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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

FACULDADE DE LETRAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS LINGUÍSTICOS

MARCOS PAULO SANTOS

SEXISMO LINGUÍSTICO E NOMES GERAIS: a construção de uma


língua inclusiva

BELO HORIZONTE/MG
2019
Marcos Paulo Santos

SEXISMO LINGUÍSTICO E NOMES GERAIS: a construção de uma


língua inclusiva

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-


Graduação em Estudos Linguísticos da Faculdade
de Letras da Universidade Federal de Minas
Gerais, como requisito parcial à obtenção do título
de Mestre em Linguística.

Área de concentração: Linguística Teórica e


Descritiva

Linha de pesquisa: Estudo da Variação e Mudança


Linguística

Orientador: Prof. Dr. Eduardo Tadeu Roque


Amaral

Belo Horizonte/MG
Faculdade de Letras da UFMG
2019
Ficha catalográfica elaborada pelos Bibliotecários da Biblioteca FALE/UFMG

S237s Santos, Marcos Paulo.


Sexismo linguístico e nomes gerais [manuscrito] : a
construção de uma língua inclusiva / Marcos Paulo Santos. –
2019.
132 f., enc. :il., tabs., grafs., p&b., color.

Orientador: Eduardo Tadeu Roque Amaral.

Área de concentração: Linguística Teórica e Descritiva.

Linha de pesquisa: Estudo da Variação e Mudança


Linguística.

Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de


Minas Gerais, Faculdade de Letras.

Bibliografia: f. 113-117.

Apêndices: f. 118-132.

1. Língua portuguesa – Variação – Teses. 2. Mudanças


linguísticas – Teses. 3. Linguagem – Política governamental –
Teses. 4. Sexismo na linguagem – Teses. 5. Sociolinguística –
Teses. 6. Nomes – Teses. I. Amaral, Eduardo Tadeu Roque. II.
Universidade Federal de Minas Gerais. Faculdade de Letras. III.
Título.

CDD : 469.798
Dedico este trabalho a todas as mulheres da minha vida, que, mesmo sem saber,
travam batalhas diárias em uma luta contínua contra as opressões de nossa sociedade.
À minha mãe e minhas irmãs em especial, por tudo que me ensinaram.
Ao meu orientador, professor Dr. Eduardo Amaral, pela sua contínua e intensa
dedicação à construção do saber.
AGRADECIMENTOS

À minha mãe e ao meu pai, Célia e Francisco, por todo esforço que realizaram durante toda a
vida para que eu pudesse, hoje, estar onde estou e ser quem eu sou.

À minha irmã Fernanda, pelo exemplo de mulher guerreira e mãe dedicada que você é.

À minha irmã Patrícia, por ser meu termômetro de dedicação, meu exemplo de persistência e
força de vontade, obrigado por todo apoio e ensinamentos no decorrer de todos esses longos
anos.

Ao meu sobrinho, Matheus, pela esperança de um futuro melhor.

Ao professor Dr. Eduardo Amaral, por toda sua dedicação e confiança depositadas em mim
desde minha graduação. Obrigado por todas sugestões, dicas e instruções que hoje fazem parte
do profissional que sou.

Aos meus amigos, Bossuet, Léo, Saulo, Luciano, Felipe Roner, Rafael, André Flausino, que
pacientemente me escutaram e me apoiaram ao longo deste árduo caminho.

Às minhas amigas, em especial Kênia, Mayumme, Marina, Thaís, Sílvia, Brunna, Gabriella e
Nanda, pela amizade, pelo amor e por todos os ensinamentos sobre a difícil tarefa de ser mulher
em nossa sociedade.

Ao meu estimado e querido André de Moura, por todas as horas e mais horas de conversas e de
experiências compartilhadas ao longo dos anos.

Aos meus professores e professoras da Faculdade de Letras, que, das mais diversas formas,
contribuíram para minha formação.

À Faculdade de Letras e ao Poslin, pela oportunidade e pelo ensino de qualidade oferecidos.

Enfim, agradeço a todas as pessoas que de alguma forma estiveram comigo, incentivando-me
e encorajando-me na realização desta pesquisa, minha eterna gratidão.
“Os limites da minha linguagem denotam
os limites do meu mundo”
Ludwig Wittgenstein
RESUMO

Este estudo objetiva analisar estratégias linguísticas que evitam o uso do gênero gramatical
masculino como forma de referência a homens e mulheres. Políticas linguísticas para um uso
inclusivo da língua têm se tornado mais comuns nas sociedades contemporâneas e são
questionadas sobre a necessidade das normas prescritivas que visam evitar um sexismo
linguístico, conforme discutido por Bodelón e Rubio (2012), Bengoechea (2015), Mäder,
Severo (2016) e Lagares (2018). Nesse sentido, o estado do Rio Grande do Sul criou um guia
de redação para um uso não sexista da língua (TOLEDO et al., 2014). Em uma perspectiva da
variação e mudança linguística, de Weinreich, Labov e Herzog (2006 [1968]), da variação
linguística em nível lexical, Biderman (2001), além das noções de norma linguística e
prescrição de usos, por Coseriu (1962, 1980) e Faraco e Zilles (2017), busca-se, neste trabalho,
observar diferentes formas de referência a homens e mulheres de modo simultâneo, em especial
o uso de nomes gerais. Os nomes gerais são itens em processo de gramaticalização e muito
frequentes para referência a seres humanos quando não se deseja identificar características
específicas, como o sexo, e são dotados de traços semânticos mínimos, conforme Halliday e
Hasan (1995 [1976]), Amaral (2013a, 2013b), Amaral e Ramos (2014), etc. Todo conjunto de
dados da pesquisa foi tratado com auxílio do software AntConc (ANTHONY, 2018). Foram
analisados 3680 dados de textos de falas de parlamentares em pronunciamentos nas assembleias
legislativas de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul. Foi possível classificar os dados quanto
ao uso: sexista (2242 ocorrências) e não sexista (1438 ocorrências). Observa-se um processo de
variação nos dois estados, mas tendendo a uma mudança mais acentuada no estado gaúcho,
onde os usos não sexistas cresceram acompanhados de redução de usos sexistas. Por outro lado,
no estado mineiro, os usos sexistas apresentaram aumento. Constatou-se ainda que o uso de
nomes gerais de referência a seres humanos é uma estratégia relevante na construção de uma
língua inclusiva. Esses itens representam 26,7% do total de dados, e 68,2% das estratégias
consideradas não sexistas, tendo maior relevância de usos entre os/as parlamentares do estado
de Minas Gerais. Entre os nomes gerais analisados, pessoa mostrou-se como item mais
frequente e relevante como referência não sexista a seres humanos, com 506 ocorrências. Os
resultados nos apontam a possível existência, no estado gaúcho, de uma maior preocupação
com o uso de uma língua com mais equidade entre homens e mulheres, devido às políticas
linguísticas para esse fim. Além disso, os resultados obtidos nos permitem compreender a
efetividade das sugestões para um uso não sexista da língua, como a duplicação de nomes,
professores e professoras, ou de determinantes, como nossos atletas e nossas atletas, além da
utilização dos nomes gerais. Tais propostas de uma linguagem não sexista se mostram
frequentes no uso empírico e bem aceitas entre os críticos da elaboração de uma língua
inclusiva.

PALAVRAS-CHAVE: Sexismo linguístico. Variação e mudança linguística. Língua


inclusiva. Nomes gerais.
ABSTRACT

This study aims to analyze different ways of avoiding the use of masculine grammatical gender
to denote both genders (men and women). The linguistic policy for an inclusive use of language
have become more common in contemporary societies. As discussed by Bodelón and Rubio
(2012), Bengoechea (2015), Mäder, Severo (2016) and Lagares (2018), these ideas are frequent
targets of inquiries about relevance of prescriptive proposals that aim to avoid the linguistic
sexism. The Rio Grande do Sul State developed a style guide for a non-sexist use of the
language (TOLEDO et al., 2014). Through the variation and linguistic change, in Weinreich,
Labov and Herzog (2006 [1968]), through the lexical variation, Biderman (2001), the notions
of linguistic norm (standard language) and prescription of uses, in Coseriu (1962, 1980) and
Faraco and Zilles (2017), we pursued to observe the different linguistic forms to relate to men
and women, especially regarding the use of general nouns. The general nouns are lexical items
in grammaticalization processing. These names are very frequent in reference to human beings
when the identification of specific characteristics such as sex is not requested or desired, they
are endowed with low semantic features according to authors such as Halliday and Hasan (1995
[1976]), Amaral (2013a, 2013b), Amaral and Ramos (2014) and Mihatsch (2015). The data was
prepared using AntConc software (ANTHONY, 2018). The search results allowed us to
investigate 3680 occurrences in texts of speeches of parliamentarians in pronouncements of the
legislative assemblies in Minas Gerais and Rio Grande do Sul States. The main results allowed
us to classify the data regarding its use: sexist (2242 occurrences) and non-sexist (1438
occurrences). There was a process of variation in the two States, but tended to a more marked
change in Rio Grande do Sul State, where the non-sexist uses grew, accompanied by a drop of
uses considered sexist. On the other hand, in the Minas Gerais State, the sexist uses increased.
We observed that the uses of general nouns to outline human beings is a relevant strategy in the
construction of an inclusive language. These names represented 26.7% of the total data, and
68.2% of the strategies considered non-sexist, with greater relevance of uses among the
informants of Minas Gerais State. Amongst the general nouns analyzed, pessoa(s)
(person/people) was shown as a more frequent and relevant one as a non-sexist reference to
humans, with 506 occurrences. The results also allow us to point out the possible existence in
Rio Grande do Sul State of a greater concern with the use of a language with more equality
between men and women by the existence of linguistic policies. It is possible to understand the
effectiveness of different proposals for a non-sexist use of the language, as the uses of general
nouns and other lexical strategies, as replicating nouns. These purposes have been frequent in
the empirical use and best accepted by critics of the elaboration of an inclusive language.

KEYWORDS: Linguistic sexism. Variation and linguistic change. Inclusive language. General
nouns.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Tela do software Antconc: fragmento da lista de concordância gerada para o item
mulher ...................................................................................................................... 50

Gráfico 1 – Percentuais de usos não sexistas totais .................................................................. 72

Gráfico 2 – Percentuais de usos não sexistas totais excluídos os NG [+hum] ......................... 74

Gráfico 3 – Percentuais de usos não sexistas apenas em contexto que permite NG [+hum] ... 77

Gráfico 4 – Percentuais de usos não sexistas apenas em contexto que permite NG [+hum] sem
a presença dos NG [+hum] .................................................................................... 79

Gráfico 5 – Variação no tipo de estratégia não sexista utilizada em Minas Gerais ................. 82

Gráfico 6 – Variação no tipo de estratégia não sexista utilizada no Rio Grande do Sul .......... 82

Quadro 1 – Instrumentos prescritivos para erradicação de uma linguagem sexista ................. 35

Quadro 2 – Usos excludentes e não excludentes ...................................................................... 36

Quadro 3 – Lista de nomes gerais do inglês e seus traços semânticos ..................................... 39

Quadro 4 – Relação de deputados e deputadas da amostra de dados da ALMG ..................... 51

Quadro 5 – Relação de deputados e deputadas da amostra de dados da ALRS ....................... 53

Quadro 6 – Itens lexicais coletados nos dados e número de ocorrências ................................. 56

Quadro 7 – Critérios de classificação das ocorrências ............................................................. 60

Quadro 8 – Deputados e deputadas da amostra qualitativa ...................................................... 66

Quadro 9 – Lista das mil lexias mais frequentes no conjunto total de dados ......................... 118
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Número total de deputados e deputadas com pronunciamentos coletados em cada


............................................................................................................................... 54

Tabela 2 – Tokens/types por sincronia ..................................................................................... 54

Tabela 3 – Número de ocorrências das lexias estratificado por tipo de uso ............................. 67

Tabela 4 – Número de ocorrências das lexias estratificado por tipo de uso, estado e período 69

Tabela 5 – Valores percentuais e ocorrências de usos sexistas e não sexistas ......................... 71

Tabela 6 – Ocorrências de nomes gerais [+hum] ..................................................................... 73

Tabela 7 – Valores percentuais e ocorrências de usos sexistas e não sexistas excluídos os NG


[+hum] ................................................................................................................... 73

Tabela 8 – Valores percentuais e ocorrências de usos sexistas e não sexistas apenas em


contexto que permite NG [+hum] .......................................................................... 76

Tabela 9 – Valores percentuais e ocorrências de usos sexistas e não sexistas apenas em


contexto que permite NG [+hum] sem a presença dos NG [+hum] ...................... 78

Tabela 10 – Percentual dos NG [+hum] em relação ao total de usos não sexistas ................... 80

Tabela 11 – Médias de usos entre parlamentares com mandatos em duas legislaturas (ALMG)
............................................................................................................................... 89

Tabela 12 – Médias de usos entre parlamentares com mandato em uma legislatura ............... 89

Tabela 13 – Médias de usos entre parlamentares com mandatos em duas legislaturas


desconsiderados os NG [+hum] (ALMG) ............................................................. 90

Tabela 14 – Médias de usos entre parlamentares com mandato em uma legislatura


desconsiderados os NG [+hum] (ALMG) ............................................................. 90

Tabela 15 – Médias de usos entre parlamentares com mandatos em duas legislaturas (ALRS)
............................................................................................................................... 91

Tabela 16 – Médias de usos entre parlamentares com mandato em uma legislatura (ALRS) . 91

Tabela 17 – Médias de usos entre parlamentares com mandatos em duas legislaturas


desconsiderados os NG [+hum] (ALRS) ............................................................... 92

Tabela 18 – Médias de usos entre parlamentares com mandato em uma legislatura


desconsiderados os NG [+hum] (ALRS) ............................................................... 92

Tabela 19 – Usos não sexistas excluídos os NG [+hum] por parlamentares na ALMG ........ 123

Tabela 20 – Usos não sexistas excluídos os NG [+hum] por parlamentares na ALRS .......... 125
Tabela 21 – Usos sexistas e não sexistas distribuídos por parlamentares em Minas Gerais .. 127

Tabela 22 – Usos sexistas e não sexistas distribuídos por parlamentares no Rio Grande do Sul
............................................................................................................................. 129
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ALMG Assembleia Legislativa do estado de Minas Gerais


ALRS Assembleia Legislativa do estado do Rio Grande do Sul
GT Gramática tradicional
MUNSL Manual para o uso não sexista da linguagem: o que bem se diz bem se entende
NG [+hum] Nomes gerais de referência a seres humanos
SPM-RS Secretaria de Políticas para as Mulheres do Rio Grande do Sul
UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
WLH Uriel Weinreich, William Labov e Marvin Herzog
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 15
2 REFERENCIAL TEÓRICO .............................................................................................. 19
2.1 Variação e mudança linguística ...................................................................................... 19
2.2 Estudos do léxico e da variação lexical .......................................................................... 23
2.3 Prescrição e norma: processos normativos ..................................................................... 26
2.4 Língua, gênero e poder ................................................................................................... 30
2.4.1 Política linguística: ideologias e ativismo linguístico ............................................. 33
2.5 Os nomes gerais .............................................................................................................. 39
2.5.1 gente ........................................................................................................................ 42
2.5.2 humanos ................................................................................................................... 43
2.5.3 pessoa(s) .................................................................................................................. 43
2.5.4 pessoal ..................................................................................................................... 44
2.5.5 povo ......................................................................................................................... 45
2.5.6 ser(res) humano(s)................................................................................................... 46
2.5.7 indivíduo .................................................................................................................. 46
2.5.8 sujeito ...................................................................................................................... 47
3 METODOLOGIA................................................................................................................ 49
3.1 A escolha dos dados ....................................................................................................... 49
3.1.1 ALMG ..................................................................................................................... 50
3.1.2 ALRS ....................................................................................................................... 52
3.2 Tratamento quantitativo.................................................................................................. 54
3.2.1 A escolha dos itens analisados e os casos desconsiderados .................................... 56
3.2.2 Análise e classificação das ocorrências ................................................................... 60
3.2.2.1 Contextos de NG [+hum]: casos especiais ....................................................... 62
3.3 Tratamento qualitativo.................................................................................................... 65
4 RESULTADOS E ANÁLISE DOS DADOS ..................................................................... 67
4.1 Análise quantitativa ........................................................................................................ 67
4.1.1 Contextos totais ....................................................................................................... 71
4.1.2 Contextos totais com a exclusão dos NG [+hum] ................................................... 73
4.1.3 Contextos que permitem o uso de NG [+hum] ........................................................ 75
4.1.4 Contextos que permitem o uso de NG [+hum] sem a presença dos NG [+hum] .... 77
4.1.5 Os nomes gerais ....................................................................................................... 79
4.1.5.1 humanos ............................................................................................................ 83
4.1.5.2 ser(res) humano(s)............................................................................................ 83
4.1.5.3 gente ................................................................................................................. 84
4.1.5.4 pessoal .............................................................................................................. 86
4.1.5.5 povo .................................................................................................................. 86
4.1.5.6 pessoa(s) ........................................................................................................... 87
4.1.6 Médias de usos por parlamentares ........................................................................... 88
4.1.6.1 Parlamentares da ALMG .................................................................................. 88
4.1.6.2 Parlamentares da ALRS ................................................................................... 90
4.2 Análise qualitativa .......................................................................................................... 93
4.2.1 Nomes sem marca morfológica que identifique o sexo dos referentes ................... 94
4.2.2 Duplicações ............................................................................................................. 95
4.2.3 Conjuntos de seres humanos ................................................................................... 97
4.2.3.1 classe trabalhadora .......................................................................................... 98
4.2.3.2 corpo técnico .................................................................................................... 98
4.2.3.3 direção .............................................................................................................. 98
4.2.3.4 equipe ............................................................................................................... 99
4.2.3.5 humanidade .................................................................................................... 100
4.2.3.6 juventude ......................................................................................................... 100
4.2.3.7 liderança ......................................................................................................... 101
4.2.3.8 mocidade ......................................................................................................... 102
4.2.3.9 oposição .......................................................................................................... 102
4.2.3.10 polícia ........................................................................................................... 103
4.2.4 Pronome indefinido ............................................................................................... 103
4.2.5 Nomes gerais [+hum] ............................................................................................ 104
4.2.6 Casos especiais ...................................................................................................... 105
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 108
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................... 113
APÊNDICES ......................................................................................................................... 118
15

1 INTRODUÇÃO

Este trabalho tem interesse em analisar, por um viés da teoria da variação e mudança
linguística, a construção de sintagmas nominais de referência a grupos de seres humanos
formados simultaneamente por homens e mulheres, observando-se especialmente o uso dos
nomes gerais de referência a seres humanos (NG [+hum]) como estratégia de construção de
uma linguagem não sexista.
De acordo com uma perspectiva da gramática tradicional (GT) e dos estudos linguísticos
sobre o conceito de gênero gramatical, a referência simultânea a homens e mulheres deve
ocorrer pelo uso de nomes flexionados em suas formas masculinas, consideradas formas não
marcadas. Segundo Bechara (2009),

é pacífica [...] a informação de que a oposição masculino – feminino faz alusão a


outros aspectos da realidade, diferentes da diversidade de sexo, e serve para distinguir
os objetos substantivos por certas qualidades semânticas, pelas quais o masculino é
uma forma geral, não marcada semanticamente, enquanto feminino expressa uma
especialização qualquer [...] (2009, p. 132, negrito nosso).

O conceito de forma não marcada, entretanto, tem sido cada vez mais questionado por
movimentos sociais, sobretudo aqueles de caráter feminista, que problematizam o uso de uma
forma masculina (ainda que gramaticalmente fundamentada) como sendo genérica. Para esses
movimentos, tais usos estariam relacionados a uma prática social sexista que excluiria, desde
muito tempo, a mulher como sujeito ativo da dinâmica social.
As motivações desta pesquisa surgem da existência, no Brasil, de um manual de
redação, obra que prescreve instruções normativas para um uso menos sexista da língua. O guia,
intitulado Manual para o uso não sexista da linguagem: o que bem se diz bem se entende,
identificado neste trabalho como MUNSL (TOLEDO et al., 2014), publicado pelo governo do
estado do Rio Grande do Sul em 2014, destaca-se como um documento que orienta e prescreve
o uso da língua oficial a ser aplicada em documentos dos mais diversos tipos nos órgãos da
administração pública. A sua elaboração visa à promoção de uma linguagem que se apresente
como menos sexista e mais inclusiva às lutas de equidade de gênero entre homens e mulheres
na instância dos serviços do Estado e na sociedade em geral:

[...] aspiramos promover, dentro das instituições públicas, o uso de uma linguagem
inclusiva onde seja visível a presença, a situação e papel das mulheres na sociedade
em geral e no discurso da administração pública em particular, tal e como ocorre com
os homens. Pretendemos contribuir para eliminar dos documentos, ofícios, relatórios,
circulares, convocatórias, cartazes, materiais didáticos, etc. (elaborados nessas
16

instituições) o uso de uma linguagem sexista-discriminatória e utilizar uma alternativa


de uso correto que contribua para a equidade de gênero (TOLEDO et al., 2014, p. 16).

Dessa forma, o texto do manual atua de um modo a instrumentalizar e prescrever um


uso e um saber a respeito da língua. Essa concepção prescritiva dos manuais já foi apontada por
Auroux (1992, apud GARCIA et al., 2016) sobre a formação da sistematização do saber
linguístico em instrumentos como gramáticas e dicionários.
São considerados usos sexistas, pelo texto do MUNSL (TOLEDO et al., 2014), a
aplicação de nomes masculinos para referência genérica a homens e mulheres. Os exemplos (1)
a (4), retirados do banco de dados constituído para esta pesquisa, ilustram esses usos:

(1) Atualmente gere 1.037 alunos, 119 funcionários, em uma escola comprometida
com a qualidade de ensino, sentindo-se realizada com o sucesso pedagógico dos
educandos e com a equipe que possui. (MG17M-Anselmo José Domingos)1

(2) Gente, há coisas que são para Deus, e coisas que são para o homem. (MG17M-
Sargento Rodrigues)

(3) Em nome de todos os gaúchos, agradeço a decisão ao secretário e aos técnicos da


Secretaria da Agricultura do Estado. (RS17M-Bombeiro Bianchini)

(4) A ministra Iriny Lopes destacou o programa Educação para a Diversidade e


Gênero, que produzirá em conjunto com o Ministério da Educação, formando em
torno de meio milhão de professores que terão a tarefa de romper a cultura
conservadora dentro da sala de aula. (RS11F-Ana Affonso)

O uso do masculino genérico é questionado como forma de referência a mulheres devido


à polissemia de sua interpretação. O trecho (5) abaixo, recorte de um pronunciamento realizado
pela deputada Ana Affonso na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul (ALRS) em março
de 2011, indica como o masculino deputados pode ser empregado para se referir a apenas
homens:

(5) Ao saudar as companheiras deputadas Marisa Formolo, Miriam Marroni, Maria


Helena Sartori, Silvana Covatti e Juliana Brizola, saúdo a todos os deputados que
compõem o Parlamento gaúcho. (RS11F-Ana Affonso)

Por outro lado, os usos linguísticos que o guia de redação aponta como não sexistas são
aqueles que identificam explicitamente a mulher por meio de nomes flexionados na forma

1
Todos os(as) parlamentares estão identificados em todos os exemplos ao longo do texto. O código identifica: o
estado ao qual se refere o dado (MG = Minas Gerais; RS = Rio Grande do Sul); o ano (11 = 2011; 17 = 2017); o
sexo do(a) parlamentar (F = feminino; M = masculino); seguido do nome parlamentar.
17

feminina, ou ainda o uso de outras estratégias, entre elas os NG [+hum]. Para Mäder e Severo
(2016), a construção de uma linguagem não sexista pode se apresentar de vários modos:

uma mudança gramatical com o objetivo de eliminar marcas sexistas da língua seria,
por exemplo, a não utilização do gênero gramatical masculino para a referência a
homens e mulheres (masculino genérico), e uma mudança ainda mais radical seria a
criação de um outro gênero gramatical para pessoas que não se identificam nem com
o masculino nem com o feminino (MÄDER; SEVERO, 2016, p. 246).

O texto do MUNSL traz diversas considerações sobre a relação entre o uso da língua e
a propagação de preconceitos e de disparidades entre gêneros/sexo:

uma das formas mais sutis de transmitir essa discriminação é através da língua, pois
esta nada mais é que o reflexo de valores, do pensamento, da sociedade que a cria e
utiliza. Nada do que dizemos em cada momento de nossa vida é neutro: todas as
palavras têm uma leitura de gênero (TOLEDO et al., 2014, p. 15).

Dessa maneira, sendo a discussão sobre uma linguagem inclusiva um assunto ainda
pouco estudado por uma perspectiva linguística, sobretudo à luz da teoria da variação e
mudança, justifica-se a elaboração e execução deste trabalho como modo de poder observar
possíveis mudanças na língua que verifiquem a efetividade dos questionamentos sociais atuais
quanto à igualdade de tratamento linguístico entre os sexos.
Os principais objetivos desta pesquisa são, portanto, verificar uma possível influência
das prescrições normativas de políticas linguísticas sobre o uso e a consequente variação da
língua, bem como verificar a presença e a importância do uso dos NG [+hum] como estratégia
concreta de construção de uma linguagem que seja menos sexista. Além disso, objetiva-se poder
apontar, dentro de um aparato teórico que considere a variação linguística, a relevância das
normas prescritivas no uso da língua, bem como compreender a real efetividade das propostas
de uma linguagem não sexista no que diz respeito ao uso do masculino genérico.
O conjunto de dados usados para análise empírica nesta pesquisa foi composto por
textos transcritos das falas de deputados e deputadas das assembleias legislativas dos estados
de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul. Os processos de manipulação e tratamento dos dados
coletados, bem como a contagem de palavras e elaboração de listas de frequência, foram
realizados por meio do software AntConc (ANTHONY, 2018). O valor total de contagem de
palavras do conjunto de dados coletados foi de aproximadamente 449.895 itens. Os dados foram
tratados, selecionados e classificados, resultando em um total de 3680 ocorrências entre usos
classificados como sexistas e também usos não sexistas. A escolha da origem dos dados se deu
pela existência do MUNSL no estado gaúcho. Assim, estaria o uso da língua de fato mudando
nesse contexto? O fato de haver, em um estado da federação, um manual prescrevendo regras
18

ditas não sexistas estaria influenciando o uso da língua no que diz respeito à marcação da figura
da mulher? Essas são questões que direcionam a realização deste trabalho.
No que diz respeito à estrutura deste trabalho, inicialmente, no capítulo Referencial
teórico, serão retomados os fundamentos teóricos que guiam este estudo, divididos em cinco
partes: primeiramente serão abordados os princípios basilares da teoria da variação e mudança
linguística e da variação e mudança em nível lexical. Em seguida, serão conceituadas as
diferentes noções de normas linguísticas. Na seção seguinte, serão apontadas questões que
envolvem o uso do masculino genérico e a concepção da língua como instrumento de poder,
bem como ideias sobre políticas linguísticas e as controvérsias sobre o tema do ativismo
linguístico. Por fim, serão retomados os conceitos teóricos a respeito dos NG [+hum] e as
principais características dos nomes gerais estudados nesta pesquisa, sendo eles: gente,
humanos, indivíduo, pessoa(s), pessoal, povo, ser(res) humano(s) e sujeito.
Em seguida, o capítulo 3, Metodologia, abordará os procedimentos metodológicos
adotados ao longo de toda pesquisa. Serão apresentados os dados, desde sua escolha,
relacionando-os aos objetivos do trabalho, bem como descritos os procedimentos de coleta,
tratamento, seleção, classificação e análise dos dados totais e das ocorrências estudadas.
O capítulo 4, Resultados e análise dos dados, que se divide em duas seções, apresentará,
na primeira seção, os resultados quantitativos estudados na pesquisa, observados a partir de
diferentes recortes propostos. A seção seguinte abordará a análise qualitativa das diferentes
estratégias de construção de uma língua inclusiva encontradas nos textos selecionados para essa
finalidade.
Por fim, as Considerações finais retomarão os principais resultados observados ao longo
da análise dos dados, relacionando-os aos pressupostos teóricos apresentados anteriormente.
Dessa forma, será possível responder às questões levantadas a respeito da efetividade de uma
proposta de ativismo por uma língua inclusiva, bem como analisar a necessidade de estudos
futuros sobre o tema, seguindo-se as referências bibliográficas utilizadas e os apêndices.
19

2 REFERENCIAL TEÓRICO

O referencial teórico deste trabalho se divide em cinco seções. Na primeira seção são
apresentados os pressupostos da teoria da variação e mudança linguística proposta por
Weinreich, Labov e Herzog (2006 [1968]). Em seguida são apresentados os principais conceitos
relativos à variação em nível lexical. Na terceira seção são diferenciadas as noções relativas ao
conceito de norma linguística e prescrição de uso. Na quarta seção são apresentadas as ideias
relacionadas às diferentes definições de gênero e à língua como instrumento de poder, bem
como os principais fundamentos sobre políticas linguísticas e ativismo linguístico. Por fim, na
última seção, são propostas retomadas teórica a respeito dos nomes gerais de referência a seres
humanos.

2.1 Variação e mudança linguística

A teoria da variação e mudança linguística, proposta por Uriel Weinreich, William


Labov e Marvin Herzog (2006 [1968]), identificados a seguir como WLH, fundamenta-se como
uma teoria empiricamente orientada e propõe o estudo da língua, destacado também por Coelho
et al. (2015, p. 58), como um “fato social dinâmico, cuja variação é explicada por formas
externas ao sistema” e também internas.
Segundo os autores, a história dos estudos linguísticos está marcada por paradoxos com
relação aos estudos da mudança das línguas. WLH (2006, p. 87) salientam como autores, como
o neogramático Hermann Paul, ou Ferdinand de Saussure, com a corrente linguística do
estruturalismo, viam a variabilidade e a sistematicidade dos sistemas linguísticos como
conceitos mutuamente excludentes. Mais precisamente, para Saussure, segundo Coelho et al.
(2015, p. 56), a língua, e seu estudo, deveria ser tomada por si mesma, como uma estrutura
autônoma e livre de quaisquer interferências externas, sociais ou históricas.
Nesse sentido, WLH (2006, p. 87) apontam que, a despeito dos paradoxos da
sistematicidade e da variação nas línguas, “a maioria dos linguistas reconhece a evidência que
demonstra que a mudança linguística é um processo contínuo e subproduto inevitável da
interação linguística”. É nesse sentido, objetivando um rompimento com a noção de língua
como um sistema homogêneo, que os autores propõem “uma explicação razoável da mudança
[que] dependerá da possibilidade de descrever a diferenciação ordenada dentro da língua”
(WLH, 2006, p. 88).
20

Em outras palavras, os autores compreendem a língua como “um sistema


ordenadamente heterogêneo em que a escolha entre alternativas linguísticas acarreta funções
sociais e estilísticas, um sistema que muda acompanhando as mudanças na estrutura social”
(WLH, 2006, p. 99). Assim, a teoria da variação e mudança linguística compreende a relação
direta entre língua e sociedade, sendo a língua entendida, portanto, como um fenômeno social.
Dentre os princípios basilares que os autores colocam para o estudo da variação e
mudança linguística, destaca-se que

fatores linguísticos e sociais estão intimamente inter-relacionados no


desenvolvimento da mudança linguística. Explicações confinadas a um ou outro
aspecto, não importa o quão bem construídas, falharão em explicar o rico volume de
regularidade que pode ser observado nos estudos empíricos do comportamento
linguístico (WLH, 2006, p. 126).

Labov (2008 [1972]), ao relacionar as mudanças linguísticas às mudanças sociais, nos


indica a estreita relação entre esses dois aspectos:

A variação do comportamento linguístico não exerce, em si mesma, uma influência


poderosa sobre o desenvolvimento social, nem afeta drasticamente as perspectivas de
vida do indivíduo; pelo contrário, a forma do comportamento linguístico muda
rapidamente à medida que muda a posição social do falante. Essa maleabilidade da
língua sustenta a sua grande utilidade como indicador de mudança social (LABOV,
2008, p. 140).

Para Labov, a mudança linguística seria, diretamente, um reflexo de uma mudança na


sociedade. Essa noção destacada pelo autor tem relação objetiva com as ideias propostas no
estudo da pesquisa aqui desenvolvida, uma vez que se pressupõe a existência de uma mudança
do comportamento social que se reflete no uso da língua.
Como já mencionado, outro princípio caro ao estudo da variação e mudança linguística
proposto na teoria elaborada por WLH está na noção relacionada à concepção da língua como
um sistema heterogêneo. Esse sistema é formado por regras categóricas e regras variáveis:

o caráter de heterogêneo dos sistemas linguísticos discutidos até agora é produto de


combinações, alternâncias ou mosaicos de subsistemas distintos, conjuntamente
disponíveis. Cada um desses subsistemas é concebido como um corpo coerente e
integral de regras do tipo categórico, neogramático: o único aparato teórico adicional
necessário é um conjunto de regras que afirmem as condições para a alternância
(WLH, 2006, p. 103).

A concepção da heterogeneidade da língua nos permite, portanto, verificar que, em


determinado contexto linguístico, duas formas podem ocupá-lo em uma relação de variação,
sendo essa relação motivada e controlada por pressões internas ao sistema, ou externas e de
caráter social.
21

Segundo Coelho et al. (2015, p. 59), ao apontarem a língua como sistema “dotado de
heterogeneidade ordenada”, os autores compreendem-na como um sistema de regras
categóricas, invariáveis dentro de uma estrutura. Como exemplo, para o português, Coelho et
al. (2015, p. 60) destacam a categórica anteposição sintática do artigo em relação ao
substantivo; contudo são as regras variáveis o foco principal do estudo da variação.
A variável linguística, para WLH (2006, p. 105), é “um elemento variável dentro do
sistema controlado por uma única regra”. Para Coelho et al. (2015, p. 60), a variável linguística
“é uma regra gramatical, e, sendo assim, não é qualquer forma linguística que pode assumir o
papel de uma das variantes, uma vez que elas sofrem restrições do próprio sistema linguístico”.
Coelho et al. (2015, p. 16) também apontam que, inicialmente, para a teoria da variação
e mudança, duas variantes seriam duas formas com “o mesmo valor
referencial/representacional, isto é, o mesmo valor de verdade”. Contudo, as autoras e o autor
destacam como esse conceito foi relativizado por William Labov após ter sido questionado por
Lavandera (1977 apud COELHO et al., 2015). Para Lavandera, quando analisadas variantes
para além do nível fonológico, cada forma apresentaria um significado/valor de verdade distinto
e elas deveriam ser, então, entendidas por mesmo valor funcional. Nesse sentido:

Labov acabou por relativizar a noção de ‘mesmo significado’, ao estabelecer que o


conceito de variável linguística deveria ser aplicado a ‘dois enunciados que se referem
ao mesmo estado de coisas e que têm o mesmo valor de verdade’ (entendendo ‘estado
de coisas’ como ‘significado representacional’) (COELHO et al., 2015, p. 64).

