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COGNIÇÃO E

COMPORTAMENTO
Wilson Melo e Márcio Englert Barbosa

Por muito tempo achamos que o pensamento


era cognitivo, mas hoje sabemos que as emo-
ções estão ligadas a tudo o que fazemos.

Maximiliano Wilson
Conheça
c o livro da disciplina
-
CONHEÇA SEUS PROFESSORES 3

Conheça os professores da disciplina.​

EMENTA DA DISCIPLINA 4

Veja a descrição da ementa da disciplina. ​

BIBLIOGRAFIA DA DISCIPLINA 5

Veja as referências principais de leitura da disciplina.​

O QUE COMPÕE O MAPA DA AULA? 6

Confira como funciona o mapa da aula.

MAPA DA AULA 7

Links de artigos científicos, informativos e vídeos sugeridos.

RESUMO DA DISCIPLINA 44

Relembre os principais conceitos da disciplina.​

AVALIAÇÃO 45

Veja as informações sobre o teste da disciplina.​

2
Conheça
c seus professores

-
WILSON MELO
Professor Convidado

Psicólogo, professor e pesquisador sobre o viés cognitivo nos


transtornos de ansiedade e outras psicopatologias, Atua como
psicoterapeuta, supervisor clínico e consultor. Atualmente é o
Presidente da Federação Brasileira de Terapias Cognitivas (FBTC).
Ex-membro do grupo de trabalho Pesquisa Básica Aplicada em
uma Perspectiva Cognitivo-Comportamental da ANPEPP e ex-
coordenador do processo de implementação e da Comissão
de Certificação de Terapeutas Cognitivos no Brasil pela FBTC.
Também foi coordenador do curso de formação em Terapia
Comportamental Dialética, da Elo Psicologia e Desenvolvimento.
Foi membro da Association for Contextual Behavioral Science
(ACBS), fundador da Associação de Terapias Cognitivas do Rio
Grande do Sul (ATC-RS) e fundador do Instituto de Terapia
Cognitiva do Rio Grande do Sul (ITC-RS). É organizador dos
livros “Estratégias psicoterápicas e a terceira onda em terapia
cognitiva” e “A prática das intervenções psicoterápicas: como
tratar pacientes na vida real”. Também é autor de mais de 60
publicações entre capítulos de livros e artigos científicos.

MÁRCIO ENGLERT BARBOSA


Professor PUCRS

Professor do curso de Psicologia da PUCRS. Doutor em


Psicologia e Mestre em Cognição Humana pela PUCRS, mesma
instituição pela qual se graduou Psicólogo. Também atua como
Psicólogo Clínico, sendo Especialista em Psicoterapia Cognitivo-
Comportamental pela WP Psicologia. Tem experiência na área
de Psicologia com ênfase em Psicologia Cognitiva, Psicoterapia
Cognitivo-Comportamental e Psicologia do Esporte.

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Ementa da Disciplina
O uso de técnicas comportamentais no contexto das Terapias Cognitivo-
Comportamentais. Aproximações e afastamento dos modelos comportamentais
e cognitivos. As diferentes fases de desenvolvimento das Terapias Cognitivo-
Comportamentais.

4
Bibliografia da Disciplina
As publicações destacadas têm acesso gratuito.

Bibliografia básica

BECK, J. Terapia Cognitivo-Comportamental. Porto Alegre: Grupo A, 2017.

LEAHY, R. L. Terapia cognitiva contemporânea: teoria, pesquisa e prática. Porto


Alegre: Artmed, 2010.

SKINNER, B. F. Ciência e Comportamento Humano. São Paulo: EDART, 1974.

5
O que compõe
o o

s
Mapa da Aula?
MAPA DA AULA
São os capítulos da aula, demarcam
momentos importantes da disciplina,
servindo como o norte para o seu FUNDAMENTOS
aprendizado.
Conteúdos essenciais sem os quais você
pode ter dificuldade em compreender a
matéria. Especialmente importante para
alunos de outras áreas, ou que precisam
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
relembrar assuntos e conceitos. Se você
estiver por dentro dos conceitos básicos
Questões objetivas que buscam
dessa disciplina, pode tranquilamente
reforçar pontos centrais da disciplina,
pular os fundamentos.
aproximando você do conteúdo de
forma prática e exercitando a reflexão
sobre os temas discutidos.​Na versão CURIOSIDADES
online, você pode clicar nas alternativas.
Fatos e informações que dizem
respeito a conteúdos da disciplina.
PALAVRAS-CHAVE
Conceituação de termos técnicos,
expressões, siglas e palavras específicas
do campo da disciplina citados durante DESTAQUES
a videoaula.
Frases dos professores que resumem
sua visão sobre um assunto ou situação.​
VÍDEOS
Assista novamente aos conteúdos
expostos pelos professores em vídeo.
Aqui você também poderá encontrar ENTRETENIMENTO
vídeos mencionados em sala de aula.
Inserções de conteúdos para tornar
a sua experiência mais agradável e
PERSONALIDADES significar o conhecimento da aula.​

Apresentação de figuras públicas


e profissionais de referência
mencionados pelo(a) professor(a).
CASE
Neste item, você relembra o case
analisado em aula pelo professor.​
LEITURAS INDICADAS
A jornada de aprendizagem não
termina ao fim de uma disciplina. Ela
segue até onde a sua curiosidade MOMENTO DINÂMICA
alcança. Aqui você encontra uma lista
de indicações de leitura. São artigos e Aqui você encontra a descrição detalhada
livros sobre temas abordados em aula.​ da dinâmica realizada pelo professor.

6
Mapa da Aula
Os tempos marcam os principais momentos das videoaulas.

AULA 1 • PARTE 1

Princípios fundamentais 03:20

Situada entre a psicologia e a neurociência,


a terapia cognitivo-comportamental possui
suas origens no pensamento estoicista.
Os estoicistas defendiam que a mudança
de cognição é fundamental enquanto
interpretação dos fatos e acontecimentos 03:44
Fundamentalmente, é isto
que nos rodeiam, nos abatem e nos formam
que a gente faz em terapia
exteriormente.
cognitivo-comportamental:
Tendo em vista esse contexto, Melo ensinar para os nossos
destaca que, para a TCC, a atividade pacientes como fazer para
cognitiva influencia tanto o humor quanto o prestar atenção nos seus
comportamento. Podendo ser monitorada pensamentos, se dar conta
e alterada, a atividade cognitiva é um desses pensamentos e intervir
dos grandes focos de análise terapêutica, sobre eles.
de modo ao paciente prestar atenção às
suas linhas de interpretação da realidade.
Alterando a cognição, há, portanto,
uma mudança das emoções e dos
comportamentos, o que demonstra que
a construção da personalidade passa por 04:03
Alterando essa cognição, a
critérios tanto biológicos quanto ambientais. gente vai ter uma mudança
também dessa emoção e desse
A filogenia e a ontogenia, enquanto
comportamento subjacente.
estruturantes de caminhos e de
Ou seja: o comportamento
características genéticas, estruturam
desejado pode ser influenciado
e influenciam as características
mediante a mudança cognitiva.
pessoais dos indivíduos. Assim, há uma
complementaridade entre ambos os
conceitos em relação ao comportamento
individual, em constante interação
e aprendizagem. O conjunto dos
conhecimentos declarativos e procedurais 05:14
O ambiente vai moldar e
cria esquemas mentais hierarquizados,
vai interagir sobre essa
crenças estruturantes da mentalidade,
biologia, construindo, então,
compostas por: distorções perceptivas,
o que a gente vai chamar de
pensamentos automáticos, padrões
personalidade.
emocionais e comportamentais.

7
A nossa personalidade e 07:15
as nossas características
são tanto herdadas
filogeneticamente quanto
também moldadas
ontogeneticamente pelas PALAVRA-CHAVE
nossas experiências. 08:17

Conhecimento declarativo: é
onde existe o mundo conceitual
das crenças, que estruturam nossa
percepção de nós mesmos e do
mundo que nos cerca.
O nosso jeito de ser tem a ver 13:12 Conhecimento procedural: refere-
com coisas que acreditamos se ao funcionamento das coisas,
e coisas que aprendemos a suas transformações, processos e
fazer de uma determinada funcionamentos.
forma. Isso tem a ver com
experiências significativas
da nossa história de vida,
mas também tem a ver com
aspectos biológicos.
13:36 Abordagens da 1ª onda

As terapias de primeira onda foram


classificadas como tal inicialmente
PERSONALIDADE por Steven C. Hayes, em 2004, que
15:58 entendeu elas fundamentalmente a
partir do modelo comportamental.
Ivan Petrovitch Pavlov
O modelo comportamental surgiu
como um modelo de aprendizagem,
e não tanto como perspectiva clínica.
Com experimentos iniciais de Ivan
Pavlov a respeito da salivação canina,
foi descoberta uma relação entre a
produção fisiológica da saliva e eventos
exteriores. Dessa forma, Pavlov entendeu
que contingências ambientais, como
Ivan Pavlov (1849 - 1936) foi um fisiologista
estímulos, proporcionavam uma mudança
russo, ganhador do Nobel de Medicina de
comportamental, o que demonstra o
1904, conhecido pelo seu trabalho a respeito
processo de condicionamento como forte
do condicionamento comportamental. Por
influenciador de aprendizagem fisiológica.
meio do mecanismo de condicionamento
clássico, Pavlov entendeu que certas Posteriormente incorporada pela
respostas comportamentais são reflexos psicologia, a aprendizagem fisiológica
inatos, enquanto outros são fisiológica, foi abordada por meio da aprendizagem
social e psicologicamente aprendidos. Com cognitiva e emocional, com os estudos de
pesquisas iniciais sobre a saliva canina, John Watson a respeito do seu modelo
sua teoria contemplou a propriedade dos behaviorista. Com Watson, desenvolve-se a
processos nervosos em relação à excitação ideia de que emoções também podem ser
ou à inibição. Com amplo alcance na área aprendidas. Assim, tanto a sensibilização
da aprendizagem, os estudos de Pavlov quanto a dessensibilização podem ser
demonstraram a relação entre estímulos produzidas por meio de processos
ambientais e respostas comportamentais, o estressores ou positivos.
que ocasionou sua importância posterior para
a psicologia comportamental.

