-
tigo. Originalmente, Diana era uma deusa virgem, caçadora e guerreira.
Na versão efésia, ela tinha dezenas de seios e estava associada ao culto
da fertilidade das culturas orientais, inclusive cananeia. Essa liberdade e
fluidez nas representações religiosas pode ter sido responsável, inclusive,
pelo rápido crescimento do cristianismo no mundo romano.
Podem ser citadas como religiões que existiram e tiveram grande força
no mundo romano o Mitraísmo, advindo de Mitra, uma divindade que veio
da Pérsia; o Neopitagorismo, oriunda das ideias simbólicas do filósofo Pi-
tágoras; a Astrologia e a Magia; o Gnosticismo e o Hermetismo, todos as-
sociados a culto de mistério. Não tinham muito prestígio, mas mantiveram
forte influência no império até o século IV, quando Constantino tomou
posição favorável ao Cristianismo, afastando-se dessas outras vertentes.
Na Palestina, por sua vez, o culto a Javé e a sacralidade do Templo
eram tolerados até certo ponto. Os sacerdotes tinham um lugar especial
na sociedade, sendo considerados elite junto aos membros das cortes
herodianas. Depois da revolta judaica de 66-74, porém, o Templo foi des-
truído e os sacerdotes judaicos perderam prestígio e poder.
A religião com mais influência e que mais crescia era o culto imperial.
É muito complexo reportar a forma e as condições em que ele acontecia,
mas em resumo, o que se pode afirmar é que o culto ao imperador nasceu
de forma simbólica com Júlio César e se desenvolveu com Augusto, que
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síntese
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Módulo 2
Olá, que bom que você voltou. Continuamos nossa caminhada em tor-
no do Novo Testamento, agora focando na pessoa mais importante do
cânon bíblico: Jesus Cristo. Neste módulo iremos analisar o significado
de Jesus e seu ministério, que jamais poderá ser subestimado. É um dos
acontecimentos mais importantes da humanidade, a ponto de o Ocidente
estabelecer a cronologia em Antes de Cristo e Depois de Cristo (Ainda que
hoje se use Era Comum em livros acadêmicos, para tirar o foco da pessoa
de Jesus, permanece a datação baseada no nascimento dele.).
Para nós, cristãos, nada é superior a nascimento, vida, morte e res-
surreição de Jesus. É sobre isto que falaremos neste módulo, levando em
conta os livros que foram escritos sobre ele: os Evangelhos canônicos.
Faço esta distinção porque muitos outros Evangelhos foram escritos, mas
ficaram de fora do cânon por diversos motivos. Mas isto é assunto para
outro Módulo. Vamos focar aqui a origem e a mensagem de cada Evange-
lho que já bem conhecemos.
Então, tendo em mente estas questões e considerando um bom apro-
veitamento do conteúdo que será apresentado, podemos dizer que nosso
objetivo é que você seja capaz de: a) explicar como foi o ministério de
Jesus, suas características e seu impacto na sociedade em que ele viveu;
b) diferenciar os conceitos de evangelho como mensagem em relação ao
gênero literário; c) explicar como o gênero literário evangelho ganhou nova
dimensão quando passou a falar de Jesus Cristo; d) conceituar a Tradição
de Jesus, a partir do fenômeno da tradição oral; e) explicar a origem dos
Evangelhos escritos e a singularidade de cada um, mesmo todos falando
dos mesmos fatos.
Espero que seja uma aula rica em crescimento intelectual, mas tam-
bém no aprofundamento deste assunto tão especial para nós. Afinal, falar
de Jesus nunca pode se tornar um assunto esgotado. Deus nos abençoe
nesta tarefa.
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1. O MINISTÉRIO DE JESUS
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BÍBLIA Introdução ao NT
sua vida até o início do ministério na pequena aldeia de Nazaré, com apro-
ximadamente 200 moradores.
curiosidade
E como ele se mantinha junto a sua família, se vivia num lugar tão
pequeno? Os Evangelhos indicam que ele era um tekton (conf. Mc 6.3; Mt
13.55), palavra grega traduzida como carpinteiro. Isso fazia dele um dia-
rista, pois essa profissão não tinha emprego fixo. Por esta razão, além do
aramaico, língua materna dos judeus da Palestina, Jesus também devia
falar o grego koiné, a língua comercial e política do seu tempo.
Em alguns momentos, é provável que ele tenha trabalhado na terra
para ajudar na produção agrícola familiar, garantindo o mínimo para sub-
sistência. Segundo as pesquisas arqueológicas, Nazaré tinha uma peque-
na produção agrícola, incluindo vinho e cereais. Assim, podemos afirmar
que Jesus fazia parte da classe pobre no mundo imperial romano, pessoas
que viviam com o mínimo, cujo trabalho era explorado de forma injusta, às
vezes parecido com a escravidão.
A terceira questão sobre a identidade de Jesus é relativa à sua forma-
ção. Não se pode afirmar que Jesus tinha instrução formal, como também
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fica difícil garantir que era totalmente desprovido de instrução. Afinal, ele
citava tanto o Antigo Testamento que só podia ser um leitor assíduo. Mas
na cultura oral do tempo de Jesus, muitas passagens do Antigo Testa-
mento eram memorizadas apenas pela repetição delas, sem que a pessoa
precisasse ler a passagem. Por outro lado, é possível que Jesus tenha
aprendido a ler com alguém da aldeia de Nazaré, sem que frequentasse
uma escola rabínica, pois nada sugere nos Evangelhos que ele tenha sido
discípulo de algum mestre daquela época.
Nos Evangelhos, Jesus é mostrado como alguém que estava no Tem-
plo, aos doze anos, discutindo com os doutores da Lei (Lc 2.41-52), mas
também é apresentado como alguém sem estudo (de acordo com Jo
7.15). Há a passagem que o mostra lendo Isaías na sinagoga (Lc 4.18),
em que parece ser um dirigente da reunião. O pesquisador David Flusser
(2002, p. 12) comenta o seguinte a este respeito:
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Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Judeia_(prov%-
C3%ADncia_romana)#/media/Ficheiro:First_cen-
tury_palestine-pt.svg
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BÍBLIA Introdução ao NT
marcante, pois ali Jesus leu Is 61, que trata exatamente da unção do Espí-
rito. Como ungido, Jesus cumpriu o programa dessa profecia. Daí a virtude
para realizar curas e exorcismos.
curiosidade
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em síntese
2. O EVANGELHO E OS EVANGELHOS
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BÍBLIA Introdução ao NT
Euangelion em Paulo
Na literatura cristã, o primeiro registro da palavra euangelion veio de
Paulo, que também é quem mais usa o termo. Ele entende que o evange-
lho de Cristo é o que precisa ser contado ao mundo, o motivo de sua mis-
são, pois fala da salvação que temos em Cristo (1Co 9.16-18; 2Co 2.12;
Ef 1.13). Para Paulo, o evangelho está no contexto de proclamar (1Co
15.1; 2Co 11.7; Gl 1.11) e ouvir (Gl 1.12; Cl 1.23; 2Co 11.4). Faz parte
da dinâmica de Deus falar à humanidade por meio de seus mensageiros.
Entretanto, em Paulo, o conteúdo dessa revelação não se resume a fatos
históricos sobre a vida de Jesus (2Co 5.16), nem especificamente sobre sua
morte na cruz e posterior ressurreição. Paulo dá um conteúdo teológico a
esse fato, pois ele morreu “pelos nossos pecados” (1Co 15.3). O apóstolo
assumiu de tal maneira essa mensagem que, por diversas vezes, o chama
de “meu evangelho” (Rm 2.16; 16.25; 2Co 4.3; 1Ts 1.5; 2Ts 2.14) ou indica
que o evangelho que ele proclama é o verdadeiro (Gl 1.6; 2Co 11.4).
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evangelho serve como título da obra e faz uma inversão com os evange-
lhos dos Césares, já que Jesus nunca conquistou nada pela força, mas
foi vítima da violência do império e dos poderosos. Por outro lado, traz
ensinamentos para a vida dos crentes, seja pela sabedoria das falas de
Jesus, seja pelo poder de Deus que ele demonstra, culminando no relato
de sua morte e ressurreição.
Dentro do texto dos Evangelhos encontramos a locução “evangelho
do reino” (Mt 4.23; Lc 8.1) e “evangelho de Deus” (Mc 1.14). No entanto,
com algumas poucas exceções – como no relatório de Jesus a João
Batista (Mt 11.5 e Lc 7.22) –, na boca de Jesus essa palavra está su-
bentendida no anúncio do reino de Deus que está chegando, ou seja,
forma e conteúdo trabalham em paralelo. Tudo indica que o Evangelho
de Marcos, considerado o primeiro a ser escrito, logo se tornou conheci-
do e inspirou o gênero Evangelho.
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A tradição de Jesus
No início era o querigma – palavra grega que quer dizer “mensagem”:
a pregação da igreja estava centrada em torno do ressuscitado. Paralela-
mente, os ensinos e os feitos de Jesus, sempre no âmbito da tradição oral,
foram chamados de Tradição dos Apóstolos ou Doutrina dos Apóstolos (At
2.42). Como informa Carneiro (2019, p. 68):
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No ano 70, após dois anos de cerco, Jerusalém caiu sob as mãos dos
romanos, com milhares de vidas perdidas e a desastrosa destruição do
Templo por incêndio (intencional ou não). Sem o Templo, cessaram os
sacrifícios e o serviço sacerdotal, situação que continua até hoje. Foi o fim
de um modo de ser do judaísmo, que também afetou os cristãos.