A teoria da variação e mudança linguística nos permite, nesse sentido, o estudo da


variação em diferentes níveis linguísticos, isto é, os níveis gramaticais em que as diferentes
variantes podem ocorrer. Segundo Coelho et al. (2015), as variações na língua podem ser:
variação fonética/fonológica, variação sintática, variação discursiva, variação morfológica e
variação lexical. Os primeiros trabalhos de Labov (1966 apud LABOV, 2008), a respeito da
realização do fonema /r/ nas lojas de departamento de Nova York, ou os estudos de Tarallo
(2007 [1985]), sobre a construção das orações relativas em português, são exemplos de
abordagens de variações fonéticas/fonológicas e variações sintáticas, respectivamente.
Assim, à pesquisa realizada por este trabalho interessa, como já indicado, o estudo da
variação de nível lexical. Desse modo, no recorte desta pesquisa, temos como variável
linguística a referência a seres humanos, que pode se realizar de diversas maneiras, sendo cada
uma dessas formas uma variante possível. Destaca-se que, pelo recorte proposto, o trabalho
desenvolvido analisará três variantes: o uso do masculino genérico, o uso de nomes gerais e o
uso de outras estruturas nominais não sexistas.
22

Dois outros aspectos da teoria da variação e mudança são essenciais ao trabalho desta
pesquisa: os significados sociais das variantes e o conceito de direção da mudança linguística,
ambos relacionados ao problema da transição da mudança na língua de um estágio a outro. O
primeiro relaciona-se ao significado social que determinadas variantes em uso possam
desempenhar. Para WLH (2006),

as variações sociais e geográficas são elementos intrínsecos da estrutura. Na


explicação da mudança linguística, é possível alegar que os fatores sociais pesam
sobre o sistema como um todo; mas a significação social não é equitativamente
distribuída por todos os elementos do sistema, nem tampouco todos os aspectos do
sistema são equitativamente marcados por variação regional (WLH, 2006, p. 123).

Em outras palavras, de acordo com Coelho et al. (2015, p. 66), “as formas linguísticas
veiculam, além de significados referenciais/representacionais, significados sociais”, e esses
significados podem carregar estereótipos negativos ou significados prestigiados de acordo com
aquilo que é difundido socialmente a respeito de uma variante. Segundo WLH (2006, p. 125),
é apenas a “completação da mudança e passagem da variável para o status de uma constante”
que é responsável pela perda de qualquer significação social, ou estereótipo, relacionada a
determinada variante. Desse modo, o valor social carregado por uma variante pode impulsionar
ou reter um processo de mudança na língua.
Já com relação à direção de difusão da mudança linguística, destaca-se a questão da
difusão da variação, e possivelmente da mudança, de um grupo social a outro. Nesse sentido,
Coelho et al. (2015, p. 90) apontam como a variação na língua pode se dar em duas direções,
de baixo para cima, ou de cima para baixo.
No primeiro caso, uma forma inovadora no sistema linguístico se expande “a partir da
fala vernacular” (COELHO et al., 2015, p. 90), isto é, a variação tem início na fala não
prestigiada socialmente, apresentando baixo nível de consciência e podendo ser motivada por
pressões internas ao sistema ou externas, relacionadas a traços sociais de determinado grupo.
As variáveis da direção de baixo para cima que se mantêm, e desencadeiam processos de
mudança, tendem a não apresentar estigma social. Por outro lado, a mudança de cima para
baixo apresenta maior grau de consciência dos falantes da língua e tem origem no uso
prestigiado da língua por uma classe dominante socialmente. Esse tipo de variação tem origem
em um uso mais cuidado e não espontâneo da língua.
A partir das noções de direção da mudança apontadas pela teoria da variação e mudança,
destaca-se como a proposta desta pesquisa se enquadra na observação e estudo de uma variação
motivada na direção de cima para baixo. Ao estudarmos as falas de deputados e deputadas em
23

discursos de plenário, concebemos que os dados analisados apresentam elevado nível de


consciência no momento de sua produção. Segundo Lagares (2018), as variações entre prestígio
e vernáculo são definidas pela noção de diglossia. Segundo o autor, o conceito de diglossia foi
formulado por Ferguson (1974, apud LAGARES, 2018), e remete a “um tipo particular de
padronização onde duas variantes de uma língua coexistem numa mesma comunidade, cada
uma desempenhando um papel definido” (FERGUSON, 1974, p. 99 apud LAGARES, 2018, p.
124).
Lagares, a partir das ideias de Ferguson, destaca como variantes linguísticas podem ser
consideradas altas (maior prestígio) ou baixas (menor prestígio), em uma relação em que “uma
variedade alta sobrepõe uma baixa” (LAGARES, 2018, p. 124.). Assim, para o autor, estariam
os discursos parlamentares (discursos políticos) entre as variantes que desempenham funções
altas na sociedade, corroborando a ideia de que este estudo representa uma mudança iniciada
em uso prestigiado da língua.

2.2 Estudos do léxico e da variação lexical

A partir dos pressupostos teóricos da teoria da variação e mudança linguística, faz-se


necessário o destaque de conceitos e aspectos teóricos relacionados diretamente ao estudo da
variação e mudança em nível lexical, já que é nesse nível linguístico que se desenvolve a
pesquisa realizada neste trabalho.
Partindo de uma perspectiva de estudos da lexicologia, Biderman (2001, p. 179) analisa
como o léxico de uma língua pode ser definido por um “vasto universo” que abrange todo
sistema de conceitos daquela língua e ele é também “a somatória de toda a experiência
acumulada de uma sociedade e do acervo de sua cultura”. Segundo a autora, os membros de
uma determinada sociedade são “sujeitos-agentes” responsáveis “no processo de perpetuação e
reelaboração contínua do Léxico de sua língua”. Nesse sentido, embora o léxico de uma língua
possa ser considerado o seu patrimônio, são os usuários (falantes) dessa língua que são
responsáveis pela criação ou conservação de um determinado vocabulário. Essa afirmação
considera que são os falantes de uma língua os responsáveis por atribuir conceitos e “conotações
particulares aos lexemas, nos usos do discurso”, atuando, assim, sobre “a estrutura do Léxico,
alterando as áreas de significação das palavras” (BIDERMAN, 2001, p. 179).
Segundo Vilela (1994, p. 10), o inventário léxico de uma determinada língua ou
comunidade linguística “pode ser visto como o dicionário ideal duma língua”. O autor
compreende o léxico como o conjunto total de palavras, ou dos saberes interiorizado pelos
24

falantes, sobre as características lexicais das palavras. Sobre os processos de formação de um


inventário léxico, Vilela (1994, p. 13) exemplifica como o léxico do português é “um corpo
formado por elementos de diferentes idades e origens”, e ainda como a formação da língua
portuguesa “é resultado de uma longa história” (VILELA, 1994, p. 14), sendo o léxico o nível
linguístico em que “se reflectem mais clara e imediatamente todas as mudanças ou inovações
políticas, económicas, sociais, culturais ou científicas” (VILELA, 1994, p. 14).
A partir das ideias acima, nota-se que os estudos sobre a variação do léxico nos trazem
diversas definições para o processo que apontam como as mudanças do acervo lexical de um
povo estão intrinsecamente relacionadas às transformações sociais que podem ser observadas
na realidade extralinguística. Segundo Biderman,

o léxico se expande, se altera e, às vezes, se contrai. As mudanças sociais e culturais


acarretam alterações nos usos vocabulares: daí resulta que unidades ou setores
completos do Léxico podem ser marginalizados, entrar em desuso e vir a desaparecer.
Inversamente, porém, podem ser ressuscitados termos que voltam à circulação,
geralmente com novas conotações. Enfim, novos vocábulos, ou novas significações
de vocábulos já existentes, surgem para enriquecer o Léxico (BIDERMAN, 2001, p.
179).

Para a autora, as pressões sociais ou os usuários do léxico podem imprimir em


determinados usos lexicais uma força de expansão, ou repressão, dando conotações particulares
às unidades léxicas, o que acabaria por provocar a criação de novos itens ou o desuso de outros,
e que desencadearia, portanto, uma mudança do uso feito do inventário léxico (processo
diretamente relacionado à noção dos significados sociais atribuídos às variantes dentro de uma
perspectiva da teoria da variação e mudança). Nesse sentido, destaca-se também a noção
atribuída ao léxico como um sistema aberto, em constante expansão, segundo Biderman.
Por um viés da perspectiva histórica do estudo da língua, Gabas Jr. (2001) destaca a
mudança linguística da seguinte forma:

toda língua falada no mundo está em constante processo de mudança. As mudanças


que ocorrem, no entanto, não são imediatamente sentidas pelos falantes, nem estes
falantes estão necessariamente conscientes de tais mudanças. Isso se deve, via de
regra, a três fatores: a) as mudanças são lentas e graduais; b) elas são parciais,
envolvendo apenas partes do sistema linguístico e não o seu todo; c) elas sofrem
influência de uma força oposta, a força de preservação da intercompreensão (GABAS
JÚNIOR, 2001, p. 81).

Também para o autor, as mudanças do vocabulário de uma língua são em geral mais
difíceis de serem sistematizadas em todos os seus tipos de ocorrências. Essa dificuldade pode
ser atribuída, como destaca Biderman (2001), à extensa e complexa rede de significações que
abrange a formação do léxico de uma determinada língua.
25

É possível notar, dessa forma, que as mudanças linguísticas de modo geral ocorrem
devido ao uso da própria língua pelos seus falantes em função de necessidades extralinguísticas.
Para Biderman (2001, p. 193), no nível do léxico, “a inventividade humana e a dos artistas, em
particular, estão criando significações novas e novos significantes”, e essa contínua
transformação é o que dificulta um estudo sistemático e completo da mudança lexical.
Por fim, embora a mudança do léxico de uma língua seja inevitável, como apontado
anteriormente sobre a sua constante expansão, não são raros os esforços a uma manutenção da
língua, uma força contrária à mudança. Segundo Cambraia (2015, p. 68), “na história da língua
portuguesa, é possível rastrear manifestações contrárias à adoção de certas formas lexicais
desde as primeiras gramáticas”. O autor aponta, no fragmento a seguir, como havia, já em
meados do século XVI, uma preocupação na separação de formas inovadoras dentro de um
inventário léxico:

Como lembra Mattos e Silva (2009), já na Gramática da Linguagem Portuguesa


(1536) de Fernão de Oliveira (1507-1581), o autor estabelece, nos caps. XXXVI e
XXXVII, distinção entre dicções velhas (“as que foram usadas, mas agora são
esquecidas”) e dicções novas (“aquelas que novamente ou de todo fingimos ou em
parte achamos”, ou seja, as palavras que são criadas sem se partir de nenhuma outra
ou as derivadas de outra). Embora nos capítulos em questão Oliveira não condene o
uso específico de nenhuma “dicção nova”, chama a atenção para o alerta de
Quintiliano (De Inst. Orat., I, 7, Das qualidades e vícios do discurso): “Fingir ou achar
vocábulos novo é perigo (...), em tanto que, se são bons, não vos louvam por isso, e
se não prestam, zombam de vós” (CAMBRAIA, 2015, p. 68)

Vale destacar também o que comenta Aitchison (1993) a respeito das mudanças na
língua e as forças que reprimem determinados processos. Segundo a autora, ainda que a
mudança linguística seja inevitável, há falantes que tendem a reprovar tais processos. Para ela
“ao examinarmos cuidadosamente essa rejeição, descobrimos que, em grande parte, ela ocorre
devido a preconceitos sociais que adotam essa forma para se manifestar” (AITCHISON, 1993,
p. 11)2. Aitchison destaca como a força conservadora contra mudanças linguísticas está
relacionada à ideia de uma norma, e que essa norma está diretamente a “favor das formas faladas
e escritas pelos grupos sociais de maior prestígio” (AITCHISON, 1993, p. 14)3. O purismo não
considera que alguns usos sejam mais “puros” que outros, nem tão pouco que se prefira sempre
usos mais antigos, essa noção apenas elege as formas de maior prestígio social.
As análises a respeito das repressões às mudanças na língua, sobretudo no léxico, têm
importante peso sobre o estudo desenvolvido, pois existem pressões normativas que tentam

2
Tradução nossa, do original: “si examinamos atentamente ese rechazo, descubrimos que, en buena parte, se debe
a prejuicios sociales que adoptan esa forma para manifestarse”.
3
Tradução nossa, do original: “a favor de las formas habladas y escritas de los grupos sociales más prestigiosos”.
26

controlar o uso da língua, bem como também há, como será comentado na seção 2.4, uma tensão
entre movimentos sociais e movimentos puristas com relação à implementação de medidas
prescritivas visando à elaboração de uma linguagem inclusiva, linguagem essa que reflete, mais
diretamente, mudanças no repertório lexical de uma língua. Nesse sentido, notam-se duas
“forças” prescritivas, uma inovadora e outra conservadora.

2.3 Prescrição e norma: processos normativos

Em contraste às ideias linguísticas colocadas pelas noções de variação e mudança das


línguas, encontra-se a noção de norma linguística, concepção essencial à elaboração desta
pesquisa. A noção de norma trabalhada segue as ideias abordadas por Coseriu (1962, 1980) e
posteriormente retomadas e comentadas por diversos autores, como Biderman (2001), Faraco
e Zilles (2017), Lagares (2018), entre outros.
A partir da noção de língua concebida por Ferdinand Saussure, com o estruturalismo, e
para quem o sistema linguístico deveria ser tomado como bipartite, isto é, a língua deveria ser
concebida e estudada pela dicotomia de langue (social) e parole (individual), Coseriu (1962, p.
45) propõe que a estrutura da língua, e consequentemente seu estudo, deveria considerar um
nível intermediário entre a langue e a parole, “um conceito de língua como sistema abstrato de
oposições funcionais implica o desenvolvimento do conceito de norma (abstração
intermediária)” (COSERIU, 1962, p. 62)4. Assim, o autor compreende uma estrutura da língua
que se divide entre três níveis: fala, norma e sistema.
A fala corresponde ao processo de realização concreta da língua, isto é, seu uso efetivo.
O sistema, para Coseriu (1962, p. 98), representa um conjunto de possibilidades, “de
coordenadas que indicam os caminhos abertos e os caminhos fechados: pode ser considerado
como um conjunto de imposições, mas também como o conjunto de liberdades”. Assim, o
sistema é o acervo de possibilidades que a língua oferece ao seu falante/usuário. Por outro lado,
a noção de norma “contém tudo o que, no falar corresponde a uma língua funcional, é fato
tradicional, comum e constante, ainda que não necessariamente funcional” (COSERIU, 1980,
p. 122). Desse modo, para o autor, a norma

é, com efeito, um sistema de realizações forçadas, de imposições sociais e culturais e


varia de acordo com a comunidade. Dentro da mesma comunidade linguística nacional
e dentro do mesmo sistema funcional, várias normas podem ser verificadas

4
Tradução nossa, do original: “el concepto de lengua como sistema abstracto de oposiciones funcionales implica
el desarrollo del concepto de norma (abstracción intermedia)”.
27

(linguagem familiar, linguagem popular, linguagem literária, linguagem alta,


linguagem vulgar, etc.), diferentes especialmente no que se refere ao vocabulário
(COSERIU, 1962, p. 98)5.

Biderman (2001, p. 19) apresenta uma clara interpretação da noção de norma dada por
Coseriu: a norma “engloba aquilo que na fala real (e na escrita) constitui repetição de modelos
anteriores. A norma é, pois, mero costume, a tradição continuada e reiterada no falar e no
escrever de uma determinada comunidade lingüística”.
Dessa forma, a norma, usada em sua concepção prescritiva de usos6, controlaria, por
meio de uma tradição, as diversas possibilidades oferecidas pelo sistema da língua. A norma é,
portanto, o nível médio entre o sistema e a fala.
A noção discutida sobre norma nos indica que a construção de uma língua não é,
portanto, apenas linguística, a língua é “um ente construído pelo imaginário social que, por um
complexo entrelaçamento de fatores históricos, políticos e socioculturais, idealiza um objeto
uno onde não há, efetivamente, unidade” (FARACO; ZILLES, 2017, p. 29).
O conceito de usos impostos pela norma como o que seria correto é, portanto, arbitrário
e representa apenas os usos e imaginários linguísticos de uma restrita parcela da sociedade, “é
apenas um efeito, no plano teórico, da ideologia da língua-padrão/norma-padrão” (FARACO;
ZILLES, 2017, p. 30).
A prescrição de uma norma se estabelece na delimitação de um uso padronizado,
definido a partir de apenas um recorte específico, em geral o mais frequente entre as pessoas
com maior poder e controle social. Vale apontar como Alvarez (2002) contribui para a reflexão
sobre a noção de norma linguística a partir de ideias da sociologia. Para o autor, as normas
sociais são “resultados de complexas relações de poder historicamente constituídas”
(ALVAREZ, 2002, p. 212).
Segundo Faraco e Zilles (2017), o caráter normativo das prescrições de uso da língua é
uma resposta à própria heterogeneidade da língua, uma tentativa de unificação por um modelo
de prestígio. Para o autor e a autora, a norma prescritiva “constrói justamente uma representação
hierarquizada da heterogeneidade linguística interna. Ela pressupõe que há diferenças

5
Tradução nossa, do original: “La norma es, en efecto, un sistema de realizaciones obligadas, de imposiciones
sociales y culturales, y varía según la comunidad. Dentro de la misma comunidad lingüística nacional y dentro del
mismo sistema funcional pueden comprobarse varias normas (lenguaje familiar, lenguaje popular, lengua literaria,
lenguaje elevado, lenguaje vulgar, etc.), distintas sobre todo por lo que concierne al vocabulario”.
6
A noção de norma pode, também, passar pela ideia de “normalidade”, isto é, usos que são comuns e correntes
dentro de determinadas realizações linguísticas de determinada comunidade. Autores e autoras como Neves (2003)
abordam esse conceito de norma linguística para se referir ao uso frequente e médio de uma determinada variedade
entre os/as falantes.
28

qualitativas entre as variantes” (FARACO; ZILLES, 2017, p. 44), todavia essa é uma rotulação
puramente social, sem fundamentos linguísticos.
Ainda a respeito da norma, seu valor social e seu caráter prescritivo, Castilho (2002, p.
30) delimita-a como as “regras de bom uso” baseadas nos usos e atitudes de uma classe social
de prestígio. Para o autor, o modo como a classe de prestígio utiliza a língua é descrito como
uma norma objetiva, representando o uso também intitulado de “culto”, contudo o próprio autor
destaca como a norma objetiva não apresenta em si nada de “melhor”, apenas lhe é atribuído
um valor social maior. Por outro lado, a norma prescritiva seria aquilo que é esperado como
uso, em que são ensinados os usos de uma classe de maior prestígio, com um “caráter unificador
da norma prescritiva”. Faz-se importante destacar o que comentam Faraco e Zilles (2017) a
respeito da estabilidade e ideia de unicidade da norma prescritiva:

É preciso ter claro que nem a norma culta, nem a norma-padrão [norma prescritiva]
são estáticas e invariáveis. Mesmo explicitamente codificadas em instrumentos
normativos (dicionários e gramáticas), elas variam e mudam como qualquer outra
manifestação linguística. É preciso, portanto, operar sempre como o conceito de
estabilidade flexível (FARACO; ZILLES, 2017, p. 157).

Como a norma prescritiva relaciona-se principalmente às noções de ensino e uso, faz-


se necessário apontar os principais meios utilizados para tal efetivação. Dentre os principais
instrumentos normativos existentes, destacam-se os dicionários, os vocabulários, as gramáticas
e os manuais de redação; segundo Auroux (1992, apud GARCIA et al., 2016), estes são
exemplos de instrumentos de sistematização do saber linguístico. Podemos apontar o
Vocabulário da Academia Brasileira de Letras, publicado pela primeira vez em 1943, e que
está em sua 5ª edição, publicada em 2009, bem como conta hoje com uma versão online 7. A
obra foi lançada como forma de padronização dos modelos ortográficos a serem adotados no
país. Destacam-se também as ideias de Zanatta (2014, p. 8), que, ao fazer uma análise do
trabalho de elaboração de dicionários, aborda como “os falantes sentem a necessidade de uma
orientação em relação ao uso de sua língua materna e [...] o dicionário desempenha essa função
de orientação” sobre o que é adequado ou “correto” no uso da língua.
Destaca-se a ausência, porém, de uma autoridade formal e clara na concepção de uma
norma prescritiva. Para Faraco e Zilles (2017),

muitas vezes são os autores de dicionários, gramáticas e manuais de estilo que se


arrogam o direito de ditar as normas (pela sua intuição ou gosto) e acabam por receber
o reconhecimento como “autoridades” pelos estratos sociais mais diretamente

7
Versão online do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP) disponível para consulta em:
http://www.academia.org.br/nossa-lingua/busca-no-vocabulario. Acesso em 12 dez 2018.
29

interessados e envolvidos nos processos padronizadores (FARACO; ZILLES, 2017,


p. 65-66).

Assim, muitas vezes, obras que prescrevem o uso “correto” da língua são elaboradas
desconsiderando as contribuições das próprias pesquisas linguísticas. Nesse sentido, Faraco e
Zilles (2017, p. 83) também comentam como “os linguistas não rejeitam a normatividade, mas
são críticos das regras normativas artificialmente postuladas”.
Tendo em vista o contexto de produção desta pesquisa, interessa-nos considerar o valor
prescritivo dos manuais de redação. Segundo Faraco (2002), os ditos manuais de redação são
comuns no Brasil, sobretudo aqueles publicados por grandes jornais, obras em que se pretende
uma uniformidade de escrita para uma efetiva comunicação entre diversos espaços
socioculturais. Nesse sentido, destaca-se a existência do MUNSL (TOLEDO et al., 2014), como
já apontado, um manual que visa à construção de uma linguagem menos sexista e mais
equitativa entre homens e mulheres no domínio dos órgãos da administração pública. Na
abordagem do próprio manual, podemos apontar:

Existem usos gramaticais que, com clara intenção social e política, generalizaram-se
e que não têm coerência nem justificativa razoável para seu uso. Assim, fizeram-nos
crer que ao nomear um grupo misto de pessoas no masculino estamos nomeando
também as mulheres desse grupo. Isso é absolutamente falso. [...] quando se fala em
masculino como se fosse neutro, na realidade se excluem as mulheres e se cria uma
ideia muito concreta de quem são os heróis, os pesquisadores e quem são os violentos.
Principalmente se falamos de temas que foram atribuídos aos homens e que são
valores supostamente masculinos (TOLEDO et al., 2014, p. 29).

Embora o MUNSL tenha força normativa sobre textos escritos, pois o manual prevê
usos para documentos que circulam no domínio da administração pública, a sua própria
existência, enquanto política pública do poder executivo a nível estadual, representa uma
mudança social que se materializa na forma dessa obra prescritiva de estilo. Além disso, ainda
que os dados estudados nesta pesquisa tenham caráter oral, as falas de deputados e deputadas
em plenário, estas podem sim refletir as forças prescritivas sobre o uso da língua. Para Faraco
e Zilles (2017),

Os esforços padronizadores alcançam tanto a língua falada quanto a língua escrita. No


entanto, o foco de atenção sempre caiu mais sobre a escrita [...]. Embora a
padronização da fala seja menos rígida (pela própria fluidez da língua falada), a
sociedade contemporânea, caracterizada pela extensa presença de meios de
comunicação social de grande alcance como o rádio e a televisão, amplifica a presença
social de certas variedades da língua falada, fazendo-as funcionar como elemento de
relativa uniformização linguística (FARACO; ZILLES, 2017, p. 72).

Ademais, ao se conceber os discursos parlamentares como falas prestigiadas e cuidadas,


isto é, falas menos espontâneas, conforme comentado na seção 2.1, entende-se que os dados
30

analisados nesta pesquisa representam, portanto, uma fala possivelmente influenciada pelas
prescrições de uso do manual mencionado, bem como falas que refletem uma preocupação
social com o uso da língua.
Por fim, apenas cabe destacar como a implementação de normas prescritivas para um
uso não sexista da língua tem gerado polêmicas entre movimentos sociais, linguistas e
gramáticos. Segundo Lagares (2018, p. 170), “as polêmicas normativas têm a ver com o difícil
equilíbrio entre a continuidade da tradição, que dá sentido, de certa maneira, à própria existência
da norma”. Esse ponto será comentado na seção seguinte.

2.4 Língua, gênero e poder

Uma distinção importante que deve ser feita para este estudo relaciona-se aos diferentes
conceitos sobre o que é gênero na atualidade. De um ponto de vista social, há pelo menos duas
definições que a palavra gênero tende a evocar. Para Bengoechea (2015, p. 10), “o gênero se
refere a comportamentos e valores relacionados a expectativas e atitudes adquiridas para
satisfazer uma imagem de masculinidade ou feminilidade”8. Nesse sentido, o gênero é tido
como uma imagem social construída no âmbito cultural de um contexto social. Apesar de
reconhecermos a importância das reflexões a respeito dos estudos sobre gênero (social), este
trabalho não versará profundamente sobre a temática, pois nosso objetivo central está
relacionado a compreender o uso da língua como forma de igualdade entre homens e mulheres.
Desse modo, outra possível definição a respeito do conceito de gênero está relacionada
a uma simetria entre gênero e sexo, isto é, o gênero muitas vezes é concebido como a distinção
entre homens e mulheres, partindo do sexo biológico dos seres humanos, apenas para separar
indivíduos do sexo masculino e indivíduos do sexo feminino. Nessa perspectiva, para
Bengoechea, o gênero (sexo) também apresenta motivações e reflexos sociais:

o gênero está preocupado em construir a diferença sexual como desigualdade social:


em função dos papéis e características atribuídos a cada sexo, o sistema de gênero
atribui às mulheres uma posição subordinada e aos homens uma de poder sobre os
principais recursos (BENGOECHEA, 2015, p. 10)9.

8
Tradução nossa, do original: “el género se refiere a comportamientos y valores aprendidos, a expectativas y
actitudes adquiridas para satisfacer una imagen de masculinidad o feminidad”.
9
Tradução nossa, do original: “el género se ocupa de construir la diferencia sexual como desigualdad social: en
razón de los roles y las características asignadas a cada sexo, el sistema de género atribuye a las mujeres una
posición subordinada y a los hombres una de poder sobre los principales recursos”.
31

Nesta pesquisa, ao fazermos referência a essa divisão, optamos pelo uso do nome sexo,
pois adotamos uma perspectiva teórica com maior proximidade à ideia de gênero enquanto
distinção social entre homens e mulheres.
Por outro lado, de uma perspectiva linguística, o termo gênero remete ao conceito de
gênero gramatical. O gênero gramatical está relacionado a aspectos morfossintáticos de
determinadas palavras de uma língua. Segundo Corbett (1991, p. 1-2 apud MÄDER, 2015), a
categoria do gênero gramatical não é universal, uma vez que há línguas que não apresentam
essa distinção, como as línguas fino-úgricas, ou línguas com dezenas de categorias distintas de
gênero, como as línguas banto. Já as línguas originadas do indo-europeu, caso do português,
apresentam dois ou três gêneros, que têm bases principalmente na distinção sexual, isto é, uma
separação entre masculino e feminino.
Segundo Mäder (2015, p. 41), “um aspecto crucial da definição de gênero gramatical é
a concordância de palavras sintaticamente relacionadas com os nomes — no caso do português:
artigos, numerais, demonstrativos, adjetivos, particípios e pronomes”. Desse modo, o gênero
de um nome determinará a concordância entre os termos da estrutura sintática a ele
relacionados. Mäder (2015, p. 59) discute como “alguns autores consideram que não existe
relação alguma entre gênero (gramatical) e gênero (sexo), nem linguisticamente nem
etimologicamente”. Contudo, por um viés da GT, Cegalla (1989, p. 115) destaca que “o gênero
é a propriedade que as palavras têm de indicar o sexo real ou fictício dos seres”. Assim, nota-
se uma correlação constituída linguística e tradicionalmente que associa o gênero gramatical
dos nomes com um mecanismo de identificação dos sexos, ainda que esse seja um ponto pouco
consensual nos estudos linguísticos.
A partir dos conceitos levantados sobre o gênero gramatical, cabe um recorte a respeito
de outro ponto: o masculino genérico/gênero não marcado. Em português há a marcação
morfológica de dois gêneros: masculino e feminino. Para Mäder (2015, p. 17), o gênero
masculino desempenha na língua a função de um gênero genérico, isto é “o uso do gênero
gramatical masculino para denotar o gênero humano (isto é, a espécie humana, incluindo
homens e/ou mulheres)”. Para o autor,

ainda que em português haja algumas palavras que, independentemente do seu gênero
gramatical, denotam o gênero humano (como os nomes pessoa, indivíduo, criança,
membro, vítima, testemunha, estrela, astro, e alguns pronomes como quem, alguém,
ninguém), a maioria das palavras em português exprime, através do gênero gramatical,
o gênero do ser humano que denotam (MÄDER, 2015, p. 84).
32

Segundo Lagares (2018, p. 226), os nomes para referência a seres vivos, sobretudo tudo
os seres humanos, mantêm correlação entre gênero gramatical e sexo, “embora o masculino
possa funcionar como extensivo e intensivo”, isto é, o masculino pode ser tomado como nome
“esvaziado de conteúdo semântico, só expressando uma distinção no plano da gramática”, em
um uso intensivo, que inclui masculino e feminino; ou ainda, a forma masculina extensiva é
aquela que não inclui o feminino e “expressa apenas a distinção em relação à oposição
semântica de sexo/gênero social”. Assim, o masculino seria a forma não marcada, por poder
ser usado em sentido intensivo ou extensivo, já o feminino é a forma marcada do gênero, não
podendo, necessariamente, expressar sentido intensivo.
Desse modo, ainda segundo Lagares (2018), boa parte das críticas ao uso de uma
linguagem inclusiva fundamenta-se nessa perspectiva de que o masculino genérico já é uma
forma de referência a homens e mulheres, um uso que torna a aplicação das marcas do gênero
feminino desnecessária para referência simultânea a homens e mulheres.
Contudo, os movimentos ativistas linguísticos, sobretudo aqueles relacionados ao uso
de uma linguagem inclusiva e equitativa entre homens e mulheres, não pautam suas
reivindicações apenas em perspectivas gramaticais ou linguísticas. Mäder, acerca do masculino
genérico como o reflexo de uma estrutura de poder, aponta que

o fenômeno denominado “masculino genérico” não se manifesta apenas na


linguagem, mas na cognição em geral; o status do masculino como gênero prototípico
está correlacionado com a sua frequência de uso; esse status de gênero prototípico é
consequência de um caráter androcêntrico da língua, que se manifesta também em
outros contextos; e as relações de poder entre homens e mulheres (e, portanto, entre a
fala masculina e a feminina), além do poder das instâncias reguladoras da língua,
fazem com que o masculino genérico se institua como o “padrão” de linguagem para
homens e mulheres (MÄDER, 2015, p. 146).

A partir de estudos da sociologia, Gnerre (1998, p. 6) destaca o poder da palavra, sendo


a língua capaz de mobilizar uma autoridade acumulada pelo falante. Para o autor, a partir das
ideias do sociólogo Pierre Bourdieu, “uma variedade linguística ‘vale’ o que ‘valem’ na
sociedade os seus falantes, isto é, vale como reflexo do poder e da autoridade que eles têm nas
relações econômicas e sociais”. Assim, como já comentado na seção 2.3, a língua reflete as
relações de poder e prestígio da sociedade, expressando-se pelo uso de normas, revelando-se,
assim, como um instrumento de poder.
Portanto, em uma sociedade em que mulheres são, de certo modo, subjugadas e
consideradas inferiores, movimentos ativistas que enxergam o uso do masculino genérico como
33

excludente e segregador pautam-se justamente no poder social que a língua representa10.


Bourdieu (1996, p. 108), ao tratar das representações étnicas, aponta a importância da
representação como modo de legitimação, como o “monopólio do poder de fazer ver e de fazer
crer, de fazer conhecer e de fazer reconhecer”. Nesse sentido, ao questionar o uso do masculino
genérico, o ativismo questiona e exclusão da representação feminina na língua, um tipo de
sexismo linguístico.
Nesse sentido, para Bodelón e Rubio (2012, p. 11-12), o sexismo, que se faz presente
também na língua, é “a crença de superioridade do sexo masculino, o que determina uma série
de privilégios para esse sexo que é considerado superior, em detrimento da posição das
mulheres”11. Assim, a língua mostra-se “um dos instrumentos mais influentes de discriminação
da mulher, pois pode colaborar com sua exclusão e submissão”12.

