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torno de 12 14, em Ilchester, Somerset, na I n- nharia civil entre 1548 e 1572, para dragagem e
glaterra. limpeza do leito do rio Niemen. Em 1627, Kas-
Alberto Magno apresentou uma descrição per Weindl usou a pólvora negra na Hungria,
da pólvora negra no seu manuscrito De mirabi- em minas de carvão, ao passo que, em 1689, ela
/ibus Mundi. era usada também nas minas de estanho da Cor-
Em 1242, Roger Bacon descreveu a pólvora ' nualha, Inglaterra.
negra em seus manuscritos, De Secretis e Opus A primeira referência registrada para o em-
Tertium, como tendo a seguinte composição: prego da pólvora negra na América, como agen-
te de rutu ra, ocorreu em 1773, nas m i nas de
41 partes de sa I itre cobre de Simsbury , Connecticut.
29,5 partes de carvão , Ao final do século XVIII e princípio do sé-
29,5 partes de enxofre culo XIX a Revolução Americana faria aumen -
tar consideravelmente a demanda de pólvora
negra nos Estados Unidos. Esse fato apressou a
Foi porém com o advento das armas de fo- construção de muitos moinhos de pólvora. Em
go que a fabricação e o uso da pólvora negra 1804, dois anos após haver constru ído seu pri-
começaram realmente a se desenvolver. Esta in- meiro moinho nas cercanias de Wilmington, De-
venção não pode ser atribu ída, com certeza, a laware, Eleuthere Irenée du Pont começou a
uma só pessoa; no entanto considera-se Ber- fabricação comercial da pólvora negra. Como
thold Schwarz como o idealizador do canhão e conseqüência da revolução e de outras ativida-
o primeiro a nele usar a pólvora negra como des, o consumo de pólvora nos Estados Unidos
propelente, por volta de 1300. Em anos seguin- foi crescendo até atingir o seu máximo de 126
tes, diversos autores citam o emprego de armas mil toneladas em 1917, quando ela foi usada na
de fogo e da pólvora de propulsão. Assim é que mineração de carvão e de metais como suporte
ingleses e franceses empregaram canhões, em para a economia de guerra.
larga escala, na batalha de Crecy, em 1346. Na I
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Quadro 1. Consumo aproximado de pólvora negra sa, uma substância relativamente uniforme, no
comercial (agente de rutura) nos Estados Unidos mínimo em comparação com a pólvora negra
entre os anos de 1810 e 1970. constitu ída pela mistura de seus três compo-
nentes, sempre desigual em suas menores partí-
Ano Mil toneladas Ano Mil toneladas
culas. A celulose nitrada, que recebeu após os
1810 0,64 1930 45,3 primeiros ensaios animadores de tiro o nome de
1840 4,1 1940 27 algodão-pólvora, não foi, na realidade, um meio
1860 11 1950 9,4 de projeção ideal por se tratar de um explosivo
1900 45 1960 0,7
forte. Somente em conseqüência da gelatiniza-
1917 126 1970 0,04
ção, depois da transformação em gel de pólvo-
ra, é que algodão-pólvora perde a sua estrutura
Em 1973 a du Pont deixou de fabricar a inicial, solta e fibrosa, para tomar uma forma
pólvora negra nos Estados Unidos, vendendo homogênea e densa. A nitrocelulose sofre, nes-
suas instalações, na Pensi Ivânia, para as indús- te processo, uma série de profundas alterações
trias Gearhart-Owen. estruturais que mudam fortemente a sua natu-
reza, diminuindo em especial a velocidade de
PÓLVORA SEM FUMAÇA combustão, sem perder, entretanto, a sua ener-
gia qu ímica.
o nome comum e geral "pólvora sem fuma- Outro ponto importante que perm itiu à
ça" não cai bem por expressar de maneira in- pólvora sem fumaça firmar-se cada vez mais co-
correta as qual idades desse agente de projeção, mo agente propulsivo foi o do amplo controle
o qual, em apenas um século, deslocou do ter- da já citada velocidade de combustão, mediante
reno m iIitar, quase que com pletamente, a anti- a granulação adequada da massa gelatin izada.
ga pólvora negra. 0- que chamou a atenção du- Cabe aqui, ainda, uma observação: a pólvora
rante o seu primeiro emprego foi justamente a . sem fumaça apenas excepcionalmente é usada
ausência de fumaça e de resíduos, o que consti- como explosivo de rutura, em cargas de arre-
tui a razão de ser-lhe atribuída tal denominação. bentamento, sendo o seu uso nobre reservado à
No entanto, a vantagem da ausência de fumaça carga de propulsão das armas leves e pesadas.