8
Já com Skinner, propõe-se a ideia de
que muitos comportamentos não são
John Watson, então, 21:58 aprendidos de maneira reflexa, mas sim
é representante desse como consequências ambientais. A ideia de
behaviorismo metodológico, “operante”, ou seja, aquele comportamento
em que ele traz dentro dessa realizado de forma deliberada, relaciona-
perspectiva a ideia de que nós se como fluxo cognitivo a certos reforços
podemos entender também ambientais. É nesse contexto que Skinner
os processos emocionais desenvolve o conceito de punição, como
como algo que é aprendido. um condicionante ambiental que diminui
a intensidade e a frequência de certas
respostas comportamentais. Ou seja: a
punição é um estímulo discriminatório que
barra determinada atitude.
O nosso comportamento 25:15
se mantém porque ele tem Dentro dessa linha de raciocínio, o professor
uma função no ambiente. apresenta o pensamento de Albert Bandura,
Se essa função estiver caracterizado pelo condicionamento vicário,
associada a respostas que ou pela aprendizagem social. Bandura
sejam reforçadoras, isso vai enfatiza o reforço em sua perspectiva
aumentar a chance daquele social, de padrões compartilhados.
comportamento ser emitido
Para Skinner, a modelagem se refere ao
novamente.
fato de reforçarmos o comportamento do
indivíduo conforme ele se aproxima do
comportamento desejado. Já para Bandura,
a modelação é quando o modelo ambiental
apresentado é, de certa forma, copiado e
Quando a gente aprende um 26:37 assimilado pelo indivíduo por meio de sua
determinado comportamento, própria representação mental.
a curva de desaprendizagem
é mais longa. É mais Nesse sentido, o comportamentalismo
demorado desaprender esse trouxe a mensurabilidade e a previsão de
comportamento depois que comportamentos como centrais para a
eu o aprendi. análise psicológica. Também entende-se
que existe uma variação, inclusive, genética
para a aprendizagem de comportamentos.

Alguns comportamentos 32:58


podem ser mais facilmente
condicionados do que outros.

33:52
Essa aprendizagem que os
nossos ancestrais tiveram é
transmitida de uma geração
para outra, através da filogenia.
Isso acaba fazendo com que
eu tenha uma suscetibilidade
a determinados tipos de
aprendizagem.

9
Condicionamentos respondente e
35:22
operante

Ainda discorrendo sobre o modelo


comportamental, fala-se sobre os diferentes
tipos de aprendizagem. A partir de Pavlov,
36:37
a resposta advinda do estímulo passa, A ansiedade é uma emoção
todavia, por uma contingência ambiental, muito aversiva de sentir.
ou, segundo Skinner, um condicionamento
operante. Logo, as contingências do ambiente
podem ser tanto reforçadoras quanto
punitivas em relação aos comportamentos.
Ademais, por vezes o reforço e a punição 37:40
Qual é o problema que
podem se consubstanciar dentro de um
acontece num quadro de
mesmo comportamento, na medida em que
fobia? A pessoa, quando se
certas atitudes se desdobram em diferentes
depara com aquilo, tende
estímulos, complementares, oposicionais
a evitar aquele estímulo
ou sobrepostos por meio da complexidade
temido. Quando a pessoa
emocional humana.
evita, ela acaba criando um
Já o condicionamento operante, segundo processo de reforçamento do
Skinner, pode variar em punição ou reforço comportamento evitativo. Isso
pode variar de acordo com o contexto faz com que a fobia não passe.
ambiental ou certos momentos específicos.
Logo, é preciso entender a história de
aprendizagem dos indivíduos em suas
biografias, a fim de que o terapeuta entenda
45:10
os reforços necessários ou estratégicos para o O que é reforçador ou punitivo
paciente. em um determinado momento
pode também não ser em um
outro momento.
EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO

Assinale a alternativa incorreta:

O reforçamento positivo é quando


um comportamento aumenta como
consequência agradável.

A punição negativa é quando


um comportamento diminui pela
retirada de uma consequência
agradável.
46:15
Aquilo que pode ser reforçador
Ivan Pavlov foi um importante num determinado momento
Resposta desta página: alternativa 3.

psicólogo russo responsável pelo pode não ser em outro, e pode


desenvolvimento da psicologia também ser que, para algumas
comportamental, ao lado de Skinner. pessoas, determinados tipos
de contingência sejam muito
O conhecimento declarativo reforçadoras, e, para outras,
relaciona-se às crenças.
absolutamente não.

10
AULA 1 • PARTE 2

Teoria dos dois fatores 00:25

A teoria da aprendizagem dos dois


fatores foi proposta por Mowrer. A visão
comportamental da ansiedade utiliza os
princípios da aprendizagem, do reflexo,
das respostas inatas, e também do 06:57
De acordo com esse modelo
conhecimento instrumental de Skinner. do primeiro fator, da teoria do
Assim, o comportamento de fuga alia- Mowrer, nos quadros fóbicos,
se ao comportamento de evitação, o o medo que o paciente
que traz uma relação, por exemplo, apresenta é um medo que ele
entre um susto primário e a evitação, é aprendido. O medo é uma
que reforça o comportamento evitativo. resposta condicionada.
O condicionamento refexo de Pavlov
passa a ser compreendido por meio do
condicionamento operante, ou seja, um
comportamento de esquiva. Quando
o estímulo aversivo incondicionado é
08:31
relacionado a um estímulo neutro, isso Muitas vezes, os quadros
passa a gerar uma resposta incondicionado. de ansiedade tendem a se
O medo, assim, é aprendido como cronificar em função do fato
comportamento de resposta e estímulo de que a estratégia que o
condicionado. indivíduo tem para lidar com
aquela ansiedade é a esquiva.
Logo, o processo de associação de estímulos
de ansiedade e medo tendem a se reforçar
a si mesmos por meio de esquivas. Quanto
mais um paciente ansioso se esquivar
e não enfrentar essas manifestações 12:24 Técnicas de relaxamento
ansiogênicas, maior e mais intensa será a
fobia. Uma conduta evitativa, assim, reforça Algumas técnicas comportamentais
negativamente a fobia, o que ocasiona uma trazidas à tona são técnicas de
perpetuação desse tipo de conduta. relaxamento. A respiração diafragmática
diminui a ativação fisiológica associada
à ansiedade. A distensão e a contração
muscular do diafragma em pessoas
Dessensibilização sistemática 19:57 ansiosas tende a ser muito mais rápida
e frequente. Assim, colocar esse tipo de
Criada por Joseph Wolpe em 1958, a técnica em prática é útil para um maior
dessensibilização sistemática é uma domínio corporal. Já o relaxamente
técnica baseada na generalização muscular progressivo trabalha com as
respondente, ou seja, que trabalha para diferentes partes do corpo.
demonstar as respostas a partir de um
contracondicionamento. Isso pode se dar,
por exemplo, com a utilização de técnicas
de relaxamento em momentos de tensão ou
ansiogênicos.

11
Ela consiste em quatro etapas, que iniciam
com o treino de técnicas de relaxamento. 28:47
A questão é que ele não sabe
Depois, há de se desenvolver uma como enfrentar esse medo.
escala de ansiedade subjetiva, para que Por isso, a exposição vai ser
o paciente quantifique suas fobias de necessária, porque a gente
forma hierárquica. Assim, posteriormente, vai estar agindo num nível
começam a existir estímulos para que o de procedimento, no nível
paciente trabalhe num nível intermediário procedural, de como lidar.
de desconforto, enfrentando níveis mais
leves de fobia, se expondo, mas em níveis
seguros. É desejável que o terapeuta
transmita, nesses momentos, atitudes
de confiança, aliando modelação e 30:27
Intervenções cognitivas
modelagem.
e comportamentais
O planejamento da exposição, com efeito, modificam também
relaciona-se a estímulos eliciadores de o meu sistema de
ansiedade, o que passa a ocasionar uma crenças. Eu também
diminuição da fobia por meio de um nível vou ter uma resposta
corporal, de enfrentamento, e não por emocional e cognitiva
meio de um conhecimento meramente atuando exclusivamente
declarativo. Logo, a prática busca ensinar no comportamento.
uma resposta de relaxamento em relação
à exposição gradual ao estímulo de
ansiedade, de modo que o paciente pouco
a pouco enfrente esse comportamento,
mas também essa crença.
33:18
Se a pessoa tem muitos
A fobia, muitas vezes, parte de um medo medos, de maneira mais
irracional, desproporcional. Também é difusa, talvez considerar o
necessário identificar se as fobias são diagnóstico de ansiedade
específicas, ou generalizadas. Muitas vezes, generalizada faça mais
a dessensibilização sistemática pode ser sentido. Aí, o trabalho é mais
feita a partir de imagens mentais, caso cognitivo no TAG - Transtorno
o paciente num primeiro momento não de Ansiedade Generalizada -
consiga enfrentar a materialidade daquela do que é nas fobias.
fobia.

Melo demonstra que por vezes não é


necessário conhecer a origam do medo
para tratá-lo, sob o entendimento de
que o tratamento pode acompanhar
o medo em seu próprio processo de
manifestação e existência. Desse modo,
a exposição gradual anda lado a lado
com uma hierarquização do processo
fóbico, entendendo que o tratamento
deve enfrentar a fobia de forma crescente,
porém respeitosa.

12
AULA 1 • PARTE 3

Ativação comportamental 00:25

A técnica de ativação comportamental é


voltada a quadros depressivos. Inicialmente,
o professor responde a uma pergunta sobre
como operacionalizar uma dessensibilização
sistemática em transtornos obsessivo- 02:10
Pensar não é o mesmo
compulsivos que não tornam possível a
que fazer. No TOC,
visualização “in vivo” da fobia. Nesses
especificamente, [...] a gente
casos, a técnica mais utilizada para TOC
tem uma distorção cognitiva
é a exposição e prevenção de resposta,
chamada fusão pensamento-
que ocasiona uma diminuição da ativação
ação, que às vezes, para o
emocional.
paciente, pensar isso é o
Retomando o conteúdo após a pergunta, mesmo que desejar isso,
Melo afirma que a exposição diante da qual pensar é o mesmo que fazer.
o paciente é impelido a agir é contrário
ao impulso que aquela emoção promove.
Assim, a ativação comportamental vai,
precisamente, na contramão da emoção ou
do comportamento inconveniente. Nesse 04:30
Toda emoção está associada a
sentido, ela age a partir de um sistema de um impulso. Toda emoção está
recompensa, desconstruindo os impulsos a associada a um comportamento.
partir da ativação de outros componentes
emocionais contrários. É nesse sentido
que os neobehavioristas se inserem,
adicionando o componente de crenças entre
o comportamento e o ambiente externo.
06:31
O que a gente precisa fazer
na ativação comportamental
é fazer o indivíduo agir de
maneira contrária ao que
aquele impulso dele está
mandando ele fazer.
Faça mesmo sem ter vontade. 07:01
Muitas vezes, a ação precede
a motivação.

11:48
A modificação do ambiente,
das contingências
ambientais, vai modificar o
comportamento. É o princípio
do modelo comportamental.