2.4.1 Política linguística: ideologias e ativismo linguístico

Prática aparentemente contrária aos principais pressupostos da teoria da variação e


mudança linguística, comentada na seção 2.1, a política linguística apresenta ampla definição e
diferentes formas de aplicação. Segundo Lagares (2018, p. 20), “política linguística é entendida
como uma forma de resolver ‘problemas linguísticos’ em novas sociedades multilíngues”, bem
como, “o planejamento linguístico é entendido como uma forma de influir no futuro das línguas,
sem que se pretenda, em qualquer caso, predizê-lo por completo”.
Nesse sentido, a política linguística nada mais é que uma atitude consciente de agir sobre
uma determinada língua, ou comunidade linguística, como forma de controle, visando, em
geral, a objetivos políticos. As políticas linguísticas mantêm relações diretas com os conceitos
de normas prescritivas comentados anteriormente.
No Brasil, a existência de políticas linguísticas não configura fato recente. Cabe
mencionar, por exemplo, o caso da proibição de uso de línguas estrangeiras, sobretudo o
alemão, no sul do país nas décadas de 1930 e 1940, durante o regime do Estado Novo, por
Getúlio Vargas. Campos (2006) aponta como esse movimento teve intervenções em diversos

10
Vale comentar o que aponta Bourdieu (2003, p. 74) a respeito da dominação masculina sobre a mulher: “Quando
elas [as mulheres] participam de um debate público, elas têm que lutar, permanentemente, para ter acesso à palavra
e para manter a atenção, e a diminuição que elas sofrem é ainda mais implacável por não se inspirar em má vontade
explícita e se exercer com a inocência total da inconsciência”. Nesse trecho, o autor destaca como a exclusão da
mulher ocorre, na maioria dos casos, de modo natural e inconsciente.
11
Tradução nossa, do original: “la creencia en la superioridad del sexo masculino, lo que determina una serie de
privilegios para ese sexo que es considerado superior, en detrimento de la posición de las mujeres”.
12
Tradução nossa, do original: “uno de los instrumentos más importantes de discriminación de la mujer, porque
puede colaborar en su exclusión y sumisión”.
34

âmbitos sociais, como família, escola, espaços de trabalho e lazer, visando a um projeto
nacionalista, indo além do puro aspecto linguístico: “a prática interventiva do Estado junto à
sociedade foi tomada como parte do movimento dirigido para modificar comportamentos e
sentimentos dos indivíduos na vida cotidiana” (CAMPOS, 2006, p. 19).
No país, pelo menos três dispositivos legais (não os únicos) tratam sobre políticas
linguísticas com relação ao uso de nomes: a Lei 2.749/1956, que legisla a respeito da flexão de
gênero em nomes de funções e cargos públicos; a Lei 12.605/2012, sobre o uso e flexão de
nomes de profissões e graus, em certificados e diplomas, expedidos por instituições de ensino
públicas e privadas. Além disso, em tramitação no Congresso Nacional, o Projeto de Lei
Complementar n° 188/2015 da Câmara dos Deputados, que dispõe sobre a aplicação de
linguagem inclusiva no uso do nome homem(s), e altera a redação do artigo 11 da Lei
Complementar n° 95/1998, modificando o caput e acrescentando ao texto o inciso IV:

Art. 11. As disposições normativas serão redigidas com clareza, precisão e ordem
lógica, obedecendo, no que couber, aos preceitos da linguagem inclusiva, observadas,
para esse propósito, as seguintes normas: [...] IV – em obediência aos preceitos da
linguagem inclusiva, nos casos em que o termo ‘homem(ns)’ estiver se referindo a
pessoas de ambos os sexos, deverá ser empregada a forma inclusiva ‘homem(ns) e
mulher(es)’ (BRASIL, 2015).

Para Mäder e Severo (2016, p. 246), políticas de intervenção linguística têm sido cada
vez mais comuns com relação à “criação (ou recuperação, ressignificação) de nomes femininos
de profissões, graus, funções e títulos que outrora eram exclusivamente masculinos”.
Assim, nota-se que a questão de uso de uma língua inclusiva para homens e mulheres
não é assunto recente. Bodelón e Rubio (2012), em retomada sobre o histórico de políticas de
erradicação de uma linguagem sexista, apontam diversos instrumentos prescritivos a respeito
da questão, dentre eles podemos mencionar algumas publicações e instruções conforme quadro
1:
35

Quadro 1 – Instrumentos prescritivos para erradicação de uma linguagem sexista

Ano Instrumento prescritivo


1979 Convenção para a eliminação de todas as formas de discriminação contra mulher
1987 Resolução da Comunidade Internacional pela UNESCO
1989 Resolução 109 da UNESCO
1990 Resolução do Comitê de Ministros do Conselho Europeu
1991 Recomendações para um uso não sexista da linguagem, da UNESCO
2001 Comissão de Direitos da Mulher e Igualdade de Oportunidades da União Europeia
Informe sobre a Linguagem não sexista do Grupo de Alto Nível sobre Igualdade de
2008
Gênero e Diversidade
Fonte: Adaptado de Bodelón e Rubio (2012, p. 21-24).

Outros tipos de obras, como os manuais de uso/estilo da língua, também têm sido cada
vez mais comuns para prescrição de usos que evitem estruturas que excluem as mulheres, como
o uso do masculino genérico. Como exemplo, podemos citar dois manuais, para o espanhol,
que preveem essas estratégias: o Guia para um uso igualitário da linguagem jornalística
(AYALA; GUERRERO; MEDINA, 2006), publicado em 2006 na cidade de Málaga/Espanha,
e o guia Linguagem administrativa não sexista (MENÉNDEZ; CUERVO; GONZÁLEZ, 2006),
publicado também 2006, em Sevilla/Espanha pelo Instituto Andaluz de la Mujer. As duas obras
mencionadas pautam suas elaborações em instruções legais (algumas mencionadas acima).
No contexto brasileiro, não são numerosas as políticas linguísticas voltadas para o
combate a um sexismo linguístico. Além dos três dispositivos legais brasileiros mencionados
anteriormente, há o manual de redação Manual para o uso não sexista da linguagem: o que
bem se diz bem se entende — MUNSL — (TOLEDO et al., 2014), já mencionado. A obra,
elaborada pelo governo do estado do Rio Grande do Sul — fundamentada legalmente nos
decretos nº 49.994 e nº 49.995 de 27 de dezembro de 2012 e na Lei nº 14.484 de 30 de janeiro
de 2014, publicada pela então Secretaria de Políticas para as Mulheres do Rio Grande do Sul
(SPM-RS)13 — prevê usos linguísticos a serem aplicados em documentos dentro dos órgãos da
administração pública estadual, visando a um uso da língua que evite a exclusão linguística e
discursiva da mulher. A obra se insere em um contexto de avanços sociais e políticas públicas

13
A Secretaria de Políticas para as Mulheres do Rio Grande do Sul (SPM-RS), oficializada por meio da Lei nº.
13.601. (Diário Oficial - 1º de janeiro de 2011 - Art. 40, Seção XI, pág. 7) com objetivo de promover os direitos
da mulher foi encerrada em 01 de janeiro de 2015. O Projeto de Lei nº 282/2014, em seu art. 51, inciso IX, extinguiu
a referida secretaria, sendo toda sua estrutura, o que inclui acervos e documentos, incorporada pela então Secretaria
de Justiça e Direitos Humanos. Em 01 de janeiro de 2017, a Secretaria de Justiça e Direitos Humanos passou, de
acordo com o Projeto de Lei nº 247/2016, a ser denominada Secretaria de Desenvolvimento Social, Trabalho,
Justiça e Direitos Humanos. Informações e contato: http://www.sdstjdh.rs.gov.br/.
36

de inclusão da mulher, além de estar relacionada a um movimento crescente de ativismo


linguístico, que visa ao reconhecimento da mulher nas diversas esferas sociais, especialmente
no âmbito público.
De modo geral, todas as obras aqui mencionadas e outras que dissertam sobre o uso da
língua inclusiva apresentam sugestões similares e têm um objetivo em comum: evitar a
aplicação de nomes masculinos como genéricos. Entre as estratégias sugeridas pelos manuais,
está o uso de formas masculinas e femininas dos nomes quanto isso puder ser feito, a aplicação
de nomes gerais, apresentados no MUNSL (TOLEDO et al., 2014) como genéricos reais, o uso
de nomes coletivos, etc. O quadro 2 a seguir indica uma relação de sugestões encontradas no
manual:

Quadro 2 – Usos excludentes e não excludentes

Uso Excludente Uso Sugerido


Quando o homem não tem saúde tudo é mais Quando alguém não tem saúde tudo é mais
difícil difícil
Você deve defender os seus Você deve defender sua gente

Sempre trabalhou cuidando dos outros Sempre trabalhou cuidando de outras pessoas

Muitos têm dúvida se votarão ou não Muitas pessoas têm dúvida se votarão ou não
Os indígenas terão crédito A população indígena terá crédito

Os interessados em participar As pessoas interessadas em participar

Os maiores de idade receberão uma As pessoas maiores receberão uma


Fonte: Adaptado de Toledo et al. (2014, p. 48-59).

Mäder e Severo (2016) destacam que, além das prescrições e sugestões mais comuns,
como as apontadas no quadro 2, há usos linguisticamente menos comuns entre as sugestões que
circulam socialmente, sobretudo nos meios escritos:

Há, ainda, a possibilidade de invenção de outras formas genéricas que sejam isentas
dos valores de masculino (ou feminino) universal, conforme se atesta em casos como
alun@s ou alunxs. Assim, as formas @ e x – usadas em gêneros escritos informais –
apontariam para a inscrição de significados genéricos de gênero que fossem isentos
da cisão masculino-feminino. Teríamos, aqui, um caso interessante de variação
linguística iniciada e propagada apenas em gêneros informais escritos – ao invés de
gêneros orais –, pois ela depende do uso de um símbolo que não tem correspondência
fonêmica (MÄDER; SEVERO, 2016, p. 257).

Lagares (2018, p. 227) aponta que “em círculos de militância feminista são propostas
intervenções mais profundas, como a criação de um morfe neutro -e, para expressar a
37

indistinção de gênero: ‘menines’, mas essa é uma prática menos difundida”. Para o autor,
quando empregamos quaisquer estratégias para um uso não sexista da língua, “estamos
realizando uma prática linguística com a qual explicitamos nossa vontade de marcar a presença
da mulher”. Tais usos são, portanto, “práticas sociais, por meio das quais nos posicionamos
ideologicamente”.
O ativismo linguístico, todavia, enfrenta diversas oposições. Lagares (2018) destaca
como a linguagem é um verdadeiro campo de batalha de posicionamentos e ideologias. Para o
autor, movimentos sociais que questionam usos linguísticos, como a aplicação da língua
inclusiva, são vistos como uma “intervenção ‘não autorizada’ sobre os usos do idioma. O que
também diz muito sobre a cultura linguística hegemônica e sobre o modo como se distribui
socialmente a autoridade sobre a língua” (LAGARES, 2018, p. 220). Essa noção de força
contrária ao ativismo linguístico relaciona-se diretamente às forças de repressão da mudança
nas línguas comentadas na seção 2.2 com relação à mudança lexical.
Retomando as perspectivas da norma-padrão, comentadas na seção 2.3 deste capítulo,
Lagares (2018, p. 216) destaca como há um purismo linguístico que pode ser considerado
“como uma deriva especialmente conservadora dessa ideologia da língua padrão, que
pretenderia preservar a língua de seus próprios falantes e de seus usos”.
Com relação à adoção de uma língua inclusiva que combata o sexismo linguístico, é
comum que os movimentos puristas condenem as propostas e questionem “a efetividade social
da intervenção sobre a linguagem” (LAGARES, 2018, p. 223). Nesse sentido, Cameron (1990
apud LAGARES, 2018) destaca que

é preciso apontar que uma mudança na prática linguística não é apenas um reflexo de
alguma mudança social mais fundamental: ela é, em si mesma, uma mudança social.
Os antifeministas gostam de enfatizar que a eliminação dos pronomes genéricos
masculinos não assegura a salário igual. De fato, não assegura — mas quem disse que
asseguraria? A eliminação dos pronomes genéricos masculinos elimina precisamente
os pronomes genéricos masculinos. E, fazendo isso, ela muda o repertório de
significados e escolhas sociais à disposição dos atores sociais (CAMERON, 1990, p.
90 apud LAGARES, 2018, p. 223).

Nesse sentido, ao se questionar o uso de formas como a aplicação do masculino


genérico, o que está em jogo é a representatividade linguística e discursiva de determinados
grupos, no caso desta pesquisa, das mulheres. Assim, como destacado por Lagares (2018, p.
227-228), a oposição ao uso de estratégias não sexistas da língua mostra-se como um purismo
que compreende a língua como “uma realidade acabada, que merece ser respeitada nos moldes
que se imagina que ela tenha, já fixados pela tradição”.
38

Como exemplificação das tensões contemporâneas entre movimentos de ativismo


linguístico e movimentos conservadores, podemos citar a polêmica envolvendo a elaboração de
um livro didático de História e Geografia publicado na França em 2017 (VICENTE, 2017). O
livro em questão foi escrito adotando-se uma linguagem inclusiva ao evitar formas linguísticas
sexistas, seguindo instruções de um guia prático de uso não sexista publicado pelo governo
francês em 2015. A Academia Francesa chegou a publicar um comunicado a respeito da
questão, declarando-se contrária aos usos de uma linguagem igualitária: “Diante desta
aberração inclusiva, a língua francesa se encontra, a partir de agora, em perigo mortal. Nossa
nação é responsável perante as gerações futuras” (VICENTE, 2017).
Por uma perspectiva mais próxima da descrição da variação nas línguas, Bosque (2015),
em informe a respeito dos manuais e normas que prescrevem o uso de uma linguagem não
sexista para o espanhol, comenta como tais prescrições e sugestões elaboradas tendem a não
considerar o caráter vivo e autônomo das mudanças linguísticas: “ninguém nega que a
linguagem reflete, especialmente no seu léxico, distinções de natureza social, mas é muito
questionável que a evolução de sua estrutura morfológica e sintática dependa da decisão
consciente dos falantes ou que possa ser controlada com normas de política linguística”
(BOSQUE, 2015, p. 15)14. Assim, para o autor, a elaboração de leis e instrumentos prescritivos
não consegue refletir de modo efetivo em mudanças, sejam linguísticas, sejam sociais.
Mais recentemente, em novembro de 2018, a Real Academia Española declarou, por
meio do primeiro capítulo do seu Libro de estilo de la lengua española, como sendo
desnecessário o uso do morfema -e em substituição ao morfema -o em nomes como forma de
incluir homens e mulheres. O posicionamento da entidade refere-se também a outras
modificações já comentadas anteriormente: “‘Todos e todas’, ‘todes’, ‘todxs’ o ‘tod@s’ são
construções que a Real Academia rechaça. A instituição considera que o gênero masculino das
palavras, ‘por ser o gênero não marcado, inclui o feminino em determinados contextos’”
(Polémica idiomática: No al “todes”: la Real Academia Española le puso un freno al lenguaje
inclusivo, 2018)15.
Destaca-se que há pelo menos duas posições em conflito sobre a questão de uma língua
inclusiva: uma, voltada para o que estamos reconhecendo como um ativismo linguístico, que

14
Tradução nossa, do original: “Nadie niega que la lengua refleje, especialmente en su léxico, distinciones de
naturaleza social, pero es muy discutible que la evolución de su estructura morfológica y sintáctica dependa de la
decisión consciente de los hablantes o que se pueda controlar con normas de política lingüística”.
15
Tradução nossa, do original: “‘Todos y todas’, ‘todes’, ‘todxs’ o ‘tod@s’ son construcciones que la Real
Academia rechaza. Es que la institución considera que el género masculino de las palabras, ‘por ser el no marcado,
puede abarcar el femenino en ciertos contextos’”.
39

almeja a mudanças no tratamento das mulheres na língua; e outra que parte de uma postura
prescritivista conservadora, que anseia pela manutenção de uma norma-padrão, embora também
seja acolhida por pesquisadores descritivistas, como Ignacio Bosque, mencionado
anteriormente. Assim, a questão necessita de investigações linguísticas a respeito de sua
efetividade, proposta que é realizada nesta pesquisa.
A seguir serão retomados os conceitos teóricos a respeito dos nomes gerais. Esses itens
são entendidos neste trabalho como uma das possíveis formas de se evitar o uso masculino
genérico e, assim, construir uma linguagem não sexista.

2.5 Os nomes gerais

Os nomes gerais para referência a seres humanos (NG [+hum]) figuram como uma das
estratégias de construção de uma linguagem não sexista prevista pelas instruções normativas
do próprio MUNSL. A obra aponta tais termos como "genéricos reais" e como formas de se
evitar o uso do masculino genérico, exemplo os homens, que, segundo a tradição gramatical,
pode incluir homens e mulheres. Entre os NG [+hum] sugeridos no manual, encontram-se
nomes como pessoa, gente, pessoal, povo, etc.
Halliday e Hasan (1995 [1976]) são apontados como os precursores dos estudos dos
general nouns como estratégias da construção da coesão em um texto. Os itens abordados pelos
autores como nomes gerais são:

Quadro 3 – Lista de nomes gerais do inglês e seus traços semânticos

Traço semântico Exemplo


people, person, man, woman,
humano
child, boy, girl
não-humano animado creature
inanimado concreto contável thing, object
inanimado concreto incontável stuff
inanimado abstrato business, affair, matter
ação move
lugar place
fato question, idea
Fonte: Adaptado de Halliday e Hasan (1995 [1976], p. 274).
40

Os nomes gerais estariam, segundo os autores, em um processo de transição entre o


léxico da língua e os itens de caráter mais gramatical, apresentando traços mínimos de
significação. Para Mihatsch (2006 apud AMARAL; RAMOS, 2014, p. 22), os nomes gerais
possuem um nível de generalização muito elevado, desse modo a relação que eles podem
estabelecer com outros itens é mais ampla, contribuindo para a função coesiva destacada por
Halliday e Hasan. Além disso, essa propriedade restringe a descrição de um nome geral ao seu
contexto de uso, como destacado por Mahlberg (2005), pois esses nomes tendem a manter
relação direta com outros elementos do cotexto.
Koch e Oesterreicher (2007, p. 151) descrevem que os nomes gerais são unidades
lexicais que apresentam traços semânticos muito gerais. Assim, são palavras dotadas de uma
intensão mínima (pouca definição de seu conteúdo), mas de uma extensão máxima (alta
capacidade de denotação de diferentes referentes).
Desse modo, segundo Amaral e Ramos (2014, p. 20), “os nomes gerais são substantivos
frequentes, bem genéricos e em geral contáveis, que se afastam da hiperonímia, por se
encontrarem em um nível de generalização extremamente alto”, assim podem manter relações
com um número maior de outros itens dentro de um texto. Essa análise explica suas funções
coesivas e sua frequência elevada.
Segundo Marcuschi e Koch (2006, p. 393), o uso dos nomes gerais é comum em
processos de retomada por rotulação de ideias: “Na língua falada, é muito comum a rotulação
por meio de nomes gerais, como fato, problema, caso, circunstância etc. [...]”. Justamente por
possuírem significados amplos, os nomes gerais seriam itens de acesso mais fácil no momento
da fala segundo Koch (2004), mesmo entre falantes de classes sociais mais prestigiadas e
considerados falantes cultos. Esse uso teria relação com o fato de que, “na fala, em que
planejamento e verbalização são quase simultâneos, a busca de um termo mais específico teria
maior custo processual, de modo que se torna mais fácil recorrer a um termo imediatamente
acessível” (KOCH, 2004, p. 250).
Embora, como apontado, muito produtivos na fala e nos processos de retomada e
construção textual, os nomes gerais são utilizados também nos textos escritos, sobretudo
aqueles de caráter jurídico. Segundo Amaral e Mihatsch (2016), o nome pessoa, do português,
personne, do francês, e Person, do alemão, são itens que figuram desde textos romanos dos
séculos XII e XIII, pelo termo latino persona, que tem origem no teatro, mas que, possivelmente
por uma perda da tradição teatral influenciada pelo cristianismo, passa a ser menos produtivo e
tem uso continuado no meio jurídico.
41

Com relação às propriedades sintáticas dos nomes gerais, Amaral e Ramos (2014)
apontam como esses nomes podem ser precedidos por determinantes, apresentando, neste caso,
função dêitica ou anafórica. Para o autor e a autora, a possibilidade de troca do nome geral por
um pronome é um indicativo dessa função:

6a - “Parece ter causado muito pouca impressão no homem”

6b - “Parece ter causado muito pouca impressão nele”16

Outras funções desempenhadas pelos nomes gerais são destacadas por Amaral e Ramos
(2014), dentre elas a de indeterminação. Esses nomes podem ser utilizados como estratégia para
indeterminar os referentes sobre os quais se fala, o que pode ocorrer quando não é possível
identificar tais referentes, em um caso de esquecimento, ou mesmo quando não se deseja
realizar a identificação direta de um referente, muitas vezes incômodo. Esse apontamento já era
realizado por Kleiber (1987), em que o autor destaca que os nomes gerais são usados para
referência a entidades cujos nomes não sabemos, não queremos ou não podemos nomear.
Sobre os nomes gerais [+hum], Mihatsch (2015) indica que eles apresentam origem em
contextos extremamente específicos, como em textos jurídicos, textos do domínio da teologia,
da filosofia ou contextos didáticos, em que a diferenciação entre os sexos dos referentes não é
necessária ou até mesmo não recomendada:

Esses nomes nascem para descrever os seres humanos de maneira geral em áreas
muito específicas, especialmente nos textos jurídicos, teológicos e didáticos, e no
domínio filosófico, portanto em contextos específicos em que a diferença entre os
sexos não é relevante, ou em que se abstrai conscientemente os sexos. (MIHATSCH,
2015, p. 62)17.

Mihatsch (2015, p. 63) também aponta nomes que, em um domínio coletivo e com
origem em textos acadêmicos, designam toda uma espécie ou a totalidade de alguns indivíduos,
por exemplo, do francês humanité e do alemão Menschheit (português: humanidade). A autora
aponta, por outro lado, nomes como peuple e Volk, do francês e do alemão respectivamente, de
origem mais popular e que se assemelham ao nome povo do português. Esses últimos nomes
apresentam, segundo a autora, restrições políticas, ideia que será melhor comentada mais à
frente.

16
Exemplos (6a) e (6b) referem-se aos exemplos (9b) e (10b) em Amaral e Ramos (2014, p. 23).
17
Tradução nossa, do original: “Ces noms naissent pour décrire des êtres humains en général dans des domaines
savants bien spécifiques, notamment dans les textes juridiques, théologiques et didactiques, et dans le domaine
philosophique, donc dans des contextes précis dans lesquels la différence entre les sexes n’est pas pertinente ou
dans lesquels on fait consciemment abstraction des sexes”.
42

Nesse sentido, a aplicação de nomes gerais [+hum] como forma de se referir


simultaneamente a homens e mulheres mostra-se como uma prática já comum em alguns
domínios discursivos. Assim, a aplicação desses nomes é entendida como estratégia linguística
inclusiva e produtiva na construção de um uso da língua que evite construções masculinas
genéricas, como entendidas pela tradição gramatical.
Ainda, em estudo sobre os nomes gerais em três localidades mineiras, as cidades de
Campanha, Minas Novas e Paracatu, Amaral (2013a) aponta uma relação de nomes que foram
classificados em seu estudo:

Dessa forma, tem-se um primeiro subgrupo formado pelos substantivos que possuem,
essencialmente, o traço [-humano]: coisa, lugar, negócio, trem, troço; e um segundo
subgrupo cujos membros possuem, necessariamente, o traço [+humano]: gente,
indivíduo, pessoa, pessoal, povo. Entre os primeiros, diferencia-se ainda o item lugar,
que pode ser caracterizado como [-humano] e essencialmente [+lugar]. Entre os
segundos, é possível caracterizar gente, pessoal e povo como [+humano] e
[+coletivo], enquanto indivíduo e pessoa seriam [+humano] e [-coletivo] (AMARAL,
2013a, p. 144-145).

Assim, com base na relação de nomes com traço [+humanos] apontada por Amaral
(2013a), bem como nos demais estudos mencionados, foram analisados oito nomes gerais
[+hum] neste trabalho. Seis deles compuseram a análise quantitativa, sendo eles gente,
humanos, pessoa(s), pessoal, povo, ser(res) humano(s), e dois deles compuseram apenas as
descrições qualitativas, indivíduo e sujeito. A seleção desses nomes obedeceu, além das
retomadas teóricas, critérios quantitativos descritos no capítulo 3 deste trabalho. A seguir serão
feitos apontamentos teóricos a respeito de cada um dos NG [+hum] estudados.

2.5.1 gente

Amaral (2013a) aponta, em seu estudo, o nome gente como sendo o segundo nome geral
[+hum] mais frequente, comportamento não observado nesta pesquisa, em que, em valores
quantitativos absolutos, o nome gente figura como quarto nome mais usado entre os NG
[+hum], como será apresentado no capítulo 4. Essa diferença na frequência do nome entre os
trabalhos pode ter relação com o tipo de dado analisado, pois item gente está mais relacionados
a contextos de fala espontânea e informal. Além disso, o autor indica como o nome tende a ser
usado acompanhado de quantificadores, como em muita gente, bastante gente, contudo essa
construção não é a única observada.
43

Cappeau e Schnedecker (2014), ao estudarem o comportamento dos nomes gens,


personne(s) e individu(s)18, no francês, apontam como o nome gens ocorre somente em sua
forma plural. Essa característica é, todavia, oposta ao seu nome correlato em português, gente,
que apenas admite usos na forma singular no atual estágio de uso do item segundo Lopes (2014).
Amaral e Mihatsch (2016), ao estudarem o nome pessoa em português, francês e
alemão, comentam como o nome gente em português se pronominalizou, na estrutura a gente,
como forma de 1ª pessoa do plural. Nesse sentido, pode-se apontar que há uma maior
preferência de uso do nome a(s) pessoa(s) em contextos antes ocupados por a gente. Lopes
(2004) traça um panorama a respeito desse processo de gramaticalização do nome gente > a
gente.

2.5.2 humanos

Segundo aponta Amaral (2017), o nome humano(s) tende a ser definido em obras
lexicográficas apenas em seu uso como um adjetivo, porém, em meados do século XIX, são
encontrados os primeiros verbetes, em dicionários de língua portuguesa, com acepções desse
item como um substantivo; diferentemente das obras para o espanhol, as quais apenas marcam
tal definição já na última década do século XX. O autor também aponta como as obras
lexicográficas mais recentes, no século XXI, contêm acepções que relacionam mais o nome
humano(s) com ser(res) humano(s), evitando sua relação com o nome homem, pelo caráter
polissêmico que tal item apresenta.
Ainda, Amaral (2017), a partir de dados de uso desse item, aponta como seu uso tem
sido relativamente estável, em português, pelo menos desde o século XVII, sem significativos
crescimentos de frequência. Além disso, o item tem sido usado preferencialmente em textos
formais, científicos, com taxa de uso bem menor na língua oral, O nome humano, em espanhol,
tende a ser mais bem aceito entre falantes dessa língua, enquanto, para falantes do português, o
nome apresenta sensível menor aceitabilidade.

2.5.3 pessoa(s)

Sobre o nome pessoa, além dos apontamentos realizados anteriormente a respeito desse
nome no meio jurídico, destaca-se o que Amaral e Ramos (2014), a partir de Amaral F. (2008),

18
Em português, respectivamente, gente, pessoa(s) e indivíduo(s).
44

apontam: o nome pessoa tem sua origem, no âmbito jurídico, como referência apenas a seres
humanos dotados de personalidade, titulares de deveres e de direitos. Embora essa afirmação
nos pareça estranha atualmente, essa distinção considera a existência de indivíduos não
considerados pessoas, como os escravos, ou os condenados.
Segundo Amaral (2013a), outra característica importante observada no nome pessoa
tem relação com sua capacidade para substituir vários outros substantivos que detenham o traço
[+humano], “pode-se assim caracterizar esse item também como protótipo para aqueles nomes
que são usados para se referir a entidades humanas” (AMARAL, 2013a, p. 147-148).
Amaral (2013b) também aponta a produtividade e importância do nome geral pessoa no
âmbito jurídico e do direito, sobretudo relacionado à concepção de conceitos como pessoa
jurídica e pessoa física, pela necessidade de abstração do conceito com relação a seus
referentes, propriedade observada nos nomes gerais; contudo o autor destaca que, “embora
sejam termos constituídos por um nome geral, [pessoa jurídica e pessoa física] adquirem na
linguagem jurídica um sentido específico” (AMARAL, 2013b, p. 174).
Em Amaral (2017), o estudo contrastivo entre o português e o espanhol indica que o
nome pessoa se mostra mais frequente que os demais nomes de referência a seres humanos,
ocupando-se, em português, como frequente estratégia de indeterminação do sujeito, além de
preencher também o que seria o uso típicos da construção a gente, que, por estar gramaticalizada
como pronome, ganhou outros significados na língua. Ainda, o estudo do autor indica como o
nome pessoa, em português, tem frequência mais expressiva em dados de língua oral quando
comparado aos usos em textos escritos e formais.

2.5.4 pessoal

Para Amaral (2013a), o nome pessoal apresenta o traço [+humano] e [+coletivo], isto é,
esse nome faz diretamente referência a grupos de seres humanos. O autor, por outro lado, indica
que esse item apresenta também comportamento de poder se referir a grupos menores e mais
específicos ou também a grupos maiores, que incluem uma quantidade de seres humanos mais
ampla, porém o próprio autor indica como essas análises carecem de melhores refinamentos em
outros dados.
O dicionário de língua portuguesa Caldas Aulete (AULETE, online) traz como definição
do nome pessoal, além de sua acepção como adjetivo (‘que se refere ou diz respeito a pessoa;
ref., inerente ou peculiar à própria pessoa’), a definição do nome como ‘conjunto de pessoas
com afinidades ou interesses comuns; conjunto de pessoas encarregadas do mesmo trabalho’,
45

sendo esse um uso mais formal, ou ainda a definição de pessoal como ‘turma, amigos, a família’
em um uso mais informal. Conforme será comentado no capítulo 4, o nome apresentou, nos
dados desta pesquisa, comportamento semelhante às definições comentadas.

2.5.5 povo

Mihatsch (2015), ao comentar a origem dos nomes peuple, francês, e Volk, alemão,
relaciona esses nomes, como de origem mais popular, porém apresentando uma restrição de
política, e os relaciona ao nome povo, do português brasileiro. Para a autora, esses nomes
apresentaram sentidos específicos que se perderam, embora esses usos possam ter deixado
vestígios em expressões fixas. Amaral (2013a) indica que o nome povo, assim como o item
pessoal, tem caráter coletivo, podendo fazer referência a conjuntos de seres humanos mais ou
menos extensos.
Pereira (2014), em texto sobre o nome povo, analisa-o não por uma perspectiva
linguística, mas a respeito de seu comportamento enquanto conceito político. A autora aponta
como o nome povo, também sua forma plural povos, já constam em documentos desde o período
do Brasil Colônia:

Nessa concepção, a palavra povo e sua variação no plural, povos, apareciam em


documentos de todo o período colonial como o conjunto da população habitante de
uma região ou colônia, o que era entendido como o conjunto dos vassalos ou súditos
ou o conjunto das ordens e corpos que mantinham com o rei um dever de obediência
e lealdade (PEREIRA, 2014, p. 173).

Ainda, para a autora, apesar desta definição comum, muitos textos e documentos do
século XVIII, ao se referirem ao povo, estavam na verdade, referindo-se apenas às figuras dos
“cidadãos”, isto é, das pessoas dotadas de direitos dentro da hierarquia social da época. Assim,
“uma vez que a massa da população era índia, negra, mestiça ou despossuída e dependente, e
por estes motivos, alijada dos mecanismos formais de representação, era vista como elemento
integrante, mas de posição inferior” (PEREIRA, 2014, p. 174). A autora ainda indica como, em
meados dos anos de 1820, o conceito de povo passou a ser um “conceito de um povo
especificamente brasileiro. A partir de 1822, o povo passou a ser uma identidade coletiva
política, cultural ou social” (PEREIRA, 2014, p. 180).
Contemporaneamente os usos do nome povo ainda tendem a apresentar essa
característica de um conjunto de pessoas que possuem, ou fazem parte, de uma cultura. Embora
haja também usos desse item para fazer apenas uma referência genérica a um conjunto de seres
46

humanos, suas aplicações quase sempre fazem referência a um conjunto específico de pessoas
com alguma característica em comum, ainda que essa delimitação ocorra não no sintagma
nominal, mas em todo cotexto.

2.5.6 ser(res) humano(s)

Amaral e Mihatsch (2016) apontam como o nome ser humano tem menor frequência
em contextos genéricos quando comparado ao nome pessoa, itens “equivalentes [a pessoa] que
são usados em contextos genéricos em francês e português como êtres humains e seres humanos
são muito menos comuns e parecem pertencer ao campo de linguagens especializadas”
(AMARAL e MIHATSCH, 2016, p. 3)19.
Amaral (2017), ao analisar o uso do nome ser humano, em português e no espanhol,
verifica como a frequência de uso desse item cresce de maneira significativa nos anos do século
XX. Para o autor, o aumento desse item nesse período coincide com a redução do uso do nome
homem(ns) como um nome geral, devido ao caráter polissêmico desse item. Além disso, o nome
ser humano se mostra mais frequente em textos acadêmicos, expressando seu uso mais
específico e formal, como observado por Amaral e Mihatsch (2016).

2.5.7 indivíduo

Sobre o nome indivíduo, Amaral (2013a) indica como esse nome está mais relacionado
a contextos formais, já que em seus dados, de língua oral, apenas uma ocorrência do item foi
registrada, cujo informante possuía elevado nível de escolaridade. Essa indicação é vista
também por Cappeau e Schnedecker (2014) em estudo sobre o nome individus em francês e
confirmada também pelo trabalho de Oliveira (2018). Cappeau e Schnedecker (2014), ao
analisar a frequência desse nome em textos de língua escrita, apontam sua predominância em
textos científicos e de filosofia.
Ainda de acordo com Cappeau e Schnedecker (2014), o nome individus, aqui tomado
como equivalente a indivíduo, é o único, entre outros NG [+hum], capaz de se referir também
a conjuntos de seres não necessariamente humanos, acepção frequente em contextos de usos
relacionados à biologia: “é somente a partir do século XVII que indivíduo passa a se referir a

19
Tradução nossa, do original: “Les équivalents qui sont employés dans des contextes génériques en français et
portugais comme être humain et ser humano sont bien moins fréquents et semblent appartenir plutôt au domaine
des langues spécialisés”.
47

um membro da espécie humana através do vocabulário da biologia, no sentido de ‘corpo


organizado vivendo uma existência adequada, e que não pode ser dividido sem ser destruído’”
(CAPPEAU, SCHNEDECKER, 2014, p. 3034)20. O autor e a autora também apontam como o
nome indivíduo tende a correr em contextos de relatos de crimes, acompanhado de adjetivos
como encapuzado, armado, perigoso, etc.
Também conforme Amaral (2017), a entrada do nome indivíduo como referência a seres
humanos se deu tardiamente. A análise realizada pelo autor indica essa inserção do nome, que
se torna cada vez mais frequente a partir do século XVII. Essa acepção só é encontrada em
obras lexicográficas do português e do espanhol a partir do século XVIII. Com relação à
variação de registro, o item indivíduo está mais relacionado a textos científicos e formais, tanto
em português quanto em espanhol, resultados congruentes a pesquisas anteriores.