do novo agente, em comparação com a antiga
pólvora negra, era apenas de ordem secundária
para os técnicos, subindo para um plano desta- . A FABRICAÇAO DE PÓLVORA NO BRASIL
cado quando se introduziram nos exércitos e
nas marinhas de guerra, como armamentos, as A fabricação da pólvora negra no Brasil está
modernas armas de repetição e os canhões de intimamente ligada à chegada em nosso país da
tiro rápido. No in ício não se levou esta vanta- família real, em 1808. Deve-se a D. João VI a
gem na devida consideração; o que se conside- fundação da primeira fábrica de pólvora, a 13
rou especialmente nesta mudança de importân- de maio daquele ano. Inicialmente denominada
cia histórica e cultural foi a enorme superiori- Fábrica de Pólvora da Lagoa Rodrigo de Frei-
dade do novo agente, sob o ponto de vista da tas, localizada nas imediações do Forte de São
bal ística, nas armas de todas as espécies. Assim, Clemente, hoje Jardim Botânico, ela começou
conseguiu-se em 1884 o meio de projeção tão a funcionar a 22 de julho daquele ano, sob a di-
procurado por inúmeros pesquisadores desde o reção do brigadeiro-inspetor de artilharia e fun-
dia em que, em 1846, Schoenbein descobriu o dição Carlos Antônio Napion.
algodão-pólvora. Em 1824, por decreto do imperador Pedro
'A superior capacidade de trabalho da pól- I, ela foi transferida para a localidade conheci-
vora sem fumaça, bem como a ausência de fu - da então pelo nome de Estrela, recebendo a de-
maca e de resíduos no tiro real, baseia-se nas es- nominação de Real Fábrica de Pólvora da Es-
pec'iais propriedades das bases ativas (nitrocelu- trela. Situada no sopé da serra de Petrópol is,
lose e nitroglicerina) e nos ingredientes inativos esse local talvez tenha sido escolh ido pela abun-
que representam, após uma fabricação cu idado- dância das espécies de madeira indicadas para a
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fabricação da pólvora negra. Além do mais, a ciais-E ngenheiros, nos Estados Unidos e na
região era servida por uma estrada considerada França, a Fábrica Presidente Vargas começou a
de muito boa qualidade . produ z ir propelentes moldados de base dupla
Durante a Guerra do Paraguai, além de uma em modernas instalações adquiridas naquele se-
nova reorganização, dom Pedro li, por decreto gundo pa ís. Essa nova usina está apta a fabricar
de 1864, determinou que e la passasse a chamar grãos de propelentes para os foguetes de grande
se Fábrica de Pólvoras da Estrela. Foi uma épo- porte que , sem dúvida, serão projetados. Nesse
ca de muito trabalho, mas também muito fértil longo espaço de tempo, :ou seja, de 1917 até
na produção de pólvoras que foram usadas am - agora , a Fábrica Presidente Vargas sempre pro-
plamente nas armas nacionais durante os ár- duziu as pólvoras necessárias aos armamentos
duos combates que se travaram . A par de suas usados no Brasil, tendo pesquisado, quando
atividades fabris, ela serviu como estabeleci - exigido, o tipo de propelente mais adequado ao
mento escolar no preparo de oficiais e artífices novo tipo de armamento adquirido no exterior,
para a Fábrica de Pólvoras de Mato Grosso, a se- ou mesmo fabricado no pa ís.
gunda do gênero no Brasil. Com a ajuda do Instituto de Pesquisa e De-
Em 1939, depois de novamente reestrutura- senvolvimento, órgão do Centro Tecnológico
da, passou a chamar-se Fábrica da Estrela. Em do Exército, os técnicos nacionais pesquisam
1940, arrendada a uma firma civil, permaneceu no momento os propelentes de alto teor ener-
nessas condições até 1946, quando retornou à gético - PA TE - que, sem dúvida, proporcio -
direcão militar. narão mais um avanço na fabricação de pólvo-
Com a criação da IMBEL, em 1975, a Fá- ras no Brasil.