Outro fator que deve ser considerado nesse período é a morte de gran-
de parte dos apóstolos, sendo que os mais proeminentes – Pedro e Paulo
– foram executados por Nero nos anos 67 e 68, respectivamente. Em meio
à crise provocada pela guerra e a morte dos apóstolos, a comunidade de
Jerusalém, deslocada para Pela (uma das dez cidades que ficaram conhe-
cidas como Decápolis), iniciou um levantamento das memórias segundo
a Tradição de Jesus.
Testemunhas oculares, materiais que eram reproduzidos constante-
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Marcos Q
Mateus Lucas
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síntese
3. OS EVANGELHOS CANÔNICOS
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Aspectos literários
Não há relato de infância. O Evangelho começa com Jesus indo até
João Batista para ser batizado. Ele é dividido em duas partes. Na pri-
meira, Jesus atua em Galileia, Decápolis, Síria, Transjordânia e Jericó
(1.1-10.52). Jesus não passa pela Samaria. Na segunda parte: Jesus em
Jerusalém; tradição da Paixão com entrada triunfal, conflitos, ceia com
os discípulos, jardim (Getsêmani), prisão, julgamento, condenação, cru-
cificação, morte, sepultamento e ressurreição (11.1-16.8). Em tempo: Mc
16.9-20 é considerado um acréscimo posterior, que resume os finais dos
demais Evangelhos.
Mensagem do evangelho
O título já indica o teor do texto: contraposição ao imperador. É o
Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus, aquele que age de forma in-
versa ao imperador, de quem tanto se escrevem evangelhos. O subtexto
político está imerso em conteúdo apocalíptico: anjos, demônios, Filho do
Homem, consumação escatológica pelo juízo de Deus.
O reino de Deus é o conteúdo da mensagem de Jesus e a meta
a ser alcançada. Na verdade, é o motivo do ensino. Este ensino tem
forte teor judaico, com afirmações sapienciais, metáforas (parábolas) e
outros elementos que aproximam Jesus dos mestres rabínicos de seu
tempo. Esse teor judaico do evangelho está relacionado ao seu con-
texto, de uma comunidade inserida no mundo dos judeus que viviam
na Palestina.
Autoria
A opinião tradicional sobre a autoria do texto começou com Papias,
que escreveu, por volta de 110: “Marcos, intérprete de Pedro, escre-
veu cuidadosa, mas não ordenadamente, as recordações das palavras
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BÍBLIA Introdução ao NT
Autoria e Datação
No caso de Mateus, o fator de identificação do autor foi o forte teor
judaico do texto, considerado uma tradução do hebraico (aramaico?) para
o grego, o que nunca ficou demonstrado nem provado.
Internamente, o indício do autor está em Mt 9.9, no apelo a ele, um
publicano que em Marcos e Lucas é chamado de Levi. Mateus pode ser
um nome fictício derivado da palavra mathetês (discípulo). Porém, é um
dos Doze citado em Mt 10.3; Mc 3.18; Lc 6.15.
Talvez por isso ficou com o nome do autor do primeiro Evangelho na
ordem canônica. A comunidade de Mateus está situada na Galileia em
reconstrução ou alguma cidade ao Sul da Síria, na fronteira com a Galileia,
nos anos pós-guerra. Afirma-se, com isso, o surgimento do Evangelho de
Mateus nos anos entre 75-85 d.C.
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BÍBLIA Introdução ao NT
vo. Lucas deve ter surgido num ambiente helênico, mas com boa presença
de judeus, onde havia uma comunidade cristã ligada aos apóstolos Pedro
e Paulo. Uma cidade que encaixa nesta descrição é Antioquia da Síria,
cidade de fronteira entre o mundo oriental e o ocidental. Indício: Antioquia
é sede missionária em Atos dos Apóstolos e era espaço de encontro de
apóstolos, como mostra Gl 2. A comunidade judaica na cidade era forte,
mas Antioquia era essencialmente uma cidade helenística. Alguns afir-
mam que Mateus era conhecido da comunidade de Antioquia, porém isso
não significa que o Evangelho tenha sido escrito lá, mas há possibilidade
de Lucas e Atos dos Apóstolos terem surgido ali.
Aspectos literários
A obra lucana deve ser vista como um trabalho historiográfico, como
bem mostra o prólogo do Evangelho de Lucas (1.1-4):
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FATIPI EAD Guia de Estudos
Autoria e datação
A obra Lucas-Atos parece ter sido escrita por um cristão gentílico, ori-
ginado da cultura grega, e que por isso dá ao texto de Marcos – sua fonte
principal – um tratamento linguístico mais rebuscado, mas em nenhum
momento o nome do autor é claramente citado. Foi a tradição eclesiástica
que estabeleceu o nome dele como autor de ambas as obras, a partir da
citação de Fm 24, como um dos colaboradores de Paulo, que em três
ocasiões (Cl 4.14; Fl 24; 2Tm 4.11) fala de um companheiro chamado
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BÍBLIA Introdução ao NT
Lucas, o médico.
Alguns pesquisadores consideram que o autor é originário de Antioquia
da Síria. As testemunhas externas de Lucas como autor da obra são:
Cânon Muratoriano, Eusébio de Cesárea e também Irineu, Tertuliano e
Orígenes, pais da Igreja no século II. Outros sustentam que Lucas seria
autor apenas de um núcleo central, que trata de passagens exclusivas no
Evangelho de Lucas e da parte “nós” de Atos (At 16.10-18; 20.4-21.26;
27.1-28.15, por ex.), o que seria um diário de viagem, o qual deve ter sido
parâmetro para o estilo do restante das narrativas contendo as viagens de
Paulo. Porém, essa tese não pode ser comprovada.
De forma objetiva, o que temos é um texto grego mais refinado e di-
versas informações sobre o mundo extrapalestinense que indicam alguém
que conhece o mundo da Ásia Menor e Grécia. Nossa hipótese é que
Lucas-Atos tenha uma autoria mais personalizada que Marcos e Mateus,
mesmo sendo uma obra anônima, que surgiu entre 85-95 (Lucas) e 90-
100 (Atos dos Apóstolos).
síntese
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FATIPI EAD Guia de Estudos
As etapas de redação
João mostra muitas rupturas na narrativa que têm sido interpretadas
como diferentes camadas redacionais. Isso não significa que o quarto
Evangelho ignorasse as fontes e a própria narrativa dos anteriores. Pelo
contrário, é indício da juventude do texto, em que já se pensa em rever
temas que foram pouco trabalhados e resgatar discursos esquecidos de
Jesus. Há muitas hipóteses sobre a formação do Evangelho e hoje uma
das mais aceitas fala em três fases.
A primeira fase, na Palestina, no período anterior à Guerra de 66. É
uma comunidade ligada aos judeus da elite. Há presença de seguidores
do Batista, por isso a comunidade deve estar em algum lugar ao longo do
Jordão. Eles pregam Jesus como o Messias esperado, um profeta escato-
lógico, com uma visão escatológica tradicional. Foco na disputa teológica
com os demais grupos judaicos.
A segunda fase, no período pós-guerra, quando o conflito com os ju-
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FATIPI EAD Guia de Estudos
Aspectos literários
O Evangelho de João faz importante relação entre as festas judai-
cas e o ministério de Jesus. Por exemplo, em Jo 7, Jesus afirma ser
a água da vida na festa que celebrava o tempo no deserto, chamada
Sucôt. João mostra Jesus indo celebrar a Páscoa em Jerusalém em
três ocasiões (2.13; 6.4; 12.1), o que levou a se considerar que o mi-
nistério de Jesus durou três anos, sendo que, diferente dos sinóticos,
Jesus ia bastante a Jerusalém. Há, inclusive, o caso de uma festa não
identificada (5.1: “uma festa dos judeus”), apenas para justificar a pre-
sença dele em Jerusalém, ocasião em que curou o paralítico no tanque
de Betesda.
Em relação aos feitos de Jesus, o Evangelho registra apenas sete
curas e milagres, chamados de “sinais”. No final do livro, o autor justifica
por que foram tão poucos registrados: “Na verdade, Jesus fez diante dos
seus discípulos muitos outros sinais que não estão escritos neste livro.
Estes, porém, foram registrados para que vocês creiam que Jesus é o
Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenham vida em seu nome”
(Jo 20.30-31). De fato, há um valor simbólico na quantidade e nos tipos
de sinais registrados ali: sete é um número muito importante na tradição
judaica e cristã, representando a perfeição e a totalidade divina (sete dias
da criação, setenta anciãos auxiliares de Moisés etc.). Além disso, vemos
que os sinais mostram diferentes aspectos das curas, indicando que cada
uma tinha um propósito teológico, para além do simples testemunho do
poder de Jesus, começando pelo milagre de transformar água em vinho
(Jo 2.1-12) e culminando com a ressurreição de Lázaro (11.1-46). Por
isso, a primeira parte do Evangelho, capítulos 1-11, é chamado de “Livro
dos Sinais”.
A partir do capítulo 12 até o 21, o evangelista passa a enfatizar a en-
trada e os fatos da Paixão em Jerusalém. Esta parte é chamada de “Livro
da Glória”, que segue de modo mais aproximado aos eventos mostrados
pelos sinóticos, em diversos momentos.