2.5.8 sujeito

No estudo de Amaral (2017), o autor observa que o nome sujeito, tanto em espanhol
quando em português, tem acepções registradas em obras lexicográficas desde o século XVIII,
já sendo apontado como um nome geral, com acepções que relacionam o item a nomes como
pessoa, ou mais recentemente, séculos XX e XXI, com homem, humano, pessoa e indivíduo. O
autor também identifica que o uso do nome, atualmente, tem maior frequência em português do
que no espanhol, porém essa situação nem sempre foi assim. Até meados do século XVIII, o
item sujeito tinha maior uso em dados do espanhol, sendo somente no século XIX registrado
um cenário contrário. Com relação aos contextos de uso desse nome, Amaral (2017) indica que
ele tende a ser mais aceitável em contextos de interpretação específica, como em (7), e não em
contextos de interpretação genérica (8):

(7) De acordo com o jornal, um sujeito teria sido salvo do afogamento perto do porto
ontem de manhã.

(8) Quando nos sentimos sós, devemos falar com um sujeito.21

Por uma perspectiva da linguagem jurídica, Amaral (2013b) comenta como o nome
sujeito, bem como outros nomes gerais, como negócio ou pessoa, é usado na construção de um

20
Tradução nossa, do original: “C’est seulement à partir du 17ième siècle qu’individu renverrait à un membre de
l’espèce humaine via le vocabulaire de la biologie au sens de «corps organisé vivant une existence propre, et qui
ne saurait être divisé sans être détruit»”.
21
Exemplos (7) e (8) referem-se aos exemplos (12) e (14) em Amaral (2017, p. 69).
48

conceito que seja capaz de uma abstração dos referentes. Assim, no ordenamento jurídico, a
expressão sujeito de direitos, formada a partir de um nome geral, significa uma generalização
do próprio conceito de pessoa, assim, segundo Fiúza (2011, p. 121 apud AMARAL, 2013b, p.
175): “Toda pessoa é sujeito de direito, mas nem todo sujeito de direito será pessoa”.
Importante destacar, porém, que nenhum dos trabalhos retomados e comentados ao
longo da seção 2.5 deste capítulo detiveram-se sobre o estudo dos nomes gerais para referência
a seres humanos como uma estratégia de construção de uma linguagem menos sexista. Assim,
as propostas desta pesquisa visam retomar os resultados de estudos anteriores sobre esses nomes
e contribuir para compreensão do seu uso como mecanismo de eliminação de um sexíssimo
linguístico.
49

3 METODOLOGIA

Neste capítulo serão descritas as escolhas metodológicas adotadas no decorrer de toda a


pesquisa e que possibilitaram a coleta, a organização, a seleção e a análise dos dados estudados.
Primeiramente serão apresentados e justificados os dados escolhidos para o estudo, que foram
selecionados partindo dos objetivos da pesquisa. Em seguida, serão apresentados os critérios de
organização, seleção e classificação dos dados para a análise quantitativa realizada. Por fim,
serão descritos os critérios de seleção dos dados para a análise qualitativa.

3.1 A escolha dos dados

Os dados utilizados para a realização deste trabalho foram coletados em textos públicos,
sendo pronunciamentos realizados por deputados e deputadas estaduais dos estados de Minas
Gerais e do Rio Grande do Sul. Primeiramente, tendo como ponto de partida para a realização
desta pesquisa a existência do manual de redação para um uso não sexista da linguagem,
MUNSL, no estado do Rio Grande do Sul, a opção pelo estudo e pela análise dos
pronunciamentos de deputados e deputadas tem como objetivo poder observar se o uso de uma
linguagem não sexista no domínio dos órgãos da administração pública pode estar sofrendo
alguma influência das políticas para a igualdade de gênero empregadas pelos governos.
Desse modo, a escolha dos dados provenientes da Assembleia Legislativa do estado de
Minas Gerais (ALMG) e da Assembleia Legislativa do estado do Rio Grande do Sul (ALRS)
visa possibilitar uma comparação diatópica, uma vez que o estado gaúcho possui uma obra
prescritiva com relação ao uso de uma linguagem não sexista, e o estado mineiro não. Além
disso, foram delimitadas duas sincronias de coleta dos dados: pronunciamentos realizados em
cada casa legislativa nos períodos de 1º a 31 de março de 2011 (doravante “março de 2011”), e
de 1º a 30 de novembro de 2017 (doravante “novembro de 2017”). A definição de dois
momentos distintos para coleta de dados teve como objetivo possibilitar uma comparação da
variação diacrônica do uso das variantes estudadas. Ainda, os anos de 2011 e 2017 fazem parte
de duas legislaturas distintas, assim será possível observar uma variação entre deputadas e
deputados reeleitos ou não; o ano de 2011 também marca um período anterior à publicação do
MUNSL (TOLEDO et al., 2014) no Rio Grande do Sul, sendo esse, portanto, um marco
importante para a análise do fenômeno estudado. O total de parlamentares/pronunciamentos
coletados, bem como a descrição dos valores totais do conjunto de dados de estudo serão
descritos no item 3.2 deste capítulo.
50

Os dados foram todos coletados a partir das informações disponibilizadas pelas próprias
assembleias legislativas em seus respectivos sites (informações e descrições sobre as
assembleias e sobre a disponibilização dos pronunciamentos serão descritas nos itens 3.1.1 e
3.1.2). Os dados foram coletados pelo autor e armazenados em arquivo de texto (formato .txt)
para que pudessem ser, posteriormente, tratados e manipulados por meio do software freeware
concordanciador de análises linguísticas AntConc (ANTHONY, 2018). O software AntConc é
uma ferramenta de análises linguísticas com grande utilidade no tratamento de dados de grande
extensão e comumente utilizado em trabalhos vinculados à Linguística de Corpus. A ferramenta
permite a contagem de palavras, bem como a elaboração de listas de frequência e listas de
concordância, instrumentos que auxiliam nos processos de análises linguísticas. A figura 1
ilustra a tela do software:

Figura 1 – Tela do software Antconc: fragmento da lista de concordância gerada para


o item mulher

Fonte: o autor.

3.1.1 ALMG22

Fundada em 31 de janeiro de 1835, durante o período da Monarquia, a então Assembleia


Legislativa Provincial localizava-se na cidade de Ouro Preto, capital mineira à época. A casa

22
Todas informações apresentadas se encontram no site da ALMG, disponível em <https://www.almg.gov.br/>,
acesso em 03 out. 2018.
51

legislativa, que acompanhou as diversas mudanças políticas do país ao longo das décadas, tem,
contemporaneamente, sede na atual capital mineira, Belo Horizonte, e é formada por um total
de 77 parlamentares, entre deputados e deputadas.
A ALMG disponibiliza, por meio de seu site, as transcrições integrais23 dos
pronunciamentos realizados em reuniões do Plenário desde o ano de 2001. Assim, para a coleta
dos dados estudados nesta pesquisa, foi usado o sistema de busca do próprio site. Foi realizada
uma pesquisa por todos os tipos de pronunciamentos disponíveis, sendo filtradas apenas as
datas, como já mencionado e descrito anteriormente. Ressalta-se, no entanto, que os resultados
obtidos traziam também pronunciamentos de pessoas convidadas. Foi necessária, portanto, uma
seleção manual no momento de salvar os textos. Além disso, casos de “aparte”, isto é,
interrupções de fala feitas por outro deputado ou deputada, tiveram de ser separados
manualmente, garantindo que não fossem atribuídas equivocadamente ocorrências a
parlamentares distintos. Os dados colhidos referentes ao ano de 2011 pertencem à 17ª
legislatura e os dados de 2017 à 18ª legislatura.
O quadro 4 relaciona todos deputados e deputadas cujos pronunciamentos compõem a
amostra de dados utilizada:

Quadro 4 – Relação de deputados e deputadas da amostra de dados da ALMG


Parlamentar24 Partido Parlamentar Partido
Adalclever Lopes MDB/PMDB Fábio Cherem PDT
Alencar Da Silveira Jr PDT Felipe Attiê PTB
Almir Paraca PT Fred Costa PATRI
Ana Maria Resende PSDB Geraldo Pimenta PCdoB
André Quintão PT Gilberto Abramo PRB
Angelo Oswaldo De Araújo
MDB/PMDB Gustavo Valadares PSDB
Santos
Anselmo José Domingos PTC Hely Tarqüínio PV
Antônio Carlos Arantes PSDB Ivair Nogueira MDB/PMDB
Antônio Jorge PPS João Leite PSDB
Antônio Júlio MDB/PMDB João Vítor Xavier PSDB
Arlen Santiago PTB José Henrique MDB/PMDB
Bonifácio Mourão PSDB Liza Prado PROS
Bosco AVANTE Luiz Carlos Miranda PDT

23
As transcrições coletadas são de caráter textual e consultivo, sendo realizadas em norma ortográfica. Para
verificar um exemplo de transcrição, consultar o APÊNDICE F.
24
Ao decorrer de todo o texto, a referência aos deputados e deputadas se dará, sempre, pelo uso do nome
parlamentar. Segundo Amaral (2013b, p. 57), o nome parlamentar é um “antropônimo escolhido pelo indivíduo
eleito a cargo legislativo para ser usado em documentos oficiais da casa legislativa”. A escolha do nome
parlamentar não é regida por legislação própria, podendo apresentar critérios definidos pelas próprias assembleias
e câmaras.
52

Braulio Braz PTB Luiz Henrique PSDB


Bruno Siqueira MDB/PMDB Luiz Humberto Carneiro PSDB
Cabo Júlio MDB/PMDB Luzia Ferreira PPS
Carlin Moura PCdoB Maria Tereza Lara PT
Carlos Henrique PRB Marília Campos PT
Carlos Mosconi PSDB Paulo Guedes PT
Carlos Pimenta PDT Paulo Lamac REDE
Celinho Do Sinttrocel PCdoB Pompílio Canavez PT
Célio Moreira PSDB Roberto Andrade PSB
Dalmo Ribeiro Silva PSDB Rogério Correia PT
Délio Malheiros PV Romel Anízio PP
Dirceu Ribeiro PODE Rômulo Viegas PSDB
Douglas Melo MDB/PMDB Rosângela Reis PODE
Doutor Jean Freire PT Sargento Rodrigues PTB
Doutor Viana DEM Sávio Souza Cruz MDB/PMDB
Doutor Wilson Batista PSD Sebastião Costa PPS
Duarte Bechir PSD Tadeuzinho Leite MDB/PMDB
Duilio De Castro PMN Tiago Ulisses PV
Durval Ângelo PT Ulysses Gomes PT
Elismar Prado PROS Vanderlei Miranda MDB/PMDB
Emidinho Madeira PSB Zé Maia PSDB
Fabiano Tolentino PPS - -
Fonte: o autor.

3.1.2 ALRS25

No atual estado do Rio Grande do Sul, em 20 de abril de 1835, foi instalada a


Assembleia Legislativa Provincial, que, assim como a casa legislativa do estado de Minas,
passou por importantes momentos históricos na construção do Estado brasileiro. É a partir de
1989, até os dias atuais, com a promulgação da Constituição do estado do Rio Grande do Sul,
que se reconfigura o papel e a posição da casa legislativa em relação ao povo do estado.
Atualmente, ano de 2018, a assembleia conta com 55 parlamentares eleitos.
A ALRS disponibiliza, por meio do site do Departamento de Taquigrafia26, vasto
material relacionado às reuniões de Sessões Plenárias, desde transcrições e atas, até materiais
em áudio. Os pronunciamentos dos deputados e deputadas estão organizados por parlamentar,
sendo assim, a coleta dos dados foi realizada individualmente, obedecendo ao critério de
seleção pelas datas já apontadas. Diferentemente dos dados disponibilizados pela ALMG, os

25
Todas informações apresentadas se encontram no site da ALRS, disponível em <http://www.al.rs.gov.br>,
acesso em 03 out. 2018.
26
Disponível em <http://www2.al.rs.gov.br/taquigrafia/Transcri%C3%A7%C3%B5es/tabid/5477/Default.aspx>,
acesso em 03 out. 2018.
53

casos de “aparte” nos pronunciamentos da ALRS não estão colocados nos textos individuais.
Os dados colhidos referentes ao ano de 2011 pertencem à 53ª legislatura e os dados de 2017 à
54ª legislatura.
O quadro 5 relaciona todos deputados e deputadas cujos pronunciamentos compõem a
amostra de dados:

Quadro 5 – Relação de deputados e deputadas da amostra de dados da ALRS


Parlamentar Partido Parlamentar Partido
Adão Villaverde PT Liziane Bayer PSB
Adilson Troca PSDB Lucas Redecker PSDB
Adolfo Brito PP Luciano Azevedo PPS
Adroaldo Loureiro PDT Luis Augusto Lara PTB
Alexandre Lindenmeyer PT Luis Fernando Schmidt PT
Alexandre Postal MDB/PMDB Luiz Fernando Mainardi PT
Altemir Tortelli PT Manuela D'ávila PCdoB
Ana Affonso PT Márcio Biolchi MDB/PMDB
Any Ortiz PPS Marco Alba MDB/PMDB
Bombeiro Bianchini PR Maria Helena Sartori MDB/PMDB
Carlos Gomes PRB Marisa Formolo PT
Cassiá Carpes PTB Maurício Dziedricki PTB
Catarina Paladini PSB Miki Breier PSB
Ciro Simoni PDT Miriam Marroni PT
Daniel Bordignon PT Missionário Volnei PR
Dr. Basegio PDT Nelsinho Metalúrgico PT
Edegar Pretto PT Paulo Borges DEM
Edson Brum MDB/PMDB Paulo Odone PPS
Elton Weber PSB Pedro Pereira PSDB
Enio Bacci PDT Pedro Ruas PSOL
Frederico Antunes PP Pedro Westphalen PP
Gabriel Souza MDB/PMDB Raul Carrion PCdoB
Gerson Burmann PDT Raul Pont PT
Gilberto Capoani MDB/PMDB Regina Becker Fortunati PTB
Gilmar Sossella PDT Ronaldo Santini PTB
Giovani Feltes MDB/PMDB Sérgio Peres PRB
Heitor Schuch PSB Sérgio Turra PP
Jeferson Fernandes PT Silvana Covatti PP
João Fischer PP Sr. Alceu Barbosa PDT
Jorge Pozzobom PSDB Stela Farias PT
José Sperotto PTB Tarcisio Zimmermann PT
Juliana Brizola PDT Tiago Simon MDB/PMDB
Juliano Roso PCdoB Vilmar Zanchin MDB/PMDB
Jurandir Maciel PTB Zé Nunes PT
Juvir Costella MDB/PMDB Zilá Breitenbach PSDB
Fonte: o autor.
54

3.2 Tratamento quantitativo

Foram coletados todos os pronunciamentos feitos por deputados e deputadas das duas
assembleias nos períodos descritos na seção 3.1. Os totais de parlamentares por estado estão
descritos na tabela 1:

Tabela 1 – Número total de deputados e deputadas com pronunciamentos coletados em cada


sincronia27
Deputados e deputadas
Assembleia
Março de 2011 Novembro de 2017
ALMG 54 35
ALRS 46 41
Fonte: o autor.

Entre as deputadas ou deputados com pronunciamentos coletados, 17 parlamentares


foram reeleitos na ALMG e 15 foram reeleitos na ALRS.
O valor total de contagem de palavras do conjunto de dados coletados foi de
aproximadamente 449.895 tokens28 e 22.996 types29. Os valores, distribuídos por estado e por
sincronia, estão descritos na tabela 2:

Tabela 2 – Tokens/types por sincronia


Tokens / types
Assembleia
Março de 2011 Novembro de 2017
ALMG 127.226 / 10.852 111.740 / 10.670
ALRS 118.510 / 10.699 92.419 / 10.062
Fonte: o autor.

Para que se chegasse aos valores da tabela 2, o conjunto de dados precisou ser
equilibrado, isto é, foi preciso que uma parte dos dados fosse retirada. O mês de março 2011,
nos dados da ALMG, por exemplo, apresentou valores excessivamente mais altos em relação
aos demais períodos, devido à grande quantidade de pronunciamentos. Para esse recorte,

27
Os valores não correspondem ao total de parlamentares de cada assembleia, mas sim àqueles com
pronunciamentos realizados e coletados no período estipulado pela pesquisa.
28
O termo token refere-se ao número total de palavras de um conjunto de textos.
29
O termo type refere-se ao número total de palavras distintas em um conjunto de textos, isto é, o total de palavras
desconsideras das repetições de um mesmo item lexical.
55

portanto, foram eliminados os pronunciamentos realizados nos últimos dias de cada mês
coletado, sempre seguindo, assim, a ordem cronológica inversa.
Além disso, apesar de o número de parlamentares com pronunciamentos coletados
apresentar variação (ver tabela 1), a extensão final das amostras de dados, em seus números de
tokens, e sobretudo de types, mantém uma equivalência, conforme tabela 2. Assim, estabeleceu-
se uma comparabilidade dos recortes propostos, o que garante confiabilidade aos resultados da
pesquisa.
Com os dados coletados e organizados, foram estabelecidos os critérios para a seleção
das ocorrências que seriam, então, de fato estudadas pela pesquisa. Sendo o objetivo deste
trabalho verificar o uso de itens lexicais de referência a seres humanos em contexto de
referência a homens e mulheres, estabeleceu-se que esses contextos e itens lexicais seriam
apurados nos dados com base na frequência total de ocorrências. Para isso, o software AntConc
foi alimentado com uma lista de exclusão30 (stop list) visando retirar do topo da lista de
frequência o maior número de itens indesejáveis para a pesquisa, itens de natureza gramatical,
como pronomes31, artigos, preposições, conjunções, advérbios, além de itens lexicais não
nominais, como verbos32. Ao excluir determinados itens na construção da lista de frequência,
pretendeu-se que o maior número possível de itens nominais de referência a seres humanos
pudesse ocupar as posições de topo.
Foi elaborada uma lista com as primeiras mil palavras mais frequentes nos dados
coletados (APÊNDICE A). Esses itens lexicais foram analisados individualmente e
selecionados aqueles que, de fato, faziam referência a homens e mulheres simultaneamente, ou
pelo uso do masculino genérico do qual trata a GT, ou por outras formas lexicais, como os
nomes gerais – que são também foco deste trabalho. Foram selecionados 57 itens lexicais, cujos
critérios de seleção serão descritos e exemplificados a seguir.

30
A lista de exclusão foi elaborada pelo próprio autor com base nas próprias ocorrências encontradas nos dados.
Para esse processo o uso do software AntConc foi, também, essencial.
31
Alguns pronomes foram mantidos na lista de frequência, sendo eles: algum, aquele, dele, outro, todo e suas
respectivas flexões de número e gênero. Com relação ao pronome indefinido alguém, optou-se por sua retirada da
relação de itens, por ele não configurar, objetivamente, uma oposição entre formas masculinas e femininas.
32
Foram excluídas todas ocorrências verbais, exceto as formas nominais dos verbos no particípio, uma vez que
tais itens podem, em determinados contextos, “desempenhar as funções próprias dos nomes substantivos e
adjetivos” (CEGALLA, 1989, p. 163). São exemplos de particípios interessado, convidado, chamado, etc.
Segundo Perini (2010, p. 254), “podemos distinguir os nominais da língua entre aqueles que têm potencial
referencial (podem se referir a uma coisa) e os que não têm”, assim, os itens mencionados têm potencial de designar
coisas ou seres. A forma verbal ser também foi mantida, por poder expressar referência nominal, como em o ser
humano.
56

3.2.1 A escolha dos itens analisados e os casos desconsiderados

A seleção dos 57 itens lexicais analisados teve como critério inicial que fossem itens
nominais com referência a seres humanos e fizessem, em seu contexto de uso, referência a
homens e mulheres de forma simultânea. Destaca-se, também, que se optou por trabalhar no
nível da lexia, isto é, das ocorrências assim como usadas no discurso e representadas na lista de
frequência, e não no nível do lexema33. Os 57 itens lexicais estão organizados no quadro 6 por
ordem de ocorrências contabilizadas:

Quadro 6 – Itens lexicais coletados nos dados e número de ocorrências


Número de Número de
Lexias Lexias
ocorrências ocorrências
pessoa(s) 506 companheiros 39
povo 351 técnicos 38
servidor(res) 285 daqueles 33
população 202 gaúchos 33
trabalhador(res) 167 representante(s) 33
cidadão(s) 156 atleta(s) 30
parlamentar(res) 123 membros 28
funcionários 120 empresários 25
professor(res) 105 diretores 24
senhor(res) 104 público(s) 24
prefeito(s) 99 político(s) 21
mineiro(s) 92 pobres 20
aqueles 85 líderes 18
consumidor(res) 76 ser(res) humano(s) 18
agricultor(res) 67 dirigentes 14
colegas 64 juiz 12
pessoal 63 médico 7
alunos 56 ministro 7
homem(ns) 53 negro 5
telespectadores 53 próximo 5
jovem(ns) 51 secretário 5
filho(s) 48 alguns 3
amigo(s) 47 humanos 2
brasileiro(s) 45 presentes 2
pescadores 45 responsável 2
outro(s) 43 afro-brasileiro 1

33
Para Biderman (2001, p. 169), “os lexemas se manifestam, no discurso, através de formas ora fixas, ora variáveis.
Essa segunda alternativa é mais freqüente nas línguas flexivas e aglutinantes. Assim, em português, o lexema
CANTAR pode manifestar-se discursivamente como cantei, cantavam, cantas, cantando etc. O lexema MENINO
com menino e meninos. A essas formas que aparecem no discurso, daremos o nome de lexia”.
57

vereador(res) 42 coordenador 1
gente 41 senador 1
policial(is) 40 - -
Fonte: o autor.

Entre os 57 itens do quadro 6, nota-se que algumas ocorrências possuem apenas formas
singulares, como senador, negro ou secretário, ou apenas formas plurais, como pescadores,
colegas ou funcionários. Há também itens com as duas formas simultaneamente, singular e
plural, como amigo(s), pessoa(s) ou vereador(res). Isso se deve ao fato de, na lista de frequência
dos dados totais, entre as mil primeiras ocorrências, esses itens terem figurado ora em uma
única forma (singular ou plural), ora com duas formas (singular e plural). Essa variação se dá
pela opção de se trabalhar no nível da lexia, conforme apontado anteriormente.
Destaca-se, também, que um mesmo item poderia ser utilizado em contextos de
referência a homens e mulheres, ou de referência exclusiva a homens. Nesse segundo caso, as
ocorrências foram descartadas por não representarem variantes da variável estudada pela
pesquisa. Alguns exemplos não contabilizados nesse sentido foram:

(9) O Senador Aécio Neves nunca foi homem de radicalismo nem de agressão.
(MG11M-Bonifácio Mourão)

(10) Neste mês de novembro, os homens, rotineiramente, deveriam buscar, assim como
as mulheres o fazem, o serviço de saúde para que se tivesse saúde e qualidade de
vida. (RS17F-Zilá Breitenbach)

(11) Lá estiveram presentes o governador Tarso Genro, o presidente Adão Villaverde e


vários parlamentares desta Casa, o ministro da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento, Wagner Gonçalves Rossi, e o deputado Aldo Rebelo, relator do
projeto que altera o Código Florestal. (RS11M-Dr. Basegio)

(12) O Requião, senador do PMDB, fez um discurso belíssimo [...] (MG11M-Rogério


Correia)

(13) como também os líderes da base de governo, os Deputados Luiz Humberto


Carneiro, Gustavo Valadares e Bonifácio Mourão. (MG11M-Sargento Rodrigues)

Não foram considerados também os itens nominais substantivos denominados pela GT


como comum de dois gêneros34 quando não precedidos de determinante que marcasse o gênero
gramatical. Essa opção teve como base o fato de esses nomes, sem o determinante, não serem

34
Segundo Cegalla (1989, p. 118), os substantivos comuns de dois gêneros são aqueles que “sob uma só forma,
designam os indivíduos dos dois sexos. São masculinos quando referentes a homens, e femininos se designam
mulheres. Distinguimos-lhes o gênero através do artigo ou adjetivo que os acompanham”.
58

classificados com clareza dentro do que delimitamos como o masculino genérico. Alguns
exemplos são:

(14) Para que continuem tramitando, necessitam obrigatoriamente que parlamentares


apresentem requerimentos de desarquivamento. (MG11M-Elismar Prado)

(15) Quando digo que, hoje, no espaço popular desta Casa, aconteceu uma manifestação
de policiais que se sentiram ofendidos com as declarações de Deputados sobre a
política de direitos humanos [...] (MG11M-Durval Ângelo)

(16) Ora, colegas, cabe exatamente à diretoria da Corsan a captação dos recursos e o
encaminhamento do empréstimo. (RS17M-Vilmar Zanchin)

(17) Um abraço extensivo à sua mãe, ao seu filho, aos seus familiares e colegas de
Emater. (RS17M-Pedro Pereira)

(18) Nesse documento, está afirmado que o consumo de drogas já não estava
circunscrito a um grupo determinado, senão que se expandira para jovens de todas
as classes [...] (MG17M-Alexandre Victor de Carvalho)

(19) estabelecer um ordenamento legal que possa fortalecer as entidades responsáveis


por sua promoção e valorizar seus dirigentes, treinadores e atletas. [...] (MG17M-
Roberto Andrade)

(20) Não pode, eu não posso pautar as matérias, não posso convocar reunião de líderes.
(MG17M-Sargento Rodrigues)

Entre outros casos especiais estão os itens população e público, suas ocorrências foram
selecionadas apenas parcialmente. Esses itens, desde que não acompanhados de modificador
que restrinja sua referência — como em população feminina35 — referem-se a grupos mistos de
homens e mulheres. Porém algumas de suas ocorrências foram desconsideradas por estarem em
contextos em que o referente do item não era claramente identificável. Para testar esses
contextos, foram aplicados testes de substituição entre os itens e o nome geral [+hum] pessoas.
Os exemplos (21a) e (22a) representam ocorrências selecionadas, já que o teste de substituição
não altera o sentido do trecho, como pode ser observado em (21b) e (22b):

(21a) É bom que a população se lembre dos deputados federais que aprovaram essa
PEC. (MG17M-André Quintão)

(21b) É bom que as pessoas se lembrem dos deputados federais que aprovaram essa
PEC.36

35
[...] requer implantação articulada de medidas como sensibilização e mobilização da população feminina,
investimento tecnológico e em recursos humanos[...] (MG11F-Liza Prazo)
36
Todas as paráfrases dos exemplos são de nossa autoria.
59

(22a) Cumprimento o Sr. Presidente, as Sras. Deputadas, os Srs. Deputados e o público


presente, que acompanha os nossos trabalhos. (MG11M-Duarte Bechir)

(22b) Cumprimento o Sr. Presidente, as Sras. Deputadas, os Srs. Deputados e as pessoas


presentes, que acompanham os nossos trabalhos.

Já os exemplos (23a) e (24a) representam casos de ocorrências de população e público


que não foram contabilizadas, pois não puderam ser substituídas por pessoas. Esses casos
parecem estar mais próximos de um conceito político, ou coletivo, mais abstrato:

(23a) Há Distritos que são maiores que os Municípios, têm uma população maior que
os Municípios, e deveriam ser tratados com a mesma atenção. (MG11M-Anselmo
José Domingos)

(23b) ? Há Distritos que são maiores que os Municípios, têm pessoas maiores que os
Municípios, e deveriam ser tratados com a mesma atenção.

(24a) Como disse o Durval, teremos a presença de um público muito grande, e a


presidência, portanto, manifesta a todos os agradecimentos pela honrosa presença.
(MG17M-Antônio Jorge)

(24b) ? Como disse o Durval, teremos a presença de pessoas muito grandes, e a


presidência, portanto, manifesta a todos os agradecimentos pela honrosa presença.

Assim, como se nota nas sentenças em (23b) e (24b), esses contextos, ao serem
submetidos ao teste de comutação, tiveram seus sentidos modificados, diferenciando-os,
portanto, de exemplos como vistos em (21a) e (22a).
Por fim, destaca-se mais dois itens que, apesar de estarem presentes entre as mil palavras
mais frequentes e representarem usos do masculino genérico para referência a homens e
mulheres, não foram selecionados para a análise dos dados, sendo eles deputado(s) e todo(s).
A opção por mantê-los fora do estudo proposto baseou-se na quantidade de ocorrências que tais
itens apresentaram. Para as lexias deputado e deputados, foi contabilizado, sem maiores
refinamentos, um total de 4029 ocorrências, e para as lexias todo e todos um total de 1272.
Esses valores, influenciados pela natureza dos textos e pela natureza gramatical de todo(s),
representariam um enviesamento dos resultados por destoarem do restante das ocorrências
estudadas.
60

3.2.2 Análise e classificação das ocorrências

A partir dos 57 itens lexicais apurados para compor a análise deste estudo, foram
coletadas e selecionadas, com base nos critérios definidos anteriormente, todas as suas
ocorrências, totalizando um montante de 3680 dados. Cada uma dessas ocorrências foi
analisada e classificada quanto a alguns critérios pré-estabelecidos e relacionados a aspectos de
seu uso. O quadro 7 resume os critérios adotados, que são descritos em seguida:

Quadro 7 – Critérios de classificação das ocorrências


Contexto de NG
Tipo de uso Estratégia empregada
[+hum]
Sexista Não sexista
Não
Sexista Masculino Nomes Sim Não
sexista Outras
genérico gerais
Fonte: o autor.

A primeira classificação feita foi se a ocorrência se referia a um uso considerado sexista


ou a um uso considerado não sexista, e a segunda como esses usos foram de fato realizados,
isto é, quais foram as estratégias empregadas. Essa classificação partiu dos pressupostos
constantes no manual de redação publicado pelo Governo do estado do Rio Grande do Sul no
ano de 2014.
As ocorrências consideradas sexistas são aquelas que apresentam o uso do masculino
genérico para se referir simultaneamente a homens e mulheres, sendo essa uma variante
considerada excludente perante movimentos ativistas de políticas linguísticas para a construção
de uma linguagem inclusiva, além de movimentos sociais feministas que discutem o papel e a
presença da mulher na sociedade, e como a língua tende a perpetuar questões relacionadas à
desigualdade de gênero. Os exemplos (25) a (27) representam tais situações de usos:

(25) Há alunos com deficiência leve, moderada, severa, e uma grande parcela desses
alunos não tem a menor condição de estudar em uma escola de ensino regular [...]
(MG17M-Duarte Bechir)

(26) Verificamos que essa riqueza pode ser uma renovação da qualidade de vida do
cidadão brasileiro. (MG11M-Bruno Siqueira)

(27) Espero que o eco da minha voz, que representa milhares de mineiros, possa
repercutir nos órgãos governamentais, sensibilizando os governos para atender os
pleitos e os anseios de nossos munícipes. (MG11M-Duilio De Castro)
61

Já os usos classificados como não sexistas são, entre diversas estratégias,


principalmente aqueles compostos pelo uso dos nomes gerais de referência a seres humanos,
conforme exemplos (28) a (30):

(28) Quero lembrar algumas pessoas nas nossas andanças, principalmente neste último
ano [...] (MG17M-Arlen Santiago)

(29) Queremos que a política seja feita com respeito a todo e qualquer ser humano.
(RS11M-Miki Breier)

(30) Irmã Polonia Armiliato, enfermeira e nutricionista, com experiência na França e na


Amazônia, é a precursora da bioenergética, método que faz muita gente
sobreviver a partir do que a natureza tem, por meio da fitoterapia. (RS11F-Marisa
Formolo)

Outras formas classificadas como não sexistas foram aquelas em que há uma tentativa
explícita de marcar a presença da mulher no discurso por meio da duplicação de itens lexicais
em sua forma masculina e também sua forma feminina. Esses usos apresentaram ocorrências
em diversas posições sintáticas diferentes, incluindo vários casos de vocativo e algumas
ocorrências, também, de aposto (sendo essa uma forma de especificar os referentes de um nome
masculino anterior, exemplo (33)) conforme os exemplos:

(31) Por isso que a Assembleia deve, sim, parar para homenagear a história de homens
e mulheres que construíram este País [...] (RS17M-Maurício Dziedricki)

(32) Eu vi, senhoras e senhores. Eu vi com que liberdade e desfaçatez o lobista


(RS17M-Tarcisio Zimmermann)

(33) [...] mas infelizmente nada foi feito, e milhares de trabalhadores, homens e
mulheres, morreram na Br-381 [...] (MG11M-Luiz Carlos Miranda)

Destaca-se que os exemplos (28) a (33) acima constam como propostas para um uso não
sexista da linguagem no texto do MUNSL (TOLEDO et al., 2014), indicando, portanto, que as
instruções prescritivas da obra são passíveis de serem realizadas concretamente no discurso e
no uso da língua.
Uma terceira classificação dessas ocorrências aconteceu para responder à seguinte
questão: quais ocorrências poderiam ser substituídas por um nome geral? Isto é, em quais
contextos o uso do masculino genérico ou mesmo da duplicação do item lexical poderiam ser
substituídos pela presença de um nome classificado como nome geral de referência a seres
62

humanos? Essa pergunta nos possibilitou compreender como o uso dos NG [+hum] para
construção de uma linguagem não sexista, estratégia prevista pelas normas prescritivas do
MUNSL (TOLEDO et al., 2014), pode ser de fato produtivo.
A classificação dos contextos que permitiriam o uso de nomes gerais foi binária,
verificando a possibilidade ou não do uso de nomes gerais no contexto, contudo cinco itens
tiveram uma classificação parcial, sendo eles: cidadão(s), consumidor(res), homem(ns),
outro(s) e parlamentar(res). Esses nomes serão descritos e exemplificados a seguir.

3.2.2.1 Contextos de NG [+hum]: casos especiais

O nome cidadão(s) apresentou, em sua maioria, usos que poderiam ser facilmente
substituídos pelo emprego de algum NG [+hum]. O exemplo (34) ilustra um uso que poderia
ser substituído pelos nomes povo ou pessoas, assim como o exemplo (35) representa um caso
passível de ser trocado também por povo. Já o exemplo (36), embora seja um uso classificado
como não sexista, já que há a duplicação do item nominal, figura como um contexto em que
também caberia o uso de um nome geral.

(34) Que lucro é esse, se você vendeu um produto e não o entregou para o cidadão?
(MG17M-Antônio Carlos Arantes)

(35) É justo que todo cidadão gaúcho, inclusive estudantes, ganhe essa anistia.
(RS11M-Edson Brum)

(36) Quase 44 mil cidadãos e cidadãs de Juiz de Fora confiaram seu voto a nosso
mandato na Assembleia Legislativa. (MG11M-Bruno Siqueira)

Por outro lado, os exemplos (37) a (39) representam contexto em que o uso de um nome
geral modificaria o sentido da sentença. Esses casos vinculam, ao nome cidadão(s), um sentido
político que está além da simples referência a um grupo de seres humanos.