13
Abordagens da 2ª onda 12:41

As abordagens da 2ª onda são intervenções


muito mais argumentativas, voltadas para
a modificação dos pensamentos e das 14:04
crenças, por meio de uma reestruturação A cognição influencia a
mental, comportamental e emocional. emoção e o comportamento.
Assim, essas abordagens entendem que A cogniçao é passível de ser
a alteração cognitiva gera mudanças monitorada e alterada.
comportamentais e emocionais.

De acordo com o modelo racionalista,


a nossa mente está constantemente
15:23
gerando significados a respeito dos fatos, A nossa mente é um
construindo representações mentais. O grande processador
modelo construtivista é mais influenciado de informações, que
pelo pensamento de Piaget, colocando uma está o tempo todo
maior ênfase no processamento emocional. gerando significados
acerca dos fatos. Isso
As diferentes emoções influenciam e ativam pode ser algumas
diferentes partes do cérebro, diferentes vezes disfuncional,
crenças pessoais, o que ocasiona diferentes desadaptativo. Essa é
consequências emocionais, fisiológicas a lógica do modelo, da
e comportamentais. Assim, uma visão teoria do processamento
cognitiva é complementada por uma de informação.
abordagem mais comportamentalista.

PERSONALIDADE
16:56
Jean Piaget

Diferentes emoções 19:06


percorrem diferentes circuitos.
Provavelmente, a gente vai ver
que, na vida real, nas situações
que a gente encara no nosso
dia a dia, nós vamos ter esse
processamento quase que em Jean William Fritz Piaget (1896 - 1980) foi
paralelo. Intervir de maneira um biólogo, psicólogo e epistemólogo suíço.
racional vai provocar também Defendeu uma abordagem interdisciplinar
uma mudança emocional. para a investigação epistemológica, e
fundou a Epistemologia Genética, teoria
do conhecimento com base no estudo da
gênese psicológica do pensamento humano.
Essa perspectiva de um Piaget é um autor muito importante para a
26:46
modelo cognitivista e um área da educação, sobretudo aos processos
modelo comportamental, elas de aprendizagem da criança e à teoria da
são perfeitamente viáveis de formação do intelecto, que lhe rendeu o
serem acopladas. Por isso, a título de Doutor Honoris Causa por mais de
gente chama de um modelo 30 universidadades no mundo.
cognitivo-comportamental.

14
EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO

Assinale a alternativa incorreta:

O modelo cognitivista surgiu


como grande crítico ao modelo
psicanalítico.

O modelo cognitivo opõe-se ao


modelo comportamental.

Enquanto o modelo comportamen-


tal foi iniciado com o aprendiza-
do de estímulos, a segunda onda
foi voltada para a modificação das
crenças.

Diferentes emoções mobilizam


diferentes regiões do cérebro.

AULA 1 • PARTE 4

Histórico 00:25

Esse tópico é dedicado à história da TCC.


Nos anos 1950, Beck forma-se psicanalista,
mas não é aceito pela sociedade
psicanalítica, e passa a realizar análise
de sonhos de pacientes deprimidos, 05:43
Aaron Beck começa a se dar
desenvolvendo um ofício psiquiátrico. A
conta que os pacientes, na
partir de uma paciente, Beck pasou a se
verdade, sonhavam com algo
interessar pelas deformações cognitivas,
que era muito parecido com
pelas diferentes apropriações das crenças
aquilo que eles pensavam
e das emoções. Beck passa a criticar
durante o dia. Ele começou a
a retroflexão da raiva, proposta pela
questionar a teoria psicanalítica
Resposta desta página: alternativa 2.

psicanálise, o que ocasionaria ao paciente


da depressão.
uma interiorização do sofrimento. Assim,
Beck critica a ideia de recalque e a noção
de inconsciente, prestando atenção
aos comportamentos cotidianos e à
mobilização das emoções.

15
Nos anos 1960, Beck passa a entender os
transtornos do humor como transtornos 06:48
do pensamento, desenvolvendo a teoria A psicanálise diz que a ideia
das distorções cognitivas. Assim, ele fica recalcada, mas o afeto
entendeu que a maneira através da qual fica solto. Então, a ideia está
interpretamos os acontecimentos está recalcada no meu inconsciente,
relacionada à estruturação das nossas mas o afeto da tristeza, que
próprias crenças. Por esse motivo, entendeu- está presente na depressão,
se que as distorções cognitivas tinham papel
aparece no meu dia a dia em
fundamental nas psicopatologias, sobretudo
função daquele material que
na depressão.
está recalcado.

É nesse contexto que se desenvolveu


a ideia de pensamentos automáticos,
essencialmente intrusivos. Assim, os
pensamentos influenciam as emoções, 07:45
Todos nós distorcemos. Os
porém não as determinam. Beck também
mais saudáveis distorcem
estudou principalmente a desesperança,
menos. Mas todos
como componente cognitivo associado
nós trabalhamos com
à mentalidade suicida de uma impossível
representações mentais
melhora no futuro.
do evento.
Assim, a terapia cognitiva historicamente
tratou de mobilizar ativamente o paciente
no processo terapêutico, motivo pelo qual
o empirismo colaborativo é fundamental
na TCC. Já nos anos 1980, expande- 08:52
Pensamentos automáticos
se a psicopatologia da depressão para são pensamentos, como
transtornos de ansiedade, relacionamentos o próprio nome já diz,
conflituosos e desregulações emocionais. intrusivos, vêm de maneira
Nos anos 1990, a TCC passa a ser automática na nossa mente.
desenvolvida para uma maior variedade de Eles coexistem com o meu
transtornos específicos, sendo reconhecida fluxo normal de pensamento.
como um dos principais tratamentos
escolhidos para a maioria dos transtornos
emocionais.

11:03
O paciente deprimido tem
uma opinião péssima a
respeito dele próprio; uma
visão negativa acerca do
contexto, do mundo; uma
Na terapia cognitiva, paciente 13:13 visão igualmente negativa
e terapeuta são vistos como também em relação ao
dois cientistas que estão futuro, que é a desesperança.
gerando hipóteses e as A desesperança é a
testando. Por isso, a ideia das principal variável cognitiva,
tarefas de casa. É uma terapia inclusive, associada ao
em que tanto o terapeuta é comportamento suicida.
muito ativo no tratamento,
quanto o próprio paciente vai
ser convidado a ser ativo.

16
Se eu tenho um 18:42
paciente com
múltiplos diagnósticos,
eu tenho que ter um
olhar transdiagnóstico.

24:21
Nós temos que olhar para
aquilo que funciona, não para
aquilo que eu gosto ou que eu
me identifico, mas para aquilo
que tem evidência.
Um paciente com TOC, se 24:45
for tratado com psicanálise,
a tendência é que ele
piore. Porque vai ter uma
intervenção que vai ser
ansiogênica, que não vai
oferecer subsídios para
26:14 Abordagens da 3ª onda
ele lidar e manejar com a
ansiedade dele. A gente tem
As abordagens da terceira onda
que começar a selecionar por
integram outras escolas psicoterápicas,
aquilo que funciona.
compartilhando perspectivas, porém
desenvolvendo técnicas específicas. Elas
fundamentam seu entendimento além das
ciências cognitivas, trazendo abordagens
como a aceitação.
Uma nova onda assimila 27:34
coisas das ondas anteriores, Melo ainda faz certa crítica à falta de
e acaba, de alguma maneira, contundência teórica sobre a relação
também sendo influenciada terapêutica na TCC, em oposição à
pela onda anterior. psicanálise.

A postura de um terapeuta 32:39


cognitivo trabalhando é
muito parecida com a de um
terapeuta humanista, de um
esforço fenomenológico para
34:54 Princípios da Trapia Cognitiva
entender o funcionamento
do paciente, uma busca de
As crenças são fundamentais para a
aceitação incondicional, uma
estruturação da realidade e a interpretação
postura de não julgamento.
pessoal dos indivíduos. Uma crença
de autodepreciação, por exemplo,
provavelmente irá acompanhar as atitudes e
comportamentos da pessoa ao longo da vida
em suas conexões. Assim, o material dos
esquemas tende a estar relacionado tanto
consciente quanto inconscientemente nos
sujeitos.

17
Os níveis de cognição são importantes
PERSONALIDADE categorias para serem pensadas pela TCC.
35:22
Compostos por pensamentos automáticos,
Oscar Wilde crenças centrais e intermediárias, esses
níveis formam o comportamento e as
maneiras pelas quais o indivíduo se enxerga
perante o mundo e perante si mesmo.

36:13
Oscar Wilde (1854 - 1900) foi um escritor É mais econômico
e dramaturgo irlandês. Seu único romance, cognitivamente eu me
O Retrato de Dorian Gray (1890), é um dos relacionar com alguém que
mais importantes romances da literatura me vê como eu me vejo, do
mundial contemporânea, com temas a que alguém que me vê de
respeito da mortalidade e da existência uma maneira muito diferente
artística. Preso pela sua homossexualidade, daquilo que eu sou.
na prisão escreve “De Profundis” (1897),
a respeito da sua condição de prisioneiro
e os trágicos futuros do seu amor para a
sociedade vitoriana. Após sair da prisão, 37:28
mudou-se para a França, onde morreu Eu posso ser o meu pior
prematuramente aos 46 anos, nunca mais inimigo. Se eu tenho uma
tendo retornado ao Reino Unido. opinião de mim que eu sou
alguém que não merece ser
amado, eu vou tender a me
relacionar com alguém que me
trata como um lixo, que me
EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO coloca para baixo.

Assinale a alternativa correta:

Tendemos cognitivamente a
nos relacionar com pessoas que
confirmem as nossas crenças.

A terceira onda da psicologia


cognitivo-comportamental excluiu
os avanços da segunda onda,
propondo um tipo totalmente novo
de terapia.
43:01
As distorções cognitivas
A TCC também considera o estão a serviço desse sistema
Resposta desta página: alternativa 1.

inconsciente da mesma forma que a de crenças. Eu deformo a


psicanálise lacaniana. realidade para que ela possa
confirmar que aquilo que eu
A TCC possui estudos de longa data acredito é verdadeiro.
a respeito da relação terapêutica,
muito mais enfaticamente do que a
psicanálise.

