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Texto de Apoio 5

Universidade Eduardo Mondlane  FE  EC  Topograa


Introdução a Topograa
Francesse.baciao@uem.ac.mz/Francessemauro@gmail.com

22 de novembro de 2021

1 Introdução
A altimetria pode ser denida como um conjunto de operações que permitem a representação
do relevo do terreno, determinando as diferenças de nível entre os pontos topográcos, altitudes
e cotas.
A determinação da cota/altitude de um ponto é uma actividade fundamental em engenharia,
projetos de redes de esgoto, de estradas, planejamento urbano, etc, estes podem ser tomados
como exemplos de aplicações que utilizam estas informações.
Ao ser representado, o terreno na Planimetria, terá como produto nal uma planta bidimen-
sional (X e Y). Enquanto que na Altimetria (z), terá uma planta tridimensional (X,Y e Z), onde
o relevo será representado pela coordenada cartesiana Z.
A determinação do valor da cota/altitude está baseada em métodos denominados de nive-
lamento, estes métodos permitem obter o desnível entre pontos e com base em um referência
(valor inicial) é possível calcular as demais cotas ou altitudes.
Existem diferentes métodos que permitem determinar os desníveis, com precisões que variam
de alguns centímetros até submilímetro. A aplicação de cada um deles dependerá da nalidade
do trabalho.

Aluns conceitos são comumente usados quando se fala de Nivelamento, desta forma torna-se
importantel diferenciar:

ˆ Cota - distância medida ao longo da vertical de um ponto até um plano de referência


qualquer;

ˆ Altitude Ortométrica - distância medida na vertical entre um ponto da superfície física


da Terra e a superfície de referência altimétrica (nível médio dos mares); Este dois conceitos

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podem ser resumidos na gura 1

Figura 1: Cota, altitude e desnível.

ˆ Diferença de Nível - É a diferença de alturas (Figura 2), altitudes (Figura 3) ou cotas


(Figura 3) de dois pontos situados na superfície da Terra.

Figura 2: Diferença de nível entre A e B através da diferença de alturas.

Figura 3: Diferença de nível entre A e B através da diferença de altitudes.

Figura 4: Diferença de nível entre A e B através da diferença de cotas.

2 Representação do relevo
De forma que o relevo seja estudado, analisado e compreendido é imprescindível a sua represen-
tação, e em Topograa as formas mais comuns de representação são: pontos cotados, curvas de

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nível, perl, seção transversal, modelagem numérica do terreno, vetorização, graduação colori-
métrica, entre outras.

2.1 Pontos cotados


São pontos espacialmente distribuídos num plano (X e Y), representados gracamente, onde se
tem as altitudes ou cotas, levantadas de um determinado terreno (Figura 5).

Figura 5: Plano cotado de um terreno.

2.2 Curvas de nível


É uma forma de representação do relevo, onde temos linhas imaginárias que unem pontode igual
altitude e equidistantes entre si (gura 6)

Figura 6: Curvas de nível de um terreno.

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2.3 Perl
Os pers são uma vista lateral do relevo, o mesmo pressupõem o traçado das curvas de nível.

Figura 7: Perl de um terreno.

3 Instrumentos utilizados para o nivelamento


Varios podem ser os instrumentos utilisados para realizar o nivelamento, os mesmos podem ser
vistos na tabela a baixo:

4 Métodos de Nivelamento
Os métodos de nivelamento podem ser:

ˆ Barométrico;

ˆ Por satélites;

ˆ Trigonométrico; e

ˆ Geométrico.

Importa-nos aqui falar de dois métodos (Geométrico e Trigonométrico).

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4.1 Nivelamento Geométrico
É a operação cujo principal objectivo é a determinação do desnível entre dois pontos a partir
da leitura em miras (estádias ou em código de barras) efetuadas com níveis ópticos ou digitais.
Este pode ser executado para ns geodésicos ou topográcos. É o método mais preciso para
obtenção das diferenças de nível, altitude e cotas. Seu princípio baseia-se em visadas horizontais
sucessivas nas miras verticalizadas.