(37) O Município ajuda o Guarani e tantas outras entidades que militam formando não
só atletas, também o cidadão do amanhã. (RS17M-Catarina Paladini)

(38) Isso é que é primordial para nós cidadãos e para os órgãos públicos. (MG11M-
Duilio De Castro)

(39) [...] a jurisprudência e a doutrina dominante são fartas em dizer que não se deve
fazer diferença entre policial militar, policial civil, cidadão comum ou qualquer
outra pessoa [...] (MG11M-Sargento Rodrigues)
63

O nome consumidor(res) também apresentou contexto em que o uso de um NG [+hum]


mostrou-se restrito. Quando esse nome foi empregado para referência a pessoas que consomem
uma substância, isto é, com sentido de ‘fazer uso’, o uso de um nome geral mostrou-se possível,
conforme os exemplos (40a) e (41a):

(40a) Mas também é verdade que hoje, provavelmente não foi assim nos primeiros
tempos, não foi tão simples, se um consumidor tiver em sua posse mais do que a
quantidade permitida por lei para o consumo de 10 dias, vai ser apresentado ao
juiz e não à comissão. (MG17M-Antônio Jorge)

(41a) Dr. Manuel, segundo a sua exposição, há um dado objetivo de redução de


percentual de consumidores das drogas mais pesadas, mas uma elevação do uso
de cannabis? (MG17M-Antônio Jorge)

(40b) Mas também é verdade que hoje, provavelmente não foi assim nos primeiros
tempos, não foi tão simples, se uma pessoa (pessoa consumidora) tiver em sua
posse mais do que a quantidade permitida por lei para o consumo de 10 dias, vai
ser apresentado ao juiz e não à comissão.

(41b) Dr. Manuel, segundo a sua exposição, há um dado objetivo de redução de


percentual de pessoas que consomem das drogas mais pesadas, mas uma elevação
do uso de cannabis?

Entretanto, nos contextos de aplicação do nome consumidor(res) em que não há a


referência explícita ao consumo de algo, a substituição mostrou-se restrita, exemplos (42a) e
(43a), que em (42b) e (43b) apresentam sentenças com sentidos diferentes do original:

(42a) O projeto, em momento algum, fala da Cemig, mas dos consumidores em geral.
(MG11M-Antônio Júlio)

(42b) ? O projeto, em momento algum, fala da Cemig, mas das pessoas consumidoras
em geral.

(43a) É bem verdade que a proteção ao consumidor, conforme se pretende com a


proposta em análise, se insere na órbita da competência concorrente da União, dos
Estados e do Distrito Federal, [...] (MG11M-Dalmo Ribeiro Silva

(43b) ? É bem verdade que a proteção à pessoa consumidora, conforme se pretende


com a proposta em análise, se insere na órbita da competência concorrente da
União, dos Estados e do Distrito Federal, [...]

O nome homem(ns), tido como o principal exemplo de item nominal de referência


genérica a homens e mulheres (masculino genérico), apresentou casos em que a substituição
64

por um nome geral poderia ocorrer, como em (44) e (45), em que poderia ocorrer o uso de
pessoa do campo e ser humano (ou ainda as pessoas), respectivamente.

(44) Se o Neymar, um dos melhores jogadores do mundo, almoçou hoje, o alimento que
foi à mesa dele veio do homem do campo, do produtor rural. (MG17M-Emidinho
Madeira)

(45) O trabalho dignifica o homem e a mulher com certeza. (RS11F-Juliana Brizola)

Em algumas ocorrências, porém, a troca de homem(ns) por algum NG [+hum] mostrou-


se restrita, conforme exemplos (46) e (47):

(46) [...] daquilo que é constitucional e daquilo que pode ser dúvida na cabeça dos
parlamentares, homens e mulheres que estão aqui esta noite. (RS11F-Ana
Affonso)

(47) No governo Lula, tivemos 4 ministros, 53 Deputados Federais e 3 Senadores, mas


infelizmente nada foi feito, e milhares de trabalhadores, homens e mulheres,
morreram na Br-381 [...] (MG11M-Luiz Carlos Miranda)

Nos dois casos exemplificados, o uso do nome homens, acompanhado do nome


mulheres, não poderia ser modificado por nenhum nome geral (nem mesmo seres humanos),
pois essa troca modificaria o sentido dos itens, empregados no contexto como aposto de um
item nominal masculino anterior.
Com relação ao pronome outro(s), apenas duas ocorrências não poderiam sofrer
modificações em seus usos para que fossem empregados nomes gerais, exemplos (48) e (49):

(48) Que esta Casa sempre mantenha um nível respeitoso, mesmo quando determinado
Deputado não concorde com a fala de outro, mesmo quando demonstre que está
insatisfeito porque às vezes não ouviu o que gostaria. (MG11F-Liza Prado)

(49) Não podemos admitir que nenhum Deputado interrompa outro, seja fora do
microfone, muito menos seja em outro microfone, sem que lhe tenha sido
concedido aparte. (MG11M-Rogério Correia)

Esses exemplos referem-se a usos do pronome outro como forma de retomar itens já
mencionados no discurso (deputado), desse modo, o emprego de um nome geral no contexto
modificaria o sentido do trecho.
Por fim, vale destacar o comportamento do nome parlamentar(res). Pelas avaliações do
pesquisador, o uso de um nome geral, que substituísse ou acompanhasse esse item, não foi
possível em nenhuma das ocorrências. Contudo foi encontrado nos dados um único uso da
65

construção as pessoas no parlamento (exemplo (50)) para se referir aos parlamentares


(deputadas e deputados):

(50) Então, mais uma vez, faço esse pedido aos Deputados: respeitem quem está com a
palavra, porque, caso contrário, não há democracia, e sim um monólogo. As
pessoas no Parlamento - já disse isso aqui - devem ficar atentas, porque vão
escutar posições com as quais nem sempre concordam, mas isso faz parte da
democracia. (MG11M-Rogério Correia)

Embora tal construção não tenha se mostrado produtiva, essa ocorrência (50), ainda que
única, nos indica que a estrutura pode, em alguma medida, ser utilizada como estratégia de
substituição do masculino genérico os parlamentares. Contudo, é importante destacar que a
expressão pessoas no parlamento pode se referir não apenas às deputadas e aos deputados, mas
também a quaisquer pessoas que estejam no local. No caso específico do exemplo (50), a
interpretação é mais clara, o cotexto nos indica a referência a parlamentares. Apontamentos
mais conclusivos não podem ser, porém, realizados devido a essa ser a única ocorrência
encontrada nos dados estudados.

3.3 Tratamento qualitativo

Além das análises quantitativas propostas para compreender e verificar o


comportamento das variantes estudadas nesta pesquisa, um recorte dos dados foi analisado de
modo qualitativo. Essa análise teve como objetivo verificar, de modo mais pontual, como
ocorreu o emprego das estratégias para a construção de uma linguagem menos sexista
diretamente no texto transcrito dos pronunciamentos.
Para essa etapa, foram selecionados dois deputados e duas deputadas em cada uma das
assembleias legislativas. A escolha de quais parlamentares comporiam essa amostra se baseou
nas quantificações de usos classificados como não sexistas apresentados pelos deputados e
deputadas conforme critérios definidos anteriormente (seção 3.2.2). A classificação, contudo,
desconsiderou os usos de NG [+hum]. Esse recorte teve como objetivo indicar quais
parlamentares usaram mais outras estratégias não sexistas que não fossem nomes gerais37.
Desse modo, o quadro 8 indica quais foram as deputadas e os deputados selecionados
em cada estado, com indicativo do total de usos não sexistas considerados para a sua
classificação e respectiva seleção:

37
A classificação tomou como base os valores apresentados nas tabelas 19 e 20 dos Apêndices B e C, referentes
aos dados de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul respectivamente.
66

Quadro 8 – Deputados e deputadas da amostra qualitativa


Usos não
Assembleia Cargo Nome
sexistas
João Leite 35
Deputado
André Quintão 15
ALMG
Luzia Ferreira 10
Deputada
Liza Prado 8
Tarcisio Zimmermann 19
Deputado
Gabriel Souza 13
ALRS
Manuela D'ávila 6
Deputada
Ana Affonso 5
Fonte: o autor.

A partir dos pronunciamentos coletados, conforme critérios já apontados na seção 3.2


deste capítulo, e selecionados os deputados e deputadas do quadro 8, foram realizadas análises
qualitativas das ocorrências não sexistas encontradas. Esses resultados, que serão apresentados
e descritos na seção 4.2 do capítulo 4, possibilitaram compreender melhor o uso das estratégias
consideradas não sexistas, tanto aquelas analisadas quantitativamente por este estudo quanto
outras que não se tenham mostrado frequentes o suficiente para compor o recorte quantitativo
dos dados (critérios de frequência definidos na seção 3.2).
67

4 RESULTADOS E ANÁLISE DOS DADOS

Neste capítulo, serão apresentados e discutidos os principais resultados obtidos por meio
da organização e classificação de todas as ocorrências selecionadas. Serão apresentados e
analisados, primeiramente, os resultados quantitativos por itens lexicais, separados em
diferentes recortes. Em seguida, serão discutidos e analisados os resultados das médias de
ocorrências por parlamentares. Ao final, será proposta uma análise qualitativa das diferentes
estratégias de construção de uma linguagem não sexista encontradas nos pronunciamentos
selecionados para esse fim.

4.1 Análise quantitativa

Como já apontado no quadro 5 do capítulo 3, foi analisado um total de 3860 ocorrências


distribuídas entre os 57 itens lexicais selecionados. Esse total de dados se dividiu entre 2242
ocorrências classificadas como sexistas e 1438 não sexistas, conforme tabela 3:

Tabela 3 – Número de ocorrências das lexias estratificado por tipo de uso


Lexia Sexista Não sexista Total
afro-brasileiro 1 - 1
agricultor(res) 63 4 67
alguns 3 - 3
alunos 55 1 56
amigo(s) 40 7 47
aqueles 84 1 85
atleta(s) 28 2 30
brasileiro(s) 40 5 45
cidadão(s) 148 8 156
colegas 64 - 64
companheiros 34 5 39
consumidor(res) 76 - 76
coordenador 1 - 1
daqueles 33 - 33
diretores 24 - 24
dirigentes 12 2 14
empresários 25 - 25
filho(s) 47 1 48
funcionários 120 - 120
gaúchos 27 6 33
gente - 41 41
homem(ns) 16 37 53
humanos - 2 2
68

jovem(ns) 51 - 51
juiz 12 - 12
líderes 18 - 18
médico 7 - 7
membros 28 - 28
mineiro(s) 84 8 92
ministro 7 - 7
negro 5 - 5
outro(s) 43 - 43
parlamentar(res) 99 24 123
pescadores 45 - 45
pessoa(s) - 506 506
pessoal - 63 63
pobres 20 - 20
policial(is) 40 - 40
político(s) 21 - 21
população - 202 202
povo - 351 351
prefeito(s) 97 2 99
presentes 2 - 2
professor(res) 94 11 105
próximo 5 - 5
público(s) - 24 24
representante(s) 28 5 33
responsável 2 - 2
secretário 5 - 5
senador 1 - 1
senhor(res) 25 79 104
ser(res) humano(s) - 18 18
servidor(res) 276 9 285
técnicos 38 - 38
telespectadores 51 2 53
trabalhador(res) 156 11 167
vereador(res) 41 1 42
TOTAL 2242 1438 3680
Fonte: o autor.

Os valores da tabela 3 indicam uma predominância geral de usos sexistas entre os dados.
Nota-se, ainda, que alguns itens, como técnicos, pobres, pescadores, etc. apresentam apenas
ocorrências sexistas, por outro lado, nomes como homem(ns) ou senhor(res), embora muito
comuns para referência a homens e mulheres de modo genérico, apresentaram usos não sexistas
mais frequentes, o que representa indícios de um possível uso mais inclusivo da língua.
A tabela 4 apresenta todas as lexias analisadas estratificadas detalhadamente por: tipo
de uso (sexista ou não sexista); localidade (estado) e ano. Além disso, há a classificação do
contexto de uso do item lexical: se caberia o uso de um NG [+hum] ou não.
69

Tabela 4 – Número de ocorrências das lexias estratificado por tipo de uso, estado e período
Sexista Não sexista
Totais
Contexto Minas Rio Grande Minas Rio Grande
Item lexical por itens
de NG38 Gerais do Sul Gerais do Sul
lexicais
2011 2017 2011 2017 2011 2017 2011 2017
afro-brasileiro + - - - 1 - - - - 1
agricultor(res) + - 4 45 14 - - - 4 67
alguns + 2 - 1 - - - - - 3
alunos - 2 37 9 7 - - - 1 56
amigo(s) - 11 10 3 16 - 6 1 - 47
aqueles + 10 21 25 28 - - 1 - 85
atleta(s) - - 20 3 5 - 2 - - 30
brasileiro(s) + 14 10 2 14 1 2 - 2 45
cidadão(s) (+) 48 45 27 28 1 1 4 2 156
colegas - 19 5 24 16 - - - - 64
companheiros - 21 4 7 2 3 2 - - 39
consumidor(res) (+) 52 15 4 5 - - - - 76
coordenador - - - 1 - - - - - 1
daqueles + 7 4 8 14 - - - - 33
diretores - 10 6 3 5 - - - - 24
dirigentes - 2 6 2 2 - - 2 - 14
empresários - 5 3 8 9 - - - - 25
filho(s) - 7 21 11 8 - - 1 - 48
funcionários - 35 37 41 7 - - - - 120
gaúchos + - - 6 21 - - 2 4 33
gente + - - - - 9 21 4 7 41
homem(ns) (+) 4 5 4 3 11 1 15 10 53
humanos + - - - - - - - 2 2
jovem(ns) - 15 25 4 7 - - - - 51
juiz - 1 7 1 3 - - - - 12
líderes - 7 3 8 - - - - - 18
médico - 4 2 - 1 - - - - 7
membros + 7 8 8 5 - - - - 28
mineiro(s) + 48 36 - - 5 3 - - 92
ministro - - 3 3 1 - - - - 7
negro + - - - 5 - - - - 5
outro(s) (+) 12 12 11 8 - - - - 43
parlamentar(res) (-) 23 14 43 19 2 3 4 15 123
pescadores + - - 44 1 - - - - 45
pessoa(s) + - - - - 125 200 110 71 506
pessoal + - - - - 18 19 6 20 63
pobres + 1 18 1 - - - - - 20

38
O sinal ‘+’ indica a possibilidade de uso, ou o próprio uso, de um NG [+hum]. O sinal ‘-’ indica a impossibilidade
de uso de um NG [+hum] naquele contexto. Casos parciais estão marcados pelo uso dos ‘( )’. Essa definição se
aplica apenas a essa coluna, não representando os símbolos usados no restante da tabela, que seguem as instruções
de Normas de apresentação tabular (IBGE, 1993).
70

policial(is) - 24 10 1 5 - - - - 40
político(s) - 5 10 2 4 - - - - 21
população + - - - - 91 59 19 33 202
povo + - - - - 92 105 49 105 351
prefeito(s) - 31 49 14 3 - 2 - - 99
presentes + - 2 - - - - - - 2
professor(res) - 9 25 24 36 - 7 - 4 105
próximo + 1 3 - 1 - - - - 5
público(s) + - - - - 6 11 1 6 24
representante(s) + 4 9 11 4 - 1 4 - 33
responsável + - 2 - - - - - - 2
secretário - 1 3 1 - - - - - 5
senador - - 1 - - - - - - 1
senhor(res) - 5 3 5 12 7 18 7 47 104
ser(res)
+ - - - - 4 1 7 6 18
humano(s)
servidor(res) - 98 89 46 43 - 2 2 5 285
técnicos - 7 11 7 13 - - - - 38
telespectadores + 14 10 11 16 - - - 2 53
trabalhador(res) + 43 48 44 21 3 4 - 4 167
vereador(res) - 8 21 7 5 - - 1 - 42
TOTAIS 617 677 530 418 378 470 240 350 3680
Fonte: o autor.

De modo geral, a partir dos dados apresentados na tabela 4, verifica-se um total de


ocorrências consideradas sexistas, no ano de 2011, de 1147 dados, essas mesmas ocorrências,
em 2017, representam um total de 1095 dados. Já os usos classificados como não sexistas, nos
mesmos períodos, representam 618 e 820 dados respectivamente. Esses valores nos permitem
apontar para um aumento do uso de estratégias consideradas não excludentes das mulheres no
discurso, ao passo que os usos sexistas apresentam uma redução, cenário indicativo de mudança
no uso da língua. Contudo, análises estratificadas e detalhadas serão propostas nas seções
seguintes visando a uma compreensão mais ampla do fenômeno.
Importante comentar também, com relação à tabela 4, sobre as ocorrências dos itens
pessoa(s) e povo. Eles se destacam em contraste aos demais itens com relação ao número de
ocorrências contabilizadas nos dados, 506 e 351 respectivamente. Embora não apresentem
valores mais elevados, eles poderiam enviesar as análises, uma vez que ambos são tomados,
neste estudo, como nomes gerais e, dessa forma, referem-se a um uso não sexista da língua.
Assim, para descrever e compreender os dados, optou-se por uma análise em que fossem
considerados diferentes “cenários”, isto é, diferentes recortes dos dados em sua totalidade para
71

que fosse possível verificar, de diferentes formas, o comportamento da variação. Cada um


desses recortes propostos será descrito e analisado a seguir.

4.1.1 Contextos totais

A partir do total de ocorrências estudadas, considerando as duas sincronias analisadas


(março de 2011 e novembro de 2017), bem como as duas localidades, verifica-se uma variação
entre os dados, o que indica, a princípio, uma tendência de mudança em relação ao uso de uma
linguagem, que passa de um contexto de usos mais sexistas para contextos de usos menos
sexistas. A tabela 5 apresenta esses números totais:

Tabela 5 – Valores percentuais e ocorrências de usos sexistas e não sexistas


Minas Gerais Rio Grande do Sul
Usos
2011 2017 2011 2017
Sexista 62,0% / 617 59,0% / 677 68,8% / 530 54,4% / 418
Não sexista 38,0% / 378 41,0% / 470 31,2% / 240 45,6% / 350
TOTAL 100% / 995 100% / 1147 100% / 770 100% / 768
Fonte: o autor.

O gráfico 1 apresenta os valores relativos aos usos não sexistas de maneira isolada, em
comparação entre os dois estados e os dois períodos com objetivo de uma melhor visualização
da variação apresentada:
72

Gráfico 1 – Percentuais de usos não sexistas totais

70,0%
60,0%
50,0% 45,6%

40,0% 41,0%
38,0%
30,0%
31,2%
20,0%
10,0%
0,0%
Março de 2011 Novembro de 2017
Minas Gerais Rio Grande do Sul

Fonte: o autor.

Pelas informações da tabela 5, visualizadas também no gráfico 1, nota-se que, entre


2011 e 2017, houve um aumento, ainda que pequeno, na presença de usos classificados como
não sexistas nos dois estados, o que parece indicar para um processo de variação, tendendo a
um crescimento dos usos de estratégias que marquem a presença da mulher no discurso e no
uso da língua, tal como será discutido mais adiante.
Além disso, ao voltarmos o olhar para os usos considerados sexistas, embora eles
apresentem um leve aumento no estado de Minas Gerais, esses casos têm uma pequena redução
no estado do Rio Grande do Sul, situação que, a princípio, indica uma maior preocupação de
deputados e deputadas desse estado com o uso da língua – o que pode, de certo modo, estar
relacionado às políticas governamentais de igualdade de gênero presentes no estado gaúcho na
forma do manual de redação, por exemplo.
Porém, a partir desse único recorte, não são possíveis generalizações que representem
ou apontem para a força de mudança em relação ao uso de uma linguagem não sexista. Assim,
foram realizados recortes nos dados que buscassem refiná-los e permitissem verificar seus
comportamentos por outras perspectivas.
73

4.1.2 Contextos totais com a exclusão dos NG [+hum]

Como apontado anteriormente, os nomes gerais pessoa(s) e povo apresentaram números


de ocorrências sensivelmente maiores aos demais itens lexicais. Tais valores, considerando que
esses nomes são classificados como não sexistas, poderiam, então, influenciar os resultados
apresentados e comentados no item 4.1.1. Visando verificar essa influência, optou-se por
contabilizar os valores totais desconsiderando as ocorrências de todos itens lexicais
classificados como nomes gerais. Dessa forma, foram retirados os valores das lexias listadas na
tabela 6:

Tabela 6 – Ocorrências de nomes gerais [+hum]


Não sexista
Nome geral Minas Gerais Rio Grande do Sul TOTAIS
2011 2017 2011 2017
gente 9 21 4 7 41
humanos - - - 2 2
pessoa(s) 125 200 110 71 506
pessoal 18 19 6 20 63
povo 92 105 49 105 351
ser(res) humano(s) 4 1 7 6 18
TOTAIS 248 346 176 211 981
Fonte: o autor.

Nesse outro contexto, a tabela 7 apresenta os valores totais por estado, ano e tipo de uso,
e o gráfico 2 representa a evolução dos percentuais de usos não sexistas por estado:

Tabela 7 – Valores percentuais e ocorrências de usos sexistas e não sexistas excluídos os NG


[+hum]
Minas Gerais Rio Grande do Sul
Usos
2011 2017 2011 2017
Sexista 82,6% / 617 84,5% / 677 89,2% / 530 75,0% / 418
Não sexista 17,4% / 130 15,5% / 124 10,8% / 64 25,0% / 139
TOTAIS 100% / 747 100% / 801 100% / 594 100% / 557
Fonte: o autor.
74

Gráfico 2 – Percentuais de usos não sexistas totais excluídos os NG [+hum]

70,0%

60,0%

50,0%

40,0%

30,0% 25,0%

20,0%
17,4% 15,5%
10,0%
10,8%
0,0%
Março de 2011 Novembro de 2017
Minas Gerais Rio Grande do Sul

Fonte: o autor.

Os valores absolutos da tabela 7 se mantêm estáveis em relação aos usos sexistas, pois
a retirada dos nomes gerais não interfere nesse contexto, uma vez que todos esses nomes
representam usos não sexistas. Por outro lado, esses últimos casos apresentam uma
modificação: em Minas Gerais, os usos não sexistas – desconsiderados os NG [+hum] –
apresentam uma redução de casos, passando de 130 em 2011 (17,4%) para 124 em 2017
(15,5%), o que indica uma preferência de usos de nomes gerais como estratégia não sexista. Já
em relação aos dados do estado gaúcho, os valores mantêm a mesma tendência do contexto
analisado em 4.1.1: há um aumento de 64 ocorrências não sexistas em 2011 para 139 em 2017.
Essa variação representa um crescimento de 117,2% de usos classificados como não sexistas
entre as duas sincronias no Rio Grande do Sul, mesmo desconsiderando os nomes gerais.
Tais tendências, além de apontarem para resultados muito similares aos analisados com
os dados totais, indicam de fato uma variação maior no uso de estratégias não sexistas nos dados
do Rio Grande do Sul, sinalizando, pois, uma variação possivelmente influenciada pelas
políticas governamentais, uma vez que o MUNSL, publicado em 2014, é tomado como um
marco e uma possível influência para esse comportamento.
75

4.1.3 Contextos que permitem o uso de NG [+hum]39

Outro recorte proposto para analisar os dados teve como objetivo verificar o
comportamento dos usos, sexista ou não sexista, apenas naqueles contextos em que fosse
possível o uso de um nome geral; para exemplificar, tomemos os itens alunos, prefeito(s),
mineiro(s) e aqueles. Esses quatro itens lexicais podem apresentar usos considerados sexistas,
quando usados na forma masculina para denotar homens e mulheres (exemplos (51a) a (54a)),
ou ainda em usos não sexistas, pela duplicação nas formas lexicais masculinas e femininas
(exemplos (55) a (58)):

(51a) [...] os Municípios não têm autorização para transportar alunos se não houver
alguma orientação. (RS17F-Zilá Breitenbach)

(52a) [...] a demora é de 72 horas para ser feito o crédito, porque nenhum prefeito
recebeu até agora. (MG17M-Gustavo Corrêa)

(53a) [...] o Governador Antonio Augusto Anastasia, que conta com a confiança da
maior parte dos mineiros. (MG11M-João Vítor Xavier)

(54a) A atitude dela é um desrespeito, um tapa na cara, um deboche com aqueles que
trabalham no interior, de sol a sol [...] (RS17M-Pedro Pereira)

(55) Saúdo as senhoras e os senhores; os telespectadores da TV Assembleia; os alunos


e as alunas que nos visitam, bem como os professores e as professoras. (RS17M-
Frederico Antunes)

(56) Enfim, mal sabem os cidadãos mineiros que a culpa de todo o caos enfrentado pelas
prefeitas e pelos prefeitos do nosso estado é do senhor governador de Minas
Gerais [...] (MG17M-Gustavo Corrêa)

(57) Agradeço a atenção das nobres Deputadas e dos nobres Deputados, das mineiras e
dos mineiros. (MG11M-Bruno Siqueira)

(58) Sem dúvida, tal fato é motivo de júbilo para todas aquelas e aqueles que lutam
pela efetiva igualdade entre homens e mulheres. (RS11M-Raul Carrion)

Nem todos itens, porém, poderiam ser substituídos pelo uso de algum nome geral como
estratégia de uso de uma linguagem não sexista: os dois primeiros restringem essa substituição
(exemplos (51b) e (52b)), enquanto os dois últimos permitem (exemplos (53b) e (54b)):

39
As análises apresentadas neste item contemplam, também, o uso dos próprios NG [+hum], não apenas de outros
itens.
76

(51b) ? [...] os Municípios não têm autorização para transportar pessoas se não houver
alguma orientação.

(52b) ? [...] a demora é de 72 horas para ser feito o crédito, porque nenhuma pessoa
recebeu até agora.

(53b) [...] o Governador Antonio Augusto Anastasia, que conta com a confiança da
maior parte das pessoas/povo mineiro.

(54b) A atitude dela é um desrespeito, um tapa na cara, um deboche com aquelas


pessoas que trabalham no interior, de sol a sol [...]

Apresentado e exemplificado o modo como se deu o recorte proposto, foi possível a


elaboração da tabela 8, também estratificada por período e por estado:

Tabela 8 – Valores percentuais e ocorrências de usos sexistas e não sexistas apenas em


contexto que permite NG [+hum]

Minas Gerais Rio Grande do Sul


Usos
2011 2017 2011 2017
Sexista 36,8% / 210 36,5% / 246 53,8% / 248 39,0% / 177
Não sexista 63,2% / 360 63,5% / 428 46,2% / 213 61,0% / 277
TOTAIS 100% / 570 100% / 674 100% / 461 100% / 454
Fonte: o autor.

Ao observarmos somente as ocorrências em que a substituição por um nome geral seria


possível (incluídos os nomes gerais), os valores nos apontam variações também análogas aos
resultados analisados anteriormente. Os dados da tabela 8 nos indicam que, tanto em Minas
Gerais quanto no Rio Grande do Sul, os usos classificados como não sexistas, nesse recorte,
tendem a um aumento em sua frequência.
Em valores absolutos, a mudança está mais significativa em Minas Gerais, em que o
aumento de ocorrências não sexistas foi de 68 dados de um ano para outro. Por outro lado, esse
aumento foi um pouco menor no Rio Grande do Sul, com 64 dados. Os valores percentuais,
entretanto, apontam uma mudança mais acentuada no estado sulista, uma vez que as ocorrências
consideradas sexistas nesse estado diminuem em 71 ocorrências entre 2011 e 2017, situação
oposta a Minas Gerais, onde há um aumento de 36 dados considerados sexistas entre os dois
anos. O gráfico 3 aponta a variação percentual de usos não sexistas no contexto colocado:
77

Gráfico 3 – Percentuais de usos não sexistas apenas em contexto que permite NG [+hum]

70,0%
63,2% 63,5%
60,0%
61,0%
50,0%
40,0% 46,2%
30,0%
20,0%
10,0%
0,0%
Março de 2011 Novembro de 2017
Minas Gerais Rio Grande do Sul

Fonte: o autor.

Dessa maneira, o recorte proposto também indica, como os anteriores, uma direção de
mudança no uso de uma linguagem não sexista, em que os usos inclusivos conduzem-se a um
aumento de frequência nos dois estados. Entretanto, no Rio Grande do Sul, devido também à
redução dos usos sexistas, a mudança, ou o indicativo de mudança, mostra-se mais evidente, o
que pode ser percebido como a presença mais forte de uma preocupação com o uso da língua
como instrumento de igualdade entre homens e mulheres, atitude possivelmente relacionada às
políticas estaduais nesse sentido.

4.1.4 Contextos que permitem o uso de NG [+hum] sem a presença dos NG [+hum]40

A análise e os valores explicitados visam verificar como os dados se expressam no


mesmo contexto analisado em 4.1.3, todavia excluídos os próprios nomes gerais. Os valores
apurados por essa perspectiva estão expressos na tabela 9:

40
Ao contrário das análises apresentadas na seção 4.1.3, os valores apontados não contemplam os NG [+hum]
descritos na tabela 6.
78

Tabela 9 – Valores percentuais e ocorrências de usos sexistas e não sexistas apenas em


contexto que permite NG [+hum] sem a presença dos NG [+hum]

MINAS GERAIS RIO GRANDE DO SUL


Usos
2011 2017 2011 2017
Sexista 65,2% / 210 75,0% / 246 87,0% / 248 72,8% / 177
Não sexista 34,8% / 112 25,0% / 82 13% / 37 27,2% / 66
TOTAIS 100% / 322 100% / 328 100% / 285 100% / 243
Fonte: o autor.

Retomando os dados da tabela 8 (no item 4.1.3), nota-se que, em Minas Gerais, há um
aumento de usos não sexistas de 18,9% entre 2011 e 2017. Ao serem retirados os nomes gerais
desse contexto (como apresentado na tabela 9 desta seção), a variação das ocorrências não
sexistas se mostra negativa (-26,8%) no mesmo período. Assim, pode-se apontar os NG [+hum]
como itens relevantes na construção de uma linguagem não sexista para o estado mineiro, já
que eles representam a maior parte dos usos inclusivos no estado (um total de 248 ocorrências
em 2011 e 346 em 201741).
Por outro lado, com relação aos dados do Rio Grande do Sul, a presença dos nomes
gerais indica uma estratégia relativamente estável nos dois momentos, já que, ao se considerar
esses nomes, conforme tabela 8, nota-se um aumento de 30% dos usos não sexistas. Nesse
mesmo contexto, desconsiderando a presença desses nomes (tabela 9), verifica-se um aumento
de 78,4% dos usos não sexistas. Esse último valor nos revela que a presença dos nomes gerais
nos pronunciamentos, entre 2011 e 2017, no estado gaúcho, pouco oscilou, contudo as outras
formas de construção de uma linguagem não sexista, quando isoladas conforme a tabela 9,
parecem ter ganhado mais peso e presença nas falas dos deputados e deputadas de um período
ao outro.
O gráfico 4, quando comparado com o gráfico 3 (item 4.1.3), ajuda-nos a visualizar
como os NG [+hum] têm peso estável nos textos do Rio Grande do Sul: ambas representações
apontam uma tendência em mesma direção. Porém, nos dados de Minas Gerais, esses nomes
representam uma estratégia muito usada, e em crescimento: a retirada dos nomes gerais
ocasiona uma mudança na direção, pois, como já mencionado, eles representam boa parte das
estratégias classificadas como não sexistas, o que indica, então, uma diferença no emprego de
estratégias para uma linguagem não sexista entre os dois estados.

41
Valores disponíveis na tabela 6.
79

Gráfico 4 – Percentuais de usos não sexistas apenas em contexto que permite NG [+hum] sem
a presença dos NG [+hum]

70,0%

60,0%

50,0%

40,0% 34,8%
27,2%
30,0%

20,0% 25,0%
10,0%
13,0%
0,0%
Março de 2011 Novembro de 2017
Minas Gerais Rio Grande do Sul

Fonte: o autor.

Dessa forma, é possível verificar que, nos dados de Minas Gerais, o uso de estratégias
não sexistas de nomeação de homens e mulheres na língua tem apresentado menor variação,
pois há, também, um aumento do uso do masculino genérico. Já o Rio Grande do Sul mostra,
como notado nos recortes anteriores, uma maior tendência à mudança do uso da variável
estudada, com a presença das estratégias não sexistas, seja pelos nomes gerais, seja pelos outros
tipos de estratégias, bem como uma redução constante no uso do masculino genérico (estratégia
sexista). Esse é, logo, um indicativo das forças reguladoras da língua por meio das políticas de
igualdade de gênero, que parecem apresentar maior destaque nesse estado.
Na seção seguinte, serão apontadas algumas análises com relação ao comportamento
dos nomes gerais de modo isolado. Esse recorte possibilitará compreender melhor a influência
desses itens lexicais como estratégia de uso de uma linguagem não sexista e a sua relevância
em cada estado.

4.1.5 Os nomes gerais

No conjunto de dados estudados nesta pesquisa, os itens lexicais classificados como NG


[+hum] representam parte significativa da amostra. Ainda que apenas 6 itens lexicais, do total
80

de 57, sejam considerados nomes gerais, eles constituem um total de 26,7% do montante de
ocorrências analisadas, ou seja, 981 dados, mais de um quarto do total geral de ocorrências.
Além disso, quando consideradas apenas as ocorrências classificadas como usos não sexistas,
os nomes gerais somam 981 dados de um total de 1438 ocorrências, isto é, 68,2% de todos os
usos classificados como não sexistas são de nomes gerais.
Tais valores tendem a corroborar as informações de estudos anteriores sobre a alta
frequência desses nomes no uso da língua, como já apresentado no capítulo 2, bem como
indicam que os NG [+hum] têm se mostrado uma relevante estratégia na construção de uma
linguagem menos sexista.
A seguir, com objetivo de facilitar a compreensão dos dados, transcreve-se novamente
a tabela 6, seguida da tabela 10, que traz os valores percentuais dos nomes gerais analisados
comparados somente com o total de ocorrências classificadas como não sexistas:

Tabela 6 – Ocorrências de NG [+hum]


Não sexista
Nome geral Minas Gerais Rio Grande do Sul TOTAIS
2011 2017 2011 2017
gente 9 21 4 7 41
humanos - - - 2 2
pessoa(s) 125 200 110 71 506
pessoal 18 19 6 20 63
povo 92 105 49 105 351
ser(res) humano(s) 4 1 7 6 18
TOTAIS 248 346 176 211 981
Fonte: o autor.