18
AULA 2 • PARTE 1

Diagrama de conceitualização
01:08
cognitiva

De acordo com o diagrama de Beck, as


histórias de vida podem auxiliar a entender
a origem das crenças centrais do indivíduo.
Expectativas de adequação e inaedquação
formam tendências em relação à economia 03:50
Eu tenho uma história de
cognitiva individual. As experiências que a
vida de diversas experiências,
pessoa acumulou e acumula durante a sua
que podem confirmatórias,
vida contribuem para a formação de suas
dependendo do meu viés,
crenças centrais.
como eu interpreto esse viés
Dessa forma, as crenças centrais de certa interpretativo, que faz com que
forma traduzem a maneira mais profunda eu procure elementos da minha
pela qual o sujeito percebe a si mesmo. vida, nos acontecimentos do
Essas crenças são sustentadas de diversas meu dia a dia que, de alguma
formas, inclusive por crenças subjacentes, maneira, confirmam que a
ou crenças intermediárias. Assim, estratégias minha crença é verdadeira.
compensatórias podem ser entendidas
como comportamentos que realizam a
manutenção do sistema de crenças, apesar
de também existirem possíveis distorções
cognitivas, ou mesmo estratégias que
07:27
ocorrem no nível emocional. Quanto menos Essas crenças-regra, essas
eu tiver que mudar as minhas crenças, suposições me ajudam a
mais fácil cognitivamente será para mim. sustentar essa crença que
Nesse sentido, o significado do pensamento foi desenvolvida naquela
automático tende a reforçar a crença central. experiência significativa.
Dessa forma, é preciso tanto entender a
estrutura cognitiva do paciente em relação à
sua história de vida quanto compreender o
seu funcionamento presente.
09:51
As estratégias
compensatórias estão
a serviço desse sistema
de crenças. Elas visam,
fundamentalmente, fazer
a manutenção das coisas
Hoje em dia, questionar algo 10:29
como elas estão. Porque
que é tão verdadeiro para
mim, há tanto tempo, pode
esse é o princípio da
ser muito difícil. Pode ser mais economia cognitiva.
fácil eu deformar a realidade,
e confirmar que eu sou uma
pessoa inadequada de fato,
do que eu rever a maneira
com que eu opero essas
informações na minha mente.

19
As situações vão ilustrar como, 14:27
no presente, está funcionando
aquele sistema de crença.

15:22 Princípios da terapia cognitiva

A formulação de casos na TCC visa a um


entendimento de que haja um diagnóstico
teórico, em termos do vislumbramento de
sintomas, e também a um entendimento
sobre o padrão de funcionamento do
É fundamental a gente 16:44 paciente.
constituir uma relação
colaborativa com o meu Além de ser necessário transmitir
paciente, para que ele possa competência para que o paciente se sinta
se engajar no tratamento seguro, ressalta-se a empatia e o respeito
e se sinta de fato ajudado. como princípios fundamentais do processo
Então, a relação terapêutica psicoterápico. A partir do empirismo
é fundamental em qualquer colaborativo, tanto o terapeuta quanto o
processo psicoterápico. paciente agem ativamente na construção
de uma compreensão compartilhada. É
como se ambos ocupassem uma posição
de cientistas, criando hipóteses. Trata-se de
um processo colaborativo, no qual a terapia
transborda meramente a temporalidade
Na terapia cognitiva, o 17:52 da sessão, com pequenas intervenções do
paciente traz essas situações, paciente no seu dia a dia.
e o terapeuta, junto com ele,
vai ajudar a construir essas A TCC é um tratamento focal, na qual
hipóteses explicativas. ambos devem saber o que esperar do
tratamento. A modificação emocional,
dessa forma, está fortemente relacionada
a uma mudança de comportamento,
com uma intervenção atenta ao
momento presente, mas também aos
comportamentos aprendidos na biografia
do indivíduo. É preciso enxergar as crenças
A TCC é uma abordagem 19:58 inclusive por um aspecto transgeracional,
que é baseada em metas, em
filogenético, validativo biologicamente e
objetivos terapêuticos. Ela não
em termos de comportamento. Logo, o
necessariamente é breve.
paciente deve ser enxergado por meio de
uma visão sistêmica, pela trajetória do seu
funcionamento.

Respondendo à pergunta do aluno, Melo


aborda como por vezes há de se modificar
a relação do paciente com um ambiente
que continuará a ser estressor, criando
uma percepção do ambiente que o permita
conviver com essa situação invalidativa.

20
Desse modo, por vezes é preciso aprender
São as emoções que trazem 21:46 e aceitar as características ambientais,
o paciente para o tratamento. todavia, modificando a percepção dele. É
Então, não faria sentido uma nesse sentido pedagógico que a terapia
intervenção que não olhasse cognitiva age: para uma psicoeducação.
para essas emoções como Assim, o paciente a identificar suas
uma variável que está sendo respostas emocionais, tendências e
avaliada, mensurada, que pode crenças, ele passa a adquirir uma maior
ser modificada. independência e autonomia psicológica.
Logo, a função da TCC é também tomar
consciência das emoções quando elas
surgem, identificando e rotulando
pensamentos automáticos a fim de possuir
Nós precisamos sempre 24:40 uma mentalidade mais funcional, familiar a
adaptar à nossa intervenção si mesma.
ao paciente, e não o
contrário. Eu não posso fazer
o paciente ter de se adaptar
à minha intervenção.
29:05
Em função da epigenética,
os genes, que carregamos
no nosso corpo, não são
simplesmente transportadores
de características. Nós
A TCC é um tratamento 31:54
sabemos atualmente,
orientado para o aqui e
graças à epigenética, que
agora, mais voltado para
as experiências que nós
intervenções no presente.
Mas nós podemos sim falar
passamos na nossa vida
do passado e olhar para o também podem modificar,
passado quando isso fizer pela metilação genética, a
sentido dentro da história maneira com que esses genes
clínica daquele indivíduo e transmitem essas informações.
dentro daquele trabalho que
a gente está desenvolvendo
com ele.

34:31
Aceitar [...] não significa
concordar nem achar bom.
Aceitar a realidade significa
tomar as coisas como elas
estão sendo.

Essa função da psicoeducação 36:38


envolve desde fazer uma
psicoeducação quanto ao
diagnóstico em si que o paciente
apresenta quanto também ao
seu padrão de funcionamento
e como o tratamento funciona.
Tudo acontece muito às claras
dentro da terapia cognitivo-
comportamental.

21
Tem inúmeros protocolos que 44:38
têm um número determinado
de sessões. Nós não vamos
utilizar, na prática clínica,
estes protocolos em si. O
tratamento não é engessado
dessa forma.

AULA 2 • PARTE 2

Esquemas 00:52

Esquemas são um conjunto de crenças


e regras que servem para orientar o
processamento de informação. Esquemas
mentais compõem a interpretação
individual em relação à percepção 02:08
Isto tem a ver com os
e apreensão da realidade. Eles são esquemas mentais: a maneira
estruturas de cognição a partir das quais com que eu organizo essas
as interpretações são geradas. crenças na minha vida.
Os esquemas mobilizem comportamentos
de determinada forma, através de crenças
centrais de capacidade ou incapacidade.
Os esquemas também atuam como forma
06:09
explicativa e reprodutora de crenças Para qualquer coisa que eu vá
sociais, de modo que, ao identificar fazer, eu tenho esquemas que
eles, possa ocorrer um processo de me dizem como atuar, como
desconstrução e clarificação. agir, como interpretar as coisas
dentro desse contexto.
Dessa forma, identificar crenças e
esquemas é central também para a
aprendizagem social, que ocorre em
diversos espaços do cotidiano, o que
evidencia a necessidade de reflexão a
06:33
respeito do significado e da interpretação Há uma série de outras
dada aos acontecimentos, tanto na questões que são mais sociais,
sociedade quanto na mentalidade que acontecem num nível
individual. macro, que às vezes a gente
acaba reproduzindo alguns
conhecimentos, aprendizagens,
regras porque aquilo nos foi
passado de determinada forma.
Eu nem me dei conta, mas eu
tenho essa crença de que isso
é assim porque é.

22
Distorções cognitivas 07:17

Outro axioma da teoria cognitiva são


as distorções cognitivas, que é quando
ocorre alguma espécie de erro de
processamento de informação, uma
deformação da realidade. É nesse contexto 10:08
A maioria das coisas que
que se insere o conceito de raciocínio acontecem na nossa vida
emocional, assim como o pensamento está nessa grande área cinza.
dicotômico. O pensamento dicotômico, A verdade raramente está
do tipo “tudo ou nada”, é um padrão de nos extremos.
funcionamento que carrega respostas
emocionais extremadas. Ele, portanto, gera
reações e comportamentos hiperestimados,
catastróficos.

Já a desqualificação dos aspectos 12:33


Na catastrofização, eu
positivos gera certa negativização de
hiperestimo a chance de que
si e do mundo. A rotulação pode se dar
alguma coisa vai dar errado. Se
tanto para si mesmo quanto em relação a
der errado, eu hiperestimo as
um eterno julgamento dos outros, o que
consequências disso também.
acaba carregando uma carga emocional
Eu não lido com o fato, o dado
nociva. Uma maximização de uma memória
de realidade que eu tenho, que
pode prejudicar uma compreensão total
está acontecendo agora: eu
a respeito de determinada relação ou
lido com a projeção do pior
evento, o que denuncia a necessidade de
cenário possível.
pensarmos em termos proporcionais, não
distorcendo o peso das variáveis.

Não se pode seletivamente apenas pinçar


aquilo que gera certa artificialidade
perceptiva. Logo, o contexto é 15:35
Esse dado estragar o meu
necessário sempre, inclusive para a não
dia é eu desqualificar todo
generalização. Conclusões precipitadas
o resto de positivo que tem
também podem atrapalhar e causar certas
na minha vida. É eu só olhar
disfuncionalidades em termos de esquemas,
para aquilo que está faltando,
percepções e desfechos. Uma distorção a
e acabar respondendo
ser destacada é a grande culpabilização de
emocionalmente como se
si e dos outros, o que pode gerar conflitos
aquilo ali fosse verdadeiro.
e responsabilizações falsas ou, mesmo,
extremadas.

A distorção do “e se” é mais recorrente


em pessoas inseguras. Ademais, não há
respostas perfeitas, de modo a termos
de possuir a consciência a respeito do 17:23
As distorções cognitivas
quanto de aceitação temos sobre as nossas costumam atacar em bando.
respostas e desejos. Numa única situação, nós
vamos ver três, quatro, cinco
distorções cognitivas atuando.