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BÍBLIA Introdução ao NT
A crise gnóstica
Como visto, houve rupturas internas na comunidade, nas fases 2 e 3.
Foi o momento em que a linguagem e as crenças se tornaram mais mís-
ticas e dualistas. Acredita-se que algumas lideranças exacerbaram nesta
tendência e passaram a afirmar que Jesus não encarnou, apenas tomou
forma humana, já que o carnal é pecaminoso. Surgiram daí os docetistas
e os gnósticos. Parece ter havido uma reação da parte da liderança mais
tradicional, rompendo com este grupo e reafirmando a encarnação.
Por causa disso, na fase final do Evangelho, o autor elaborou um pró-
logo que estabelecia de forma absoluta a crença na encarnação e, ao
mesmo tempo, na divindade de Jesus. Acredita-se que originalmente o
Evangelho iniciava em Jo 1.6-9 e continuava no verso 15 em diante, ou
seja, o início original se referia tão somente a João Batista, mais ou menos
como no Evangelho de Marcos. Esse acréscimo foi inserido de forma du-
pla: em 1.1-5 fala da plena divindade de Cristo, enquanto em 1.10-14 trata
da plena humanidade dele.
O capítulo 21 também segue essa tendência: mostra Jesus comendo
pão e peixe, para indicar que, mesmo após a ressurreição, Jesus ainda
tinha um aspecto físico. É um indício de que ele é um acréscimo deste
período final, paralelo ao prólogo. Outro aspecto importante dessa etapa
final é o diálogo entre Jesus e Pedro, não só para confirmar a autoridade
dele perante as igrejas, como para mostrar que o fato de João ter vivido
mais que os demais apóstolos não significava que ele viveria até a vinda
de Cristo.
A mensagem do Evangelho de João é a de que Jesus é o Salvador,
Filho de Deus, Senhor e o próprio Deus. Os sinais servem para provocar
a fé, não como resultado dela; para João, quem vê e ouve Jesus e o
rejeita não tem salvação, pois Deus fez todo o possível. O tema do amor
[agápê] é central, mas ao contrário do que parece, a exigência não é
amar “ao próximo”, mas “uns aos outros”. Há o sentido de comunidade
fechada em si mesma para não perder membros; o mundo é mau, por
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conceito
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BÍBLIA Introdução ao NT
nível ele o fez. Na morte de Estevão, por exemplo, Paulo ainda não tinha a
posição de autoridade plena, sendo ali um executor de ordens superiores.
Mas, em sua consciência, ele reconhecia a gravidade da sua condição, a
ponto de se considerar “o menor dos apóstolos” (1Co 15.9).
curiosidade
73
FATIPI EAD Guia de Estudos
Paulo foi comissionado para essa missão, enviado aos gentios, daí o
termo “apóstolo”, ao qual ele refere a si mesmo em todas as introduções
de suas cartas (por ex: Rm 1.1; 1Co 1.1; 2Co 1.1; Gl 1.1 - com ênfase no
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BÍBLIA Introdução ao NT
chamado feito diretamente por Deus). Isso não aconteceu sem controvér-
sia. Paulo foi questionado como apóstolo legítimo e por diversas vezes
precisou defender sua posição como tal (1Co 9; 2Co 4; 5.11-17; 6.4-12;
10-11). Uma das questões centrais era o fato dele não ter convivido com
Jesus, mas, em seu testemunho, Paulo afirma que Cristo apareceu para
ele e o fato de ter ou não andado com Jesus em sua missão terrena era
menos importante (cf. 2Co 5.16). Uma das possibilidades de interpretação
de Atos 9.1-9 se dá na perspectiva da vocação em vez da conversão do
apóstolo Paulo, como explica Marcelo Carneiro (2019, p. 70):
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BÍBLIA Introdução ao NT
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FATIPI EAD Guia de Estudos
Santo” (At 16.6), indo então para a Macedônia, em função de uma visão
que teve. Na região, passou por várias cidades, chegando até Atenas,
importante centro cultural daquela época. Das cidades por onde passou,
temos registro nas cartas de Filipos, Tessalônica, Corinto e Éfeso. Nesse
período, ele começou a escrever cartas às igrejas, fato que Atos dos Após-
tolos ignora, por motivo desconhecido. Uma delas foi 1Tessalonicenses, o
primeiro documento cristão de que temos registro.
•
•
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curiosidade
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BÍBLIA Introdução ao NT
Primeiras cartas
1Tessalonicenses (cerca de 50) – durante a 2ª viagem
Gálatas (c. 51) – durante a 2ª viagem
1Coríntios (c. 52-53) – ao final da 2ª viagem ou início da 3ª
Cartas da prisão
Filemon (c. 54) – durante a 3ª viagem – de Éfeso
Filipenses (c. 54-55) – em diversos momentos da 3ª viagem
Colossenses (c. 55) – de Éfeso
85
FATIPI EAD Guia de Estudos
Cartas da maturidade
2Coríntios (c. 55-56) – em diversos momentos da 3ª viagem
Romanos (c. 56) – ao fim da 3ª viagem
Cartas deuteropaulinas ou da escola paulina
Éfesios
2Tessalonicenses
1 e 2Timóteo
Tito
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BÍBLIA Introdução ao NT
No preâmbulo, Paulo cita Silvano e Timóteo, o que quer dizer que eles
tiveram participação na redação da carta e ajuda a entender a motivação
na redação do texto. Paulo tinha advertido a comunidade sobre possíveis
ataques, tanto a ele quanto à igreja. Ao saber que os tessalonicenses
estavam firmes na fé, demonstra sua alegria e gratidão pela firmeza da
comunidade. Tessalônica era um dos centros do culto ao imperador, in-
clusive com cunhagem de moedas em homenagem a ele. Ao se tornarem
cristãos, os tessalonicenses automaticamente renunciavam à sua posição
política e social, gerando, quase certamente, animosidades e um clima de
pressão para abandonar essa nova fé. Paulo elogia a comunidade, justa-
mente por perseverar na fé, apesar da situação.
O principal tema teológico da carta aparece na segunda parte (cap. 4
em diante), trata da vinda de Cristo, ou ainda, da ressurreição dos mortos
no sentido escatológico, assunto que parece ter levantado dúvidas na co-
munidade. O trecho de 4.13-5.11 é especialmente dedicado a esse tema,
a começar pela advertência: “não sejam ignorantes, como os que não têm
esperança” (v.13). Essa menção à esperança pode ser uma referência a
grupos que não criam na vida pós-morte, como judeus saduceus ou helê-
nicos que só criam no mundo inferior dos mortos, pois o mundo superior
era restrito a heróis e deuses.
A situação concreta por trás da questão pode ser o fato de pessoas da
comunidade estarem morrendo e, sem sinal da volta de Jesus, algumas
começarem a ter dúvida sobre o que acontece após a morte e como expli-
car a esperança. O apóstolo procurou, então, esclarecer a questão para
não deixar a ansiedade tomar conta do grupo. Teologicamente, é o único
tema de fato da carta, e a testemunha mais antiga da crença de Paulo
sobre a vinda de Cristo, a ressurreição dos mortos e o arrebatamento. Até
porque parece que a pregação de Paulo na época enfatizava muito a volta
iminente de Cristo, algo a ser esperado naquela geração, como se pode
perceber em 4.17: “e nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados
juntamente com eles”.
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FATIPI EAD Guia de Estudos
1Ts não tem citação clara ao Antigo Testamento, traço das cartas pauli-
nas. Mas, ainda assim, marca o início de um estilo bem característico: fazer
uma série de exortações éticas – chamados também de parênese – na parte
final da carta, para reforçar orientações pastorais, visando ao comportamen-
to da comunidade. Isso acontece em 5.12-23. Após isso, o encerramento do
capítulo 5 é composto por saudações finais e uma bênção.
Gálatas
Paulo iniciou comunidades na Galácia desde sua primeira viagem mis-
sionária. Por isso, não há certeza de onde ficava a igreja dos gálatas.
Alguns acham, inclusive, que poderia ser um grupo de comunidades que
estavam sob a supervisão do apóstolo. Essa Galácia paulina poderia estar
mais ao Norte, na região que hoje é a Anatólia, ou mais ao Sul, compreen-
dendo as províncias da Cilícia, Panfília, Frígia, Pisídia e arredores. Mas
não se pode comprovar essas teses, por isso trataremos como se fosse
uma comunidade.
A carta expressa um grave problema para Paulo: a incursão de pre-
gadores judaizantes na comunidade. As notícias desses pregadores che-
garam a Paulo que, durante seu período em Éfeso, pelo ano 51, precisou
escrever esta que é uma de suas cartas mais duras. O tom forte e de gra-
vidade é estabelecido logo após o proêmio, em que ele nem mesmo utiliza
do recurso das ações de graças para agradar os ouvintes. Pelo contrário,
mostra a decepção do apóstolo com a comunidade (1.6-9).
Para rebater certas acusações de que ele não teria as credenciais ne-
cessárias para ser um apóstolo (acusações recorrentes no ministério de
Paulo), passa a dar um testemunho pessoal de sua vocação. Fala tam-
bém de como conheceu Pedro e os demais apóstolos, sua participação
no concílio de Jerusalém (relatado em At 15) e como confrontou Pedro em
Antioquia, por causa de questões judaizantes (1.10-2.14).
