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Aprendizagem Dos Cães - Cap. Otávio Soares
Aprendizagem Dos Cães - Cap. Otávio Soares
n cãe
Para muito além de Pavlov e Skinner
1a edição
Otávi A . B. Soare
A aprendizage
n cãe
Para muito além de Pavlov e Skinner
Otávi A . B. Soare
pág 2
A aprendizagem nos cães:
para muito além de Pavlov e Skinner
(e-book)
Otávio Augusto Brioschi Soares
Instituto Muniz de Aragão
pág 3
Sumário
Ah a aprendizagem 5
Introdução 6
Como os animais aprendem? As teorias da aprendizagem 7
Aprendizagem não associativa 9
Habituação 9
Sensibilização 10
Alterações neurológicas na aprendizagem 11
Aprendizagem associativa e behaviorismo 12
Condicionamento clássico 13
Fenômenos do condicionamento clássico 16
A ponte entre o condicionamento clássico e o operante 18
Condicionamento operante 19
Reforçamento e seus esquemas 21
Reforço e punição, positivo e negativo 23
Modelagem 25
O princípio de Premack 27
A transição para o cognitivismo 28
O cognitivismo moderno 29
Conclusão 31
Bibliogra a consultada 32
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Otávio A. B. Soares - A aprendizagem nos cães
Ah a aprendizagem
A aprendizagem é um fenômeno muito estudado por
muitos pro ssionais há muito tempo, nos homens e nos
animais. Muitos conceitos foram estudados primeiramente
nos animais e depois transpostos para nós humanos.
Outros zeram o caminho contrário. Não importa. Muitos
dos conceitos da aprendizagem são úteis para quem lida
diariamente com cães. É o que este e-book traz à mesa.
Boa leitura!
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Otávio A. B. Soares - A aprendizagem nos cães
Introdução
Em nosso país, a procura por conhecimento na área da relação cão-
humano, por uma gama imensa de pro ssionais, vem aumentando, haja
vista o crescente número de formações, associações, encontros e por
último, mas não menos importante, recursos nanceiros movimentados
pelas atividades que envolvem o cão e os animais em geral.
Dentro desse cenário seria esperado que as publicações sobre o tema no
Brasil tivessem crescido no mesmo ritmo ou em um ritmo parecido, no
entanto, pelo menos no que é de meu conhecimento, isso não ocorreu.
São muito poucas as publicações em português que envolvem a
aprendizagem canina, tanto de uma perspectiva mais teórica e técnica,
quanto de uma perspectiva mais prática e aplicada.
Portanto, este e-book tem como objetivo geral realizar uma revisão
selecionada sobre a aprendizagem canina, focando naqueles tópicos que
podem ser utilizados, na experiência do autor, para o treinamento de cães
em geral.
O texto serve à todos que convivem com cães, sendo estes responsáveis
por eles ou não, e tem o intuito de torná-la mais fácil e mais prazerosa, aos
pro ssionais do adestramento e do mercado pet canino, que trabalham
com a aprendizagem dos cães em suas tarefas diárias, aos médicos
veterinários, que recebem cães em suas clínicas e repassam informações
para tutores/proprietários e por m, aos consultores comportamentais e
médicos veterinários comportamentais, que labutam diariamente para
promover o bem-estar de animais que possuem algum problema/distúrbio
comportamental.
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Habituação
A habituação é um fenômeno comum a muitos organismos, inclusive
invertebrados, que consiste na extinção de uma resposta que existia
previamente após estimulação suave e repetida.
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Sensibilização
A sensibilização ocorre justamente quando a habituação não se concretiza,
muitas vezes por a estimulação ser muito intensa ou dela advir outra
consequ ência desagradável para o animal, que, após ser sensibilizado,
responde com alta intensidade a estímulos pequenos.
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Aprendizagem associativa e
behavi ismo
A aprendizagem associativa contempla as técnicas mais conhecidas por
adestradores por todo o globo. Os estudos que se debruçaram sobre estas
técnicas começam com os estudos de Ivan Pavlov, e passam por John B.
Watson, Edward L. Thorndike e Burrhus F. Skinner, dentre outros.
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Condicionamento clássico
Em estudos sobre a siologia digestiva, após já ter sido agraciado com o
prêmio Nobel de medicina, Pavlov observou que os cães de um de seus
experimentos passaram a salivar antes da oferta de alimento, fenômeno
hoje conhecido como condicionamento clássico.