23
[Na abstração seletiva], por 26:28
mais que eu tenha outros
estímulos concorrentes que
desconfirmem isso, a minha
atenção vai seletivamente
pinçar aquela informação que
confirma que aquilo que eu
acredito é verdadeiro. 31:13
Muitas pessoas acabam,
muitas vezes, trazendo para si
uma hiper-responsabilização,
assumindo para si algo que
não necessariamente precisa
ser. Talvez esse senso de
inadequação, que algumas
pessoas podem experimentar
A gente poder identificar 31:53 numa situação de interação
e rotular esse processo de social, possa ter a ver com esse
distorção pode ser muito padrão de distorção cognitiva,
útil para a gente poder, que todos nós apresentamos
tanto numa autoterapia em algum nível.
poder se ajudar e se
beneficiar de uma
reinterpretação, quanto
ajudar os nossos pacientes
quando eles trouxerem
isso para dentro do 38:19
A gente pode ser um pouco
contexto de tratamento.
mais diretivo. O que a
gente sabe é que tem um
efeito melhor, em termos
de reestruturação cognitiva,
nós usarmos a descoberta
Nós não temos controle sobre 40:12 guiada, que é conduzir o
quanto do material da sessão questionamento de forma que
o paciente absorve. Algumas o paciente se dê conta.
vezes, a gente tem que, de
fato, mastigar um pouco mais,
porque pode ser que uma
orientação mais focada nessa
descoberta guiada seja mais
demorada, ou não aconteça. 41:52
Os pacientes ficam
procurando uma solução
perfeita. Tanto essa busca
de certeza, essa intolerância
à incerteza, quanto a crença
de que existe uma decisão
perfeita, e eu tenho que achar
essa decisão perfeita, pode
acabar fazendo com que eu
não identifique qual é o nível
mínimo de aceitabilidade na
minha decisão.

24
AULA 2 • PARTE 3

Todos nós temos algum 00:26


ponto de vulnerabilidade,
de suscetibilidade. Pode ser
que, em alguma situação de
estresse, seja ali que a gente
tenha uma propensão maior
02:07 Esquemas e adaptação
a desencadear aquele tipo
de sintoma.
Após citar a tríade cognitiva de Beck,
composta por self, contexto e futuro,
destaca-se a nossa capacidade de adaptação
psicológica sobre o ambiente. Dessa
forma, os esquemas mentais favorecem
Os nossos esquemas 02:13 nossa capacidade de adaptação por meio
mentais têm a função de da continuidade das nossas crenças. Os
nos ajudar a fazer uma esquemas sofrem uma contínua lapidação
interpretação acerca dos e reprodução, não necessariamente uma
eventos, uma interpretação maior felicidade, mas sim uma adaptação
acerca dos fatos. psicológica ao contexto. Logo, os esquemas
dependem do contexto e do seu limiar de
ativação.

A ativação de uma crença preexistente pode


se dar por meio de uma situação atual, que
Vocês, com oito, nove aninhos: 04:57 encontra eco na história de aprendizagem,
em quem vocês confiam, em formando, assim, a organização cognitiva
quem vocês acreditam? Se o do sujeito. Os esquemas são a matriz
meu pai, que é a pessoa que de pensamento para a interpretação
eu mais confio no mundo, da realidade. A forma de desempenho
me ensina que eu não devo comportamental, nesse sentido, está
confiar em ninguém, nem nele, fortemente relacionada à ativação de
provavelmente isso vai ser certos sistemas - emocional, fisiológico, de
assimilado como uma verdade memória.
absoluta, e vai ser carregado
vida afora.

15:16 Esquemas mentais

Dentro dos esquemas mentais, há padrões


cognitivos relativamente estáveis, com algum
nível de flexibilidade e adaptabilidade ao
contexto. Esse conjunto de crenças e regras
está fortemente relacionado à produção
de sentido e significado a respeito dos
acontecimentos. As crenças podem ser tanto
rígidas, quanto hipervalentes ou altamente
distorcidas.

25
Uma crença hipervalente tem o limiar de
ativação muito baixo, o que faz com que
Nós vamos ter esquemas que 16:18
o esquema se manifeste mais facilmente.
são ativados e desativados
É nesse sentido que a psicoterapia pode
o tempo todo. Esses
agir, por exemplo, ao atentar também para
esquemas, padrões cognitivos
estáveis, são a base para a as possíveis deformações a respeito da
interpretação dos eventos. apreensão da realidade e das ativações
emocionais dos esquemas. Ademais, as
deformações podem se dar em diferentes
níveis, graus e intensidades.

Se eu tenho uma crença 17:14


de vulnerabilidade que
é hipervalente, qualquer
coisinha me deixa inseguro,
me deixa ansioso.
18:41
Nós temos vários esquemas,
que estão o tempo todo
trocando de lugar e assumindo
o controle. Ora um está
rodando, está valente, os
outros estão latentes, ora
Nós não lidamos na vida
aquele ali está valente. Um
19:33
com o fato em si, mas com esquema que é hipervalente
a representação que a significa que ele está rodando
gente constrói, assim como muito, que ele está sendo
também, em psicoterapia, nós muito ativado.
não lidamos com fatos: nós
lidamos com memórias.

18:41
Nós temos vários esquemas,
que estão o tempo todo
trocando de lugar e assumindo
o controle. Ora um está
rodando, está valente, os
outros estão latentes, ora
aquele ali está valente. Um
Nós não lidamos com o fato. esquema que é hipervalente
20:32
Nós lidamos com narrativas, significa que ele está rodando
com memórias referentes muito, que ele está sendo
àquele evento que aconteceu muito ativado.
em si.

26
Esquema de processamento
24:25
cognitivo

O esquema do processamento cognitivo


envolve a apreensão do evento real, que é
apreendido e representado mentalmente
a partir da ativação de crenças e da 27:42
Mesmo nós, terapeutas, que
evocação das nossas memórias. Logo, os
trabalhamos com isso, que
esquemas mentais estão inseridos dentro
cuidamos de distorções
do processamento cognitivo, de modo a,
cognitivas das outras pessoas,
em pacientes saudáveis, essa distorção
nós podemos, em nós mesmos,
normalmente não ser tão expressiva.
identificar situações nas quais
Por vezes, o julgamento que nós fazemos nós estamos sendo maus
pode ativar uma emoção aversiva. Há interpretadores, estamos
diversos níveis de intervenção, que variam interpretando de um jeito
desde mudar o ambiente até identificar disfuncional, distorcido.
crenças nucleares. O primeiro nível se foca
nos pensamentos automáticos, com a
checagem da veracidade dos pensamentos
para o paciente, a fim de que haja uma 33:25
Modificações comportamentais
identificação e uma modificação. O
também trazem a possibilidade
segundo nível é o ensinamento dos erros de
de modificações emocionais.
pensamento para o paciente, focando no
processo de deformação do dado. O terceiro
nível é a intervenção nas crenças centrais,
com um trabalho nuclear.
EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO
O quarto nível se baseia em técnicas
comportamentais, com a modificação Assinale a alternativa correta:
de comportamentos. Já o quinto nível
se debruça sobre intervenções no O terapeuta cognitivo-
ambiente, com a abordagens de crenças comportamental deve realizar
transgeracionais familiares, ou mesmo em apenas com o paciente, e não deve
outros espaços. nunca intervir no seu ambiente.

As deformações na interpretação
cognitiva e na representação mental
se dão em níveis similares para
todos, independente se portadores
Nós temos diversos 34:19 de psicopatologias ou não.
niveis de intervenção na
terapia cognitiva, que vão
Uma crença hipervalente tem seu
desde intervenções nos limiar de ativação muito baixo.
pensamentos automáticos,
até no processo de
As crenças centrais são
Resposta desta página: alternativa 3.

interpretação do evento,
necessariamente construídas
focando também em
até os oito anos. Pelo fato de
modificação e reestruturação permanecerem inalteradas ao longo
cognitiva no sistema da vida, a psicoterapia não deve
de crenças, no nível nunca realizar intervenções para
intermediário e também no mudá-las.
nível de crença central.

27
AULA 2 • PARTE 4

Principais técnicas cognitivas 00:26

Nesta parte são abordadas algumas


das principais técnicas cognitivas para
intervenções em psicoterapia. A primeira
técnica destacada é o diálogo socrático,
um método de não confrontação. Em 01:22
[O diálogo socrático] é uma
vez disso, são feitas perguntas para que
técnica que nos permite fazer
o paciente reflita sobre as suas próprias
com que o paciente reflita
crenças, funcionamentos e pensamentos. O
acerca dessas crenças - muitas
diálogo socrático versa sobre como se dá
vezes, até acarretando não
a percepção do problema, de quais são as
só no processo investigativo,
soluções possíveis, de quais são as decisões
mas também em uma
e ações possíveis. O diálogo socrático
reestruturação cognitiva.
também pode se dar por uma reflexão
sobre as evidências e disfuncionalidades
que as interpertações carregam. Essa
intervenção visa obter informações sobre o
funcionamento e o padrão comportamental
04:25
do paciente. Ela também visa avaliar Notem que o terapeuta não
os estressores, explorar reatividades disse: faça isso. [...] O paciente
emocionais, avaliar estratégias diferentes de pode chegar a essa conclusão
enfrentamento, traduzir reclamações gerais sozinho, à medida em que o
em evidências concretas de problemas terapeuta vai convidando ele
específicos, identificar emoções associadas a a refletir sobre aquilo que ele
comportamentos disfuncionais, entre outros. próprio trouxe.

O questionamento socrático se insere


inicialmente num acesso à memória,
em como o evento é traduzido em
05:42
representações mentais e interpretações [O diálogo socrático] não
pessoais. Ele também envolve uma aplicação é uma técnica simples de
em torno dos recursos em relação a eventos ser feita: ela é complexa.
semelhantes no passado, realizando uma A gente vai desenvolver,
análise afastada de um lado catastrófico, às vezes, muitos minutos
avaliando as perspectivas possíveis. Dentro da sessão em cima de um
dessa perspectiva, a TCC é utlizada como diálogo socrático, fazendo
meio de acesso às crenças individuais com que o paciente possa
de forma argumentativa, questionando cessar essas interpretações,
possíveis eventualidades.
as regras que levaram ele a
ter essa interpretação, ou seja,
Outra técnica trazida à tona é a rotulação crenças, que estão associadas
das distorções cognitivas, que consiste na a esse modo de interpretar os
explicação das distorções para o paciente, eventos, e, refletindo acerca
a fim de que ele rotule a si mesmo e regule disso, ele possa se dar conta
emocionalmente a si mesmo. das disfuncionalidades e das
distorções que pode estar
presentes dentro disso.

28
Essa rotulação pode ser usada de forma
a rotular as emoções, de modo que o 12:46
paciente perceba a si mesmo, por exemplo, Nós temos que pegar queixas
catastrofizando determinada situação. Esse que muitas vezes são vagas,
tipo de técnica antecedente ajuda o paciente e traduzir essas queixas em
a entender seus funcionamentos, tanto de problemas objetivos, que
uma forma metacognitiva quanto na redução possam nos ajudar a saber
da sua ativação emocional. quando a gente atingiu ou não
atingiu aquela meta, aquele
Outra técnica cognitiva é a seta objetivo no tratamento.
descendente, investigativa, no sentido
de perceber crenças centrais a partir de
pensamentos automáticos. Assim, ela visa
atingir pontos centrais do funcionamento
comportamental do paciente, em suas
16:59
crenças principais. O método socrático diz
respeito à gente confrontar
O registro diário de pensamentos
a maneira com que o
disfuncionais busca, geralmente, anotar
paciente acredita - não de
possíveis funcionamentos não desejados,
uma maneira que eu vá fazer
situações não desejadas, e as emoções a isso
afirmações que provoquem
associadas.
um contra-argumento, mas
fazer perguntas que façam o
paciente refletir acerca daquilo.

