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18/09/2020 Serial killers ou pop stars?

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Serial killers ou pop stars?


Depois de matador de Goiás ser considerado “atraente” por site
estrangeiro, livro explica fascinação que assassinos em série (reais
ou ficcionais) exercem sobre pessoas comuns

3 min de leitura

Marilia Marasciulo
29 Dez 2014 - 09h30 Atualizado em 29 Dez 2014 - 09h30

Quando surgem na mídia histórias como a do vigilante Tiago da Rocha, que em outubro
confessou ter matado quase 40 pessoas no estado de Goiás, a atenção do público é
imediatamente fisgada. O portal norte-americano Gawker, conhecido pelo conteúdo
polêmico, noticiou o caso com a manchete “Serial killer incrivelmente bonito confessa 39
assassinatos”. Nos comentários, leitores promoviam um mórbido concurso de beleza
entre Rocha e outros assassinos famosos, como Richard Ramirez, que confessou ter
matado mais de dez pessoas nos anos 1980, e Ted Bundy, que tirou a vida de pelo
menos 30 mulheres na década de 1970.

Foi justamente para explicar a origem da atração de pessoas comuns pelas histórias de
assassinos que Scott Bonn, professor de criminologia da Universidade Drew, lançou
recentemente o livro Why We Love Serial Killers (Por que Amamos Assassinos em
Série, sem previsão de publicação no Brasil). “Nosso interesse tem a ver com o poder
de atração de coisas que são ao mesmo tempo assustadoras e incompreensíveis”,
escreve o autor.

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"O ser humano sente


prazer na violência, mas
existe um limite entre o
normal e o patológico. E
os assassinos em série
ultrapassam esse limite"
Marcelo Caixeta, psiquiatra
forense

O fascínio por serial killers existiria desde 1880, quando Jack, o Estripador, assassinou
brutalmente uma série de prostitutas em Londres e escapou sem jamais ter sua
identidade descoberta pela polícia britânica.

A exposição constante de assassinos no noticiário e em filmes e seriados, como A Hora


do Pesadelo e Dexter, também colabora. “Na mídia, sexo e violência vendem. E serial
killers oferecem ambos em limites extremos”, escreve Bonn. Essas são explicações
lógicas, mas algumas pessoas extrapolam e passam realmente a amá-los. Umas
colecionam artefatos dos assassinos, como roupas, objetos pessoais e até armas.
Outras, bem mais extremas, chegam a se apaixonar por eles. Foi o caso da jornalista
americana Doreen Lioy, que em 1996 se casou com Richard Ramirez enquanto ele
estava no corredor da morte.

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O assunto é tão complexo que estudiosos discordam até na hora de definir o que é um
serial killer. Nos Estados Unidos, uma lei federal de 1998 determinou que o termo
significa “uma série de três ou mais assassinatos em que ao menos um tenha sido
cometido nos Estados Unidos, e que tenham características parecidas que sugiram a
possibilidade de os crimes terem sido cometidos pela mesma pessoa ou grupo”.

No Brasil, não existe na legislação nenhuma definição parecida e os homicídios são


sempre julgados caso a caso. O psiquiatra forense Marcelo Caixeta diz que há um
consenso entre especialistas de que existem fatores psicopatológicos e biológicos por
trás das ações de serial killers. O assassino em série teria alguma lesão na região
frontal do cérebro que afetaria o processamento das emoções. O psiquiatra explica que
quando uma pessoa normal mata um bicho ou provoca dor em alguém, neurônios-
espelho captam a sensação da vítima. O cérebro interpreta a sensação como algo ruim
e transmite a informação para a área responsável por tomar as decisões morais: matar
ou não matar, infligir ou não infligir dor. No cérebro de um serial killer, a região
responsável por todo esse processo estaria lesionada, donde a frieza anormal.

Além do fascínio humano pelo incompreensível, existe uma explicação um pouco mais
profunda para que as pessoas se interessem tanto por esse tipo de história. Segundo
Caixeta, o interesse é uma forma de lidar com a própria agressividade. “O homem sente
prazer na violência — o sucesso da luta livre e as fantasias sexuais sádicas estão aí
para comprovar —, mas existe um limite entre o normal e o patológico. Assassinos em
série ultrapassam esse limite”, diz ele. “Ao acompanhar esses casos, algumas pessoas

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podem se perguntar 'e se fosse eu?' e acabam projetando os fantasmas que têm na
vida real.”

(Foto: Luís Dourado/ Editora Globo)

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