O cão de Pavlov
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Estas teorias de Watson são muito utilizadas atualmente com cães, sendo
uma das bases das chamadas técnicas positivas de adestramento, além da
base para as técnicas de contracondicionamento utilizadas dentro da
etologia clínica veterinária.
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Lei do Efeito
“As respostas que oc rem antes de
um estado de coisas satisfatório
tem mai probabilidade de serem
repetidas.” Th ndike (1913)
Esta lei é a base do conexionismo de Thorndike, pois diz que as conexões
entre estímulos e repostas são mais propensas a serem feitas se o estado
de coisas após a resposta for satisfatório, ou agradável (Lefrançois, 2016).
Apesar do foco de Thorndike ser na conexão entre estímulo e reposta, o
que se assemelha em alguma maneira a abordagem de Pavlov, estavam
abertas as portas para o condicionamento operante e o behaviorismo
radical de Skinner.
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Condicionamento operante
Burrhus Frederic Skinner foi talvez o psicólogo mais famoso de todos os
tempos. Foi professor em Harvard entre outras faculdades e elaborou sua
teoria do aprendizado, chamado por alguns de behaviorismo radical, para
“reformar todo o campo (da psicologia do aprendizado) para se adequar a
mim” (Skinner, 1979).
O behaviorismo radical tem este nome por se afastar das propostas, já
existentes naquela época, de explicar alguns fenômonos do
comportamento por estados interiores, mentais, etc. Segundo Skinner, o
behaviorismo radical apoia-se exclusivamente em fenômenos observáveis.
Skinner acreditava que o comportamento pode ser explicado por certas
leis, e que este comportamento pode ser estudado exclusivamente com
causas externas aos organismos.
Ao contrário de Pavlov, que estudou respostas relacionadas a re exos
siológicos, Skinner estava mais interessado em estudar comportamentos
que tem algum efeito sobre o mundo ao redor (Skinner, 1953), nos quais,
por m, os sujeitos operam no ambiente externo, daí o nome de
condicionamento operante.
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Nesta abordagem, reforço é todo evento que ocorre após a resposta, que
aumenta a probabilidade da resposta ocorrer novamente. E punição é o
contrário, um evento que diminui a probabilidade da resposta ocorrer
novamente. Nessa abordagem os termos reforço e punição não dizem
nada sobre o estado emocional do animal, se o animal entende o evento
como agradável ou desagradável.
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Modelagem
Também desenvolvida nos experimentos de Skinner, a modelagem é a
técnica usada para treinar animais a fazer coisas que normalmente não
constam de seu repertório comportamental, através de reforçamento
diferencial das aproximações sucessivas.
A modelagem trata de encadear comportamentos, ligando uma sequência
de respostas, o que faz a própria resposta de um comportamento tornar-
se o estímulo discriminativo para o próximo comportamento.
Por exemplo, se queremos ensinar a um cão que ao entrar em uma sala o
mesmo deverá ir para o canto e colocar o focinho na parede, podemos
prosseguir assim: ao entrar na sala, ensinamos o cão a colocar o focinho
na parede, depois a caminhar para o canto, e por m encadeamos os dois
comportamentos, de modo que a entrada do cão na sala sirva como
estímulo para olhar para o canto, olhar para o canto sirva de estímulo para
caminhar ao canto e, por m, chegar ao canto sirva de estímulo para
colocar o focinho na parede.
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B. F. Skinner
Modelagem
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O princípio de Premack
Com uma abordagem um pouco diferente sobre reforçadores, mas ainda
dentro dos princípios do condicionamento operante, Premack (1965)
observou que o reforçamento e os reforçadores são relativos, e, além
disso, podem ser atividades ou respostas (comportamentos).
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O cognitivismo moderno
A psicologia da Gestalt, linha de pensamento que surgiu com psicólogos
alemães na primeira metade do século XX, pode ser considerada o início
da psicologia cognitiva moderna, pois passa a se preocupar com a
percepção, a consciência e a solução de problemas dos indivíduos,
contrapondo assim a visão mecanicista do behaviorismo (Lefrançois,
2016).
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Conclusão
Por todo o exposto na literatura levantada pode-se concluir que existem
várias teorias sobre como os processos de aprendizagem acontecem nos
animais e especialmente nos cães, passando por formas mais simples
como a aprendizagem não associativa e entrando em processos um pouco
mais complexos como a aprendizagem associativa.
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Bibliogra a consultada
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