Quando eu me dou conta de 18:51


que estou catastrofizando,
a minha ansiedade diminui.
Então, a rotulação da
distorção cognitiva não é uma
técnica para o longo prazo:
eu vou trabalhar para que 24:56
o paciente na hora consiga Na intervenção com a paciente,
modular a emoção. a gente vai utilizar as palavras
da paciente. Se a paciente traz
uma crença central [...] eu não
vou traduzir para algo que
fique mais bonitinho, ou que
para mim faça mais sentido.
Porque eu estou atuando
Diagnóstico em psicoterapia 31:22
na cognição do outro. Eu
A TCC inicialmente foi desenvolvida tenho que me comunicar na
muito em prol de síndromes específicas, linguagem que ele costuma
apesar de atualmente se privilegiar falar com ele mesmo.
olhares transdiagnósticos. Um transtorno
mental está necessariamente ligado a uma
disfunção psicológica, a um sofrimento que
cause prejuízos e a uma atipicidade em nível
cultural. Ele envolve uma descrição clínica
(gnosiologia psiquiátrica), causas etiológicas
e tratamentos possíveis.

29
Assim, o estudo a respeito dos transtornos
mentais está fortemente imbricado com seus 32:09
prognósticos e suas particularidades clínicas. Transtorno mental é tudo
Os sinais e sintomas são essenciais para uma aquilo que gera uma disfunção
observação diagnóstica, tanto para aquilo psicológica, ou seja, tem que
percebido pelo profissional quanto por ser algo disfuncional, que
aquilo relatado pelo paciente. acontece fora de um contexto
daquilo que seria esperado.
O diagnóstico também serve para um Tem que estar associado
parâmetro comparativo. Um diagnóstico a sofrimento e a prejuízos
diferencial, por outro lado, exige um olhar relacionados a esse padrão de
mais completo, em termos psicopatológicos, funcionamento.
do profissional clínico. Também é necessário
apresentar os prognósticos possíveis dentro
de cada caso clínico, dando desfechos a
partir de experiências já existentes. Outro
conceito fundamental para diagnósticos é EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO
o fator de risco e o fator de proteção, que
devem ser entendidos de forma a prever Assinale a alternativa correta:
diferentes cenários futuros possíveis.

É preciso que exista um raciocínio clínico Tanto o DSM-5 quanto a CID-11


trabalham mais com o conceito
em cima das queixas do paciente e da
de incidência do que o conceito
percepção do terapeuta sobre o quadro. de prevalência em relação ao
Também é bom transpassar certo olhar diagnóstico de transtornos mentais.
descritivo em termos psicopatológicos
para o paciente em relação ao seu estado
Enquanto sinais são aquilo que
atual e ao seu estado futuro, no caso de
é observado pelo profissional,
psicopatologias mais cíclicas. É necessária sintoma é aquilo que o paciente
uma abordagem integrada, que o olhar relata subjetivamente sobre a sua
clínico deve saber identificar a partir dos condição.
diferentes fatores de manifestação do
transtorno.
As crenças centrais independem da
história de aprendizagem do sujeito.

O questionamento socrático é
uma técnica que busca que o
paciente escreva diariamente seus
O diagnóstico não é um 36:05 pensamentos disfuncionais.
rótulo. O diagnóstico é um
nome técnico dado para
aquilo que o paciente me
traz como uma queixa. O
diagnóstico permite eu
me comunicar com outros
profissionais, classificar
Resposta desta página: alternativa 2.

esse paciente com outros


casos semelhantes.

30
A ideia de curso e prognóstico 39:13
nos dá uma ideia de como o
transtorno se comporta ao
londo do tempo, e o que a
gente pode esperar de um
prognóstico mais favorável:
olha, tem tratamento para
isso; olha, não temos hoje
um tratamento com bastante
evidência para isso.
42:20
O DSM, e a CID também, da
mesma forma, trabalham mais
com o conceito de prevalência
do que de incidência.

Quando a gente fala de 48:37


psicopatologia, a gente está
falando de uma abordagem
integrada. Nós vamos ter
uma situação gatilho, que
vai desencadear aquela crise
em si, influências biológicas,
vulnerabilidades biológicas,
fatores neuroquímicos,
influências comportamentais,
sociais, cognitivas, emocionais:
tudo isso vai levar ao
transtorno mental em si.

AULA 3 • PARTE 1

As psicoterapias baseadas 02:29


em evidências vão trabalhar
e vão trazer, vão mostrar que
tanto modelos cognitivos
quanto comportamentais
têm mostrado evidências 05:31
No desenvolvimento de toda
importantes em uma série de essa área de psicoterapias
tratamentos, para uma série baseadas em evidências, a
de transtornos diferentes. minha ideia de trazer esse
tópico, abordar esse conteúdo,
é ajudar vocês a transitarem
entre a ciência e a prática
clínica, e a prática do terapeuta
cognitivo-comportamental.

31
Psicoterapia: ciência ou arte? 05:56

A primeira provocação trazida à tona é


uma reflexão em torno dos caminhos e
limitações em torno do caráter científico da
psicoterapia. As evidências científicas e os 08:19
estudos da psicoterapia, todavia, não deixam
Alguns estudos sugerem que
de ser complementadas historicamente
a impressão que a gente gera
por componentes artísticos. Há algo de
de um terapeuta acontece nos
primeiros minutos da primeira
artístico, mas também de profissional, na
sessão. Mudar aquela visão
criação de uma imagem para o terapeuta
que o paciente desenvolve do
em relação a como o paciente o enxerga.
terapeuta depois desse período
Existem uma série de elementos através
pode demorar muito mais
dos quais a confiança pode ser apreendida
tempo, pode ser muito mais
como linguagem nesses casos: do tom de
trabalhoso, porque a gente
voz à postura corporal, da expressão facial à
começa a firmar de quem é
aparência física.
aquela pessoa.
A psicoterapia, em termos práticos, também
carrega as marcas de identidade do próprio
terapeuta em seu estilo de trabalho. Há uma
identificação que beira a arte nessa possível
identificação, nessa confiança compartilhada. 10:06
Diferentes terapeutas, mesmo
Também destaca-se a necessidade de avaliar
quando eles leram e estudaram
os mesmos livros, os mesmos
a satisfação do cliente e a mensuração
autores, as mesmas aulas,
de resultados. Logo, o tratamento é um
muitas vezes, quando eles
processo, a partir do qual a satisfação do
entram para uma intervenção,
paciente não pode ser confundida com um
para trabalhar com pacientes
espaço de alívio sem mudanças a longo
que têm o mesmo transtorno,
prazo. De um ponto de vista processual,
a condução deles não é
é preciso que se criem estratégias de
exatamente igual.
enfrentamento e mudança do estado atual
das coisas, mesmo que por vezes hajam
sessões de muito sofrimento psíquico e
exposição emocional. Também é necessário
focar na estrutura do terapeuta e na relação
14:39
entre paciente e terapeuta. Medir resultados em
psicoterapia é desafiador,
mas, obviamente, ao longo
das décadas, métodos foram
desenvolvidos, e alguns são
A dificuldade de dar 17:37 super implementados porque
feedback negativo é algo que são respeitáveis, o que não
a gente encontra na nossa significa que eles sejam
cultura. Aqui no Brasil, com imunes a falhas.
bastante frequência, isso
aparece. Não é raro eu ouvir
terapeutas que relatam que
não têm pedido mais para os
seus pacientes porque eles
não acham muito útil, porque
o paciente responde que foi
bom, que foi legal.

32
Algumas vezes, tem sessões 18:32
muito difíceis, que o paciente
não sai se sentindo melhor
do que ele entrou, e que
podem ser fundamentais
para o processo de melhora
no longo prazo.
21:23
Tem fatores inespecíficos que
inevitavelmente fazem parte do
processo de psicoterapia. Não
tem como a gente se descolar,
pessoalmente, de quem somos
como terapeutas.
Como o tratamento é mais 23:22
estruturado, é mais fácil tu
treinar o terapeuta para se
organizar dentro daquela
estrutura, e para seguir uma
certa sequência, ou lógica,
pelo menos, de aplicação
25:29 Falhas no julgamento clínico
de técnicas.
A psicoterapia é composta por elementos
tanto passíveis de avaliação e protocolos
quanto elementos artísticos. Quanto
mais o terapeuta se afasta do protocolo,
mais ele consequentemente se afasta da
eficácia quantitativa de certos métodos.
Em última instância, 27:03 Os viéses pessoais aparecem no percurso
julgamentos são falhos.
e no julgamento clínicos, que também são
Julgamentos humanos
passíveis de erros.
são falhos. E o julgamento
clínico não é menos falho
do que o julgamento dos
seres humanos.

28:23 Viéses nas decisões clínicas

Apesar das situações dos pacientes


variarem, os julgamentos clínicos lidam
com certos padrões. Na medida em que as
pistas em psicoterapia são imprecisas, a
O feedback rápido nos 36:42 linguagem por vezes escapa ao significado
permite fazer correções bruto da mensagem, do ato, o que envolve
rápidas de rumo, e muitas uma leitura sensível e atenta às diferentes
delas nem passam muito causas e possibilidades de certas reações.
pela consciência: elas vão A eficácia dos tratamentos varia de acordo
no processamento mais com os mais diversos fatores, inclusives
automático mesmo. biográficos, do paciente. Assim, é preciso
que o terapeuta produza o tratamento em
razão do seu próprio tempo, ou seja, na
própria caminhada individual e emocional do
paciente.

33
Os retornos e feedbacks precisam ser
Às vezes, quando tu propõe 41:21
olhados sentimentalmente em suas curvas
uma técnica e aquilo não
e descaminhos verbais, linguísticos e
funciona muito bem durante a
comportamentais. O terapeuta deve
sessão - parece que o paciente
expandir o diagnóstico além das crenças
não entendeu o que tu estava
protocolares em casos de psicopatologias,
querendo dizer, ou ele deu
um feedback de que não fez mobilizando seus conhecimentos técnicos
sentido para ele - tu sai com de modo a pessoalizar o tratamento. O
uma sensação péssima, e tu tratamento é um processo longo, composto
muda a direção do que tu está por melhoras que brotam em diferentes
propondo, começa a trabalhar intervalos e intensidades do tempo analítico
numa outra direção. e reflexivo. Nesse sentido, apesar da
confiança ser necessária para o julgamento
clínico, o terapeuta deve saber fazer uma
justa medida em relação aos procedimentos
A confiança excessiva é o 42:56 que estão sendo desenvolvidos.
terapeuta começar a ficar
excessivamente confiante de
que a forma como ele está
vendo é o que é, de que esse
é o jeito certo de ver, com LEITURA INDICADA
mais confiança do que as 44:40
pesquisas sugeririam, do que a Livro: Rápido e devagar
probabilidade sugeriria.