A partir daí, Paulo insere elementos que utilizou com bastante frequência
nas demais epístolas, em especial o uso do Antigo Testamento para funda-
88
BÍBLIA Introdução ao NT
1Coríntios
Corinto era não apenas uma cidade portuária, mas importante passa-
gem de navios no encontro da Grécia continental com o Peloponeso. Si-
tuada entre o mar Adriático e o mar Egeu, a cidade tinha dois importantes
portos, um mais a Leste e outro a Oeste. O grande fluxo de navios fazia
girar um forte comércio na cidade, além de muitas atividades recreativas,
o que lhe deu a fama de ser imoral. Na época, o termo “corintianizar”
significa viver de forma imoral. Em parte era devido ao templo de Afrodite,
em que se narram ter mil hierodulas (escravas do templo, para serviços
sexuais) naquela época.
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BÍBLIA Introdução ao NT
respeito de temas explorados por Paulo pela primeira vez: suas credenciais
como apóstolo (cap. 9), o hino ao amor [agápê], que está estrategicamente
posicionado entre a metáfora do corpo e os dons e as normas para o culto
público (cap. 13) e a longa explanação sobre a ressurreição (cap.15).
No final, Paulo faz exortações, recomenda Timóteo à comunidade, faz
elogios ao grupo de Estéfanas e as saudações finais, seguidas da bênção
que encerra a epístola.
curiosidade
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BÍBLIA Introdução ao NT
Filipenses
Filipos se tornou colônia romana em 146 a.C., mas já existia desde o
século 4 a.C. como um ponto estratégico de ligação entre a Macedônia e a
Ásia. Pela sua importância, os romanos deram à cidade elementos típicos
das cidades da Itália, como a troca de guarda pretoriana (citada em Fp
1.13) e um centro administrativo com pessoal direto de Roma, indicando
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BÍBLIA Introdução ao NT
Colossenses
Na época de Paulo, Colossos era pequena em relação às cidades vizi-
nhas, inclusive Éfeso. Ela ficava próxima a Laodiceia, que naquele tempo
já era bem mais importante. Paulo não fundou essa comunidade, quem o
fez foi o colaborador Epafras, que era da localidade (cf. Cl 1.7; 4.12-13), o
que indica a rede de pregação que havia na região, liderada pelo apóstolo.
Há uma boa discussão sobre qual data deve ser considerada para a
carta. Levamos em conta que ela foi levada à comunidade por Tíquico,
que estava acompanhado de Onésimo, a essas alturas, libertado da pri-
são (cf. 4.7-9). Além disso, Paulo manda saudações da parte de “Aris-
tarco, prisioneiro comigo” (4.10). Esse Aristarco é citado em Fm (v.24),
e em At 19 aparece como companheiro de Paulo em Éfeso. Juntando
essas informações, consideramos que Paulo a escreveu de Éfeso, por
volta de 55.
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BÍBLIA Introdução ao NT
curiosidade
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BÍBLIA Introdução ao NT
importância da mordomia cristã, o bom uso dos bens terrenos. Paulo fun-
damenta sua ideia na visão de Cristo, que se fez pobre na encarnação e,
segundo se sabe, na condição de vida na Terra. A mordomia verdadeira é
caracterizada como voluntária e generosa (8.2; 9.5,7).
O final da carta (13.11-14) é genérico, sem citação de nomes, com
uma saudação vaga, apelando para o ósculo (beijo) entre os irmãos da co-
munidade. Paulo fecha com uma bênção final, cuja fórmula passou a ser
utilizada como “bênção apostólica”, e se refere à concepção de Trindade
que o cristianismo definiu em seus dogmas.
Romanos
A carta aos Romanos é considerada pela Igreja Cristã como um dos
livros mais importantes do Novo Testamento. Lutero a tratava como o
Evangelho em seu estado mais puro. Para outros, ela pode ser conside-
rada um compêndio de teologia cristã. Entretanto, ao estudar a carta na
perspectiva da teologia bíblica, percebe-se que há mais complexidade do
que aparenta ter.
A igreja em Roma não foi fundada por Paulo e ele não a conhecida
pessoalmente. Há diferentes explicações para o fato de Paulo ter escrito
Romanos: a) ele aproveita para resumir sua própria teologia. Seria como
um testamento teológico; b) sabendo que havia uma discórdia na igreja
entre judeus e gentios, desenvolve uma teologia da concórdia; c) ele apro-
veita que está para ir à Judeia levar dinheiro de coleta para esboçar o dis-
curso que deseja fazer; d) pensando na evangelização da Espanha, envia
a carta como forma de ganhar simpatia e angariar fundos para a viagem.
Considerando o que ele mesmo registra na carta sobre a intenção de
ir à Espanha (15.24;28), pode-se pensar que a igreja em Roma seria um
bom momento para descanso da parte do apóstolo. Por isso, a última mo-
tivação é que teria mais peso.
Sabe-se que, depois, Paulo se tornou prisioneiro em Roma, sendo ne-
cessário contextualizar essa declaração num momento anterior à viagem
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FATIPI EAD Guia de Estudos
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FATIPI EAD Guia de Estudos
Ou seja, Paulo crê e afirma que todos os que creem são justos por causa
do mérito de Cristo, e que a Lei serve para mostrar o quanto necessita-
mos dele para a salvação. Essa exposição de Paulo continua sendo alvo de
102
BÍBLIA Introdução ao NT
Em meio a toda essa questão, Paulo insere na epístola sua visão so-
bre a história da salvação. Vista na perspectiva da apocalíptica judaica, ele
compreende que há duas eras, sendo que a segunda era acontece a partir
de Cristo. Rm 5.12,18-19 fala da era anterior, que começou com Adão e
se encerra em Cristo. Nele se inicia a era da salvação e os que vivem pela
fé já estão nela (Rm 14.17). Com isso, Paulo anuncia o reino de Deus
agora. No tempo presente já estamos livres da condenação, pois vivemos
a plenitude dos tempos (Rm 3.21; 5.11; 8.1).
103
FATIPI EAD Guia de Estudos
Ele aponta para uma escatologia apocalíptica. Isso quer dizer: apoca-
lipticamente, o tempo (aion) presente pode ser visto como um tempo de
ameaça, em contraste com a era vindoura de plena salvação (Rm 12.2).
Em epístolas anteriores, Paulo tratou disso como sendo a luta com as
forças espirituais (1Co 2.6,8; Gl 4.3,9; 2Co 4.4). Escatologicamente, Paulo
aguarda um juízo futuro, que também é a manifestação plena da salvação.
É o reino de Deus que ainda virá (Rm 2.5; 13.11-12). Assim, a teologia
aprendeu com Paulo a ideia do já e o ainda não, que percorre vários de-
bates em torno da soteriologia e da escatologia.
Mas Romanos também tem importante tema, que apresenta o papel
de Israel na história da salvação. Para Paulo, Israel foi o instrumento para
que a humanidade conhecesse a Cristo. Abraão, pai de Israel, é o exem-
plo do crente que vive pela fé (cap. 4). A lei e os profetas anunciaram a
vinda de Cristo (Rm 3.21; 1.2). A partir de Moisés, Israel traz uma nota
negativa: a Lei. A recusa parcial de Israel a Cristo serviu para que os gen-
tios possam entrar na promessa (9). Por isso, a situação de Israel não é
definitiva; Deus fará que o povo seja restaurado (Cap.11). Temos aqui um
depoimento do Paulo judeu.
Assim, Romanos é a carta da graça por excelência, do amor revelado
de Deus, para uma nova humanidade remida por Cristo. Longe de ser um
teólogo sistemático que utiliza argumentos filosóficos, Paulo usa de retó-
rica, argumentação escriturística e muitas afirmações da fé para sustentar
seu raciocínio que, em síntese, faz o seguinte caminho:
104
BÍBLIA Introdução ao NT
te da carta original, tendo em vista que Paulo não conhecia ninguém, com
exceção de Priscila e Áquila. Não é à toa que 16.20 é uma bênção e o v.21
faz novas saudações, ou seja, 16.1-20 foi inserido posteriormente. Pode
ter sido um bilhete de Paulo enviado, quem sabe, da Espanha.
Chama a atenção neste trecho o grande número de mulheres menciona-
das, algumas como Febe, recomendada como diaconisa (16.1-2), outras como
lideranças ativas (16.6,12) e até mesmo uma apóstola, de nome Júnia (16.7).
Além disso, ele mostra que havia vários núcleos eclesiais em Roma, igrejas
funcionando ativamente, provavelmente em quadrantes diferentes da cidade,
tendo em vista a limitação de número de pessoas em se reunir num único lugar.
No encerramento da carta (16.21-27) tem a saudação de Timóteo e
outros cooperadores, além de Tércio, o amanuense, Gaio e outros da igre-
ja dele. Ao final, Paulo elabora uma doxologia (16.25-27), a segunda na
carta (a primeira está em 11.33-36), reforçando o caráter teológico dela.
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Módulo 4
AS ESCOLAS APOSTÓLICAS
BÍBLIA Introdução ao NT
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FATIPI EAD Guia de Estudos
1. A ESCOLA PAULINA
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conceito
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BÍBLIA Introdução ao NT
2Tessalonicenses
Há grande discussão em torno da autenticidade de 2Tessalonicenses,
por conta de sua clara dependência de 1Tessalonicenses. Paulo imprimia
conteúdo diferenciado nas cartas (como é possível ver nas duas cartas
autênticas aos Coríntios). Um aspecto importante a ser considerado é
que um terço de 1 Tessalonicenses está em 2 Tessalonicenses, como no
exemplo de 2 Tessalonicenses 3.5, comparado a 1 Tessalonicenses 3.11.