Tabela 10 – Percentual dos NG [+hum] em relação ao total de usos não sexistas


Não sexista
Nome geral Minas Gerais Rio Grande do Sul TOTAIS
2011 2017 2011 2017
gente 2,4% 4,5% 1,7% 2,0% 2,9%
humanos - - - 0,6% 0,1%
pessoa(s) 33,1% 42,6% 45,8% 20,3% 35,2%
pessoal 4,8% 4,0% 2,5% 5,7% 4,4%
povo 24,3% 22,3% 20,4% 30,0% 24,4%
ser(res) humano(s) 1,1% 0,2% 2,9% 1,7% 1,3%
TOTAIS 65,6% 73,6% 73,3% 60,3% 68,2%
Fonte: o autor.
81

A partir da análise do recorte apresentado, nota-se que os NG [+hum] representam usos


similares nos dois estados e também nos dois períodos. Destaca-se que a presença desses nomes
aumentou no estado de Minas Gerais, entre 2011 e 2017, perfazendo um total de 96 ocorrências
absolutas, porém, no Rio Grande do Sul, o crescimento de usos desse tipo foi menor, de apenas
35 dados.
Quando avaliados os valores percentuais dos nomes gerais em relação ao total de usos
não sexistas, nota-se que, em Minas, a comparação entre os dois anos aponta, também, o
aumento na taxa desses nomes, uma situação de crescimento tanto de valores absolutos quanto
de valores relativos.
Por outro lado, essa circunstância não é vista nos dados do estado do Rio Grande do Sul,
onde o percentual de nomes gerais se reduz de um período a outro. Ainda que em valores
absolutos o uso de nomes gerais tenha crescido, essa diferença indica que as demais estratégias
empregadas tiveram maior relevância na quantidade de ocorrências não sexistas.
Desse modo, essa leitura dos valores confirma as análises já apontadas nas seções
anteriores, sobretudo as informações mencionadas no item 4.1.4, levando-nos a compreender
que os NG [+hum] têm sido estratégia preferida nos dados mineiros, enquanto, nos dados
gaúchos, as outras estratégias de usos não sexistas têm se mostrado mais salientes entre os
períodos analisados.
Os gráficos 5 e 6 nos permitem visualizar a variação entre o uso dos NG [+hum] e o uso
de outras estratégias não sexistas em Minas Gerais e no Rio Grande do Sul, respectivamente.
82

Gráfico 5 – Variação no tipo de estratégia não sexista utilizada em Minas Gerais

80,0%

70,0% 73,6%

60,0% 65,6%

50,0%

40,0%

30,0% 34,4%

26,4%
20,0%

10,0%

0,0%
Março de 2011 Novembro de 2017

NG [+hum] Outras estratégias

Fonte: o autor.

Gráfico 6 – Variação no tipo de estratégia não sexista utilizada no Rio Grande do Sul

80,0%

70,0% 73,3%

60,0%
60,3%
50,0%

40,0%
39,7%
30,0%
26,7%
20,0%

10,0%

0,0%
Março de 2011 Novembro de 2017

NG [+hum] Outras estratégias

Fonte: o autor.

Como mencionado anteriormente, ainda sobre o emprego dos NG [+hum] como


estratégia de uso não sexista da língua, todas as 3680 ocorrências foram classificadas com
relação à possibilidade de, naqueles contextos específicos, ser aplicado um nome geral em
substituição à estratégia empregada (informação disponível na tabela 4 deste capítulo e
83

comentada, também, na seção 3.2.2 do capítulo 3). Observado o total de usos considerados
sexistas, 2242 ocorrências, é possível verificar um total de 881 usos que permitiriam sua
substituição por um NG [+hum]. Esse valor representa 39,3% do total de usos classificados
como sexistas em que poderia, sem prejuízo para o contexto, ser realizada a aplicação de um
nome geral para referência a seres humanos. Podemos apontar, portanto, como esses nomes
podem desempenhar papel sensivelmente relevante para a construção de uma linguagem que
seja menos sexista.
A seguir, será realizada uma análise do comportamento de cada um dos NG [+hum] a
partir dos dados das tabelas 6 e 10.

4.1.5.1 humanos

O nome humanos, dentre os nomes gerais, é o que apresenta menor número de


ocorrências, somente duas, representando apenas 0,1% em relação ao total de usos classificados
como não sexistas. Os exemplos (59) e (60) são as ocorrências encontradas desse nome como
variante da variável estudada:

(59) [...] também deve ser homenageado por trazer alguém aqui que realizou um trabalho
tão importante para todos nós, humanos, principalmente para o nosso Estado.
(RS17M-João Fischer)

(60) Graças à essa pesquisa, ele foi valorizado e colocado como alimento nobre para os
humanos e também para os animais. (RS17M-Zé Nunes)

As duas ocorrências encontradas para esse nome foram realizadas por deputados no
estado do Rio Grande do Sul no ano de 2017, não podendo ser avaliado quaisquer traços de
mudança no seu uso. A baixa frequência desse nome ratifica informações de estudos anteriores
a seu respeito. Conforme mencionado no capítulo 2, Amaral (2017) indica que o nome
humano(s), em português, apesar de apresentar uso estável, está mais relacionado a contextos
formais e de caráter científico, ocorrendo com menor frequência em dados orais, como
confirmado nos resultados desta pesquisa.

4.1.5.2 ser(res) humano(s)

Para o nome geral ser humano, e sua forma plural, seres humanos, há um total de 18
ocorrências, o que representa 1,3% do total de usos não sexistas. Nos dados de Minas Gerais,
esse nome apresenta uma redução de 4 para apenas 1 ocorrência entre 2011 e 2017. Já nos dados
84

do Rio Grande do Sul, a redução foi de 7 para 6 ocorrências no mesmo período. Assim como o
nome humanos, a baixa frequência do item ser(res) humano(s) relaciona-se ao caráter
extremamente formal, por vezes até mesmo técnico (científico), que tais itens carregam,
questões também já apontadas por outros estudos a respeito dos NG [+hum], como Amaral
(2017). Os exemplos (61) a (63) ilustram os usos encontrados para esse nome geral nos dados:

(61) Neste momento, discutimos como fazer valer a lei para todos os servidores, todos
os seres humanos que dedicam a sua vida a serviço do interesse público, seja na
área da educação, da defesa social, da segurança pública. (MG11M-André
Quintão)

(62) Desde já parabenizo o prefeito Leone Maciel pelo trabalho que vem fazendo à
frente da nossa Prefeitura de Sete Lagoas, em prol da valorização do ser humano,
em primeiro lugar, e da valorização do funcionalismo, e por tudo aquilo, prefeito,
que tenho certeza que o senhor vai conseguir fazer. (MG17M-Douglas Melo)

(63) Em hipótese alguma, os seres humanos são melhores do que os outros; são
absolutamente diferentes. (RS11M-Miki Breier)

4.1.5.3 gente

O item gente apresentou 41 ocorrências nos dados analisados no estudo, representando


um total de 2,9% de todos os usos classificados como não sexistas. Importante destacar, com
relação a esse nome, que sua frequência de modo geral nos dados foi sensivelmente maior.
Contudo a forma nominal gente coocorre, no português brasileiro, com a expressão pronominal
de 1ª pessoa do plural a gente. Assim, as 41 ocorrências contabilizadas referem-se apenas à
forma nominal.
Essa relação entre as formas nominais e pronominais na língua cria uma disputa entre
os itens lexicais, o que leva, então, a um menor uso da forma gente quando comparada a outros
NG [+hum]. Informações a respeito do processo de gramaticalização do nome gente em uma
estrutura pronominal são apontados por Lopes (2004), que indica essa disputa entre as duas
formas.
Os exemplos (64) a (66) representam alguns dos usos observados nos dados do item
gente:

(64) Como poderão atender mais gente se a ideia é só reduzir o teto de 40 para 20 ou
30? (RS11M-Giovani Feltes)
85

(65) Emenda, gente, não é para o deputado; é para uma prefeitura ou para uma
associação; [...] (MG17M-Arlen Santiago)

(66) Finalizo pedindo a Deus que abençoe o Rio Grande do Sul, os empresários e os
empreendedores e seus empregados e a toda a gente do nosso amado Rio Grande.
(RS17F-Liziane Bayer)

O nome gente foi observado em diferentes posições sintáticas. O exemplo (64) apresenta
um uso do nome geral em posição de complemento de verbo. Já o exemplo (65) apresenta um
uso do item gente em contexto sintático de vocativo, que é dirigido a um conjunto de pessoas
cujos sexos não podem ser identificados, essa é uma estratégia produtiva para o contexto de uso
de uma linguagem não sexista. Outras posições sintáticas são observadas, porém seu uso como
sujeito da oração pouco ocorreu, possível influência da concorrência com a forma pronominal
a gente.
Vale comentar, também, o exemplo (66), em que é possível observar o item empregado
antecedido de artigo definido a sem que a construção, a gente, seja interpretada como uso
pronominal, pois a estrutura sintática também traz o pronome indefinido toda como
determinante e o sintagma preposicionado do nosso amado Rio Grande como modificador do
item gente. Esse caso da construção sintática a gente não pronominal foi a única ocorrência do
tipo observada nos dados.
Com relação à distribuição de gente, houve um aumento de seu uso no estado de Minas,
passando de 9 para 21 ocorrências entre 2011 e 2017. Já para o Rio Grande do Sul, a variação
foi apenas de 4 para 7 dados no mesmo período.
Vale destacar que os resultados encontrados para o nome gente nesta pesquisa vão de
encontro aos valores abordados por Amaral (2013a), que analisou dados orais coletados em
entrevistas sociolinguísticas realizadas em Minas Gerais. Segundo o autor, em seu estudo, o
nome gente apresentou elevada frequência de uso, cenário não observado entre os dados
analisados. Esse contraste entre as pesquisas está possivelmente relacionado ao caráter mais
formal dos dados deste trabalho, pois, embora tenham sido extraídos de falas, o contexto de
produção dos discursos mostra-se como um contexto formal, com elevado nível de consciência
dos e das parlamentares, o que pode vir a impedir ocorrências que se aproximem de uma fala
vernacular.
86

4.1.5.4 pessoal

O item lexical pessoal apresenta 63 ocorrências nos dados, representando um montante


de 4,4% dos usos não sexistas. Assim como o nome gente, as ocorrências de pessoal
selecionadas para o estudo não contemplam os seus usos em totalidade, apenas foram
selecionadas as ocorrências em contextos de referência a grupos de seres humanos. Os
exemplos (67) e (68) indicam usos selecionados, já os exemplos (69) e (70) ilustram casos
desconsiderados, pois referem-se a usos como adjetivos:

(67) Não devemos combater simplesmente o radar porque o pessoal está sendo multado,
mas, sim, combater o excesso de velocidade [...] (MG11M-Paulo Lamac)

(68) Se terminassem, todo esse pessoal do SUS, todos esses pobres, aqueles carentes
[...] (MG17M-Bonifácio Mourão)

(69) Vamos trazer os debates das questões realmente políticas e administrativas,


deixando a vida pessoal, como o nome bem diz, de lado. (MG11m-Rômulo
Viegas)

(70) Portanto, que cumpram bem esse papel e se realizem em plenitude pessoal,
atendendo os apelos e a confiança do povo [...] (MG11M-Doutor Viana)

O nome pessoal apresentou uso crescente nos dois estados entre os anos de 2011 e 2017.
Para o estado mineiro, o crescimento foi de apenas uma ocorrência, de 18 para 19 dados. Porém,
no estado gaúcho, o número de usos contabilizados foi de 6 para 20 ocorrências. Considerando
a proximidade dos valores encontrados em 2017, pode-se apontar que o nome pessoal tem sido
usado, aparentemente, de forma estável como estratégia na nomeação de grupos de seres
humanos, sobretudo para rotular grupos específicos, como se vê no exemplo (68) pessoal do
SUS.

4.1.5.5 povo

O nome geral povo é o segundo mais frequente, com um total de 351 ocorrências,
representando, portanto, 24,4% de todos usos classificados como não sexistas. Importante
retomar que, assim como o nome pessoa(s), o alto número de ocorrências desse item poderia
vir a influenciar os indicativos de variação ou mudança no fenômeno estudado, por isso se
julgou essencial que fossem realizadas as diferentes formas de análise dos dados conforme visto
nas seções anteriores.
87

A alta frequência desse nome, bem como a sua tendência de aumento de uso, mostra-
se análoga nos dois estados. Em Minas, o crescimento foi de 14,1% no uso dos itens, de 92 para
105 ocorrências entre 2011 e 2017. Já para o estado do Rio Grande do Sul, a alteração de usos
foi de 49 para 105 ocorrências, ou seja, um crescimento de 114,3%. Os altos valores expressos
pelo nome povo têm relação direta com o tipo de material estudado pela pesquisa: é comum que
os interlocutores e interlocutoras utilizem esse nome em pronunciamentos políticos como forma
de se referir, de modo amplo, a conjuntos de pessoas – homens, mulheres, adultos e crianças -
uma vez que esse nome mantém relação de sentido muito próxima com questões políticas
conforme abordado no capítulo 2 pelas ideias de Pereira (2014) e o percurso histórico-político
do nome povo.
Além disso, o nome geral povo apresenta uma alta capacidade denotativa de referentes,
podendo ocupar contextos sintáticos diversos, acompanhado ou não de modificadores. Os
exemplos (71) a (74) ilustram tais usos.

(71) Queria dizer que, embora seja até cansativo, exaustivo, maçante mesmo, é
necessário relembrar ao povo de Minas, porque muitos têm memória curta, que
herdamos um governo quebrado [...] (MG17M-André Quintão)

(72) [...] e o povo é quem decide, mas Sete Lagoas vai continuar escrevendo história
[...] (MG17M-Douglas Melo)

(73) [...] quando se coloca em risco questões de vida do povo gaúcho, é necessário um
nível de prudência e de diálogo. (RS11F-Marisa Formolo)

(74) [...] vota sim para todas as matérias que prejudicam o povo trabalhador [...]

4.1.5.6 pessoa(s)

O nome geral pessoa(s) mostra-se como o item mais frequente, não somente entre os
NG [+hum], mas também entre os demais itens analisados nesta pesquisa. Esse nome
apresentou um total de 506 ocorrências, representando 35,2% das ocorrências não sexistas. No
estado de Minas Gerais, esse nome mantém a tendência dos demais nomes gerais, com exceção
de ser(res) humano(s), apresentando crescimento. O uso de pessoa(s) cresceu de 125 para 200
ocorrências no estado mineiro entre 2011 e 2017, uma mudança de 60% entre os dois anos.
No estado do Rio Grande do Sul, por outro lado, o item pessoa(s) apresenta uma redução
no número de ocorrências no período analisado. O número de usos passa de 110 em 2011 para
71 em 2017, o que representa uma redução de 35,5% na sua frequência. Essa redução na
88

quantidade de usos do nome pessoa(s) tira dele a posição de item mais frequente entre os NG
[+hum] nesse contexto, ocupada pelo nome povo.
A grande frequência desse item relaciona-se ao elevado grau de gramaticalização em
que esse nome se encontra. Estudos apontados anteriormente no capítulo 2, como de Amaral e
Ramos (2014), Amaral (2013a, 2013b, 2017) ou Amaral e Mihatsch (2016), já tratam de modo
mais detalhado a respeito desse nome, que representa, entre os nomes gerais para referência a
seres humanos, talvez o exemplo prototípico de uso de formas nominais para indeterminação
dos referentes sobre os quais se fala (AMARAL, 2013a). Sendo assim, o elevado número de
ocorrências do nome pessoa como estratégia de referência a homens e mulheres (uso não
sexista) é reflexo dos processos de mudança pelos quais esse item passa, o que o coloca como
uma das principais variantes para substituição do uso do masculino genérico.

4.1.6 Médias de usos por parlamentares

Com objetivo de compreender a distribuição dos usos considerados sexistas e não


sexistas entre os/as parlamentares da pesquisa, serão apontados os cálculos das médias de cada
um desses tipos de usos por parlamentar. A análise das médias se dará pela divisão de deputados
e deputadas em dois grupos: parlamentares com mandatos nas duas legislaturas (2011 e 2017),
e parlamentares com apenas um mandato (2011 ou 2017), a fim de avaliar a influência dos
indivíduos, reeleitos entre as legislaturas ou eleitos apenas em uma delas.

4.1.6.1 Parlamentares da ALMG

A partir das informações relacionadas na tabela 21 do Apêndice D, pôde-se apontar os


dois grupos, o primeiro sendo aquele que relaciona todos os deputados ou deputadas que
tiveram mandatos nas duas legislaturas estudadas (17 parlamentares), e o segundo grupo
formado por parlamentares com apenas um mandato, ou em 2011, ou em 2017 (48
parlamentares). Seguindo essa divisão, foi feito o cálculo das médias de usos realizados
(sexistas ou não), cujos resultados estão organizados nas tabelas 11 e 12:
89

Tabela 11 – Médias de usos entre parlamentares com mandatos em duas legislaturas (ALMG)

Minas Gerais
2011 2017
Sexista 16,0 28,8
Não sexista 9,7 15,4
Fonte: o autor.

Tabela 12 – Médias de usos entre parlamentares com mandato em uma legislatura


(ALMG)

Minas Gerais
2011 2017
Sexista 11,1 14,5
Não sexista 7,4 16,1
Fonte: o autor.

A partir das informações apontadas, tanto na tabela 11 quanto na tabela 12, nota-se que
a variação média de usos considerados sexistas e também não sexistas apresentou crescimento
no estado mineiro. Contudo, nota-se que, entre os/as parlamentares com mandatos nas duas
legislaturas, o crescimento de usos sexistas destaca-se como maior quando comparado com o
crescimento entre parlamentares com apenas um mandato. Por outro lado, ao se considerar os
usos classificados como não sexistas, a variação entre os deputados e deputadas com apenas
um mandato se mostra maior. Desse modo, é possível supor uma possível influência das pessoas
eleitas para a 18ª legislatura (2014-2018) no uso de uma linguagem mais inclusiva, pois eles
apresentam menor uso de variantes sexistas e maior uso de variantes não sexistas, ainda que os
usos sexistas também tenham crescido entre esses indivíduos.
A fim de refinar esses valores, as tabelas 13 e 14 apresentam os cálculos das médias,
igualmente estratificados, porém desconsiderados os valores referentes ao uso dos nomes
gerais. Esse recorte permite compreender o uso de uma linguagem inclusiva sem o emprego
dos NG [+hum] como estratégia.
90

Tabela 13 – Médias de usos entre parlamentares com mandatos em duas legislaturas


desconsiderados os NG [+hum] (ALMG)

Minas Gerais
2011 2017
Sexista 16,0 28,8
Não sexista 3,5 5,2
Fonte: o autor.

Tabela 14 – Médias de usos entre parlamentares com mandato em uma legislatura


desconsiderados os NG [+hum] (ALMG)

Minas Gerais
2011 2017
Sexista 11,1 14,5
Não sexista 4,7 5,2
Fonte: o autor.

Os valores médios de usos considerados sexistas expressos nas tabelas 13 e 14 se


mantêm invariáveis pois a retirada dos NG [+hum] modifica apenas os usos não sexistas. A
variação nos usos considerados inclusivos apresenta uma tendência similar aos valores médios
quando considerados os nomes gerais, porém o crescimento das médias entre os dois anos
mostra-se menor, influenciada pela forte presença dos NG [+hum] como estratégia usada.
É possível ressaltar, portanto, que as tendências de variação e mudança indicadas
anteriormente neste capítulo continuam e se confirmam pela análise das médias,
independentemente do grupo de parlamentares (um ou dois mandatos). Em Minas Gerais, os
valores relativos a usos inclusivos, isto é, usos não sexistas, apresentam crescimento de um
período ao outro (variação impulsionada sobretudo pelo uso de NG [+hum]). Todavia o uso de
uma linguagem classificada como sexista também tende a crescimento no estado entre todos e
todas parlamentares, o que pode ser avaliado como uma menor preocupação sobre o uso de uma
linguagem menos sexista.

4.1.6.2 Parlamentares da ALRS

Esta seção abordará os mesmos recortes propostos na seção anterior, focalizando,


contudo, os dados referentes aos deputados e deputadas do estado do Rio Grande do Sul. Ao
91

final será possível uma comparação entre os resultados dos dois estados. A tabela 22 do
apêndice E apresenta os valores de usos, sexistas e não sexistas, estratificados por parlamentares
e que serviram para o cálculo das médias analisadas.
O total de deputados e deputadas com mandatos nas duas legislaturas foi de 15
parlamentares no estado gaúcho, já os/as parlamentares com apenas um mandato, 2011 ou 2017,
foram um total de 55 parlamentares. As tabelas 15 e 16 apresentam os cálculos das médias dos
usos, isolados parlamentares com dois ou um mandato, respectivamente:

Tabela 15 – Médias de usos entre parlamentares com mandatos em duas legislaturas (ALRS)

Rio Grande do Sul


2011 2017
Sexista 14,7 11,2
Não sexista 5,1 6,9
Fonte: o autor.

Tabela 16 – Médias de usos entre parlamentares com mandato em uma legislatura


(ALRS)

Rio Grande do Sul


2011 2017
Sexista 10,3 11,3
Não sexista 6,5 11,2
Fonte: o autor.

A partir dos valores observados nas tabelas 15 e 16, pode-se verificar, pelas médias dos
usos, um cenário que corrobora as informações apresentadas anteriormente de que, de modo
geral, os dados do Rio Grande do Sul apontam para um aumento do emprego de estratégias
consideradas não sexistas, acompanhado de uma redução, ainda que pequena, de usos não
inclusivos, ou seja, sexistas.
Entre os deputados e deputadas com mandatos nas duas legislaturas, nota-se uma
sensível redução nas ocorrências sexistas, acompanhada de um pequeno crescimento nos usos
não sexistas. Já entre os/as parlamentares com apenas um mandato, nota-se um pequeno
crescimento nos usos sexistas (uma diferença de 1,0 nas médias), porém, esses mesmos
indivíduos representam um aumento considerável na média de usos não sexistas (uma diferença
de 4,7 usos a mais por indivíduo entre 2011 e 2017). Essa variação indica a forte presença de
92

uma preocupação, entre os/as parlamentares eleitos para a 54ª legislatura da ALRS (2014-
2018), no uso de uma linguagem que represente uma igualdade de gêneros.
Assim como realizado com os dados mineiros, as tabelas 17 e 18 contêm as médias de
usos calculadas sem que fosse considerado o uso dos NG [+hum]:

Tabela 17 – Médias de usos entre parlamentares com mandatos em duas legislaturas


desconsiderados os NG [+hum] (ALRS)

Rio Grande do Sul


2011 2017
Sexista 14,7 11,2
Não sexista 2,0 4,1
Fonte: o autor.

Tabela 18 – Médias de usos entre parlamentares com mandato em uma legislatura


desconsiderados os NG [+hum] (ALRS)

Rio Grande do Sul


2011 2017
Sexista 10,3 11,3
Não sexista 3,0 4,9
Fonte: o autor.

A retirada dos nomes gerais do cálculo dos usos médios por parlamentares pouco altera
a tendência de variação apresentada pelos dados do estado gaúcho, mantém-se o crescimento
das estratégias não sexistas entre indivíduos com dois e com um mandato. Essa variação,
contudo, mostra-se mais evidente entre os deputados e deputadas que se reelegeram entre as
duas legislaturas (ainda que uma diferença média de aumento de apenas 0,2 usos entre os dois
grupos), situação oposta quando considerados os nomes gerais (tabelas 15 e 16), em que os/as
parlamentares eleitos apenas para a 54ª legislatura apontam maior uso da linguagem inclusiva.
Essa alteração indica que o uso dos NG [+hum] como estratégia de nomeação de homens e
mulheres está mais presente entre esses novos indivíduos eleitos, enquanto o uso das demais
estratégias não sexistas é observado de modo muito próximo entre todas e todos parlamentares.
A comparação dos valores analisados com os aqueles expressos para o estado de Minas
Gerais, na seção 4.1.6.1, indica que, no estado mineiro, embora as médias de usos não sexistas
tenham apresentado resultados mais altos quando comparadas de um ano ao outro, parece haver
93

uma menor preocupação com a adoção de uma linguagem mais inclusiva entre homens e
mulheres nos pronunciamentos realizados, pois há, também, um expressivo aumento de usos
considerados sexistas, principalmente entre parlamentares que foram reeleitos entre as duas
legislaturas estudadas. Por outro lado, esse cenário mostra-se sensivelmente diferente para os
dados do Rio Grande do Sul, em que, apesar de as médias apontarem valores menos
expressivos, há uma redução de usos sexistas entre aqueles indivíduos que se reelegeram de um
mandato ao outro.
Dessa forma, a análise proposta permite reafirmar os resultados apontados nas seções
anteriores sobre como o estado gaúcho tem apresentado uma tendência de mudança mais
acentuada quando comparado ao estado mineiro, resultado possivelmente reflexo das políticas
de inclusão e de igualdade de gêneros disseminadas pelo governo do Rio Grande do Sul,
tomadas nesta pesquisa pela existência do MUNSL (TOLEDO et al., 2014) no estado gaúcho.

4.2 Análise qualitativa

Nesta seção, serão apresentadas as análises qualitativas realizadas a partir do recorte no


conjunto de dados conforme critérios apontados e comentados na seção 3.3 do capítulo anterior.
As análises ocorreram pela leitura, na íntegra, dos pronunciamentos realizados pelos deputados
e deputadas. Essa etapa permitiu que fosse verificada, diretamente nos contextos de usos, a
aplicação das estratégias não sexistas para referência a homens e mulheres de modo simultâneo,
possibilitando uma compreensão mais clara do contexto de uso das variantes mencionadas ao
longo desta pesquisa e de outras variantes que foram identificadas.
A partir da leitura dos textos, foi possível reconhecer diferentes estratégias, que foram
classificadas em grandes grupos. Entre as estratégias não sexistas observadas nos textos, estão
aquelas já exemplificadas ao longo de toda seção 4.1, como o uso de NG [+hum], a presença
de duplicação de nomes e de duplicação de determinantes de nomes, etc. Identificou-se,
também, a presença de outras estratégias, como o uso de nomes sem marcas morfológicas de
gênero gramatical que identifique o sexo dos referentes, nomes representativos de conjuntos ou
grupos, aplicação de pronomes, etc. As estratégias observadas serão relacionadas e analisadas
a seguir.
94

4.2.1 Nomes sem marca morfológica que identifique o sexo dos referentes

Um conjunto de ocorrências observadas nos pronunciamentos foi classificado como


nomes que, em sua estrutura morfológica, não apresentam morfemas flexionais de gênero, isto
é, morfema que faça oposição entre masculino e feminino para identificação dos referentes. Os
exemplos (75) a (77) ilustram parte dessas ocorrências:

(75) Quem trabalha com criança e adolescente entende que esses não podem ser
utilizados como mercado nem preço por esse consumismo do sistema capitalista.
(MG11F-Liza Prado)

(76) Pois este Estado, que gasta quase tudo com folha de pagamento, não tem policiais
militares em número suficiente, não tem policiais civis em número suficiente, não
tem eventualmente profissionais das áreas mais importantes para a população em
número suficiente. (RS17M-Gabriel Souza)

(77) Manifesto a minha alegria de integrar este seleto grupo de representantes do povo,
77 Deputados e Deputadas. (MG11F-Luzia Ferreira)

Os nomes destacados nos exemplos acima são classificados, pelas definições da GT,
como substantivos comuns de dois gêneros, isto é, são nomes que não possuem morfema
flexional de gênero, porém podem indicar, pela flexão de determinantes ou modificadores, uma
representação do sexo dos referentes42. Esses nomes, quando empregados sem a presença de
determinantes ou modificadores, portanto, podem ser entendidos como estratégia não sexista
de referência a grupos de seres humanos, assim como observado nos exemplos extraídos dos
dados analisados.
Nas análises quantitativas realizadas na seção 4.1 deste capítulo, nomes considerados
comuns de dois gêneros desacompanhados de determinantes não foram contabilizados, pois
havia, naquele momento, uma dificuldade de classificação mais clara desses itens. Porém, no
momento de leitura qualitativa dos textos, foi possível observar que essa é uma estratégia
produtiva para construção de referência a grupos formados por homens e mulheres, sendo,
então, uma estratégia não sexista válida e possível de ser utilizada pelos falantes, o que nos
levou a considerá-la como relevante para se pensar a elaboração de um uso menos sexista da
língua.

42
Exemplo observado na análise e que representa um uso sexista desse tipo de nome: “[...] na medida em que há
uma greve instalada no Estado e que está prejudicando não o governo do Sartori ou os deputados da base, mas sim
os estudantes gaúchos”. (RS17M-Gabriel Souza).
95

Outras ocorrências identificadas nos dados são aquelas em que há um uso de nomes
classificados, também por uma perspectiva da GT, como substantivos sobrecomuns. Os
substantivos sobrecomuns, assim como dos nomes comuns de dois gêneros, não apresentam
morfema flexional de gênero que identifique o sexo dos referentes. Contudo esses itens não
apresentam a possibilidade de que essa identificação ocorra pela flexão de determinantes ou
modificadores, uma vez que, para esses nomes, a concordância entre os elementos do sintagma
nominal ocorre sempre com relação ao gênero gramatical do núcleo. Foram identificados
apenas dois itens lexicais nesse sentido. Os exemplos (78) a (80) ilustram esses casos:

(78) Onde está o leite das crianças do Norte de Minas? (MG17M-João Leite)

(79) Parabenizo-o, e estamos aguardando a resposta desse acinte contra as crianças


brasileiras, especialmente as que foram criadas nos nossos lares, com valores tão
importantes. (MG11M-João Leite)

(80) A segunda é que temos de parar de produzir vítimas. (RS17F-Manuela D'Ávila)

O item lexical criança, e seu plural crianças, apresentou uma presença expressiva nos
textos lidos, algo em torno de 29 ocorrências registradas, por outro lado, o item vítimas,
exemplo (80), apresentou apenas essa ocorrência no recorte analisado.
O uso dos nomes descritos não foi uma estratégia identificada entre todos deputados e
deputadas. Nas falas da deputada Ana Affonso, da ALRS, não foi possível identificar qualquer
aplicação dessas estratégias de referência a homens e mulheres.

4.2.2 Duplicações

Uma sugestão de uso não sexista da língua, prescrita pelo MUNSL (TOLEDO et al.,
2014) e também presente em outras obras similares, é a duplicação dos itens lexicais ao serem
usados nos textos. Nessa situação, um nome ou o determinante de um nome será utilizado em
suas formas masculina e feminina.
As duas situações propostas foram identificadas nos dados e representam a estratégia de
uso não sexista com maior número de aplicações dentro do recorte analisado, apresentando um
total de 100 usos aproximadamente. Os exemplos (81) a (83) indicam duplicações de nomes:

(81) Vou terminar, presidente, dizendo o seguinte: a crise fiscal de Minas, crônica,
herdada do governo anterior, não pode ter como solução cair o ônus do sacrifício
nas costas de cada mineiro e de cada mineira. (MG17M-André Quintão)
96

(82) Mas, vendo que há aqui muitos professores e muitas professoras, queria pedir a
vocês que entrem no site da Assembleia Legislativa e deem uma olhada no plano
proposto pelo governo; vejam como ele entra naquilo que pertence à escola, não
ao governo. (MG17M-João Leite)

(83) Mais um dado, senhoras e senhores da Lava Jato, atrizes e atores daquele
malfadado filme: vocês sabem quanto o governo arrecadou com o último leilão?
(RS17-Tarcisio Zimmermann)

O exemplo (84) representa um uso interessante da estratégia de duplicação dos nomes:

(84) Este Parlamento tem que ter essa visão, uma visão máxima e não uma visão estreita
daquilo que é legal, daquilo que é constitucional e daquilo que pode ser dúvida na
cabeça dos parlamentares, homens e mulheres que estão aqui esta noite.
(RS11F-Ana Affonso)

Há, no contexto acima, o uso de uma estratégia aparentemente sexista, pela aplicação
do masculino genérico os parlamentares, porém há também a presença de um aposto
explicativo que, pela duplicação entre os nomes homens e mulheres, apresenta um recorte no
grupo de parlamentares, demarcando diretamente a existência de um grupo misto de pessoas.
Esse tipo de construção foi considerado como um uso não sexista entre os dados analisados,
tanto no recorte qualitativo quanto nas análises quantitativas.
A duplicação direta do item nominal expõe, talvez, uma das estratégias mais
representativas na tentativa de inclusão de uma linguagem que marque a presença da mulher no
discurso, pois é por meio da efetiva nomeação da mulher, nas formas femininas, que há um real
reconhecimento de seu papel no texto, na língua e no contexto social.
Ademais, a duplicação apenas dos determinantes foi observada tanto em nomes comuns
de dois gêneros, exemplo (85), quanto em nomes com morfemas flexionais de gênero, exemplos
(86) e (87):

(85) Aqui estão os nossos atletas e as nossas atletas. Isso me deixa emocionado. Vocês
estão vencendo obstáculos intransponíveis, porque sequer uma pista homologada
há no Estado de Minas Gerais, neste gigante da federação brasileira. (MG17M-
João Leite)

(86) Quantos servidores e servidoras vão se empenhar para que haja a recuperação
daquela ou daquele acidentado? (MG17M-João Leite)

(87) Portanto, Sras. e Srs. Deputados, faço aqui um apelo pela magnitude que tem o
projeto que estamos aprovando. (RS11F-Ana Affonso)
97

Os casos em que a duplicação de formas lexicais ou gramaticais ocorreu apenas no


determinante foram predominantemente marcados pelo uso dos pronomes de tratamento
senhor(es) e senhora(s), acompanhando os nomes deputado(s) ou parlamentar(es). Esse tipo
de uso foi mais evidente entre os deputados e deputadas do estado do Rio Grande do Sul, com
apenas 3 ocorrências identificadas nos dados mineiros. Essa diferença entre as localidades
representa uma maior preocupação com a efetivação e a eficácia de uma política linguística,
estando o estado gaúcho, na figura de suas e seus parlamentares, mais preocupado com o uso
inclusivo da língua. Além disso, com relação ao seu posicionamento no texto, esses usos foram
identificados de modo majoritário nos momentos iniciais ou finais43 dos pronunciamentos.
O uso da estratégia de duplicação, do nome ou apenas dos determinantes, foi
identificado entre todos os deputados e deputadas analisados neste recorte qualitativo dos
dados, apresentando uma presença um pouco mais expressiva entre os/as parlamentares do
estado gaúcho, com aproximadamente 61 usos duplicados diante de 40 usos para os dados
mineiros. Destaca-se, contudo, que esses apontamentos numéricos não podem ser tomados
como absolutos ou conclusivos, uma vez que não há, no recorte proposto, um balanceamento
direto na quantidade total de dados visando a um equilíbrio da amostra, já que esse não foi o
objetivo proposto para esse recorte.