brica da Estrela foi incorporada à Indústria de Paralelamente, a Companhia Brasileira de
Material Bélico do Brasil, continuando, porém, Cartuchos - CBC - está montando em São
a produzir pólvora negra necessária à fabrica - Paulo uma fábrica moderna para produ z ir as
ção de estopins, escorvas, artifícios pirotécni- pólvoras necessárias ao carregamento de sua ex-
cos e à exportação. tensa linha de cartuchos para as armas de guer-
Por outro lado, o início da fabricação da ra, de caça e de tiro ao alvo.
pólvora sem fumaça em nosso país se deu em Como incentivo aos fabricantes nacionais, o
1917, quando entrou em funcionamento uma Departamento de Material Bélico não tem per-
usina para fabricar "pólvoras de base simples" mitido a importação de pólvora estrangeira, as-
na Fábrica de Pólvora sem Fumaça, em Piquete. segurando assim proteção à nossa indústria que
Essa usina, com algumas modificações e a intro- busca, na pesqu isa, a melhoria da qual idade de
dução de melhorias em seus equipamentos, exi- seus produtos.
gidas pela tecnologia, continua produzindo ain -
da hoje. .
Em 1942, duas novas oficinas começaram a
operar em Piquete, uma produzindo n itrogl ice- EVOLUÇÃO CRONOLÚGICA DAS
rina e a outra produzindo pólvoras à base de PÚLVORAS NEGRA E SEM FUMAÇA
nitrogl icerina, as tão conhecidas pólvoras de ba-
se dupla. Da época da Segunda Guerra Mundial
'até hoje, a oficina de pólvoras de base dupla
tem produzido em larga escala, procurando Pólvora negra
acompanhar os avanços tecnológicos nesse
campo. Assim é que, por adaptação das instala- Século XI/I - Primeiras referências a respeito
ções inicialmente montadas para produzir ape- do salitre em artigos do árabe Abd
,nas pólvoras sem solventes, elas também passa- Allah, que o chamou de "neve chine-
sa".
ram a fabricar pólvoras com solvente volátil e
pólvoras para foguetes de pequeno porte.
Mais recentemente, isto é, em 1981, como 1242 - O frade Roger Bacon escreve a fórmula
conseqüência dos estágios das Comissões de Ofi- da pólvora negra.
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1300 - Berthold Schwarz é considerado como trela, com a denominação de Real Fá-
o primeiro a usar a pólvora negra como brica de Pólvora da Estre la.
propelente das armas de fogo.
1857 - Lammot du Pont introduz modifica-
ções na formulação da pólvora negra,
1340/ 1344 - Constru ídos os primeiros moinhos
obtendo a pólvora de rutura B.
para fabricação da pólvora negra na Eu-
ropa, nas cidades de Augsburgo e Span-
1864 - Nova reorganização da fábrica de pól-
dau . vora no Brasil, que passou a chamar-se
Fábrica de Pólvoras da Estrela.
1346 - Franceses e ingleses empregam canhões
e pólvora negra na Batalha de Crecy . 1866 - Criada a Pernambuco Powder Factory,
produtora da pólvora Elephante, usada
como pólvora de caça e em pedreiras .
1347 - O Estatuto de Wislica menciona o uso
da pólvora negra na Polônia . 1913 - Criada a Mira Maurício Indústrias Reu-
nidas Ltda, com sede em Paulo de Fron-
1548/ 1572 - Primeiros empregos da pólvora tin, RJ, produzindo pólvora negra e fo-
negra em engenharia civil, para draga- gos de artifícios.
gem e Iimpeza de rios.
1917 - Primeira Guerra Mundial - O consumo
1627 - Primeira prova documentada do uso da de pólvora negra nos Estados Unidos
pólvora negra em mineração, por Kas- atinge a marca de 126 mil toneladas.
per Weindl, nas minas reais de Schem-
nitz, na Hungria. 1930/ 1940 - Numerosos moinhos de pólvora
negra deixam de operar devido à falta
1675 - Constru (do o primeiro moinho de pól- de mercado nos Estados Unidos.
vora nos Estados Unidos, na cidade de - Nova mudança do nome da fábrica de
Milton, Massachusetts. pólvoras, que passa a chamar-se Fábrica
da Estrela, em 1939.
1689 - A pólvora negra é usada nas minas de
estanho de Cornualha, Inglaterra. 1940 -A Fábrica da Estrela é arrendada a uma
firma civil, permanecendo nessas condi-
1696 - A pólvora negra é usada para constru- ções até 1946.
ção de uma estrada, em Albula, Su (ça.