111
FATIPI EAD Guia de Estudos
Efésios
Efésios tem a forma de uma epístola suplementar e o autor parece
112
BÍBLIA Introdução ao NT
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FATIPI EAD Guia de Estudos
feita de maneira mística, pela condição de amor que envolve a igreja, bem
como pelos ministérios principais que cuidam de sua saúde (4.11-16). Não
há tentativa de interferir na vivência da igreja, nem se analisou nenhum
tema específico, como o batismo, por exemplo.
Por outro lado, há combate ao gnosticismo, com uma moral que
valoriza o corpo, mas é contra atitudes éticas malignas e vícios morais. A
separação entre a ortodoxia e o gnosticismo se dá pela moral (4.17-32). As
obras (2.8-10) indicam que somos o povo alcançado pela graça de Deus
e que pertencemos a ele, justamente para boas obras. O relacionamento
conjugal é espelho do relacionamento espiritual da igreja com Cristo (5.21-
33). Isso quebra uma ideia que estava crescendo, a qual considerava o
matrimônio indesejado, tanto no gnosticismo quanto no encratismo.
curiosidade
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BÍBLIA Introdução ao NT
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FATIPI EAD Guia de Estudos
1Timóteo
1Timóteo é a carta mais longa das pastorais, e estabelece, de certo
modo, a forma como as demais serão escritas. Dos bilhetes autênticos,
temos a menção de que Paulo mandou Timóteo ficar em Éfeso (1.3), o que
é confirmado pela tradição, que afirma o discípulo como bispo da igreja na
cidade. Mas, a localização do próprio Paulo, de onde enviou a carta, não
é informada.
O maior destaque para 1Timóteo está nas orientações para diferentes
tipos de serviço prestado pelas pessoas. Fala-se nas qualificações para bis-
pos e diáconos (3.1-13), bem como a respeito dos presbíteros (5.17-25), e
como devem ser tratados pela igreja. Lendo os dois trechos, dá-se a enten-
der que a escolha de bispos e diáconos ainda era algo em definição. Já os
presbíteros tinham atividade reconhecida, provavelmente porque não eram
eleitos, mas um grupo de pessoas mais experientes na comunidade.
Por isso mesmo, outro grupo que não costuma ser indicado como lide-
rança, mas que tem destaque nesse texto, é o das viúvas. Mulheres mais
116
BÍBLIA Introdução ao NT
velhas, que já não tinham que lidar com os afazeres domésticos, passa-
vam a ter papel de liderança na comunidade. Deviam ter mais de sessenta
anos e sido esposa de um marido só (5.9). Numa leitura superficial, o texto
dá a entender que elas deviam ser cuidadas pela igreja, mas se lermos
com atenção, o que o texto está mostrando é que estas mulheres passa-
riam a ser sustentadas pela igreja mediante o serviço que prestavam aos
santos. São as “verdadeiramente viúvas”, expressão usada em 5.3 e 5.16.
O trecho de 2.8-15 é considerado o mais patriarcal e fechado dos tex-
tos paulinos, podendo inclusive ter influenciado a inserção do trecho de
1Co 14.33b-35. Nos dois textos fala-se da proibição de a mulher ensinar
na igreja. Utilizando argumentos judaicos, como comparar as mulheres a
Eva (2.13-14) ou criticando a conduta das mulheres romanas da elite, de
se adornar com “cabeleira frisada, ouro ou pérolas, ou vestuário dispen-
dioso” (2.9), o texto conclui que à mulher cabe o papel de ser mãe, ou
seja, gerar filhos. Considerando a trajetória de Paulo, tanto em Atos dos
Apóstolos como nas cartas, a menção a mulheres de forma entusiástica e
o trecho de 1Co 11.2-16, em que trata de mulheres que profetizam em Co-
rinto, este trecho só se explica exatamente por não ser de Paulo, indican-
do uma tendência conservadora da escola paulina, apontando inclinação
para a liderança masculina que vai ser reforçada nos séculos seguintes.
Como em Colossenses e Efésios, aparece aqui orientações sobre as
relações entre senhores e escravos (6.1-2), reforçando a ideia de que
Paulo e seus discípulos se preocupavam em mostrar como a igreja repre-
sentava uma nova comunidade no seio do império.
A famosa frase de Paulo “combati o bom combate” aparece em 6.12,
como parte de um trecho maior que se assemelha ao testamento (no
estilo judaico) do apóstolo ao discípulo Timóteo (6.3-16), e que pode ter
sido adotado como uma espécie de texto litúrgico para a consagração da
liderança. Na primeira parte, ele faz advertências sobre o ensino de fal-
sos mestres, com ênfase no fato de que provocam contendas e buscam
enriquecimento (6.3-10), mas sem indicar claramente o que ensinavam,
117
FATIPI EAD Guia de Estudos
2Timóteo
A segunda carta a Timóteo se inicia com uma nota pessoal de sua
biografia: são citadas avó e mãe (1.5), indicando um tom mais individual
e que reforça a ideia de testamento. Outro indício forte desse gênero é o
início de 2.1: “Tu, pois, filho meu [...]”. Esta fórmula é muito comum nos
materiais judaicos relacionados ao gênero testamento. Dos bilhetes au-
tênticos, temos menções de Paulo como prisioneiro, que podem ter sido
enviados de Roma, pouco antes de sua execução. Por isso, Paulo pede
que Timóteo leve diversos itens pessoais para ele (2Tm 4.13), além de
recomendar saudações a outras pessoas.
O conteúdo é marcado por uma série de recomendações a Timóteo
e aos liderados, utilizando vários verbos no imperativo, num sentido de
compromisso de conduta obrigatória da parte da liderança.
Em relação às falsas doutrinas, o texto de 2Tm 2.14-18 mostra si-
tuações mais concretas, inclusive cita os nomes de Himeneu e Fileto, já
mencionados em 1Tm 1.20, em que são acusados de afirmar que a res-
surreição já tinha ocorrido. Essa crença tinha raízes no helenismo, que
separava o corpo do espírito, por isso alguns consideravam que a ressur-
reição era apenas espiritual.
Dos textos mais comentados de 2Timóteo temos 2.1, que mostra a
dinâmica de formação de lideranças naquele momento: “E o que de mi-
nha parte ouviste através de muitas testemunhas, isso mesmo transmite
a homens fiéis e também idôneos para instruir a outros”. O texto fala da
cadeia de transmissão das doutrinas, que formou a tradição apostólica.
Outro texto muito lembrado desta epístola é 2.15, que recomenda uma
postura pessoal de aprovação diante de Deus e do discernimento da “pa-
118
BÍBLIA Introdução ao NT
lavra da verdade”.
A ideia de “manejar a palavra da verdade” em 2Tm dialoga com a
posição cristã e judaica da virada do século I de que os textos utilizados
das Escrituras Hebraicas (Antigo Testamento) são inspirados por Deus.
Em 2Tm 3.16 ele afirma: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para
o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça
[...]”. Aparentemente, esse critério foi adotado pela igreja nascente para
diferenciar os textos que deveriam ser regra e os que não poderiam ser
considerados assim. É a gênese de um processo de canonização, como
veremos no Módulo 5.
conceito
119
FATIPI EAD Guia de Estudos
Tito
É a carta mais curta das pastorais e praticamente repete diversos tó-
picos das duas cartas a Timóteo. Faz menção histórica de que Tito teria
ficado em Creta para trabalhar nas comunidades fundadas por Paulo e
organizá-las segundo as orientações do apóstolo.
Tito tem orientações a respeito de presbíteros e bispos (1.5-9), acusa-
ções aos falsos mestres (1.10-16), recomendações sobre a devida con-
duta de diferentes grupos na igreja (2.1-10), além de um trecho referente
às autoridades (3.1-2) que se assemelha a Rm 13, mas sem o caráter de
crítica velada ao império que o texto de Romanos apresenta.
Na parte final, onde aparece o bilhete de saudação, Paulo afirma sua
intenção de passar o inverno em Nicópolis, cidade a Oeste da Grécia,
logo, parece estar num contexto bem diferente daquele de 2Timóteo por-
que mostra o apóstolo livre.
1.3. Hebreus
Hebreus tem muito mais caráter de um sermão teológico do que de
uma epístola formal. A introdução (1.1-4) foi cuidadosamente elaborada
para mostrar o tema central: a superioridade de Cristo em relação a toda
criação, inclusive aos anjos.
Pela ausência de um proêmio adequado, não sabemos quem eram os
destinatários da carta, por isso ela tem sido considerada uma das epísto-
las universais do Novo Testamento (cartas que não têm endereçamento
definido). Ainda assim, a igreja entendia que os ouvintes deviam ser ju-
deus cristãos.
Diferentemente das cartas de Paulo, Hebreus não separa a parte
doutrinária da exortativa (parênese). Assim, no decorrer do escrito há
diversos apelos para o leitor por meio da parênese. É o único texto do
Novo Testamento em que Jesus é identificado como sumo-sacerdote (cf.
4.14-16; 8.1-3), o que a coloca realmente próxima da lógica judaica de
compreensão da fé e da religião.