4.1.1 Nível
São equipamentos que permitem denir com precisão um plano horizontal ortogonal à vertical
denida pelo eixo principal do equipamento.

As principais partes de um nível são:

ˆ Luneta;

ˆ Nível de bolha;

ˆ Sistemas de compensação (para equipamentos automáticos); e

ˆ Dispositivos de calagem.

Os níveis podem ser classicados quanto ao funcionamento:

ˆ ópticos - este subdivide-se ainda em: mecânico (Para este tipo de equipamento o nive-
lamento "no ou calagem"do equipamento é realizado com o auxílio de níveis de bolha
bi-partida); e automático (A linha de visada é nivelada automaticamente, dentro de um
certo limite, utilizando-se um sistema compensador (pendular));

ˆ digitais - a leitura na mira é efectuada automaticamente empregando miras em código


de barra.

Em norma o nível apresenta 3 eixos:

Figura 8: Eixo do Nível

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De modo que o euqipamento esteja operacional com vista a fazer levantamentos precisos
(depedendendo do tipo de levantamento bem como da precisão do própio equipamento) os eixos
devem satisfazer as seguintes condições:

ˆ O eixo ZZ' deve estar na vertical;

ˆ HH' deve estar na horizontal e ortogonal ao eixo principal; e

ˆ O eixo OO' deve ser paralelo ao eixo HH'.

Não se vericando estas condições o equipamento deve ser recticado.

4.1.2 Mira
A mira é um acessório do nível e serve para fazer leituras na mesma, ela apresenta-se numa
espécie de régua graduada, podendo ser de madeira, alumínio ou berglass. As miras podem
ser dobráveis ou retráteis. A gura abaixo apresenta alguns exemplos de miras existente no
mercado.

Figura 9: Diferentes modelos de miras

Exemplo de leitura de uma mira:


ˆ A mira apresentada está graduada em centímetros (traços claros e escuros);

ˆ Na leitura de uma mira convencional devem ser lidos quatro algarismos, que correspon-
derão aos valores do metro, decímetro, centímetro e milímetro, sendo que este último é
obtido por uma estimativa;

ˆ A leitura do valor do metro é obtida através dos algarismos em romano (I, II, III) e/ou
da observação do símbolo acima dos números que indicam o decímetro. (gura 10);

Figura 10: Convenção para a indicação do metro para grande parte das miras usadas

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ˆ Se o número que indica o decímetro não apresentar um destes símbolos acima da indicação
do valor, signica que a leitura esta sendo efetuada abaixo de 1m.

Figura 11: Exemplo de leituras

ˆ A leitura do decímetro é realizada através dos algarismos arábicos (1, 2, 3, etc.);

ˆ A leitura do centímetro é obtida através da graduação existente na mira;

ˆ Traços escuros correspondem a centímetros ímpares e claros a valores pares;

ˆ Finalmente a leitura do milímetro é estimada visualmente.

4.1.3 Conceitos relevantes no Nivelamento


ˆ Visada - leitura efectuada sobre a mira;
ˆ Lance - é a medida direta do desnível entre duas miras verticais;
ˆ Leituras/visada de Ré - é a primeira leitura que se faz numa estação. Apenas temos
uma leitura de Ré para cada estação. Essa leitura é feita em cima do ponto onde se tem
a cota ou a altitude conhecida;

ˆ Leitura/visada de vante - a leitura posterior ou posteriores à visada de Ré. Podemos


ter uma ou mais leituras de Vante para cada estação.

ˆ Seção - é a medida do desnível entre duas referências de nível e é obtida pela soma
algébrica dos desníveis dos lances.

ˆ Linha de nivelamento - é o conjunto das seções compreendidas entres duas RN chama-


das principais;

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Figura 12: Lance

Figura 13: Seção

ˆ Circuito de nivelamento - é a poligonal fechada constituída de várias linhas justa-


postas. Pontos nodais são as RN principais, às quais concorrem duas ou mais linhas de
nivelamento;

ˆ Rede de nivelamento - é a malha formada por vários circuitos justapostos.