4.2.3 Conjuntos de seres humanos

Alguns itens lexicais não analisados pelo recorte quantitativo foram identificados e
classificados como nomes para referência a conjuntos, ou grupos, de pessoas com algum tipo
de relação entre si, isto é, grupos de seres humanos identificáveis por alguma referência em
comum partilhada entre eles. Embora alguns desses nomes tenham se mostrado suficientemente
frequentes para integrarem a análise quantitativa, eles não compuseram tal recorte devido à
dificuldade de classificação desses nomes nessa etapa da pesquisa. Com a leitura qualitativa,
porém, foi possível compreender melhor o uso contextualizado desses nomes e seu
funcionamento direto como estratégia não sexista de uso da língua. Os nomes classificados
como de referência a conjuntos serão exemplificados e comentados a seguir:

43
Foram considerados momentos iniciais ou finais, respectivamente, os trechos em que o deputado ou a deputada
saúda a mesa e apresenta o assunto discursado, e quando há direta e explícita despedida e encerramento.
98

4.2.3.1 classe trabalhadora

O sintagma nominal a classe trabalhadora foi identificado nos textos como uma forma
de se referir a um conjunto de trabalhadores e/ou trabalhadoras sem que fosse empregado o
masculino genérico ou se recorresse ao uso de duplicações. Foram identificados dois casos,
exemplos (88) e (89):

(88) Mas, democraticamente, respeito aqueles que pensam diferente, aqueles que
querem o Estado mínimo, aqueles que querem sanear as finanças em cima da
aposentadoria dos mais pobres, em cima do emprego dos mais pobres, em cima
da classe trabalhadora. (MG17M-André Quintão)

(89) Aqui em Minas o ajuste fiscal não vai recair nas costas dos mais pobres e da classe
trabalhadora. (MG17M-André Quintão)

4.2.3.2 corpo técnico

Foi encontrado, no recorte qualitativo, um uso da expressão corpo técnico. Esse uso foi
considerado uma estratégia não sexista, pois ele é capaz de evitar o uso do item lexical
técnico(s), caso de masculino genérico e que incide com alta frequência nos dados estudados.
Assim, a expressão corpo técnico, com referência a um conjunto de pessoas, é capaz de evitar
a marcação de um recorte do sexo dos referentes que compõem esse grupo. O exemplo (90)
refere-se à ocorrência analisada:

(90) O que está escondido aqui, pergunto aos senhores e às senhoras, atrás de um
financiamento de mais de 645 milhões de reais que tem uma contrapartida de mais
de 300 milhões de reais e que não pode ser mostrado para o corpo técnico da
empresa Corsan? (RS17M-Tarcisio Zimmermann)

4.2.3.3 direção

O nome direção tem uso comum na língua para referência a um conjunto de pessoas
que dirigem um determinado negócio, empresa ou outra estrutura organizacional. Esse nome
foi identificado uma única vez no recorte proposto, o exemplo (91) indica esse uso:

(91) Mais do que isso, junto com a carta, pedem, respeitosamente, à direção da Corsan,
que proporcione às áreas técnicas a oportunidade de conhecer esses projetos.
(RS17M-Tarcisio Zimmermann)
99

O uso do item direção mostra-se como uma alternativa ao nome masculino diretores
para referência a um conjunto de pessoas que compõem uma diretoria, que pode ser formada
por homens ou mulheres. Importante comentar, entretanto, que, em alguns contextos, o nome
direção pode ser empregado com uma acepção abstrata, sem fazer referência a seres humanos.
Nesses contextos, o item refere-se à noção de administração ou gestão de empresas, por
exemplo.

4.2.3.4 equipe

Foi identificado o uso do item lexical equipe para se referir a um conjunto de pessoas
que trabalham em determinado local. No contexto analisado, o nome é aplicado para se referir
às pessoas que atuam como funcionários e funcionárias das assembleias legislativas e que
compõem um grupo de trabalhadores e trabalhadoras relacionado a um determinado deputado
ou deputada. O exemplo (92) indica trecho com a aplicação dessa estratégia:

(92) Este ano, a Procuradoria da Mulher desta Casa, pela primeira vez, a partir da nossa
equipe técnica formada por funcionários da Assembleia e a equipe do meu
gabinete como procuradora, realizamos um estudo sobre a lei orçamentária e
apresentamos uma série de emendas ao orçamento – e torcemos para que a
relatora, uma mulher, a deputada Liziane Bayer, as acolha – que tiram dinheiro da
publicidade e que visam ao investimento na rede de proteção à violência contra as
mulheres, a Rede Lilás. (RS17F-Manuela D'Ávila)

No exemplo, é possível notar que, embora o uso do nome equipe seja retomado, e tenha
seu sentido delimitado, em seguida, pela aplicação de um masculino, funcionários, ainda assim
podemos identificar esse uso como referência a um grupo possivelmente formado por homens
e mulheres. Essa análise é permitida uma vez que a deputada, ao usar o nome equipe, refere-se
a um conjunto de pessoas que trabalham com projetos, ações e políticas voltadas para as
mulheres. Espera-se, dessa forma, que esse seja um grupo composto majoritariamente por
mulheres, já que essa é uma situação comum nesses tipos de equipes.
Todavia faz-se necessário destacar que o nome equipe tem um sentido próprio, isto é,
esse nome é aplicado em contextos para se referir sempre a um conjunto de pessoas que, juntas,
trabalham para determinado fim. Assim, embora esse nome possa ser usado para referência a
conjuntos mistos de homens e mulheres, ele não será necessariamente sempre empregado como
100

uma estratégia que evite o uso de algum nome masculino. O recorte visto no exemplo (92)
acima ilustra um contexto em que a referência não sexista é passível de interpretação.

4.2.3.5 humanidade

O nome humanidade foi empregado no recorte analisado como forma de se referir ao


conjunto de todos os seres humanos em geral. Esse item, em outros usos, poderia se referir a
características daqueles que são seres humanos, isto é, ao fato de as pessoas serem humanas.
Os exemplos (93) e (94) ilustram o uso desse nome como uma estratégia não sexista:

(93) Quando o debate é político, há, de um lado, aqueles que defendem o Estado
mínimo, o Estado omisso, o Estado que não provê direitos sociais, com a lógica
de que o mercado resolve tudo, de que o capitalismo é o último estágio
civilizatório da humanidade, de que o problema da pobreza é das pessoas; e
defendem o governo da tesoura – corta, corta, corta, corta, corta –, porque o Brasil
já está voltando com o mapa da fome, com desemprego de 12 milhões, 13 milhões,
com mais de 5 milhões de pessoas em pobreza extrema. (MG17M-André Quintão)

(94) Apesar de ser a primeira vitória, não vencemos ainda a guerra, mas ela mostra que
é possível vencer essas forças. A história da humanidade não caminha para as
trevas. (MG17M-João Leite)

Os usos nos exemplos são aplicações de uma estratégia que substitui o masculino
genérico o(s) homem(ns), forma de referência prevista pela GT e muito comumente aplicada
em contextos similares.

4.2.3.6 juventude

O nome juventude é observado nos dados como estratégia de referência a um conjunto


de pessoas com uma determinada faixa etária, jovens (homens ou mulheres). No contexto de
uso do exemplo (95), há a construção de uma referência a um conjunto de pessoas, adolescentes,
que participam de jogos olímpicos estudantis.

(95) Certamente esse trabalho que está realizando para o esporte de Minas Gerais
contribuirá bastante para as pessoas que realmente torcem para que tenhamos não
só a Olimpíada e uma jogada temporária, mas também políticas públicas
destinadas a essa juventude que tem ligação com o esporte. (MG11F-Liza Prado)
101

Já no contexto do exemplo (96), a fala da deputada refere-se a um projeto de lei ligado


a políticas públicas de combate ao consumo de drogas, fazendo menção aos altos índices de
jovens acometidos ou acometidas pelo vício em entorpecentes. Assim, a aplicação do nome
juventude substitui o que poderia ser um uso sexista como jovens gaúchos.

(96) Imagino, companheiro, o que representa esse projeto para a juventude gaúcha.
(RS11F-Ana Affonso)

4.2.3.7 liderança

O uso do nome liderança(s), conforme exemplos de (97) e (98), aponta para uma
interpretação ambígua. É possível afirmar que o nome esteja empregado como uma estratégia
não sexista que evita a utilização do masculino genérico os líderes, caso que pode ser notado
no exemplo (97).

(97) Eu estava na audiência, e um exemplo de falta de austeridade levantada foi a


realização dos fóruns regionais, um espaço onde a população, movimentos sociais,
lideranças, prefeitos e vereadores definem as prioridades. (MG17M-André
Quintão)

Contudo a utilização desse nome pode indicar a referência não necessariamente a seres
humanos, mas a funções e a posicionamentos de líderes dentro da organização da assembleia
legislativa. O exemplo (98) representa um uso desse tipo:

(98) Pois quero saudar aqui a iniciativa das bancadas, das lideranças: a deputada Stela
Farias, líder da bancada do meu partido, o Partido dos Trabalhadores; a deputada
Manuela d’Ávila, líder do PCdoB; o deputado Pedro Ruas, líder do PSOL; e a
deputada Juliana Brizola, que lança uma nota que diz exatamente isto, que a
posição da Secretaria do Tesouro Nacional desmente Sartori [...] (RS17M-
Tarcisio Zimmermann)

De acordo com informação do site da ALMG, as lideranças são formadas por líderes. O
líder “é o porta-voz de uma bancada e atua como intermediário dela junto aos órgãos da ALMG.
Os líderes da Maioria, da Minoria, das bancadas e dos blocos parlamentares formam o Colégio
de Líderes (artigo 73 do Regimento Interno)”44. O uso do nome liderança, nesses contextos,
portanto, não representa uma estratégia não sexista de uso da língua.

44
Informação do site da Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais, disponível em:
<https://www.almg.gov.br/deputados/liderancas/index.html>. Acesso em: 16 dez 2018.
102

A despeito das diferentes possibilidades de uso do nome liderança(s), sobretudo no


contexto de termos técnicos das casas legislativas, o seu emprego, como forma de se evitar um
uso considerado sexista, é uma estratégia válida e prevista pelo manual de redação MUNSL
(TOLEDO et al., 2014).

4.2.3.8 mocidade

Assim como o nome juventude, o item mocidade foi identificado como um uso de
referência a um grupo de seres humanos caracterizados por uma determinada idade: jovens,
homens ou mulheres. No contexto observado, esse nome se refere ao momento da adolescência
de um conjunto de pessoas, sendo aplicado em contexto que poderia ser ocupado pelo
masculino genérico os nossos jovens. O exemplo (99) aponta esse uso:

(99) Existem outros apelos colocados permanentemente, diferentes dos apelos que vocês
ouviram. Vocês tiveram o apoio da família, do treinador para que continuassem em
frente. Não parem. Sejam exemplo excelente para a nossa mocidade. (MG17M-
João Leite)

4.2.3.9 oposição

A identificação do nome oposição como uma estratégia de uso não sexista da língua
mostrou-se, como o nome liderança, um uso ambíguo, porém ainda válido como forma de
evitar o uso de itens lexicais classificados como sexistas. O nome, como visto no exemplo (100),
pode se referir tanto a um grupo de pessoas que juntas formam um conjunto que se opõe
ideologicamente a outro quanto para fazer referência a um conceito abstrato, de antagonismo
de ideias, como por exemplo partidos políticos que se opõem a um governo.
Como estratégia não sexista, a aplicação do nome oposição pode ser feita como forma
de se evitar expressões como os opositores ou os deputados da oposição.

(100) Isso é interessante, pois este Parlamento possui uma norma, o Regimento Interno.
Ontem houve algumas manifestações da Oposição nesta Casa. Parece que vamos
ter de repensar a maneira pela qual vamo-nos tratar aqui. Lemos nas notícias de
hoje que a Oposição está pichando Belo Horizonte. (MG11M-João Leite)
103

4.2.3.10 polícia

A análise qualitativa permitiu identificar o uso do item polícia como referência a um


grupo de seres humanos sem um recorte do sexo dos referentes. Embora esse nome seja
comumente empregado para referência à instituição da polícia enquanto corporação responsável
pela segurança pública, a extensão de sentido para indicar os ou as policiais foi observada no
texto, ainda que apenas em uma única ocorrência, conforme exemplo (101). Esse uso, portanto,
indica uma possível estratégia não sexista para referência aos e às agentes de segurança pública.

(101) Se se congela investimento em educação, em saúde, em assistência, em


transferência de renda, a sociedade se brutaliza, torna-se mais violenta, cria-se
mais tensão social, e aí vamos ficar discutindo aqui as consequências: mais
presídios, mais centros de internação para adolescentes, mais polícia na rua.
(MG17M-André Quintão)

4.2.4 Pronome indefinido

Uma estratégia identificada no momento da leitura qualitativa dos textos foi o emprego
do pronome indefinido alguém. Esse item lexical está previsto pelo MUNSL (TOLEDO et al.,
2014) e se caracteriza como estratégia muito recorrente para referência a seres humanos ou
grupos de seres humanos sem que seja identificado o sexo dos referentes sobre quem se fala.
Os exemplos (102) e (103) indicam usos desse nome como estratégia não sexista observada.

(102) Se entra alguém agora neste plenário, senta nas galerias, alguém que não conhece
essa história, alguém da assistência que está agora nos observando ou em casa,
olhando a TV Assembleia, é possível que pergunte: Mas onde estão essas
pessoas? (RS17M-Gabriel Souza)

(103) Queria que alguém acompanhasse o deputado Antonio Carlos Arantes pelo
Estado de Minas Gerais, trabalhando, vendo a situação. (MG17M-João Leite)

Além disso, durante a leitura qualitativa, foi observado que esse item, em alguns
contextos, não pode ser interpretado necessariamente como sendo uma referência indefinida a
seres humanos (sem identificação do sexo dos referentes), como no exemplo (104), que permite
diferentes leituras:

(104) Percebe-se isso até na depressão pós-parto, quando a mulher, sem companheiro
ao seu lado para lhe dar apoio, fica com uma profunda tristeza. Além das questões
emocionais que já são de esperar - dor, tristeza e outras coisas -, ainda falta o amor
104

de alguém para lhe dar atenção. Essas mulheres maravilhosas que conhecemos
sofrem muito. (MG11F-Liza Prado)

Destaca-se que, no exemplo (104), há um uso ambíguo do pronome alguém como


estratégia não sexista. Embora o pronome nos leve a interpretar que se refere a qualquer pessoa,
o cotexto tende a expressar que a mulher, em situação pós-parto, necessita da atenção de um
companheiro, como marido ou parceiro afetivo. Essa interpretação restrita ao masculino,
contudo, não é exaustiva, é possível apontar que o pronome alguém se refira sim, no exemplo
(104), a qualquer pessoa, sem distinção de sexo. Ademais, apesar de o item alguém configurar
frequente estratégia não sexista de referência a seres humanos, suas ocorrências não
compuseram o conjunto de dados analisados quantitativamente, conforme comentado na seção
3.2 do capítulo anterior.

4.2.5 Nomes gerais [+hum]

O uso e o comportamento dos nomes gerais para referência a seres humanos, nos dados
desta pesquisa, foram descritos e analisados anteriormente, bem como comentados de modo
mais direto na seção 4.1.5. Porém, durante a leitura qualitativa do recorte realizado, notou-se a
presença de mais dois itens lexicais classificados pela literatura linguística como NG [+hum]:
sujeito e indivíduo.
O nome sujeito apresentou apenas uma ocorrência no recorte. Ela está apontada pelo
exemplo (105):

(105) O ex-ministro Miguel Rossetto, em artigo publicado hoje na Zero Hora, chama a
atenção para o fato de que quem comemora esse assassinato da legislação é o
atraso, a desigualdade, a secular e maldita cultura escravocrata de elites – não
todas – incapazes de enxergar no trabalhador um sujeito de direitos. (RS17M-
Tarcisio Zimmermann)

O nome sujeito, como visto acima, foi empregado como forma de retomar um nome
masculino anterior trabalhador. No contexto do exemplo (105), embora o item sujeito
aparentemente pudesse ser substituído por um nome como pessoa, seu uso está relacionado com
uma área específica, a referência ao direito, uma vez que se expressa na forma sujeito de
direitos, o que restringe essa relação direta esse os nomes sujeito e pessoa. O uso dos NG
[+hum] no ordenamento jurídico é comentada por Amaral (2013b). Nesse texto, o autor discorre
sobre como a expressão sujeito de direito não, necessariamente, se refere sempre a um ser
humano, podendo ser empregada para constituir relação com entidades ou organizações, como
105

empresas. A aplicação do nome sujeito, no contexto acima, está relacionada diretamente ao tipo
de texto analisado neste estudo e também ao teor do assunto discursado pelo parlamentar.
Com relação ao nome geral indivíduo, foram identificados dois usos desse nome para
referência a grupos de seres humanos, exemplos (106) e (107):

(106) As relações de trabalho representam um aspecto importante nas relações sociais


de gênero, e é no mundo do trabalho que homens e mulheres se enfrentam como
indivíduos, aparentemente, livres e iguais. (MG11F-Luzia Ferreira)

(107) Estudos de modos de vida contemporâneos em sociedades complexas consideram


que as identidades sociais dos indivíduos são, em grande medida, construídas
mais expressivamente nos domínios do trabalho do que nas relações de família.
(MG11F-Luzia Ferreira)

Os dois exemplos acima nos permitem visualizar como o nome geral indivíduo mantém
uma relação próxima, assim como sujeito, de referências a seres humanos dentro de uma esfera
ligada ao meio jurídico. Quando, no exemplo (106), a duplicação homens e mulheres é retomada
pelo nome indivíduos, o contexto seguinte faz referência à questão das liberdades e dos direitos
dessas pessoas enquanto sujeitos de direito. O contexto do exemplo (107) também mantém
relação com essa questão, quando o nome indivíduos está relacionado à construção de uma
identidade atrelada às relações sociais e ao meio do trabalho.
Interessante comentar, também, que a pouca frequência do item indivíduos nos textos
estudados nesta pesquisa mostra-se como algo contrário ao que era esperado. Segundo Amaral
(2013a) e discussões realizadas por Oliveira (2018), o uso do nome geral indivíduo parece estar
mais atrelado a contextos formais e a pessoas com maior nível de escolarização, porém, ainda
que os textos estudados nesta pesquisa sejam contextos mais formais, o nome não teve
frequência expressiva. Essa inconsistência possivelmente está relacionada ao tipo de texto
estudado, o nome indivíduo, de modo geral, tenderia a estar mais relacionado a contextos de
estudos científicos e não apenas a situações formais.

4.2.6 Casos especiais

Serão comentados dois casos identificados durante a leitura qualitativa. Apesar de os


exemplos discutidos a seguir não terem como foco a identificação direta de estratégias para a
construção de uma linguagem não sexista, eles expressam situações que se relacionam ao
caráter pouco consistente do uso do masculino genérico como forma de referência a grupos de
seres humanos quando formados por homens e mulheres.
106

Durante as leituras dos pronunciamentos do deputado Gabriel Souza, da ALRS, em


novembro de 2017, foi identificado o trecho da fala que está transcrito no exemplo (108):

(108) [...] É com muita tristeza que venho a esta tribuna na tarde de hoje para relatar
alguns fatos que V. Exas. devem ter conhecimento que ocorreram hoje pela manhã
nesta Assembleia Legislativa, mais especificamente no nono andar, no meu
gabinete parlamentar, onde trabalham os servidores contratados pela Assembleia
Legislativa para prestarem serviços ao meu mandato [...] Ao chegar à reunião de
líderes, recebi a notícia, por meio da minha assessoria, de que um grupo de
sindicalistas, inclusive membros da direção do sindicato, havia invadido o meu
gabinete parlamentar, sentado no chão e impedia as minhas assessoras de
trabalharem [...] se querem atacar alguém, ofender, constranger a pessoa física do
deputado Gabriel Souza ou de quem quer que seja, que pelo menos tenham a
dignidade de o fazer diretamente a mim, e não aos servidores que trabalham em
meu gabinete e muito menos às pessoas interessadas em procurá-lo [...] (RS17M-
Gabriel Souza)

Nesse fragmento, notamos a construção da seguinte cadeia de referências a grupos de


seres humanos: os servidores > minha assessoria > minhas assessoras > os servidores. Esses
usos identificados nos permitem perceber que — embora o masculino genérico os servidores
seja usado para se referir àqueles que trabalham no gabinete do deputado, que poderia ser um
grupo de homens e mulheres, ou só de homens — esse nome é retomado pelo nome assessoria
(entendido como um nome para referência a um grupo ou a uma função), que, em sequência, é
retomado por minhas assessoras e posteriormente por os servidores. Essas referências nominais
nos permitem verificar que, mesmo que todos os nomes, incluídos os usos do masculino
genérico, refiram-se ao mesmo grupo de seres humanos, esse grupo é composto apenas por
mulheres. Nota-se, assim, uma incoerência no uso do masculino genérico como forma geral de
referência a homens e mulheres, uma vez que, pelo contexto, o uso das formas nominais
femininas seria mais adequado.
O segundo uso considerado especial identificado durante a análise qualitativa está
relacionado ao uso dos nomes enfermeira e médico. Os exemplos (109) e (110) trazem a
aplicação desses nomes:

(109) Muitas vezes não temos o conhecimento necessário, ou seja, não sabemos, por
exemplo, que o paciente precisa mudar de posição de duas em duas horas. E quem
fiscaliza? A enfermeira está sobrecarregada e acaba não fazendo isso. Assim, a
situação se complica, e a pessoa acaba falecendo por infecção hospitalar [...]
(MG11F-Liza Prado)
107

(110) É um desafio para nós fazer com que esse direito seja respeitado, especialmente
por pessoas que cuidam da saúde e deveriam acolher vocês. Por mais que
tenhamos bons médicos e enfermeiras, pessoas maravilhosas, que dedicam sua
vida à profissão, ainda há uma parcela ignorante que precisa de acompanhamento
e treinamento constante. (MG11F-Liza Prado)

Considerando as definições já apontadas anteriormente a respeito do masculino


genérico, de que as formas nominais, quando flexionadas no feminino, seriam de referência
exclusiva a mulheres (forma marcada), o uso do nome enfermeira, no exemplo (109), indicaria
a referência a apenas um grupo composto mulheres. Entretanto, o uso do nome enfermeira é
feito de modo genérico, sem um referente específico. Nesse caso, a forma “correta” de se marcar
essa construção seria o masculino, enfermeiros, já que é essa a forma considerada não marcada
de acordo com o conceito de gênero gramatical apresentado.
A mesma situação ocorre no exemplo (110), em que, o uso dos nomes médicos e
enfermeiras tem como objetivo a expressão de referentes indeterminados, contexto em que,
pelas prescrições, deveriam ser empregadas as formas lexicais masculinas (empregada apenas
em médicos).
Esses dois exemplos, (109) e (110), indicam uma leitura interessante feita a respeito das
profissões ali demarcadas. Quando a falante utiliza a flexão masculina para médico e feminina
para enfermeira, há, talvez, um reflexo de um estereótipo social desses indivíduos e suas
profissões, em que médicos em geral são homens e enfermeiras são apenas mulheres; além de
haver uma diferença na valorização social de cada uma dessas profissões e seus profissionais,
situação refletida na escolha das formas nominais empregadas no contexto. Assim, a figura da
mulher, além de ser invisibilizada por meio das escolhas lexicais, é relacionada mais
frequentemente a espaços e a contextos geralmente menos valorizados socialmente. Essa
situação, exemplificada nos trechos acima, reflete o que foi comentado anteriormente a respeito
do poder social da língua e sua influência para perpetuação de desigualdades entre homens e
mulheres.
108

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A construção de uma linguagem menos sexista foi a reflexão central da qual se ocupou
esta pesquisa. Foi possível analisar as diferentes formas de referência a seres humanos, mais
especificamente a grupos constituídos por homens e mulheres de modo simultâneo. A pesquisa
partiu dos entendimentos de movimentos sociais sobre a existência de um dito sexismo
linguístico, em que nomes masculinos, compreendidos como formas não marcadas, seriam
capazes de denotar referentes masculinos e femininos ao mesmo tempo, mas assim
invisibilizariam a figura da mulher.
Foi possível a coleta, a análise e a descrição de pelo menos três grupos de variantes. Um
grupo considerado sexista: o masculino genérico; e dois grupos considerados não sexistas: os
NG [+hum] e as outras estratégias (entre elas a duplicação de nomes nas suas formas masculinas
e femininas, a duplicação de pronomes de tratamento, duplicação de determinantes de nomes
etc.).
Com relação ao fenômeno estudado, notou-se um processo de variação com tendência
à mudança, propendendo ao aumento de uso de formas linguísticas inclusivas entre os sexos,
homens e mulheres. Entre os anos de 2011 e 2017, houve um sensível crescimento no uso de
estratégias não sexistas: foram identificados 618 usos não sexistas em 2011, valor que passou
para 820 usos em 2017.
Esse crescimento mostrou-se mais evidente nos dados do estado do Rio Grande do Sul,
onde o aumento de usos não sexistas foi acompanhado da redução de usos sexistas. Por outro
lado, o estado de Minas Gerais apresentou crescimento dos usos classificados como sexistas.
Essa diferença pode ser percebida como a presença mais forte de uma preocupação com o uso
da língua como instrumento de igualdade entre homens e mulheres no estado gaúcho, atitude
possivelmente relacionada às políticas estaduais nesse sentido.
A partir do cálculo da média de usos sexistas e não sexistas entre os parlamentares de
cada estado, notou-se que, embora Minas Gerais tenha apresentado médias mais elevadas com
relação a um uso não sexista da língua (valores influenciados sobretudo pelo uso de NG
[+hum]), quando comparado ao Rio Grande do Sul, o estado também apresentou crescimento
médio por parlamentar dos usos sexistas, sobretudo entre os/as parlamentares reeleitos nas duas
legislaturas analisadas. Essa situação indica possivelmente uma menor preocupação com o uso
de uma linguagem plenamente inclusiva no estado mineiro.
Por outro lado, as médias por parlamentar no estado gaúcho apresentaram crescimento
de usos não sexista, e pequena redução de usos sexistas entre parlamentares reeleitos. Dessa
109

forma, os resultados, tanto das médias de usos quanto do número de ocorrências, apresentam
uma tendência de mudança mais acentuada no Rio Grande do Sul quando comparado ao estado
de Minas Gerais.
Esses resultados respondem o questionamento inicial sobre a possível influência de um
manual de redação que prescreve regras de uso da língua. Assim, os resultados estão
possivelmente influenciados pelas políticas de igualdade de gêneros disseminadas pelo governo
do Rio Grande do Sul, sendo a existência do MUNSL uma dessas políticas, uma vez que o guia
prescritivo é fruto de um conjunto de esforços públicos para igualdade de gêneros.
Com relação aos NG [+hum], foi possível a análise quantitativa de seis nomes gerais,
sendo eles: gente, humanos, pessoa(s), pessoal, povo e ser(res) humano(s). Esses nomes
representaram 981 usos do total de 3680 ocorrências, o que corresponde a 26,7% de todos os
dados analisados na pesquisa.
Especificamente os contextos classificados como não sexistas totalizaram 1438
ocorrências, sendo os nomes gerais 68,2% desse total, o que corrobora pesquisas anteriores
sobre a alta frequência desses nomes, bem como indica sua importante relevância para a
construção de uma linguagem não sexista. Assim, os NG [+hum] mostraram-se como estratégia
produtiva para eliminação do uso do masculino genérico.
Nos dados do estado de Minas Gerais, os NG [+hum] ocorreram de forma mais
numerosa e representam a estratégia não sexista com maior preferência quando comparados aos
usos desses nomes no estado do Rio Grande do Sul. Em Minas, entre 2011 e 2017, houve um
aumento percentual e absoluto no uso dos nomes gerais analisados, já no estado gaúcho, apesar
de ter ocorrido aumento absoluto na frequência desses nomes, percentualmente houve uma
redução, situação impulsionada pela presença mais frequente de outras estratégias não sexistas
para referência a homens e mulheres.
Com relação aos contextos sexistas em que a aplicação de um nome geral poderia ser
feita para se evitar o uso de um nome masculino genérico, sem que ocorresse prejuízo de
sentido, foi identificado que em 39,3% dos casos a aplicação de um NG [+hum] poderia ser
realizada. Desse modo, podemos apontar que o uso desses nomes desempenha papel
sensivelmente relevante para a construção de uma linguagem que seja menos sexista.
Entre os NG [+hum] analisados quantitativamente, o nome pessoa(s) mostrou-se o mais
frequente, com 506 ocorrências, seguido do nome povo, com 351 ocorrências nos dados. Por
outro lado, os nomes humanos e ser(res) humano(s) mostraram-se como os menos frequentes,
com 2 e 18 ocorrências respectivamente. A baixa frequência desses nomes está diretamente
relacionada ao seu caráter mais formal, pois eles tendem a ocorrer mais em textos acadêmicos
110

e científicos, conforme Amaral (2017). Já a alta frequência de pessoa(s) e povo tem relação
com a origem dos dados, pois é muito comum que parlamentares usem tais nomes para fazer
referência a cidadãos e cidadãs. Além disso, o elevado número de ocorrências do nome
pessoa(s) como estratégia de referência a homens e mulheres (uso não sexista) é reflexo dos
processos de mudança (gramaticalização) pelos quais esse item passa, o que o coloca como uma
das principais variantes para substituição do uso do masculino genérico.
No que concerne à análise qualitativa, foi possível observar cinco estratégias de
construção de uma linguagem menos sexista, isto é, formas de se evitar o uso do masculino
genérico, sendo elas:

a) Nomes sem marca morfológica que identifique o sexo dos referentes: essa estratégia
apresentou o uso de substantivos comuns de dois gêneros, como policiais,
adolescentes, profissionais, sem que fosse usado determinante que delimita o sexo
do referente como masculino ou como feminino; e ocorreu também pelo uso de
substantivos sobrecomuns, como crianças e vítima.

b) Duplicações: a estratégia ocorreu pela duplicação dos núcleos de sintagmas nominais


em nomes masculinos e femininos, duplicação de determinantes para nomes comuns
de dois gêneros, uso de aposto explicativo de nome masculino genérico. Essa
estratégia mostrou-se como a mais frequente entre todos os dados analisados, sendo
uma das principais formas de construção de uma linguagem não sexista.

c) Conjuntos de seres humanos: foi identificado o uso de nomes com traços coletivos
para referência a conjuntos de seres humanos, sendo eles classe trabalhadora, corpo
técnico, direção, equipe, humanidade, juventude, liderança, mocidade, oposição e
polícia. Destaca-se que os nomes equipe, liderança e oposição, embora possam ser
usados como estratégia que evite o uso de um nome masculino, não necessariamente
foram interpretados dessa maneira, pois são nomes que podem apresentar sentido
específico e podem ser empregados como termos especializados de um determinado
contexto ou área.

d) Pronomes indefinidos: observou-se o emprego do pronome indefinido alguém como


uma possível estratégia de construção de uma linguagem não sexista. O pronome é
111

utilizado para referência a seres humanos ou grupos de seres humanos sem que seja
identificado o sexo dos referentes sobre quem se fala.

e) NG [+hum]: foi possível verificar o uso de dois nomes gerais não contemplados pela
análise quantitativa, sendo eles indivíduo e sujeito. O nome indivíduo apresentou
baixa frequência, situação possivelmente relacionada ao tipo de dados analisados, já
que esse nome é mais frequente em textos escritos, acadêmicos e científicos. O nome
sujeito apresentou uma ocorrência, contudo ela, no contexto identificado, não pôde
ser analisada como estratégia de uso não sexista, pois o nome ocorreu na expressão
sujeito de direitos, que, segundo Amaral (2013b), tem sentido próprio dentro da
linguagem especializada do Direito.