120
BÍBLIA Introdução ao NT
Sobre a autoria, somente no ano 350 é que Hebreus foi admitida ofi-
cialmente como sendo de Paulo. Porém, a crítica moderna derrubou os
frágeis argumentos que defendiam essa posição (Lutero colocou Hebreus
à parte em sua tradução). A relação de Hebreus com Paulo foi indicada
a partir de alguns aspectos: a) saudações ao final, citando colaboradores
de Paulo; b) o tema da nova aliança, similar a 2Co; c) a cristologia, que
aponta para a glorificação do ser humano (como em Fp 2); d) o fim da lei
cerimonial, similar à declaração do fim do predomínio da lei em Romanos.
Porém, mesmo com todos estes aspectos, as diferenças de estilo, a
abordagem e a estrutura formal da carta apontam muito mais para outro
autor do que para o próprio Paulo. Nas tentativas de definir esse autor, a
pesquisa indicou as seguintes possibilidades: a) Lucas. Posição defendida
por Clemente (séculos II e III), que entendia que Hebreus foi escrita em
hebraico e Lucas o traduziu. O problema é que Hebreus não é tradução,
além disso, quando comparamos com Atos dos Apóstolos, vemos um esti-
lo bem diferente entre os textos; b) Apolo. Tese aceita por Lutero. Ele tem
o perfil adequado, mas não há como comparar com algum texto dele, pois
Apolo não deixou nada escrito, por isso essa hipótese não tem como ser
confirmada; c) Barnabé. Hipótese defendida por Tertuliano (séculos 2-3),
também pode ser uma boa opção, mas a aparente proximidade dele com
Paulo dificulta essa ideia, já que ele deve ter se afastado do convívio com
os judeus para pregar aos gentios. Curiosamente, o texto apócrifo “Epísto-
la de Barnabé” tem muitas similaridades com Hebreus, mas isso não con-
firma a autoria de Barnabé; d) Além disso, hoje se defende a possibilidade
de uma autoria feminina, talvez uma colaboradora de Paulo.
Resultado a que se pode chegar: não há como concluir a autoria do livro,
apenas que desde cedo circulou entre os cristãos como texto originado da
tradição paulina. Por isso o consideramos como parte da escola paulina,
ainda que tenha diferenças marcantes em relação aos escritos do apóstolo.
Da mesma forma, é muito difícil datar a epístola aos Hebreus. A men-
ção ao culto judaico e o fim da antiga aliança não dependem do tempo
121
FATIPI EAD Guia de Estudos
histórico, por isso o texto tanto pode ter sido escrito antes de 70 quanto
depois. Certo é, apenas, que foi escrito antes de 96, porque é citado em
1Clemente, texto considerado desse período.
A mensagem de Hebreus sobre a cristologia aborda a preexistência de
Cristo sobre a criação (1.3); por sua vez, a morte redentora de Cristo cons-
titui a mensagem central da salvação (9.11-22). Hebreus também assume
a ideia da Nova Aliança de Deus (8.8-13), da forma como Paulo havia en-
sinado nas epístolas autênticas. Assim, a epístola estabelece uma relação
com a teologia paulina, mas difere dela, pois o sumo sacerdócio de Cristo
está ausente em Paulo. A respeito da Lei, Hebreus trata do tema a partir
do culto, de forma diferente dos demais autores do Novo Testamento, pois
está sempre comparando aspectos rituais da Lei com a ação de Cristo
pela humanidade.
Hebreus é marcada por uma visão da história mais alegórica e menos
concreta. É desinteressada do sentido histórico das palavras da Escritura,
dedica sua atenção à descoberta e à explicação do sentido verdadeiro
mais profundo. Há várias indicações alegóricas, como Melquisedeque (Hb
7), os elementos do tabernáculo (Hb 8-9), em que afirma serem as coi-
sas do presente apenas sombra das futuras (8.5), como se fossem uma
parábola para a época atual (9.9). Nisso Hebreus tem familiaridade com
Fílon de Alexandria, por isso pode ser situado mais próximo do judaísmo
helenístico, já integrado ao projeto de Jesus Cristo.
curiosidade
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BÍBLIA Introdução ao NT
Tiago
A epístola de Tiago é uma das mais polêmicas do Novo Testamento,
especialmente por causa de seu reforço em torno de uma religião prática,
no estilo judaico. A cristologia não é desenvolvida no texto e não há nenhu-
ma menção a algum fato histórico que possa situá-la cronologicamente.
Aliás, uma das dificuldades em Tiago é justamente não parecer uma
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FATIPI EAD Guia de Estudos
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BÍBLIA Introdução ao NT
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FATIPI EAD Guia de Estudos
Jerusalém, onde ele tinha base. Assim, a datação deve se dar entre 60
(quando o ministério de Paulo já tinha sido bastante divulgado) até 80
(pouco antes dos Evangelhos de Mateus e Lucas, por causa da forma
como eles trabalharam a tradição dos ditos de Jesus). Quanto ao local de
redação, se for antes de 70, pode ser Jerusalém, mas se for depois, o me-
lhor lugar para localizar o texto seria Antioquia da Síria, palco de debates
e divergências entre judaizantes e universalistas, como visto em Gálatas.
Atualmente, a epístola é entendida como uma busca de correção
contra tendência liberal de grupos que acharam que Paulo ensinava a
extinção da Lei, por causa da fé em Jesus. Ao mesmo tempo, é um freio
à tentação de individualizar demais a salvação, tornando-a apenas uma
experiência mística, outra tendência forte no cristianismo primitivo.
A base para essa correção é sempre o evangelho, tanto de Jesus
quanto de Paulo. Se a epístola de Tiago for considerada como funda-
mento doutrinário, o cristianismo retorna ao ciclo judaizante que esteve
presente em seu início. Mas numa perspectiva mais global do cristianismo
primitivo, é necessário olhar a epístola a partir da fé. Aí sim, a exortação
das obras faz sentido, para que a fé não seja infrutífera, mas operante na
própria significação da vocação cristã como testemunha de Cristo.
curiosidade
126
BÍBLIA Introdução ao NT
1Pedro
A epístola de 1Pedro é um texto de caráter parenético. Ela é dirigida
“aos estrangeiros da Dispersão: do Ponto, da Galácia, da Capadócia, da
Ásia e da Bitínia, eleitos segundo a presciência de Deus Pai, pela santifi-
cação do Espírito, para obedecer a Jesus Cristo” (1Pd 1.1). Talvez o ob-
jetivo tenha sido endereçar o texto às províncias romanas, mas a epístola
acabou atingindo os cristãos na Ásia Menor, deixando alguns lugares de
fora. Todavia, ela poderia estar mais preocupada em atingir aos cristãos
gentios (cf. 1.14-18; 2.9-10; 4.3-4), mesmo havendo alguns cristãos oriun-
dos do judaísmo naquela região. De qualquer modo, a epístola parece
enfocar regiões que não estavam na agenda territorial do apóstolo Paulo.
Os cristãos ali são conhecidos por pertencerem a uma pátria superior,
como povo de Deus espalhado pelo mundo (1Pd 1.17; 2.11).
O local de redação deve ter sido Roma (Babilônia no Apocalipse re-
presenta a cidade imperial), mas, mesmo recebendo o nome de Pedro,
dificilmente foi escrita por ele. Ao falar de uma perseguição generalizada
em 4.12-19, o autor aponta para o período de Domiciano, décadas depois
da morte de Pedro. Além disso, a carta, além de ter excelente grego, está
repleta da teologia paulina. Por isso, dificilmente Pedro poderia ser o autor
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FATIPI EAD Guia de Estudos
dela, mas sim um cristão ligado ao círculo petrino, que utiliza a autoridade
do nome dele para consolar, exortar e edificar os cristãos de diferentes
localidades. A data da escrita deve ter sido entre 90 e 95 d.C., período pa-
ralelo ao Evangelho de João e outros textos com o mesmo teor, inclusive
o Apocalipse.
Em termos de conteúdo, há diversas formas de pensar a estrutura da
epístola. Uma possibilidade é dividi-la em duas grandes partes: a primeira
(1.1-2.10) trata da vocação cristã, enquanto a segunda (2.11-5.11) aborda
as consequências concretas dessa vocação para a vida dos crentes, que
parecem estar vivendo dias de perseguição.
Uma segunda forma de organizar a epístola é pelo tema recorrente
da perseguição, que mostra dois momentos diferentes: na primeira par-
te fala-se da possibilidade de os cristãos sofrerem em algum momento
(1.6; 2.20; 3.14,17). Já os trechos de 4.12, 14, 19 e 5.6-9 apontam para
dificuldades que os cristãos estão vivendo quando enquanto a epístola
era escrita. Alguns afirmam que é uma divisão redacional, com a primeira
parte de 1.1-4.10 e a segunda de 4.11-5.14.
Uma terceira possibilidade é a de pensar que a primeira parte da
epístola (1.1-4.10) seja um sermão batismal (por causa de 1.3,12,23;
2.2,10,25), enquanto a segunda é uma exortação escrita pelo autor. Na
verdade, pode ser que vários hinos tenham sido inseridos. Nesse sentido,
1Pedro aproxima-se da temática apocalíptica, com escatologia e consolo
nas perseguições, como ocorre no Apocalipse.
Judas e 2Pedro
Judas e 2Pedro são duas epístolas que devem ter sido elaboradas
na mesma época, e sua relação temática é tão próxima que iremos ana-
lisá-las em conjunto. Provavelmente, surgiram no século II, após o ano
110. A forma como 2Pedro utiliza o material de Judas, tratando dos falsos
mestres na mesma linha de argumentação, indica que foi escrita posterior-
mente, ou seja, na ordem cronológica, Judas vem primeiro que 2Pedro.