Figura 14: Rede, circuito e linha de nivelamento

ˆ Altura do Instrumento (AI) - também chamado de plano de referência (PR),é a dis-


tância vertical compreendida entre a linha de visada e o plano de referência, esse plano

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pode ser de referência qualquer ou nível médio do mar. Em cada estação só podemos ter
uma altura do instrumento;

Figura 15: Altura de instrumento (AI), leitura de Ré e leitura de Vante numa estação

4.1.4 Tipos de Nivelamento Geométrico


O nivelamento geométrico divide-se em dois tipos a saber:
Nivelamento geométrico simples
Quando se tem apenas uma estação no nivelamento ou seja o desnível entre os pontos de
interesse é determinado com apenas uma única instalação (lance) do equipamento.

Nivelamento geométrico composto


É uma sucessão de nivelamentos geométricos simples (dois ou mais), devidamente amarra-
dos aos pontos topográcos. O desnível entre os pontos será determinado a partir de vários
lances, sendo o desnível nal calculado pela somatória dos desníveis de cada lance. Este tipo
de nivelamento executa-se quando por nivelamento geométrico simples não é possível concluir
o trabalho, devido obstáculos no percurso, relevos íngremes, distâncias grandes, etc.

Figura 16: Nivelamento Simples e Composto

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4.2 Métodos de Nivelamento Geométrico
O nivelamento geométrico pode ser:

ˆ visadas iguais;

ˆ visadas extremas;

ˆ visadas recíprocas;

ˆ visadas equidistantes.

Para a presente aula iremos falar do nivelamento de visadas iguais.

4.2.1 Visadas Iguais


Tratando-se de engenharia, este é o método mais usado, devido a sua precisão quando comparado
com os demais, nele as duas miras são colocadas entre os dois pontos que se pretende determinar
o desnível de forma equidistante com relação ao nível, o desnível é determinado pela diferença
entre as leituras dos os médios ré e a de vante (g. 17).

Figura 17: Nível em duas alturas diferentes

O nível estar a igual distância entre as duas miras não implica necessariamente que o mesmo
deva estar alinhado entre elas (Fig. 18).

Figura 18: Nível a igual distância entre os pontos

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A principal vantagem deste método é de minimizar os erros causados pela curvatura terrestre,
refração terrestre bem como a colimação do nível (g. 19).

Figura 19: Erro de colimação e curvatura terrestre

4.2.2 Determinação da cota/altitude intermediária de um ponto e preenchimento


numa tabela dos valores de nivelamento geométrico simples
Para determinar a cota/altitude intermidiária ou nal de um nivelamento basta, subtrair da
altura do instrumento a leitura de Vante. Dado pela fórmula: AI − V ante = Cota.

Figura 20: Nivelamento geométrico simples.

Preenchimento da tabela correspondente ao nivelamento da gura acima:

É possível em um nivelamento geométrico simples numa estação ter uma leitura de Ré e


uma ou mais leituras de Vante.

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Figura 21: Nivelamento geométrico simples.

Preenchimento da tabela correspondente ao nivelamento da gura acima:

4.2.3 Determinação da cota/altitude intermediária de um ponto e preenchimento


numa tabela dos valores de nivelamento geométrico composto
A caracteristica princimpal do nivelamento composto é a existência de mais de uma estação.
Assim sendo o preenchimento das tabelas de nivelamento é ligeiramente diferente do simples
embora seguindo a mesma lógica, diferindo a altura do instrumento que deve ser registada para
cada estação.

Figura 22: Nivelamento geométrico composto.

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Preenchimento da tabela correspondente ao nivelamento da gura acima:

4.2.4 Contranivelamento
Tido como o processo inverso do nivelamento cujo principal objectivo é aferir as altitude/cotas
dos diferentes pontos topográcos obtidos no nivelamento. Após a última estação no nivela-
mento, retira-se o instrumento do local e instala-se novamente, caracterizando-se como uma
nova estação, faz a leitura de Ré no último ponto obtido e segue o processo inverso do nivela-
mento. Este processo pode ser dado também pela variação da altura do instrumento em cada
estação economisando desta feita o tempo, visto que não haveria mais a necessidade de voltar
a estação.