1973 - A du 'Pont deixa de fabricar a pólvora
1705 - Provável uso da pólvora negra nas minas negra, vendendo sua última planta para
de cobre de Simsbury, Connecticut. as indústrias Gearhart-Owen .
1804 -Eleuthere Irenée du Pont dá in (cio à 1975 - A Fábrica da Estrela é incorporada à
prodllção comercial da pólvora negra, IMBEL.
em Wilmington, Delaware.
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1917 - Comeca a funcionar a usina de fabrica- Apesar do muito que se tem escrito e deba-
ção de' pólvoras de base simples da Fá- tido a respeito da origem da pólvora negra, é
brica de Pólvoras sem Fumaça, em Pi- notório que não se pode fixar nem a data de
quete, B rasi I. sua descoberta nem com exatidão quais foram
seus primeiros fabricantes. Muito da história
1920 - Começa a fabricação de pólvoras à base sobre esse assunto se encontra ainda envolvido
de nitroguanidina nos Estados Unidos. por lendas de forma tal que parece muito difí-
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cil a possibil idade de se chegar à verdade com pó lvora negra, devemos reconhecer que os be-
tantos obstáculos que embaraçam o caminho. nefícios à humanidade advindos dessa desco-
No entanto, aceita-se que o mérito da priorida- berta foram de tal ordem que conhecer-se hoje
de deve ser discutido entre chineses e árabes. Se esse ou aqueles descobridores torna-se até irre-
foram os chineses os primeiros a empregar mis- levante. E nosso desejo, no entanto, que o con-
turas exp losivas mais ou menos semelhantes à teúdo deste artigo tenha sido útil aos iniciados
pólvora negra, eles o fizeram apenas com finali- ou apreciadores do estudo de pólvoras, contri-
dades pirotécnicas. Ao que parece, os ch ineses buindo também como aprimoramento da cu ltu-
desconhec iam as armas de fogo antes do século ra gera l dos demais leitores.
XIV. Segundo o padre Du Ha lde, em seu livro
Descrição do Império da Ch ina, " somente em
1621 é que os amarelos viram pela primeira vez REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁF ICAS
um canhão verdadeiro. Nessa data os habitantes
de Macau presentearam o imperador com três 1. URBANSKI, T., Chemistry and Techno logy of Exp losi-
ves , vol. 111, Pergamon Press, 1967.
canhões que lançavam projéteis com o uso de 2. DAV IS, T. L., The Chemistry of Powder and Exp losives,
pólvora e, quando usados em campanha, con- John Wiley & Sons, 1943.
tribu íram decisivamente para a vitória dos chi- 3. PIO REZ ARA, A ., Tratado de Exp losivos. Cultural S.A.,
1945.
neses sobre os tártaros". 4. Catálogo dos Produtos Militares. Fábrica da Estrela, 1969.
Também merece consideração a opinião de 5. Solid Propel/ants - AMCP 706-175. Army Material Com-
alguns escritores de que os árabes conheciam e mand, USA, Part I.
6. TM 9- 1300, Military Exp losives - TechnicalManual,
utilizavam misturas do tipo da pólvora negra USA,1967.
desde o primeiro quarto do século XIII, embo- 7. BRUNSWIG, H., A Pólvora sem fumaça, Primeira Parte.
ra que com fins puramente incend iários, por- W. de Gruyter & Co, 1926.
B. TA V ER NIER, P., Poudres et Exp losifs. Presses Universi-
que desconheciam suas virtudes exp losivas e taires de France, 1969.
força expansiva. 9. VAL ENÇA, U.S., Notas de Aula de Exp losivos. Institu to
Militar de Engenharia, 1973/1982.
Contudo, quer tenham sido os chineses, ou 10. Blasters' Handbook, Exp losives Products D ivision. E .1 . du
'os árabes, ou Roger Bacon os descobridores da Pont de Nemours & Co, USA, 1978.
Possui os cursos da academia Militar das Agulhas Negras - AMAN, graduação em Enge -
nharia Química pelo IM E e de pós -graduação, Mestre em Ciências, em Engenharia Quí-
mica, também pelo IM E.
Fez estágios sobre Tecno logia de Propelentes no Radford Army Ammunition Plant, em
Radford, Virginia, E UA e sobre Tecnologia de Catalizadores no Institut de Recherche sur
la Catalyse, em Lyon e no Laboratoire oe Cinetique Chimique, em Paris, França.
Chefe do SFPC/1 no comando da 1~ Região Militar.
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