128
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3. A ESCOLA JOANINA
1João
Os especialistas são unânimes em afirmar que 1João não tem caráter
de epístola ou carta, antes se apresenta como um tratado de polêmicas,
com muitas associações ao Evangelho de João. Logo na introdução da
epístola vemos a relação com o prólogo joanino:
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BÍBLIA Introdução ao NT
2João
Segundo a pesquisa a respeito dos escritos joaninos, 2João foi escrita
depois de 3João. O que indica isso é o fato de ter elementos desta e de
1João. Não é uma carta de fato, mas um documento com compilações su-
perficiais das sentenças joaninas em forma de epístola. A “senhora eleita”
(v. 1) é a igreja em geral. De 3João o autor aproveita o título de Ancião e de
1João copia a confissão da encarnação de Cristo (v. 7), que ele afirma como
doutrina (didaquê) de Cristo, que já traz a ideia de doutrina consolidada e de-
terminante para saber quem é, de fato, seguidor de Cristo na comunidade.
No entanto, há quem argumente que a dependência que 2João
mostra de 3João dificilmente pode ser sustentada. A justificativa é que
2João apresenta temas que não estão presentes em nenhuma parte
dos escritos joaninos. Podemos listar três: misericórdia (éleos) (v. 3),
recompensa (misthon) (v. 8) e a proibição de saudar dando boas-vindas
a essas pessoas (chaírein légein) (v. 10), que indica uma ruptura radical
com o grupo antagônico.
Ainda assim, conclui-se que o autor parece ser o mesmo de 1João.
A identificação como presbítero [ho presbyteros] pode ser uma tentativa
de igualar sua autoridade aos demais pastores das comunidades cris-
tãs. Mas o mais correto em termos de tradução seria o Ancião, o que se
confirma pelo fato de Papias ter citado o autor como “o ancião João” [ho
presbyteros Ioánnes].
3João
Considerando o que foi afirmado anteriormente, devemos considerar
uma data anterior para a elaboração de 3João, em relação a 2João.
É uma carta autêntica, dirigida a Gaio, que parece ser o mesmo de At
19.29, Rm 16.23 e 1Co 1.14. Porém, apesar de muitos esforços em
contextualizar a situação da carta, saber o motivo de sua composição
continua um mistério.
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Módulo 5
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BÍBLIA Introdução ao NT
angústia naqueles dias que em qualquer outra ocasião desde que Deus
criou o mundo” (v.19). A partir do verso 21 ele adverte sobre falsos pro-
fetas e falsos cristos que depois serão chamados de anticristos. E no
trecho de 24-27 há um clímax, mostrando a transformação de tudo e a
vinda do Filho do Homem. Ao fim, Jesus conta duas parábolas exortan-
do à vigilância (28-31 e 34-37), intercaladas pela seguinte advertência:
“Contudo, ninguém sabe o dia nem a hora em que essas coisas aconte-
cerão, nem mesmo os anjos no céu, nem o Filho. Somente o Pai sabe. E
uma vez que vocês não sabem quando virá esse tempo, vigiem! Fiquem
atentos!” (13.32-33).
Este trecho não é profecia no sentido específico, mas profecia apoca-
líptica, pois utiliza imagens de destruição do mundo para chamar a aten-
ção da plateia. Quando comparamos Mateus e Marcos, vemos que têm
um conteúdo similar, mas o evangelista Mateus acrescenta quatro parábo-
las exortativas, além de uma descrição do julgamento final: 24.31-25.30.
Já Lucas segue a estrutura de Marcos, modificando a parábola de acordo
com a atualização da memória histórica de sua comunidade.
Na cena da Transfiguração (Mc 9.2-8 par), a aparição de Moisés e
Elias pode ser compreendida como a continuidade da tradição apocalípti-
ca em Jesus. Moisés e Elias eram figuras com enorme popularidade nos
ambientes apocalípticos, ao lado de Enoque. Os sinóticos seguem essa
tradição de forma similar.
A crucificação em Mateus (Mt 27.50-54), na descrição de Mateus so-
bre a morte de Jesus, mostra uma quebra na narrativa que, longe de ser
uma exposição de fatos, é uma construção com elementos apocalípticos.
Nem Marcos nem Lucas narram a cena de 52-53.
Nas cenas de exorcismo e enfrentamento contra Satanás, a atuação
de Jesus contra os demônios tem um pano de fundo apocalíptico, influen-
ciado pelos textos pseudoepígrafos. Ex: Mc 1.21-28; 3.10-12, 20-30; 5.1-
20; 7.24-30; 9.14-29. O uso de pnêuma akátharton e daimonion são ex-
pressões de entidades malignas e opostas a Deus.
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2. O APOCALIPSE DE JOÃO
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A origem do livro
A opinião tradicional com respeito ao Apocalipse é a de um texto para
consolo diante de uma grande perseguição promovida pelo império roma-
no, seja no fim do século I, por Domiciano, ou no século II, por Trajano. O
autor então escreve para consolar os cristãos, para que mantenham firme
sua fé e esperança, pois Deus e o Cristo estão acima do poder do império
romano. Essa opinião é aceita por europeus, norte-americanos e pela lei-
tura latino-americana, com bastante unanimidade.
Porém, a partir dos anos 1990, começou-se a discutir qual persegui-
ção teria dado origem ao livro. A pesquisa concluiu que não há evidên-
cias de uma perseguição generalizada, mas casos isolados (como o de
Antipas), o que levou a uma expectativa de perseguição generalizada
iminente, seja no tempo de Domiciano ou Trajano. Em ambos os casos,
o livro é um suporte para a fé, para tempos de perseguição, acontecendo
ou por acontecer, a diferença está na percepção sobre a perseguição:
em andamento e envolvendo a todos os cristãos ou iminente em função
de alguns casos específicos.
O autor do texto, já indicado como sendo João, pode ou não ser o após-
tolo que andou com Jesus. Já no século III, Dionísio de Alexandria (190-265)
mostrou, com bases linguísticas e estilísticas, que o Apocalipse não podia
ter sido escrito pelo mesmo autor do Evangelho de João e 1João. Há diver-
sas teorias a respeito, mas o fato é que há uma boa possibilidade de ser ele
mesmo, pois há indícios de Pais da Igreja de que João teria migrado para
Éfeso na velhice, onde o evangelho foi concluído, e exilado para Patmos na
virada do século I, de onde escreveu para as igrejas da Ásia Menor. A data-
ção gira em torno de 95 a 115, sendo difícil dar uma data mais aproximada.
Opiniões mais conservadoras acham que foi escrito antes do ano 70 d.C.,
mas não há evidências que reforcem essa tese.
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BÍBLIA Introdução ao NT
Introdução (1.1-8)
O primeiro grupo - Sete cartas às igrejas (1.9-3.22)
Cena de culto no céu (4.1-5.14)
O segundo grupo - Sete selos (6.1-8.1)
Cena de culto no céu (7.9-12)
O terceiro grupo - Sete trombetas (8.2-11.15)
Cena de culto no céu (11.16-19)
O quarto grupo - Seis sinais e vozes no céu (12.1-15.1)
Louvor no céu pela vitória contra o dragão (12.10-12)
O quinto grupo - Sete taças da cólera (15.1-16.21)
Cena de culto no céu (15.2-4)
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disse ele que [...]”. Retoma algum elemento da visão inicial do capítulo
1; d) Corpo da carta: em geral com os seguintes elementos: descrição
da situação, seguido de elogio (“Conheço tuas obras [...]”); repreensão
(“Tenho, porém, contra ti [...]”; ordem para arrependimento (“arrepende-te
[...]”); revelação profética (“se não, venho a ti e [...]”); exortação (“Sê fiel até
a morte [...]”; “Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta [...]”; “Conserva
o que tens [...]” etc.); e) Promessa escatológica ao vencedor (“Ao vencedor
darei [...]”). Remete em vários casos ao final do livro (19.11-22.5); f) Cha-
mamento para a escuta (“O que tem ouvidos, ouça [...]”).
Alguns comentários necessários sobre as cartas: cada igreja retém um
aspecto da visão do Cristo, seja porque assim há ênfase da situação pela
qual a igreja passa, seja porque mostra que a visão completa do Cristo
glorificado só se dá pela totalidade das igrejas. Assim, as cartas apontam
para a totalidade da Igreja em todos os tempos, bem como mostram como
as comunidades ou “denominações” não podem expressar o Cristo todo
sozinhas, mas precisam umas das outras. Uma boa reflexão para a ques-
tão ecumênica.
Em relação às igrejas Esmirna e Filadélfia, não há advertência (ambas
enfrentaram perseguição e foram perseverantes); Sardes começa com a
advertência e o elogio ameniza a ameaça; Laodiceia não tem elogio. Nas
primeiras cartas, os itens “e” e “f” estão invertidos, começando pelo cha-
mamento e depois a promessa escatológica, e continua seguindo a ordem
que apontamos.
Conhecer um pouco das cidades para as quais as cartas foram en-
dereçadas ajuda a entender mais cada carta. É o que veremos agora,
conforme mostra Ap 2.1-3.22.