Figura 23: Contranivelamento.

A tabela abaixo demonstra como se insere os valores do contranivelamento:

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4.2.5 Tolerância do nivelamento
Designa-se por tolerância de um nivelamento o valor pelo qual durante o processo de nivelamento
não pode ser excedido e o mesmo é calculado em função do perímetro percorrido (em km), sem
contar com o contranivelamento.
Classicação da tolerância:

ˆ alta ordem: tolerância é de ±1,5 mm/km percorrido;

ˆ primeira ordem: tolerância é de ±2,5 mm/km percorrido;

ˆ segunda ordem: tolerância é de 1,0 cm/km percorrido;

ˆ terceira ordem: tolerância é de 3,0 cm/km percorrido; e

ˆ quarta ordem: tolerância é de 10,0 cm/km percorrido.



Espartel (1987) utiliza a fórmula de tolerância igual a: T = ±5mm DHemKm

4.2.6 Erro de Distribuição


Este valor pressupoem a comparação entre as medidas niveladas com as contraniveladas. Se
este superar a tolerância o trabalho deve ser feito novamente e se menor, deve ser distribuido
pelas cotas/altitudes. A distribuição do erro ocorre subtraindo o valor contranivelado do valor
inicial. deve ser dividido pela quantidade de estações e subtraído em cada cota das estações e
de forma acumulativa.
Pode-se ter como exemplo a seguinte tabel o seguinte:

Sabe-se que nessa Tabela o erro foi de  6 mm. Imaginemos hipoteticamente que esse erro
está abaixo da tolerância e podemos fazer a distribuição. Divide-se 6 mm por 6 estações e
teremos uma correção de 1mm a mais para cada estação. Como é acumulativa teremos: +1
mm, +2mm, +3 mm, +4 mm, + 5mm e + 6mm.

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4.3 Nivelamento Trigonométrico
Este é um método que usa principios trigonométricos para determinação de diferença de nível
entre pontos na supercíe, bem como altura de objectos quando a distância horizontal entre os
pontos for igual a zero.

Observando a gura acima (esquema teórico de determinação de desn


vel) a formula para
determinação do desnível seria: DN = DH ∗ tg(α). Devido a declividade/aclividade torna-se
impossível a medição da DH sem o uso de um instrumento. Para medir DH é necessário a
instalação de um teodolito, no ponto A, e da mira-falante, no ponto B, Ao se colocar o teodolito
no ponto A, para se calcular a DN, deveremos acrescentar à fórmula a altura do instrumento
até a superfície do ponto (AIs ) e ao se colocar a mira- falante, deveremos subtrair o FM da
fórmula.

Figura 24: Obtenção da DN na prática

Assim tem-se: DN = DH × tg(α) + AIs − F M


(F S − F I)cos2 α
A DH é determinada pela seguinte formula: DH =
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4.3.1 Determinação da altura de objectos
Para altura de objetos, como: edicações, postes, falésias, árvores, etc, o nivelamento trigono-
métrico é também bastante útil. Quando a DH do ponto inicial e o nal que queremos saber
for igual a zero utilizaremos outro método dentro do nivelamento trigonométrico.

ˆ Primeiro, instala-se o teodolito em frente ao objeto a uma determinada distância;

ˆ Coloca-se a mira-falante junto ao objeto e calcula-se a distância horizontal do teodolito


até o objeto;

ˆ Gira-se o instrumento até a ponta ou aresta nal do objeto e descobre-se o ângulo alfa do
plano topográco até o objeto (o teodolito dá o ângulo zenital, deve-se calcular o alfa).

Olhando a gura tem-se que X = DH × tg(α) A altura do objecto sera determinada por:
AO = X + F M

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