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Isadora Garcia e Victor Kutz – 2º semestre – História do jornalismo no Brasil

A
revista piauí (grafada em letras minúsculas) foi fundada em
2006 pelo documentarista João Moreira Salles com o intuito de
“contar boas histórias com humor”, segundo seu próprio
criador.
Nascido em 27 de
A revista é publicada mensalmente com a tiragem modesta de março de 1962, no Rio
de Janeiro, João
apenas 50 mil cópias e busca ocupar um espaço no Brasil parecido com o
Moreira Salles é filho
que a “The New Yorker” ocupa nos Estados Unidos: O papel do jornalismo do embaixador e
literário, gênero jornalístico surgido nos anos 60 buscando aproximar o banqueiro, Walter
Moreira Salles, figura
jornalismo da literatura através de técnicas experimentais de estilo. proeminente da elite
Reflexo dessa inspiração é a enorme variedade de ensaios, crônicas, política e financeira da
narrativas e até reportagens em quadrinhos presentes na revista que, além quarta república.
Walter Moreira Salles,
de informar, buscam entreter o leitor e promover debates e análises além de criador do
aprofundadas. Itaú Unibanco, é
criador do Instituto
Tendo isso em vista, pode-se imaginar que a revista busca atingir Moreira Salles, no
um público mais seleto e intelectualizado. Daí vem a baixa tiragem em qual João exerce a
função de presidente
comparação com outras revistas de circulação nacional, como a Veja ou a
de conselho hoje.
Época (144 mil e 39 mil, respectivamente). Parte disso pode ser visto em
João se destaca pela
quem são os anunciantes da revista. Entre os textos da piauí, podemos ver
sua carreira como
principalmente anúncios de exposições, editoras, concertos, livrarias e documentarista,
comércios locais. tendo sido o seu
primeiro trabalho,
Em questão de estilo, a piauí se recusa a seguir padrões estéticos “Japão: Uma viagem
no tempo” exibido em
consolidados. Em suas reportagens não há lead, não há sublead ou
1985 na extinta TV
técnicas de pirâmide invertida. Em suas longas e densas reportagens, o Manchete.
principal fator que se destaca é a heterodoxia. Cada repórter não se limita Herdeiro de uma das
a ser um mero transcritor dos fatos, mas sim um narrador que carrega uma mais ricas famílias do
subjetividade, que solta críticas ácidas de vez em quando e até trocadilhos Brasil, João mantém,
além da revista piauí,
quando necessário. Enquanto os jornais diários gritam as notícias em diversas outras
tempo real, a piauí as comenta com estilo literário e senso crítico apurado revistas e publicações
em um texto humanizado e menos engessado. Por isso inclusive, a revista culturais através do
IMS
frequentemente chega a ter mais de 100 páginas e suas reportagens são
bem maiores que a média.
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Na edição desse mês (maio de 2022), inclusive,
pode-se destacar um exemplo da “heterodoxia
piauiense”. Trata-se de uma RQ, uma reportagem em
quadrinhos, onde a repórter Carol Ito conta um pouco
de sua história e de outros sobre o racismo contra
pessoas amarelas que são culpabilizadas no Brasil e em
outros lugares do mundo pela pandemia de
Coronavírus.
Com um time de 50 pessoas, a produção das
pautas da revista, segundo o próprio fundador, não se
dá como nos outros jornais em que há reuniões de
pauta e estruturas hierárquicas rígidas. “Não existe
reunião de pauta, as matérias vão surgindo informalmente, da conversa
entre os repórteres e o diretor de redação. Somos muito poucos; dez
passos e se chega a qualquer mesa. Nosso processo não tem nenhuma
liturgia, nenhuma formalização. Também não temos editorias, o que nos
desobriga a ter assuntos obrigatórios – política, esporte, economia, etc.
No início do mês a redação fica relativamente vazia, e à medida que o
mês avança, as pessoas vão ocupando as suas mesas para escrever as
matérias”, afirma Salles. Mais conhecido como
Angeli, Arnaldo Angeli
Outro diferencial da revista são as suas capas. Em um acervo de Filho, nascido em 31 de
capas das quase 200 edições da revista, encontramos uma enorme agosto de 1956 em São
Paulo, começou sua
variedade de ilustrações que trazem consigo críticas estridentes e carreira aos catorzes
cômicas aos moldes do que faz a revista francesa Charlie Hebdo ou o que anos como chargista na
fazia a revista de comédia MAD. As capas da piauí, ao mesmo tempo que revista Senhor, tendo
sido contratado logo em
sintetizam determinadas percepções, comentam opinam as notícias se seguida pelo jornal
fazendo entender por si só. São exemplos clássicos de capas da piauí a Folha de S.Paulo.
capa da primeira edição, que em 2006 já trazia o pinguim mascote da Criador de vários
revista, criado por Angeli, e a capa da edição 164 (maio de 2020) que, no personagens célebres,
auge da pandemia de Covid-19, trazia o presidente Bolsonaro como Bob Cuspe e Rê
Bordosa, Angeli é o
em um beijo apaixonado pela morte criador do famoso
pinguim com a boina de
Além da edição impressa, são mantidos pela guerrilheiro, mascote
revista 4 podcasts. O mais antigo e mais popular deles da revista piauí, além de
deles, o Foro de Teresina, que é publicado desde 2018, ser o autor das capas de
aniversário da revista.
vai ao ar semanalmente pela internet e comenta as
principais notícias da semana em um formato de mesa Em abril de 2022,
anunciou sua
redonda com os jornalistas Fernando de Barros e Silva, aposentadoria do
José Roberto de Toledo e Ana Clara Costa mundo das charges
após um diagnóstico de
afasia
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