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BÍBLIA Introdução ao NT
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situação. A igreja, aos olhos de Jesus, estava morta e precisava ser revivi-
da, para isso devia restaurar suas obras iniciais pela vigilância e empenho,
caso contrário Jesus agiria como um invasor. A advertência é positiva,
pois algumas pessoas da comunidade “não contaminaram suas vestimen-
tas”, indicando pureza espiritual e busca constante. Por isso a promessa
de roupas brancas iguais às de Jesus, assim como o nome no “livro da
Vida”, a fim de que não percam a salvação.
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BÍBLIA Introdução ao NT
2.4.2. Intertextualidade
Outro aspecto importante no Apocalipse é sua relação com a literatura
judaica e cristã, em especial os livros que passaram a figurar no cânon. Se
olharmos a Bíblia como um grande conjunto de livros, de forma sincrônica
(sem levar em conta os tempos históricos e as diferenças de contexto), o
Apocalipse tem o papel inverso ao Gênesis. Enquanto este abre todo o
projeto salvífico com a criação dos céus e da terra, o Apocalipse revela o
ápice da redenção, com novos céus e nova terra.
Entre os temas recorrentes que têm relação com o restante da Bí-
blia estão: as cartas como forma de comunicação com as comunidades;
a perseverança dos fiéis e a lealdade ao projeto de Deus; a ameaça de
perseguição pelos adversários, a ponto de colocar suas vidas em risco.
Um dos livros mais relacionados com o Apocalipse é Daniel. Se com-
pararmos as duas obras, veremos diversos pontos de contato, como mos-
tra o quadro abaixo:
DANIEL APOCALIPSE
O Ancião de Dias - 7.9-10 Jesus glorificado - 1.14-17; 14.14
Os animais bestiais - 7.3-8 As bestas - 12.3,13; 13.1-18
O Filho do Homem (junto com o O Filho do Homem – 14.14
Ancião de Dias) – 7.13
Os animais vencem os santos do A besta vence as duas testemu-
Altíssimo por pouco tempo – 7.21- nhas por pouco tempo – 11.7,11.
22
Hino de adoração – doxologia – Hino de adoração – doxologia –
7.14,27 11.15
O animal que derruba uma parte O dragão derruba a terça parte
das estrelas do céu – 8.10 das estrelas – 12.4
O tempo do domínio do mal – 7.25 O tempo da mulher no deserto –
12.14
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Certas pausas são utilizadas para retardar a narrativa (por exemplo, 8.1-
6; 11.15-19; 15.2-8) e podem representar momentos de oração ou jejum
na vida da Igreja, preparando-se para o agir de Deus.
Na verdade, o uso do tempo no Apocalipse é quase ilógico. O livro não
trabalha numa cronologia [cronos] linear, mas a partir de um tempo cícli-
co, ideal, focado nas coisas mais importantes [kairos]. Tanto a dimensão
temporal quanto a espacial são transcendentes, quer dizer, ultrapassam
os limites humanos. Por isso as dimensões estão relacionadas, de uma
forma invertida: a) através do temporal, o céu encontra-se com a terra; b)
através do espacial, o futuro encontra-se com o presente, quebrando a ló-
gica linear do aqui e depois. Tanto o momento atual quanto o futuro estão
relacionados. Resumindo, o Apocalipse nos situa dentro da eternidade,
por meio de um paradoxo espaço-temporal.
conceito
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CONCEITO
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Esse foi um dos motivos para que o “Pastor de Hermas”, a princípio lido e
aceito, fosse depois excluído das coleções.
curiosidade
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BÍBLIA Introdução ao NT
tros, ele elaborou uma classificação para os escritos que mais circulavam
entre os cristãos das regiões percorridas: a) Primeira classe, os incontes-
táveis: quatro Evangelhos, as treze epístolas de Paulo, 1Pedro, 1João,
Atos dos Apóstolos e Apocalipse; b) Segunda classe, os textos duvidosos:
2Pedro, 2 e 3João, Hebreus, Tiago e Judas; c) Terceira classe, os falsos
escritos: Evangelho dos Egípcios, Evangelho de Tomé, Evangelho dos
Basilidas e o Evangelho de Matias.
Com isto, Orígenes teve em mente o critério apostólico, mas também
o critério de aceitação das comunidades pelos escritos. Aqueles que eram
aceitos sem reservas em todas as comunidades foram considerados su-
periores do que aqueles que enfrentavam reservas ou só eram acolhidos
em algumas comunidades. Ainda assim, os limites do cânon ainda não
estavam determinados e escritos, pois Hebreus e Apocalipse ainda pro-
vocavam intensas discussões se eram escritos apostólicos ou não. Só
para ter um exemplo, Metódio de Olimpo, adversário de Orígenes na Ásia
Menor, considerava todos os livros do Novo Testamento como canônicos,
mais o Apocalipse de Pedro, Barnabé e a Didaquê.
Iniciando o século IV, Eusébio de Cesareia (263-339) debateu o tema
em sua obra “História Eclesiástica” e também estabeleceu três tipos de
textos: a) Os incontestáveis: quatro Evangelhos, Atos, catorze epístolas
de Paulo (incluindo Hebreus), 1Pedro, 1João e, não obrigatoriamente, o
Apocalipse de João; b) Os controversos: Tiago, Judas, 2Pedro, 2 e 3João;
c) Os textos espúrios, que deviam ser rejeitados: Atos de Paulo, Apocalip-
se de Pedro, “Pastor de Hermas”, Barnabé, Didaquê, bem como o Apoca-
lipse de João, caso alguém não o aceitasse como incontestável.
Nas décadas seguintes, vinte e seis livros do Novo Testamento já eram
considerados canônicos, menos Apocalipse de João. Isso se deveu ao
texto de Dionísio de Alexandria que questionava a autoria joanina, como
mostrado anteriormente. No ano de 367, no entanto, o bispo Atanásio, em
sua 39ª carta comemorativa da Páscoa, apresentou de forma convicta o
cânon do Antigo e do Novo Testamentos, sendo que, para o Novo Testa-
169
FATIPI EAD Guia de Estudos
mento, ele designou os vinte e sete livros que temos agora, com a seguin-
te ordem: Evangelhos (os quatro), Atos dos Apóstolos, as sete epístolas
universais (Tiago, 1 e 2Pedro, 1, 2 e 3João, Judas ), as catorze paulinas
(na ordem, apenas mudando Hebreus depois de 2Tessaloninceses e an-
tes das pastorais e Filemom) e Apocalipse. Esses foram definidos como
os únicos inspirados e que serviam como autoridade diante da igreja. Essa
definição passou a vigorar na igreja oriental, ainda que nos séculos se-
guintes houvesse divergência entre manter ou não o Apocalipse de João.
Para a igreja latina, no entanto, essa definição já estava valendo desde
o ano 200, a partir do Cânon Muratoriano e sua premissa da autoridade
apostólica dos textos. Em compensação, a inserção de Hebreus e cinco
das epístolas universais levou bastante tempo e discussões. Nos sécu-
los seguintes, a discussão continuou, mas quando Jerônimo (347-420)
admitiu que o cânon de Atanásio seria o correto, um sínodo romano em
382, presidido pelo papa Dâmaso, o definiu também para a igreja latina.
Agostinho de Hipona (354-430) seguiu Jerônimo e também defendeu o
cânon de Atanásio. Ainda assim, em certos círculos do Ocidente, o livro de
Hebreus não constava do cânon, assim como o Apocalipse ficava ausente
em círculos orientais. Apesar disso, esses dois livros passaram a vigorar
no cânon oficial e permanecem até os nossos dias.
curiosidade
170
BÍBLIA Introdução ao NT
Encerramos aqui nossa jornada pelo Novo Testamento, mas não sua
jornada pelos estudos destes textos tão fundamentais para nossa fé. Es-
peramos que, a partir dos conhecimentos adquiridos nesta disciplina, você
consiga mergulhar de forma mais profunda no estudo dos evangelhos e
epístolas, para entender melhor o processo de formação inicial do cristia-
nismo. Uma disciplina futura, em especial, necessita muito dos conheci-
mentos adquiridos nessa: a exegese do Novo Testamento, onde você es-
tudará com maior profundidade determinado livro, em que as informações
obtidas aqui serão essenciais para compreender melhor a mensagem do
texto. Além disso, você terá uma compreensão melhor de textos que ex-
ploram temas de teologia bíblica, pois os autores dessas obras partem
dos dados que foram expostos aqui. Por fim, e não menos importante,
entender o contexto e os diversos aspectos que cercaram a elaboração
do Novo Testamento é fundamental na prática pastoral, seja na pregação,
estudos, ou mesmo na orientação aos membros, tendo em vista as muitas
interpretações bíblicas na atualidade, muitas delas fundamentadas em ba-
ses equivocadas. Esperamos, assim, que esta disciplina seja um ponto de
partida para uma longa jornada de conhecimento e fundamentação de sua
fé sobre bases sólidas, a partir das Escrituras. Boa viagem.
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FATIPI EAD Guia de Estudos
BIBLIOGRAFIA
172
BÍBLIA Introdução ao NT
baixo das pedras, atrás dos textos. Tradução Jaci Maraschin. São Paulo:
Paulinas, 2007.
173
FATIPI EAD Guia de Estudos
LOHFINK, Gerhard. Jesus de Nazaré. O que Ele queria? Quem Ele era?
Petrópolis: Editora Vozes, 2015.
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BÍBLIA Introdução ao NT
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FATIPI EAD Guia de Estudos
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