PERSONALIDADE
44:57
Daniel Kahneman

Neste livro, o Nobel de Economia Daniel


Kahneman se debruça sobre as atitudes
Um dos maiores especialistas sobre economia
intuitivas e lentas que expressamos. Ele
comportamental do mundo, Daniel Kahneman expõe a complementaridade entre o
é protagonista de grandes contribuições pensamento rápido e devagar, sem que nos
no meio por seus estudos sobre como o deixemos manipular pelas nossas emoções.
Assim, ele discorre sobre a tomada de
homem é programado a agir instintivamente,
decisão e o papel das emoções e dos viéses
independente de sua capacidade técnica. cognitivos no cotidiano.
Com isso, colocou em xeque a exatidão dos
profissionais envolvidos com o mercado
financeiro. Integrante de uma das duplas mais
brilhantes da área acadêmica das últimas
décadas, juntamente com seu parceiro Amos
Tversky, Kahneman combinou a economia com
a ciência cognitiva. Com objetivo de explicar
o comportamento aparentemente irracional
da gestão do risco, criaram teorias com bases
lógicas e experimentais, que buscavam analisar
e entender a instabilidade do comportamento
humano. É vencedor do Prêmio Nobel de
Economia.

34
AULA 3 • PARTE 2

Clínica e ciência 00:25

É curioso observar certas lacunas


existentes entre o conhecimento a respeito
da psicoterapia e a própria prática clínica,
com muitos pesquisadores somente
vinculados a universidades e sem uma
02:17
prática de longo prazo. Ademais, é preciso A gente costuma dizer que,
que haja uma complementaridade do quando sai o livro, está
conhecimento, no sentido de aproximação publicado, bonitinho, na
entre livros antigos e pesquisas recentes. língua original do autor, esse
Os modelos cognitivos e os modelos conhecimento está uns cinco
comportamentais se complementam anos atrasado. Ele está falando
em diversos aspectos, apesar de se geralmente sobre que são de
diferenciarem em termos epistemológicos. cinco anos para trás.
Por vezes, ambos os modelos usam
técnicas que se sobrepõem umas às
outras.

Os transtornos devem ser acompanhados


clinicamente por tratamentos 04:54
A visão não é
cientificamente embasados, com um mediacional. A
bom nível de avaliação. Há intervenções visão não é a minha
tanto intra quanto entre sujeitos, ou mente interpreta o
seja, pessoas comparadas com elas fenômeno e isso leva ao
mesmas e aquelas que são comparadas comportamento. Numa
com outro grupo. É preciso que tanto visão comportamental,
as melhoras quanto as recaídas sejam tudo é comportamento,
interpretadas de acordo com os diferentes tudo o que acontece
acontecimentos e possíveis interpretações no organismo é
que modifiquem, de certa forma, comportamento. Pensar
comportamentos. Logo, o terapeuta deve é comportamento. Sentir
estar consciente da confiabilidade social é comportamento.
em relação à sua pessoa, assim como as
variáveis dependentes e independentes.

10:58
Uma comparação útil, simples
e bastante utilizada é a intra
sujeito, comparar ele com ele
mesmo. Fazer medidas pré-
intervenção e pós-intervenção.

35
Eu tenho que encontrar, para 12:37
dizer que a minha terapia
foi eficaz, um resultado
significativamente melhor
do que a passagem do
tempo naquelas pessoas que
passaram pela psicoterapia.
15:01
Se eu estou propondo um
método de intervenção, é
porque eu acredito que esse
método funcione. Quando eu
aplico esse método, quando eu
vou para a prática, eu posso,
de novo, estar exposto a alguns
Tipos de estudo 18:21 viéses, e começar a achar que o
paciente está melhorando mais
Metanálises geralmente possuem uma do que ele está melhorando.
maior potência do que estudos de caso.
As análises randomizadas podem, por
vezes, transpassar uma maior confiança.
Uma metanálise e estudos com um
maior número de pacientes tendem a 27:23
Antes da metanálise - que tem
demonstrar uma maior eficácia a respeito
que compilar vários ensaios
do tratamento.
- o ensaio clínico é o ouro,
Já os estudos de processo-resultado o padrão-ouro que a gente
possuem um menor foco na remissão tem, o mais robusto que a
dos sintomas, tendendo a produzir gente tem para avaliar esses
um pensamento sobre as mudanças resultados.
de processo psicológico que levam ao
resultado.

Uma metanálise deve ter diversos


procedimentos, como as diferentes
30:51
condições e critérios que transbordam O que acontece é que a pessoa
uma única psicopatologia. As exclusões que participa da pesquisa,
diminuirão gradualmente a amostra dos muitas vezes, é bem diferente
pacientes, que serão interpretados em da pessoa que chega no
termos de intervenção e controle. consultório. Aqui começam um
pouco dos problemas que vão
Muitas vezes, os pacientes chegam envolver o julgamento clínico.
preocupados com problemas pontuais,
mas que, por diversos motivos, encontram
eco possível em alguns transtornos.

32:03
As exclusões são importantes
no processo de pesquisa.
Enquanto trabalhando como
pesquisador, eu vou sempre
defender que a gente precisa
fazer isso. Porque, se não, a
gente mistura um monte de
coisa e não entende o que
aquele resultado significa.

36
Intervenções para transtornos
34:20
psiquiátricos

O estudo das intervenções para


transtornos psiquiátricos envolve
resultados e conclusões, passíveis
de interpretações e mudanças de
crença. Assim, os resultados devem 35:56
Na terapia cognitiva beckiana,
ser entendidos a partir de teorias, com
tem uma postulação central
tratamentos empiricamente apoiados. A
que a depressão é mantida pelo
interpretação do fenômeno, logo, pode
padrão de distorções cognitivas,
variar de acordo com a terapia trabalhada.
que, por sua vez, deriva de
A seguir, Barbosa apresenta sua pesquisa crenças centrais hipervalentes
de doutorado, com um protocolo para negativas sobre si, sobre o
TEPT. A aplicação contou com três mundo e sobre o futuro.
etapas: psicoeducação, exposição e
reestruturação cognitiva.

39:14
A terapia cognitiva beckiana
usa um monte de técnicas
que são comportamentais,
que são da gestalt, mas ela
dá a sua roupagem para
aquilo. Praticamente todos
Evidências e aplicações 42:22 os modelos que a gente
vai estudar não criaram um
Reforça-se a leitura da divisão 12 da APA, conjunto de técnicas só seus,
que divide as aplicações entre modestas, e é só aquilo a terapia. Quase
controversas e fortes. Já respondendo sempre, se amparam naquilo
a um questioamento em aula, Barbosa que já foi construído.
destaca a sobreposição de técnicas num
mesmo tratamento como algo importante
de ser olhado. Dentro da especificidade
dos mecanismos, é analisado,
respectivamente, cada construto em
relação à sintomologia. 46:51
Se melhorou o sintoma e teve
Já sobre a relação entre psicologia e mudança no processo de
terapia baseada em evidência, Barbosa aceitação, então trabalhar a
interpreta que todo trabalho psicológico aceitação é um construto útil
deve ser baseado em evidências, para alcançar a melhora que a
em benefício de construtos teóricos, gente está visando.
epistemologicamente organizados e
dispostos.

37
Toda terapia é construída 48:47
a partir de uma visão
teórica, e essa visão
teórica está vinculada a
uma visão de mundo e de
funcionamento humano.

AULA 3 • PARTE 3

Desafios 00:58

Nesta parte, Barbosa traz uma série de


desafios para a prática clínica. O primeiro
deles é o acesso às evidências, ou seja,
estar constantemente atualizado em
relação aos tratamentos contemporêneos
desenvolvidos. Apesar da ciência nunca 03:48
Mesmo no Brasil, quando um
ter existido de forma tão difundida quanto
pesquisador faz uma pesquisa
atualmente, ela ainda não é acessível
de altíssima qualidade, para a
para todos, em decorrência das restrições
qual ele visualiza possibilidade
mercadológicas da produção acadêmica.
de publicação em inglês, ele
Além disso, há barreiras linguísticas.
quer publicar em inglês. Porque
Apesar dessas dificuldades, é preciso que
ele sabe que, se ele publicar em
o profissional se mantenha minimamente
inglês, o número de pessoas no
atualizado em relação ao conhecimento
mundo que pode se interessar
atual.
por aquele trabalho se torna
O segundo desafio relaciona-se à muito maior.
mensuração de resultados. Há de se
entender os resultados dos estudos no
que diz respeito a quais fatores estão
inseridos na sua eficácia. Outro desafio
é a “metáfora do bolo”, que relaciona-se 06:19
Estar atualizado demanda
aos diferentes “ingredientes” do “bolo tempo. Se não tiver um
terapêutico” para cada paciente, ou seja, tempo na agenda para
à individualização dos tratamentos. Quais estudar, vai ser difícil que
são os mediadores envolvidos em cada esse estudo aconteça.
caso clínico? Cada paciente precisa ser
avaliado e tratado de acordo com as
suas especificidades interpretativas, sua
biografia, sua pessoalidade cognitiva.
Compreender o indivíduo como fenômeno,
assim, é utilizar os mediadores em
benefício de cada história emocional e
padrões comportamentais.

38
Ao mesmo tempo, quanto mais bem
estruturados os protocolos, maior é
12:35
a tendência de eles darem resultado. Se eu trabalho com
Pesquisas de processo podem ajudar a uma terapia cognitivo-
entender os mediadores, assim como comportamental, eu vou fazer
melhor trabalhar a especificidade de cada uma avaliação de como está
caso. o funcionamento das crenças
centrais desse paciente, das
Nesse sentido, um dos desafios é combinar crenças intermediárias, dos
as diferentes técnicas e protocolos aos pensamentos automáticos, das
diferentes pacientes. Serão tratamentos distorções cognitivas. Esses
sequenciais ou combinados, em relação a vão ser elementos-chave para
mais de uma manifestação psicopatológica a gente avaliar, para nos ajudar
num mesmo paciente? Sempre haverá a compor essa receita de bolo
diversos componentes que se escondem para aquele paciente.
ou se sobrepõem nos diferentes níveis de
sintomas e manifestações do organismo
em específico. Eis o desafio: quanto
mais próximo dos protocolos, menos
individualizado o tratamento será. Tarefa 14:06
Pesquisas que respondem
nada fácil, o terapeuta deve mobilizar, em sobre a eficácia do tratamento
seu movimento, as técnicas em benefício raramente investigam os
dos diferentes passos clínicos do paciente. mecanismos de mudança.
A partir dessa complexidade, como agir
diante desses desafios? Barbosa propõe
uma leitura a partir das práticas baseadas
em evidências, como uma forma de
melhora do paciente a partir da integração 20:08
Este desafio é um desafio
dos diferentes conhecimentos clínicos com importante. A verdade é:
o contexto específico do paciente. quanto mais individualizado
fica o tratamento, mais distante
eu estou da evidência do
estudo. Quanto mais perto da
evidência do estudo, menos
individualizado esse tratamento
É importante a gente ficar 21:47 tende a ser.
atento, para que a gente
não perca o foco e não tire
a importância de uma boa
conceitualização de casos.