Foram identificados dois casos especiais que, embora não se apresentem diretamente
como estratégias de usos não sexistas da língua, exemplificam o caráter pouco consistente do
masculino genérico como forma de referência a grupos de seres humanos quando formados por
homens e mulheres: a cadeia de referências a grupos de seres humanos os servidores > minha
assessoria > minhas assessoras > os servidores; e o emprego dos nomes médicos e
enfermeira(s). Esses dois últimos nomes, com o emprego do gênero feminino em enfermeira(s)
como genérico, no contexto analisado, refletem um estereótipo a respeito das profissões e seus
profissionais e colocam em questão a estabilidade do uso do masculino genérico como forma
não marcada.
Faz-se necessário destacar também algumas propostas de uso da língua de modo
inclusivo, mas que não foram identificadas entre os dados analisados nesta pesquisa, como o
uso de um morfema de gênero gramatical neutro -e, como em todes, ou sinais gráficos, como
em tod@s e todxs, apontados por Lagares (2018) e Mäder e Severo (2016). Propostas como
essas se configuram como mudanças mais difíceis de implementação, pois são modificações
mais profundas na estrutura morfossintática da língua, e, como o uso dos sinais gráficos ‘x’ e
‘@’, não possuem representatividade fonológica, estando mais relacionadas ou até mesmo
restritas a usos escritos da língua e, algumas vezes, a contextos pouco formais.
Essas sugestões de usos linguísticos, todavia, são correntes em alguns grupos de
movimentos sociais, como grupos feministas e grupos LGBTQ, e em geral são justamente essas
propostas que são alvos de críticas contra uma linguagem inclusiva (duplicações e o uso de
nomes gerais pouco são colocadas em questão nos discursos contrários ao ativismo linguístico).
Tais questionamentos sobre a efetividade, ou mesmo necessidade, das mudanças propostas
112

encontram terreno fértil nesses usos que podemos considerar como mais “agressivos” ao
sistema linguístico, sobretudo com relação à fala, devido à maior dificuldade de implementação
efetiva de tais mudanças como elementos naturais de uma língua.
É importante considerar, como destacado também por Mäder e Severo (2016), que as
mudanças linguísticas estão condicionadas ao processo de avaliação e encaixamento. Assim,
propostas de mudança em nível lexical, como as analisadas neste trabalho, possuem melhor
encaixamento e possibilidade de variação e mudança, além de serem menos estigmatizadas, o
que não ocorre com algumas outras estratégias sugeridas, como comentado acima.
Por fim, é imprescindível analisar a questão da efetividade da prescrição de normas de
uso para a construção de uma linguagem não sexista. Salienta-se que as análises desenvolvidas
neste trabalho partiram de dados empíricos coletados em situações reais de fala. Ainda que
sejam dados de fala cuidada, pouco espontânea, todas as 1438 ocorrências classificadas como
não sexistas representam usos naturais do sistema linguístico, aceitos pelas prescrições de uma
norma-padrão e previstos pelas normas prescritivas dos manuais de redação, que representam
o ativismo por uma linguagem menos sexista.
Nesse sentido, compreendemos que, por um viés da teoria da variação e mudança,
sobretudo das mudanças em nível lexical, a implementação de um uso da língua que seja
inclusivo se faz factível e está, aparentemente, ocorrendo, ainda que em ambientes mais formais
e de forma lenta. Dessa maneira, é possível apontar que as mudanças exemplificadas estejam
sim relacionadas às políticas linguísticas oriundas de um ativismo por uma linguagem
igualitária entre homens e mulheres. O tema discutido tem se mostrado cada vez mais presente
em nossas sociedades e, portanto, é indubitável a necessidade de se pesquisar a questão à luz
de teorias como da variação e mudança linguística, buscando compreender e contribuir de
algum modo com a questão.
Almeja-se, dessa maneira, que as discussões propostas e iniciadas nesta pesquisa
despertem futuras análises a respeito do tema. Sugere-se, por exemplo, a ampliação de um
conjunto de dados a ser analisado a respeito da variação e mudança no uso de formas
recomendadas como não sexistas para além de contextos formais e/ou políticos, como recortado
para este trabalho, bem como uma análise que considere a variação de uso de uma língua
inclusiva entre homens e mulheres, recorte que não foi possível de ser realizado devido ao baixo
número de mulheres parlamentares nos dados coletados. Além disso, o estudo dos nomes gerais
de referência a seres humanos mostra-se como necessidade para se repensar as prescrições
realizadas visando à eliminação de um sexismo linguístico, uma vez que esses itens revelaram
seu importante papel na construção de uma língua inclusiva.
113

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118

APÊNDICES

APÊNDICE A – QUADRO 9 – LISTA DAS MIL LEXIAS MAIS FREQUENTES NO


CONJUNTO TOTAL DE DADOS

Quadro 9 – Lista das mil lexias mais frequentes no conjunto total de dados
# item # item # item # item # item
1 deputado 201 valadares 401 partidos 601 ambiente 801 série
2 governo 202 conselho 402 durval 602 forte 802 via
3 estado 203 gustavo 403 honra 603 informação 803 acidente
4 presidente 204 obras 404 manhã 604 instituições 804 aires
5 sr 205 parlamentar 405 moral 605 naval 805 carreira
6 minas 206 rodrigues 406 santa 606 policiais 806 certa
7 grande 207 votação 407 caixa 607 transparência 807 combate
8 casa 208 claro 408 econômica 608 carnaval 808 dela
9 exa 209 drogas 409 petróleo 609 consciência 809 democrático
10 deputados 210 emendas 410 ato 610 debates 810 funções
11 ser 211 gestão 411 dificuldades 611 direção 811 fábrica
12 todos 212 acordo 412 grupo 612 enorme 812 juventude
13 gerais 213 vice 413 henrique 613 filhos 813 negociação
14 projeto 214 aqueles 414 jovens 614 franco 814 nobres
15 rio 215 proposta 415 líderes 615 geração 815 paz
16 sul 216 segundo 416 moura 616 jornal 816 pimenta
17 anos 217 militar 417 movimento 617 palestina 817 pozzobom
18 ordinária 218 ministério 418 reconhecimento 618 passada 818 profissional
19 sessão 219 amigo 419 revisão 619 pcdob 819 querido
20 lei 220 problemas 420 senhor 620 atuação 820 simon
21 governador 221 requerimento 421 sindicato 621 companheiros 821 trabalhador
22 federal 222 tribunal 422 colega 622 futebol 822 arantes
23 assembleia 223 valor 423 contrário 623 legal 823 bairro
24 obrigado 224 cidadão 424 diretor 624 negra 824 bordignon
25 brasil 225 humanos 425 emprego 625 recurso 825 comando
26 dia 226 senhores 426 força 626 responsável 826 corsan
27 comissão 227 brasileiro 427 vereador 627 rômulo 827 crítica
28 questão 228 homens 428 ângelo 628 simples 828 despesas
29 mulheres 229 importantes 429 carlin 629 telespectadores 829 diretora
30 trabalho 230 governos 430 dra 630 órgãos 830 diversas
31 legislativa 231 final 431 executivo 631 alexandre 831 jovem
32 pessoas 232 nova 432 leis 632 aprovação 832 médico
33 forma 233 raul 433 referência 633 assuntos 833 mérito
34 feira 234 salário 434 administração 634 autoria 834 pena
35 importante 235 contas 435 alegria 635 bancos 835 principais
36 saúde 236 funcionários 436 brasileiros 636 brum 836 produtor
37 pública 237 grandes 437 icms 637 classe 837 realização
119

38 reunião 238 imprensa 438 medida 638 confiança 838 rodoviário


39 público 239 mineiro 439 rural 639 copasa 839 solene
40 srs 240 participação 440 entidade 640 data 840 alimentação
41 tempo 241 passado 441 extraordinária 641 feliz 841 andrade
42 sras 242 alguma 442 longo 642 momentos 842 assoeva
43 cidade 243 gaúcha 443 países 643 obrigação 843 carinho
44 país 244 mineiros 444 professores 644 popular 844 claros
45 política 245 neves 445 renda 645 preço 845 denúncias
46 pt 246 pronunciamento 446 áreas 646 ptb 846 desejo
47 momento 247 agricultura 447 futuro 647 requerimentos 847 fatos
48 ano 248 causa 448 prática 648 único 848 feitas
49 aparte 249 horas 449 representantes 649 antonio 849 movimentos
50 orador 250 banco 450 administrativa 650 atividades 850 pequenas
51 oposição 251 civil 451 associação 651 deficiência 851 produtores
52 povo 252 mourão 452 deles 652 denúncia 852 relações
53 sociedade 253 porto 453 fundo 653 documento 853 situações
54 região 254 regimento 454 últimos 654 gaúchos 854 trilhão
55 todas 255 tarso 455 assistência 655 gênero 855 aspecto
56 relação 256 cemig 456 augusto 656 instituto 856 assentimento
57 todo 257 fernando 457 crescimento 657 juntos 857 autoridades
58 tribuna 258 investimentos 458 expediente 658 kandir 858 aço
59 outros 259 municipal 459 informações 659 milhares 859 casos
60 debate 260 papel 460 mão 660 obrigada 860 dignidade
61 especial 261 ação 461 polo 661 parceria 861 doutor
desenvolviment
62 262 família 462 razão 662 patrimônio 862 dívidas
o
63 emenda 263 serviço 463 adão 663 pereira 863 elétrica
64 respeito 264 tv 464 caminho 664 pretto 864 execução
65 situação 265 época 465 frederico 665 tiago 865 exmo
66 parte 266 criação 466 ideia 666 valores 866 expressão
67 revisado 267 espaço 467 instituição 667 vontade 867 justo
68 bancada 268 hospital 468 villaverde 668 criança 868 licitação
69 vida 269 maneira 469 comunidades 669 divinópolis 869 matérias
70 reais 270 qualidade 470 energia 670 edegar 870 mostra
71 toda 271 transporte 471 companheiro 671 esforço 871 negro
72 palavras 272 economia 472 condição 672 financiamento 872 oficial
73 deputada 273 número 473 diferente 673 gás 873 palácio
74 nacional 274 mandato 474 evento 674 mercado 874 parceiro
75 projetos 275 possível 475 federação 675 mundial 875 propaganda
76 social 276 sargento 476 noite 676 prazer 876 unidos
77 maior 277 vista 477 objetivo 677 profissionais 877 votos
78 direitos 278 alegre 478 presidenta 678 próximos 878 âmbito
79 joão 279 novo 479 regiões 679 quadro 879 abraço
80 líder 280 registro 480 estrutura 680 resultados 880 benefício
81 legislatura 281 você 481 manifestação 681 sávio 881 china
82 direito 282 júlio 482 professor 682 adalclever 882 corte
83 outro 283 ministro 483 comunicação 683 custo 883 estudo
120

84 população 284 setor 484 dele 684 fabiano 884 favorável


85 fato 285 brasília 485 ensino 685 instalação 885 inclusão
86 partido 286 favor 486 necessidade 686 juiz 886 infraestrutura
87 nome 287 pessoal 487 setores 687 risco 887 itamar
88 base 288 presentes 488 último 688 texto 888 justa
89 alguns 289 regime 489 anterior 689 total 889 mara
90 primeiro 290 iniciativa 490 capital 690 trânsito 890 metropolitana
91 discussão 291 luiz 491 federais 691 única 891 municipais
92 secretário 292 norte 492 pont 692 concurso 892 oliveira
93 municípios 293 reforma 493 assédio 693 contribuição 893 organização
94 educação 294 andré 494 conhecimento 694 delas 894 pares
95 servidores 295 brasileira 495 dificuldade 695 eleição 895 policial
96 tema 296 capacidade 496 estaduais 696 fundamentais 896 principal
97 dinheiro 297 início 497 medidas 697 gabinete 897 progressista
98 luta 298 serviços 498 pesquisa 698 gabriel 898 prol
99 exemplo 299 silva 499 recuperação 699 gastos 899 salarial
100 problema 300 gaúcho 500 resultado 700 giovani 900 serra
101 outras 301 mínimo 501 rs 701 greve 901 sério
102 feito 302 rede 502 ana 702 interessante 902 trecho
103 mulher 303 tipo 503 centro 703 menor 903 técnica
104 oportunidade 304 voto 504 duarte 704 minutos 904 vidas
105 leite 305 crianças 505 obra 705 natural 905 anvisa
106 estadual 306 lula 506 prazo 706 oradora 906 ciência
107 verdade 307 sartori 507 trabalhos 707 pequeno 907 contrato
108 vocês 308 secretária 508 acesso 708 produtos 908 delegada
109 segurança 309 vale 509 comissões 709 programas 909 delegadas
110 empresas 310 comunidade 510 crédito 710 propostas 910 determinado
111 trabalhadores 311 violência 511 democracia 711 reflexão 911 diretoria
112 justiça 312 genro 512 liderança 712 satisfação 912 dólares
113 assunto 313 ninguém 513 maiores 713 tecnologia 913 francisco
114 história 314 tratamento 514 novos 714 técnicos 914 helena
115 belo 315 conta 515 planejamento 715 anel 915 ibirité
116 ex 316 indústria 516 pré 716 central 916 intervenção
117 recursos 317 jorge 517 próximo 717 entendimento 917 longa
118 bom 318 meses 518 amigos 718 fazenda 918 lucro
119 políticas 319 representante 519 antunes 719 financeira 919 marques
120 parlamentares 320 senador 520 busca 720 fundação 920 mata
121 antônio 321 coisas 521 cidadãos 721 limite 921 natureza
122 horizonte 322 familiar 522 disposição 722 nobre 922 passo
123 parabéns 323 período 523 mineira 723 novas 923 pib
124 pouco 324 pimentel 524 mãe 724 pequenos 924 porta
125 defesa 325 preocupação 525 pdt 725 pergunta 925 real
126 presença 326 regional 526 santos 726 pinheiro 926 tolentino
127 pmdb 327 sociais 527 moreira 727 poucos 927 turismo
128 rogério 328 crise 528 servidor 728 previdência 928 argumento
129 estados 329 união 529 temas 729 ruas 929 avanços
121

130 parlamento 330 pauta 530 agricultores 730 universidade 930 chamada
131 públicas 331 realidade 531 arrecadação 731 vereadores 931 concessão
132 prefeito 332 gente 532 caro 732 aprovada 932 dado
133 fim 333 posição 533 competência 733 atitude 933 eleições
134 área 334 próprio 534 decreto 734 breitenbach 934 exma
135 fala 335 atual 535 encontro 735 exas 935 histórico
136 algumas 336 construção 536 modelo 736 fumo 936 microfone
137 escola 337 investimento 537 nível 737 fundopem 937 montes
138 processo 338 pagamento 538 opinião 738 média 938 políticos
139 dias 339 algum 539 orgulho 739 pobres 939 portugal
140 mundo 340 atendimento 540 pp 740 preferência 940 querida
141 município 341 bilhões 541 radares 741 sal 941 rua
142 questões 342 consumidor 542 visão 742 votado 942 superior
143 secretaria 343 homem 543 atividade 743 voz 943 transportes
144 correia 344 petrobras 544 contratos 744 zilá 944 venâncio
145 deputadas 345 presente 545 controle 745 apelo 945 colostro
146 empresa 346 decisão 546 difícil 746 cargo 946 criados
147 importância 347 necessário 547 filho 747 câncer 947 estudos
148 ações 348 bonifácio 548 interior 748 diversos 948 instrumento
149 plenário 349 congresso 549 lopes 749 espaços 949 inteiro
150 pessoa 350 cpi 550 números 750 familiares 950 membros
151 mesa 351 dados 551 prefeitura 751 jeito 951 miranda
152 condições 352 econômico 552 resposta 752 maconha 952 nação
153 polícia 353 lagoas 553 senge 753 mortes 953 necessidades
154 sistema 354 lugar 554 solidariedade 754 motivo 954 necessárias
155 coisa 355 orçamento 555 bechir 755 passos 955 notícia
156 constituição 356 hora 556 campanha 756 pescadores 956 psb
157 sra 357 mês 557 daniel 757 proposição 957 realizada
158 josé 358 pedido 558 equipe 758 proteção 958 século
159 dilma 359 república 559 grave 759 repasse 959 tarcisio
160 discurso 360 temer 560 interesses 760 salários 960 trabalhista
161 fiscal 361 aumento 561 liberdade 761 samba 961 vítimas
162 milhões 362 campo 562 lideranças 762 viegas 962 zimmermann
163 cargos 363 conjunto 563 piso 763 adilson 963 órgão
164 homenagem 364 possibilidade 564 alunos 764 feltes 964 aloísio
165 públicos 365 própria 565 aprovado 765 financeiro 965 cabo
166 sentido 366 compromisso 566 asthemg 766 folha 966 catarina
167 veto 367 deus 567 diferença 767 garantia 967 cobrança
168 apoio 368 entidades 568 igualdade 768 melhores 968 conquista
169 atenção 369 hospitais 569 luis 769 mãos 969 coordenador
170 dr 370 legislativo 570 miriam 770 oportunidades 970 corrupção
171 outra 371 pedro 571 prado 771 regionais 971 desafio
172 programa 372 político 572 relatório 772 roberto 972 distrito
173 carlos 373 senhoras 573 resolução 773 solicitação 973 empresários
174 paulo 374 souza 574 terra 774 torno 974 esperança
175 psdb 375 uso 575 banrisul 775 urgência 975 eventos
122

176 várias 376 cruz 576 carrion 776 última 976 felipe
177 audiência 377 interno 577 categoria 777 aproveito 977 ferreira
178 boa 378 palavra 578 certo 778 bancadas 978 formação
179 colegas 379 ribeiro 579 constitucional 779 carta 979 guedes
180 cidades 380 água 580 edson 780 chamado 980 limites
181 bloco 381 dalmo 581 empregos 781 clara 981 prejuízo
182 saúdo 382 presidência 582 experiência 782 consumo 982 preocupado
183 vários 383 produção 583 legislação 783 célio 983 primeiros
184 geral 384 seguinte 584 modo 784 daqueles 984 prof
185 maioria 385 cultura 585 redução 785 déficit 985 psol
186 responsabilidade 386 dito 586 representação 786 militares 986 refinaria
187 semana 387 esporte 587 sucesso 787 morte 987 rodovias
188 maria 388 famílias 588 troca 788 pacto 988 saudação
189 matéria 389 internacional 589 absurdo 789 pai 989 senado
190 aécio 390 interesse 590 atletas 790 apresentado 990 sustentável
191 escolas 391 plano 591 bandeira 791 betim 991 tamanho
192 ponto 392 prefeitos 592 crime 792 conteúdo 992 técnico
193 anastasia 393 solução 593 defensoria 793 coragem 993 unidade
194 censura 394 alguém 594 diálogo 794 devido 994 visita
195 câmara 395 quintão 595 escolar 795 dirigentes 995 zona
196 dívida 396 aquela 596 exercício 796 droga 996 alta
197 fundamental 397 aquele 597 impostos 797 especiais 997 análise
198 cumprimento 398 feita 598 lara 798 estradas 998 artigo
199 falta 399 função 599 marroni 799 fiscalização 999 cadeia
200 primeira 400 ordem 600 alto 800 gilberto 1000 caxias
Fonte: o autor.
123

APÊNDICE B – TABELA 19 – USOS NÃO SEXISTAS EXCLUÍDOS OS NG [+HUM]


POR PARLAMENTARES NA ALMG

Tabela 19 – Usos não sexistas excluídos os NG [+hum] por parlamentares na ALMG


Deputados/Deputadas - ALMG Sexo 2011 2017 TOTAL
João Leite Masculino 13 22 35
André Quintão Masculino - 15 15
Arlen Santiago Masculino - 14 14
Gustavo Valadares Masculino 12 - 12
Gustavo Corrêa Masculino - 11 11
Duarte Bechir Masculino 4 6 10
Luzia Ferreira Feminino 10 - 10
Rogério Correia Masculino 5 5 10
Antônio Jorge Masculino - 9 9
Bruno Siqueira Masculino 9 - 9
Liza Prado Feminino 8 - 8
Carlin Moura Masculino 6 - 6
Carlos Mosconi Masculino 6 - 6
Carlos Pimenta Masculino - 6 6
Luiz Carlos Miranda Masculino 6 - 6
Paulo Guedes Masculino 3 3 6
Gilberto Abramo Masculino 5 - 5
Maria Tereza Lara Feminino 5 - 5
Roberto Andrade Masculino - 5 5
Sargento Rodrigues Masculino 1 4 5
Ulysses Gomes Masculino 3 2 5
Bonifácio Mourão Masculino 3 1 4
Fabiano Tolentino Masculino 3 1 4
Paulo Lamac Masculino 4 - 4
Rômulo Viegas Masculino 4 - 4
Almir Paraca Masculino 3 - 3
Angelo Oswaldo De Araújo Santos Masculino - 3 3
Anselmo José Domingos Masculino 2 1 3
Antônio Carlos Arantes Masculino - 3 3
Célio Moreira Masculino 1 2 3
Dirceu Ribeiro Masculino - 3 3
Pompílio Canavez Masculino 3 - 3
Rosângela Reis Feminino 3 - 3
Alencar Da Silveira Jr Masculino 2 - 2
Douglas Melo Masculino - 2 2
Durval Ângelo Masculino - 2 2
Geraldo Pimenta Masculino - 2 2
Adalclever Lopes Masculino 1 - 1
Antônio Júlio Masculino 1 - 1
Dalmo Ribeiro Silva Masculino 1 - 1
Doutor Wilson Batista Masculino - 1 1
Elismar Prado Masculino 1 - 1
124

Emidinho Madeira Masculino - 1 1


José Henrique Masculino 1 - 1
Vanderlei Miranda Masculino 1 - 1
TOTAIS 130 124 254
Fonte: o autor.
125

APÊNDICE C – TABELA 20 – USOS NÃO SEXISTAS EXCLUÍDOS OS NG [+HUM]


POR PARLAMENTARES NA ALRS

Tabela 20 – Usos não sexistas excluídos os NG [+hum] por parlamentares na ALRS


Deputados/Deputadas - ALRS Sexo 2011 2017 TOTAL
Tarcisio Zimmermann Masculino - 19 19
Gabriel Souza Masculino - 13 13
Frederico Antunes Masculino 1 9 10
Altemir Tortelli Masculino - 9 9
Pedro Ruas Masculino - 8 8
Tiago Simon Masculino - 8 8
Bombeiro Bianchini Masculino - 7 7
Jeferson Fernandes Masculino - 7 7
Jurandir Maciel Masculino 7 - 7
Pedro Pereira Masculino 4 3 7
Juvir Costella Masculino - 6 6
Manuela D'ávila Feminino - 6 6
Raul Carrion Masculino 6 - 6
Adão Villaverde Masculino 3 2 5
Adilson Troca Masculino 1 4 5
Ana Affonso Feminino 5 - 5
Stela Farias Feminino - 5 5
Edegar Pretto Masculino 4 - 4
Liziane Bayer Feminino - 4 4
Luiz Fernando Mainardi Masculino - 4 4
Miki Breier Masculino 4 - 4
Alexandre Lindenmeyer Masculino 3 - 3
Alexandre Postal Masculino 3 - 3
Daniel Bordignon Masculino 3 - 3
Gerson Burmann Masculino 3 - 3
Juliano Roso Masculino - 3 3
Maurício Dziedricki Masculino - 3 3
Missionário Volnei Masculino - 3 3
Ronaldo Santini Masculino - 3 3
Silvana Covatti Feminino 3 - 3
Catarina Paladini Masculino 1 1 2
Jorge Pozzobom Masculino 2 - 2
Juliana Brizola Feminino 2 - 2
Luis Augusto Lara Masculino - 2 2
Marco Alba Masculino 2 - 2
Regina Becker Fortunati Feminino - 2 2
Vilmar Zanchin Masculino - 2 2
Zilá Breitenbach Feminino 2 - 2
Adroaldo Loureiro Masculino 1 - 1
Cassiá Carpes Masculino 1 - 1
Ciro Simoni Masculino - 1 1
Enio Bacci Masculino - 1 1
126

João Fischer Masculino - 1 1


Luciano Azevedo Masculino 1 - 1
Miriam Marroni Feminino - 1 1
Nelsinho Metalúrgico Masculino 1 - 1
Raul Pont Masculino 1 - 1
Sérgio Turra Masculino - 1 1
Zé Nunes Masculino - 1 1
TOTAIS 64 139 203
Fonte: o autor.
127

APÊNDICE D – TABELA 21 – USOS SEXISTAS E NÃO SEXISTAS DISTRIBUÍDOS


POR PARLAMENTARES EM MINAS GERAIS

Tabela 21 – Usos sexistas e não sexistas distribuídos por parlamentares em Minas Gerais
2011 2017
Parlamentares Mandatos Não Não TOTAL
Sexista Sexista
sexista sexista
Adalclever Lopes 1 2 8 - - 10
Alencar Da Silveira Jr 1 6 2 - - 8
Almir Paraca 1 3 1 - - 4
André Quintão 2 1 10 35 84 130
Angelo Oswaldo De A. Santos 1 - - 4 6 10
Anselmo José Domingos 2 2 7 10 19 38
Antônio Carlos Arantes 2 7 12 16 21 56
Antônio Jorge 1 - - 51 57 108
Antônio Júlio 1 17 33 - - 50
Arlen Santiago 1 - - 45 24 69
Bonifácio Mourão 2 15 12 20 30 77
Bosco 1 2 3 - - 5
Braulio Braz 1 - - - 2 2
Bruno Siqueira 1 9 8 - - 17
Cabo Júlio 1 - - - 1 1
Carlin Moura 1 18 43 - - 61
Carlos Henrique 1 - 2 - - 2
Carlos Mosconi 1 9 2 - - 11
Carlos Pimenta 1 - - 17 12 29
Celinho Do Sinttrocel 2 - 6 6 2 14
Célio Moreira 2 6 11 4 8 29
Dalmo Ribeiro Silva 1 2 20 - - 22
Délio Malheiros 1 1 2 - - 3
Dirceu Ribeiro 1 - - 3 7 10
Douglas Melo 1 - - 20 18 38
Doutor Jean Freire 1 - - - 2 2
Doutor Viana 1 5 36 - - 41
Doutor Wilson Batista 1 - - 15 8 23
Duarte Bechir 2 15 17 36 55 123
Duilio De Castro 1 14 8 - - 22
Durval Ângelo 2 1 13 12 13 39
Elismar Prado 2 3 10 2 5 20
Emidinho Madeira 1 - - 11 14 25
Fabiano Tolentino 2 6 8 14 9 37
Fábio Cherem 1 - 1 - - 1
Fred Costa 1 2 10 - - 12
Geraldo Pimenta 1 - - 8 5 13
Gilberto Abramo 2 11 2 1 2 16
Gustavo Corrêa 1 - - 21 47 68
Gustavo Valadares 1 25 23 - - 48
128

Ivair Nogueira 1 - - 6 5 11
João Leite 2 33 27 43 48 151
João Vítor Xavier 1 5 9 - - 14
José Henrique 1 1 3 - - 4
Liza Prado 1 23 20 - - 43
Luiz Carlos Miranda 1 7 8 - - 15
Luiz Henrique 1 2 6 - - 8
Luzia Ferreira 1 17 5 - - 22
Maria Tereza Lara 1 7 5 - - 12
Marília Campos 1 - - 1 - 1
Paulo Guedes 2 12 15 11 26 64
Paulo Lamac 1 9 21 - - 30
Pompílio Canavez 1 8 22 - - 30
Roberto Andrade 1 - - 7 9 16
Rogério Correia 2 26 82 9 43 160
Romel Anízio 1 - 2 - - 2
Rômulo Viegas 1 9 21 - - 30
Rosângela Reis 1 4 2 - - 6
Sargento Rodrigues 2 12 27 34 91 164
Sávio Souza Cruz 1 9 11 - - 20
Sebastião Costa 1 1 - - - 1
Tiago Ulisses 1 3 5 - - 8
Ulysses Gomes 2 3 8 7 4 22
Vanderlei Miranda 2 3 5 1 - 9
Zé Maia 1 2 3 - - 5
TOTAIS 378 617 470 677 2142
Fonte: o autor.
129

APÊNDICE E – TABELA 22 – USOS SEXISTAS E NÃO SEXISTAS DISTRIBUÍDOS


POR PARLAMENTARES NO RIO GRANDE DO SUL

Tabela 22 – Usos sexistas e não sexistas distribuídos por parlamentares no Rio Grande do Sul
2011 2017
Parlamentares Mandatos Não Não TOTAL
Sexista Sexista
sexista sexista
Adão Villaverde 2 1 3 12 6 22
Adilson Troca 2 29 2 1 4 36
Adolfo Brito 1 4 1 - - 5
Adroaldo Loureiro 1 3 3 - - 6
Alexandre Lindenmeyer 1 18 13 - - 31
Alexandre Postal 1 12 6 - - 18
Altemir Tortelli 2 5 2 21 15 43
Ana Affonso 1 10 7 - - 17
Any Ortiz 1 - - 2 - 2
Bombeiro Bianchini 1 - - 8 13 21
Carlos Gomes 1 9 - - - 9
Cassiá Carpes 1 15 5 - - 20
Catarina Paladini 2 3 4 17 3 27
Ciro Simoni 1 - - 7 3 10
Daniel Bordignon 1 32 8 - - 40
Dr. Basegio 1 7 2 - - 9
Edegar Pretto 1 14 5 - - 19
Edson Brum 2 50 10 2 1 63
Elton Weber 1 - - 2 4 6
Enio Bacci 1 - - 18 3 21
Frederico Antunes 2 20 10 29 23 82
Gabriel Souza 1 - - 31 31 62
Gerson Burmann 2 3 4 - 1 8
Gilberto Capoani 1 9 4 - - 13
Gilmar Sossella 2 34 8 2 2 46
Giovani Feltes 1 18 11 - - 29
Heitor Schuch 1 8 1 - - 9
Jeferson Fernandes 2 8 5 14 25 52
João Fischer 2 13 3 9 4 29
Jorge Pozzobom 1 12 18 - - 30
José Sperotto 1 5 5 - - 10
Juliana Brizola 1 4 5 - - 9
Juliano Roso 1 - - 1 10 11
Jurandir Maciel 1 3 8 - - 11
Juvir Costella 1 - - 14 12 26
Liziane Bayer 1 - - 9 6 15
Lucas Redecker 2 1 2 3 1 7
Luciano Azevedo 1 20 3 - - 23
Luis Augusto Lara 1 - - 11 5 16
Luis Fernando Schmidt 1 1 - - - 1
130

Luiz Fernando Mainardi 1 - - 8 12 20


Manuela D'ávila 1 - - 10 10 20
Márcio Biolchi 1 5 2 - - 7
Marco Alba 1 10 2 - - 12
Maria Helena Sartori 1 4 2 - - 6
Marisa Formolo 1 13 7 - - 20
Maurício Dziedricki 1 - - 3 6 9
Miki Breier 1 14 22 - - 36
Miriam Marroni 2 5 - 2 1 8
Missionário Volnei 1 - - 6 10 16
Nelsinho Metalúrgico 2 21 2 - 8 31
Paulo Borges 1 3 - - - 3
Paulo Odone 1 1 - - - 1
Pedro Pereira 2 18 12 12 7 49
Pedro Ruas 1 - - 17 20 37
Pedro Westphalen 1 3 - - - 3
Raul Carrion 1 10 13 - - 23
Raul Pont 1 35 9 - - 44
Regina Becker Fortunati 1 - - 5 6 11
Ronaldo Santini 1 - - 11 12 23
Sérgio Peres 1 - - 1 - 1
Sérgio Turra 1 - - 5 4 9
Silvana Covatti 1 - 3 - - 3
Sr. Alceu Barbosa 1 8 3 - - 11
Stela Farias 1 - - 4 11 15
Tarcisio Zimmermann 1 - - 61 44 105
Tiago Simon 1 - - 25 16 41
Vilmar Zanchin 1 - - 9 4 13
Zé Nunes 1 - - 4 4 8
Zilá Breitenbach 2 9 5 22 3 39
TOTAIS 530 240 418 350 1538
Fonte: o autor.
131

APÊNDICE F – TRECHO DE TRANSCRIÇÃO COLETADA PELA PESQUISA

Trecho de transcrição coletada pela pesquisa

14ª REUNIÃO ORDINÁRIA DA 1ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 17ª


LEGISLATURA, EM 3/3/2011
Palavras do Deputado Adalclever Lopes
O Deputado Adalclever Lopes - Sr. Presidente, Sras. Deputadas e Srs. Deputados, boa- tarde.
Vou iniciar o meu pronunciamento abrilhantando-o com um aparte do Deputado Durval
Ângelo.
O Deputado Adalclever Lopes - Sr. Presidente, quero, da tribuna, em primeiro lugar, agradecer
pela forma como o Ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, recebeu os Deputados
Estaduais. O Ministro recebeu ontem todo o Bloco Minas sem Censura. Na quinta-feira fomos
eleitos Presidente da Comissão de Transporte, Comunicação e Obras Públicas. Pedimos uma
audiência e fomos atendidos prontamente pelo Ministro, que recebeu carinhosamente todos os
aliados e adversários. Houve uma briga tamanha, que ele precisou fazer duas audiências. Ele
disse que não havia problema, se era para atender a Minas Gerais. E acrescentou que, se havia
alguma coisa que nos dividia - os partidos -, Minas Gerais nos unia. Ele atendeu em audiência
pela manhã para dar as boas notícias e, à tarde, ele se encontrou com a Oposição para receber
as críticas, às vezes construtivas, às vezes, não. Com muita paciência, recebeu todos
democraticamente e mostrou que lá é um lugar aberto para todos os membros do Parlamento
estadual ou federal. Lá também estavam Vereadores e Prefeitos. O Ministro mostrou a forma
democrática como o governo Dilma trata todos os políticos que representam este Estado.
Contamos com a presença do Senador Clésio Andrade, do PR, que participou da audiência junto
ao Bloco Minas sem Censura. Ele é o homem que mais conhece transporte no Brasil - posso
dizer isso com propriedade -, e não é à toa que é o Presidente da Confederação Nacional dos
Transportes. Ele deu contribuição imensa a nossa reunião, assim como os parlamentares
federais do PT, do PCdoB e do PRB. O Ministro anunciou o maior aporte de recursos que Minas
já recebeu, o que mostrou a mineiridade da Presidente Dilma, que demonstrou a que veio. A
maior representação que temos no governo federal é a mineira, Presidente Dilma. O Ministro
trouxe-nos a notícia de investimento de R$2.000.000.000,00 para a BR-381, o qual será
prioritariamente para o trecho mais complicado, ou seja, de Belo Horizonte a João Monlevade,
onde morre gente todos os dias. Nessas pistas, há volume maior de carros, que ficaram mais
velozes. Além disso, o número de veículos aumentou. Ele, com preocupação imensa, já
132

anunciou esse aporte de recursos e a previsão de apresentação do projeto e da licitação até maio.
Receberemos R$2.000.000.000,00. Quando perguntaram ao Ministro se os cortes atingiriam
Minas, ele respondeu que não, que, pelo contrário, o Estado da Presidente Dilma receberia a
maior parte dos investimentos.
A BR-040 é outro problema seriíssimo. O Ministro prontamente fez outro anúncio, junto ao
Bloco Minas sem Censura. Saímos daquele local alegres, não é Deputados Antônio Júlio, Sávio
Souza Cruz, Adelmo e Rogério, que conduziu brilhantemente a reunião, na qual estiveram
presentes também vários Deputados Federais. Essa rodovia receberá R$300.000.000,00 para
restauração, adequação e melhoramentos. Amanhã, na sexta-feira, às 14 horas, na Câmara
Municipal de Conselheiro Lafaiete, será realizada a primeira audiência pública do DNIT, com
apoio da população, a fim de se verificar a forma mais adequada de investimento para a rodovia
BR-040. A Comissão de Transporte participará do evento. Essa Comissão estará toda
representada. Há um detalhe interessante: o Ministro propôs que todas as audiências públicas
no Estado de Minas Gerais tivessem o devido acompanhamento e que a Assembleia Legislativa
participasse delas, ou seja, que a audiência pública fosse conjunta com esta Casa. Isso mostra o
carinho dele com Minas e com esta Casa. Serão R$300.000.000,00 para melhoramentos da
saída de Belo Horizonte até Ressaquinha. [...]

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