22:42
Não tem terapeuta infalível.
Não tem fórmula que sirva
para todo mundo. Tem meios
para a gente se organizar para
enfrentar esses desafios.

39
O processo clínico de tomada de
24:30
decisão

O processo clínico de tomada de decisão


envolve cinco passos. O primeiro deles
é formular perguntas relevantes para
uma assistência complexa do paciente.
O paciente pode ter acesso a todas as
29:20
etapas e níveis de tratamento de que ele Se o paciente disser: “não”, a
necessita? Também é necessário que o resposta dele é importante.
profissional trabalhe no sentido de elucidar
e identificar as evidências de cada caso, de
forma cuidadosa, adaptando um possível
tratamento protocolar com a necessidade
clínica singular. O desejo do paciente e as
preferências também devem ser levadas
em conta em casos de diagnósticos que 33:37 Viéses e intervenções
consideram duas psicopatologias, por
exemplo, ou dois grandes esquemas, de É necessário que, para a conceitualização
acordo com o código de ética. O profissional cognitiva ou comportamental, seja
também deve ter noção das suas próprias realizada a formulação do caso
limitações clínicas, reconsiderando em específico. Ademais, as atuais
continuamente os planos de ação. problemáticas em torno da categorização
de transtornos mentais pelo DSM
levam a desdobramentos sobre uma
categorização dimensional dos
transtornos. Não estaríamos diante de um
LEITURA INDICADA mecanismo comum, que diferem, mas,
35:37
também, se complementam em sintomas
Livro: Terapia Cognitivo-
e estruturas? A partir da indicação de
Comportamental Baseada em
Hayes e Hofmann, há de se investigar
Processos
e realizar intervenções com base nos
processos. As intervenções precisam
ser realizadas com um foco também na
relação terapêutica.

39:07
Se mais de 50% das pessoas
- em alguns transtornos, isso
chega acima de 80% - que
Este livro, organizado por Steven Hayes e portam determinado transtorno
Stefan Hofmann, demonstra um esforço têm mais de um transtorno,
coletivo por parte dos autores em relação ao
isso nos levanta muitas dúvidas
estudo de processos terapêuticos. Este livro
analisa os mecanismos responsáveis pelas se eu realmente sei o que é um
mudanças cognitivo-comportamentais a transtorno mental.
partir de processos.

40
Estamos num momento 40:22
em que existe um certo
descrédito sobre a forma
como a gente diagnostica.
E se realmente a gente
consegue entender o que
é depressão e o que é
transtorno de ansiedade, se a
comorbidade entre eles chega
a quase 60%.

AULA 3 • PARTE 4

Os modelos 00:35
comportamentais não usam
o modelo mediacional. Eles
entendem que tudo o que
acontece no organismo
é comportamento,
incluindo as coisas que
acontecem dentro da pele, 01:42
A minha relação com o
incluindo pensamento, ambiente interfere em como
emoção, sensação. Ou eu me comporto de forma
seja: quando eu digo que observável, e também em
isso é comportamento, o como eu me comporto
que eu estou querendo internamente, como acontece
dizer é: o que acontece meu movimento psicológico,
dentro de mim também mental, emocional.
está sujeito a aprendizado
via condicionamento.

02:29 Caso clínico

A fim de entender as diferenças entre o


modelo cognitivista e comportamentalista,
Barbosa ilustra o caso de uma adolescente
raivosa, potencialmente agressiva com
professores. A adolescente Joana, trocada
de colégio, não estuda em casa, e se
mostra não compreendida, perseguida,
ameaçando os pais, utilizando da briga para
ser compreendida. Os pais de certa forma
reforçam seus comportamentos “rebeldes”, a
fim de evitar “brigas maiores”.

41
Conceitualização cognitiva 08:45

O professor realiza uma tentativa de


montagem do caso a partir do diagrama
de conceitualização. Um dado relevante
da história pode ser o fato de ela ter
saído da escola anterior, além de ela ter 15:11
Vocês percebem como
jogado um estojo no professor. Joana
sempre tem uma relação entre
interpretou a ideia de injustiça por parte
o pensamento, a emoção
do professor como um pensamento
e o comportamento. Em
automático de ser uma vítima. Ela sente
geral, para uma pessoa que
raiva, e tem um comportamento agressivo,
está triste, se isolar é um
a partir do que pode-se entender que
comportamento bem comum, é
essa raiva relaciona-se a um sentimento
um comportamento emocional
de perseguição. Ela possui a crença de
relacionado à tristeza.
que sempre deve-se reagir a injustiças.
Ela também age de forma ameaçadora
com os pais, reforçando uma ideia de
lutar contra injustiça. Os pais cederam a
esse comportamento, que surge como
18:45
estratégia compensatória à injustiça. A gente precisa de algumas
Ela também sente tristeza, se isolando, sessões para juntar todo aquele
não querendo conversar sobre seus histórico, aquele contexto, para
comportamentos com seus pais. conseguir fazer um diagrama,
todo ele montado, e poder
Quanto mais situações forem elucidadas, organizar intervenções a partir
mais elementos existem para que dessa conceitualização.
sejam identificadas crenças centrais e
secundárias. Pode-se perceber que suas
crenças baseiam-se nas ideias de falta de
compreensão, injustiça, ser vítima e estar
sob constante julgamento.
19:13 Conceitualização comportamental

Uma conceitualização comportamental


foca-se mais em tentar entender como
Joana reage com o ambiente e como o
ambiente lida com ela. O comportamento
de Joana pela sua repreensão foi agressivo,
Numa visão comportamental, 23:04 o que demanda que o xingamento surge
o que a gente está
como um dos caminhos pelos quais sua
entendendo é sempre uma
resposta se desenvolve. A injustiça compõe
sequência de antecedentes
certo padrão comportamental, com
- o que acontece antes
respostas agressivas como consequência.
do comportamento - o
comportamento, e a Já a história de aprendizagem surge
consequência que o como estruturante da sua aprendizagem
comportamento provoca. comportamental sobre injustiças. Há
Por sua vez, como está também respostas-alvo, que serão foco do
interagindo com outra tratamento, como comportamentos em
pessoa, essa consequência casa e na escola sobre seus estudos.
é o antecedente do próximo
comportamento também.

42
Quando a filha ameaça tocar o terror na
No comportamentalismo, a 26:52 escola caso não leve o celular, os pais
gente fala em regras verbais, permitem esse comportamento agressivo,
que é quando, mentalmente, reforçando o padrão de ameaças da
a gente estabelece relações filha. Para a filha, a briga é utilizada como
entre antecedentes, forma de reforço, e seu isolamento é
comportamentos e uma resposta às críticas, adquirindo um
consequências. Como comportamento evitativo, ou seja, um
historicamente eu já emiti esse
reforço negativo, aversivo.
comportamento num contexto
semelhante e a consequência Os pais também reforçam de certa
foi x, eu imagino, eu espero, a forma esses comportamentos, que
regra diz que, se eu fizer isso fazem parte e ajudam a reproduzir o
de novo, a consequência será problema comportamental. Tanto o
x de novo. terapeuta quanto os pais podem reforçar
os comportamentos adaptativos, sendo
possivelmente atenciosos, organizando
os comportamentos a partir de uma outra
lógica.
É sempre esta a lógica: a 31:04 Essa tríplice contingência - entre
gente tem antecedentes, antecedentes, consequências e respostas
contextos nos quais aqueles - ilustram uma cadeia sequencial
comportamentos têm mais
entre eventos, que se desdobram em
chance de acontecer, e,
comportamentos, respostas e reforços.
depois, consequências que
A adolescente não se submete aos
estão os mantendo. Aqueles
limites dos outros, que muitas vezes
mais problemáticos estão
não acontecem de uma forma incisiva,
sendo mantidos por essas
sobretudo pelos pais. Nesse sentido, é
consequências. E aqueles que
desejável que o tratamento foque em
eventualmente aparecem, e
construir comportamentos relacionais mais
que não são problemáticos,
não estão sendo reforçados. harmoniosos, de modo que a paciente
em questão perceba que os conflitos são
fontes de sofrimento.

Por que eu digo que é uma 34:19


classe de comportamentos?
Porque todos eles geram o
mesmo tipo de consequência.
Todos eles acontecem em
contextos mais ou menos
parecidos, e geram o mesmo
tipo de consequência.

43
Resumo da disciplina
Veja, nesta página, um resumo dos principais conceitos vistos ao longo da disciplina.

AULA 1

O sistema de crenças estrutura nossa


visão do mundo e de nós mesmos.

A terapia cognitiva historicamente


tratou de mobilizar ativamente o
paciente no processo terapêutico.
Os estudos de Ivan Pavlov
foram muito importantes para a
aprendizagem de estímulos.

AULA 2

As histórias de vida são uma das


bases para a identificação das
crenças centrais e secundárias.

A modificação da percepção do
paciente em relação ao ambiente pode
ser um dos focos da TCC.

Os esquemas são a matriz de


pensamento para a interpretação da
realidade.

AULA 3

O terapeuta deve estar


continuamente revisitando os planos
de ação a partir do desenvolvimento
do paciente nas sessões.
O terapeuta não pode desenvolver
uma confiança excessiva, ficando
cego às particularidades do paciente,
mas fiel em termos protocolares.
Os manuais de transtornos
psicopatológicos ainda são
categoricamente dimensionais e
segmentadores.

44
Avaliação
ca-

-
Veja as instruções para realizar a avaliação da disciplina.

Já está disponível o teste online da disciplina. O prazo para realização


é de dois meses a partir da data de lançamento das aulas. ​

Lembre-se que cada disciplina possui uma avaliação online.


A nota mínima para aprovação é 6. ​

Fique tranquilo! Caso você perca o prazo do teste online, ficará aberto
o teste de recuperação, que pode ser realizado até o final do seu curso.
A única diferença é que a nota máxima atribuída na recuperação é 8. ​

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